Buscar

2 09 ET Movimento Moderno no Brasil

Prévia do material em texto

TEORIA E HISTÓRIA DA 
ARQUITETURA, URBANISMO E 
PAISAGISMO III 
 
Elaine de Alcantara Peixoto 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
, 
 
 
2 
 
 
2 MOVIMENTO MODERNO NO BRASIL 
 
Apresentação 
Iniciamos este bloco apresentando uma citação de Giulio Carlo Argan, extraída do 
ensaio As fontes da arte moderna (ARGAN, 1987, p. 49). 
"Arte Moderna" não significa arte contemporânea, ou então arte do nosso 
século ou dos nossos dias. Há um período, ao qual atualmente nos referimos 
como o das "fontes do século XX", em que se pensou que a arte, para ser 
arte, deveria ser moderna, ou seja, refletir as características e as exigências 
de uma cultura conscientemente preocupada com o próprio progresso, 
desejosa de afastar-se de todas as tradições, voltada para a superação 
contínua de suas próprias conquistas. A arte deste período é também 
conhecida como "modernista" — programaticamente moderna e, portanto, 
consciente da necessidade de desenvolver-se em novas direções, com 
frequências contraditórias em relação às anteriores. 
Argan (1987) ainda relata que a arte se manifesta em suas diferentes formas, incluindo 
arquitetura, que compõem o ambiente em que o homem está inserido. 
Na segunda metade do século XIX, a cidade passou a ser pensada em função da 
máquina, devido aos avanços decorrentes da Revolução Industrial. Na Europa, ocorre a 
migração da população de área rural para área urbana, promovendo aumento 
demográfico que requereu ações para resolver as questões relacionadas à habitação, 
aos serviços e aos novos equipamentos. Esses fatos estavam associados às mudanças 
econômicas que também se refletiram em crescimento de áreas urbanas (PEREIRA, 
2010). 
Veremos neste bloco aspectos do movimento moderno no Brasil. 
 
 
 
, 
 
 
3 
 
2.1 Arquitetura moderna no Brasil – intervenções urbanas 
As reformas urbanas que ocorreram na Europa, com início em meados do século XIX, 
como o Plano de Haussmann para Paris, produziram efeitos também em outras 
localidades fora da Europa. 
Segundo Porto et al. (2007), as cidades brasileiras: Rio de Janeiro, Salvador e Belém 
sofreram intervenções de acordo com os conceitos de Haussmann. 
No Brasil, as cidades do final do século XIX apresentaram aumento de sua população. 
Um dos fatores era que os escravos que eram responsabilidade de seus proprietários, 
a partir do final do século XIX passaram a ser responsabilidade do Estado, pois os ex-
escravos se deslocaram para os centros urbanos, que passaram a acomodar a mão de 
obra do então trabalho livre. Esse incremento da população nos centros urbanos 
ocorreu de modo desornado, não havendo gerenciamento relativo a esse aspecto nas 
cidades (RAMOS, 2003). 
As intervenções urbanas no Brasil ocorreram em várias capitais por ocasião da 
Proclamação da República, pois as reformas relacionavam-se ao positivismo de 
“Ordem e Progresso”, modificando as cidades para serem modernizadas, bonitas e 
higiênicas. A ação de embelezar a cidade era meio de viabilizar investimento, 
conduzido pelo Estado, que regulava e provia serviços públicos, e apresentava seu 
papel de normatizador do espaço urbano, da saúde pública e da estética (RAMOS, 
2003). 
Naquele momento, início do século XX, existiam vários fatores que tornavam as 
cidades um local que recebia os acidentados, aqueles com doenças profissionais, com 
ocorrência de mortalidade infantil e tuberculose. As causas para essas ocorrências 
eram: o excesso de trabalho, baixíssimos salários, alimentação insuficiente, consumo 
de álcool, habitações insalubres (casas coletivas com população aglomerada, mal 
ventiladas, desprovidas ou mal servidas de esgoto, com dejetos). Esses fatores fizeram 
com que a medicina e a higiene contribuíssem para reduzir as mortes, conforme 
Afrânio Peixoto (1941). 
, 
 
