Buscar

0 0 3 - Cooperação Internacional

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 73 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AULA 1 
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL 
Profª Thaise Kemer 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
A presente disciplina busca fornecer elementos estruturantes para a 
compreensão da cooperação internacional nas Relações Internacionais (RI) 
contemporâneas. Para tanto, esta primeira aula oferece uma introdução sobre o 
tema, com vistas a permitir o entendimento da cooperação a partir de uma 
perspectiva abrangente, a qual habilite os estudantes a desenvolver um 
pensamento crítico e analítico sobre essa temática. 
Assim, exploraremos cinco temas. O primeiro tema oferece uma definição 
conceitual da cooperação internacional, a qual permitirá uma visão abrangente 
sobre as diferentes formas de cooperação internacional na atualidade. O segundo 
tema, por sua vez, discutirá o papel de três fatores para a cooperação 
internacional, nomeadamente a expectativa de reciprocidade, a reputação das 
partes e a confiança entre os atores. O terceiro tema trabalhará o papel da política 
doméstica e as implicações do ambiente político interno dos países para a 
configuração de políticas de cooperação internacional. O quarto tema trabalhará 
a cooperação internacional e as instituições internacionais. Para tanto, tratará, em 
um primeiro momento, de contextos nos quais a cooperação ocorre entre muitos 
atores. Em seguida, a seção discutirá as implicações da cooperação por meio de 
instituições internacionais. Por fim, o quinto tema aprofundará o debate sobre o 
papel das organizações internacionais contemporâneas para o estabelecimento 
da cooperação. Em particular, a seção trabalha alguns exemplos históricos que 
ilustram o papel da cooperação internacional por meio de instituições para a busca 
de superação de crises. 
Dessa forma, a aula oferece um panorama amplo do conceito de 
cooperação, com vistas a estimular reflexões sobre o tema no contexto de 
exemplos práticos da realidade internacional contemporânea. 
TEMA 1 – DEFINIÇÃO E TEMAS DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL 
Segundo Dai, Snidal e Sampson (2017, p. 3), embora a cooperação 
internacional exista há muito tempo, a definição que conhecemos na atualidade 
foi consolidada somente na década de 1980. De acordo com esses autores, esse 
conceito foi trabalhado por autores como Taylor (1976) e Axelrod (1981, 1984), e 
pode ser entendido como “o comportamento coordenado de atores independentes 
 
 
3 
e, possivelmente, egoístas que seja benéfico a todos” (Dai; Snidal; Sampson, 
2017, p. 3, tradução nossa). 
Nesse contexto, segundo esses autores, a cooperação internacional pode 
ser entendida como um conceito amplo tanto em termos de atores quanto de suas 
temáticas principais. De fato, a cooperação ocorre no contexto internacional tanto 
entre indivíduos quanto entre diferentes entidades coletivas, como Estados, 
empresas e organizações não governamentais. No entanto, segundo Dai, Snidal 
e Sampson (2017, p. 3), a literatura acadêmica tende a se concentrar na 
cooperação entre Estados. 
Além disso, a cooperação pode ocorrer no contexto de arranjos diversos. 
Nesse sentido, é possível haver, por exemplo: 
• Cooperação bilateral; 
• Cooperação regional, quando ocorre em uma região geográfica delimitada, 
como é o caso, por exemplo, do Mercosul; 
• Cooperação entre países de diferentes partes do mundo, como é o caso da 
cooperação no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). 
No que se refere aos temas de cooperação, observa-se também que a 
cooperação internacional pode se referir a diferentes temas, entre os quais meio 
ambiente, segurança, saúde, direitos humanos, educação e desenvolvimento, 
entre inúmeros outros. Nesse sentido, para Sato (2010), a cooperação pode 
ocorrer tanto em temas identificados como high politics, ou “alta política”, quanto 
em temas de low politics, ou “baixa política”. Segundo Sato (2010, p. 47), durante 
a Guerra Fria, esses termos foram utilizados para tratar de temas diferentes na 
cooperação internacional: enquanto a alta política estava mais relacionada a 
questões de segurança dos Estados, a baixa política guardava relação com outros 
temas, como desenvolvimento, saúde e meio ambiente, entre outros. Com o 
tempo, porém, Sato (2010) afirma que essa divisão foi progressivamente 
perdendo o sentido, e um dos motivos para isso foi que, com o fim da Guerra Fria, 
os temas associados à baixa política ganharam um destaque crescente nas 
relações internacionais. A despeito desse fato, Sato (2010, p. 48) reconhece que 
os temas de baixa política oferecem maior acessibilidade para o estabelecimento 
de acordos de cooperação internacional, haja vista que, segundo o autor, os 
ambientes de negociação para esses temas oferecem menor tensão do que no 
contexto de negociações que envolvem a segurança dos países. 
Nas palavras do autor: 
 
