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TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO III Elaine de Alcantara Peixoto , 2 2 MOVIMENTO MODERNO NO BRASIL Apresentação Iniciamos este bloco apresentando uma citação de Giulio Carlo Argan, extraída do ensaio As fontes da arte moderna (ARGAN, 1987, p. 49). "Arte Moderna" não significa arte contemporânea, ou então arte do nosso século ou dos nossos dias. Há um período, ao qual atualmente nos referimos como o das "fontes do século XX", em que se pensou que a arte, para ser arte, deveria ser moderna, ou seja, refletir as características e as exigências de uma cultura conscientemente preocupada com o próprio progresso, desejosa de afastar-se de todas as tradições, voltada para a superação contínua de suas próprias conquistas. A arte deste período é também conhecida como "modernista" — programaticamente moderna e, portanto, consciente da necessidade de desenvolver-se em novas direções, com frequências contraditórias em relação às anteriores. Argan (1987) ainda relata que a arte se manifesta em suas diferentes formas, incluindo arquitetura, que compõem o ambiente em que o homem está inserido. Na segunda metade do século XIX, a cidade passou a ser pensada em função da máquina, devido aos avanços decorrentes da Revolução Industrial. Na Europa, ocorre a migração da população de área rural para área urbana, promovendo aumento demográfico que requereu ações para resolver as questões relacionadas à habitação, aos serviços e aos novos equipamentos. Esses fatos estavam associados às mudanças econômicas que também se refletiram em crescimento de áreas urbanas (PEREIRA, 2010). Veremos neste bloco aspectos do movimento moderno no Brasil. , 3 2.1 Arquitetura moderna no Brasil – intervenções urbanas As reformas urbanas que ocorreram na Europa, com início em meados do século XIX, como o Plano de Haussmann para Paris, produziram efeitos também em outras localidades fora da Europa. Segundo Porto et al. (2007), as cidades brasileiras: Rio de Janeiro, Salvador e Belém sofreram intervenções de acordo com os conceitos de Haussmann. No Brasil, as cidades do final do século XIX apresentaram aumento de sua população. Um dos fatores era que os escravos que eram responsabilidade de seus proprietários, a partir do final do século XIX passaram a ser responsabilidade do Estado, pois os ex- escravos se deslocaram para os centros urbanos, que passaram a acomodar a mão de obra do então trabalho livre. Esse incremento da população nos centros urbanos ocorreu de modo desornado, não havendo gerenciamento relativo a esse aspecto nas cidades (RAMOS, 2003). As intervenções urbanas no Brasil ocorreram em várias capitais por ocasião da Proclamação da República, pois as reformas relacionavam-se ao positivismo de “Ordem e Progresso”, modificando as cidades para serem modernizadas, bonitas e higiênicas. A ação de embelezar a cidade era meio de viabilizar investimento, conduzido pelo Estado, que regulava e provia serviços públicos, e apresentava seu papel de normatizador do espaço urbano, da saúde pública e da estética (RAMOS, 2003). Naquele momento, início do século XX, existiam vários fatores que tornavam as cidades um local que recebia os acidentados, aqueles com doenças profissionais, com ocorrência de mortalidade infantil e tuberculose. As causas para essas ocorrências eram: o excesso de trabalho, baixíssimos salários, alimentação insuficiente, consumo de álcool, habitações insalubres (casas coletivas com população aglomerada, mal ventiladas, desprovidas ou mal servidas de esgoto, com dejetos). Esses fatores fizeram com que a medicina e a higiene contribuíssem para reduzir as mortes, conforme Afrânio Peixoto (1941). , 4 Esse contexto expressava a seguinte situação (RAMOS, 2003, p. 2): A higiene e o combate às epidemias eram vistos tanto pelo ângulo da reforma social como das relações humanas. As preocupações sanitaristas caracterizavam as ações públicas como reflexo do pensamento positivista enquanto as propostas para a infraestrutura urbana refletiam o pensamento urbanístico internacional através da apropriação de modelos relativos ao saneamento e transportes. Dessa maneira, seguindo as ações