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1 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria Objetivos: 1. Entender Incontinência Urinária (Tipos, causas, etiologia, diagnóstico e quadro clínico). 2. Compreender as consequências da Incontinência Urinária nos Idosos. 3. Conhecer os tipos de Iatrogenia medicamentosa, psicológica e cirúrgica nos idosos e as condutas a serem seguidas. ENTENDER INCONTINÊNCIA URINÁRIA (TIPOS, CAUSAS, ETIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E QUADRO CLÍNICO) Introdução: A manutenção da continência depende da integridade anatômica do trato urinário inferior e do seu controle neurológico; depende também da cognição, da mobilidade, da destreza manual, de fatores ambientais e da ausência de comorbidades que afetem os mecanismos da continência. Para a compreensão dos fatores envolvidos nesse processo, é necessário que se conheça a anatomia do trato urinário inferior e a fisiologia da micção. A bexiga funciona como reservatório para armazenamento e eliminação periódica da urina. Para que essas funções ocorram adequadamente, é necessário que a musculatura lisa vesical (detrusor) relaxe e haja aumento coordenado do tônus esfincteriano uretral durante a fase de enchimento da bexiga e o oposto durante a micção. A coordenação das atividades da bexiga e do esfíncter uretral envolve complexa interação entre os sistemas nervosos central e periférico e os fatores regulatórios locais, e é mediada por vários neurotransmissores. As propriedades miogênicas e viscoelásticas da bexiga e da uretra também são muito importantes para manutenção da função adequada de reservatório da bexiga. A) Anatomia e Histologia do Sistema Urinário: A bexiga é um órgão muscular oco, revestido internamente por epitélio transicional denominado urotélio. Externamente ao urotélio encontram-se a lâmina própria e as camadas muscular lisa e adventícia. Lâmina própria é uma camada bem desenvolvida , ricamente vascularizada, formada basicamente de tecido conectivo com abundância de fibras elásticas. A camada muscular própria da bexiga (músculo detrusor) é constituída por fibras musculares lisas que formam feixes sem orientação definida, ramificam-se e reúnem-se livremente, mudando de orientação e de profundidade na parede da bexiga e entrelaçando-se com outros feixes. 2 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria Esse arranjo sob a forma de malha complexa, sem formar camadas distintas, permite que o detrusor possa contrair-se harmonicamente, comprimindo a urina em direção à uretra proximal durante a micção. O detrusor pode ser dividido em duas porções com base nas diferenças regionais de sua inervação simpática: 1) A porção localizada acima dos orifícios ureterais, denominada corpo vesical, que compreende sua maior parte. 2) A base que incorpora o trígono e o colo vesical. Feixes musculares do detrusor são formados por células musculares lisas que se organizam em fascículos separados uns dos outros, de forma incompleta, por septos de interstício compostos por fibras elásticas e colágenas e raros fibroblastos. Por sua vez, feixes detrusores são revestidos por fibras elásticas e colágenas, vasos sanguíneos e terminações nervosas. Acredita-se que a presença de fibras elásticas e colágenas revestindo os feixes musculares talvez seja responsável pela manutenção da arquitetura da parede vesical e por suas propriedades viscoelásticas, permitindo seu enchimento sem elevação da pressão vesical. Em nível celular, cada célula muscular lisa é separada das outras por fibras colágenas. As camadas da bexiga também se dividem assim: • Camada Mucosa: é formada mais interna formada por tecido que pode esticar: (bexiga vazia = enrugada / bexiga cheia = lisa). 3 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria • Camada Muscular (Músculo Detrusor): Liso e Involuntário, é formado por três camadas – interna, externa e intermediária. • Camada serosa: camada externa parcialmente envolvida de peritônio. B) Fisiologia da micção normal: Como a maior parte das funções do trato urinário inferior relaciona- se com contração ou relaxamento de sua musculatura lisa, é importante rever o mecanismo pelo qual isso ocorre. Várias etapas do metabolismo celular relacionam-se com geração de força na musculatura lisa do TUI . Potencialmente, cada uma delas pode ser alterada em diferentes condições patológicas e contribuir para causar anormalidades contráteis da bexiga. Da mesma forma , todas são alvos potenciais de tratamento farmacológico. Durante a fase de armazenamento sinais eferentes estimula a contração dos esfíncteres, e o detrusor se mantem, relaxado para que possamos receber a urina e a armazená-la. Conforme a bexiga se expande pela quantidade de urina armazenada, os receptores sensoriais serão estimulados e esta informação sensorial será direcionada ao SNC e interpretada como vontade de urinar. A partir disso, inicia-se a fase de esvaziamento. Os sinais eferentes que estavam sendo enviados aos esfíncteres são inibidos, e essa inibição gera o relaxamento dos esfíncteres. Os sinais eferentes passam a ser enviados ao detrusor, solicitando sua contração. A contração do detrusor, associada ao relaxamento do esfíncter, faz com que a urina seja expulsa da bexiga. Após a fase de esvaziamento, os esfíncteres passam a ser estimulados por sinais eferentes solicitando a contração e a contração do detrusor é sanada SAIBA MAIS! A musculatura vesico- uretral tem papel fundamental na função de armazenamento e esvazia mento vesical. As contrações voluntárias dos músculos abdominais auxiliam a expulsão da urina, pelo aumento da pressão intra-abdominal. A micção pode ser iniciada mesmo com a bexiga quase vazia. A primeira sensação de vontade de urinar, nos adultos, é sentida quando há cerca de 150 ml de urina na bexiga. A sensação máxima ocorre aos 400 ml. 4 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria ARMAZENAMENTO ESVAZIAMENTO - Inicia-se a pós cada micção, através da complacência vesical, garantindo a acomodação vesical. - Controlado pelos sistemas simpático e somático. - O sistema simpático relaxa o detrusor (receptores adrenérgicos) e mantém o tônus do esfíncter liso da uretra (receptores adrenérgicos). - O sistema somático mantém o tônus do esfíncter estriado da uretra. - Durante a fase de enchimento a pressão vesical (PV) é mais baixa e a pressão uretral (PU) é mais alta - É um sistema automático - Armazenamento de volumes crescentes provoca uma diminuição da pressão intra- abdominal - Se há um aumento da pressão intra-abdominal e deficiência na musculatura (ocorre incontinência) - Fechamento uretral = repouso , aumento da pressão abdominal. - Ausências de contrações involuntárias do musculo detrusor. O que é necessário para um bom enchimento: 1) Volume adequado. 2) Boa Elasticidade. 3) Boa Complacência. 4) A pressão deve variar pouco a pouco com o aumento de volume de urina. (ou seja – se a pressão aumenta demais a complacência está comprometida, a bexiga fica dura, não fica receptiva). 5) Estabilidade – não pode haver contrações involuntárias do detrusor. 6) Tônus Esfincteriano normal – com resposta ideal aos esforços físicos – resistente ao aumento da pressão intra- abdominal 7) Sensibilidade - Relaxamento do assoalho pélvico e esfíncter externo da uretra, ativação do SNC sobre o SNA parassimpático, que provoca a contração do detrusor e relaxamento da uretra. - Esta fase écontrolada pelo parassimpático. - Ocorre uma inversão do gradiente de pressão, o detrusor se contraí e eleva a PV e o relaxamento dos esfíncteres liso e estriado faz desaparecer a PU é a micção Comando voluntario: → A função do controle voluntário é dependente de um bom controle VÉSICO- ESFINCTERIANO. → Fatores que influenciam no controle vésico-esfincteriano. O que é necessário para um bom esvaziamento: 1) Contração coordenada do detrusor com o relaxamento do esfíncter externo ao mesmo tempo. ➢ Enchimento - Coordenação entre: Musculatura lisa da bexiga ( Músculo Detrusor) relaxa. Aumento do tônus do esfíncter uretral (liso e estriado) O aumento constante do tônus do esfíncter estriado no enchimento vesical é chamado de reflexo de guarda é mediado via pudendo. 