 
4 
 
Esse contexto expressava a seguinte situação (RAMOS, 2003, p. 2): 
A higiene e o combate às epidemias eram vistos tanto pelo ângulo da 
reforma social como das relações humanas. As preocupações sanitaristas 
caracterizavam as ações públicas como reflexo do pensamento positivista 
enquanto as propostas para a infraestrutura urbana refletiam o pensamento 
urbanístico internacional através da apropriação de modelos relativos ao 
saneamento e transportes. 
Dessa maneira, seguindo as ações relativas às cidades que ocorriam na Europa e nos 
Estados Unidos, havia necessidade de gerenciar as cidades e solucionar problemas de 
insalubridade, utilizando-se ciências médicas e engenharia sanitária. Profissionais 
preparados em escolas no país e também no exterior atuaram em cidades com a 
construção de ferrovias e em obras de infraestrutura urbana, elaborando projetos 
urbanísticos para áreas centrais (RAMOS, 2003). 
Nesse período, algumas das intervenções em cidades foram: 
Para o Rio de Janeiro: 
Em 1875, foi elaborado o Plano de Melhoramentos para o Rio de Janeiro, capital do 
Império. Era integrante da Comissão que elaborou o plano o engenheiro Francisco 
Pereira Passos. As ações do plano eram: obras de canalização, drenagem, alargamento, 
pavimentação de vias, saneamento de cortiços, que eram considerados como causas 
de epidemias, ações de intervenção no porto ̶ reforma e ampliação e em áreas 
próximas a este. Alguns anos mais tarde, em 1890, foi apresentado pelo engenheiro 
Galdino Pimentel o Projeto de Melhoramento e Embelezamento da cidade do Rio de 
Janeiro. Houve obras previstas e executadas pelo governo federal, como as relativas ao 
porto, e houve obras de responsabilidade do município, no início do século XX de 1902 
a 1906, quando o prefeito era Pereira Passos e elas basearam-se nas intervenções de 
Haussmann em Paris (RAMOS, 2003). 
Ocorreram a partir de 1903 obras que iniciaram a modificar os espaços públicos: a 
implantação do Passeio Público, substituição de edifícios antigos anteriormente 
localizados em ruas estreitas, retificação, alargamento, construção de novas ruas e 
, 
 
 
5 
 
avenidas, expulsão do centro de usos considerados indevidos, incluindo casas de baixa 
renda. O transporte foi por meio de companhias de bondes, que eletrificavam linhas e 
propiciavam o desenvolvimento de novos bairros. Na década de 1920, com a alegação 
de melhorar as condições de saúde do centro da cidade, a população de baixa renda 
era afastada, sendo executadas obras do sistema viário, que incluíram túneis, e houve 
o início do arrasamento do Morro do Castelo (RAMOS, 2003). 
Foram dois fatores primordiais para a reforma no Rio de Janeiro: a questão sanitária e 
a relativa ao embelezamento da cidade (RAMOS, 2003; SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 
2019). 
Para São Paulo: 
No final do século XIX em São Paulo, no período de 1872 e 1875, houve 
melhoramentos na cidade para atrair o excedente financeiro do café. As ações foram: 
iluminação pública, que utilizava lampiões de gás, e linhas de bonde a tração animal, 
interligando o centro a estações ferroviárias. Ocorreram obras de saneamento, 
substituição das casas de taipa por construções de alvenaria (RAMOS, 2003). 
Em 1896, começaram as obras de retificação dos rios Anhangabaú e Tamanduateí, 
tendo participado dessas obras o engenheiro Saturnino de Brito, bem como Theodoro 
Sampaio, que apresentava conhecimento sobre as questões relacionadas à cidade que 
surgia (RAMOS, 2003). 
A higiene pública e os transportes tornaram-se características marcantes de São Paulo. 
A especulação imobiliária ocorreu ao longo das linhas de bonde e ferrovias e nas áreas 
por estes servidas. As linhas de bonde se estenderam por ruas, avenidas, largos 
ajardinados, praças, existindo para esses trajetos maiores cuidados, mais iluminação e 
arborização. Os primeiros planos para a cidade iniciaram de acordo com elaboração de 
Antonio Prado, prefeito da cidade de 1899 a 1910. Ainda sob ação de Antonio Prado, 
em 1903, Ramos de Azevedo iniciou a construção do Teatro Municipal, cuja inspiração 
foi a Ópera de Paris (RAMOS, 2003). 
, 
 
