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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Hanseníase (doença de Hansen) é uma infecção crônica causada pelo Mycobacterium leprae, uma BAAR de crescimento lento. As principais manifestações da infecção por M. leprae ocorrem na pele e nos nervos periféricos. Classicamente, lesões da hanseníase são hipopigmentadas, hipoestésicas ou anestésicas e não pruriginosas. Pode haver dano aos nervos periféricos pela infecção direta por M. leprae ou pela resposta imune à infecção; o resultado consiste em perda da sensibilidade e da função motora. As manifestações clínicas são restritas à pele, ao sistema nervoso periférico, ao trato respiratório superior, olhos e testículos. O contágio da hanseníase ocorre principalmente de indivíduo para indivíduo. As vias de eliminação dos bacilos são especialmente as áreas aéreas superiores e áreas da pele e/ou mucosas erosadas. Os bacilos também podem ser eliminados na urina, nas fezes, suor, leite materno, nas secreções vaginais e no esperma. ETIOLOGIA - MYCOBACTERIUM LE PRAE Mycobacterium leprae é um BAAR, que dispõe de uma parede celular rica em ácido micólico e uma única membrana. É um parasita intracitoplasmático de macrófagos e apresenta tropismo pelas células de Schwann (produção e manutenção das bainhas de mielina). O microrganismo tem um ciclo evolutivo muito lento (11-16 dias). Sua viabilidade no meio ambiente varia de acordo com a temperatura e a umidade, podendo sobreviver de 36h a 9 dias. Os bacilos podem ser observados isolados ou em agrupamentos, denominados globias (unidos por uma substância – gleia). O envelope celular do M. leprae é formado de dentro para fora: membrana plasmática -> parede celular -> pseudobicamada lipídica -> cápsula. A membrana plasmática é recoberta pela parede celular constituída do complexo formado por peptideoglicanas, arabinogalactanas, ácidos micólicos e lipídios. Pelo método de Ziehl-Neelsen, os bacilos viáveis têm forma de bastonetes que se coram uniformemente em vermelho. TRANSMISSÃO O doente bacilífero é a principal fonte de infecção, apesar de o M. leprae já ter sido encontrado em alguns animais. A infectividade é elevada, embora a patogenicidade seja relativamente baixa. A quantidade de bacilos eliminados pelas vias respiratórias superiores do doente virchowiano é elevada (185.000 bacilos durante 10min de fala). Provavelmente, as vias respiratórias seja a principal porta de entrada. A transmissão ocorre pelo contágio direto, embora haja a possibilidade mais remota de se processar por método indireto. O período de incubação é de 2-5 anos. ❖ A inoculação ocorre pela mucosa nasal e, por exceção, pela pele em presença de soluções de continuidade, já que o bacilo não é capaz de penetrar a pele íntegra. Fatores socioeconômicos como higiene precária, ausência de saneamento básico, más condições de moradia e desnutrição parecem ser fator de risco para a hanseníase. CLASSIFICAÇÕES OMS propôs em 1985 uma classificação da hanseníase, fundamental para fins operacionais do controle da endemia e para a utilização de medicamentos e esquemas terapêuticos, sendo os doentes divididos em: ❖ Paucibacilares (PB) -> doentes com baciloscopia negativa, abrangendo todos os tuberculoide e indeterminados. ❖ Multibacilares (MB) -> com baciloscopia positiva, dos quais fazem parte todos os lepromatoso ou virchowianos e dimorfos. FISIOPATOLOGIA IMUNOLOGIA Existe uma relação inversa entre o número de linfócitos e o número de BAAR presentes nas lesões cutâneas. Lesões tuberculoides apresentam linfócitos em grandes quantidades, granulomas bem formados e poucas bactérias (paucibacilar). As lesões dimorfa e virchowiana apresentam poucos linfócitos, granulomas pouco organizados ou nenhum granuloma e muitas bactérias (multibacilar). APG 31 - Hanseníase Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Entre essas duas formas, existem formas intermediárias que representam um continuum dos achados histopatológicos e bacteriológicos -> borderline tuberculoide, borderline