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CASO 7 - INSTABILIDADE POSTURAL, SÍNDROME DA IMOBILIDADE E VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS | Hanna Leal 8ºP OBJETIVOS: 1. Definir o conceito de queda, conhecendo suas classificações e sua epidemiologia (incidência, prevalência e fatores de risco); 2. Entender os efeitos do envelhecimento na marcha e no equilíbrio, relacionando com a avaliação funcional e testes; 3.Conhecer a síndrome da imobilidade, diferenciando da síndrome da fragilidade; 4.Compreender os riscos gerados pela queda, entendendo como preveni-la; 5.Conceituar negligência, maus-tratos, abandono do idosos, reconhecendo os seus tipos; 6.Pontuar os sinais de violências em idosos, entendendo quando fazer a notificação compulsória. QUEDAS Definição: Evento no qual a pessoa vai de encontro ao solo ou nível mais baixo que o anteriormente ocupado, estando consciente ou não, com lesão ou não. EPIDEMIOLOGIA Incidência: 28%-35% das quedas ocorrem em > 65 anos e aumenta ao avançar da idade, chegando a 50% acima dos 80 anos. Fatores de risco: ● História prévia de quedas e fraturas; ● Idade avançada(idade igual ou superior a 80 anos). ● Sexo feminino ● Idosos institucionalizados; ● Idosos separados/divorciados; ● Idosos com depressão ou déficit cognitivo; ● Uso de medicações contínuas e BZDS e miorrelaxantes ● Múltiplas comorbidades; ● Baixo IMC (< 19 há maior risco de fratura do colo do fêmur pós-queda) ● Baixa densidade mineral óssea; ● AVE prévio ● Incontinência Urinária CLASSIFICAÇÃO ● Classifica-se como idoso caidor aquele que tem > 2 quedas/ano ● Interna ou Externa: relaciona a perda do equilíbrio ou a uma tendência interna ou a um evento externo, como um escorregão ou tropeço. A queda acidental é aquele evento único que dificilmente se repetirá e é decorrente de uma causa extrínseca ao indivíduo, em geral pela presença de um fator de risco ambiental danoso, como um piso escorregadio, um degrau sem sinalização ou em virtude de atitudes de risco, como subir em banquinhos. A queda recorrente expressa a presença de fatores etiológicos intrínsecos, como doenças crônicas, polifarmácia, distúrbios do equilíbrio corpóreo, déficits sensoriais ● Há ainda a classificação de acordo com o tempo de permanência no chão. A queda prolongada no chão é aquela em que o idoso permanece caído por mais de 15 a 20 min, por incapacidade de levantar-se sem ajuda FISIOLOGIA DA INSTABILIDADE POSTURAL ALTERAÇÃO DO EQUILÍBRIO O equilíbrio consiste em um processo do sistema nervoso central que provoca padrões de atividades musculares necessárias para coordenar a relação entre o centro de massa (CdM) e base de suporte (BdS). Esse processo envolve mecanismos aferentes/sensoriais (visual, vestibular e proprioceptivo), centrais (alterações das fibras nervosas e dos neuroreceptores) e eferentes/motores (força muscular e articular). Cada um desses mecanismos exerce um papel para manter o indivíduo em equilíbrio. Mecanismos aferentes Com o envelhecimento ocorre alteração deles como: redução de acuidade visual, red. sensibilidade ao contraste, red. de visão periférica e profundidade, menor adaptação ao escuro; redução da sensibilidade cutânea, do tato epicrítico e da sensibilidade vibratória de alta ou baixa freq nos MMII; Perda das céls. ciliares do órgão de Corti, perda de céls. ganglionares e fibras nervosas, ocasionando instabilidade postural. Mecanismos eferentes Após perturbação do centro de massa, o corpo inicia uma série de respostas estabilizadoras que se resumem em : torque nas artic. da perna de apoio, alteração da BdS por sobrepasso, ou movimento de preensão dos MMII. ESTRATÉGIAS PARA MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO 1. Estratégia do calcanhar: ocorre em resposta a um pequeno distúrbio lento da BdS e é realizada mantendo-se os pés no local de origem. Caracterizada por balanços de baixa frequência entre calcanhar-dedos e laterais dos pés. Ativação muscular: Distal → proximal. 