 
6Em São Paulo, a expansão da cidade foi proposta pelo poder público segundo o 
modelo de Haussmann: grandes avenidas, bulevares, embelezamento e também de 
acordo com Camilo Sitte, que defendia a preservação histórica e seus monumentos. 
Nesse momento de modernização, então, o centro antigo foi poupado em parte e as 
ações que caracterizavam a modernidade foram aplicadas em áreas novas da cidade, 
como o Vale do Anhangabaú. Havia três propostas para o Vale: 
• uma seguindo as orientações de Haussmann, de Alexandre Albuquerque; 
• uma inspirada em Camilo Sitte, de Vitor da Silva Freire; 
• uma que modificava alguns aspectos da proposta de Freire, de Samuele das 
Neves. O impasse foi resolvido em 1911 pelo prefeito Raimundo Duprat que 
convidou Joseph Antoine Bouvard, urbanista francês, que adaptando o plano 
de Silva Freire ao gosto francês, atribuiu à cidade de São Paulo um aspecto 
europeu (RAMOS, 2003). 
Para Salvador: 
A cidade de Salvador, no início do século XX, também se apresentava como cidade 
deficiente de transporte e moradias, com a presença de cortiços e outras casas 
insalubres (em casas térreas e sobrados), construídas de modo precário e 
desordenado. As casas eram habitadas por ex-escravos alforriados, que procuravam 
trabalho no centro urbano. Ocorriam epidemias de cólera, febre amarela, tuberculose, 
febre tifoide e estes eram fatores que sinalizavam necessidade de mudança (SANTOS; 
SOUZA; BARBOSA, 2019). 
As mudanças tiveram início na parte baixa da cidade para ampliação de área e nela 
está o porto, que foi reformado, para que fossem melhoradas a circulação e a 
salubridade. Houve a implementação de ferrovia e melhorada a ligação viária entre as 
partes baixa e alta da cidade. As ações envolveram ruas mais largas – sem modificar o 
traçado urbano, pavimentação destas, incremento de infraestrutura: água, esgoto, 
iluminação, transporte urbano. As reformas iniciaram em 1912 e 1916, estendendo-se 
até 1940, com o propósito de promover fluidez, higiene, funcionalidade e novas 
tipologias arquitetônicas (SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). 
, 
 
 
7 
 
 
Para Belém: 
Para essa cidade, as mudanças também se desenvolveram em saneamento, iluminação 
pública e sistema viário. Foram conduzidas pelo intendente municipal, Antônio Lemos. 
A cidade passava pelo embelezamento, seguindo o modelo de Paris, e no bairro 
“Marco”, a abertura de vias configurava malha ortogonal e regular: quadras de 125 m 
x 250 m, ruas de 44 m de largura e transversais de 22 m de largura. O plano também 
contemplava parques e áreas verdes. O intendente também estabeleceu um código 
para as novas construções que acabou por retirar a população de baixa renda do 
centro da cidade, pois proibia a construção de barracos em bulevares já construídos 
(SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). 
*** 
Outras cidades foram reformadas como Vitória e Santos, tendo havido projetos para 
novas cidades como Belo Horizonte e, no século XX, várias cidades pelo país, incluindo 
Brasília (RAMOS; SILVA, 2005). 
No país, várias cidades foram planejadas. Belo Horizonte foi a primeira cidade 
moderna planejada no Brasil. Um relato breve pode ser lido no artigo: BH: 122 anos da 
primeira cidade moderna planejada do Brasil, disponível em: 
<https://www.caumg.gov.br/122-anos-da-primeira-cidade-planejada-do-brasil/>. 
Acesso em: 4 mar. 2021. 
As cidades que passaram por intervenções, como a reforma no final do século XIX e 
início do século XX, apresentavam necessidade de novas condições de higiene, 
combate a epidemias, modernização dos espaços públicos, infraestrutura urbana 
mínima de saneamento e transportes. Algumas das soluções adotadas como 
higienização da cidade, implantação de serviços urbanos, abertura de grandes vias/ 
avenidas, demolição de edificações velhas são características oriundas do Plano de 
Haussmann para Paris. No entanto, há também como herança os estudos e ações de 
, 
 