relativas às cidades que ocorriam na Europa e nos Estados Unidos, havia necessidade de gerenciar as cidades e solucionar problemas de insalubridade, utilizando-se ciências médicas e engenharia sanitária. Profissionais preparados em escolas no país e também no exterior atuaram em cidades com a construção de ferrovias e em obras de infraestrutura urbana, elaborando projetos urbanísticos para áreas centrais (RAMOS, 2003). Nesse período, algumas das intervenções em cidades foram: Para o Rio de Janeiro: Em 1875, foi elaborado o Plano de Melhoramentos para o Rio de Janeiro, capital do Império. Era integrante da Comissão que elaborou o plano o engenheiro Francisco Pereira Passos. As ações do plano eram: obras de canalização, drenagem, alargamento, pavimentação de vias, saneamento de cortiços, que eram considerados como causas de epidemias, ações de intervenção no porto ̶ reforma e ampliação e em áreas próximas a este. Alguns anos mais tarde, em 1890, foi apresentado pelo engenheiro Galdino Pimentel o Projeto de Melhoramento e Embelezamento da cidade do Rio de Janeiro. Houve obras previstas e executadas pelo governo federal, como as relativas ao porto, e houve obras de responsabilidade do município, no início do século XX de 1902 a 1906, quando o prefeito era Pereira Passos e elas basearam-se nas intervenções de Haussmann em Paris (RAMOS, 2003). Ocorreram a partir de 1903 obras que iniciaram a modificar os espaços públicos: a implantação do Passeio Público, substituição de edifícios antigos anteriormente localizados em ruas estreitas, retificação, alargamento, construção de novas ruas e , 5 avenidas, expulsão do centro de usos considerados indevidos, incluindo casas de baixa renda. O transporte foi por meio de companhias de bondes, que eletrificavam linhas e propiciavam o desenvolvimento de novos bairros. Na década de 1920, com a alegação de melhorar as condições de saúde do centro da cidade, a população de baixa renda era afastada, sendo executadas obras do sistema viário, que incluíram túneis, e houve o início do arrasamento do Morro do Castelo (RAMOS, 2003). Foram dois fatores primordiais para a reforma no Rio de Janeiro: a questão sanitária e a relativa ao embelezamento da cidade (RAMOS, 2003; SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). Para São Paulo: No final do século XIX em São Paulo, no período de 1872 e 1875, houve melhoramentos na cidade para atrair o excedente financeiro do café. As ações foram: iluminação pública, que utilizava lampiões de gás, e linhas de bonde a tração animal, interligando o centro a estações ferroviárias. Ocorreram obras de saneamento, substituição das casas de taipa por construções de alvenaria (RAMOS, 2003). Em 1896, começaram as obras de retificação dos rios Anhangabaú e Tamanduateí, tendo participado dessas obras o engenheiro Saturnino de Brito, bem como Theodoro Sampaio, que apresentava conhecimento sobre as questões relacionadas à cidade que surgia (RAMOS, 2003). A higiene pública e os transportes tornaram-se características marcantes de São Paulo. A especulação imobiliária ocorreu ao longo das linhas de bonde e ferrovias e nas áreas por estes servidas. As linhas de bonde se estenderam por ruas, avenidas, largos ajardinados, praças, existindo para esses trajetos maiores cuidados, mais iluminação e arborização. Os primeiros planos para a cidade iniciaram de acordo com elaboração de Antonio Prado, prefeito da cidade de 1899 a 1910. Ainda sob ação de Antonio Prado, em 1903, Ramos de Azevedo iniciou a construção do Teatro Municipal, cuja inspiração foi a Ópera de Paris (RAMOS, 2003). , 6Em São Paulo, a expansão da cidade foi proposta pelo poder público segundo o modelo de Haussmann: grandes avenidas, bulevares, embelezamento e também de acordo com Camilo Sitte, que defendia a preservação histórica e seus monumentos. Nesse momento de modernização, então, o centro antigo foi poupado em parte e as ações que caracterizavam a modernidade foram aplicadas em áreas novas da cidade, como o Vale do Anhangabaú. Havia três propostas para o Vale: • uma seguindo as orientações de Haussmann, de Alexandre Albuquerque; • uma inspirada em Camilo Sitte, de Vitor da Silva Freire; • uma que modificava alguns