2. Estratégia da bacia: Reação a distúrbios mais importantes quando a BdS está estreita. Reposiciona o CdM ao fletir ou estender as articulações coxofemorais. Ativação muscular: proximal → distal 3. Sobrepasso: Utilizada quando o CdM é deslocado além da BdS. Ex: após tropeçar. Apesar das alterações fisiológicas, a privação de um sistema é compensada pelos outros, dessa forma, o idoso consegue manter o equilíbrio. No entanto, a associação das disfunções àquelas decorrentes de doenças crônico-degenerativas torna o controle do equilíbrio corpóreo menos eficiente, especialmente em situações mais desafiadoras, como aquela em privação da visão, com superfícies instáveis associadas a atividades dinâmicas como sentar-se e levantar-se da cadeira, virar-se, inclinar-se, ultrapassar obstáculos, subir e descer escadas e marcha em terrenos irregulares, logo, aumenta o risco de queda. ALTERAÇÃO DA MARCHA Caracteriza-se por 2 fases: FASE DE APOIO e FASE DE BALANÇO. A fase de apoio corresponde a 60% do ciclo e ocorre quando uma perna suporta todo o peso corporal e mantém o contato com a superfície. Ela pode ser subdividida em 4 fases: 1-Resposta de carga (batida de calcanhar), 2-apoio intermediário, 3-apoio terminal e 4-pré-balanço. A fase de balanço ocorre quando a perna que não faz apoio avança para o próximo passo e possui 3 fases: 1- balanço inicial, 2- balanço intermediário, 3- terminal. No idoso, ocorrem algumas mudanças, sendo elas: aumento do período bipedal com menor tempo em apoio unipedal, aumento da frequência das passadas e passos mais curtos, perda do balanço dos braços, diminuição da rotação pélvica e do joelho; e pés rodados para fora. Isso implica risco a quedas. TIPOS DE MARCHAS Marcha do lobo frontal ou frontalizada → se caracteriza por uma BdS alargada, postura ligeiramente fletida e passos hesitantes, pequenos e festinantes. Os pés parecem estar grudados ao chão, (denomina marcha magnética). Uma vez iniciada, a pessoa pode interrompê-la bruscamente. Essa alteração se associa mais frequentemente a estágios avançados de doença de Alzheimer, demências ou síndromes multi-infartos, doença de Binswanger e hidrocefalia normobárica. Marcha sensorial atáxica → caracteriza por uma BdS alargada e movimentos de “arrastar os pés”. As pernas são movimentadas para frente e para fora em passos com os pés levantados. O calcanhar toca no solo em primeiro lugar. Produz-se uma reação à sensibilidade proprioceptiva alterada e à falta de conhecimento da localização dos pés em relação ao solo. Com auxílio da visão, a marcha é quase normal. O sinal de Romberg está presente. As causas mais frequentes incluem doenças que afetam a coluna posterior, nervos periféricos ou a coluna dorsal da medula espinal. Marcha cerebelar atáxica → apresenta-se com bases largas e passos pequenos, irregulares e instáveis. Por vezes, acompanha-se de guinadas e passos cambaleantes que causam a impressão de que o indivíduo está bêbado (marcha ebriosa). Quando a doença é unilateral, as guinadas se dão apenas para o lado afetado. A ataxia se dá com os olhos abertos ou fechados.Associa-se a eventos vestibulares agudos, acidentes vasculares encefálicos (AVE), alcoolismo crônico e doenças degenerativas como atrofia de múltiplos sistemas e paralisia supranuclear progressiva. Marcha espástica → observada em pacientes com hemiplegia ou hemiparesia e paraparesias. O membro afetado é rígido, ligeiramente fletido na bacia e estendido no joelho; o pé permanece em flexão plantar. O braço afetado se mantém em uma posição de flexão no cotovelo, estacionado em postura cruzada em relação ao abdome, frequentemente apoiado pelo braço não atingido. Ao caminhar, o balanço do braço afetado está prejudicado, e os dedos do pé arranham ou se arrastam sobre o solo. Para assegurar uma elevação apropriada do membro inferior em relação ao solo, o paciente deve balançar a perna afetada lentamente em um arco externo (circundução) a cada passo. Isso se dá com uma leve flexão lateral do tronco no sentido do lado não afetado. Ao mesmo tempo, a bacia do lado afetado está hiperestendida, elevando a extremidade plégica ou parética e possibilitando a elevaçãodo pé em relação ao solo. Causas comuns incluem infarto cerebral contralateral, lesões expansivas intracranianas e trauma cerebral. Marcha anserina → caracteriza por uma perda de força muscular envolvendo a cintura coxofemoral. Os pacientes exibem tipicamente movimento lateral troncular característico, afastando-se