 
4 
Geralmente as questões de segurança envolvem aspectos notadamente 
sensíveis, que tendem a criar um ambiente de negociação que pode ser 
bem caracterizado como o de um “jogo de soma zero”, isto é, sejam 
investimentos em sistemas de defesa ou iniciativas de formação de 
alianças estratégicas, o resultado inevitável é a mudança na relação de 
poder e capacidade estratégica. Em outras palavras, alguém está́ 
ganhando em relação a alguém que está perdendo. Por outro lado, as 
questões típicas de low politics tendem a oferecer um ambiente de 
múltiplas alternativas de ganhos e possibilidades aos atores envolvidos. 
Num acordo comercial, ainda que não seja na mesma proporção, em 
princípio todos os signatários estão ganhando. (Sato, 2010, p. 48) 
Além disso, Dai, Snidal e Sampson (2017, p. 3) destacam que a 
cooperação internacional nem sempre ocorre por meio do estabelecimento de 
acordos para benefício de ambas as partes, mas pode, também, apresentar a 
forma de sanções contra, por exemplo, determinado país ou grupo de indivíduos 
(Dai; Snidal; Sampson, 2017, p. 3). Segundo esses autores, a cooperação 
internacional pode ocorrer ainda que os atores tenham interesses conflitantes, 
pois os países podem, também nesses casos, compartilhar de alguns interesses 
em comum. Sob essa perspectiva, as situações internacionais podem ser 
compreendidas, na maioria dos casos, como oportunidades de barganha, nas 
quais as partes buscam viabilizar a distribuição do tema em questão, de forma a 
viabilizar um acordo que seja mutuamente benéfico (Dai; Snidal; Sampson, 2017, 
p. 3). 
De fato, Sato (2010, p. 50) afirma que a cooperação internacional não deve 
ser compreendida como o oposto de conflito. Mesmo em um cenário no qual os 
países assumam posições conflitantes, ainda assim pode haver pontos de 
convergência nos quais a cooperação é possível. Assim, a cooperação 
internacional deve ser compreendida como o contrário de unilateralismo (Sato, 
2010, p. 50). 
TEMA 2 – VARIÁVEIS E PERSPECTIVAS SOBRE A COOPERAÇÃO 
INTERNACIONAL 
De acordo com Dai, Snidal e Sampson (2017, p. 3), a ocorrência da 
cooperação depende diretamente tanto do contexto particular dos atores 
envolvidos em um determinado tema quanto da estratégia de ação desses atores. 
Ainda assim, os autores (2017, p. 6-7) destacam três variáveis que podem 
fornecer indicativos sobre a possibilidade de ocorrência de arranjos de 
cooperação. 
 