5 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria O que precisa para o bom esvaziamento: Contração coordenada do detrusor Relaxamento do esfíncter externo Gera micção com fluxo, baixa pressão e RPM desprezível (não pode > 50ml) Como funciona o esvaziamento: Bexiga enche Aumenta pressão intravesical Comprime receptores na parede da bexiga Deflagra o desejo miccional CPM Centro Pontino da Micção (Ponte) Coordena a micção C) Como ocorre o Controle Voluntário normal da micção: ( Níveis de coordenação do SN) 1) Do Córtex a Ponte: - Inibitória na maior parte do tempo. IMPORTANTE ENTENDER O LOCAL E TIPO DA LESÃO PARA ENTENDER A ALTERAÇÃO MICCIONAL. 6 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria - Relaxamento vesical na fase de enchimento + Controle Voluntário da micção. 2) Da Ponte ao Centro Sacral da micção: - Faz sinergismo vésico-esfincteriano 3) Da medula a bexiga: - Faz o ato reflexo da micção Ou seja, o controle voluntário ocorre assim: Reflexos Somáticos e Autonômicos Enviam Impulsos Inibitórios e Facilitadores Comandam os Centros Corticais Superiores ➢ CPM: Centro Pontino da Micção: • Responsável pelo sinergismo vesico- esfincteriano. • É a coordenação entre contração e relaxamento esfincteriano. • Se conecta com o centro medula da micção (S2-S4). • Controlado por centros superiores (Tratos descendentes cefaloespinais). • Fibras do trato espinoecefálico levam informações aos centros superiores. • Inervação sensitiva (aferente). • Do trato urinário inferior para medula, daí sobe informações pelo trato espinocefálico. ➢ Detrusor: • Inervação do plexo pélvico. • Ramificações parassimpáticas de S2 a S4 (estimulação) • Fibras simpáticas de T10 a L2 (inibitórias) pelo plexo hipogástrico. ➢ Esfíncter Externo: • Inervação Somática • Originada no núcleo ONUF, que se localiza no corno anterior de um ou mais segmentos da medula espinal sacral (S2 – S4) – via nervos pudendos. O QUE É INCONTINÊNCIA URINÁRIA: Incontinência urinária é a perda involuntária da urina pela uretra. O distúrbio é mais frequente no sexo feminino e pode manifestar-se tanto na quinta ou sexta década de vida quanto em mulheres mais jovens. Atribui-se essa prevalência ao fato de a mulher apresentar, além da uretra, duas falhas naturais no assoalho pélvico: o hiato vaginal e o hiato retal. Isso faz com que as estruturas musculares que dão sustentação aos órgãos pélvicos e produzem a contração da uretra para evitar a perda urinária e o músculo que forma um 7 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria pequeno anel em volta da uretra, sejam mais frágeis nas mulheres. (https://bvsms.saude.gov.br/incontinencia-urinaria/ ). É um sério problema de saúde que afeta milhões de pessoas e pode ocorrer em qualquer idade, tendendo a manifestar-se mais frequentemente com o aumentar da idade, principalmente, nas mulheres, na perimenopausa. (https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/abcad19.pdf ) A Sociedade Internacional de Incontinência define incontinência urinária como a condição na qual a perda involuntária de urina é um problema social ou higiênico e é objetivamente demonstrada. A incontinência urinária é muitas vezes erroneamente interpretada como parte natural do envelhecimento. Alterações que comprometem o convívio social como vergonha, depressão e isolamento, frequentemente fazem parte do quadro clínico, causando grande transtorno aos pacientes e familiares. (https://www.scielo.br/j/acb/a/JqVGTGKvG7Xp6JPfMqnvJ6q/?lang= pt ) A prevalência da incontinência urinária no idoso varia de 8 a 34% segundo o critério ou método de avaliação. A principais causas são: alterações teciduais da senilidade que comprometem o trato urinário inferior e o assoalho pélvico, do sistema nervoso central e periférico, alterações hormonais como a menopausa, poliúria noturna, alterações psicológicas, hiperplasia prostática benigna, doenças concomitantes e efeitos colaterais de medicamentos. A incontinência pode ser transitória ou permanente. Além da anamnese cuidadosa para caracterização das perdas urinárias, a busca de causas associadas ou concomitantes e o diário miccional, recorre-se com frequência a exames especializados como a urodinâmica. O diagnóstico preciso é importante para o manejo adequado que pode requerer apenas medidas conservadoras baseadas em orientações e mudanças de hábitos, como o uso de medicamentos, ou então métodos invasivos que incluem procedimentos cirúrgicos específicos. TIPOS DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA: A incontinência urinária é classificada em noctúria, transitória (reversível) e estabelecida (persistente). Esta última é subdividida em incontinência de urgência, de esforço, de transbordamento (hiperfluxo) e mista. a) Noctúria: É a necessidade de levantar-se da cama mais de uma vez, com o intuito de urinar, após ter ido deitar-se com a expectativa de só se levantar pela manhã (definição mais aceita), produção de https://bvsms.saude.gov.br/incontinencia-urinaria/ https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/abcad19.pdf https://www.scielo.br/j/acb/a/JqVGTGKvG7Xp6JPfMqnvJ6q/?lang=pt https://www.scielo.br/j/acb/a/JqVGTGKvG7Xp6JPfMqnvJ6q/?lang=pt 8 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria urina, no período noturno, maior que 0,9 ml/min10 e produção de urina noturna superior a 33% da produção diurna. - Prevalência de noctúria: na população adulta é de cerca de 10% quando considerados os indivíduos acima de 20 anos, aumentando para 16% a partir da quarta década, 26 a 66% a partir da quinta década e chegando a 55% nos homens com mais de 70 anos de idade. Apesar da alta prevalência em indivíduos idosos, 63% dos homens e 59 % das mulheres não procuram auxílio médico - Causas: As principais são a diminuição da capacidade vesical e/ou o aumento na produção de urina no período noturno. A noctúria pode também estar associada a outros sintomas do trato urinário inferior, a distúrbios do sono ou relacionar-se ao tempo em que o paciente permanece na cama Causas da diminuição da capacidade vesical usual são: diminuição da complacência vesical, hiperatividade detrusora e envelhecimento. As principais causas de poliúria são: diabetes insipidus ou mellitus - produzem mais urina nos períodos diurno e noturno -, insuficiência cardíaca congestiva, hipoalbuminemia, insuficiência venosa e doenças renais. O aumento da produção de vasopressina, que é observado em algumas pessoas com mais de 65 anos de idade, pode também aumentar a produção de urina noturna. - Tratamento: Existem dois tipos: • Conservador: i. Listar as medicações que o paciente faz uso, na tentativa de detectar alguma que contribua para a noctúria, daí substituí-la ou alterar a posologia. ii. Nos pacientes com edema periférico e insuficiência cardíaca congestiva, os líquidos acumulam-senos membros inferiores e são reabsorvidos à noite. Devemos promover a redistribuirão do volume durante o dia através do uso de meias elásticas e da elevação dos membros inferiores no final da manhã e no final da tarde. Dessa forma, o líquido será reabsorvido de maneira uniforme 9 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria durante o dia, diminuindo a produção de urina no período noturno. iii. A ingestão hídrica deverá ser monitorizada, não permitindo ingestão hídrica 3 horas antes do paciente se deitar. • Medicamentoso: i. O emprego da desmopressina, de diuréticos, de alfa-bloqueadores e a terapia de reposição hormonal nas mulheres são as opções farmacológicas mais utilizadas. - Diagnóstico: A noctúria, por si, não sugere nenhum diagnóstico específico. A história clínica e o diário miccional do paciente são fundamentais para direcionar a investigação e o tratamento. b) Incontinência transitória ou reversível: A incontinência urinária transitória é caracterizada pela perda involuntária de urina na ausência de disfunção do trato urinário inferior. É provocada por eventos clínicos agudos, potencialmente reversíveis. Esse tipo de incontinência tem sido referido como “incontinência relacionada a situações potencialmente reversíveis”. Ou seja, a incontinência urinária transitória é caracterizada pela perda involuntária de urina, precipitada por insulto psicológico, medicamentoso ou orgânico, que cessa ou melhora após o controle do fator desencadeante. Muitas causas de incontinência urinária em idosos têm origem em locais fora do