do pé que se levanta, rotação exagerada da pelve e rolamento da bacia a cada passo. Geralmente, há queixas de dificuldades para subir escadas e levantar de cadeiras. Condições comumente associadas incluem hipo e hipertireoidismo, polimialgia reumática, polimiosite, osteomalacia e neuropatias proximais. A marcha festinante, em geral associada à doença de Parkinson, envolve um movimento apressado dos pés, simétrico e rápido. Quando ereto, o tronco do paciente se inclina para frente e a bacia e os joelhos são mantidos em uma posição de flexão. Como consequência, o CdM do indivíduo é deslocado para frente, alcançando o limite de sua BdS. Ao caminhar, o CdM se move além dos limites seguros de sua BdS, ocasionando instabilidade. Subsequentemente, os passos se tornam progressivamente mais rápidos, em uma tentativa de reconquistar o controle postural (alinhamento do CdM sobre a BdS). Ocasionalmente, o paciente não consegue interromper a marcha e corre risco de quedas. Marcha por déficits multissensoriais (envolve distúrbios nos sistemas visual, proprioceptivo e vestibular) → os pacientes reclamam de tonturas, instabilidade ou sensação de cabeça vazia que aparecem somente durante a marcha ou quando se viram rapidamente. Esses indivíduos geralmente utilizam bengalas e andadores ou tocam nas paredes e em outros móveis para se apoiar e obter informações de retroalimentação proprioceptiva. Os pacientes diabéticos são particularmente vítimas dessa síndrome. Marcha vestibular→ caracterizada por uma constante sensação de instabilidade ao caminhar. Se o paciente está parado de pé, tipicamente não há desequilíbrio. A marcha tem bases largas, com frequentes tropeços laterais e ligeira tendência a caminhar em direção ao lado da disfunção vestibular, seguida de uma correção rápida na direção oposta. A instabilidade torna-se pior quando o paciente se vira e progride para uma marcha cambaleante quando os olhos se fecham. Condições comuns incluem labirintopatias, toxicidade por medicamentos (aminoglicosídios) e tumores do ângulo pontocerebelar. CAUSAS DE QUEDAS ● Envelhecimento → instabilidade postural ● Doenças específicas: Epilepsia, Espondilose cervical, Parkinson, Síncope cardiogênica, Miopatias e neuropatias periféricas, demências, presença de doença aguda,hidrocefalia de pressão normal ● Síndrome de quedas: deficits sensoriais múltiplos, doença cerebrovascular, ataque de quedas ● Medicações → psicotropicos, cardiovasculares, corticoesteroides e AINES AVALIAÇÃO CLÍNICA O evento de queda pode ser o reflexo de uma doença aguda como infecção urinária ou respiratória, arritmia cardíaca, acidente vascular encefálico, delirium. É consenso que quanto maior o número de fatores de risco presentes, maior será a chance de queda. Dois itens devem ser considerados: o relato de queda no último ano e queixas de problemas de equilíbrio e de marcha. O relato de queda no último ano é um forte fator preditivo para quedas no futuro. No exame físico, deve-se ter especial atenção com os sistemas cardiovascular, neurológico e musculoesquelético. A pressão arterial (PA) deve ser aferida nas posições deitada, sentada e de pé. Aguardam-se de 5 a 10 min com o paciente em repouso para aferir a PA na posição supina. Em seguida, afere-se em posição sentada, 1 min e 5 min após o paciente ter assumido a postura ereta, pois alguns pacientes mais velhos têm sintomas lentos de hipotensão postural, que é definida como uma queda de 20 mmHg ou mais na PA sistólica ou de 10 mmHg ou mais na PA diastólica na transferência da posição supina para ereta. Sintomas de tonturas ou vertigens e alteração no pulso sem alteração da PA ortostática podem ser suficientes para o diagnóstico de hipotensão ortostática em pacientes mais velhos. O exame neurológico deve incluir a avaliação do estado mental e presença de sintomas depressivos. Para avaliar a função vestibular, solicite ao paciente que marche no mesmo lugar, sem se mover, com os olhos fechados. Uma resposta anormal inclui uma rotação maior que alguns graus ou movimentação de mais de um pé em qualquer direção. A estabilidade pode ser testada com um pequeno empurrão no esterno. O exame dos pés visa à busca de alterações como calos, deformidades, joanetes