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a proteção Internacional dos Direitos Humanos

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COMPOSIÇAO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTiÇA 
EM 07/10/99 
MINISTROS: 
ANTÓNlO DE PAoUA RIBEIRO - Presidente 
Paulo Roberto Saraiva da COSTA LEITE - Více.Presidente 
WlWAM Andrade PATTERSON 
NILSON Vital NAVES 
EDUARDO Andrade RIBEIRO de ONveira 
EDSON Carvalho VlDIGAL 
Jacy GARCIA VIEIRA 
WALDEMAR ZVEITER 
Luiz Carlos FONTES DE ALENCAR 
SÁLVlO DE FIGUEIREDO Teixeira 
Raphae/ de BARROS MONTEIRO Filho 
HÉUO de Mello MOSIMANN - Coordenador-Geral da Justiça Federal 
FRANCISCO PEÇANHA MARTINS 
HUMBERTO GOMES DE BARROS 
MILTON LUIZ PEREIRA 
Francisco CESAR ASFOR ROCHA 
RUYROSADO DE AGUIAR Júnior 
VICENTE LEAL de Araújo 
ARI PARGENDLER 
JOSÉ Augusto DELGADO 
JOSÉ ARNALDO DA FONSECA 
FERNANDO GONÇALVES 
CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO 
FELIX FISCHER 
ALDIR Guimarles PASSARINHO JUNIOR 
GILSON Langaro DIPP 
HAMILTON CARVALHIDO 
EUANA CALMON Alves 
PAULO Benjamin Fragoso GALLOrn 
FRANCISCO CIndido de Melo FALCAo Neto 
JORGE Tadeo Flaquer SCARTEZZlNI 
A Proteç4 
Direii 
1!SV.lB 
o íJ souvUlnH sOl1íJ.llU 
sop /vuOl;JVU.líJIUI Op5íJ10 .lJ V 
tI~l.Lsnr 30 7t1Nn 
Organização do Evento 
, 
Superior Tribunal de Justiça/Conselho da Justiça Federal 
Secretaria de Estado dos Direitos Humanos 
I 
I 
Coordenação Científica 
Andréa Lopes Guimarães Abreu da Silveira 
Assessora Especial da Presidência do Conselho da Justiça Federal 
Maria Helena Pinheiro Penna 
Assessora do Secretário de Estado dos Direitos Humanos 
Fátima Nancy Andrighi Superiol
Membro da Escola Nacional da Magistratura Tribunal de J 
AP1 
.-----.........-.~=~~~~----..--................ 
SUPER;')R. Tr';QUN",\L DE JUSTIÇA 
F ·'H<~:iTEC.; fliL OSCI~q SARAIVA 
~.~:, )y~ 5 2r~ ~~:~TA _ 
36Yb-g li 01. 0 1 00 
Workshop A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o 
Brasil (1999 : Brasília, DF). 
A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o Brasil. 
Brasília: Superior Tribunal de Justiça, 2000. 
159 p. 
ISBN 85-7248-045-5 
1. Direitos Humanos, Congresso. 2. Direitos Humanos, 
Congresso, Brasil. 3. Proteção Internacional, Congresso. I. Título. 
11. Brasil. Superior Tribunal de Justiça (ST J). 
CDU 342.7(061.3) 
fera I 
fustiça Federal 
,anos 
3: 
Humanos e o 
:)s e o Brasil. ­
itos Humanos, 
lresso. I. Título. 
)U 342.7(061.3} 
Superior 
Tribunal de Justiça 
,i 
·1j' 
~ 
,, 
i 
~ 
'~(.·l í.,. ,/ J 
~~ 
Secretaria de Estado 
dos Dire itos Humanos 
A Proteção Internacional dos 
Direitos Humanos e o 
Brasil 
WORKSHOP 
7 a 8 de outubro de 1999 
Auditório do STJ 
Brasília 2000 
~ 
ANAIS DO WORKSHOP 
Coordenação e Editoração: 
Superior Tribunal de Justiça 
Secretaria de Documentação 
SAFS - Q. 6, lote 01 - Bloco "F", 2° andar 
70095-900 - Brasília - DF 
Fone: (061) 319-9004 
Fax: (061) 319-9316 
E-mail: sed@stj.gov.br 
Capa 
Projeto Gráfico: Núcleo de Programação Visual/S T J 
Criação: Taís Villela 
Copyright © 2000 Superior Tribunal de Justiça 
ISBN 85-7248-045-5 
Impresso no Brasil 
Prefácio . ......... . 
Palavras de Abertura 
- Paulo Roberto Sara 
- José Carlos Dias . , 
Palestras 
"O Sistema Inter 
Felipe de Seixas Cl 
"A Política Nacio 
- José Gregori ••• 
"O Sistema Inter, 
Século: Recomen4 
Proteção" - Antôr 
"A Comissão Ir. 
Atuação" - Hélio I 
"A Execução da 
Direitos HumanOfi 
Direitos Humanoj 
"A Constituição 
Proteção dos Di1'/. 
"O Papel das 01 
Sérgio Pinheiro •• 
"O Papel do Mil 
Wagner Gonçalve 
"Proposta de un 
Eduardo Soares . 
Palavras de Encem 
- Marco Antônio 
- Paulo Robertc 
SUMÁRIO 
Prefácio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . 7 
Palavras de Abertura 
- Paulo Roberto Saraiva da Costa Leite. • • . . • . . • • • • . • . . • • • . • • • • . . • . 
- José Canos Dias . . • • • • • • • • . • . • . . . • . . . • • • • . • . . • • • • . • • • • . . . • • 
11 
13 
Palestras 
"O Sistema Internacional dos Direitos Humanos e o Brasil" - Luiz 
Felipe de Seixas Correa •••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 1'7 
"A Política Nacional de Direitos Humanos e o Sistema Interamericano" 
- José Gregori •••• • • • • • • • • • • • • . • • • • • • • • • • • • • • . • • • • • • • • • • • • • 27 
"O Sistema Interamericano de Direitos Humanos no Limiar do Novo 
Século: Recomendações para o Fortalecimento de seu Mecanismo de 
Proteção" - Antônio Augusto Cançado Trindade. • • • • • • • • . • • • • • • . . . • 31 
STJ "A Comissão Interamericana de Direitos Humanos: Funções e 
Atuação" - Hélio Bicudo. • • . • • • . • . • • • • • • • • • • . . • . . • • • • • . . . . . • . 69 
"A Execução das Recomendações da Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos e Execução das Sentenças da Corte Interamericana de 
Direitos Humanos" ­ Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros. • • • • • • • • • • • 81 
"A Constituição Brasileira de 1988 e os Tratados Internacionais de 
Proteção dos Direitos Humanos" - Flávia Piovesan •••••••...••••... 87 
"O Papel das ONG s no Contencioso dos Direitos Humanos" - Paulo 
Sérgio Pinheiro • • • • • . • . • . . • • . . • • • • • • • . • . • • • . • • • . • . • • . . . • • .• 105 
"O Papel do Ministério Público na Proteção dos Direitos Humanos" -
Wagner Gonçalves • • • . • • • • • • • • . • . • . • • • • • • • • • • . • • • • . . • • . • • •• 113 
"Proposta de uma Política Integrada de Segurança Pública" - Luiz 
Eduardo Soares . • • • • • . . • . • • • • • • • • • • • . . . . . • . • • . • . • • • • • . . • •. 121 
Palavras de Encerramento 
- Marco Antônio de Oliveira Maciel 
- Paulo Roberto Saraiva da Costa Leite ..•••••••.•••..••.••••... 
139 
141 
:p: 
Acordos Celebrados 
Termo de Cooperação Técnica que entre si celebram o S'uperior 
Tribunal de Justiça e o A1inistério da Justiça, por meio de sua 
S'ecretaria de Estado dos Direitos Humanos, com o objelivo de 
desenvolver ações no campo dos Direitos Humanos. . . . . . . . . . . . .. 145 
Em 199 
com a Secretaria de 
Proteção dos Direito: 
Adesão ao Termo de Cooperação Técnica celebrado entre o conferências nele p 
Superior Tribunal de Justiça e o A1inistério da Justiça/S'ecretaria de convidados. 
Estado dos Direitos Humanos, com o objetivo de desenvolver açôes 
no campo dos Direitos Humanos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 149 
A deno 
relativamente novo 
Convenio de Cooperación entre La Corte Interamericana de reconhecida uma di! 
