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As principais cargas das doenças transmissíveis 325 TABELA 12-12 Fatos básicos sobre o HIV/AIDS: 2013 Dados da Organização Mundial da Saúde. (2014). Atualização global sobre a resposta do setor da saúde ao HIV. Recuperado em 7 de janeiro de 2015, de http://apps.who.int/iris/bitstr eam / 10665/128494/1 / 9789241507585_eng.pdf?ua = 1; Estimativa de prevalência da Organização Mundial de Saúde. Observatório Mundial da Saúde. Recuperado em 7 de janeiro de 2015, de http://www.who.int/gho/hiv/epidemic_status/prevalence/en/; Estimativas para a proporção de adultos e crianças que recebem TARV e metas do UNAIDS. Erradicação prioritária da epidemia de AIDS até 2030. (2015). http://www.unaids.org/sites/default/files/media_asset/JC2686_WAD2014report_en.pdf. HIV/AIDS A carga do HIV/AIDS Raramente um único patógeno causou um impacto maior na condição humana do que o HIV. Alguns dos fatos básicos sobre HIV/AIDS são apresentados na Tabela 12-12. O HIV é um vírus que pode ser transmitido através de: • Sexo desprotegido — principalmente relações sexuais vaginais e anais • Transmissão mãe-filho, durante o parto ou através da amamentação • Sangue, inclusive por transfusão, compartilhamento de agulha ou picada acidental • Transplante de tecido ou órgãos infectados Número de pessoas vivendo com HIV/AIDS: 35,0 milhões Número de grávidas que vivem com HIV: 1,5 milhão Prevalência entre adultos 15–49: 0,8% Número de novas infecções por HIV: 2,1 milhões Crianças menores de 15 anos recém-infectadas com HIV: 240 mil Distribuição global de novas infecções: 1,5 milhão na região África da OMS, 116 mil na região do Sudeste Asiático, 160 mil na região das Américas, 100 mil na região do Pacífico Ocidental, 140 mil na região da Europa Número de mortes relacionadas ao HIV: 1,5 milhão Número de pessoas HIV positivas em tratamento com terapia antirretroviral (TARV): 12,9 milhões Proporção de todos os adultos vivendo com HIV recebendo TARV: 38% Proporção de todas as crianças vivendo com HIV que recebem TARV: 24% Metas do UNAIDS: até 2020, ter apenas 500 mil novas infecções por ano e “90-90-90” (90% das pessoas que vivem com o HIV cientes de seu estado, 90% das pessoas cientes de seu estado em tratamento e 90% das pessoas em tratamento com carga viral suprimida) 326 CAPÍTULO 12 Doenças transmissíveis Ser um homem não circuncidado aumenta o risco de contrair o HIV. As mulheres também apresentam maior risco biológico e social do que os homens de serem infectadas pelo HIV. Ter uma doença sexualmente transmissível também aumenta o risco de infecção pelo HIV. A eficiência com que o vírus é transmitido varia. O vírus é propagado de forma mais eficiente pela exposição a produtos sanguíneos infectados e pelo compartilhamento de agulhas infectadas. Há 90% de probabilidade de ser infectado por uma transfusão de sangue de uma pessoa HIV positiva.33 A eficiência da transmissão também é relativamente alta devido ao compartilhamento de agulhas com uma pessoa infectada pelo HIV. A transmissão sexual depende do tipo de ato sexual e se a pessoa soropositiva é do sexo masculino ou feminino. A transmissão de homens para mulheres é maior do que a transmissão de mulheres para homens. O risco de relação anal receptiva desprotegida é cerca de 30 vezes maior do que a relação vaginal receptiva ou insertiva.33 O HIV ataca o sistema imunológico humano. O tempo de se infectar até ser diagnosticado com AIDS varia. No entanto, sem tratamento para o HIV, cerca de metade dos infectados serão diagnosticados com AIDS em 10 anos. A infecciosidade é alta durante o período inicial de infecção e também aumenta à medida que o sistema imunológico enfraquece e na presença de outras infecções sexualmente transmissíveis.34 Conforme o sistema imunológico de uma pessoa HIV positiva se deteriora, essa pessoa sofrerá de uma variedade das chamadas infecções oportunistas, porque elas se aproveitam da imunidade comprometida da pessoa. À medida que a doença atinge um estado bastante avançado, as pessoas soropositivas que não estão recebendo terapia anti-retroviral podem ficar doentes com tuberculose, ter infecções