e a adequação dos calçados. As mobilidades da coluna vertebral, das articulações e do pescoço devem ser avaliadas. TESTES DE DESEMPENHO FÍSICO Teste de equilíbrio e marcha : Realizado pelo protocolo de Mary Tinetti. Para o equilíbrio, com o paciente sentado em uma cadeira sem braços, faz-se 9 testes, com escore de até 16 pontos; para a marcha, faz-se 7 testes, com escore de até 12 pontos, totalizando 28 no teste todo. A interpretação é que quanto menor o escore, maior é o problema: se < 19 o risco de quedas é alto. ● Equilíbrio sentado. ● Levantado ● Tentativas de levantar ● Condição assim que levanta (5 s) ● Equilíbrio em pé ● Equilíbrio com leve empurrão em pé ● Olhos fechados em pé ● Girando 360º em pé ● Equilíbrio sentando ● Início da marcha ● Comprimento e altura dos passos ● Simetria dos passos ● Continuidade dos passos ● Marcha ● Direção da marcha ● Movimentos do tronco ● Distância dos tornozelos Teste de alcance funcional: Com o paciente parado e ereto, pede-se para ele esticar o braço o máximo para frente, ao longo de uma régua fixa. Se alcance > 15cm: baixo risco Timed up and go test (para MMII): Solicitar que o paciente se levante de uma cadeira com braços, caminhe três metros, dê meia-volta e caminhe e sente na cadeira, cronometra-se todo esse percurso. Se um escore maior de 14 segundos = tendência a quedas. MANEJO PREVENÇÃO ● Adaptação ou modificação dos fatores ambientais do domicílio; ● Suspensão ou uso em tempo mínimo de medicações psicotrópicas, ● COntrole de hipotensão postural; ● Tratamento de problemas nos pés e mudança dos calçados, ● Estimulo a prática de exercícios físicos ● Suplementar vitamina D S/N ● Realizar cirurgia de catarata ● Uso de protetores de quadris, instrumentos parecidos com esponjas colocados nas regiões trocanterianas ● Acompanhamento multidisciplinar COMPLICAÇÕES DA QUEDA ● Morte → As quedas constituem ⅔ das mortes acidentais; ocorrem mais em > 65 anos, sendo mais evidentes em homens do que em mulheres. Quase todas as mortes são decorrentes de fratura no colo femoral. ● Lesões, fraturas ● Imobilidade ● modificações de hábitos ● abandono de atividades ● Medo de cair → chamado também de síndrome de ansiedade pós-queda, está associada a maior mortalidade, a perda de confiança para deambular, acarretando em declínio funcional , depressão e isolamento social. SÍNDROME DA IMOBILIDADE Definição: complexo de sinais e sintomas resultantes da supressão de todos os movimentos articulares, que, por conseguinte, prejudica a mudança postural, compromete a independência, leva à incapacidade, à fragilidade e à morte. Critérios: Não podemos dizer que todo paciente confinado no leito tenha SI. Existe uma classificação temporal que denomina de “repouso” a permanência no leito de 7 a 10 dias; “imobilização de 10 a 15 dias” e “decúbito de longa duração – mais de 15 dias”. Para caracterizar a SI, o critério maior seria déficit cognitivo médio a grave e múltiplas contraturas. No critério menor consideramos sinais de sofrimento cutâneo ou úlcera de decúbito, disfagia leve a grave, dupla incontinência e afasia. Define-se um paciente com SI quando ele tem as características do critério maior e pelo menos duas do critério menor. CONSEQUÊNCIAS DA IMOBILIDADE A imobilização prolongada resulta em modificações para pior dos sistemas cardiovascular, osteomuscular, respiratório e do metabolismo, levando à deterioração funcional progressiva dos vários sistemas, muito além da senescência normal,chegando-se mais tarde à síndrome de imobilização. ● PELE: micoses, xerose, lacerações, dermatite amoniacal (por urina), úlcera de decúbito, equimoses ● SISTEMA ESQUELÉTICO: ○ Alteração articular: Com a falta de mobilidade, o líquido sinovial e seus nutrientes deixam de fluir na cartilagem intra-articular por ausência do efeito de bomba, responsável por sua difusão. Surgem, com o passar do tempo, as contraturas, que podem ser definidas como a “limitação da amplitude do movimento articular a ponto de impedir um desempenho normal de sua função”. Com apenas 2 semanas de imobilização, surgem reabsorção óssea e cartilaginosa com cistos ósseos subcondrais (artrofibrose), principalmente pela falta de sobrecarga articular. Contraturas devem ser