trato urinário inferior. O risco de incontinência urinária transitória aumenta se ocorrerem, somadas às mudanças fisiológicas do trato urinário inferior, alterações patológicas como infeções, ingestão hídrica excessiva, constipação intestinal crônica, depressão e dificuldade para locomoção. - Prevalência: Apesar da escassez de dados, acredita-se que a incontinência urinária 10 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria transitória seja responsável por 35% dos casos de incontinência urinária em asilos de idosos, podendo corresponder a 50% dos casos de incontinência em pacientes idosos hospitalizados nos Estados Unidos. - Diagnóstico: A investigação da incontinência urinária transitória baseia-se na avaliação crítica da anamnese e do diário miccional. Pacientes em retenção urinária que apresentam perda de urina por transbordamento (incontinência paradoxal) podem ter como fator desencadeante o emprego de medicações anticolinérgicas na presença de obstrução infra vesical ou hipocontractilidade do músculo detrusor. Já o aparecimento ou o agravamento da urge-incontinência podem decorrer do uso de diuréticos de alça ou da ingestão excessiva de líquidos por pacientes já portadores de hiperatividade vesical. Causas: Constipação intestinal – fecaloma, Medicamentos, Infecção, Vaginite atrófica, Distúrbios psicológicos, Dificuldade de locomoção, Ingestão de líquidos em excesso. -Tratamento: As estratégias para o tratamento da incontinência urinária transitória visam reconhecer e tratar as causas reversíveis, reduzir as doses e/ou suspender medicamentos envolvidos, recuperar a mobilidade e providenciar modificações ambientais que facilitem o acesso do indivíduo à toalete. c) Incontinência Estabelecida: A incontinência estabelecida refere-se à variedade não causada por comorbidades clínicas ou efeito colateral de medicamentos, que persiste ao longo do tempo (persiste por pelo menos 3 meses). Relaciona-se aos seguintes mecanismos fisiopatológicos: 1. Hiperatividade ou hipoatividade do detrusor 2. Alteração da pressão uretral 3. Obstrução da saída vesical e distúrbios funcionais. A incontinência estabelecida é classificada, de acordo com a sintomatologia clínica, em: 1. Urgência 2. Esforço 3. Transbordamento (hiperfluxo) 4. Funcional 5. Mista. O termo “bexiga hiperativa” refere-se aos sintomas clínicos de polaciúria, urgência miccional, noctúria e urge-incontinência, baseada exclusivamente nas queixas clínicas dos pacientes, não dependendo dos achados urodinâmicos. 11 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria 1. Incontinência Urinária de urgência: A incontinência de urgência ou urge- incontinência é a mais comum em pacientes idosos de ambos os sexos. Caracteriza-se clinicamente por intenso desejo de urinar (urgência), seguido da perda involuntária de volume de urina, que pode ser de moderado a grande. Necessita da confirmação urodinâmica da presença de contrações vesicais involuntárias. Contrações vesicais involuntárias são os principais fatores determinantes de urge- incontinência. Fisiopatologia: Contrações não inibidas da bexiga, referidas como hiperatividade do detrusor, condição que, geralmente, ocorre na presença de função contrátil normal. Idosos fragilizados, entretanto, podem apresentar incontinência na presença de detrusor hiperativo, mas hipocontrátil, caracterizando-se a denominada “hiperatividade do detrusor com redução da contratilidade”. Essa condição se manifesta, clinicamente, com urgência, frequência, jato urinário fraco e grande volume residual, sintomas que se confundem com aqueles provocados por obstrução mecânica do fluxo urinário. O diagnóstico diferencial é obtido com base na urodinâmica. ➢ Tipos de mecanismos e a fisiopatologia: i. Bexiga instável: relaciona-se à demonstração objetiva de contrações involuntárias vesicais, que podem ser espontâneas ou ocorrer em resposta a estímulos provocativos nas fases de enchimento e armazenamento, durante a cistometria. As contrações devem ser acompanhadas de vontade de urinar. ii. Instabilidade detrusora: é reservado para os pacientes que apresentam contrações involuntárias documentadas na avaliação urodinâmica e que não apresentam doença neurológica associada. iii. Hiperreflexia: Na presença de fator neurológico desencadeante, devemos usar o termo hiperreflexia do músculo detrusor. Muitas vezes, nos pacientes idosos, não é possível a distinção entre hiperreflexia e instabilidade detrusora. Dependendo da intensidade das contrações involuntárias e da integridade dos mecanismos de continência a perda involuntária de urina pode ocorrer, sendo chamada de urge- incontinência. A urge-incontinência é a causa mais frequente de incontinência urinária permanente nos pacientes idosos. A hiperatividade detrusora pode ocorrer quando a força de contração da musculatura vesical está preservada ou quando está diminuída. Apesar 12 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria de as duas situações poderem levar à incontinência, os mecanismos envolvidos são diferentes. A hiperatividade detrusora associada à hipocontractilidade vesical pode levar à urge- incontinência e ao aparecimento de outros sintomas relacionados à obstrução urinária, à incontinência urinária de esforço ou à incontinência por transbordamento. Ao nos depararmos com pacientes idosos que apresentam resíduo pós-miccional elevado, é obrigatório fazermos a avaliação da força de contração detrusora para que possamos diferenciar obstrução infravesical de hipocontractilidade do músculo detrusor. Nessa situação especial, o diagnóstico de certeza é obtido através da avaliação urodinâmica. A hiperatividade detrusora também está presente nos pacientes portadores de obstrução infravesical, 32% dos homens com obstrução do trato urinário baixo decorrente de hiperplasia prostática benigna, estenose de uretra ou neoplasia prostática apresentam hiperatividade detrusora. Mulheres podem também apresentar quadros de obstrução associados à hiperatividade. Nesses casos, os principais fatores desencadeastes são os prolapsos genitais ou causas iatrogênicascirúrgicas. Fatores irritativos locais como tumores vesicais, litíase urinária, divertículos e infeções do trato urinário podem também levar à hiperatividade detrusora, com consequente urge-incontinência. Nesses casos, acredita-se que os impulsos nervosos direcionados ao sistema nervoso central, gerados pela hipersensibilidade dos receptores sensitivos do trato urinário, causam desequilíbrio entre os estímulos inibitórios, desencadeando a contração vesical. - Tratamentos: Existem dois tipos: • Conservador: Consiste na mudança dos hábitos de ingestão hídrica, na realização de fisioterapia do assoalho pélvico, na eletroestimulação e no "biofeedback". • Medicamentoso: É baseado na utilização de drogas anticolinérgicas. 13 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria 2. Incontinência por bexiga hiperativa: A bexiga hiperativa é uma síndrome caracterizada por urgência urinária com ou sem incontinência, em geral acompanhada de frequência e noctúria. - Causas: Pode ocorrer em consequência de doenças neurológicas tais como esclerose múltipla, doença de Parkinson, AVC e demência, mas em muitos casos o seu mecanismo fisiopatológico permanece desconhecido 3. Incontinência Urinária de esforço: A incontinência urinária induzida pelo estresse é uma das causas mais comuns de perda involuntária de urina nos pacientes idosos do sexo feminino, pacientes idosos do sexo masculino raramente apresentam incontinência urinária de esforço. - Causas: É causada, na mulher, por deslocamento da uretra de sua posição anatômica durante esforços (hipermotilidade uretral) ou por deficiência esfincteriana intrínseca, decorrente de trauma cirúrgico; no homem, ocorre por deficiência esfincteriana, consequência de lesão causada por prostatectomia radical. Hipermotilidade uretral decorrente da fraqueza do assoalho pélvico ou consequente a procedimentos cirúrgicos, deficiência esfincteriana intrínseca também é frequentemente observada e está geralmente associada à desnervação do assoalho pélvico, à radioterapia prévia, à diminuição dos níveis estrogênicos e a procedimentos cirúrgicos. A instabilidade uretral, que consiste no relaxamento esfincteriano na ausência de contração vesical, é uma causa rara de incontinência urinária de esforço e de difícil diagnóstico. - Fisiopatologia: Aumentos na pressão intra- abdominal superam a pressão de fechamento esfincteriano, na ausência de contrações vesicais. - Tratamento: O tratamento da incontinência urinária de esforço depende da causa base, das condições clínicas do paciente e da expectativa em relação aos resultados. Atualmente existem 3 formas de abordagem terapêutica: • Tratamento farmacológico; • Tratamento conservador comportamental e fisioterápico; • Tratamento cirúrgico; A forma de tratamento deve ser decidida correlacionando-se os dados da avaliação clínica e dos achados urodinâmicos, quando estes estiverem disponíveis. As modalidades terapêuticas citadas acima não são obrigatoriamente utilizadas individualmente. A combinação de diferentes estratégias muitas vezes proporciona resultados melhores, com menor agressão ao paciente. 