 
5 
A primeira variável é a expectativa de reciprocidade. Segundo os autores, 
saber que se encontrarão repetidas vezes em momentos futuros afeta a decisão 
dos atores quanto a cooperar ou não. Assim, os agentes adotam a lógica de 
responder na mesma moeda, de forma que cooperam se observarem a 
cooperação de outro, mas não cooperam caso os demais atores deixem de 
cooperar. Ainda segundo os autores, caso ambas as partes adotem essa 
perspectiva, a cooperação é fortalecida, haja vista o interesse dos atores de que 
a cooperação tenha continuidade no futuro (Dai; Snidal; Sampson, 2017, p. 6). 
A segunda variável é o cuidado dos agentes com a própria reputação. De 
fato, em um cenário em que há expectativa de cooperaçãofutura, os atores têm 
interesse em manter sua reputação no presente, pois temem retaliações que 
impeçam acordos vindouros (Dai; Snidal; Sampson, 2017, p. 6). 
Por fim, Dai, Snidal e Sampson (2017, p. 7) discutem o papel da terceira 
variável, a confiança nos outros atores para o estabelecimento de acordos de 
cooperação. Em um cenário marcado pela desconfiança, a cooperação pode: 
• ser feita por meio de acordos muito detalhados, de forma a minimizar tanto 
quanto possível os riscos de quebra de acordo; 
• dependendo do grau de desconfiança, pode chegar a ser, no limite, evitada. 
Os autores Kydd (2005, citado por Dai; Snidal; Sampson, 2017, p. 7) e 
Acharya e Ramsay (2013, citados por Dai; Snidal; Sampson, 2017, p. 7) tratam 
dessas diferentes abordagens. Segundo o primeiro, quando Estados desconfiam 
de outros Estados não se constitui um empecilho para a configuração de acordos 
internacionais, pois eles podem ser feitos por meio de acordos mais custosos, 
incluindo, por exemplo, mais especificações e a previsão de medidas para casos 
em que haja seu descumprimento (Kydd, 2005, citado por Dai; Snidal; Sampson, 
2017, p. 7). 
Para Acharya e Ramsey (2013, citados por Dai; Snidal; Sampson, 2017, p. 
7), mesmo pequenos erros de percepção podem comprometer completamente a 
cooperação e a comunicação entre atores. Essa afirmação demonstra a 
importância de haver, por exemplo, muito cuidado no contexto da comunicação 
entre os países, pois falhas nessa comunicação podem comprometer a 
cooperação internacional. Assim, a expectativa de reciprocidade, a reputação e a 
confiança podem ser consideradas variáveis relevantes para compreender os 
contextos em que a cooperação internacional ocorre, ou, ainda, deixa de ocorrer. 
 
 
6 
Outro ponto importante para compreender a cooperação internacional é 
considerá-la a partir de perspectivas teóricas da disciplina de Relações 
Internacionais (RI) que interpretem a existência da cooperação. Para ilustrar as 
diferentes perspectivas teóricas no contexto das RI, veremos brevemente as 
perspectivas do Realismo, as liberais e ainda a dos autores Robert Keohane e 
Joseph Nye (1989), que trabalharam a temática da interdependência. 
Segundo Maciel (2009, p. 226), autores vinculados ao Realismo, a exemplo 
de Hans Morgenthau, concebem o sistema internacional como uma anarquia na 
qual os Estados devem ter como prioridade a própria sobrevivência. Nessa 
perspectiva, Estados cooperam na medida de seu interesse nacional, de sua 
sobrevivência e de sua segurança. De fato, na perspectiva de Nogueira e Messari 
(2005, p. 31) a perspectiva realista não exclui a possibilidade de haver cooperação 
no sistema internacional; contudo, essa cooperação está sujeita a uma supervisão 
permanente dos Estados, de maneira a identificar quaisquer ameaças em 
potencial à segurança e ao interesse nacional do Estado. 
Os liberais, por sua vez, também concebem o sistema internacional como 
um ambiente anárquico (Nogueira; Messari, 2005, p. 61); porém, acreditam que o 
sistema internacional pode ser tornado mais cooperativo, por meio, por exemplo, 
do livre-comércio, da ênfase à democracia e da presença de instituições 
internacionais (Nogueira; Messari, 2005, p. 61). Para os liberais, o livre comércio 
estimula a cooperação internacional na medida em que os Estados que têm 
interesse no comércio mútuo têm incentivos para não guerrearem (Nogueira; 
Messari, 2005; Kemer; Pereira; Blanco, 2016). De fato, de acordo com 
Montesquieu, a guerra prejudica o comércio internacional, pois destrói vidas 
humanas e danifica a infraestrutura dos países (Kemer; Pereira; Blanco, 2016). 
As democracias, por sua vez, também favorecem a cooperação: segundo E. Kant, 
por exemplo, os governantes de democracias devem prestar contas a seu público 
interno, o qual desaprovaria esse tipo de conduta (Kemer; Pereira; Blanco, 2016). 
No âmbito do conceito da interdependência, por sua vez, um trabalho de 
destaque é a obra de Keohane e Nye (1989), intitulada Power and 
interdependence (“Poder e interdependência”). Segundo a perspectiva dos 
autores, a interdependência significou um reconhecimento de que as economias 
estavam crescentemente interligadas pela melhoria das comunicações e dos 
transportes. Com isso, os problemas passaram a ser internacionalizados, pois 
diversos temas que ocorriam no âmbito doméstico, como nas áreas da política, 
 