prevenidas com movimento ativo e passivo da articulação (cinesioterapia) e posicionamento no leito com coxins, almofadas, pranchas ou órteses para alongamento. ○ Osteoporose: a imobilidade produz intensa e rápida perda de massa óssea (em torno de 0,9% da massa óssea total/semana, com pico máximo entre o quarto e o sexto mês, quando se estabiliza), podendo ser medida pelo aumento da calciúria e hidroxiprolina urinária, a qual é um marcador de reabsorção óssea (atividade osteoclástica). A perda de massa óssea relaciona-se com aumento de reabsorção do osso trabecular e diminuição em sua formação, sugerindo-se que 30% da perda óssea sejam resultantes de absorção aumentada e 70% resultantes da formação diminuída. A falta de atividade muscular e pela falta de sustentação de peso corporal do paciente acamado contribuem para esse processo. A hipercalciúria pode ser diminuída se o paciente ficar em ortostatismo pelo menos três horas/dia. Essa posição desencadeia o estresse ósseo, elemento essencial para o turnover desse tecido. ● SISTEMA MUSCULAR: A restrição de pacientes idosos saudáveis ao seu leito leva a atrofia muscular importante já nos primeiros 10 dias. Na imobilidade, esse processo é mais intenso e acelerado, pois alteram-se a estrutura e a função do sistema neuromuscular, a transmissão do potencial de ação, as fibras musculares e os elementos do tecido conjuntivo. Tais mudanças resultam em atrofia muscular, perda de força, encurtamento de fibras e perda de sarcômeros. O aumento de tecido conjuntivo forma uma barreira para os capilares, que deveriam suprir as fibras musculares, prejudicando assim o aporte de nutrientes e de oxigênio. O número de unidades motoras excitáveis (neurônio motor único somado ao conjunto de fibras musculares por ele inervado) no músculo estriado diminui acentuadamente, o que acarreta grande perda de fibras de contração rápida (tipo II) e, após 3 semanas, já predominam fibras lentas (tipo I). Observa-se na imobilidade perda mais acentuada de massa muscular na coxa do que nos membros superiores (MMSS). Com 6 semanas de inatividade, a força muscular dos membros inferiores (MMII) declina 20% e a dos MMSS 10%, havendo estudos mostrando perda diária de 1 a 1,5% da força total, ou seja, quase 10% por semana ● SISTEMA CV: ○ TVP: A estase é o principal elemento desencadeador de trombose venosa profunda (TVP) assim como o estado de hipercoagulabilidade e as lesões das paredes venosas, formando a tríade de Virchow. Na SI, a posição supina, a contratura dos MMII (quadril e joelho) e a ausência do efeito de bomba da musculatura da panturrilha predispõem à estase venosa profunda. Deve-se examinar e observar frequentemente os membros inferiores desses pacientes, onde se procura aumento súbito do diâmetro dos MMII, palidez, hipotermia local, empastamento à palpação da panturrilha, edema duro.Na forma cianótica, a trombose venosa iliofemoral é reconhecida pela cianose dos MMII em sua totalidade, dor à palpação da região inguinal e febre baixa. Por vezes, a trombose das veias profundas torna-se tão extensa que impede o retorno venoso, produzindo a flegmasia cerúlea dolens, caracterizada por dor intensa, coloração violácea da pele, edema maciço, bolhas hemorrágicas e gangrena dos dedos do pé. O diagnóstico é feito com venografia e dúplex venoso de MI. Prevenção e profilaxia devem ser feitas com movimentação frequente dos MMII, além do uso de heparina de baixo peso molecular. ○ Embolia Pulmonar: A fonte de origem dos êmbolos seriam as veias ilíacas, femorais e da panturrilha. A manifestação clínica é variável, podendo ser assintomática e inespecífica ou apresentar-se com dispneia e taquipneia, tosse, além de taquicardia, cianose, broncospasmo, hipotensão, sudorese, febre, choque, escarro hematoptoico. Deve-se ter alto índice de suspeita nesses casos, realizando-se propedêutica com radiografia de tórax, eletrocardiograma (ECG), gasometria, D-dímero e, quando possível, cintigrafia de ventilação e perfusão e angiotomografia. A prevenção é a mesma da TVP e o tratamento é feito com infusão de heparina seguida de anticoagulantes orais. ○ Isquemia arterial aguda dos membros inferiores: a SI ocorre, com frequência, contratura do quadril (a face