aspectos da proposta de Freire, de Samuele das Neves. O impasse foi resolvido em 1911 pelo prefeito Raimundo Duprat que convidou Joseph Antoine Bouvard, urbanista francês, que adaptando o plano de Silva Freire ao gosto francês, atribuiu à cidade de São Paulo um aspecto europeu (RAMOS, 2003). Para Salvador: A cidade de Salvador, no início do século XX, também se apresentava como cidade deficiente de transporte e moradias, com a presença de cortiços e outras casas insalubres (em casas térreas e sobrados), construídas de modo precário e desordenado. As casas eram habitadas por ex-escravos alforriados, que procuravam trabalho no centro urbano. Ocorriam epidemias de cólera, febre amarela, tuberculose, febre tifoide e estes eram fatores que sinalizavam necessidade de mudança (SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). As mudanças tiveram início na parte baixa da cidade para ampliação de área e nela está o porto, que foi reformado, para que fossem melhoradas a circulação e a salubridade. Houve a implementação de ferrovia e melhorada a ligação viária entre as partes baixa e alta da cidade. As ações envolveram ruas mais largas – sem modificar o traçado urbano, pavimentação destas, incremento de infraestrutura: água, esgoto, iluminação, transporte urbano. As reformas iniciaram em 1912 e 1916, estendendo-se até 1940, com o propósito de promover fluidez, higiene, funcionalidade e novas tipologias arquitetônicas (SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). , 7 Para Belém: Para essa cidade, as mudanças também se desenvolveram em saneamento, iluminação pública e sistema viário. Foram conduzidas pelo intendente municipal, Antônio Lemos. A cidade passava pelo embelezamento, seguindo o modelo de Paris, e no bairro “Marco”, a abertura de vias configurava malha ortogonal e regular: quadras de 125 m x 250 m, ruas de 44 m de largura e transversais de 22 m de largura. O plano também contemplava parques e áreas verdes. O intendente também estabeleceu um código para as novas construções que acabou por retirar a população de baixa renda do centro da cidade, pois proibia a construção de barracos em bulevares já construídos (SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). *** Outras cidades foram reformadas como Vitória e Santos, tendo havido projetos para novas cidades como Belo Horizonte e, no século XX, várias cidades pelo país, incluindo Brasília (RAMOS; SILVA, 2005). No país, várias cidades foram planejadas. Belo Horizonte foi a primeira cidade moderna planejada no Brasil. Um relato breve pode ser lido no artigo: BH: 122 anos da primeira cidade moderna planejada do Brasil, disponível em: <https://www.caumg.gov.br/122-anos-da-primeira-cidade-planejada-do-brasil/>. Acesso em: 4 mar. 2021. As cidades que passaram por intervenções, como a reforma no final do século XIX e início do século XX, apresentavam necessidade de novas condições de higiene, combate a epidemias, modernização dos espaços públicos, infraestrutura urbana mínima de saneamento e transportes. Algumas das soluções adotadas como higienização da cidade, implantação de serviços urbanos, abertura de grandes vias/ avenidas, demolição de edificações velhas são características oriundas do Plano de Haussmann para Paris. No entanto, há também como herança os estudos e ações de , 8 Cerdà, que elaborou o plano de Barcelona, e para estudiosos, foi o primeiro teórico da disciplina urbanismo. 2.2 As novas cidades Além de cidades que sofreram intervenções no final do século XIX e início do século XX devido às condições precárias relacionadas à higiene, falta ou deficiência de infraestrutura, necessidade de transporte e questões relacionadas ao embelezamento, necessidade que se apresentou juntamente com a República, houve também a criação de novas cidades. Belo Horizonte No país, como já mencionado, várias cidades foram planejadas. Belo Horizonte foi a primeira cidade moderna planejada no Brasil. A cidade de Belo Horizonte foi criada por meio de lei n. 1, de 24 de outubro de 1891, adicional à Constituição Estadual de Minas Gerais, que autorizou estudo para novo local a ser definido para a nova capital, demonstrando a intervenção estatal para construção dessa