 
7 
da economia e da sociedade, passaram a ser originados em outros países 
(Nogueira; Messari, 2005, p. 81). Assim, em Power and interdependence os 
autores reconhecem que a crescente interdependência entre os atores 
internacionais pode constituir tanto uma fonte de conflito quanto um recurso de 
poder (Nogueira; Messari, 2005, p. 81). 
Para Nogueira e Messari (2005, p. 81), o trabalho de Keohane e Nye (1989) 
assume uma posição pioneira na tentativa de conciliar as perspectivas realista e 
liberal, e, por isso, merece destaque na presente aula. 
TEMA 3 – O PAPEL DA POLÍTICA DOMÉSTICA 
Nas Relações Internacionais, existe uma subárea denominada Análise de 
Política Externa, ou APE. A APE volta-se à análise do papel de variáveis 
domésticas para a configuração das políticas externas dos países. De fato, 
segundo Salomón e Pinheiro (2013, p. 40): “[...] a APE tem como objeto o estudo 
da política externa de governos específicos, considerando seus determinantes, 
objetivos, tomada de decisões e ações efetivamente realizadas”. Nesse contexto, 
Dai, Snidal e Sampson (2017, p. 10) destacam que o contexto da política 
doméstica exerce um papel fundamental para a cooperação internacional de um 
determinado país. 
De fato, Dai, Snidal e Sampson (2017) citam a obra de Putnam (1988) que, 
em seu texto clássico Diplomacy and domestic politics: the logic of two-level 
games, “Diplomacia e política doméstica: a lógica dos jogos de dois níveis”, 
trabalhou a relação entre a política doméstica e o escopo dos acordos 
internacionais. Nessa obra, Putnam (1988) problematiza a ação de negociadores 
internacionais, os quais devem jogar em dois níveis: no doméstico, esses 
negociadores buscam responder aos interesses dos atores internos, que têm 
agendas próprias e buscam defender seus interesses também no contexto 
internacional; no nível internacional, por sua vez, os negociadores enfrentam os 
constrangimentos do sistema internacional, o qual conta com atores com 
características e interesses particulares. Assim, ao unir a política interna e a 
política externa dos países, o modelo de Putnam, conhecido como modelo dos 
jogos de dois níveis, evidencia as inter-relações entre as esferas doméstica e 
internacional. 
Segundo Putnam (1988, p. 441), os acordos internacionais que podem ser 
realizados são aqueles que atendem aos interesses dos jogadores e das 
 