e borderline virchowiana. Além da correlação entre o número de bactérias nas lesões individuais, as formas paucibacilar e multibacilar da hanseníase correlacionam-se com o número total de lesões cutâneas em um paciente: ❖ Hanseníase tuberculoide -> poucas lesões cutâneas (<5). ❖ Hanseníase virchowiana -> múltiplas lesões (> ou igual 5, até centenas). Quanto à resposta imune celular ao patógeno bacteriano, indivíduos que desenvolvem uma resposta imune do tipo Th1 (células T antígeno-específicas, que produzem interferon-gama, linfotoxina ou IL-2), a M. leprae exibem poucas lesões cutâneas e poucas bactérias dentro delas (hanseníase paucibacilar). Já nos indivíduos que desenvolvem uma resposta imune do tipo Th2 (células T que produzem pouco interferon-gama, linfotoxina ou IL- 2, mas produzem muita IL-4, IL-5 e IL-13) apresentam um número maior de lesões cutâneas e muitas bactérias nelas (hanseníase multibacilar). A produção de IL-17 é prevalente em indivíduos paucibacilar, enquanto um predomínio de células T reguladoras e as citocinas que elas produzem (IL-10 e TGF-β) estão associados à hanseníase multibacilar. O principal determinante da resposta imune diferencial a M. leprae não está totalmente esclarecido, porém evidências indicam que polimorfismos genéticos do hospedeiro contribuem para a probabilidade de hanseníase paucibacilar x multibacilar. A ativação do Sistema Complemento provavelmente está envolvida na patogenia da reação reversa e do eritema nodoso da hanseníase. LESÃO NERVOSA Lesão de nervos periféricos, que representa a consequência mais importante da infecção por M. leprae, é observada em todas as formas de hanseníase e constitui a base das complicações da infecção, com contribuição de diversos mecanismos. M. leprae invade as células de Schwann, as células gliais dos nervos periféricos, que formam uma unidade funcional com os axônios dos nervos periféricos e são circuladas por laminina-2, uma proteína da matriz extracelular neuroespecífica. O domínio G da laminina-2 pode ligar-se simultaneamente a M. leprae e ao receptor da laminina da célula de Schwann, o alfadistroglicano. Após a sua ligação e internalização pelas células de Schwann, M. leprae pode causar desmielinização direta nos nervos periféricos na ausência de uma resposta imune, aparentemente por meio de sinalização por intermédio de ErbB2 e Erk1/2. GENÉTICA Casos de hanseníase agrupam-se em famílias, em parte pelo ambiente compartilhado e pela exposição semelhante, mas também provavelmente por determinantes genéticos de susceptibilidade. Alguns loci genéticos possuem variantes alélicos que estão relacionados com a alteração da suscetibilidade à infecção por M. leprae, como PARK2, TNF, CTSB, NRAMP1, TLR1. A parkina (produto de PARK2) é uma ubiquitina E3 ligase, que promove a autofagia e a morte das bactérias intracelulares, incluindo micobactérias. O NRAMP1, NOD2, RIPK2 e TNF são expressos por macrófagos, e diferenças quantitativas ou temporais em sua expressão podem explicar as diferenças nas suscetibilidade inata à infecção. CTSB codifica a catepsina B, que está envolvida na clivagem dos peptídeos para apresentação de antígenos HLA da classe II. BATF3 é um fator de transcrição que regula a produção de citocinas e a diferenciação de células dendríticas. TLR1 e ficolina-2 são moléculas de reconhecimento padrão, que reconhecem lipopeptídeos e polissacarídeos bacterianos, respectivamente, enquanto NOD2 e sua quinase RIPK2 estão envolvidos em respostas ao peptidioglicano bacteriano. Além do dano direto causado por M. leprae aos nervos periféricos, a resposta imune na hanseníase também contribui para a lesão dos nervos. Citocinas pró-inflamatórias, como o fator de necrose tumoral, IL-1B, IL-17 e interferon-gama, são proeminentesnas lesões durante as reações reversas, quando ocorre lesão nervosa irreversível. ❖ Como essas moléculas podem contribuir para a lesão tecidual inflamatória e induzir apoptose das células de Schwann (in vitro), é provável que esses mediadores possam desempenhar um papel ativo na lesão nervosa. Reações reversas também se caracterizam por aumento no número de linfócitos T CD4+ nas lesões, e pelo menos algumas células CD4+ exibem um fenótipo citotóxico e matam as células de Schwann infectadas por M. leprae por meio de secreção de conteúdos dos grânulos citotóxicos, dependentes de antígenos e do complexo principal de histocompatibilidade da classe II. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS HANSENÍASE INDETERMINADA É a forma inicial da doença. Caracteriza-se por manchas hipocrômicas ou eritemato- hipocrômicas com hipoestesia. Geralmente, são poucas lesões, as bordas podem ter boa ou má definição e não há local preferencial; no entanto, em crianças, é comum na face e MMII. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA HANSENÍASE TUBERCULOIDE As lesões desse tipo de hanseníase podem apresentar aspecto papuloso ou tuberoso, na maior parte das vezes agrupando-se em placas, de tamanhos variados, com boa delimitação. Outras vezes, formam lesões circundadas ou anulares, assimétricas, quase sempre únicas ou pouco numerosas. A hipo ou anestesia é precoce e sempre ocorre. Em geral, o comprometimento neurítico é de um ou poucos nervos. Em raros casos, pode haver necrose do nervo (neurite coliquativa). O sinal da raquete é caracterizado por um nervo espessado que forma um trajeto a partir de uma lesão cutânea, em geral mais perceptivo nas reações. HANSENÍASE DIMORFA OU BORDERLINE Nesse tipo, as lesões são infiltradas e a cor varia do eritema à coloração ferrugínea. Lesões anulares com borda interna nítida e externa apagada (em “queijo suíço”) são encontradas com frequência. Distribuição é assimétrica. ❖ Eventualmente, a infiltração de um único lóbulo auricular sela o diagnóstico. Alguns casos apresentam muitas características da apresentação virchowiana e outros exibem características da tuberculoide; ainda, podem existir lesões com características de ambas as apresentações, por isso que é dimorfa. O comprometimento dos nervos é assimétrico e a instabilidade imunológica faz com que, nesses pacientes, os episódios reacionais sejam frequentes. HANSENÍASE VIRCHOWIANA É caracterizada por lesões cutâneas eritematoinfiltradas com limites externos pouco nítidos. A cor das lesões é eritematoacastanhada e eritematoamarelada. Tubérculos e nódulos podem aparecer. As lesões são, em geral, simétricas e localizam-se em praticamente todo o corpo. Na face, as infiltrações produzem a fácies leonina. Os pavilhões auriculares sobretudo os lóbulos, apresentam-se infiltrados; ocorre madrose bilateral (queda dos terços externos dos supercílios). A anestesia é mais tardia, “em luva” ou “em bota”, bilateral; é comum a polineurite simétrica. As mucosas nasal, orofaríngea e ocular apresentam-se infiltradas. Pode haver adenopatia e comprometimento de outros órgãos. A hanseníase virchowiana apresenta algumas variações: Forma Difusa -> também conhecida como hanseníase de Lucio, diferencia-se pela ausência das lesões características da hanseníase. O tegumento apresenta-se como uma única infiltração, conferindo à pele um aspecto luzidio; com perda dos pelos e alterações sensitivas. Há lesões necróticas de aparecimento súbito. Forma Histoide -> caracterizada por lesões que lembram dermatofibromas. É rica em bacilos. Lesões histoides também podem ser encontradas nas ocorrências habituais da forma virchowiana; por vezes, formam placas e lesões molusco-símile. HANSENÍASE DA INFÂNCIA Nessa faixa etária é possível observar todas as apresentações da hanseníase. Existe uma variante particular do tipo tuberculoide, que acomete crianças de 1-4 anos, chamada de hanseníase nodular infantil – é única e ocorre frequentemente na face. Podem ocorrer casos com mais de uma lesão e localização em outras partes. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Uma característica importante é a involução espontânea, deixando cicatriz atrófica. Quando a manifestação clinica é da hanseníase virchowiana, pode haver grave repercussão no desenvolvimento da criança. FORMA NEURAL PURA (NEURÍTICA) Ocorre em qualquer faixa etária e a principal característica é a ausência de lesões dermatológicas. O paciente queixa-se de sintomatologia parestésica, que evolui para hipo ou anestesia da área, progredindo para o comprometimento motor. Há espessamento neural e pode haver amiotrofias. Na maioria dos casos, o comprometimento é assimétrico. Em geral, o acometimento é de mais do que um tronco nervoso. Os nervos ulnar, mediano e fibular são os mais comumente afetados. O nervo apresenta-se doloroso, espontaneamente ou à palpação. ESTADOS REACIONAIS Indivíduos com hanseníase podem exibir sinais e sintomas reacionais agudos. Os quadros reacionais podem ocorrer antes, durante ou após a instituição do tratamento. São fenômenos agudos que interrompem a evolução crônica da doença. Reações do tipo I São mediadas por respostas imunes celulares a antígenos de M. leprae nas lesões cutâneas e nos nervos, ocorrem na hanseníase de borderline tuberculoide, borderline e borderline virchowiana. Frequentemente, reações do tipo I são acompanhadas de agravamento das manifestações nos nervos periféricos e podem resultar em lesão nervosa permanente. As reações reversas estão associadas a um aumento das respostas imunes Th1 que se desenvolvem em indivíduos com grande carga de M. leprae; são mais graves em indivíduos com hanseníase borderline virchowiana. Reações do tipo I podem ter início agudo ou insidioso e caracterizam-se pode inflamação das lesões cutâneas e nervosas preexistentes. As lesões cutâneas, que se tornam eritematosas e edematosas, também podem tornar-se hipersensíveis à palpação, assemelhando-se à celulite; reações do tipo I não causam febre. Nas reações do tipo I, há um aumento da expressão do fator de necrose tumoral em lesões, podendo contribuir para as consequências clínicas e funcionais. Reações do tipo II Também são conhecidas como eritema nodoso da hanseníase (ENH), ocorrem em indivíduos com hanseníase borderline virchowiana e hanseníase virchowiana; podem ser mediadas por imunocomplexos, ao invés de respostas imunes celulares. Ocorrem mais frequentemente após o início de quimioterapia contra a hanseníase ou durante a gestação, geralmente são acompanhadas de febre e artralgias. Podem surgir outros sinais de doença inflamatória sistêmica. As lesões cutâneas do ENH assemelham-se às do eritema nodoso clássico, com ampla distribuição de nódulos dérmicos e subcutâneos eritematosos. ❖ A biópsia de lesões do ENH revela infiltração neutrofílica da derme profunda e do tecido subcutâneo, acompanhada de populações de outros leucócitos, incluindo células T. MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS Podem ocorrer antes do aparecimento das lesões cutâneas por meio de sensações parestésicas nas extremidades, embora sejam mais frequentes as alterações de sensibilidade nas lesões. O acometimento neurológico ocorre apenas nos nervos periféricos; as terminações nervosas sensitivas, motoras e autonômicas da pele estão comprometidas nas áreas das lesões. A reação inflamatória causa o espessamento dos nervos, que pode ser comprovado pela palpação. A neurite hansênica é, muitas vezes, intensamente dolorosa, e é um dos maiores fatores de risco para o aparecimento de incapacidades. O acometimento neurológico ocorre em qualquer das formas clínicas da hanseníase; contudo, não são observados distúrbios motores e tróficos na indeterminada. Eventualmente, a sintomatologia neural pode ser a única manifestação da doença. MariaLuiza Sena – Med XIV FASA Distúrbios sensitivos -> sensações parestésicas nos casos iniciais e depois hipoestesia e anestesia, sempre em disposição em faixa. A sensibilidade que se perde primeiro é a térmica, depois a dolorosa e, por fim, a tátil. Distúrbios motores -> representados por paralisias e amiotrofias. Quando há comprometimento do nervo cubital, há lesão do músculo cubital anterior e da musculatura intrínseca da mão. Alterações observadas são a extensão das falanges proximais com flexão das terminais do 4º e 5º quirodáctilos (“mão em garra”), depressão dos espaços intermetacarpianos e retificação da musculatura tenar. Lesão do nervo mediano compromete o restante da musculatura intrínseca da mão; a atrofia e a depressão da eminência tenar, a lateralização do polegar e a flexão das falanges do 2º e 3º quirodáctilos. Nos MMII, a lesão do tibial posterior ocasiona a garra dos pododáctilos (dedos em martelo) e o consequente aparecimento de ulcerações nas áreas de pressão (mal perfurante). O ciático poplíteo externo lesado compromete a musculatura dorsoflexora do pé (pés tombante -> marcha Escarvante). Pela paralisia de ramos do nervo facial, pode ocorrer o lagoftalmo e, pela lesão do V par, pode ocorrer diminuição da sensibilidade da córnea e da conjuntiva. Distúrbios tróficos -> mal perfurante plantar, panarício analgésico, reabsorção óssea dos dígitos. Distúrbios vasomotores e secretórios -> perda de pelos nas lesões, diminuição/abolição da sudorese (anidrose) e do reflexo de vasodilatação (resposta incompleta à pilocarpina e à histamina). MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS Nos casos de infecção de longa duração ou episódios reacionais repetidos, pode sobrevir amiloidose secundária, afetando rins, fígado, baço e adrenais. A própria infecção pode invadir tecidos e órgãos, levando a diferentes manifestações clínicas. DIAGNÓSTICO Deve-se considerar o diagnóstico de hanseníase em todo paciente com manifestações cutâneas e de nervos periféricos. Embora seja uma doença crônica, as complicações agudas exigem diagnóstico e tratamento imediatos para prevenir o dano irreversível aos nervos. É importante classificar a doença do paciente em tuberculoide, virchowiana ou em uma das formas borderline, visto que a classificação é necessária para selecionar a terapia ideal. EXAME CLÍNICO Precisa incluir uma avaliação e documentação do número, da localização e das características das lesões cutâneas. Além das descrições das lesões, a classificação da hanseníase depende da distribuição simétrica das lesões e da presença de lesões hipoestésicas ou anestésicas. O exame deve incluir a procura de: ❖ Aumento e hipersensibilidade à palpação dos nervos periféricos. ❖ Presença de déficits sensitivos e ulcerações da cutânea. ❖ Natureza e distribuição de déficits motores, atrofia e contraturas musculares. ! Mulheres em idade reprodutiva devem ser avaliadas quanto à possibilidade de gestação, já que alguns medicamentos utilizados no tratamento da hanseníase são contraindicados. ESFREGAÇOES E BIÓPSIAS DE PELE Classificação da hanseníase multibacilar/paucibacilar é realizada pela combinação dos achados do exame clínico e contagens de bactérias em esfregaços com coloração álcool-acidoresistente de linfa cutânea de lesões e da pele de áreas frias do corpo. Na coloração por HE e EO, a hanseníase tuberculoide caracteriza-se por granulomas com células gigantes, agregados de macrófagos epitelioides que não são vacuolados nem espumosos e linfócitos na periferia. Coloração álcool-acidoresistente revela bacilos raros ou indetectáveis. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA As lesões da hanseníase virchowiana mostram granulomas pouco organizados, sem células gigantes nem linfócitos; os macrófagos são espumosos e repletos de lipídeos. Coloração álcool-acidoresistente revela muitos bacilos, que habitualmente aparecem em grandes aglomerados. Nas formas da hanseníase borderline exibem granulomas menos organizados, com menor número de células gigantes e linfócitos, porém com mais macrófagos espumosos e BAAR. DIAGNÓSTICO DE ESTADOS REACIONAIS Tipo I -> baseia-se nos achados clínicos em um paciente com hanseníase borderline tuberculoide, borderline ou borderline virchowiana e inflamação aguda de lesões cutâneas preexistentes, com/sem agravamento das lesões nervosas. ❖ Reações do tipo I não são acompanhadas de achados sistêmicos, febre ou artrite. Tipo II -> também se baseia nos achados clínicos de novos nódulos subcutâneos ou dérmicos eritematosos em um paciente com hanseníase borderline virchowiana