14 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria 4. Incontinência Urinária por transbordamento (hiperfluxo) ou esvaziamento vesical inadequado: A perda involuntária de urina pode estar associada à incapacidade de esvaziar completamente a bexiga. - Causas: As principais causas de esvaziamento vesical incompleto são a acontractilidade e a hipocontractilidade da musculatura detrusora, assim como a obstrução ao fluxo urinário. O déficit contráctil da musculatura detrusora e a obstrução ao fluxo urinário podem estar presentes isoladamente ou em conjunto. Em situações extremas, a hiperdistenção vesical faz com que ocorra incontinência urinária por transbordamento, também chamada de incontinência paradoxal. O termo “incontinência por transbordamento ou de hiperfluxo” é utilizado para descrever o quadro de gotejamento ou perda contínua de urina, associada a esvaziamento vesical incompleto, jato urinário fraco, esforço miccional, intermitência, hesitação, frequência e noctúria. Nos pacientes idosos do sexo masculino a principal causa de esvaziamento vesical deficiente é a hiperplasia benigna da próstata e, menos frequentemente, o adenocarcinoma prostático e as estenoses da uretra. A ocorrência de obstrução em mulheres é menos frequente que nos homens e, decorrem da presença de grandes prolapsos genitais ou de complicações das cirurgias para a correção de incontinência urinária. Em ambos os sexos a constipação intestinal, o efeito colateral de drogas como as anticolinérgicas e algumas neuropatias (principalmente a diabética) são causas frequentes de incontinência relacionada ao esvaziamento vesical deficiente. - Diagnóstico: baseia-se no diário miccional, na história clínica e nos achados urodinâmicos. - Fisiopatologia: é provocada por dois mecanismos distintos: hipocontractilidade do detrusor e obstrução da saída vesical. - Tratamento: O tratamento é direcionado à causa base, podendo ser simplesmente a interrupção de alguma droga que o paciente esteja utilizando, ou procedimentos cirúrgicos que visem a desobstrução do fluxo urinário. Tratamento Incontinência de esforço na mulher: Os tratamentos mais eficazes para a incontinência de esforço na mulher são a fisioterapia do soalho pélvico e as intervenções cirúrgicas. As indicações e a eficácia dos exercícios para o soalho pélvico foram abordadas anteriormente. A cirurgia, de uma maneira geral, oferece índices de cura elevados, inclusive em mulheres idosas; conceitualmente, 15 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria consiste nos seguintes procedimentos: colpossuspensão de Burch; instalação de faixas pubovaginais de suporte (slings); injeção periuretral de colágeno; prótese esfincteriana. Tratamento Incontinência de esforço no homem: Muitos pacientes submetidos a prostatectomia radical apresentam incontinência de esforço no pós-operatório, quadro que se resolve espontaneamente em 6 a 12 meses, na maioria dos casos. Quando a incontinência persiste, são indicados esfíncteres artificiais e (slings suburetrais, associados à fisioterapia do soalho pélvico. O tratamento da incontinência por transbordamento, tanto no homem quanto na mulher, depende do mecanismo etiológico (obstrução mecânica do fluxo urinário ou hipoatividade do detrusor). Pode incluir intervenção cirúrgica, intervenção clínica ou ambos. Portadores de obstrução do fluxo urinário serão encaminhados para avaliação cirúrgica. Os não selecionados para cirurgia podem ser tratados, clinicamente, com antagonistas alfa-adrenérgicos. Para portadores de hipoatividade do detrusor de origem idiopática ou neurogênica são indicados: estimulação sacral, redução ou supressão de medicamentos anticolinérgicos e de beta- agonistas, tratamento da impactação fecal e cateterização vesical intermitente, em número suficiente para manter um volume vesical menor do que 500 ml. Se volumes maiores forem registrados, deve-se aumentar o número de cateterizações. 5. Incontinência Mista: Esta modalidade refere-se à coexistência de mais de um tipo de incontinência em um mesmo paciente. É a variedade de incontinência mais frequente na mulher. O suposto mecanismo fisiopatológico envolve a associação de hiperatividade do detrusor com redução da função esfincteriana. 6. Incontinência Urinária Funcional: Trata-se da incontinência que acomete pacientes sem comprometimento dos mecanismos controladores da micção. Deve-se à incapacidade desses pacientes para alcançar a toalete a tempo de evitar a perda de urina, seja por limitações físicas, transtornos psíquicos, déficit cognitivo, hostilidadeou limitações ambientais (iluminação inadequada, banheiros e urinóis de difícil acesso). Pacientes idosos hospitalizados, não prontamente atendidos pelo corpo de enfermagem ou por cuidador durante o desejo de urinar, podem tornar-se, com o tempo, funcionalmente incontinentes - Tratamento: Os pacientes com incontinência funcional são tratados com medidas ambientais 16 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria e comportamentais, associadas a reabilitação física, controle dos distúrbios psiquiátricos e apoio social. IMPORTANTE! Avaliação clínica: A história, o exame físico e o exame de urina são suficientes como guia inicial para o diagnóstico e tratamento da maioria dos pacientes portadores de incontinência; portanto, devem ser realizados em todos os pacientes idosos incontinentes. Anamnese: O relato da história da função vesical deve ser dirigido, já que grande parte dos pacientes não menciona perda de urina espontaneamente. Devem-se contemplar os seguintes componentes: • Início, curso e características da incontinência; a frequência e o volume das perdas, os sintomas associados (urgência, esforço, frequência, noctúria, polaciúria, esforço, hesitação) • Fatores precipitantes (medicamentos, bebidas cafeinadas, álcool, atividade física, tosse, riso) • Função intestinal (constipação intestinal, fecaloma) • Doenças neurológicas (doença de Parkinson, demência, neuropatias) • Doenças que provocam expansão de volume intravascular (insuficiência cardíaca, insuficiência venosa) • Quantidade de líquido ingerida • Cirurgia do aparelho geniturinário, cirurgias pélvicas, dilatações uretrais, radiações, infecções recorrentes do trato urinário • Lista de medicamentos. Exame Físico: No exame físico devem ser enfatizados os seguintes aspectos: • Extremidades inferiores: mobilidade articular, edema • Aparelho cardiovascular (sinais de insuficiência cardíaca congestiva [ICC]) • Abdome: massas, dolorimento, distensão vesical • Exame retal: massas; impactação fecal; consistência, simetria e tamanho estimado da próstata • Exame neurológico detalhado, com ênfase na integridade das vias sacrais 17 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria (sensibilidade perineal, tônus do esfíncter anal, reflexo bulbo cavernoso), na sensibilidade e nos reflexos dos membros inferiores (patelares, Babinski) • Avaliação cognitiva e funcional • Avaliação para depressão. Exames Complementares: - Exames laboratoriais: • Urinálise e urinocultura devem ser realizados em todos os portadores de incontinência. Para pacientes selecionados, indicam-se: dosagem de eletrólitos, de ureia, de creatinina, de cálcio e glicemia (insuficiência renal, síndromes poliúricas); além de citologia urinária, avaliação ginecológica e urológica. - Testes clínicos: • Teste do estresse: É indicado para mulheres