Derechos Humanos y La Escuela Nacional de La Magistrarura de qual não pode ser, 
Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . .. 151 nenhum interesse de 
Anexo Quando 
Programa do Workshop "A Proteção Internacional dos Direitos 
Humanos e o Brasil" , • , ......•....•.. , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 157 
portanto há apenas ~ 
colônia inglesa aluI 
formalmente, que "to 
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Esses 
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149 
eramericana de 
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151 
ral dos Direitos 
157 
PREFÁCIO 
Em 1999, o Superior Tribunal de Justiça, em profícua parceria 
com a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, promoveu o seminário "A 
Proteção dos Direitos Humanos e o Brasil". Agora, traz a lume a coletânea das 
conferências nele proferidos por uma plêiade de autoridades e estudiosos 
convidados. 
A denominação "direitos humanos" remete a um conceito 
relativamente novo na história: a aceitação de que aos seres humanos é 
reconhecida uma dignidade natural e inalienável, própria da sua condição, a 
qual não pode ser violada em nome denenhuma forma de governo ou de 
nenhum interesse de grupos ou de indivíduos. 
Quando afirmo ser recente tal conceito, lembro que, em 1776, 
portanto há apenas 224 anos, os representantes do povo da Virgínia, na época 
colônia inglesa a lutar pela independência, foram os primeiros a proclamar, 
formalmente, que "todos os homens nascem igualmente livres e independentes 
e têm direitos inerentes, dos quais, ao entrar num estado de sociedade, não 
podem, por nenhum contrato, privar ou despojar sua posteridade; a saber, o 
gozo da vida e da liberdade, os meios de adquirir e possuir propriedade, e a 
busca da felicidade e segurança." Desde então, diversos países passaram a 
adotar, como princípio de seus governos ou de suas relações com outras 
nações, a proteção dos direitos inerentes à natureza humana. 
Este século que ora finda testemunhou inumeráveis exemplos de 
desrespeito ao ser humano; muitos foram e continuam sendo privados do seu 
direito à vida ou submetidos a formas degradantes de tratamento. Incontáveis 
situações de violência física e mental infligidas a alguns vieram confirmar aos 
homens de boa vontade que é necessário buscar e preservar os mecanismos 
de defesa dos indivíduos perante a sanha criminosa de grupos e, até mesmo, 
como a história recente nos mostra, de governos. 
Esses aparatos de defesa se têm consubstanciado nas 
constituições dos países (o Brasil mesmo listou, entre os fundamentos do 
Estado democrático, a "dignidade da pessoa humana") e nos tratados 
internacionais, entre os quais um dos mais significativos foi a "Declaração 
Universal dos Direitos do Homem", de 1948, por ter afirmado o caráter 
universal e indivisível desses direitos. Posteriormente, outros documentos 
passaram a comprometer os seus signatários a lutar contra qualquer atentado 
aos direitos do homem. 
O seminário que resultou nesta publicação teve, precisamente, 
como objetivo discutir as implicações jurídicas da adesão do Brasil a tratados 
para a salvaguarda dos direitos humanos. Houve a preocupação de situar a 
7 
questão sob duas perspectivas: a primeira delas focalizou o Brasil frente ao 
sistema intemacional de proteção dos direitos humanos. Nessa ótica, 
eminentes autoridades no assunto dissertaram acerca da Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos: suas funções, sua atuação, suas 
recomendações. Tratou-se, ainda, da Corte Interamericana de Direitos 
Humanos e da execução das suas sentenças. 
Sob um segundo ponto de vista, foram enfocadas questões 
internas, como o papel das organizações não-governamentais no contencioso 
dos direitos humanos e a atuação do Ministério Público na proteção desses 
mesmos direitos. ReselVou-se um espaço para que alguns governos estaduais 
se fizessem representar no evento e trouxessem a visão de quem está lidando 
com a questão diariamente. 
As conferências proferidas e os debates realizados demonstraram 
que o tema, embora haja consenso quanto a alguns aspectos teóricos, ainda 
enfrenta problemas de ordem prática. A leitura dos textos permitirá ao leitor 
mapear os pontos que já mereceram atenção dos poderes públicos e aqueles 
que estão a exigir ações mais efetivas. 
Encerro este preâmbulo com as palavras da Ora. Flávia Piovesan, 
que sintetizou a importância do tema ao lembrar que "hoje, mais do que nunca, 
estamos à frente do desafio de resgatar e recuperar, no aparato jurídico, o seu 
potencial ético e transformador, aplicando efetivamente a Constituição e os 
parâmetros internacionais. Estamos à frente do desafio de emprestar à nossa 
prática profissional uma nova marca, que é a marca dos direitos humanos. Que 
possamos, portanto, reinventar, reimaginar e recriar a nossa prática a partir 
deste paradigma e desta referência que é a prevalência dos direitos 
humanos". 
Ministro Antônio de Pádua Ribeiro 
Presidente do Superior Tribunal de Justiça 
8 
lizou o Brasil frente ao 
umanos. Nessa ótica, 
acerca da Comissão 
IS, sua atuação, suas 
Imericana de Direitos 
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direitos humanos. Que 
nossa prática a partir 
valência dos direitos 
la Ribeiro 
nal de Justiça 
Palavras de Abertura 
Paulo Roberto Saraiva da Costa Leite 
Vice-Presidente, no exercício da Presidência do 
Superior Tribunal de Justiça 
Na dinâmica da História, somos os contemporâneos fim e 
princípio, ou seja, somos os herdeiros de legados essenciais, sem os quais 
nossa sociedade teria outra feição, como o direito dos romanos ou a filosofia 
dos gregos; somos, também, a flecha preparada no arco, apontada para o 
futuro na direção de um movimento recente que, certamente, determinará a 
existência de um mundo mélhor: a universalização e internacionalização dos 
direitos do homem. 
Na certeza de que a construção do porvir faz-se em função do 
presente, a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e esta Corte de 
Justiça, em produtiva parceria, planejaram, com o apoio do Ministério das 
Relações Exteriores e da Escola Nacional da Magistratura, o workshop a que 
ora se procede: "A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o Brasil", o 
qual, para o gáudio de seus participantes, reúne as mais representativas 
personalidades do País que, hoje, dedicam seus esforços a tão relevante 
causa, quer nos organismos nacionais - públicos ou privados - quer nos 
internacionais. 
Quando se trata de "direitos humanos", muito haveria que 
discorrer sobre eles. Didaticamente, seria possível traçar sua trajetória na 
história dos povos. Poderíamos citar VOltaire, cuja afirmação de que "nem 
todos os cidadãos podem ser igualmente fortes; mas podem, todos, ser 
igualmente livres" serviria de inspiração, muitos anos depois, para o artigo primeiro 
da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Poder-se-ia conceituá-los, ou 
classificá-los, ou, ainda, citar recentes exemplos de violações desses direitos 
em episódios ocorridos tanto no Br~sil quanto no exterior, que estão a clamar 
por justiça. No entanto tais aspectos introdutórios ou ilustrativos não 
atenderiam aos objetivos traçados para este encontro. O que se quer, agora, é 
avançar em direção à concretude desses direitos, seja por meio de ações que 
visem à proteção de cada ser, garantindo-lhe o exercício da liberdade inerente 
à sua condição humana, seja por intermédio de ações que objetivem punir os 
atentados perpetrados contra essa mesma liberdade, venham eles de pessoas 
ou de Estados. 
Em duas instâncias contíguas e complementares situam-se os 
temas que serão objeto de debate nestes dias. No espaço delimitado pela 
fronteira brasileira e no alcance de sua Lei Maior, a defesa da dignidade 
humana, valor significativo tomado como fundamento, objetivo e princípio na 
Carta de 1988, compete não só aos organismos estatais, como também aos 
II 
entes privados, avultando, no particular, a atuação das organizações não­
govername ntais. 
Paralelamente, cumprindo os ditames a que se obrigou 
constitucionalmente, o Brasil tem adotado medidas no sentido de incorporar 
instrumentos reconhecidos no meio internacional para a salvaguarda dos direitos 
do homem. São esses instrumentos os diversos tratados a que aderiu o Estado 
brasileiro. A adesão é atitude meritória, entre outras razões, por ampliar os 
mecanismos de amparo dos direitos do brasileiro, além de incluir o País no rol 
daqueles que se preocupam em respeitar e fazer respeitar, em seu território, 
as prerrogativas fundamentais do ser humano. 