ou hanseníase virchowiana. TRATAMENTO AGENTES ATIVOS Os fármacos utilizados no tratamento da hanseníase incluem: dapsona, clofazimina e rifampicina (único que é bactericida). As sulfonas (dapsona) são a base da terapia. Com o uso das sulfonas, as lesões cutâneas regridem, e observa-se redução no número de bacilos viáveis na pele. Indivíduos com deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase tratados com dapsona podem desenvolver hemólise grave; aqueles sem essa deficiência também apresentam uma redução da sobrevida dos eritrócitos e diminuição da Hb. A rifampicina induz as enzimas microssômicas, tornando necessário o uso de doses aumentadas de medicações como glicocorticoides e esquemas de contraceptivos orais. Com frequência, a clofazimina é esteticamente inaceitável para pacientes de pele clara com hanseníase, visto que provoca uma pigmentação negro- avermelhada da pele. Outros agentes antimicrobianos ativos contra M. leprae incluem a etionaminda/protionamida; os aminoglicosídeos estreptomicina, canamicina e amicacina, a minociclina e vários fluoroquinolonas. ESCOLHA DOS ESQUEMAS O tratamento antimicrobiano para hanseníase deve ser individualizado, dependendo da forma clínica/patológica da doença encontrada. A hanseníase tuberculoide, que está associada a uma baixa carga bacteriana e a uma resposta imune celular protetora, é a forma mais fácil de tratar, podendo ser curada com um ciclo. Por outro lado, a hanseníase lepromatosa pode exibir uma carga bacilar mais elevada do que qualquer outra doença bacteriana humana, e a ausência de um repertório de células T saudáveis exige quimioterapia prolongada ou até mesmo permanente. TERAPIA PARA REAÇÕES Tipo I -> são mais bem tratadas com glicocorticoides. À medida que a inflamação diminui, a dose de glicocorticoides pode ser gradualmente reduzida, mas a terapia com esteroides deve prosseguir por pelo menos 3-6 meses para que não haja recorrência. Tipo II -> o tratamento deve ser individualizado. Se o for leve, pode ser tratado apenas com antipiréticos. Mas, nos casos de numerosas lesões cutâneas, febre, mal-estar e acometimento de outros tecidos, ciclos de pequena duração de glicocorticoides são efetivos. ESTIGMA E ASPEC TOS SOCIAIS O estigma em decorrência da hanseníase sempre esteve presente na sociedade em diferentes momentos históricos. Podem estar envolvidos nesse processo, o caráter crônico da doença, a deformidade física causada por ela e o fato de até pouco tempo ter sido considerada incurável. Também está relacionado a uma condição de inferioridade e estranhamento em relação àquele que tem a doença. A discriminação, se refere ao tratamento injusto ou negativo praticado a uma pessoa ou grupo, por eles pertencerem a grupos específicos, de características específicas (etnia, raça/cor, idade, gênero) ou por apresentarem uma condição de saúde, no caso uma doença como a hanseníase. É uma resposta comportamental causada por essas atitudes negativas. Situações em que ocorrem o estigma e a discriminação podem ocorrer na família, na escola, no trabalho e até mesmo nos serviços de saúde. Aspectos relacionados ao estigma e à discriminação promovem a exclusão social e, ao mesmo tempo, podemproduzir consequências negativas que resultam em interações sociais desconfortáveis, limitando o convívio social, sofrimento psíquico e, consequentemente, pode interferir no diagnóstico e adesão ao tratamento da hanseníase, perpetuando um ciclo de exclusão social e econômica. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O Brasil não possui leis discriminatórias contra as pessoas acometidas pela hanseníase e seus familiares, em vigor. Embora destaque-se por ser o primeiro país no mundo que desenvolveu legislação que proíbe linguagem discriminatória contra as pessoas acometidas pela hanseníase, representando importante avanço para a garantia dos direitos das pessoas atingidas pela hanseníase, não existe nacionalmente penalidades impostas para quem as infringirem.
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