 
8 
 
Cerdà, que elaborou o plano de Barcelona, e para estudiosos, foi o primeiro teórico da 
disciplina urbanismo. 
2.2 As novas cidades 
Além de cidades que sofreram intervenções no final do século XIX e início do século XX 
devido às condições precárias relacionadas à higiene, falta ou deficiência de 
infraestrutura, necessidade de transporte e questões relacionadas ao embelezamento, 
necessidade que se apresentou juntamente com a República, houve também a criação 
de novas cidades. 
Belo Horizonte 
No país, como já mencionado, várias cidades foram planejadas. Belo Horizonte foi a 
primeira cidade moderna planejada no Brasil. 
A cidade de Belo Horizonte foi criada por meio de lei n. 1, de 24 de outubro de 1891, 
adicional à Constituição Estadual de Minas Gerais, que autorizou estudo para novo 
local a ser definido para a nova capital, demonstrando a intervenção estatal para 
construção dessa cidade. O contexto da época era composto por grupos de elite 
mineira, que consideravam que a proclamação da República havia sido uma ruptura 
com o passado, iniciando, assim, tempo de desenvolvimento e modernização. A 
decisão de ser Belo Horizonte a localização de novo centro administrativo do estado 
teve vários fatores envolvidos como: políticos, econômicos, salubridade e higiene. 
Houve a Comissão de Estudos e a Comissão Construtora, composta por equipe 
multidisciplinar: engenheiros, médicos sanitaristas (PASSOS, 2009). 
A cidade foi planejada por Aarão Reis, em atendimento ao governo vigente na ocasião. 
Assim, o projeto de Belo Horizonte estabeleceu a divisão da cidade em três zonas 
(PASSOS, 2009): 
• Zona urbana – área que deveria refletir as cidades consideradas mais modernas 
do mundo, deveria apresentar infraestrutura técnica e sanitária, contando com 
avenidas largas; 
, 
 
 
9 
 
• Zona suburbana – composta pela área além dos limites da Avenida do 
Contorno, limite entre as zonas urbana e suburbana; 
• Zona rural – composta por cinturão verde, região onde deveriam estar 
localizados os núcleos que abasteceriam a cidade de produtos hortifruti, além 
de matéria-prima para sua construção. 
O plano para a cidade era rígido e acabou por expulsar para as zonas suburbanas e 
rural a população de baixa renda, a exemplo do ocorrido com o Plano de Haussmann 
para Paris. Existia plano para acomodar proprietários e funcionários oriundos de Ouro 
Preto e estabelecer a localização dos diferentes usos. Essa divisão criou uma cidade 
hierarquizada, associada ao fato de que a cidade de Belo Horizonte foi construída para 
ser polo dinamizador da economia mineira, com objetivo de tentar promover a 
unidade ao estado (PASSOS, 2009). 
Importante a leitura do artigo: A formação urbana e social da cidade de Belo 
Horizonte: hierarquização e estratificação do espaço na nova capital mineira, que 
apresenta o contexto e as ações relacionadas ao plano para a cidade de Belo 
Horizonte, a primeira cidade moderna planejada no país. 
Brasília 
A cidade de Brasília foi a proposta de criar uma cidade para a capital do país no 
interior, criando foco geograficamente acessível para todo o Brasil. Juscelino 
Kubitscheck, presidente, que atuou para incrementar a industrialização no país, 
convidou Oscar Niemeyer para projetar os principais edifícios da cidade. Houve um 
concurso e Lúcio Costa tornou-se o responsável por elaborar um plano para a nova 
cidade – o plano-piloto. O plano de Lucio Costa baseava-se nos princípios do CIAM, no 
qual as funções: trabalho, habitação, lazer e circulação eram separados. A distribuição 
dos usos foi organizada em torno de dois eixos, que formam uma cruz. Uma 
característica da proposta são as vias de circulação: sistemas de múltiplas pistas nos 
eixos, com eliminação de cruzamentos, que definem a cidade para automóveis. A 
construção de uma represa no Rio Paranoá criou um lago que envolve extremidades 
, 
 
 
10 
 
norte, leste e sul de um planalto, onde a cidade está localizada (BRASIL, 1991; CHING; 
JARZOMBEK; PRAKASH,2019). 
Le Corbusier concebia a cidade moderna como realidade, considerando o território no 
qual a cidade se desenvolve. Seus estudos e contribuições se difundiram pelo mundo e 
apresentaram efeitos em intervenções urbanas realizadas após a Segunda Guerra 
Mundial. Como exemplos: “Chandigarh, em Islamabad, em Dhaka e, sobretudo, em 
Brasília, onde Lúcio Costa e Oscar Niemeyer realizaram a utopia corbusieriana em um 
local com natureza idílica, planejando a cidade e construindo seus edifícios” (PEREIRA, 
2010, p. 252). 
Figura 2.1 ̶ Plano-Piloto de Chandigarh e Plano-Piloto de Brasília 
Fonte: adaptado de Pereira (2010, p. 252). 
 