cidade. O contexto da época era composto por grupos de elite mineira, que consideravam que a proclamação da República havia sido uma ruptura com o passado, iniciando, assim, tempo de desenvolvimento e modernização. A decisão de ser Belo Horizonte a localização de novo centro administrativo do estado teve vários fatores envolvidos como: políticos, econômicos, salubridade e higiene. Houve a Comissão de Estudos e a Comissão Construtora, composta por equipe multidisciplinar: engenheiros, médicos sanitaristas (PASSOS, 2009). A cidade foi planejada por Aarão Reis, em atendimento ao governo vigente na ocasião. Assim, o projeto de Belo Horizonte estabeleceu a divisão da cidade em três zonas (PASSOS, 2009): • Zona urbana – área que deveria refletir as cidades consideradas mais modernas do mundo, deveria apresentar infraestrutura técnica e sanitária, contando com avenidas largas; , 9 • Zona suburbana – composta pela área além dos limites da Avenida do Contorno, limite entre as zonas urbana e suburbana; • Zona rural – composta por cinturão verde, região onde deveriam estar localizados os núcleos que abasteceriam a cidade de produtos hortifruti, além de matéria-prima para sua construção. O plano para a cidade era rígido e acabou por expulsar para as zonas suburbanas e rural a população de baixa renda, a exemplo do ocorrido com o Plano de Haussmann para Paris. Existia plano para acomodar proprietários e funcionários oriundos de Ouro Preto e estabelecer a localização dos diferentes usos. Essa divisão criou uma cidade hierarquizada, associada ao fato de que a cidade de Belo Horizonte foi construída para ser polo dinamizador da economia mineira, com objetivo de tentar promover a unidade ao estado (PASSOS, 2009). Importante a leitura do artigo: A formação urbana e social da cidade de Belo Horizonte: hierarquização e estratificação do espaço na nova capital mineira, que apresenta o contexto e as ações relacionadas ao plano para a cidade de Belo Horizonte, a primeira cidade moderna planejada no país. Brasília A cidade de Brasília foi a proposta de criar uma cidade para a capital do país no interior, criando foco geograficamente acessível para todo o Brasil. Juscelino Kubitscheck, presidente, que atuou para incrementar a industrialização no país, convidou Oscar Niemeyer para projetar os principais edifícios da cidade. Houve um concurso e Lúcio Costa tornou-se o responsável por elaborar um plano para a nova cidade – o plano-piloto. O plano de Lucio Costa baseava-se nos princípios do CIAM, no qual as funções: trabalho, habitação, lazer e circulação eram separados. A distribuição dos usos foi organizada em torno de dois eixos, que formam uma cruz. Uma característica da proposta são as vias de circulação: sistemas de múltiplas pistas nos eixos, com eliminação de cruzamentos, que definem a cidade para automóveis. A construção de uma represa no Rio Paranoá criou um lago que envolve extremidades , 10 norte, leste e sul de um planalto, onde a cidade está localizada (BRASIL, 1991; CHING; JARZOMBEK; PRAKASH,2019). Le Corbusier concebia a cidade moderna como realidade, considerando o território no qual a cidade se desenvolve. Seus estudos e contribuições se difundiram pelo mundo e apresentaram efeitos em intervenções urbanas realizadas após a Segunda Guerra Mundial. Como exemplos: “Chandigarh, em Islamabad, em Dhaka e, sobretudo, em Brasília, onde Lúcio Costa e Oscar Niemeyer realizaram a utopia corbusieriana em um local com natureza idílica, planejando a cidade e construindo seus edifícios” (PEREIRA, 2010, p. 252). Figura 2.1 ̶ Plano-Piloto de Chandigarh e Plano-Piloto de Brasília Fonte: adaptado de Pereira (2010, p. 252). 