que apresentam sintomas que sugiram incontinência de esforço ou mista. Realiza-se do seguinte modo: pede-se à paciente para se levantar, para relaxar e tossir vigorosamente uma única vez, observando se ocorre perda instantânea ou retardada de urina pela uretra. Perda instantânea sugere incontinência de esforço; perda retardada, especialmente se volumosa e difícil de ser controlada, sugere hiperatividade do detrusor induzida pela tosse. Um absorvente (papel ou outro material) deve ser colocado no nível do períneo. • Medida do volume residual pós- miccional: A medida do volume residual pós-miccional pode ser obtida por cateterização ou ultrassom. É indicado nas seguintes situações: para homens com urgência urinária, antes de se iniciar medicação anticolinérgica; para mulheres submetidas a cirurgia anti-incontinência que apresentam recorrência da incontinência; para pacientes que não respondem a tratamento empírico com anticolinérgicos; para pacientes com infecções urinárias recidivantes; para portadores de hipoatividade do detrusor ou de obstrução do fluxo urinário; para pacientes com episódios recorrentes de retenção urinária; e para pacientes portadores de neuropatia periférica. • Teste urodinâmico: Embora seja considerado o padrão-ouro para o estudo fisiológico da incontinência, o teste urodinâmico não deve ser indicado como rotina, pois além de não ser essencial para o diagnóstico, é invasivo e dispendioso. Sua indicação, entretanto, é fundamental quando terapêutica invasiva é planejada. 18 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria Caderno de Atenção Básica: Causas: As causas de incontinência urinária na pessoa idosa podem ser divididas em agudas (temporárias) e crônicas. A) Causas Agudas – devem ser descartadas antes de se realizar qualquer outra intervenção: • Endócrinas - hiperglicemia, hiperpotassemia, diabetes, vaginite atrófica. A hipotrofia dos tecidos periuretrais e vaginais ocorre em mulheres após a menopausa e implica em adelgaçamento epitelial com perda do selo mucoso da uretra, irritação local, mucosa vaginal friável, com petéquias e eritema. A incontinência é caracterizada por urgência e disúria. • Psicológicas - depressão (quando severa, pode levar a pessoa a não se importar com perda urinária ou reduzir a iniciativa de chegar ao banheiro) ideias delirantes. • Farmacológicas - Efeitos adversos tratamentos medicamentosos. Os principais fármacos ou substâncias que podem causar Incontinência são: diuréticos, anticolinérgicos, antidepressivos, antipsicóticos, hipnóticos- sedativos, narcóticos, agonista alfa- adrenérgico, antagonista alfa-adrenérgico, bloqueadores de cálcio, cafeína e álcool. • Infecciosas - Infecção do trato urinário (ITU) sintomática é uma importante causa transitória de incontinência urinária, uma vez que os sintomas de urgência miccional e disúria podem ser intensos a ponto de não permitir a chegada ao banheiro a tempo; • Neurológicas: - Doença vascular cerebral, doença de Parkinson, hidrocefalia normotensa. - Delirium - deve ser identificado, principalmente pela eventual morbimortalidade de sua causa de base. Uma vez revertida essa causa, tanto o delirium como a incontinência precipitada normalmente se resolvem. • Redução da consciência – perda da capacidade voluntária de contração esfincteriana. • Redução da mobilidade - pode impedir a pessoa de acessar o banheiro a tempo e pode ser causada por fatores físicos (limitação ao leito ou cadeira de rodas) ou dificuldades de deambulação, por neuropatia diabética ou osteoartrose, má acuidade visual etc. • Excesso de débito urinário - pode ocorrer em condições como hiperglicemia e hipercalcemia e com o uso de diuréticos, inclusive cafeína e álcool. • Obstipação Intestinal - impactação fecal (fecaloma) que pode levar a incontinência urinária e fecal e deve-se fazer suspeita em caso 19 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria da coexistência de ambas as condições. O mecanismo pode envolver o estímulo mecânico de receptores opióides ou da uretra e bexiga. A remoção do fecaloma resolve ambas as condições. B) Causas Crônicas: Podem ser divididas em quatro grupos, cujos sintomas e causas mais frequentes podem ser assim resumidos: Diagnóstico: Quando a pessoa idosa relata perda involuntária de urina, isso deve ser minuciosamente investigado. As perguntas a seguir auxiliam na investigação da história clínica: A construção de um Diário Miccional também auxilia a avaliação da IU. Incluir histórico de constipação intestinal, uso de enemas ou laxantes. 20 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria O exame físico consiste em uma avaliação abdominal, genital, pélvica (mulher), retal e neurológica. Tratamento: O processo diagnóstico pode identificar claramente o tipo e causa da incontinência.Todos os fatores que possam precipitar uma incontinência transitória devem ser avaliados e manejados. Medidas gerais devem fazer parte da orientação de todas as pessoas com incontinência e incluem: • Evitar ingestão de grandes quantidades de líquidos quando não houver disponibilidade de banheiros acessíveis. • Evitar alimentos como cafeína e bebidas alcoólicas. • Tratar adequadamente quadros de obstipação intestinal crônica. No caso de não haver um diagnóstico claro quanto à origem da incontinência urinária, pode-se utilizar o seguinte algoritmo de tratamento: As principais ações terapêuticas indicadas nas incontinências urinárias agudas podem ser assim resumidas: As ações de intervenção para a incontinência urinária crônica têm um amplo 21 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria espectro, e ainda que a maioria delas exija a participação de especialistas no assunto, o profissional de saúde da atenção primária deve conhecê-las. Elas estão resumidas no quadro a seguir: Medidas não farmacológicas: A utilização de algumas medidas não farmacológicas contribuem para o melhor controle da IU. São elas: 1. Adaptação e manipulação ambiental – facilitando acesso e uso do banheiro ou uso de coletores (urinol, papagaio ou comadre) à beira do leito. 2. Terapias de comportamento: 2.1 Exercícios de musculatura pélvica e treinamento vesical. 2.2 treinamento do hábito e a micção programada. Fortalecimento do assoalho pélvico: Tem por objetivo aumentar a força e o volume dos músculos do assoalho pélvico, a partir de uma avaliação prévia. Inclui os exercícios de Kegel, os cones vaginais, o biofeedack e a estimulação elétrica. São indicadas, somente, após diagnóstico e devem ser orientadas ou acompanhadas por profissionais treinados. Pela sua fácil aplicação e eficiência os exercícios de Kegel serão melhor descritos: • Exercícios de Kegel: podem ser realizados em qualquer lugar, sentada, em pé ou deitada. Primeiro, a pessoa deve identificar onde se localizam os seus músculos pélvicos. Uma maneira de fazê-lo é começar a urinar e então tentar prender a urina. Se conseguir pelo menos diminuir o jato de urina, é porque está usando os músculos corretos. A pessoa não deve contrair os músculos das nádegas ou os músculos abdominais. Para um treinamento de força eficaz, recomenda-se de 8 a 12 contrações lentas e próximas da força máxima, com período de manutenção da contração de pelo menos 6 segundos, em três séries, 3 a 4 vezes por semana. • Cones vaginais: consiste na introdução vaginal de cones com diferentes pesos. Para retê-los é necessário a contração da musculatura do assoalho pélvico. Fáceis de executar e de baixo custo. • A Eletroestimulação e o Biofeedback: são técnicas que também podem ser utilizadas com bons resultados, embora necessitem de 22 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria profissionais especializados e aparelhos especiais, disponíveis em centros especializados. Além do fortalecimento do assoalho pélvico, outras medidas preventivas também podem ser adotadas tais como: • Eliminação ou diminuição do uso de álcool ou café em demasia. • Diminuição do uso de cigarros. • Uso adequado de medicações como diuréticos, beta-bloqueadores, antiespasmódicos, antidepressivos, anti- histamínicos e medicamentos para tosse/gripe. Medidas farmacológicas: Em todas as pessoas nos quais se inicia o tratamento medicamentoso, deve-se observar o surgimento dos seguintes efeitos secundários relacionados aos fármacos: - Oxibutinina