anterior da coxa encosta no abdome e no tronco) e do joelho (a panturrilha apoia-se na face posterior da coxa), o que causa estrangulamento do lúmen arterial nesses locais e formação de trombo, levando finalmente à isquemia do membro.Médicos devem alertar o cuidador ou a enfermagem para não permitir que o paciente fique no leito com o quadril e joelho fletido em ângulo menor do que 20°, pois isso impede quase que completamente a circulação arterial. Deve-se tentar posicionar essas articulações em ângulo mais aberto. ○ Hipotensão postural: Considera-se hipotensão postural quando existe uma queda da pressão arterial sistólica (PAS) > 20 mmHg e pressão arterial diastólica (PAD) > 10 mmHg em posição ortostática, podendo ocorrer em períodos curtos de imobilidade, como 72 h.Na SI, a posição supina prolongada faz com que os barorreceptores percam sensibilidade, além das modificações naturais do envelhecimento (rigidez das paredes arteriais, baixa resposta dos receptores adrenérgicos). ● SISTEMA URINÁRIO: Incontinência urinária, retenção urinária (bexigoma), ITU → Os fatores predisponentes à ITU na SI são incontinência urinária, uso de fraldas geriátricas, obstrução uretral, pouca ingestão de líquidos, internação hospitalar, diminuição da IgA na parede vesical, hipoestrogenismo, diminuída capacidade renal para acidificar urina e manter a osmolaridade. O uso de sonda vesical de demora tem prevalência de cerca de 8% nos idosos imobilizados, sendo um importante fator para ITU. ● SISTEMA DIGESTÓRIO: ○ Desnutrição: na SI essa condição está presente em 90% deles. A desnutrição proteico-calórica associada à deficiência de oligoelementos, minerais (Ca, Fe, Zn) e vitaminas leva a um estado de caquexia, resultando em alto índice de morbidade e mortalidade. Juntando-se a isso, temos pouca oferta e aceitação de líquidos (o idoso tem menor sensação de sede), causando desidratação crônica. Na imobilidade, há aumento na eliminação urinária e fecal de Ca, P, Zn, N. Para o idoso acamado, uma ingestão diária de 1.800 a 2.000 kcal, 0,8 a 1,0 g de proteína/kg/dia, 30 mℓ de líquido/kg/dia, 1,5 g de Ca++, 70 mEq de K+, 8 g de NaCl e 1 g de P+.Em situações em que a aceitação alimentar ou hidratação é deficiente e deverá perdurar por alguns dias, indica-se sonda nasogástrica. Passadas 2 semanas sem melhora da disfagia, opta-se por sonda nasoentérica, que é menos traumática. Finalmente, se o paciente não consegue deglutir o suficiente por mais de 3 meses e tem perspectiva de sobrevida mais longa, então a gastrostomia seria a melhor indicação. ○ Constipação: é a eliminação de fezes endurecidas, em uma frequência menor do que três vezes na semana e com volume abaixo do habitual.Dietas com resíduos ou fibras, hidratação oral, posicionamento do paciente na cadeira higiênica ou vaso sanitário e privacidade são importantes na sua prevenção. Em caso de fecaloma, a indicação é clister glicerinado a 20% e toque retal para quebrar o fecaloma. ○ Disfagia: A disfagia pode ser trabalhada pelo fonoaudiólogo, mas, devido aos graves déficits neurológicose cognitivos, costuma não haver boa resposta, sendo necessário sonda nasoentérica (SNE) ou gastrostomia. ● SISTEMA RESPIRATÓRIO: A amplitude de movimento do diafragma está diminuída assim como a expansibilidade torácica. Isso ocorre pela fraqueza das musculaturas intercostal e abdominal, além das modificações nas articulações costocondrais. O acúmulo de gases e fezes nas alças intestinais empurra o diafragma para cima e comprime as bases pulmonares. Funções pulmonares como capacidade respiratória funcional, capacidade respiratória máxima, volume minuto e volume corrente e relação V/Q estão comprometidos em até 50%.O acúmulo de secreção pulmonar se acentua já que a função ciliar, a capacidade de tossir e eliminar essa secreção podem estar ausentes → Ambiente de cultura para microrganismos → pneumonia. ● METABOLISMO: ○ Na posição supina, a secreção de hormônio antidiurético (HAD) está diminuída e, assim, elimina-se maior volume urinário, contribuindo para a desidratação e para a perda de peso. ○ O cortisol plasmático pode estar aumentado, ao contrário dos andrógenos que estão diminuídos, sendo ambas as situações facilitadoras do catabolismo. O