por herpes, vários tipos de câncer e uma série de doenças transmissíveis significativas, como toxoplasmose e meningite criptocócica, que se tornou um grande assassino de pessoas com HIV.33 As principais vias de transmissão do HIV variam por localização.33 Nas primeiras fases da epidemia em países de alta renda e no Brasil, o HIV foi largamente difundido através de relações sexuais desprotegidas entre homens que fazem sexo com homens. Na África Subsaariana, a doença foi disseminada predominantemente através do sexo desprotegido entre homens e mulheres, especialmente entre aqueles que se envolvem em comportamentos de alto risco, como profissionais do sexo e seus clientes, e homens que fazem sexo com várias parceiras femininas. Na China, a epidemia foi originalmente centrada em um grupo de pessoas que receberam transfusões de sangue que haviam sido infectadas com o sangue de pessoas HIV positivas. A partir daí, espalhou-se amplamente através do sexo entre homens e mulheres, mas também através do uso de drogas injetáveis. Na Rússia e em grande parte da antiga União Soviética, a epidemia é impulsionada por usuários de drogas injetáveis que são soropositivos e que compartilham agulhas. A epidemia está se espalhando para outros grupos em grande parte por meio de relações sexuais desprotegidas. Quando o HIV aparece pela primeira vez em uma população, ele é geralmente concentrado em certas populações- chave, como profissionais do sexo, homens que fazem sexo com homens e usuários de drogas injetáveis. Esses grupos foram anteriormente referidos como "grupos envolvidos em comportamentos de alto risco", "grupos de alto risco" ou "populações em maior risco". Se o vírus for controlado nesses grupos, a disseminação para a população geral pode ser limitada. No entanto, se não for controlada, a epidemia se torna mais disseminada na população em geral, e a prevalência pode ser bastante alta. O Camboja tem uma epidemia que está concentrada. A África do Sul e o Zimbábue, por exemplo, têm epidemias que se espalharam amplamente na população. Estima-se que cerca de 35 milhões de pessoas em todo o mundo foram infectadas com o vírus HIV em 2013 e que cerca de 1,5 milhão de pessoas naquele ano sofreram mortes relacionadas à AIDS.35 Estima-se também que cerca de 2,1 milhões de pessoas foram infectadas com HIV em 2013.35 Cerca de 32 milhões das 35 milhões de infecções foram entre adultos e cerca de 3,3 milhões entre as crianças. Cinquenta e cinco por cento dos adultos que estão infectados são do sexo feminino. De 1,5 milhão de mortes relacionadas à AIDS em 2013, 1,4 milhão estava entre os adultos. Com cerca de 25 milhões de infecções, a África Subsaariana tem cerca de 70% do total de infecções no mundo e cerca de 80% das mortes relacionadas à AIDS.35 A prevalência do HIV varia consideravelmente por região e por país. A taxa de prevalência de HIV por país é mostrada na Figura 12-2. A região com a maior taxa de prevalência de HIV/AIDS é a África Subsaariana, onde 4,7% dos adultos de 15 a 49 anos de idade são soropositivos. A região com a próxima maior taxa de prevalência de adultos é a Europa Oriental e a Ásia Central,35 com 0,7%. Taxas relativamente altas de HIV/AIDS são encontradas na África Central e Austral, chegando a 26% na Suazilândia e 23% em Lesoto e em Botswana. A África do Sul tem uma taxa de prevalência de adultos de cerca de 18%. Forada África Subsaariana, existem apenas alguns países com prevalência de HIV acima de 1%, incluindo Haiti, Belize, Guiana, Suriname, Djibuti e Tailândia.35 Trinta e nove por cento das novas infecções pelo HIV em 2012 estavam entre as idades de 15 a 24 anos.36 Eles também ocorrem entre bebês devido à transmissão materno-infantil. Nos países de alta renda, foram feitos esforços para abordar a transmissão materno-infantil, casos que quase não existem mais. Nos países de maior prevalência, a transmissão materno-infantil continua, embora tenha havido um progresso importante na redução da mesma. De fato, o número de crianças recém- infectadas caiu cerca de 35% entre 2009 e 2012.35 O número de novas infecções por HIV atingiu o pico em todo o mundo em 1999. O número de novas