e Tolterodina: • Retenção aguda de urina. • Constipação. • Deterioração da cognição. • Xerostomia (redução da saliva) - Terazocina: • Hipotensão. A pessoa deve de ser avaliada após duas semanas do início de alguma intervenção, e deve ser orientada a comparecer imediatamente em caso de retenção aguda de urina ou qualquer outra intercorrência. Se o tratamento for eficiente, os intervalos entre as consultas dependerão das outras doenças apresentadas. Se a incontinência urinária for o único problema, o seguimento deve ser feito a cada 4 a 6 meses, em caso de boa resposta terapêutica. NOTÍCIA IMPORTANTE: A Comissão de Educação (CE) aprovou nesta quarta- feira (22) o projeto de lei (PL) 694/2022, que institui a Semana Nacional para Prevenção e Tratamento da Incontinência Urinária e o Dia Nacional da Incontinência Urinária. Do senador Nelsinho Trad (PSD-MS), a proposta recebeu parecer favorável do relator, senador Eduardo Gomes (PL-TO). O texto segue para a Câmara dos Deputados, se não houver recurso para votação em Plenário. Pelo projeto, o Dia Nacional da Incontinência Urinária será celebrado em 14 de março (mesma data do dia internacional) e a Semana Nacional para Prevenção e Tratamento da Incontinência Urinária, de 14 a 21 de março. Para Nelsinho Trad, é preciso conscientizar a população sobre essa patologia e alertar para seu diagnóstico, os tratamentos apropriados e os impactos na vida dos afetados. “De acordo com os dados da Sociedade Brasileira de Urologia, cerca de 35% das mulheres com mais de 40 anos e após a menopausa lidam com o problema. Na população brasileira, incluindo homens e mulheres, estima-se que 5% sofram de incontinência”, explica Trad na justificação do projeto. Fonte: Agência Senado http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/152365 23 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria CONSEQUÊNCIAS DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA NOS IDOSOS. • Lesões perineais; • Quedas e fraturas; • Úlceras de pressão; • Prejuízo do sono; • Infecções urinárias; • Isolamento social; • Depressão; • Conotação de maus hábitos de higiene; • Mal-estar; • Perda da autoestima; • Constrangimento - A cada 3 pessoas que sofrem de incontinência urinaria, apenas uma não se sente constrangida em falar sobre o assunto com familiares, amigos ou com profissionais médicos; • Consequências: sociais, psicológicas, ocupacionais, domésticas, sexuais; • Restrições de atividades; • Demora a procurar ajuda; • Sentimentos de ansiedade, receio, preocupação, baixa autoestima, frustração; • Autoexclusão do convívio social; • Sentimento de impotência; • Desconforto e constrangimento; • Perdas materiais; • Vergonha; • Demora na procura de ajuda profissional; • Relacionam com a velhice ou ao processo fisiológico da idade; TIPOS DE IATROGENIA MEDICAMENTOSA, PSICOLÓGICA E CIRÚRGICA NOS IDOSOS E AS CONDUTAS A SEREM SEGUIDAS. O que é Iatrogenia ? A iatrogenia consiste em um estado de doença, efeitos adversos ou alterações patológicas causados ou resultantes de um tratamento de saúde correto e realizado dentro do recomendável, que são previsíveis, esperados ou inesperados, controláveis ou não, e algumas vezes inevitáveis. “Iatrogenia é o mal que vem da tentativa de salvação”. Destarte, podemos inferir desse conceito que, para o autor, caso ocorra algum mal durante o tratamento de um paciente, e desde que este tenha origem em uma tentativa de salvação, estaremos diante de uma situação caracterizada como iatrogenia. 24 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria Iatrogenia é uma “síndrome não punível, caracterizada por um dano inculpável, no corpo ou na saúde do paciente, consequentemente de uma aplicação terapêutica, isenta de responsabilidade profissional” “A iatrogenia, expressão usada para indicar o dano que é causado pelo médico, ou seja, o prejuízo provocado por ato médico em pessoas sadias ou doentes, cujos transtornos são imprevisíveis e inesperados.” Segundo esse autor, tais danos estão amparados na limitação do conhecimento científico e na possibilidade de efeitos adversos, não esperados, no caso concreto. “A iatrogenia (termo que vem do gregoiatros-médico e gignesthai – origem/nascer/gênesis) refere-se a alterações patológicas provocadas no paciente idoso pela má prática médica.” Segundo Wuani (2001)há diferentes tipos de ação médica que constituem agressões ao paciente. (https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2391.pdf ) Iatrogenia pode ser dividido em duas vertentes, a saber: a latu sensu e a stricto sensu. Na vertente latu sensu, o conceito de iatrogenia engloba todo e qualquer dano causado, pelo médico, ao paciente, independente de culpa do profissional da medicina. Por outro lado, a vertente stricto sensu caracteriza como iatrogenia apenas os danos causados, pelos médicos, ao paciente decorrente de fatores estranho a atuação do médico. Para esta vertente, o profissional da medicina procedeu corretamente, de forma precisa e de acordo com as normas e princípios ditados pela ciência médica. Este é o entendimento que vem sendo adotado pela maioria dos tribunais brasileiros. Iatrogenia ≠ Erro Médico Importante : Não trata a ciência médica de obrigação de resultado, ou seja, de cura absoluta da doença, mas sim de prestação de serviço com a máxima diligência e prudência possíveis, utilizando-se da melhor técnica compatível com o local e tempo do atendimento, em busca da cura, por isso tratar-se de obrigação de meio. Mesmo tendo sido o profissional da saúde altamente diligente com seu paciente, empregando-lhe a melhor técnica no tratamento, assim como as melhores medicações, existe o risco de o paciente sofrer alguma alteração de cunho patológico e, consequentemente, um resultado negativo em seu tratamento. Circunstâncias como essa podem caracterizar a chamada iatrogenia. https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/2391.pdf 25 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria Contudo, tais efeitos não necessariamente são ruins, podendo, inclusive, ser bons. São os exemplos mais comuns de fontes de iatrogenia as interações medicamentosas, os efeitos adversos de medicamentos, a utilização indiscriminada de antibióticos (o que leva à resistência das bactérias), quimioterapias e radioterapias (queda capilar, anemia, náuseas etc.), infecções, dentre outros. Um exemplo mais prático para fins de compreensão é a necessária retirada de parte do estômago com a finalidade de extirpação de um tumor. Embora tratar-se de uma lesão essa remoção parcial do estômago, ela é lícita e permitida, pois necessária para a tentativa de cura. A iatrogenia, portanto, não acarreta a responsabilidade civil do profissional da saúde, eis que decorrente de um agir tecnicamente correto. Nesse caso, além da intenção benéfica do profissional para a tentativa de cura do paciente, há um proceder preciso e correto, de acordo com as normas e princípios ditados pela ciência de sua área profissional. ➢ Erro Médico = este, sim, gerador da responsabilidade civil do profissional pelos danos dele decorrentes. O erro médico advém de conduta ou omissão negligente (descuido, desleixo), imprudente (sem precaução, imponderado) ou imperita (inabilidade ou desconhecimento técnico) do profissional, da qual resultou um dano ao paciente. Considerando, portanto, que não se trata a medicina de uma ciência exata e que circunstâncias danosas e algumas vezes alheias à capacidade cognitiva humana podem surgir, imprescindível que, na hipótese de se buscar a responsabilização daquele que ministrou o tratamento, faça-se uma investigação minuciosa e profunda de sua conduta, uma vez que nem sempre uma consequência danosa decorre de um erro médico. Erro médico x Iatrogenia (CFM) Poderá haver dano na relação médico- paciente sem caracterizar erro médico. No estudo da iatrogenia (iatros = médico, genos = geração), ou seja, no “estudo das alterações patológicas provocadas no paciente por tratamento de qualquer tipo”, as lesões previsíveis e esperadas, decorrentes do próprio procedimento, como as cicatrizes cirúrgicas, as amputações de membros gangrenados e a retirada de órgãos internos afetados por neoplasia, por exemplo, são legitimadas pelo próprio exercício regular da profissão médica, no qual a lesão seria a única forma de intervir para a cura ou melhora do paciente. 