metabolismo, em geral, é 20% menor que o normal. ○ A resistência à insulina está aumentada, o que provoca intolerância ao carboidrato e piora nos níveis glicêmicos.Esse fato ocorre pela queda da concentração intramuscular do transportador de glicose do tipo GLUT 4. ○ Elementos como Na+, Ca+, Mg+, K+, S+ são menos aproveitados e, por isso, mais eliminados nas fezes e na urina VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO DEFINIÇÃO: Segundo a Organização Mundial da Saúde [OMS] (2002), a violência contra a pessoa idosa consiste em ações ou omissões cometidas uma ou muitas vezes, prejudicando sua integridade física e emocional e impedindo o desempenho de seu papel social. Esse fenômeno se expressa na quebra de expectativa por parte das pessoas que a cercam, sobretudo filhos, cônjuges, parentes, cuidadores e comunidade. Na mesma direção da definição da OMS (OMS, 2002), o Estatuto do Idoso (2003) estabelece que a violência contra esse grupo etário se constitui como “qualquer ação ou omissão praticada em local público ou privado que lhe cause morte, dano ou sofrimento físico ou psicológico” (Estatuto do Idoso, Capítulo IV, art.19, §1). EPIDEMIOLOGIA Na população acima de 60 anos no Brasil, atualmente, as seis primeiras causas gerais de mortalidade são pela ordem: (1) doenças do sistema circulatório (35,6%); (2) neoplasias (16,7%); (3) enfermidades respiratórias (14,0%); (4) doenças endócrinas, metabólicas e nutricionais, particularmente as diabetes (7,9%); (5) enfermidades do sistema digestório (4,7%) e (6) causas externas: violências e acidentes (3,4%). Analisando-se os dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e o Sistema de Administração Hospitalar (SIAH/SUS), impressiona a magnitude dos números: 24.669 pessoas idosas morreram em 2011 por violências e acidentes (68 óbitos por dia) e 169.673 deram entrada em hospital por quedas, traumas de trânsito, envenenamentos, agressões, sufocações, tentativas de suicídio em 2012. Do total, internaram-se 15.342 homens (62,2%) e 9.325 mulheres (37,8%). Desse conjunto, 50,9% o foram por quedas; 19,2% por acidentes de trânsito; 6,5% por agressões e 0,3% por lesões autoprovocadas. NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA O mesmo Estatuto prescreve que “os casos de suspeita ou de confirmação de violência, praticados contra idosos, devem ser objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos ou privados à autoridade sanitária, bem como devem ser obrigatoriamente comunicados por eles a quaisquer dos seguintes órgãos: autoridade policial; ministério público; conselho municipal do idoso, conselho estadual do idoso; conselho nacional do idoso” ( (art.19). NATUREZA DA VIOLÊNCIA Maus-tratos físicos Como o termo indica, ocorrem por meio de empurrões, beliscões, tapas, agressões com cintos, objetos caseiros, armas brancas e armas de fogo, desferidos contra a pessoa idosa frágil. O ambiente familiar é o espaço onde mais ocorrem, vindo a seguir, a rua e as instituições de prestação de serviços como as de saúde, de assistência social e instituições de longa permanência (ILPI). Frequentemente a pessoa idosa que sofre violência física se cala sobre os maus-tratos a ela infligidos e se isola para que estranhos não tomem conhecimento desse tipo de sofrimento que prejudica sua saúde mental e sua qualidade de vida. Muitos têm vergonha por não serem capazes de reagir e outros não querem denunciar os familiares agressores. A incidência comprovada no mundo é que 5 a 10% de pessoas idosas sofram violência física. Abuso psicológico Significa menosprezo, desprezo, preconceito e discriminação da pessoa pelo fato de ela ser idosa. Por exemplo, ele ocorre quando se diz: “você já não serve para nada”; “você já deveria ter morrido mesmo”; “você só dá trabalho”; “você é só um problema para a família”! Muitas vezes, as pessoas até nem dizem, mas o idoso sente a atitude preconceituosa e menosprezível de quem o trata! Estudos mostram que o sofrimento mental provocado por esse tipo de abuso contribui para processos depressivos e autodestrutivos, como ideações, tentativas ou suicídio consumado. As pessoas idosas muito pobres e as que sofrem dependência financeira, física e mental em grau elevado são as mais