infecções entre adultos em países de baixa e média renda caiu 30% entre As principais cargas das doenças transmissíveis 325 2001 e 2012. Além disso, as taxas de HIV entre adultos diminuíram em mais de 50% entre 2001 e 2012 em 26 países de baixa e média renda. No entanto, as taxas de novas infecções estão crescendo na Europa Oriental e Ásia Central e no Oriente Médio e Norte da África.35 O Estudo Global da Carga de Doenças de 2010 indicou que o HIV foi a sexta principal causa de morte para todos os grupos etários em todo o mundo, mas a segunda principal causa de morte na África Subsaariana. Para pessoas entre 15 e 49 anos na África Subsaariana, o HIV foi a principal causa de morte. O HIV foi a quinta causa principal de AVAIs no mundo, a segunda para todas as faixas etárias na África Subsaariana, mas a primeira para pessoas de 15 a 49 anos na África Subsaariana.37 Tratamento do HIV A comunidade global assumiu o compromisso de tentar assegurar que todas as pessoas com HIV sejam tratadas assim que se tornarem clinicamente elegíveis, o que a OMS definiu em suas diretrizes de 2010 como tendo uma contagem de células CD4 abaixo de 350, revisada em 2013 para 500.38 Na última década, houve um enorme progresso em fazer com que as pessoas com HIV sejam tratadas. Até o fim de 2012, cerca de 9,7 milhões de pessoas estavam em tratamento, das quais 1,6 milhão foi colocada em tratamento em 2012.38 Usando as diretrizes de 2010 como referência, 61% de todas as pessoas em países de baixa e média renda elegíveis para tratamento estavam em tratamento.35 No entanto, se usarmos as diretrizes de 2013 como referência, apenas 34% dos adultos elegíveis em países de baixa e média renda estão sendo tratados. Além disso, tem havido lacunas persistentes na cobertura de grávidas, homens e crianças.35 Os custos e consequências do HIV O HIV tem consequências sociais e econômicas significativas, especialmente em países de alta prevalência na África Subsaariana, que vão além de seu impacto na morbidade e mortalidade. O HIV afeta a coesão familiar, os negócios, o comércio, o trabalho, as forças armadas, a produção agrícola, os sistemas educacionais, a governança, os serviços públicos e até mesmo a segurança nacional. Na ausência de tratamento, uma pessoa HIV positiva acabará se tornando mais doente, progredirá para a AIDS total e sofrerá de uma variedade de infecções oportunistas, como observado anteriormente. Quando isso acontece, a pessoa se torna menos capaz de trabalhar, perde parte ou toda a renda e se torna dependente do cuidado de outros. O cuidador também pode perder sua renda. Prevalência do HIV entre adultos (% de adultos) FIGURA 12-2 Prevalência do HIV por país, 2013 Dados do UNAIDS. AIDSinfo: prevalência do HIV entre adultos. Recuperado em 28 de janeiro de 2015, de http://www.unaids.org/en/dataanalysis/datatools/aidsinfo; A estimativa de prevalência dos Estados Unidos do UNAIDS. Estados Unidos: estimativas de HIV e AIDS (2012). Recuperado em 28 de janeiro de 2015, de http://www.unaids.org/en/regionscountries/countries/unitedstatesofamerica/; A estimativa da Argentina é do UNAIDS. Argentina: estimativas de HIV e AIDS (2012). Recuperado em 28 de janeiro de 2015, de http://www.unaids.org/en/regionscountries/countries/argentina/; A estimativa da França é do UNAIDS. França: estimativas de HIV e AIDS (2012). Recuperado em 28 de janeiro de 2015, de http://www.unaids.org/en/regionscountries/countries/france/; A estimativa do Canadá é do UNAIDS. Estimativas de HIV e AIDS (2012). Recuperado em 29 de janeiro de 2015, de http://www.unaids.org/en/regionscountries/countries/canada/; A estimativa russa é da Organização Mundial da Saúde. Estatísticas da Saúde Mundial. França: Organização Mundial da Saúde, 2011. A estimativa chinesa é do UNAIDS. HIV na China: fatos e números. 