2.3 Arquitetura moderna no Brasil 
As mudanças políticas e sociais ocorridas no início do século XX, que se relacionaram 
aos avanços técnico e industrial, formaram o contexto para a arquitetura moderna. Os 
, 
 
 
11 
 
novos materiais, técnicas e tecnologias possibilitam novas formas de construção em 
arquitetura, sendo um desses materiais o concreto. 
No final do século XIX e início do século XX, existiam vários arquitetos da denominada 
primeira geração moderna, como: Walter Gropius, Mies van der Rohe, Frank Lloyd 
Wright, Le Corbusier. No Brasil, o sistema Beaux-Arts era vigente no início do século XX 
e por estar se exaurindo, os arquitetos procuravam superar esse modelo (SANTOS; 
SOUZA; BARBOSA, 2019). 
Em 1929, diante desse contexto, ocorreu a visita de Le Corbusier ao país para 
participar de conferências no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nesses eventos, acabou 
divulgando suas ideias a profissionais e estudantes. Em 1936, numa outra visita ao 
país, Le Corbusier colaborou com equipe de arquitetos que projetou a sede do 
Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro, atual Palácio Gustavo Capanema. 
Essa equipe era composta por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, entre outros. Nesse 
projeto, são identificáveis os cinco pontos da arquitetura moderna definidos por Le 
Corbusier: os pilotis, cobertura plana (terraço-jardim), planta livre, janelas horizontais 
(janelas em fita) e fachada livre (SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). Nesse projeto, 
além das referências à arquitetura de Le Corbusier, os arquitetos brasileiros, pelas 
soluções desenvolvidas, demonstraram respeito pelo entorno e preocupação com a 
implantação (MONTANER, 2011). 
No Brasil, quando aborda-se a arquitetura moderna, há menção às Escolas Carioca e 
Paulista. A Escola Carioca e a Escola Paulista denominam parte da produção moderna 
de arquitetura brasileira de acordo com a historiografia. A Escola Carioca refere-se à 
obra de um grupo de arquitetos estabelecido no Rio de Janeiro, cuja liderança 
intelectual era de Lucio Costa e a formal de Oscar Niemeyer. Essa escola dissemina seu 
estilo por volta de 1940 e 1950, e se opunha ao “International style”, que era 
hegemônico até em torno de 1930. Ainda a partir de 1940, verificam-se em várias 
cidades do Brasil projetos arquitetônicos com “a rubrica Escola Carioca” como: 
Convênio Escolar em São Paulo (1948-1952), dirigido por Hélio Duarte, e o Parque do 
Ibirapuera, cujos principais edifícios foram projetados por Oscar Niemeyer, por 
exemplo (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2017). 
, 
 
 
12 
 
Como exemplos da Escola Carioca de arquitetura estão também os seguintes projetos 
(ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2017): 
• o edifício sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) (1936), 
dos irmãos Roberto: Marcelo (1908-1964), Milton (1914-1953) e 
Maurício (1921-1996); 
• a Estação de Passageiros de Hidroaviões (1937), de Attílio Corrêa 
Lima (1901-1943); 
• o Grande Hotel de Ouro Preto (1938), de Niemeyer; 
• o Pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Nova Iorque (1938-
1939), de Costa e Niemeyer; 
• o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, projetado por Niemeyer em 
Belo Horizonte; 
• o Park Hotel São Clemente (1944), em Friburgo, Rio de Janeiro, de 
Lucio Costa; 
• o Conjunto Habitacional Pedregulho (1950-1952), de Reidy, entre 
outros. 
Da mesma maneira que a Escola Carioca, a Escola Paulista refere-se à produção de 
arquitetura moderna brasileira produzida por um grupo de arquitetos estabelecido em 
São Paulo, que era liderado por Vilanova Artigas, e sua produção arquitetônica era 
marcada pelo uso do concreto armado aparente e valorização da estrutura, sendo a 
ênfase a técnica construtiva. A Escola Paulista era crítica da Escola Carioca. Artigas era 
engenheiro-arquiteto, responsável pela melhor produção arquitetônica brasileira 
desde o concurso de Brasília, conforme Lira (2004). Alguns de seus projetos realizados 
entre os anos 1959 e 1961, que definiram as características da produção arquitetônica 
dessa escola foram: 
• Casa Mário Taques Bitencourt, 
• Ginásio de Itanhaém, 
• Ginásio de Guarulhos, 
• Anhembi Tênis Clube, 
• Garagem de Barcos do Iate Clube Santa Paula, 
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa285612/att%C3%ADlio-corr%C3%AAa-lima
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa285612/att%C3%ADlio-corr%C3%AAa-lima
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/
, 
 
 
13 
 
• Edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade 
de São Paulo (FAU/USP) (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E 
CULTURA BRASILEIRAS, 2019). 
 
