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Universidade Federal do Amapá - UNIFAP Campus Binacional 
 
 
 
RONILDA PANTOJA DA SILVA 
 
 
 
Delegacia da Mulher e Lei Maria da Penha: realidades na fronteira franco-brasileira 
Procedimentos adotados pelo Judiciário de Oiapoque na aplicação da Lei Maria da Penha nos anos de 2019 à 2022. E os impactos negativos nos casos de violência doméstica pela falta de uma Delegacia Especializada. 
 
 
 
Trabalho apresentado como requisito avaliativo para obtenção de nota na Disciplina TCC I, sob a orientação do Prof. Alexandre Marcondys Ribeiro Portilho. 
 
 
 
 
 
 
Oiapoque – AP 
2022 
 
 
Procedimentos adotados pelo Judiciário de Oiapoque na aplicação da Lei Maria da Penha nos anos de 2019 à 2022. E os impactos negativos nos casos de violência doméstica pela falta de uma Delegacia Especializada. 
1. TEMA 
Delegacia da Mulher e Lei Maria da Penha: realidades na fronteira franco-brasileira.
2. PROBLEMA 
A falta de uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher influencia diretamente nas atribuições da Policia Civil, ocasionando uma baixa qualidade no atendimento a mulheres vítimas de Violência Doméstica. 
Muitas das disposições da Lei Maria da Penha aumentam as ações da Justiça, com as medidas punitivas ao agressor, e enfraquecem as ações da Polícia com restrições e impedimentos ao trabalho da mesma em relação as demandas das vítimas que contam com a intermediação da autoridade policial para reduzir as práticas de violência contra si. 
3. OBJETIVO GERAL 
Conhecer e compreender as tratativas da Lei Maria da Penha em âmbito municipal, bem como conhecer o trabalho executado pelo judiciário de Oiapoque nos casos de Violência Doméstica e a atuação da instituição policial do município, pois quando não é a primeira, é uma das primeiras alternativas oficiais da mulher que busca por fim em uma situação de violência. 
Além de fazer uma análise sobre as consequências de se não ter uma Delegacia Especializada no atendimento à mulheres vítimas de violência. Principalmente em uma área de fronteira onde o nível de Violência Doméstica cresce a cada dia. 
4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
4.1 Identificar o funcionamento da Unidade Policial e poder Judiciário, no enfrentamento à casos de violência doméstica por meio de observação In loco no município de Oiapoque. 
4.2 Investigar as Políticas Públicas existentes no Município de Oiapoque em relação ao combate a violência doméstica e a aplicabilidade da Lei Maria da Penha, e quais de fato estão sendo aplicadas e surtindo efeitos positivos. 
4.3 Determinar o percentual nos crimes de violência doméstica no município de Oiapoque no período dos anos de 2019 à 2022, se houve um aumento ou diminuição nesses casos.
4.4 Citar os benefícios que o Município teria ao se criar uma Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher no combate e enfrentamento a violência doméstica e conhecer o lado negativo que a falta de uma DEAM faz no crescente aumento desses casos. 
5. JUSTIFICATIVA 
O interesse pelo tema estudado surgiu a partir de vivências particulares e de entender que tais informações podem proporcionar mudanças revolucionárias no combate a violência contra a mulher. Cresceu com o estudo de autores conceituados na área e com a leitura de artigos científicos e consolidou – se com o desejo de conhecer a profundo os procedimentos adotados pela polícia e pelo judiciário nos casos de violência doméstica. 
Portanto, considera – se a pesquisa, pois ela possibilita a identificação de facilidades ou problemas encontrados na implantação de uma DEAM, fatos estes que podem provocar mudanças de pensamentos a respeito da forma como o sistema atua na prevenção contra a violência à mulher. 
No Brasil, a tipificação dos crimes e a definição das penas e regimes de prisão são de competência do legislativo federal, apenas cabendo aos estados administrar sua aplicação no âmbito das políticas de segurança e justiça. Com relação ao combate à violência contra mulher, houveram mudanças significativas nos últimos anos. A primeira se refere à reforma do Código Penal Brasileiro, que ocorreu em 2001 com a aprovação da Lei 10.224, que definiu o tipo penal de assédio sexual. A outra mudança ocorreu em 2004 com a Lei 10.886, que criou a figura penal da Violência Doméstica. A partir desta Lei, a violência doméstica foi reconhecida como crime e incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro. E em 2005 o novo Código Penal entrou em vigor. 