2.3 Arquitetura moderna no Brasil As mudanças políticas e sociais ocorridas no início do século XX, que se relacionaram aos avanços técnico e industrial, formaram o contexto para a arquitetura moderna. Os , 11 novos materiais, técnicas e tecnologias possibilitam novas formas de construção em arquitetura, sendo um desses materiais o concreto. No final do século XIX e início do século XX, existiam vários arquitetos da denominada primeira geração moderna, como: Walter Gropius, Mies van der Rohe, Frank Lloyd Wright, Le Corbusier. No Brasil, o sistema Beaux-Arts era vigente no início do século XX e por estar se exaurindo, os arquitetos procuravam superar esse modelo (SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). Em 1929, diante desse contexto, ocorreu a visita de Le Corbusier ao país para participar de conferências no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nesses eventos, acabou divulgando suas ideias a profissionais e estudantes. Em 1936, numa outra visita ao país, Le Corbusier colaborou com equipe de arquitetos que projetou a sede do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro, atual Palácio Gustavo Capanema. Essa equipe era composta por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, entre outros. Nesse projeto, são identificáveis os cinco pontos da arquitetura moderna definidos por Le Corbusier: os pilotis, cobertura plana (terraço-jardim), planta livre, janelas horizontais (janelas em fita) e fachada livre (SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). Nesse projeto, além das referências à arquitetura de Le Corbusier, os arquitetos brasileiros, pelas soluções desenvolvidas, demonstraram respeito pelo entorno e preocupação com a implantação (MONTANER, 2011). No Brasil, quando aborda-se a arquitetura moderna, há menção às Escolas Carioca e Paulista. A Escola Carioca e a Escola Paulista denominam parte da produção moderna de arquitetura brasileira de acordo com a historiografia. A Escola Carioca refere-se à obra de um grupo de arquitetos estabelecido no Rio de Janeiro, cuja liderança intelectual era de Lucio Costa e a formal de Oscar Niemeyer. Essa escola dissemina seu estilo por volta de 1940 e 1950, e se opunha ao “International style”, que era hegemônico até em torno de 1930. Ainda a partir de 1940, verificam-se em várias cidades do Brasil projetos arquitetônicos com “a rubrica Escola Carioca” como: Convênio Escolar em São Paulo (1948-1952), dirigido por Hélio Duarte, e o Parque do Ibirapuera, cujos principais edifícios foram projetados por Oscar Niemeyer, por exemplo (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2017). , 12 Como exemplos da Escola Carioca de arquitetura estão também os seguintes projetos (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2017): • o edifício sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) (1936), dos irmãos Roberto: Marcelo (1908-1964), Milton (1914-1953) e Maurício (1921-1996); • a Estação de Passageiros de Hidroaviões (1937), de Attílio Corrêa Lima (1901-1943); • o Grande Hotel de Ouro Preto (1938), de Niemeyer; • o Pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Nova Iorque (1938- 1939), de Costa e Niemeyer; • o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, projetado por Niemeyer em Belo Horizonte; • o Park Hotel São Clemente (1944), em Friburgo, Rio de Janeiro, de Lucio Costa; • o Conjunto Habitacional Pedregulho (1950-1952), de Reidy, entre outros. Da mesma maneira que a Escola Carioca, a Escola Paulista refere-se à produção de arquitetura moderna brasileira produzida por um grupo de arquitetos estabelecido em São Paulo, que era liderado por Vilanova Artigas, e sua produção arquitetônica era marcada pelo uso do concreto armado aparente e valorização da estrutura, sendo a ênfase a técnica construtiva. A Escola Paulista era crítica da Escola Carioca. Artigas era engenheiro-arquiteto, responsável pela melhor produção arquitetônica brasileira desde o concurso de Brasília, conforme Lira (2004). Alguns de seus projetos realizados entre os anos 1959 e 1961, que definiram as características da produção arquitetônica dessa escola foram: • Casa Mário Taques Bitencourt, • Ginásio de Itanhaém, • Ginásio de Guarulhos, • Anhembi Tênis Clube, • Garagem de Barcos do Iate Clube Santa Paula, http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa285612/att%C3%ADlio-corr%C3%AAa-lima http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa285612/att%C3%ADlio-corr%C3%AAa-lima http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ , 13 • Edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP) (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2019). Como características, essa produção apresentava: introversão, pela continuidade espacial