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FACULDADE MINAS GERAIS VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM PEÇA PROCESSUAL Cristiano Dos Santos Martins Fernando Danilo Soares Costa Jailson Luiz Magestre Fonseca BELO HORIZONTE 2022.2 AO JUÍZO DE DIREITO DA XXª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE XX/ XX Autos n° XXX Autor: Ministério Público Estadual Acusado: Cláudio Cláudio, brasileiro, estado civil, profissão, portador da Carteira de Identidade, CPF, com endereço na Rua, n° – Bairro– Cidade/UF – CEP, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por seus advogados infra-assinados (procuração anexa) apresentar; RESPOSTA À ACUSAÇÃO com fulcro no art. 396 e 396 A do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito abaixo aduzidas. I – DOS FATOS: O Réu foi denunciado pela suposta prática dos delitos de estelionato –art. 171 do Código Penal – em concurso material com o delito de falsificação de documento particular – art. 298 do Código Penal. Segundo consta da Denúncia, este teria falsificado documentos da vítima, Sr. Mario, e, fazendo uso de tal documento, teria transferido para sua conta no Banco ABC a quantia de R$20.000,00 (vinte mil reais) que seriam provenientes da conta da vítima. O Réu exerceu o direito de permanecer em silêncio em seu depoimento prestado na fase inquisitorial, e, na mesma fase, o Delegado que presidia o inquérito expediu ofício – cópia anexa - ao Banco ABC para que este enviasse extrato detalhado das contas do Réu e da vítima. O ofício, que como se pode notar não foi expedido por autoridade judicial, foi cumprido pelo Banco, que enviou a documentação requerida pelo delegado, subsidiando, assim, o oferecimento da denúncia. Apesar de se pautar exclusivamente nas alegações da vítima e na documentação fornecida pelo Banco, a denúncia foi recebida na data de 12 de abril de 2015, e o réu foi citado para oferecer resposta à acusação. II – DO DIREITO: II.I- PRELIMINAR A - Da ilicitude da prova basilar da denúncia. Nulidade A Constituição pátria, em seu artigo 5°, no inciso XII, a Carta Magna prevê a inviolabilidade do sigilo de dados, ainda protegendo a intimidade e vida privada da pessoa, que somente poderá sofrer exceções em hipóteses excepcionais, ou seja: ART. 5°, inciso XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; (Vide Lei nº 9.296, de 1996) Cumpre salientar ainda, que a possibilidade de se acessar tais dados é excepcionada com vistas a garantir que o cidadão não fique à mercê das vontades do Estado, que, em épocas de Ditadura, utilizou-se de artifícios que violaram direitos fundamentais dos cidadãos para puni-los de modo inquisitorial, em flagrante afronta ao princípio do devido processo legal - hoje previsto no inciso LVI, do art 5° da Constituição da República. Deve ser garantido que o indivíduo só será privado de sua liberdade ou terá seus direitos restringidos mediante um processo legal, exercido pelo Poder Judiciário, por meio de um juiz natural, assegurados o contraditório e a ampla defesa. Nota-se, portanto, que a denúncia se baseou em prova obtida por meio ilícito, uma vez que o delegado não é autoridade judicial e não pode, por óbvio, determinar a quebra de sigilo bancário de qualquer cidadão sem a autorização judicial. Luiz Guilherme Marinoni define prova ilícita como: “[a] prova é ilícita quando viola uma norma, seja de direito material, seja de direito processual”. João Batista Lopes assevera que a expressão “provas ilícitas” pode ser entendida em sentido lato, quando forem tais provas contrárias à Constituição, à legislação e aos bons costumes; e em sentido estrito, quando tais provas violem disposições legais, inclusive a Constituição. O mestre ainda aponta a existência de uma terceira corrente, que vincula as provas ilícitas à violação de direitos constitucionais essenciais Ainda a respeito da aceitação de provas ilícitas no processo, versa o art. 157 do Código de Processo Penal que: São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais O Ministério Público em sua denúncia utilizou-se de prova que não respeitou o devido processo legal para ser produzida, motivo pelo qual deve ser desentranhada do processo. Uma vez desentranhada do processo a referida prova, a