Como características, essa produção apresentava: 
introversão, pela continuidade espacial garantida pela adoção de rampas e 
de iluminação zenital, e pelo emprego de grandes vãos, gerando extensos 
planos horizontais de concreto aparente e exigindo o uso de técnicas 
construtivas elaboradas, como o concreto protendido. Mais do que uma 
busca puramente estética ou técnica, essas características revelam um 
projeto político para o país, que aposta na industrialização para a superação 
do subdesenvolvimento. (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E 
CULTURA BRASILEIRAS, 2019). 
A Escola Paulista também é denominada de brutalismo Paulista, sendo integrada pelos 
seguintes arquitetos: Marcello Fragelli, Abrahão Sanovicz, João Walter Toscano, Paulo 
Mendes da Rocha, Pedro Paulo de Melo Saraiva, Rui Ohtake, Carlos Cascaldi, além de 
outros. 
Algumas das obras de Paulo Mendes da Rocha: Ginásio do Clube Atlético Paulistano, 
sede social do Jóquei Clube de Goiás, Edifício Guaimbê e Museu Brasileiro da Escultura. 
Lina Bo Bardi, arquiteta italiana radicada no Brasil, também integra essa geração. Uma 
de suas obras foi o edifício para o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Para esse 
projeto, o pavimento térreo foi liberado, assim a rua passou a integrar o museu e 
consequentemente essa solução abriu-se para a manifestação e ocupação pela 
população. Existia admiração por parte de Lina Bo Bardi da cultura popular, o que é 
notável em várias de suas obras (SANTOS; SOUZA; BARBOSA, 2019). O uso do concreto 
protendido também está presente no projeto do SESC Pompeia (1977-1986). 
Um relato sobre projeto e obra do SESC Pompeia é apresentado por Marcelo Carvalho 
Ferraz, em publicação da Vitruvius: Numa velha fábrica de tambores. Sesc Pompeia 
comemora 25 anos, disponível em: 
, 
 
 
14 
 
<https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897>. Acesso em: mar. 
2021. 
Sobre a arquitetura brutalista, Ruth Verde Zein apresenta (ZEIN, 2005, p. 242): 
O uso do concreto armado aparente parece frequentemente indicar, de per 
si, uma baliza apontando a possibilidade de estar uma determinada obra 
(após passar por um primeiro filtro de datação admissível) inserida na 
arquitetura brutalista – tanto que esta chega a ser vulgarmente denominada 
como “arquitetura do concretão”. Entretanto, não é tanto o material, mas a 
atitude como ele é empregado, que pode definir com mais clareza a 
afiliação ao brutalismo. Conforme já explicitado anteriormente, podem estar 
afinadas com o brutalismo “obras que se comprazem em trabalhar e exibir 
francamente paramentos portantes e alvenaria de tijolos de barro ou de 
blocos de concreto, oque ocorre em geral alegando-se razões econômicas, 
mas denotando certa vontade de crueza formal e sinceridade ética”. 
Monica Junqueira de Camargo (CAMARGO, 2020) relata que a Escola Carioca é 
presente com maior frequência em manuais de arquitetura moderna, tendo havido 
inclusão do projeto Ministério da Educação e Saúde Pública em publicação de Le 
Corbusier. A Escola Paulista despertou a atenção internacional quando pesquisadores 
passaram a desenvolver seus trabalhos de mestrado e doutorado em universidades 
americanas e europeias, reforçada pela premiação de Paulo Mendes da Rocha, que 
recebeu o Pritzker em 2006. 
Tanto a Escola Carioca como a Paulista não encerram a produção arquitetônica 
moderna brasileira. Essas escolas apresentam a produção arquitetônica brasileira de 
dois grupos de profissionais. 
Outros profissionais e seus projetos demonstram a manifestação da arquitetura 
moderna no Brasil. A estação ferroviária de Mairinque, de 1905, de Vitor Dubugras, é 
projeto considerado inédito, por evidenciar coerência entre as relações das 
características técnico-construtivas e as características de linguagem, associadas ao 
pioneirismo do emprego do concreto no Brasil. A produção de Vitor Dubugras é 
marcada por constante busca pelo racionalismo. Dubugras, francês, estudou 
arquitetura na Argentina, radicou-se em São Paulo, foi professor de engenheiros e 
, 
 
