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Sífilis- Doença Infecciosa Características gerais: A sífilis é uma doença sistêmica infectocontagiosa, de evolução crônica, caracterizada por erupções cutâneas transitórias. Transmitida via sexual, transfusão sanguínea e por via congênita. É causada pela bactéria Treponema pallidum. O T. pallidum tem forma espiral e é protegido por um envelopecom três camadas ricas em moléculas de ácido N-acetil murâmico e N-acetil glucosamina. Além disso, apresenta flagelos, move-se por rotação do corpo em volta desses filamentos. As espiroquetas penetram nas mucosas, principalmente após contato sexual, pelas pequenas erosões após o coito, produzem diversas lipoproteínas que ativam o sistema inume e causam a destruição local dos tecidos. Invadem o sistema linfático e se disseminam por via hematogênica. A resposta da defesa local resulta em erosão e ulceração no ponto de inoculação, enquanto a disseminação sistêmica resulta na produção de complexos imunes circulantes que podem depositar-se em qualquer órgão. Imunologia: A presença do T. pallidum no organismo sinaliza o recrutamento de células do sistema imunológico inato e adaptativo da circulação sanguínea ao local da infecção. A bactéria induz a expressão das adesinas (ICAM-1, VCAM-1 e E-selectinas) em células endoteliais. Essa ativação endotelial e migração de células inflamatórias são aumentadas pela secreção de citocinas. Assim, durante a infecção aguda pelo treponema os leucócitos polimorfonucleares são as primeiras células observadas no infiltrado. Além deles, que representam 90%, macrófagos, plasmocitos e neutrófilos constituem o infiltrado restante. As células dendríticas e os macrófagos, em resposta a presença do patógeno, estimulam a produção de citocinas inflamatórias, TNF, IL-1, IL-6, IL-8, IL-12, que induzem uma resposta inflamatória severa. Nas lesões primárias e secundárias da sífilis é observada a produção de interferon gama e interleucina-2 (IL-2), responsáveis pela ativação de macrófagos e proliferação de células T helper (CD4+) /células T citotóxicas (CD8+), respectivamente. A partir da fagocitose pelas APCs, a bactéria sofre lise e os antígenos internos são expostos, sendo processados em moléculas de MHC II. Em seguida, células dendríticas migram até os linfonodos, onde ocorre apresentação aos linfócitos T. A bactéria induz a inflamação denominada granulomatosa, sendo um tipo de inflamação crônica. Esta inflamação ocorre quando o agente infeccioso é persistente, o que é o caso do Treponema. Macrófagos ativados por células T e os próprios linfócitos T formam uma barreira ao redor do sítio de infecção, isolando o agente e impedindo a disseminação. Nessa barreira podem ser encontrados também plasmócitos e fibroblastos, que atuam na deposição de colágeno, o que confere aspecto duro à lesão da sífilis (cancro duro). Fase primária: Caracterizada por cancro duro vermelho, único ou múltiplo, indolor, podendo ser no pênis, colo uterino, parede vaginal, ânus, faringe, língua, lábios, e mamilos. Os cancros começam com uma pápula avermelhada, que sofre ulceração indolor para formar uma úlcera rasa com base limpa. O indivíduo está altamente infeccioso nesse estágio, pela presença de grande número de organismos nas lesões. Pode ocorrer remissão espontânea da doença nesse estágio ou evoluir para a fase secundária. A remissão caracteriza-se por cicatrização da úlcera espontaneamente, dando falsa impressão de cura. O cancro surge no local da inoculação em média três semanas após a infecção. Após uma ou duas semanas aparece uma reação ganglionar regional múltipla, não supurativa, de nódulos duros e indolores. Fase secundaria: Ocorre após o cancro primário. É caracterizado por sinais clínicos da doença disseminada: lesões cutâneas dispersas por todo o corpo, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés e superfícies mucosas (face é poupada, exceto ao redor da boca), começando no tronco (exantemas marrom-avermelhados, escamoso ou pustuloso, generalizado, observado após alguns dias do começo da fase secundária), cefaleia, dor de garganta, mialgia, febre, anorexia e linfadenopatia. Lesões denominadas condiloma plano pode ocorrer em dobras úmidas da pele (anogenital). Erosões superficiais