Merecerá destaque neste encontro a inclusão do País no sistema 
interamericano de proteção às liberdades individuais, principalmente porque, 
no ano passado, o Governo brasileiro reconheceu a competência contenciosa 
da Corte Interamericana de Direitos Humanos, passo importante como 
demonstraçãode que o País compromete-se efetivamente, perante a 
comunidade internacional, com a causa da proteção dos direitos básicos do 
homem. 
o Brasil não pode, entretanto, olvidar que tal reconhecimento 
demanda atitudes que concretizem suas intenções. Por isso o seminário que 
ora se inicia pretende buscar soluções para os entraves da política de 
implementação dos direitos humanos, sob pena de ver-se a Nação condenada 
por não pratícar o que repetidamente apregoa em sua Lei Maior. 
Em seu âmbito de atuação, este Tribunal já se incluiu nesse 
esforço e amanhã, ao final dos nossos trabalhos, assinará acordo de 
cooperação técnica com o Ministério da Justiça, por intermédio da Secretaria 
de Estado dos Direitos Humanos, cujo objetivo amplo é, em consonância com 
o ordenamento jurídico vigente, desenvolver ações conjuntas no campo da 
proteção e defesa dos direitos humanos. É de salientar-se a importância dessa 
parceria, que, longe de atentar contra a independência dos Poderes, deve ser 
vista como um exercício da harmonia entre eles, que se acha expressa no 
artigo segundo da Constituição. . 
Cumpre-me encerrar estas palavras de abertura; no ensejo, 
auguro êxito aos trabalhos que serão desenvolvidos e agradeço a todos os que 
se dispuseram a participar da tessitura de um futuro melhor. Peço ao Senhor 
das bênçãos e das luzes que não nos deixe cometer o pecado da omissão e 
que nos abençoe e ilumine. 
12 
Penso ser 
Justiça, das mais aRas 
assentos, criaturas intE 
debater e reiterar o CI 
humanidade. Sinto-mE 
Governo, que se pauta 
da pessoa humana, en 
e ideais. A este Tribu 
justiça, voRo, neste mo 
comprometer o Estadc 
que temos de assumir, 
soberana quanto mail 
direitos fundamentais « 
Não perde o Brasil a 
morais, quando abre 
nossas falhas e erro! 
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partir da consciência « 
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Cerimônia e dizer qUE 
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Justiça - cuja tarefa é 
Secretaria de Estad( 
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r-se a Nação condenada 
.ei Maior. 
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ntermédio da Secretaria 
é, em consonância com 
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e ~ acha expressa no 
~ abertura; no ensejo, 
Igradeço a todos os que 
nelhor. Peço ao Senhor 
J pecado da omissão e 
José Carlos Dias 
Ministro de Estado da Justiça 
Penso ser este um momento simbólico, em que esta Corte de 
Justiça, das mais altas Cortes deste País, abre suas portas para que, em seus 
assentos, criaturas interessadas na celebração dos direitos humanos possam 
debater e reiterar o compromisso de cada um de nós e deste País com a 
humanidade. Sinto-me feliz, como cidadão, como Ministro da Justiça deste 
Governo, que se pauta pelo respeito à democracia e aos direitos fundamentais 
da pessoa humana, em comungar com o Poder Judiciário os mesmos anseios 
e ideais. A este Tribunal, que tantas vezes vim, como advogado, postular 
justiça, volto, neste momento, para co-celebrar um ato de justiça, no sentido de 
comprometer o Estado Brasileiro, a Federação Brasileira, neste compromisso 
que temos de assumir, de respeito aos direitos humanos. A Nação é tanto mais 
soberana quanto mais respeita a soberania da humanidade, énraizada nos 
direitos fundamentais da pessoa humana. Não perde o País a sua força moral. 
Não perde o Brasil a grandeza de suas fronteiras físicas, institucionais e 
morais, quando abre seu território e sua alma para mostrar a realidade das 
nossas falhas e erros, a fim de que possamos também ter a grandeza de 
denunciar e procurar as violações dos direitos humanos em outros países. É a 
partir da consciência de que não há fronteiras na luta pelos direitos humanos 
que estas ganham força moral. 
Estou emocionado, sim, em ter podido comparecer a esta 
Cerimônia e dizer que é tão grande a importância que se dá hoje aos direitos 
humanos - razão da nossa história - que hoje existe, junto ao Ministério da 
Justiça - cuja tarefa é a defesa dos direitos humanos no sentido amplo - uma 
Secretaria de Estado, especificamente, para viver a questão dos direitos 
humanos de uma forma absolutamente intensa. Secretaria esta que está a 
cargo de um homem a quem muito respeito, admiro e devoto uma amizade 
fraterna, nascida nesta terra fecunda que é a luta pelOS direitos humanos; 
vimos caminhando nesta mesma trilha há muitos anos. 
Assim, Senhor Presidente: quero cumprimentar na pessoa de 
Vossa Excelência, todos os Senhores Ministros, porque acho admirável que 
esta grande parceria se estabeleça, neste momento, de uma forma simbólica, 
mas efetiva, demonstrando a todo o Continente americano, a presença do 
Poder Judiciário e do Poder Executivo, construindo, mais uma vez, esta 
independência e esta harmonia de Poderes. 
Desejo a todos participantes deste certame um grande sucesso, 
para que possamos terminar os trabalhos, dando graças a Deus pelo dever 
cumprido. 
13 
SVJISiJIVJ 
o SISTEMA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E O 
BRASIL 
LUIZ FELIPE DE SEIXAS CORREA 
.','ecretário-Geral do Alinistério das Relações Exteriores 
É com grande satisfação que participo do Workshop sobre a 
proteção internacional dos direitos humanos, organizado pelo Superior Tribunal 
de Justiça e a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, com o apoio e a 
colaboração do Ministério das Relações Exteriores. 
O objetivo central deste importante evento é contribuir para o 
debate em torno das implicações jurídicas e políÜcas decorrentes das 
obrigações internacionais contraídas pelo Estado brasileiro no campo da 
proteção aos direitos humanos. 
É nossa expectativa que este exercício contribua também para 
tornar mais conhecido em nosso país o Sistema Internacional de Proteção aos 
Direitos Humanos. que pode e deve constituir parâmetro para o trabalho 
cotidiano do Judiciário. 
Nas últimas cinco décadas, assistimos a um amplo e profundo 
processo de generalização dos mecanismos de defesa e proteção do 
indivíduo. Foi possível pouco a pouco construir um sólido códi~o internacional 
sobre a matéria, composto de numerosos instrumentos de proteção dos 
direitos humanos, adotados no âmbito das Nações Unidas e de organizações 
regionais congêneres. 
Por força desses instrumentos, os Estados foram levados a 
reconhecer que os seres humanos- gozam de direitos essenciais, cuja 
titularidade é irrenunciável, e que sua denegação ou violação resulta na 
responsabilização internacional deles próprios, os Estados. 
17 
A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Brasil 
Um novo Direito Internacional, centrado nos Direitos Humanos, 
distinguiu-se progressivamente do Direito Internacional Clássico ao atingir os 
Estados no sensível aspecto do tratamento por eles dado a seus cidadãos e a 
todos os seres humanos sob a sua jurisdição. 
Jamais anteriormente haviam os Estados aceitado o 
estabelecimento de tantas restrições a sua soberania e a submissão ao 
escrutínio internacional em matéria de tamanha sensibilidade. 
O indivíduo, cada vez mais, torna-se sujeito do Direito 
Internacional. 
O marco contemporâneo da evolução no tratamento da questão 
dos direitos humanos foi a adoção da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, em 10 de dezembro de 1948, precedida em alguns meses pela 
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. Este instrumento 
deve ser considerado como a Constituição Universaldos Estados e da 
comunidade internacional em matéria de direitos humanos. 
A autoridade moral da Declaração surge da caracterização da 
dignidade e da igualdade de direitos como atributos inalienáveis da 
humanidade e vai além dos regimes políticos e dos sistemas jurídicos. Ela não 
apenas possui uma autoridade reconhecida e efetiva, mas é também fonte de 
legitimidade para toda ação legisladora e inquisitiva que efetue a comunidade 
internacional em matéria de direitos humanos. 
Os dois instrumentos que complementam a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos, assegurando aos direitos nela consagrados a força de 
obrigação jurídica que os Estados se comprometem a respeitar, são o Pacto 
Internacional sobre Direitos Civis e Polfticos, em vigor desde janeiro de 1976, e 
o Pacto Internacional sobre Direitos Econ6micos, Sociais e Culturais, em vigor 
desde mafÇo de 1976. 
O primeiro descreve e aprofunda o corpo de direitos individuais 
sacramentados pela Declaração. Os Estados partes comprometem-se a 
respeitar uma ampla gama de direitos garantidos "a todos os indivíduos que se 
acham em seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição". Ao mesmo 
tempo, aos Estados cabe assegurar às pessoas que tenham seus direitos 
violados o acesso desimpedido à justiça e medidas compensatórias 
adequadas. 