Mas, foi apenas em 2006 que a principal mudança aconteceu na legislação nacional. O Congresso Nacional aprovou a Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha. Com a aprovação desta referida lei, houve um reconhecimento de que a violência doméstica contra as mulheres era um problema social brasileiro. Assim, a nova lei, trouxe várias inovações para o tratamento judicial da violência doméstica contra as mulheres, pois esta lei retirou a competência dos Juizados Especiais Criminais para julgar os crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher, estabelecendo a criação de Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para tratar destes crimes. 
A Lei n° 11.340/2006, Lei Maria da Penha, atribuiu ao Poder Público a responsabilidade de instituir políticas de combate à violência praticada cotidianamente e corriqueira contra as mulheres brasileiras, garantindo os direitos dessas mulheres no âmbito das relações domésticas, familiares e afetivas. Ao Poder Judiciário coube a especialização no atendimento às mulheres vítimas de violência a partir da criação de Juizados ou Varas de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher em todas as Unidades da Federação. 
A Lei 11.340, estabelece que a violência doméstica e familiar pode se consolidar em qualquer ação ou omissão que gere situação de violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral contra a mulher. Assim, embora seja possível que a violência doméstica e familiar contra a mulher se configure por meio de comportamentos não contemplados pela lei penal brasileira, em geral, a situação de violência doméstica e familiar chega ao conhecimento do Estado a partir do cometimento de um crime contra a mulher, assim definido pela legislação penal. Por essa razão, mesmo refletindo procedimento investigatório prévio à fase processual propriamente dita, o número de inquéritos no assunto de violência doméstica e familiar compõe o conjunto de indicadores dos casos de violação da Lei Maria da Penha que passam pelo Poder Judiciário. 
Sobre as DEAMS, o contexto político de criação das primeiras delegacias da mulher no Brasil vai de meados da década de 70 a meados da década de 80. Neste período, alguns fatores contribuíram para o surgimento destas delegacias, como à expansão dos movimentos feministas e de mulheres, e com o processo ocorrido na primeira metade dos anos 80, de transição política do governo militar para o governo Civil e de redemocratização do Estado. 
Neste contexto, as delegacias da mulher surgem em respostas às demandas femininas, embora a primeira delegacia não tenha sido uma ideia propriamente dita dos movimentos feministas e de mulheres, mas sim do próprio governo que a criou em 1985. Apesar das divergências políticas e das desconfianças em relação à política, na época não houveram reações contrarias à criação da primeira delegacia da mulher. Embora os governos estaduais nem sempre entenderem às demandas dos movimentos relativos à criação de novas delegacias da mulher, o Estado fez deste serviço policial a principal política pública de atendimento a mulheres em situação de violência. 
A primeira delegacia da mulher atendeu, de imediato, um grande número de mulheres em situação de violência, mostrando que este problema existia, era grave e carecia de um atendimento policial especializado. Mas só a criação de uma DEAM não torna o atendimento à mulher vítima de violência mais humano, e com respeito. É necessário uma capacitação dos policiais, bem como de todos os funcionários dessas DEAMS, paraque saibam acolher de forma respeitosa essas vítimas. 
A delegacia da mulher, assim como as outras delegacias, são subordinadas à Delegacia Geral de Polícia Civil de cada estado. Seu funcionamento e organização são feitos através de leis e decretos estaduais que definem sua infraestrutura, recursos humanos e atribuições. Enquanto órgão policial, todas as delegacias tem como objetivo registrar ocorrências policiais, realizar o trabalho de investigação, com substanciado em inquéritos policiais ou em termos circunstanciados, que encaminhados ao Ministério Público e ao Judiciário. 
Desde a criação das Delegacias da Mulher em 1985, houveram debates sobre seu modelo d funcionamento, o que envolvia sempre três aspectos principais. Primeiro, discute – se que tipos de serviços devem oferecer, se devem restringir – se apenas à prestação de serviços policiais ou se devem incluir, na própria delegacia assistência psicológica, social e jurídica. Segundo, que papel devem desempenhar os serviços policiais, com posições que variam desde um papel educativo, apenas de investigação de medição, de aconselhamento ou de conciliação. Terceiro, que tipos de crime devem investigar, violência no âmbito doméstico ou qualquer violência contra a mulher, homicídio, espancamento, crimes sexuais, etc. 
Mesmo depois de muitos anos desde a criação da primeira Delegacia da Mulher, tais questionamentos se fazem presentes nos dias atuais. Principalmente em um munícipio de fronteira, onde o índice de violência contra a mulher cresce a cada dia. Sendo assim, as delegacias da mulher constituem ainda a principal política pública de enfrentamento à violência doméstica contra mulheres. 