cinza-prateadas podem formar-se nas membranas mucosas orais, faríngeas e genitais (placa mucosa). Os mesmos achados histológicos da fase primária são encontrados nessa fase. Síndromes nefróticas podem ser encontradas nessa fase, resultado da deposição de imunocomplexos. Reações granulomatosas também podem ser encontradas nessa fase. A sífilis secundária, após o período de latência, a doença entrará novamente em atividade. O acometimento afetará a pele e os órgãos internos correspondendo à distribuição do T. pallidum por todo o corpo. Na pele, as lesões ocorrem por surtos de forma simétrica. Podem apresentar-se sob a forma de máculas de cor eritematosa. O acometimento das regiões palmares e plantares é bem característico. No acometimento da face, as pápulas tendem a agrupar-se em volta do nariz e da boca, simulando dermatite seborreica. A fase secundária evolui no primeiro e segundo anos da doença com novos surtos que regridem espontaneamente entremeados por períodos de latência cada vez mais duradouros. Por fim, os surtos desaparecem, e um grande período de latência se estabelece. Os estudos que acompanharam a evolução natural da sífilis mostraram que um terço dos pacientes obtém a cura clínica e sorológica, outro terço evoluirá sem sintomatologia, mas mantendo as provas sorológicas não treponêmicas positivas. E, num último grupo, a doença voltaria a se manifestar (sífilis terciária). Fase terciária: Na sífilis terciária, por sua vez, os pacientes desenvolvem lesões localizadas envolvendo-o e mucosas, sistema cardiovascular e nervoso. Em geral a característica das lesões terciárias é a formação de granulomas destrutivos (gomas). Podem estar acometidos ainda ossos, músculos e fígado. As lesões são solitárias ou em pequeno número, assimétricas, endurecidas com pouca inflamação, formação de cicatrizes e hiperpigmentação periférica. Na língua, o acometimento é insidioso e indolor, com espessamento e endurecimento do órgão. Lesões gomosas podem invadir e perfurar o palato e destruir a base óssea do septo nasal. Em relação à sífilis cardiovascular, os sintomas geralmente se desenvolvem entre 10 e 30 anos após a infecção inicial. O acometimento cardiovascular mais comum é a aortite, principalmente aorta ascendente. As principais complicações da aortite são o aneurisma, a insuficiência da válvula aórtica e a estenose do óstio da coronária. O diagnóstico pode ser suspeitado pela radiografia de tórax evidenciando calcificações na parede da aorta ascendente e dilatação da aorta. No caso da neuro- sífilis a invasão das meninges pelo treponema , mas podem desaparecer . Quando a infecção persiste, é estabelecido o quadro de neuro sífilis Por último, a sífilis congênita é o resultado da disseminação hematogênica T. pallidum da gestante infectada não tratada ou inadequadamente tratada para o concepto por via transplacentária- transmissão vertical. A infecção do embrião pode ocorrer em qualquer fase gestacional ou estágio da doença materna. Os principais fatores que determinam a probabilidade de transmissão são o estágio da sífilis na mãe e a duração da exposição do feto no útero. Portanto, a transmissão será maior nas fases iniciais da doença, quando há mais espiroquetas na circulação. A taxa de transmissão de 70-100% nas fases primária e secundária, 40% na fase latente recente e 10% na latente tardia. A contaminação do feto pode ocasionar abortamento, óbito fetal e morte neonatal ou o nascimento de crianças com sífilis. Aproximadamente 50% das criançasinfectadas estão assintomáticas ao nascimento. Há possibilidade de transmissão direta do T.pallidum pelo contato do recém-nascido com lesões genitais maternas no canal de parto. Quando a sífilis se manifesta antes dos dois primeiros anos de vida, é chamada sífilis congênita precoce e, após os dois anos, de sífilis congênita tardia. As lesões cutaneomucosas da sífilis congênita precoce podem estar presentes desde o nascimento, e as mais comuns são exantema maculoso na face e extremidades, lesões bolhosas,condiloma , fissuras periorais e anais. A mucosa nasal apresenta rinite mucossanguinolenta. Nos outros órgãos observa- se hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, osteocondrite.
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