 
8 
coalizões domésticas e, ao mesmo tempo, são capazes de atender aos interesses 
dos negociadores no nível internacional. De fato, essa condição se faz necessária 
porque a aprovação de um acordo internacional depende da concordância de 
instituições internas, como o parlamento dos países. Assim, os acordos 
internacionais que são efetivamente concretizados são aqueles que receberam 
essa concordância de determinados atores internos. 
TEMA 4 – COOPERAÇÃO MULTILATERAL E INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS 
Quando há um grande número de atores, a cooperação apresenta aspectos 
que a favorecem e aspectos que a dificultam. Se há bens públicos envolvidos e 
um grande número de atores que desejam cooperar, as chances de que a 
cooperação produza ganhos coletivos se torna maior (Dai; Snidal; Sampson, 
2017, p. 9). Contudo, esse maior número de atores faz com que o grupo tenha 
uma dificuldade crescente para organizar uma ação coletiva. 
Ao mesmo tempo, um grande número de atores eleva a possibilidade de 
utilização da lógica do “carona” (ou, em inglês, free rider), que consiste em se 
aproveitar de iniciativas de outros em benefíciopróprio (Dai; Snidal; Sampson, 
2017, p. 9). 
Segundo os Dai, Snidal e Sampson (2017, p. 9), quando há acordos de 
cooperação e alguns atores não cooperam, há duas alternativas: 
1. os atores que não cooperam são facilmente identificáveis; 
2. o ator que não coopera não pode ser facilmente identificado. 
No primeiro caso, a cooperação pode ser feita por meio de acordos apenas 
com aqueles atores que desejem, de fato, cooperar. Nesse contexto, é possível 
utilizar acordos bilaterais entre as partes interessadas na cooperação. No 
segundo caso, por sua vez, todo o grupo é penalizado, pois os acordos passam a 
ser feitos apenas nos temas em que há disposição de todos em cooperar. Assim, 
as possibilidades de acordos de cooperação multilaterais tornam-se 
significativamente menores (Dai et al., 2017, p. 9). 
Ainda nesse tema, é importante tratarmos das instituições internacionais e 
de seu papel para a cooperação internacional. De fato, embora os Estados 
recebam grande atenção nessa temática, as instituições internacionais 
apresentam também papel central no âmbito da cooperação. Segundo Dai, Snidal 
e Sampson (2017, p. 12), as instituições internacionais podem ser concebidas 
 
 
9 
como agentes que estabelecem tanto regras formais de cooperação entre Estados 
quanto informais, a depender das expectativas de cada um deles e das normas 
que orientam suas condutas no plano internacional. 
Além disso, as instituições internacionais podem ampliar as possibilidades 
de cooperação entre os Estados, pois podem promover a cooperação simultânea 
em temas diferentes (Dai; Snidal; Sampson, 2017). 
Ainda segundo os autores (2017, p. 14), um exemplo desse fato foi a 
negociação do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, no contexto do Protocolo 
de Quioto. Esse acordo foi assinado em 1997 no Japão e representou um 
importante esforço internacional para o tratamento das mudanças climáticas. O 
protocolo estabeleceu compromissos internacionais para que países 
desenvolvidos reduzissem as emissões de gases de efeito estufa e, assim, criou-
se o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que uniu o tema da proteção do meio 
ambiente ao estabelecimento de projetos de desenvolvimento. Para tanto, os 
países desenvolvidos puderam implementar projetos em países em 
desenvolvimento para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Esses projetos 
geravam créditos aos países desenvolvidos, de forma a permitir o cumprimento 
das metas de redução de gases do efeito estufa que foram estabelecidas no 
âmbito do Protocolo de Quioto (MCTIC, S.d.). 
Outro aspecto importante das instituições internacionais é a sua 
capacidade de oferecer transparência às negociações internacionais. De fato, ao 
estabelecer regras claras e dar visibilidade aos seus processos e práticas, as 
instituições internacionais contribuem para a criação de um ambiente de maior 
confiança entre os Estados (Dai; Snidal; Sampson, 2017, p. 14). 
As instituições, nesse sentido, explicitam o entendimento da cooperação 
em determinados temas e, assim, estabelecem referências quanto ao tipo de 
conduta que é considerado aceitável em determinados contextos. Além disso, as 
instituições internacionais podem trabalhar para oferecer informações que 
permitam o estabelecimento de acordos entre Estados, como é o caso da Agência 
Internacional de Energia Atômica (AIEA) (Dai; Snidal; Sampson, 2017, p. 15). 
A AIEA constitui um fórum internacional para a cooperação científica em 
matéria nuclear. Um dos exemplos mais notórios da atuação dessa organização 
é o monitoramento no contexto do acordo nuclear estabelecido entre as potências 
internacionais Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, França, China, Alemanha e 
União Europeia, de um lado, e o Irã, de outro. Nesse caso, a AIEA tem o papel de 
 