garantida pela adoção de rampas e de iluminação zenital, e pelo emprego de grandes vãos, gerando extensos planos horizontais de concreto aparente e exigindo o uso de técnicas construtivas elaboradas, como o concreto protendido. Mais do que uma busca puramente estética ou técnica, essas características revelam um projeto político para o país, que aposta na industrialização para a superação do subdesenvolvimento. (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2019). A Escola Paulista também é denominada de brutalismo Paulista, sendo integrada pelos seguintes arquitetos: Marcello Fragelli, Abrahão Sanovicz, João Walter Toscano, Paulo Mendes da Rocha, Pedro Paulo de Melo Saraiva, Rui Ohtake, Carlos Cascaldi, além de outros. Algumas das obras de Paulo Mendes da Rocha: Ginásio do Clube Atlético Paulistano, sede social do Jóquei Clube de Goiás, Edifício Guaimbê e Museu Brasileiro da Escultura. Lina Bo Bardi, arquiteta italiana radicada no Brasil, também integra essa geração. Uma de suas obras foi o edifício para o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Para esse projeto, o pavimento térreo foi liberado, assim a rua passou a integrar o museu e consequentemente essa solução abriu-se para a manifestação e ocupação pela população. Existia admiração por parte de Lina Bo Bardi da cultura popular, o que é notável em várias de suas obras (SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). O uso do concreto protendido também está presente no projeto do SESC Pompeia (1977-1986). Um relato sobre projeto e obra do SESC Pompeia é apresentado por Marcelo Carvalho Ferraz, em publicação da Vitruvius: Numa velha fábrica de tambores. Sesc Pompeia comemora 25 anos, disponível em: , 14 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897>. Acesso em: mar. 2021. Sobre a arquitetura brutalista, Ruth Verde Zein apresenta (ZEIN, 2005, p. 242): O uso do concreto armado aparente parece frequentemente indicar, de per si, uma baliza apontando a possibilidade de estar uma determinada obra (após passar por um primeiro filtro de datação admissível) inserida na arquitetura brutalista – tanto que esta chega a ser vulgarmente denominada como “arquitetura do concretão”. Entretanto, não é tanto o material, mas a atitude como ele é empregado, que pode definir com mais clareza a afiliação ao brutalismo. Conforme já explicitado anteriormente, podem estar afinadas com o brutalismo “obras que se comprazem em trabalhar e exibir francamente paramentos portantes e alvenaria de tijolos de barro ou de blocos de concreto, oque ocorre em geral alegando-se razões econômicas, mas denotando certa vontade de crueza formal e sinceridade ética”. Monica Junqueira de Camargo (CAMARGO, 2020) relata que a Escola Carioca é presente com maior frequência em manuais de arquitetura moderna, tendo havido inclusão do projeto Ministério da Educação e Saúde Pública em publicação de Le Corbusier. A Escola Paulista despertou a atenção internacional quando pesquisadores passaram a desenvolver seus trabalhos de mestrado e doutorado em universidades americanas e europeias, reforçada pela premiação de Paulo Mendes da Rocha, que recebeu o Pritzker em 2006. Tanto a Escola Carioca como a Paulista não encerram a produção arquitetônica moderna brasileira. Essas escolas apresentam a produção arquitetônica brasileira de dois grupos de profissionais. Outros profissionais e seus projetos demonstram a manifestação da arquitetura moderna no Brasil. A estação ferroviária de Mairinque, de 1905, de Vitor Dubugras, é projeto considerado inédito, por evidenciar coerência entre as relações das características técnico-construtivas e as características de linguagem, associadas ao pioneirismo do emprego do concreto no Brasil. A produção de Vitor Dubugras é marcada por constante busca pelo racionalismo. Dubugras, francês, estudou arquitetura na Argentina, radicou-se em São Paulo, foi professor de engenheiros e , 15 engenheiros-arquitetos na Escola Politécnica de São Paulo. Com relação à estação ferroviária de Mairinque, Carlos Lemos afirma (1983, p. 827): A prática da arquitetura moderna começa, então, pelo uso de uma nova tecnologia atendendo a um novo programa e, aos poucos, os demais