 
15 
 
engenheiros-arquitetos na Escola Politécnica de São Paulo. Com relação à estação 
ferroviária de Mairinque, Carlos Lemos afirma (1983, p. 827): 
A prática da arquitetura moderna começa, então, pelo uso de uma nova 
tecnologia atendendo a um novo programa e, aos poucos, os demais 
condicionantes vão sendo atendidos com outros recursos ou enfoques. 
Assim não será muito fácil a gente determinar com exata precisão quais 
foram as primeiras obras arquitetônicas modernas brasileiras, ou pelo 
menos tendentes à modernidade mercê do uso racional da nova tecnologia. 
Cremos que a primeira manifestação moderna de arquitetura tenha 
ocorrido entre nós através de algumas obras, ou projetos, do arquiteto 
franco-argentino Victor Dubugras (1868 – 1933). Dentro de seu ecletismo, 
pelas conveniências do momento, em certas ocasiões, tinha lampejos 
personalistas de extremo bom senso como se percebe na sua estação da 
Estrada de Ferro Sorocabana em Mairinque, de 1907, trabalho que podemos 
considerar pioneiro na arquitetura moderna brasileira, quando vemos pela 
primeira vez o concreto armado empregado dentro de sua potencialidade 
plástica nas marquises atirantadas, nos torrões, nos vãos, nos espaços 
abrigados, segundo cálculos estruturais corretos e atendendo a um 
programa ferroviário que, se não era novo, era ligado a uma recente vida na 
região até praticamente aqueles dias vinculada ao mundo de transporte 
pelas tropas e ao comércio de muares na célebre feira de Sorocaba ali 
próxima. 
A primeira Casa Modernista do Brasil é a Casa da Rua Santa Cruz em São Paulo (1927-
1928), construída para ser a casa do arquiteto, Gregori Warchavchik (SANTOS; SOUZA; 
BARBOSA, 2019). Nesse projeto, foram apresentados alguns dos conceitos presentes 
na Bauhaus. A construção era desprovida de ornamentos, com volumes prismáticos 
brancos, apresentava inspiração “loosiana” (LIRA, 2007, p. 165). 
Keneth Frampton, britânico, em entrevista ao jornal El País em 2017, ao mencionar 
que estava revisando sua obra História crítica da arquitetura moderna, devido aos 
levantamentos efetuados, constatou que a primeira casa modernista do mundo é a 
casa da Rua Santa Cruz de Gregori Warchavchik, e esta foi construída anos antes da 
primeira visita de Le Corbusier ao país e de sua visita posterior para a consultoria ao 
projeto do Ministério da Educação e Saúde (ISELI, 2017). 
, 
 
 
16 
 
 
Conclusão 
Neste bloco, iniciado com as intervenções urbanas que ocorreram em cidades no final 
do século XIX e início do século XX, foram apresentadas características das propostas 
que evidenciam a influência do Modernismo nesses projetos no Brasil. 
Um fator presente nas cidades que sofreram interferência urbanística era o aspecto do 
aumento demográfico nas cidades e as consequências desse incremento populacional 
sem estratégias de gerenciamento das cidades: população de muito baixa renda, ex-
escravos, que moravam em habitações coletivas insalubres resultando em 
adoecimento e epidemias. Associada a esse fato, a Proclamação da República, com o 
positivismo de “Ordem e Progresso” indicava que as cidades deveriam ser 
modernizadas e higiênicas. Nessas intervenções, havia a influência das soluções do 
Modernismo já praticado na Europa. 
Vimos a criação de cidades que consideram os princípios do Modernismo. Abordou-se 
Belo Horizonte, por ser considerada a primeira cidade moderna planejada e Brasília, 
capital do país, projeto mundialmente divulgado. 
Por fim, abordou-se a arquitetura moderna no país, evidenciando-se as Escolas Carioca 
e Paulista, que embora não englobem toda a produção arquitetônica moderna, 
apresentam as características desta e alguns dos integrantes das mesmas. 
 