 
10 
inspecionar periodicamente os depósitos de urânio do Irã, de forma a verificar o 
cumprimento do acordo internacional por esse país. 
TEMA 5 – A COOPERAÇÃO INTERNACIONAL E A BUSCA DA SUPERAÇÃO DE 
CRISES 
As instituições internacionais exerceram, historicamente, um papel central 
para a superação de crises (Sato, 2010, p. 51). No contexto do pós-Segunda 
Guerra Mundial, um arranjo de instituições internacionais foi concebido com vistas 
a lidar com os efeitos do conflito (Sato, 2010, p.51). Destacaram-se os acordos de 
Bretton Woods, de 1944, que originaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) e 
o Banco Mundial, e a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 
1945. Em particular, enquanto os acordos de Bretton Woods viabilizaram o 
reerguimento da economia e das finanças internacionais no pós-Guerra, a ONU 
foi criada com o objetivo de possibilitar a cooperação da humanidade para a 
promoção da paz e da segurança internacionais. 
Um exemplo mais recente de cooperação internacional para a superação 
de crises ocorreu após a crise financeira internacional de 2008. Naquele contexto, 
tornou-se evidente que a ação concertada entre países desenvolvidos e em 
desenvolvimento seria fundamental para a superação da crise. Assim, o grupo G-
20 tornou-se referência em matéria de cooperação internacional, pois possibilitou 
que países em desenvolvimento assumissem um papel ativo para a resolução da 
crise internacional (Sato, 2010, p. 50). 
Dai, Snidal e Sampson (2017, p. 18) afirmam que as instituições 
internacionais afetam a forma de distribuição de poder, na medida em que Estados 
em diferentes condições políticas e econômicas podem estabelecer acordos em 
temas diversos. Um debate que advém dessa análise aborda a crescente 
demanda dos países em desenvolvimento por ter um maior protagonismo em 
determinadas instituições internacionais. É o caso da crescente demanda por 
maior reforma de organismos como a ONU e o FMI. Os países subdesenvolvidos 
veem essas organizações não apenas como entidades por meio das quais ocorre 
a cooperação, mas também como contextos nos quais podem ter maior voz. 
Assim, as dinâmicas pela busca do poder se fazem presentes também nas 
organizações internacionais, e estão diretamente associadas com as dinâmicas 
de cooperação internacional. 
 
 
11 
FINALIZANDO 
A presente aula tratou o tema da cooperação internacional, de forma a 
explorar tanto seus aspectos conceituais quanto seus desdobramentos práticos. 
De fato, a cooperação internacional assume uma crescente relevância na 
atualidade, haja vista que a globalização torna urgente a necessidade de 
concertação para o enfrentamento de desafios que ultrapassam fronteiras 
políticas e geográficas. 
Entre os exemplos desses desafios, podemos citar a necessidade de 
proteção do meio ambiente, a segurança internacional e a promoção do 
desenvolvimento, entre outros. Nesse contexto, vimos que a cooperação 
internacional pode ocorrer entre diferentes tipos de atores, como indivíduos, 
Estados e organizações internacionais, e em diferentes temas. Vimos também 
que variáveis como expectativa de reciprocidade, reputação e confiança podem 
ser consideradas relevantes no processo de definição da cooperação 
internacional. 
Observamos ainda que diferentes teorias das Relações Internacionais (RI) 
apresentam perspectivas sobre a cooperação internacional. Além disso, vimos 
como a política doméstica dos Estados pode ser associada à cooperação 
internacional. 
Por fim, aprendemos, por meio de exemplos, que a cooperação 
internacional exerceu um papel histórico na superação de crises internacionais, e 
que as instituições internacionais foram decisivas nesse processo. 
 