O segundo, por sua vez, criou um mecanismo para o 
monitoramento de sua implementação e instituiu o Comitê dos Direitos 
Humanos, composto por 18 peritos, de nacionalidades distintas, que exercem 
seu mandato a título pessoal. É o único instrumento jurídico internacional e de 
abrangência genérica a conferir obrigatoriedade à promoção e proteção dos 
direitos humanos ditos de "segunda geração" ( direito ao trabalho livre; a 
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A Proteção lntemadonal dos Direitos Humanos e o Brasil 
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capazes de assegurar existência decente ao trabalhador e sua família; direito à 
educação, entre outros). 
Os dois Pactos em vigor e a Declaração Universal compõe a 
chamada "Carta Internacional dos Direitos Humanos", que constitui a coluna 
vertebral do conjunto de normas e mecanismos de proteção aos direitos 
humanos. Somam-se a esses três instrumentos mais de sessenta convenções 
e declarações adotadas pelas Nações Unidas sobre direitos humanos. As mais 
importantes dizem respeito ao racismo, à discriminação contra a mulher, à 
tortura e às crianças. O Brasil é parte de todas as convenções mais 
significativas. 
Em 1993, realizou-se a Conferência de Viena de Direitos 
Humanos, que congregou a maior concentração de representantes de Estados 
e entidades da sociedade civil em matéria de direitos humanos. A reafirmação 
da universalidade dos direitos humanos e da legitimidade da preocupação 
internacional com o tema foi seu principal mérito. Hoje, a atuação dos órgãos 
internacionais é aceita, em maior ou menor grau, pela maioria dos Estados 
como resultado das garantias consagradas em Viena, poucos sendo os que 
invocam a soberania para furtar-se à supervisão internacional. 
A complexa realidade contemporânea e a difícil tarefa de realizar 
os direitos humanos em sociedades distintas em suas tradições culturais e 
características econômicas e sociais estão refletidos na Declaração e no 
Programa de Ação de Viena. Além disso, pela primeira vez, a comunidade 
internacional reconheceu consensualmente o direito ao desenvolvimento como 
parte integrante dos direitos humanos, recomendando cooperação para sua 
implementação. Sublinhou ainda que a democracia representa a forma de 
governo mais favorável para o respeito aos direitos humanos. 
O órgão por excelência dos direitos humanos no âmbito das 
Nações Unidas é a Comissão de Direitos Humanos (CDH). Seu mandato inicial 
consistiu em apresentar ao Conselho Econômico e Social (ECOSOC) - órgão 
planificador e executor de políticas das Nações Unidas na ordem econômica, 
social, cultural e em matéria de direitos humanos - propostas, recomendações 
ou informes destinados à futura normativa internacional sobre direitos 
humanos. 
À medida em que seu mandato inicial se cumpria, a atuação da 
CDH ampliou-se significativamente. Constitui hoje um foro de debates e uma 
poderosa caixa de ressonância de idéias, de queixas e de denúncias. Tem 
também importante papel no exame de situações individuais de países onde 
ocorram violações graves aos direitos humanos, através de um procedimento 
confidencial, que permite por vezes encaminhamentos favoráveis a situações 
delicadas, e outro público, que dá margem a discussões proveitosas e a 
19 
A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o Brasil 
pronunciamentos importantes da comunidade internacional sobre fatos que lhe 
são apresentados. 
Em situações emergenciais, a CDH reúne-se extraordinariamente, 
podendo apresentar recomendações diretamente inclusive à Assembléia-Geral 
das Nações Unidas. Recentemente, foi convocada reunião extraordinária para 
examinar o caso das violações de direitos humanos ocorridas no Timor Leste, 
e dela resultou uma solicitação ao Secretário-Geral das Nações Unidas para 
que estabeleça uma Comissão Internacional de Investigação com vistas a 
coletar sistematicamente informações sobre a violação de direitos humanos 
naquele território. 
No que diz respeito ao Sistema Interamericano de Direitos 
Humanos cabe salientar que o continente americano é precursor na adoção 
de instrumentos internacionais destinados à proteção dos direitos e das 
liberdades fundamentais. Fomos a primeira região do mundo a adotar uma 
declaração sobre a matéria, proclamada durante a IX Conferência 
Interamericana, em 2 de maio de 1948. 
Na mesma data, a Carta da OEA determinava a elaboração de 
instrumento convencional e a criação de uma Comissão de Direitos Humanos 
com a missão de promover a observância e a defesa desses direitos. Este 
sistema adquiriu maior solidez jurídica com a entrada em vigor da Convençflo 
Americana sobre Direitos Humanos, em 1978, e com a aprovação dos 
Estatutos da Comissão e da Corte Interamericana de Direitos Humanos em 
1979. 
Passaram-se três décadas, portanto, ante::. que as disposições da 
Declaraçflo Americana dos Dire;tos e Deveres do Homem deixassem de ser 
um simples instrumento de intenções para converter-se em um mecanismo 
operativocom autoridade para cumprir a missão que lhe outorga a Carta da 
OEA. Ésse atraso, justificável unicamente pelas circunstâncias políticas 
tormentosas que viveu a região naquela época, representou um vazio de 
proteção regional em matéria de direitos humanos que, na visão de muitos 
analistas, afetou cidadãos da maioria dos países, especialmente os latino­
americanos. 
A Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, que conta 
entre seus atuais integrantes com o Doutor Hélio Bicudo, monitora a 
implementação da Declaração Americana, da Convenção Americana, bem 
como dos demais instrumentos do Sistema Interamericano. Reúne-se duas 
vezes ao ano e possui funções extremamente abrangentes, definidas em seu 
Estatuto. Ressaltaria, entre elas, as funções de realização de estudos e 
relatórios, de avaliação das legislações nacionais, de recebimento e exame de 
petições, de comunicação com qualquer dos Estados americanos a fim de 
obter informações e formular recomendações, além da possibilidade de 
20 
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A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o Brasil 
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A instituição fundamental no aumento do prestígio do sistema 
regional de proteção aos direitos humanos é a Corte Interamericana de Direitos 
Humanos, presidida atualmente pelo Professor Antônio Augusto Cançado 
Trindade, que exerceu no passado a função de Consultor-Jurídico do 
Itamaraty. Trata-se da instância jurisdicional última, no plano regional, para a 
definição das controvérsias entre os Estados e entre estes e os particulares em 
matéria de direitos humanos. 
O exercício da competência consultiva da Corte permitiu a 
consolidação de apreciável jurisprudência em matéria de interpretação do 
corpo normativo do sistema. Com respeito a sua competência contenciosa, 
para o julgamento de casos a ela submetidos, esta é limitada aos Estados ­
partes da Convenção Americana que a reconheçam expressamente. 
A Corte julga os casos que lhe são submetidos pela Comissão 
Interamericana ou pelo Estado interessado e pode emitir sentença em que 
determina se o Estado é ou não responsável por violações da Convenção, 
além de estipular a obrigação de fazer cessar as violações e indenizar as 
vítimas ou seus herdeiros legais, Na prática, desde que a Corte emitiu sua 
primeira sentença condenatória, em caso de desaparecimento forçado, sua 
ação judicial incrementou-se significativamente. 
Este é essencialmente o Sistema de Direitos Humanos vigente 
nos âmbitos multilateral e regional. Como se inscreve o Brasil nesse sistema? 
Seria interessante resgatar inicialmente a memória histórica da 
ativa participação do Brasil nos debates e no processo de redação dos 
instrumentos internacionais de proteção, além do papel brasileiro na busca da 
efetiva implementação desses instrumentos. 
No decorrer dos trabalhos preparatórios da Declaração Universal, 
o representante brasileiro, Austragésilo de Athaíde, defendeu a adoção de 
garantias, de modo a assegurar a eficácia dos direitos consagrados, e 
singularizou a importância do direito à educação, incluído no documento por 
insistência do Brasil. Já nos dois Pactos de Direitos Humanos (e protocolos 
facultativos) das Nações Unidas preocuparam-se as delegações brasileiras em 
demandar a consideração cuidadosa das medidas de implementação. 
Em seu monumental Repertório da Prátíca Brasileira do Direito 
Internacional Público, o Professor Cançado Trindade lembra que, já nos 
primórdios da fase legislativa dos instrumentos internacionais dos direitos 
humanos, formara-se no Brasil uma corrente de pensamento entre importantes 
internacionalistas (Hildebrando Accioly, Haroldo Valladão, Levi Carneiro, Clóvis 
Beviláqua - curiosamente quatro ex-consultores jurídicos do Itamaraty), que 
21 
A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Bf7Jsil 
defendiam a tese de que a noção de soberania, em sua acepção absoluta, 
mostrava-se inadequada no plano das relações internacionais, devendo ceder 
terreno à noçi!ío de solidariedade. 