26 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria A lesão previsível, mas inesperada, decorrente do risco de qualquer procedimento, como a anafilaxia determinada por um anestésico, que caracteriza uma reação idiossincrásica e, portanto, individual, própria do paciente, podendo, inclusive, provocar o óbito, não poderá ser imputada a erro médico. Cabe diferenciar, sobremaneira, erro médico do resultado incontrolável que decorre de “situação incontornável, de curso inexorável e próprio da evolução do caso, quando a ciência e a competência profissional ainda não dispõem de solução”. Exemplo marcante é a alta letalidade nas septicemias, mesmo e apesar da utilização dos recursos médicos mais evoluídos e nos centros mais desenvolvidos. Iatrogenia x Educação Médica ( https://www.scielo.br/j/rbem/a/TBkvps84VJnYt49HNh9Df6p/ ) A iatrogenia consiste num dano, material ou psíquico, causado ao paciente pelo médico. Todo profissional possui um potencial iatrogênico, e tal aspecto depende não somente da capacidade técnica, como também da relação médico-paciente estabelecida. A formação médica possui papel fundamental na constituição de sujeitos menos propensos a cometerem iatrogenias. Entretanto, o significado mais aceito é o de que iatrogenia consiste num resultado negativo da prática médica. Nesse sentido, um médico, ainda que disponha dos melhores recursos tecnológicos diagnósticos e terapêuticos, é passível de cometer iatrogenias. Michael Balint reformulou este conceito ao afirmar que todo médico é, em graus variáveis, iatrogênico, de modo que ele deve sempre considerar esse aspecto quando trata seu paciente. Outros autores enfatizam que o fato de os médicos lidarem com riscos os torna sujeitos a cometer iatrogenias. Iatrogenia como consequência de diagnóstico por apresentação atípica: (jaleco.com.br) Iatrogenia = Consequências provocadas no paciente idoso por apresentação atípica de uma doença. Apresentação Atípica Diagnóstico Incorreto Terapêutica Equivocada Iatrogenia A própria iatrogenia como se manifestar como doença atípica, gerando diagnóstico incorreto Mais prevalente em idoso porque: Presença de muitas morbidades Polifarmácia Várias Especialidades https://www.scielo.br/j/rbem/a/TBkvps84VJnYt49HNh9Df6p/ 27 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria Situações que favorecem a ocorrência de iatrogenias: A) Quanto ao Modelo Biomédico: na prática clínica ocidental - uma visão fragmentada do paciente. O médico perde, assim, a sensibilidade de enxergar esse paciente como um todo biopsicossocial (sujeito na sua integralidade), tratando apenas dos sintomas aparentes, como se o paciente fosse uma máquina que necessitasse de ajustes, um quebra-cabeça. A prática clínica ocidental está baseada apenas nas doenças, com a crescente desvalorização da escuta. B) No Âmbito da Relação Médico-Paciente: O futuro médico deve compreender que o paciente, pela condição em que se encontra, idealiza muito a figura do médico (como um demiurgo). O indivíduo que demanda cuidados traz ao encontro com o médico uma série de expectativas e fantasias quanto à figura deste e quanto ao desenvolvimento da consulta. Tais fatores, conforme veremos adiante, poderão contribuir para a ocorrência de iatrogenias. Um bom exemplo é o da medicina de urgência, onde por vezes o paciente está tão debilitado, que a relação é porsi só assimétrica. Este paciente pouco participa da relação (paciente passivo, submisso), e o profissional assume uma posição de superioridade, sem consultar o paciente para qualquer procedimento. Quando a paciente “desperta” para a situação, mesmo sabendo que determinados procedimentos eram cruciais naquele momento, pois visavam sua sobrevivência, pode ser difícil admiti-la. É o caso dos pacientes vítimas de traumatismos que tiveram de ser submetidos a uma traqueotomia, por exemplo. O paciente crônico, que percorre vários profissionais a fim de obter um diagnóstico "seguro" para a sua enfermidade ou uma "segunda opinião", costuma não estabelecer vínculos afetivos com o médico, o que pode contribuir para o estabelecimento de situações iatrogênicas. O mesmo ocorre em ocasiões nas quais médico e paciente procuram não se envolver emocionalmente. Predomina a linguagem técnica, a frieza. Outro exemplo de iatrogênese é a situação provocada pelo uso da anamnese dirigida, que camufla a hostilidade do médico. Situações nas quais, por outro lado, o envolvimento do médico com seu paciente se torna muito intenso, a ponto de enfraquecer os limites entre os egos de ambos, favorecem a geração de respostas emocionais no médico, como luta/submissão, indiferença ou ainda excesso de dedicação ao paciente. Pode-se dizer que existe aqui um desequilíbrio nos 28 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria fenômenos de transferência/contratransferência, que se tornam patológicos. A relação passa então a ser assimétrica, com repercussões negativas na pessoa do paciente e na própria identidade médica. Este fenômeno é conhecido como indução iatrogênica. Exemplificando, temos aquele paciente que insiste com o médico em realizar uma cirurgia absolutamente desnecessária e arriscada. Conflitos neuróticos do médico podem se manifestar como iatrogenias, sendo eles a insegurança (manifestada pelo excesso de pedidos de exames complementares), o narcisismo (o paciente é tratado com desdém), o sadismo inconsciente (conforme ocorre com os pacientes submetidos a sucessivos exames invasivos) e, por fim, os conflitos inerentes às diferentes especialidades, como o pediatra, que pode induzir à hipocondria em virtude dos cuidados excessivos que prescreve ao paciente. A sensibilidade diagnóstica, sobrepujada pelos excessivos pedidos de exames complementares, pode favorecer o estabelecimento de diagnóstico equivocado, com o consequente tratamento de uma enfermidade que o paciente não possui. A linguagem não-verbal influencia sobremaneira a conduta terapêutica e é percebida pelo paciente: gestos, linguajar, trajes, disposição dos móveis, cor das paredes do consultório etc. Más condições de trabalho, queixa freqüente entre professores e médicos: o profissional trabalha mais tempo por dia, em diferentes locais, atendendo uma quantidade crescente de pacientes, em consultas rápidas. Além disso, as condições físicas do estabelecimento podem influenciar a conduta do profissional. O prontuário médico que deveria ser o melhor "parceiro" do médico acaba sendo preenchido de maneira inadequada, incompleta, não sendo registradas ali informações relevantes acerca das características do paciente e do seu processo de adoecer. A inexatidão dos dados contidos no prontuário, bem como a maneira como este é preenchido (a caligrafia incompreensível, por exemplo) favorecem a iatrogênese. A justificativa já consagrada de que o médico é humano como qualquer outro profissional e, portanto, tem as mesmas possibilidades de cometer falhas, embora seja pertinente, ainda não recebe o devido respaldo social. Como dito anteriormente, o fato de o paciente idealizar o médico não permite que ele tolere falhas justamente daquele que "deve ser capaz de curar e salvar vidas". 29 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria Exemplo: Como exemplo, podemos citar o caso de uma paciente que, após ter sido submetida a uma cirurgia plástica reparadora nos seios, não foi totalmente esclarecida acerca dos cuidados que deveria manter no pós- operatório (evitar dirigir, movimentar-se, etc.). Ocorreram complicações com os pontos da cirurgia, de tal forma que surgiram cicatrizes que não mais desapareceram. Não satisfeita com os resultados, decidiu processar judicialmente o médico por erro médico. O processo arrastou-se por anos e não houve acordos. As perdas foram significativas para ambos, seja no âmbito do estresse, tempo desperdiçado com inúmeras audiências e até mesmo gastos financeiros relacionados às custas judiciais e advocatícias. Tipos de Iatrogenia: ➢ Iatrogênia medicamentosa: polimedicação com seus efeitos colaterais, tema desse artigo; ➢ Iatrogênia pela palavra: relação médico/paciente que deve resgatar os atributos do médico como intuição, empatia, humildade, capacidade de comunicação e resiliência; ➢ Iatrogênia cirúrgica: todo ato cirúrgico constitui uma agressão pois faz-se o uso de anestesia e produtos químicos; ➢ Iatrogênia por raios ionizantes: seu uso pode produzir transtornos somáticos e genéticos por causa das radiações; ➢ Iatrogênia instrumental: uso da tecnologia como arma diagnóstica e terapêutica que implica em cuidados do médico que deve ter consciência moral e científica do instrumento tecnológico que vai usar, além de ter uma justificativa clínica para qualquer uso técnico evitando que ele seja aplicado visando lucro, prestígio ou poder. Geralmente os tipos de iatrogênia se resumem em dois: ➢ O primeiro é a iatrogênia de ação, de corrente da ação médica. Essa ação vai desde a relação com o paciente passando pelo diagnóstico, terapia e prevenção; ➢ O segundo é a iatrogênia de omissão, relacionada à falta de ação do médico quer no diagnóstico quer no tratamento, prejudicando a saúde do paciente que além de perder a autoestima perde a confiança no médico. 