Trata – se de um trabalho oportuno, visto que, o munícipio vem crescendo com os anos, e consequentemente o índice de criminalidade também. Sendo assim, a criação de uma DEAM, desafogaria o sistema policial municipal. 
6. METODOLOGIA 
Este trabalho acadêmico tem como método de pesquisa utilizado o descritivo e exploratório em relação aos objetivos, visto que, segundo Gil (1996), proporciona uma proximidade com as questões. A classificação da pesquisa quanto aos seus objetivos, se divide em três grupos que estão relacionados ao tipo de estudo deste trabalho, que são: pesquisa de campo, análise documental e revisão bibliográfica. 
Quanto a pesquisa de campo, pretende-se buscar informações sobre os números (índices) de casos de violência doméstica no município de Oiapoque através de visitas no CIOSP do município, bem como identificar como são realizadas as primeiras abordagens nos casos de violência contra a mulher. Assim como buscar informações no Ministério Público de Oiapoque acerca das denúncias e decisões quanto à estes casos e como esses casos se enquadram na Lei Maria da Penha e sua efetiva ação na luta contra à violência doméstica. 
A análise documental se dará através de documentos coletados durante a pesquisa de campo e na verificação e comparação de dados estatísticos sobre a violência doméstica no município de Oiapoque. Assim como documentos digitais que reforcem a importância da criação de uma delegacia especializada de atendimento a mulher em uma cidade de fronteira, onde o índice desse tipo de crime possa estar crescendo com a facilidade de fuga do agressor para o país vizinho. Por fim, quanto a revisão bibliográfica, pretende-se fazer uso de trabalhos de conclusão de curso disponíveis na biblioteca da UNIFAP- Campus Binacional, com temas semelhantes a Violência Doméstica e Aplicabilidade da Lei Maria da penha, para fins de embasamento teórico e comparação deste projeto desde que não fuja da proposta inicial do mesmo. 
Os procedimentos de coleta dos dados supracitados, se dará através de abordagem quantitativa e qualitativa, com o intuito de relacionar os dados para a interpretação. Segundo Richardson (1985), a abordagem qualitativa de um problema justifica-se pelo fato de ser uma forma adequada para se entender a natureza de um fenômeno social que é a questão da violência doméstica. Assim, as reflexões do pesquisador sobre suas ações e observações em campo, seus sentimentos e impressões tornam-se dados em si mesmos, o que vai constituir parte da interpretação. 
7. REFERENCIAL TEÓRICO 
A Constituição Federal em seu primeiro capitulo, artigo 5° versa sobre direitos e deveres individuais coletivos. 
Todos são iguais perante a Lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito á vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade. 
No inciso I do artigo 5°, temos garantido a igualdade entre homens e mulheres, com a seguinte redação 
I – Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta constituição. 
Ainda em seu artigo 5°, inciso III a Constituição diz que: 
III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. 
Contrariando tudo que diz a Constituição Federal, vemos em nosso País crescer a cada dia mais e mais a violência contra a mulher. Na tentativa de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher foi decretada em 7 de agosto de 2006, pelo então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva a Lei 11.340/06 – Lei Maria da Penha, nos termos do § 8° do art. 226 da Constituição que diz: 
§ 8° O estado assegurará a assistência à família da pessoa de cada um dos que integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 
Nos termos do § 8° do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a eliminação de todas as formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. 
Do Atendimento pela Autoridade Policial 
Art. 10-A da referida Lei. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores, preferencialmente do sexo feminino, previamente capacitados. Da Assistência Judiciária 
Art. 27. Em todos os atos processuais, civis e criminais, a mulher em situação de violência doméstica e familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta lei. 
Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento especifico e humanizado. 
A Lei Maria da Penha, foi criada para que fosse erradicado todos os tipos de violência contra a mulher, com a criação de juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher; e estabelecendo medidas de assistência e proteção as mulheres em situação de violência doméstica e familiar que configura para efeitos da Lei, como: 
Qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. No entanto esta Lei não surtiu o efeito esperado e o que temos presenciado ao longo dos anos é o aumento da violência contra a mulher, levando muitas delas a morte dentro do âmbito familiar. 
Em um passo importante nessa evolução jurisprudencial, o STJ editou, em 2015, a Súmula 536, na qual estabeleceu que a suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Maria da Penha, sendo proibida a concessão de benefícios da Lei 9.099/1995 – Lei dos Juizados Especiais. 
No HC 196.253, a defesa de um homem condenado por agredir sua companheira solicitou a suspensão do processo por considerar que o artigo 41 da Lei Maria da Penha não vedaria a concessão do benefício quando se tratasse de contravenção penal. 
Ao negar o pedido, o relator, ministro Og Fernandes, afirmou que, "alinhando-se à orientação jurisprudencial concebida no seio do Supremo Tribunal Federal, aTerceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça adotou o entendimento de serem inaplicáveis aos crimes e contravenções penais pautados pela Lei Maria da Penha os institutos despenalizadores previstos na Lei 9.099/1995, entre eles, a suspensão condicional do processo". 
No mesmo ano, o tribunal editou a Súmula 542, fixando que "a ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada" – ou seja, a propositura da ação fica a cargo do Ministério Público e não depende de representação da vítima. Além disso, em 2017, a Terceira Seção revisou entendimento adotado no rito dos recursos repetitivos (Tema 177) para ajustá-lo à jurisprudência do STF, estabelecendo que também nos crimes de lesão corporal leve cometidos contra a mulher, no âmbito doméstico e familiar, a ação é pública incondicionada (Pet 11.805). 
De acordo com o ministro Rogerio Schietti Cruz, autor da proposta de revisão de tese, a alteração considerou os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia. 
Outro passo significativo foi dado pelo tribunal, também em 2017, com a aprovação da Súmula 588, definindo que a prática de crime ou contravenção contra a mulher no ambiente doméstico, com violência ou grave ameaça, impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. 
Segundo o ministro Ribeiro Dantas, relator do HC 590.301, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, é vedada a aplicação de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa, conforme o artigo 17 da Lei Maria da Penha. 
"A Lei Maria da Penha veda a aplicação de prestação pecuniária e a substituição da pena corporal por multa isoladamente. Por consequência, ainda que o crime pelo qual o réu tenha sido condenado tenha previsão alternativa de pena de multa, como na hipótese, não é cabível a aplicação exclusiva de tal reprimenda em caso de violência ou grave ameaça contra a mulher", afirmou. 
Um dos questionamentos enfrentados pelo STJ foi sobre a necessidade de coabitação para a caracterização da violência tratada nos dispositivos da Lei Maria da Penha. 
O tribunal decidiu então que a relação existente entre o sujeito ativo e o passivo deve ser analisada em face do caso concreto para verificar a aplicação da lei, sendo desnecessário que se configure a coabitação entre eles (HC 184.990). No caso analisado pela Sexta Turma, foi reconhecida a aplicação da Maria da Penha por existir relação íntima de afeto familiar entre os agressores e a vítima. 
"A hipótese, portanto, se amolda àquele objeto de proteção da Lei 11.340/2006, já que caracterizada a relação íntima de afeto, em que os agressores, todos irmãos da vítima, conviveram com a ofendida, inexistindo a exigência de coabitação no tempo do crime para a configuração da violência doméstica contra a mulher", afirmou o ministro Og Fernandes. O entendimento está consolidado na Súmula 600. 
Compete à Justiça Federal apreciar o pedido de medida protetiva de urgência decorrente de ameaça feita a partir do estrangeiro, por meio de redes sociais, contra mulher que vive no Brasil. 
Assim decidiu o STJ no julgamento do CC 150.712, em 2018, quando a Terceira Seção analisou um suposto caso de crime de ameaça cometido por morador dos Estados Unidos contra a ex-namorada. 
Com base em entendimento anterior do STF, o colegiado concluiu que, embora as convenções sobre combate à violência de gênero firmadas pelo Brasil não tratem do crime de ameaça, a Lei Maria da Penha concretizou o dever assumido pelo país nesse campo. O relator, ministro Joel Ilan Paciornik, destacou que esses acordos internacionais asseguram os direitos das mulheres e estabelecem recomendações para a erradicação de qualquer forma de discriminação e violência contra elas. 
A violência combatida pela Maria da Penha pode ser cometida por qualquer pessoa, inclusive por outra mulher, que tenha uma relação familiar ou afetiva com a vítima. 