Posteriormente, as vicissitudes do regime autoritário vigente no 
Brasil a partir de 1964 viriam a refletir-se negativamente em algumas posições 
brasileiras em foros internacionais em matéria de direitos humanos. Em certas 
ocasiões, insistimos na posição de que a observância dos direitos humanos 
constituía responsabilidade principal ou exclusiva do governo de cada país. 
A partir da redemocratizaçi!ío do país, em 1985, não há como 
negar a notável evolução no tratamento do tema em seus aspectos 
institucional, jurídico e político. No campo diplomático, consolidamos a 
posição, das mais avançadas, de que a proteção dos direitos básicos do ser 
humano não se esgota na atuação do Estado, e de que os instrumentos 
internacionais de proteção representam uma garantia adicional desses direitos e 
fortalecem a capacidade processual das vítimas de violação de direitos 
fundamentais. 
Ao longo da década de oitenta, o Brasil participou ativamente dos 
debates que levaram à consolidação e à ampliação da temática dos direitos 
humanos no âmbito das Nações Unidas. Aderimos aos principais tratados 
internacionais de proteção aos direitos humanos (os dois pactos internacionais 
sobre direitos humanos, a Convenção contra a Tortura, a Convenção s'obre os 
Direitos da Criança), à Convenção Americana de Direitos Humanos e à 
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura. Esses 
instrumentos somaram-se aos demais de que o Brasil já tomara parte 
anteriormente (caso da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação Racial e da Convenção sobre a Eliminação da Discriminação 
contra a Mulher). 
Marco fundamental na visão brasileira da proteção internacional 
dos Direitos Humanos é a Constituição de 1988. Uma rápida análise de seus 
termos corrobora a visão segundo a qual os Direitos Humanos constituem a 
pedra-de-toque de todo o arcabouço jurídico criado pelo legislador constituinte 
em resposta aos anseios da sociedade brasileira. 
As normas constitucionais e as obrigações resultantes do' conjunto 
de instrumentos internacionais assinados pelo Brasil no campo dos Direitos 
Humanos representaram incentivo à vontade da sociedade brasileira e ao 
empenho do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso para a 
adoçãode importantes inovações na área política, legislativa e administrativa. 
Para orientar essa ação inovadora, o Governo mobilizou 
amplamente a sociedade, por meio de consultas, seminários e debates, no 
sentido de dar cumprimento a uma recomendação da Conferência de Viena e 
elaborar um plano programático de direitos humanos. A conclusão dessa 
22 
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A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Brasil 
ampla consulta foi o lançamento pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, 
no dia 13 de maio de 1996, do Programa Nacional de Direitos Humanos, que 
estabeleceu objetivos precisos para a ação governamental em todas as 
esferas. 
No campo internacional, uma das metas anunciadas pelo 
Programa era o reconhecimento, pelo Brasil, da competência da Corte 
Interamericana de Direitos Humanos. Após cuidadoso processo de exame em 
vários níveis da sociedade, e após consulta formal ao Congresso Nacional, 
esse reconhecimento foi feito em dezembro de 1998, no âmbito da 
comemorações - que quisemos ressaltar com muito brilho - do cinqüentenário 
da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Declaração Americana 
dos Direitos e Deveres do Homem. 
A participação do Governo brasileiro nos foros internacional e 
regional sobre direitos humanos é marcada pela defesa do respeito a normas 
substantivas e processuais que garantam eficácia, objetividade e 
imparcialidade. 
Nossa atuação rege-se por um conjunto de princípios que podem 
ser agrupados do seguinte modo: 
a) Reconhecimento da legitimidade da preocupação internacional 
com a situação dos Direitos Humanos em qualquer parte do mundo: o Brasil 
tem a firme convicção de que todos os Estados-membros das Nações Unidas 
têm a obrigação do respeito e da promoção dos direitos e liberdades 
enunciados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, e têm o 
compromisso de cooperarem entre si e com a ONU para a proteção e 
promoção desses direitos; 
b) Universalidade dos Direitos Humanos: o Brasil acredita que os 
direitos e liberdades consagrados na Declaração de 1948 têm validade 
universal e não aceita a tese de que os particularismos históricos, religiosos e 
culturais limitariam ou relativizariam esses Direitos; 
c) Indivisibílídade e interdependência de todos os direitos: não é 
possível dissociar a realização dos direitos civis e políticos, de um lado, dos 
direitos econômicos, sociais e culturais, de outro; tampouco é possível 
estabelecer uma hierarquia ou privilegiar um conjunto de direitos em 
detrimento de outro. 
Com base nesses princípios, deve-se notar que a sensibilidade 
de nosso país para problemas e dificuldades específicos dos países em 
desenvolvimento qualificam-no para operar freqüentemente como moderador, 
na busca de soluções que conduzam ao progresso dos direitos humanos, sem 
confrontações desnecessárias. 
23 
A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Brasil 
Não se pode perder de vista que os organismos constituídos por 
governos são foros de debate político e de decisões de caráter político­
administrativo. Estas são basicamente produto direto de negociações 
mediadas pelos interesses dos Estados. Essa contingência reflete-se 
sobretudo no exame das situações de países, onde se tem registrado 
excessiva pofitização. Entendemos que as situações de direitos humanos 
devem continuar a ser discutidas e analisadas pelos órgãos multilaterais, 
porém com imparcialidade, independência e não - seletividade. 
Pelas mesmas razões que nos levam a aceitar sem ambigüidade 
a legitimidade da preocupação internacional com os direitos humanos, o 
Governo brasileiro defende que nenhum país deve considerar-se imune ao 
exame dos órgãos do sistema. Por este motivo, temos proposto na Comissão 
de Direitos Humanos, a partir de proposta inicial ali apresentada pelo Doutor 
José Gregori, Secretário de Estado dos Direitos Humanos, a elaboração 
bienal de relatório, cuja legitimidade estaria vinculada a seu caráter multilateral, 
sobre a situação dos direitos humanos em todos os países do mundo. 
No âmbito regional, o Brasil reconhece a relevância do papel 
desempenhado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e tem 
defendido o estabelecimento de critérios precisos para a abertura de novos 
casos, a fim de evitar a sobrecarga e a banalização do mecanismo da CIDH. A 
tramitação de petições manifestamente infundadas pode gerar atritos 
desnecessários entre a Comissão e os Estados, além de desviar os escassos 
recursos materiais e humanos da CIDH e dos Estados para queixas que 
deveriam ser declaradas inadmissíveis ab initio. 
Cremos também fortemente que o Sistema Interamericano de 
Proteção de Direitos Humanos, hoje limitado aos países latino-americanos e 
caribenhos, em muito ganharia em eficácia e autoridade se se tornasse 
verdadeiramente hemisférico. A participação plena dos Estados Unidos e do 
Canadá nos instrumentos que o compõem se afigura como objetivo essencial 
para que ele de fato possa evoluir de forma segura e harmônica. 
No contexto do aperfeiçoamento de suas relações com o Sistema 
Interamericano, o Brasil ao reconhecer a competência contenciosa da Corte 
Interamericana de Direitos Humanos deu, no final de 1998, importante passo. 
Com essa decisão, pretendeu-se colocar à disposição de todas as pessoas 
sob nossa jurisdição a forma mais evoluída de proteção internacional dos 
direitos humanos, a que é proporcionada judicialmente por meio de decisões 
da Corte. 
É possível afirmar, portanto, que o Brasil chega ao limiar do 
século XXI dotado de substantiva estrutura jurídica para executar a tarefa de 
construção de uma sociedade mais justa e respeitosa dos direitos humanos. 
Em nenhum outro momento de sua história, o discurso externo do Brasil foi tão 
24 
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A Proteção Intemadonal dos Direitos Humanos e o Brasil 
transparente e explícito no reconhecimento das violações aos direitos humanos 
existentes no país. O Governo brasileiro busca sempre antecipar-se às críticas 
e denúncias internacionais ao dar visibilidade ao assunto e estimular o debate 
interno com amplos setores da sociedade civil em favor da melhoria dos 
padrões de observância dos direitos humanos. 