30 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria Causas da doença Iatrogênica: As causas da iatrogenia são múltiplas, as reações adversas são as causas mais frequentes de doença iatrogênica prevenível. Essas reações adversas estão implicadas em 5 a 17% dos internamentos em hospitais, sendo que a polimedicação aumenta os riscos dessas reações adversas. Muitas alterações medicamentosas são realizadas em internamentos hospitalares e em consultas exteriores hospitalares. As reações adversas ocorrem, na maioria das vezes, devido a subdosagem utilizada por idosos. Um estudo descritivo de Vasconcelos et al (2005), feito com 125 idosos de Fortaleza (CE), detectou-se que 28,8% desses idosos utilizam subdosagem, 76,9% tomam de 1 a 4 comprimidos/dia e 44,29% sentem efeitos colaterais. Rozenfeld (2003, p. 723) afirma que o uso de múltiplos medicamentos ou uso de dois ou mais fármacos com a mesma atividade e o treinamento inadequado da equipe de saúde favorecem o aparecimento de efeitos adversos e das interações medicamentosas em idosos. Iatrogenia Medicamentosa: O atendimento humanizado da equipe de saúde à população idosa deve ser resgatado, pois é direito do idoso com ser humano ter sua dignidade mantida, ter respeitadas suas necessidades e o alívio da dor pelo uso correto dos medicamentos, evitando a iatrogênia medicamentosa. Sinal ou sintoma de instalação subsequente ao início de um novo medicamento = suspeitar de causa farmacológica. Surgimento agudo/subagudo de: • Confusão Mental • Declínio Funcional • Déficit Cognitivo Suspeitar de efeito • Distúrbios Comportamentais adverso de medicamento • Sintomas Depressivos • Tontura • Alteração de Marcha e EquilíbrioPrincipalmente de início • Quedas Repetidas recente ou reajuste de dose • Incontinência Urinária e/ou fecal • Síndrome Extrapiramidal Pesquisa: Recente estudo realizado no Reino Unido, pela Universidade de Manchester, publicado agora no dia 17 de julho na revista British Medical Journal, analisou dados de mais de 330.000 pacientes provenientes de todo o mundo. O estudo demonstrou que 12% destes pacientes sofreram iatrogenias consideradas graves, as quais causaram incapacidade permanente ou até morte do paciente. Quase metade destes incidentes estavam relacionados com medicamentos e condutas terapêuticas e aproximadamente um quarto com procedimentos cirúrgicos. Destes, 6% dos casos foram considerados evitáveis pelos pesquisadores. As especialidades médicas complexas são as que mais produzem iatrogenias evitáveis. Assim, especialidades médicas cirúrgicas e a medicina de emergência são as que apresentam maior risco, sendo que a maior parte dos casos de iatrogenia evitáveis relacionou- se com o centro cirúrgico e unidades de tratamento intensivo (UTIs) e a menor foi registrada na obstetrícia, sem diferenças entre as diversas regiões do mundo. Pacientes crianças e idosos foram os mais afetados. “Suscita graves preocupações sobre a segurança dos sistemas de saúde”, mas lembram que as iatrogenias nem sempre são comunicadas, que não há consenso sobre se um erro pode ou não ser considerado evitável e que especialidades como psiquiatria e medicina de família, por serem praticadas fora do ambiente hospitalar também podem ter níveis de iatrogenia evitáveis que não são mensurados. Nos idosos, a iatrogenia é associada a vários agravos à saúde como: quedas, déficits cognitivos, depressão, desnutrição, infecções resistentes, imobilidade, déficits de audição e visão, tonturas e morte prematura. https://www.bmj.com/content/366/bmj.l4611 31 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria Condutas para prevenção da Iatrogenia: A) Importância da educação médica: O futuro médico precisa ser mais bem informado, e a educação médica lhe fornecerá instrumentos para refinar sua sensibilidade social e desenvolver responsabilidade pessoal e profissional, objetivando, igualmente, enfatizar o aperfeiçoamento do médico, entendido aqui como melhor tecnificação e especialização. Isso favorece o aumento dos acertos e a diminuição de falhas iatrogênicas. Deve-se priorizar o resgate de um ensino médico pautado na busca da integralidade, em que o aluno possa lidar com diferentes profissionais de saúde, isolando-se menos e aprendendo com eles as suas formas de atuação, introjetando ademais o fato de que o trabalho em equipe é importante para o estabelecimento da integralidade. Adotando uma posição de humildade, o futuro médico se equivoca menos, pois possui discernimento suficiente para questionar e trabalhar em equipe numa perspectiva integradora. O aluno deve compreender e respeitar o paciente como pessoa, identificando os reais fatores que o levaram a buscar os serviços médicos. Os professores de disciplinas como Psicologia Médica, Semiologia, Introdução à Prática Médica, Deontologia, Ética Médica e demais cadeiras clínicas e cirúrgicas devem abordar a questão, contribuindo para que o futuro médico possa, ainda em seus primeiros contatos com os pacientes, assimilar uma visão biopsicossocial destes, aprimorando-se dessa forma a relação estudante-paciente. B) Recomendações para a prática clínica: Uma maneira de minimizar esse erro diagnóstico causado pelas apresentações atípicas das doenças em idosos é fazer uma avaliação considerando os seguintes passos : • Abordagem baseada em problemas e não em diagnósticos, permitindo, dessa forma, levantar para um problema várias etiologias. Caso a anamnese inclua queixas relacionadas com o nível de consciência e/ou à cognição é necessário colher a história também com familiares e cuidadores e, se possível, consultar documentos médicos anteriores • O exame físico deve ser criterioso e focado nos problemas. A avaliação do paciente deve incluir uma observação cuidadosa sobre o seu comportamento, flutuações no nível de consciência, inquietação, ansiedade, desconforto, sinais indiretos de dor, incontinência, sinais de negligência e maus-tratos, dispneia, taquipneia, alterações da marcha e equilíbrio, fadiga, dentre outros. Muitas vezes, a repetição do exame 32 III Período – Módulo 3 – Medicina - Tutoria permite identificar flutuações no quadro clínico que são importantes para o diagnóstico correto • A análise crítica das informações prévias, além de ser importante para determinar se estamos frente a uma apresentação atípica, permite, também, determinar a urgência ou não do quadro clínico. O uso de protocolos e de algoritmos é útil por permitir a comparação de resultados, detectando pequenas alterações que, de outro modo, passariam despercebidas, assim como permite intervenções passo a passo. Entretanto, é bom ter em mente que o pleomorfismo das apresentações das doenças nos idosos pode ser tão amplo que impossibilite a sua abordagem em protocolos • Deve-se ter em mente que um sintoma ou grupo de sintomas resulta de várias doenças e de múltiplos fatores e que as Síndromes Geriátricas e sinais e sintomas inespecíficos podem ser a apresentação de qualquer doença em idosos • Fazer o inventário dos medicamentos em uso, bem como das mudanças de posologia e retiradas recentes • Realizar sempre a avaliação geriátrica ampla (AGA), também conhecida por avaliação geriátrica global ou avaliação multidimensional do idoso, englobando os aspectos físicos, cognitivos, funcionais, psicológicos e sociais
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