Referências Bibliográficas 
ARGAN, G. C. As fontes da arte moderna. Novos Estudos, Cebrap, São Paulo, v. 2, n. 
18, p. 49-56, set. 1987. Disponível em: <http://novosestudos.com.br/produto/edicao-
18>. Acesso em: 02 dez. 2020. 
BRASIL. Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central. Relatório do Plano Piloto 
de Brasília. Brasília: GDF, 1991. 78 p. Disponível em: 
, 
 
 
17 
 
<https://archive.org/details/relatoriodoplanopilotodebrasilia/page/n3/mode/2up>. 
Acesso em: 6 dez. 2020. 
CHING, F. D. K.; JARZOMBEK, M.; PRAKASH, V. História global da arquitetura. 
Tradução de Alexandre Salvaterra. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2019. [Recurso 
Eletrônico]. 
ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS (São Paulo). Escola 
Carioca. São Paulo: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras, 2017. 
Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo8816/escola-Carioca>. 
Acesso em: 3 dez. 2020. 
ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS (São Paulo). Escola 
Paulista. São Paulo: Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras, 2019. 
Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo8817/escola-Paulista>. 
Acesso em: 3 dez. 2020. 
ISELI, B. Kenneth Frampton discovers Brazilian modern architecture. 2017. Disponível 
em: <https://www.guiding-architects.net/kenneth-frampton-brazilian-modern-
architecture>. Acesso em: 4 dez. 2020. 
LEMOS, C. A. C. Arquitetura contemporânea. In: ZANINI, W. (org.). História geral da 
arte no Brasil. São Paulo: Instituto Walther Moreira Salles, 1983, v.2, p.827. 
LIRA, J. T. C. de. Apresentação. In: ARTIGAS, V. Caminhos da arquitetura. São Paulo: 
Cosac Naify, 2004. 
LIRA, J. T. C. de. Ruptura e construção. Novos Estudos, Cebrap, São Paulo, v. 2, n. 78, p. 
145-167, 27 jul. 2007. Disponível em: <http://novosestudos.com.br/produto/edicao-
78>. Acesso em: 5 dez. 2020. 
MONTANER, J. M. Depois do movimento moderno. Barcelona: Gustavo Gili, 2011. 
PEREIRA, J. R. A. Introdução à história da arquitetura. Tradução de Alexandre 
Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2010. [Recurso Eletrônico]. 
, 
 
 
18 
 
PASSOS, D. O. R. dos. A formação urbana e social da cidade de Belo Horizonte: 
hierarquização e estratificação do espaço na nova capital mineira. Temporalidades: 
Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG, Belo 
Horizonte, v. 1, p. 37-52, dez. 2009. Disponível em: 
<https://periodicos.ufmg.br/index.php/temporalidades/article/view/5350>. Acesso 
em: 5 dez. 2020. 
PEIXOTO, A. Noções de higiene. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1941. 
PORTO, A. L. G. et al. A influência “Haussmanniana” nas intervenções urbanísticas em 
cidades brasileiras. In: Encontro Latino-Americano de Iniciação Científica, 11, 2007, São 
José dos Campos; Encontro Latino-Americano de Pós-Graduação,7, 2007, São José dos 
Campos. Anais [...]. São José dos Campos, SP: Univap, 2007. Disponível em: < 
http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2007/trabalhos/sociais/epg/EPG00214_01O.pd
f>. Acesso em: 2 dez. 2020. 
RAMOS, D. da P.; SILVA, R. S. da. Urbanismo no início do século XX no Brasil. Revista 
Ceciliana, Santos, n. 23, p. 67-77, 2005. (Semestral). Disponível em: 
<https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2261409>. Acesso em: 2 dez. 
2020. 
SANTOS, J. C. C. dos; SOUZA, D. A. de; BARBOSA, L. J. L. História da arquitetura e 
urbanismo V (Idade contemporânea). Revisão técnica de Ana Cristina Castagna. Porto 
Alegre: SAGAH, 2019. [Recurso Eletrônico]. 
CAMARGO, M. J. de. Escola Paulista, Escola Carioca: algumas considerações. In; 
Seminário Docomomo Brasil, 13, 2017, Salvador - BA. São Paulo: Docomomo, 2020. 15 
p. Disponível em: <https://docomomo.org.br/wp-
content/uploads/2020/04/119265.pdf>. Acesso em: 5 dez. 2020. 
RAMOS, D. da P. O saneamento e a cidade moderna no Brasil. In: Simpósio Nacional 
de História - ANPUH, 22, 2003, 8 p. Disponível em: 
<https://anpuh.org.br/uploads/anais-simposios/pdf/2019-
01/1548177544_a16aff952d8d38a75711f48bb5ca828c.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2020. 
, 
 
 
19 
 
ZEIN, R. V. A arquitetura da Escola Paulista Brutalista 1953-1973. 2005. 2 v. Tese 
(Doutorado) - Curso de Arquitetura, Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal 
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. Disponível em: 
<https://lume.ufrgs.br/handle/10183/5452>. Acesso em: 5 dez. 2020.

Continue navegando