Atos de violação dos direitos humanos em nosso país geram 
efeitos jurídicos para o Estado brasileiro no plano internacional e regional, em 
decorrência de compromissos que assumimos ao aderirmos aos tratados de 
direitos humanos. Geram também efeitos políticos. Afinal, os direitos humanos 
ultrapassaram as fronteiras do interesse nacional. Resultam da convicção de 
que todos os homens e mulheres do planeta são sujeitos de direitos e 
obrigações. Os direitos humanos são na atualidade uma prioridade da 
comunidade internacional, uma vez que é universal o postulado de respeito à 
integridade da pessoa. 
É preciso porém que fique claro que o respeito aos direitos 
humanos não dependa apenas da existência de leis e instituições. Depende, 
em grande medida da criação de condições econômicas, sociais, culturais e 
políticas para a vigência das garantias básicas do ser humano. O Governo 
brasileiro está plenamente consciente dessa necessidade e tem-se esforçado, 
por meio de sua política econômica para que se criem condições que permitam 
uma ação vigorosa. eficaz e sustentável do Estado no campo socia1. 
O direito ao desenvolvimento, como direito síntese e integrador de 
todos os direitos humanos, é um conceito apto a estimular a incorporação da 
cultura dos direitos humanos em projetos macroeconômicos e nas estratégias 
políticas dos Estados e da comunidade internacional. Desta forma, poderão 
integrar-se a tal projeto as instituições internacionais intergovernamentais que 
até agora não se sentem vinculadas diretamente à responsabilidade em 
matéria de direitos humanos, como as de Bretton Woods e as demais 
organizações financeiras internacionais. 
Um dos desafios maiores da comunidade internacional para o 
próximo século será fazer com que o sistema das Nações Unidas e das 
organizações regionais melhore seus índices de eficiência e a coordenação de 
esforços para construir a cultura dos direitos humanos. E aos Estados e 
governantes cabe compreender que o mundo contemporâneo vem 
consagrando a tese de que os direitos humanos são bem mais do que uma 
reserva individual. Cada vez mais evidencia-se o fato de que a proteção e a 
garantia dos direitos humanos representam o fim último do próprio ato de 
governar e qualificam o tipo de sociedade em que se vive. Assim pensamos e 
assim procuramos agir. 
25 
.JIIIo...­
A POLITICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E O SISTEMA 
INTERAMERICANO 
JOSÉ GREGORI 
Secretário de Estado dos Direitos 
Humanos do i'vfinistério da Justiça 
A adesão voluntária do Brasil aos principais Tratados de direitos 
humanos e o respeito às obrigações então contraídas - não nos iludamos - é 
uma tarefa complexa, em razão de sua estrutura federal descentralizada, o 
tamanho da população, a dimensão continental do país e a multiplicidade de 
instituições envolvidas. 
Este Workshop tem assim extraordinária importância: permitirá 
somar aos esforços da atual política de direitos humanos a decidida 
cooperação dos Governos dos Estados da Federação, dos órgãos do 
Executivo, as Polícias, o Judiciário, o Ministério Público e o Legislativo. Trata­
se, no entanto, de longa caminhada, plena de dificuldades e obstáculos, como 
costuma ser a jornada pela realização dos direitos humanos. 
Como se sabe, o direito internacional dos direitos humanos teve 
um considerável desenvolvimento após a II Guerra Mundial e a adoção da 
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nesse período, a Convenção 
Americana de Direitos Humanos - o Pacto de San José da Costa Rica - com 
entrada em vigor em 1978, foi o instrumento que lançou as bases do Sistema 
de Proteção de Direitos Humanos na região, protegendo um leque amplo de 
direitos, mais extenso do que em relação à maioria dos outros instrumentos. 
As cláusulas do Pacto de San José são extremamente avançadas, 
fornecendo para qualquer país democrático balizas que, somente a vontade 
política dos Estados e a participação decidida da sociedade civil, poderão 
torná-Ias realidade. Recorde-se que a Convenção Americana foi o primeiro 
instrumento internacional de direitos humanos que proíbe a suspensão das 
27 
I 
A Proteção Intemacíonal dos Díreítos Humanos e o Brasíl 
garantias indispensáveis para a proteção dos direitos a despeito do regime 
político. 
Observa-se, com satisfação, que o Brasil é atualmente um 
protagonista ativo nos Sistemas Internacional e Regional de Proteção dos 
Direitos Humanos. Além da adesão aos Tratados, o Brasil colabora 
estreitamente com seus órgãos de supervisão, bem como com a proteção e 
promoção dos direitos humanos na comunidade internacional. 
No âmbito do continente, sob a perspectiva da evolução da 
proteção dos direitos humanos, foi relevante a criação de mecanismos, de 
caráter supranacional, para a proteção subsidiária ou complementar dos 
dirêitos humanos, como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, criada 
em 1959 - onde hoje tem assento uma importante liderança dos direitos 
humanos, o ex - Deputado Hélio Bicudo - e a Corte Interamericana de Direitos 
Humanos, oficialmente instalada em 1979. 
Face a essas duas instituições, o Brasil - graças ao processo de 
consolidação da democracia - pode chegar ao limiar do século XXI integrado à 
plena legalidade do sistema internacional de proteção de direitos humanos. 
Durante as comemorações do cinqüentenário da Declaração Universal de 
Direitos Humanos, no dia 9 de dezembro de 1998, o Presidente Fernando 
Henrique Cardoso, em cerimônia no Itamaraty. no Rio de Janeiro, anunciou o 
reconhecimento da jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos. 
Assim, concretizava-se plenamente um dos objetivos maiores do 
Programa Nacional de Direitos Humanos. que preconizava o estreitamento da 
cooperação com os órgãos maiores do sistema interamericano de proteção 
dos direitos humanos, como via essencial para a realização dos direitos 
humanos em nosso país e no continente. 
Importa salientar a importância do aspecto de complementaridade 
que caracteriza a relação dos Estados com a Corte e com- a própria Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos. Para os governos democráticos, como o 
nosso, a cooperação com os dois órgãos é considerada uma forma de 
colaboração e estímulo para que o Estado possa melhor proteger e promover 
os direitos humanos. Não podemos, pois, encarar como antagônica, a 
integração nesses organismos. 
O Brasil aceita, apóia e estimula esses e outros mecanismos na 
ordem internacional,por considerá-los como mecanismos eficientes para 
promover e fazer respeitar os direitos humanos em todo o continente. 
Além da sua capacidade de reagir face a situações de violação 
sistemática de direitos humanos, a Comissão Interamericana tem exercido 
também um papel de mediador ativo entre as vítimas dessas violações e os 
28 
A 
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A Proteção Intemacíonal dos Direítos Humanos e o Brasil 
Estados, paralelamente às funções de assessoramento, promoção e proteção 
dos direitos humanos. 
A política de direitos humanos do Brasil tem colaborado de forma 
estreita com a Comissão. Como exemplo, registre-se a aceitação do Estado 
brasileiro das funções legítimas de monitoramento externo dos direitos 
humanos por organismos multilaterais, como a visita realizada ao País, em 
1995. Isso resultou na elaboração do Relat6rio sobre a Situaçáo dos Direitos 
Humanos no Brasil, publicado em 1997, considerado importante contribuição 
em favor da proteção dos direitos humanos, por permitir observação in loco de 
situações bem como formular recomendações. 
Outro exemplo recente do diálogo entre o Estado brasileiro e a 
Comissão é o procedimento de "solução amistosa", pelo qual o Governo 
brasileiro, mediante entendimentos tripartites com a Comissão e as vítimas, 
pode chegar a um acordo, que implica um compromisso de cumprir medidas 
propostas para reparar os danos . 
Considerando que, no caso brasileiro, a quase totalidade das 
queixas pendentes na Comissão refere-se aos Estados da Federação, deve-se 
louvar a precursora disposição do Governador Mário Covas e de seu 
secretariado em acederem à solução amistosa, no caso da asfixia de presos 
no 422 Distrito Policial, em São Paulo. Tal acordo permitiu que os direitos das 
famílias fossem ressarcidos por indenizações assumidas voluntariamente pelo 
Governo estadual. Essa cooperação estreita com a Comissão pode ser 
considerada como mais uma realização de um dos objetivos maiores do 
Programa Nacional de Direitos Humanos, na área das ações internacionais. 
Outra meta atingida - ápice do processo de integração do Brasil 
no sistema interamericano de Direitos Humanos - desde a ratificação da 
Convenção Americana de Direitos Humanos, em 1992, foi o acima 
mencionado reconhecimento da jurisdição da Corte Interamericana de Direitos 
Humanos. 