denúncia restará esvaziada de materialidade e de indícios suficientes de autoria, já que apenas o relato da suposta vítima sustenta a peça acusatória, que, por sua vez, carece de justa causa. A respeito da justa causa, o Código de Processo Penal em art. 395, inciso III. In Verbis: “A denúncia ou queixa será rejeitada quando: faltar justa causa para o exercício da ação penal”, não restando, assim, motivo para aceitação da denúncia. II. II- DO MÉRITO B - Da impossibilidade/negativa de autoria: Ademais, cumpre esclarecer que o réu estava, à época dos fatos pelos quais é acusado, estava em excursão com sua família para a Austrália, tendo deixado o Brasil na data de XX/XX/XXXX, e voltado apenas em XX/XX/XXXX – conforme cópia de passagens aéreas anexa, e produção cinematográfica realizada com a finalidade de registrar seus momentos familiares Estando o réu em outro país à época do crime a ele indevidamente atribuído, impossível seria que ele utilizasse documentos falsos para fazer a transferência alegada, haja vista inexistência de Agência do Banco ABC naquele país, o que reforça a tese da inexistência de quaisquer indícios de autoria em desfavor de Cláudio que deve ter sua denúncia rejeitada, nos termos do art. 395, inciso III do Código de Processo Penal. O caso em tela, é constantemente debatido pelos juizados, vejamos; PENAL. ESTELIONATO. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. IN DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃO. Se os indícios da autoria não são suficientes para amparar a condenação, havendo dúvidas a respeito do autor do fato, impositiva a absolvição com base no princípio in dubio pro reo. Apelação provida para absolver o réu. (TJ-DF 20140910005299 DF 0000514-66.2014.8.07.0009, Relator: MARIO MACHADO, Data de Julgamento: 30/05/2019, 1ª TURMA CRIMINAL, Data de Publicação: Publicado no DJE : 03/07/2019 . Pág.: 122-137) Vejamos ainda; EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - ESTELIONATO - INSUFICIÊNCIA DE PROVAS DA PRÓPRIA EXISTÊNCIA DO FATO - IN DUBIO PRO REO - ABSOLVIÇÃO NECESSÁRIA. - É necessária prova escorreita e segura da existência e da autoria do fato delituoso para que a presunção de inocência que milita em favor do acusado seja elidida; isso porque uma condenação baseada apenas em conjecturas e ilações feriria de morte a dignidade da pessoa, princípio matriz de nossa Constituição. (TJ-MG - APR: 10086160033774001 Brasília de Minas, Relator: Cássio Salomé, Data de Julgamento: 09/03/2022, Câmaras Criminais / 7ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 11/03/2022) Como demonstrado pelos julgados acima descritos, ocorrendo a impossibilidade de provar o alegado, ou insuficiência de provas para tanto, deve ser aplicado o princípio do in dubio pro reo, e levando a absolvição. Caso ainda assim a denúncia seja recebida, deve o réu ser absolvido pelo fato acima alegado, conforme versa o inciso IV do artigo 386 do Código de Processo Penal: “O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;” III – DO PEDIDO Frente ao exposto, requer o peticionário: a) Seja reconsiderado o recebimento da Denúncia, para rejeitar liminarmente a inicial com base no inciso III do art. 395, do Código de Processo Penal. b) Seja a prova desentranhada do processo, na forma do art. 157 do Código de Processo Penal- PROVA NULA. c) No caso do recebimento da denúncia seja o réu absolvido sumariamente, haja vista a impossibilidade de ter praticado o crime por estar ausente do Brasil à época dos fatos a ele atribuídos, conforme documentaçãoanexa, na forma no inciso IV do artigo 386 do Código de Processo Penal. d) Subsidiariamente, seja requisitado pelo MM. Juiz a lista de hóspedes na data de XX/XX/XXXX a XX/XX/XXXX do Hotel XXXXXXXXXXXX, localizado em XXXXXXXXXXX. e) Seja requisitado pelo MM. Juiz a lista de passageiros dos voos XXXXXXXXXX - e XXXXXXX. f) A INTIMAÇÃO e oitiva das testemunhas abaixo, sob pena das cominações legais: Rol de testemunhas: XXXXXXXXXXXXXXXX – qualificado à fl. Xx YYYYYYYYYYYYYYYY – qualificado à fl. Xx VVVVVVVVVVVVVVV –qualificado à fl. Xx Nestes termos, Pede e espera deferimento. Belo Horizonte, XX de xxxxxxx de XXXX. Advogado OAB/MG XXXX Advogado OAB/MG
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