A Quinta Turma, no julgamento do AgRg no AREsp 1.626.825, por constatar a situação de vulnerabilidade, aplicou a lei a um caso de violência praticada por neto contra a avó. 
Para o relator, ministro Felix Fischer, a Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar cometida no âmbito da unidade doméstica, da família ou de qualquer relação íntima de afeto. 
Fischer citou precedentes da corte (entre eles, o HC 310.154) que consideraram, com base na doutrina, que estão no âmbito de abrangência do delito de violência doméstica as esposas, companheiras ou amantes, bem como a mãe, filhas, netas, sogra, avó ou qualquer outra mulher que mantenha vínculo familiar ou afetivo com o agressor. 
Embora a representação da vítima não seja mais necessária para a abertura da ação penal no caso de lesão corporal em ambiente doméstico, o STJ ainda julga casos relacionados à situação jurídica anterior. Em 2019, a Quinta Turma não conheceu de habeas corpus apresentado pela defesa de um homem denunciado por lesão corporal e estupro – crime para o qual a legislação penal também deixou de exigir a representação, em 2018. 
Segundo o relator, Ribeiro Dantas, a Lei Maria da Penha estabeleceu em seu artigo 16° um procedimento próprio para a retratação da vítima nas ações penais públicas condicionadas, exigindo que a renúncia à representação fosse manifestada em audiência perante o juiz, e antes do recebimento da denúncia. Por outro lado, a jurisprudência da corte considera que, depois de oferecida a denúncia, a representação do ofendido será irretratável, conforme o disposto nos artigos 102 do Código Penal e 25 do Código de Processo Penal. 
No caso julgado, após o oferecimento da denúncia, a vítima compareceu ao cartório da vara e expressou o desejo de se retratar. Com base nisso, o juiz rejeitou a denúncia. O tribunal estadual mandou que a ação prosseguisse, e houve a impetração do habeas corpus no STJ. 
O ministro Ribeiro Dantas explicou que, como a retratação ocorreu somente em cartório, e não em audiência, foi correta a decisão da corte local. Quanto ao estupro, o relator também considerou que a retratação não deveria ter efeito, pois foi manifestada após o oferecimento da denúncia. 
"A Lei 11.340/2006 buscou proteger não só a vítima que coabita com o agressor, mas também aquela que, no passado, já tenha convivido no mesmo domicílio, contanto que haja nexo entre a agressão e a relação íntima de afeto que já existiu entre os dois", anotou o ministro Napoleão Nunes Maia Filho no julgamento do CC 102.832, em 2009. 
Ao analisar o HC 542.828, o ministro Reynaldo Soares da Fonseca refutou a tese defensiva de que a ausência de contemporaneidade entre o delito de injúria e o casamento do ofensor com a vítima – rompido 20 anos antes – impediria a incidência da Maria da Penha. 
Para a lei – acrescentou –, é irrelevante o tempo de dissolução do vínculo conjugal, se a conduta tida como criminosa está vinculada à relação de afeto que houve entre as partes. 
Em outro processo (HC 477.723), a defesa afirmou que a Maria da Penha não poderia ser aplicada, pois o acusado e a vítima estavam separados de fato havia 13 anos. No entanto, segundo a ministra Laurita Vaz, sendo o agressor e a vítima ex-cônjuges, "pode-se concluir, em tese, que há entre eles relação íntima de afeto para fins de aplicação das normas contidas na Lei Maria da Penha". 
Para uma fundamentação teórica mais abrangente, faz-se necessário trazer a leitura das obras da autora Alice Bianchini, que utiliza como recurso estatísticas e dados de pesquisas atualizados atuais, sempre que possível, oferecendo uma melhor compreensão da realidade, gravidade e complexidade do fenômeno da violência doméstica. 
Assim como se faz necessário o conhecimento das obras da autora Adriana Ramos de 
Melo, para o enriquecimento teórico deste projeto. Ademais, para o enriquecimento teórico e doutrinário deste projeto, faz- se necessário a leitura e a referência das obras de Guilherme de SousaNucci, que é livre-docente em Direito Penal, Doutor e Mestre em Direito Processual Penal pela PUC/SP. Professor associado da PUC/SP, atuando nos cursos de graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado) e Desembargador na Seção Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo. 
 
 
8. BIBLIOGRAFIA 
https://www.cnj.jus.br O Poder Judiciário na Aplicação da Maria da Penha http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/10946 https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br 
E-book Saberes Monográficos - Lei Maria da Penha – Lei n 11.340/2006: Aspectos Assistenciais, Protetivos e Criminais da Violência de Gênero. 
https://www12.senado.leg.br https://pepsic.bvsalud.org

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