A Corte - integrado por sete juízes, entre os quais o eminente 
jurista brasileiro Antonio Augusto Cançado Trindade - tem, obviamente, 
natureza contenciosa, como qualquer instituição jurisdicional autônoma, 
considerada hoje válida para a proteção dos direitos humanos. 
Vale ressaltar que a Corte tem sido ativa em decidir providências 
cautelares em situações de urgência, para evitar prejuízos irreparáveis para 
pessoas, bem como tem desempenhado papel eminentemente consultivo, de 
grande importância para o desenvolvimento do direito internacional dos direitos 
humanos no continente americano. Com efeito, desde sua criação, a Corte 
forneceu quatorze opiniões consultivas que constituem hoje um marco de 
referência para a implementação dos direitos humanos na região. 
29 
A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Brasil 
Não há dúvida de que, no próximo século, com o alargamento das 
ratificações da Convenção Americana e a submissão de mais Estados do 
continente à jurisdição contenciosa da Corte, assistiremos ao fortalecimento da 
Comissão e da Corte. No caso brasileiro, é necessário que todas as Unidades 
da Federação e suas instituições se convençam da necessidade e do valor da 
instância internacional para o aperfeiçoamento do regime interno de tutela dos 
direitos humanos. 
A globalização dos direitos humanos tornou-se realidade, 
especialmente depois da Declaração e do Programa da Conferência Mundial 
de Viena (1993): as autoridades aqui presentes não podem mais tolerar que, 
se responsáveis por violações de direitos humanos, os agentes do Estado 
fiquem impunes. Não podem igualmente tolerar que os direitos das vítimas 
não sejam atendidos. 
Será necessário que os Governos dos Estados da Federação e as 
instituições, aqui representados, assumam como luta de cada um e de todos, 
o objetivo de realizar os direitos humanos, segundo os padrões definidos pelo 
sistema internacional e interamericano de proteção. Eis o grande desafio! 
30 
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ANTÔNIO AUGUSTO CANÇADO TRINDADE 2 
Juiz Presidente da Corte Interamericalla de Direitos Humanos 
I. Considerações Preliminares. 
O estudo dos sistemas regionais de proteção dos direitos humanos 
requer algumas precisões preliminares. A multiplicidade de instrumentos 
internacionais no presente domínio faz·se acompanhar de sua unidade básica e 
determinante de propósito: a proteção do ser humano. Os instrumentos globais e 
regionais sobre direitos humanos têm se inspirado em uma fonte comum, a 
Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, ponto de irradiação dos 
esforços em prol da realização do ideal de universalidade dos direitos humanos. 
Com efeito, referências expressas à Declaração Universal encontram·se, 
significativamente, nos preâmbulos não só das Convenções de direitos humanos 
das Nações Unidas, como também nos das Convenções regionais vigentes, - as 
Convenções Européia (1950) e Americana (1969) sobre Direitos Humanos e a 
Carta Africanasobre Direitos Humanos e dos Povos (1981). 
I. Tex10 da conferência proferida pelo Autor no Seminário" A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o 
Brasil". realizado no Auditório do Superior Tribunal de JUb1iça (STJ), em Brasília., no dia 07 de outubro de 1999. A 
conferência baseia-se no estudo preparado pelo Autor originalmente para o livro The Inter-American System of 
Human Rights (eds. D.J. Harris e S. Livingstone, Oxford, Clarendon Press, 1998, pp. 395-420), e aqui reproduzido, 
em versão atualizada em língua portuguesa, mediante autorização do Autor. O estudo completo do tema encontra-se 
no prelo. no volume III do Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos do Professor A. A. Cançado 
Trindade (Porto Alegre, S.A. Fabris Ed" 2000, capítulo XV). 
'. Ph.D. (Cambridge); Juiz Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Professor Titular da 
Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco; Membro dos Conselhos Diretores do Instituto Internacional de 
I 
Direitos Humanos (Estrasburgo) e do Instituto Interamericano de Direitos Humanos (Costa Rica); Associado do 
Institut de Droit lnternational. 
31 
A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Brasil 
No processo de generalização da proteção dos direitos humanos, a 
unidade conceitual dos direitos humanos - todos inerentes à pessoa humana - veio 
a transcender as distintas formulações de direitos reconhecidos em diferentes 
instrumentos. 
Em nada surpreende que ao indivíduo seja concedida a liberdade 
de escolha do procediment~ internacional a ser acionado (em nível global ou 
regional), - o que pode reduzir ou minimizar a possibilidade de conflito no plano 
normativo. Tampouco em nada surpreende que se aplique o critério da primazia 
da norma mais favorável à suposta vítima de violação de direitos humanos (seja tal 
norma de direito internacional - consagrada em um tratado universal ou regional ­
ou de direito interno). Tal complementaridade de instrumentos de direitos humanos 
em níveis global e regional reflete a especificidade e autonomia do Direito 
Internacional dos Direitos Humanos, caracterizado essencialmente como um 
direito de proteçã03 . 
Ao se complementarem, os instrumentos internacionais de proteção 
dos direitos humanos que operam nos planos global e regional desviam assim o 
foco de atenção ou ênfase da questão clássica da estrita delimitação de 
competências para a da garantia de uma proteção cada mais eficaz dos direitos 
humanos4 • E não poderia ser de outra forma, em um domínio do direito em que 
predominam interesses comuns superiores, considerações de ordre public e a 
noção de garantia coletiva dos direitos protegidos. Sob esta ótica, ficam 
descartadas quaisquer pretensões ou insinuações de supostos antagonismos 
entre soluções globais ou regionais, porquanto a multiplicação de instrumentos ­
globais e regionais, gerais ou especializados - sobre direitos humanos teve o 
propósito e a conseqüência de ampliar o âmbito da proteção devida às supostas 
vítimasã , 
'. Cr. AA Cançado Trindade, Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos, volume L Porto 
Alegre, S.A Fabris Ed" 1997, pp. 1-486; AA Cançado Trindade, Tratado de Direito Internacional dos 
Direitos Humanos, volume 11, Porto Alegre, S,A Fabris Ed" 1999, pp. 1-440, 
'. A.A. Cançado Trindade, "Co-exis!ence and Co-ordínation of Mechanísrns ofIntemational Protection of Human 
Rights (At Global and Regional Leveis)", 202 Recueü des Cours de I'Académie de DroU International de La 
Haye (1987) p. 408. - Para um dos primeiros esforços em proporcionar uma visão panorâmica das dimensões 
intemacionais dos direitos humanos nos planos global e regional, cf a coletânea de estudos editada por K. Vasak, l,es 
dimel1llions internationales des droits de I'honune. Paris, UNESCO, 1978, pp, Iss,; e para um visão panorâmica do 
universalismo e regionalismo no direito internacional em geral (em distintos capítulos ou àreas deste úhirno). cf, e,g., 
a coletânea de ensaios intitulada RégionaIisme et universalisme dans le droit intenlational contemporain 
(Colloque de Bordeaux. 1976, Société Française pour le Droi! lnternational), Paris, Pédone, 1977, pp. 3-358. 
'. A,A. Cançado Trindade, "Universalismo e Regionalismo nos Direitos Humanos: O Papel dos Organismos 
Internacionais na Consolidação e Aperfeiçoamento dos Mecanismos de Proteção Internacional", 13 Annario 
Hispano-Luso-Americano de Derecho Internacional - :Madrid (1997) pp, 99-155, - Para um recente estudo 
de caso, cf Analysis of the Legal Implications for States that Intend to Ratify both the European 
Convention on Human Rights and Its ProtocoIs and the Convention on Human Rights of the 
Conunonwealth of Independent States C!S (prepared for the Secretary General of the Council of Europe 
by Professor Ali.. Cançado Trindade). Strasbourg, Council of Europe document SG/INF(95)17, de 
32 
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de estudos editada por K. Vasak, Les 
p. Iss.; e para um visão panorâmica do 
,ítulos ou âreas deste úhimo), cf. e.g., 
droit internationaJ contemporain 
Paris, Pédone, 1977, pp. 3-358. 