abusadas. Estudos realizados em municípios brasileiros, como o de Melo et al. (2006), ressaltam que percentual elevado de idosos se queixa mais de violência psicológica (62,5%) do que física (32%) Violência sexual Consiste no ato ou no jogo em relações hétero ou homossexuais que estimulam ou utilizam a vítima para obter excitação sexual e práticas eróticas e pornográficas, por meio de aliciamento, violência física e ameaças. Abandono e negligência Consideram-se abandono: retirar a pessoa idosa da sua casa contra sua vontade; trocar seu lugar na residência da qual é dona por outro pior, dando prioridade aos casais jovens; conduzi-la a uma ILPI contra a sua vontade, deixando a essas entidades o domínio sobre sua vida, sua vontade, sua saúde e seu direito de ir e vir. São formas de negligência: privá-la da assistência de que precisa: deixar que passe fome, se desidrate e seja privada de medicamentos e de outras necessidades básicas, antecipando sua imobilidade, aniquilando sua personalidade ou promovendo seu lento adoecimento e morte, omissões como: inadequação das casas às necessidades do idoso, por exemplo, pisos escorregadios, escadas sem corrimão, banheiros sem proteção para que possam se sentar e se levantar com segurança. Nas famílias e nas ILPI, os idosos dependentes são os mais afetados por negligências no tratamento pessoal, na administração de medicamentos, nos cuidados corporais e na exigência de que realizem ações para as quais não sentem desejo ou aptidão Violência autoinfligida Diz respeito aos maus-tratos que a própria pessoa idosa provoca em si mesma. Esse tipo de abuso se manifesta em autonegligências, ideações, tentativas de suicídio e suicídio consumado. Um dos primeiros sinais de autonegligência é a atitude de se isolar, de não sair de casa e de se recusar a tomar banho, de não se alimentar e de não tomar os medicamentos, manifestando clara ou indiretamente a vontade de morrer. Violência patrimonial e financeira Diferentes formas de violência econômica e financeira, combinadas com discriminações e maus-tratos, são praticadas principalmente pelas próprias famílias. Suas manifestações mais comuns são: tomar o quarto do idoso ou da idosa quando ele fica viúvo, relegando-lhe uma habitação minúscula na casa; apossar-se de seus bens sem o seu consentimento; assenhorear-se de seus cartões de banco e de crédito usufruindo de seus rendimentos; fazer dívidas em seu nome; provocar-lhe uma tutela judicial sem que isso tenha respaldo em seu comprometimento mental para apossar-se antecipadamente de seus bens. TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS Violência estrutural Definida como a que naturaliza a pobreza e os processos de dominação. Nasce dadesigualdade social, da penúria, das diferenças de gênero e das discriminações que atingem, sobretudo, as pessoas idosas desprovidas de bens materiais. A desigualdade não é privilégio da população idosa, mas nessa etapa da vida, ela castiga muito mais do que em outras idades. Violência institucional Uma forma de violência institucional muito frequente se expressa nas relações e na maneira de tratar que as instituições de longa permanência dispensam às pessoas idosas que nela residem. Outro tipo de violência institucional ocorre por omissão do Estado pelo número insignificante de equipamentos públicos de apoio social às famílias que dele precisam para cuidar de seus idosos dependentes ou socialmente necessitados Violência intrafamiliar Embora haja aumento de pessoas de 60 anos ou mais que vivem sozinhas (cerca de sete milhões), é na família que ocorre grande parte das violências contra elas. A maioria dos maus-tratos não é denunciada. Sentimentos de culpa e de vergonha para falar sobre os abusos que sofrem, medo de retaliação ou de represália fazem parte das atitudes dos idosos frente aos agressores. Muitos preferem conviver com os abusos a abrir mão de um relacionamento afetivo de toda a vida. Pesquisas revelam que cerca de 2/3 dos agressores são filhos, parentes e cônjuges. Os motivos: choque de gerações, aglomeração de pessoas nas residências ou falta de condições ou de disponibilidade de tempo e vontade para cuidar dos idosos.
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