 
 
12 
REFERÊNCIAS 
ACHARYA, A.; RAMSAY, K. W. The calculus of the security dilemma. Quarterly 
Journal of Political Science, v. 8, n. 2, p. 183-203, 2013. 
AXELROD, R. The emergence of cooperation among egoists. American Political 
Science Review, v. 75, n. 2, 306-318, jun. 1981. 
_____. The evolution of cooperation. New York: Basic Books, 1984. 
DAI, X.; SNIDAL, D.; SAMPSON, M. International cooperation theoryand 
international institutions. Oxford Research Encyclopedias: international studies, 
nov. 2017. Disponível em: 
<https://oxfordre.com/internationalstudies/view/10.1093/acrefore/9780190846626
.001.0001/acrefore-9780190846626-e-93>. Acesso em: 30 jul. 2019. 
KEMER, T.; PEREIRA, A. E.; BLANCO, R. A construção da paz em um mundo 
em transformação: o debate e a crítica sobre o conceito de peacebuilding. Revista 
de Sociologia e Política, Curitiba, v. 24, n. 60, p. 137-150, dez. 2016. Disponível 
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-
44782016000400137&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 30 jul. 2019. 
KEOHANE, R. O.; NYE, J. S. Power and interdependence. 2. ed. Glenview: 
Scott, Foresman and Company, 1989. 
KYDD, A. H. Trust and mistrust in international relations. Princeton, NJ: 
Princeton University Press, 2005. 
MACIEL, T. M. As teorias de relações internacionais pensando a cooperação. 
Ponto & Vírgula, v. 5, p. 215-229, 2009. Disponível em: 
<https://revistas.pucsp.br/pontoevirgula/article/view/14087>. Acesso em: 30 jul. 
2019. 
MECANISMO de desenvolvimento limpo. Ministério da Ciência, Tecnologia, 
Inovações e Comunicações (MCTIC), S.d. Disponível em: 
<https://www.mctic.gov.br/mctic/opencms/ciencia/SEPED/clima/mecanismo_de_
desenvolvimento_limpo/Mecanismo_de_Desenvolvimento_Limpo.html>. Acesso 
em: 30 jul. 2019. 
NOGUEIRA, J. P.; MESSARI, N. Teoria das Relações Internacionais: correntes 
e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 
 
 
13 
PUTNAM, R. D. Diplomacy and domestic politics: the logic of two-level games. 
International Organization, v. 42, n. 3, p. 427-460, 1988. 
SALOMÓN, M.; PINHEIRO, L. Análise de política externa e política externa 
brasileira: trajetória, desafios e possibilidades de um campo de estudos. Revista 
Brasileira de Política Internacional, Brasília, DF, v. 56, n. 1, p. 40-59, 2013. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v56n1/03.pdf>. Acesso em: 30 jul. 
2019. 
SATO, E. Cooperação internacional: uma componente essencial das relações 
internacionais. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação 
em Saúde (RECIIS), Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 46-57, mar. 2010. Disponível 
em: <https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/view/698>. Acesso 
em: 30 jul. 2019. 
TAYLOR, M. Anarchy and cooperation. London: Wiley, 1976. 
AULA 2 
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL 
Profª Thaíse Kemer 
 