f1umanos: O Papel dos Organismos 
roteção Internacional", 13 Anuario 
p. 99-155. - Para um recente estudo 
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A Proteção Intemacional dos Direitos Humanos e o Brasil 
Tanto é assim que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos 
de 1969, por exemplo, teve o cuidado de incluir, em seu preâmbulo, referência 
igualmente aos princípios pertinentes "reafirmados e desenvolvidos" em distintos 
instrumentos "tanto de âmbito universal como regional". E, duas décadas antes, a 
Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem de 1948, ao mesmo 
tempo em que afirmava que a proteção internacional dos direitos humanos deve 
ser "guia principalísima dei derecho americano en evolución", declarava que os 
direitos humanos essenciais reconhecidos em ocasiões reiteradas pelos Estados 
Americanos baseiam-se nos "atributos da pessoa humana".A universalidade, no entanto, não equivale à uniformidade total; ao 
contrário, é enriquecida pelas particularidades regionais. Cada sistema regional 
vive seu próprio momento histórico. Assim, no âmbito do sistema africano de 
proteção, vem de ser aprovado (em Ouagadougou, Burkina Faso, em 08-10 de 
junho de 1998) o primeiro Protocolo à Carta Africana sobre Direitos Humanos e 
dos Povos, dispondo sobre a criação da Corte Africana de Direitos Humanos e dos 
Pov0 6 para complementar o labor da Comissão Africana de Direitos Humanos e 
dos Povos. No âmbito do sistema interamericano de proteção, contemplam-se as 
possibilidades de lograr uma coordenação mais estreita entre a Comissão e a 
Corte Interamericanas de Direitos Humanos. E, no âmbito do sistema europeu de 
proteção, por meio do Protocolo n. 11 à Convenção Européia de Direitos 
Humanos, adotado em maio de 1994, e que entrou em vigor em 01 de novembro 
de 1998, estabeleceu-se a nova Corte Européia de Direitos Humanos como único 
órgão jurisdicional do sistema J (assumindo as funções das anteriores Corte e 
20.12.1995, pp. 2-33 (publicado recentemente in: 17 HUJllan Rights Law JournaJ (1996) pp. 164-180). 
Como pudemos assinalar, entre outros e longos argumentos, neste Parecer que preparamos, em outubro de 
1995, para o Conselho da Europa, a pedido de seu Secretário-Geral, no histórico Caso Russo (Convenção de 
Minsk de Direitos Humanos da ComUJÚdade de Estados Independentes - CEI), no tratamento dos atuais 
temas jurídicos que dizem respeito ao referido Conselho (no caso, o ingresso da Federação Russa no Conselho 
da Europa, efetivado em fevereiro de 1996), constata-se uma certa tendência na ex-Europa Ocidental ao 
exclusivismo. Ora, cabe aos próprios europeus combater esta tendênéia, inspirados na dimensão dos direitos 
humanos que, desde a adoção em 1950 da Convenção Européia de Direitos Humanos (em vigor desde 1953) 
eles próprios têm sabido tão bem sustentar e desenvolver. 
'. Cf Ben Kioko, "The Process Leading to the Establishment ofthe African Court on Human and Peoples' Rights", X 
AnnuaJ Conference of the African Society of International and Comparative Law (Addis Ababa, 03­
05.08.1998), pp. 1-12 (mimeografado, circulação interna; sobre os travaux préparatoires do Protocolo de Burkina 
Faso, cf., e.g., 8 AfricanJournaJ oflnternationaJ and Comparative Law (1996) pp. 493-500; e, para comentârios, 
cf. e.g., M. Mubiala, "La Cour Africaine des Droits de I'Homme et des Peuples: mimetisme institutionnel ou avancée 
judiciaire?", 102 Revue généraJe de Oroit intentationaJ public (1998) pp. 765-780. - Os sistemas regionais 
existentes têm sido seguidos pela adoção da Carta Árabe de Direitos Humanos de 1994, e continua aberto o debate 
quanto à possibilidade de que o continente asiático possa também contar no futuro com um sistema regional de 
proteção dos direitos humanos. 
'. Tivemos a ocasião de presenciar, em representação da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a cerimônia de 
instalação formal da nova Corte Européia de Direitos Humanos (sob o Protocolo n. II à Convenção Européia), 
realizada às 15:00 horas do dia 03 de novembro de 1998, no PaJais des Oroits de l'Homme do Conselho da Europa, 
em Estrasburgo, França. 
33 
A Proteção Intemadonal dos Direitos Humanos e o Brasil 
Comissão Européias de Direitos Humanos), e já operando atualmente como uma 
verdadeira Corte Constitucional Européia no domínio da proteção dos direitos 
humanos. Cada sistema regional funciona, pois, em seu próprio ritmo, e, atento à 
realidade de seu continente, segue sua própria trajetória histórica. 
Qualquer prognóstico sobre o futuro dos sistemas regionais de 
proteção dos direitos humanos deve partir da experiência acumulada nas últimas 
décadas nesta área. No tocante à evolução do sistema interamericano de 
proteção em particular, podem-se hoje identificar cinco etapas básicas. A primeira, 
a dos antecedentes do sistema, encontrou-se marcada pela mescla de 
instrumentos de conteúdo e efeitos jurídicos variáveis (convenções e resoluções 
orientadas a determinadas situações ou categorias de direitos). A segunda, de 
formação do sistema interamericano de proteção, caracterizou-se pelo papel 
solitariamente primordial da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pela 
expansão gradual das faculdades da mesma. A terceira, de institucionalização 
convencional do sistema, evoluiu a partir da entrada em vigor (em meados de 
1978) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. 
A quarta etapa, que se desenvolveu a partir do início da década de 
oitenta, corresponde à consolidação do sistema, mediante a jurisprudência da 
Corte Interamericana de Direitos Humanos e a adoção dos dois Protocolos 
Adicionais à Convenção Americana, respectivamente sobre Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais (1988) e sobre a Abolição da Pena de Morte (1990). A estes 
Protocolos somam-se as Convenções interamericanas setoriais, como a 
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985), a Convenção 
Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas (1994), a 
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a 
Mulher (1994), e a Convenção Interamericana sobre a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiências (1999), 
ademais de outras iniciativas relevantes. Nos anos noventa ingressamos em uma 
quinta etapa, do fortalecimento - que se impõe em nossos dias - do sistema 
interamericano de proteçã0 8 • Ao considerarmos esta última etapa exporemos 
nossas reflexões e recomendações de lege ferenda com vistas a lograr o referido 
aperfeiçoamento do sistema de proteção, e em particular da aplicação da 
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, neste limiar do novo século. 
Passemos, pois, ao exame da evolução, do estado atual e das perspectivas do 
sistema interamericano de proteção dos direitos humanos. 
'. Cf, a respeito, A.A Cançado Trindade, "The Inter-American System of Protection of Human Rights (1948­
1999): Evolution, Present State and Perspectives". Recuell des Cours Textes et 80mmaires - XXX Session 
d'Enseignement (1999). Strasoourg, IlDH, 1999. pp. I-59. 
34 
A 
11. Antecedentes e 
Se ton 
proteção a Declara, 
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ano10), constatamo! 
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situações ou categ( 
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Interamericanas sol 
declarações daquel 
humanos 15 . 
'. Adotada em abril daquele a 
de 1948). 
Ambas baseadas em reso!! 
il Convenção sobre Direito: 
(1906), Convenção sobre 
Conventions, Washington, ~ 
12. Convenção sobre o Asilo 1 
1954) (cf. ibid., pp. 25 e 49­
International Commissio 
Declarations and Conventi 
". Convenções Interameriea 
American Treaties. op. cit 
14 E.g., as resoluções XX\ 
raeia!), LV (carta da mulher 
1945): cf. r.r. Camargo, I 
América, México, Cia. I 
("Fortalecimento do Sistema 
pp.165-166). 
". E.g .. a chamada Declan 
oportunidade; a Declaração 
Chapultepec de 1945); e. pos1J 
humanos como meio de fortal, 
- Temos. assim, nesses p4ss0! 
recomendatórios, em sua mai 
continente americano. Curio 
resolução hoje considerada c. 
Deveres de Homem de uma de 
vez abordou de maneira dire 
medidas conjuntas para sua sal 
Madrid, Ed. Cultura H 
Consolidación y Perfeccionam 
Derecho Internacional Org 
Secretaria General de !a OEA 
se o Brasil 
ldo atualmente como uma 
I da proteção dos direitos 
u próplÍo ritmo, e, atento à 
'ia histórica. 
)s sistemas regionais de 
:::ia acumulada nas últimas 
rtema interamericano de 
etapas básicas. A primeira, 
larcada pela mescla de 
(convenções e resoluções 
e direitos). A segunda, de 
aracterizou-se pelo papel 
ie Direitos Humanos e pela 
lira, de institucionalização 
em vigor (em meados de 
nos. 
rtir do início da década de 
:iiante a jurisprudência da 
)ção dos dois Protocolos 
.obre Direitos Econômicos, 
i de Morte (1990). A estes 
canas setoriais, como a 
rtura (1985), a Convenção 
o de Pessoas (1994), a 
adicar a Violência contra a 
a Eliminação de Todas as 
IS

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