condicionantes vão sendo atendidos com outros recursos ou enfoques. Assim não será muito fácil a gente determinar com exata precisão quais foram as primeiras obras arquitetônicas modernas brasileiras, ou pelo menos tendentes à modernidade mercê do uso racional da nova tecnologia. Cremos que a primeira manifestação moderna de arquitetura tenha ocorrido entre nós através de algumas obras, ou projetos, do arquiteto franco-argentino Victor Dubugras (1868 – 1933). Dentro de seu ecletismo, pelas conveniências do momento, em certas ocasiões, tinha lampejos personalistas de extremo bom senso como se percebe na sua estação da Estrada de Ferro Sorocabana em Mairinque, de 1907, trabalho que podemos considerar pioneiro na arquitetura moderna brasileira, quando vemos pela primeira vez o concreto armado empregado dentro de sua potencialidade plástica nas marquises atirantadas, nos torrões, nos vãos, nos espaços abrigados, segundo cálculos estruturais corretos e atendendo a um programa ferroviário que, se não era novo, era ligado a uma recente vida na região até praticamente aqueles dias vinculada ao mundo de transporte pelas tropas e ao comércio de muares na célebre feira de Sorocaba ali próxima. A primeira Casa Modernista do Brasil é a Casa da Rua Santa Cruz em São Paulo (1927- 1928), construída para ser a casa do arquiteto, Gregori Warchavchik (SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). Nesse projeto, foram apresentados alguns dos conceitos presentes na Bauhaus. A construção era desprovida de ornamentos, com volumes prismáticos brancos, apresentava inspiração “loosiana” (LIRA, 2007, p. 165). Keneth Frampton, britânico, em entrevista ao jornal El País em 2017, ao mencionar que estava revisando sua obra História crítica da arquitetura moderna, devido aos levantamentos efetuados, constatou que a primeira casa modernista do mundo é a casa da Rua Santa Cruz de Gregori Warchavchik, e esta foi construída anos antes da primeira visita de Le Corbusier ao país e de sua visita posterior para a consultoria ao projeto do Ministério da Educação e Saúde (ISELI, 2017). , 16 Conclusão Neste bloco, iniciado com as intervenções urbanas que ocorreram em cidades no final do século XIX e início do século XX, foram apresentadas características das propostas que evidenciam a influência do Modernismo nesses projetos no Brasil. Um fator presente nas cidades que sofreram interferência urbanística era o aspecto do aumento demográfico nas cidades e as consequências desse incremento populacional sem estratégias de gerenciamento das cidades: população de muito baixa renda, ex- escravos, que moravam em habitações coletivas insalubres resultando em adoecimento e epidemias. Associada a esse fato, a Proclamação da República, com o positivismo de “Ordem e Progresso” indicava que as cidades deveriam ser modernizadas e higiênicas. Nessas intervenções, havia a influência das soluções do Modernismo já praticado na Europa. Vimos a criação de cidades que consideram os princípios do Modernismo. Abordou-se Belo Horizonte, por ser considerada a primeira cidade moderna planejada e Brasília, capital do país, projeto mundialmente divulgado. Por fim, abordou-se a arquitetura moderna no país, evidenciando-se as Escolas Carioca e Paulista, que embora não englobem toda a produção arquitetônica moderna, apresentam as características desta e alguns dos integrantes das mesmas. Referências Bibliográficas ARGAN, G. C. As fontes da arte moderna. Novos Estudos, Cebrap, São Paulo, v. 2, n. 18, p. 49-56, set. 1987. Disponível em: <http://novosestudos.com.br/produto/edicao- 18>. Acesso em: 02 dez. 2020. BRASIL. Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central. Relatório do Plano Piloto de Brasília. Brasília: GDF, 1991. 78 p. Disponível em: , 17 <https://archive.org/details/relatoriodoplanopilotodebrasilia/page/n3/mode/2up>. Acesso em: 6 dez. 2020. CHING, F. D. K.; JARZOMBEK, M.; PRAKASH, V. História global da arquitetura. Tradução de Alexandre Salvaterra. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2019. [Recurso Eletrônico]. ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS (São Paulo). Escola Carioca. 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