15,0 a 28,0 0,5 a 1,0 5,0 a 15,0 < 0,5 1,0 a 5,0 Sem dados 328 CAPÍTULO 12 Doenças transmissíveis Esse ciclo causou enormes perdas econômicas para os indivíduos e suas famílias, especialmente na África Subsaariana. Um estudo feito na Tanzânia, por exemplo, indicou que homens com AIDS perderam uma média de 297 dias de trabalho em um período de 18 meses, e as mulheres perderam uma média de 429 dias de trabalho nesse mesmo período, o que implica que essas mulheres foram essencialmente incapazes de atender a qualquer uma de suas tarefas normais.39 Um estudo na Tailândia mostrou que as famílias que sofriam de AIDS perderam uma média de 48% de sua renda como resultado da doença.40 Outra consequência importante do HIV é a criação de um grande número de órfãos, definidos como um indivíduo de 15 anos ou menos que perdeu um ou ambos os pais devido à doença. O UNICEF estimou em 2012 que havia cerca de 19 milhões de “órfãos da AIDS”.41 Apesar dos esforços de muitas famílias para cuidar de seus parentes, muitos órfãos não têm ninguém com quem morar e podem recorrer à vida nas ruas, onde correm o risco de cair em sexo comercial ou crime. Como várias outras doenças transmissíveis, o HIV é uma condição altamente estigmatizada. O HIV, no entanto, tem um estigma especial porque as pessoas em muitas sociedades acreditam que as pessoas adquirem o HIV por meio de comportamentos que a sociedade não aprova, como homens fazendo sexo com homens, trabalho sexual comercial ou uso de drogas injetáveis. Entender a noção de estigma e discriminação contra pessoas com HIV/AIDS é fundamental para o entendimento da epidemia. De fato, ao longo da epidemia, a estigmatização do HIV/AIDS em muitas sociedades levou a uma relutância em permitir que pessoas com HIV frequentassem escolas ou fossem contratadas, recebessem assistência médica, morassem em certos lugares ou morassem com suas famílias. O estigma também tem sido um grande obstáculo para as pessoas serem testadas ou tratadas para o HIV. Também complicou os esforços de prevenção em alguns ambientes, levando à clandestinidade algumas das pessoas que são importantes de serem alcançadas, como profissionais do sexo e usuários de drogas injetáveis. Para os países mais pobres, o custo direto do tratamento da AIDS é muito caro em comparação com a renda per capita e o gasto com saúde per capita, mesmo com os preços reduzidos para os medicamentos acordados globalmente. Em 2014, o menor preço disponível para a terapia de primeira linha em países de baixa e média renda foi de cerca de US$ 140,00 por paciente por ano.42 Um estudo sobre os custos da terapia anti- retroviral para reduzir a transmissão materno-infantil descobriu que o custo mediano em países de baixa renda, por caso de transmissão materno-infantil evitada, era de cerca de US$ 800.43 Embora esses custos sejam drasticamente menores do que antes, muitos dos países de renda mais baixa que estãofornecendo terapia anti-retroviral às pessoas que vivem com HIV gastam menos per capita na saúde a cada ano do que os custos do tratamento do HIV.44 Dessa forma, será difícil para os países de baixa renda com alta prevalência de HIV apoiarem os custos de tal tratamento sem assistência externa considerável e sustentada.45 Esta questão é explorada mais adiante neste capítulo na política e no resumo do programa sobre os custos a longo prazo e o financiamento do HIV/AIDS. Muitos estudos foram feitos sobre o possível impacto do HIV no crescimento econômico de diferentes países. Alguns deles ajudaram a convencer os governos de que o fracasso em lidar com o HIV precocemente poderia resultar em um menor crescimento econômico de seu país. No geral, os primeiros estudos sugeriram que o HIV teria um grande impacto no crescimento econômico dos países de alta prevalência na África, em grande parte porque o HIV tende a atingir as pessoas em seus anos mais produtivos.39 Quanto mais alta a prevalência e mais famílias usarem suas economias para ajudar a pagar os custos da doença, maior a probabilidade de o HIV ter um impacto negativo no crescimento da renda per capita.46 Embora esses argumentos façam sentido intuitivamente, existem muito poucos estudos recentes que tentam examinar como as taxas de crescimento econômico de diferentes países teriam mudado se tivessem taxas mais baixas de prevalência de HIV/AIDS. Créditos: Skolnik, R. L. (2016). Global health 101. Burlington, Mass: Jones & Bartlett Learning. Este documento representa um capítulo parcial do recurso totalmente creditado.