 
2 
TEMA 1 – O QUE É A COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO 
A presente aula constitui um aprofundamento em um tema considerado 
central para o campo de estudos mais amplo da cooperação internacional: a 
Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID). Nesse sentido, o 
primeiro tema trabalha a definição de cooperação para o desenvolvimento e 
apresenta alguns dos termos mais utilizados para se referir a esse tipo de 
cooperação. O segundo tema trabalha a institucionalização da cooperação para o 
desenvolvimento, de maneira a evidenciar, com base em uma perspectiva 
histórica, alguns marcos considerados fundamentais para compreender a 
evolução desse campo. Assim, trabalharemos o cenário da pós-Segunda Guerra 
Mundial, no qual o contexto da Guerra Fria, marcado pela bipolaridade entre 
países capitalistas e países socialistas, teve implicações centrais para a forma de 
interação entre os países naquele período. O terceiro tema, por sua, explora a 
consolidação da CID após os anos 1990, com os novos desafios que o fim da 
Guerra Fria trouxe para esse campo. O quarto tema aprofunda a tipologia dos 
atores da cooperação para o desenvolvimento e, por fim, o quinto tema trabalha 
o tema da cooperação técnica, que é uma das formas possíveis de cooperação 
para o desenvolvimento, e apresenta o tratamento do Brasil com relação a essa 
temática. 
A Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, ou CID, é 
considerada, pelo autor Carlos Milani (2018, p. 21), um “campo político 
fundamental das Relações Internacionais”. De fato, o autor entende que a 
cooperação se trata de um campo político, pois, segundo esse autor, ela é dotada 
das seguintes características: (1) contém inúmeras relações de poder; (2) não 
exclui a competição, haja vista que na cooperação diferentes atores competem 
por recursos e prestígio (Milani, 2018, p. 23). 
A despeito desse reconhecimento, segundo esse autor, desde 1945, os 
montantes efetivamente gastos pelos países com essa modalidade de 
cooperação são muito inferiores aos valores gastos pelos Estados com 
armamentos e com gastos militares (Milani, 2018, p. 23). Ainda assim, Milani 
destaca a importância dessa temática como campo político, no sentido de que a 
CID engloba distintas relações de poder, entre as quais: 
[...] (1) a capacidade de agência dos Estados e, a seguir, das 
corporações transnacionais e dos atores não governamentais; (2) um 
conjunto de normas geradas e difundidas por organizações 
 
 
3 
internacionais; (3) a crença compartilhada de que a cooperação para o 
desenvolvimento em bases solidárias seria a melhor solução para as 
contradições e desigualdades geradas pelo capitalismo no plano 
internacional (Milani, 2018, p. 23). 
Nesse contexto, é importante destacar que a cooperação para o 
desenvolvimento compreende tanto países desenvolvidos como países 
emergentes, os quais, segundo Milani, competem por “legitimidade, 
reconhecimento e recursos materiais” (Milani, 2018, p. 23). Nesse contexto, a CID 
está relacionada a diferentes expressões, as quais remetem a distintas ênfases 
da cooperação internacional, como os termos Cooperação Norte-Sul, que se 
relaciona à cooperação entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento; 
cooperação Sul-Sul, que se refere à cooperação entre países em 
desenvolvimento; e a cooperação técnica entre países em desenvolvimento 
(CTPD), que se refere aos projetos de cooperação com enfoque técnico entre 
esses países (Milani, 2018, p. 22). Ainda, os países pertencentes à Organização 
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico utilizam a expressão “Ajuda 
Oficial para o Desenvolvimento”, cujo conceito trabalharemos no próximo tema. 
TEMA 2 – INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CID 
De acordo com Milani (2018, p. 35) o término da Segunda Guerra Mundial 
trouxe a ampliação expressiva das iniciativas de cooperação internacional. De 
fato, em um ambiente marcado pelas consequências trágicas daquele conflito de 
proporções globais, a cooperação internacional foi a forma utilizada para unir 
esforços em prol da reconstrução das economias nacionais que haviam sido 
destruídas pela Guerra. Com isso, Milani (2018, p. 36) destaca que houve o 
desenho de uma verdadeira “arquitetura da ajuda”, que teve entre suas 
prioridades principais a reconstrução da Europa. Nesse contexto, o Plano 
Marshall, desenhado pelos Estados Unidos para o reerguimento da economia 
europeia, revelou centralidade no processo de recuperação dos países daquele 
continente. O contexto pós-Segunda Guerra foi, ainda, marcado pelo embate 
ideológico entre as potências alinhadas aos Estados Unidos, por um lado, e à 
União Soviética, por outro. Ao mesmo tempo, havia, ainda, o cenário de 
descolonização dos países africanos e asiáticos. Assim, ao mesmo tempo em que 
os países recém-descolonizados apresentavam profundas carências no que se 
refere ao desenvolvimento, os Estados Unidos e a União Soviética buscavam 
 
 
4 
demarcar suas esferas de influência. Estabeleceu-se, assim, um contexto propício 
para uma crescente ênfase na cooperação para o desenvolvimento. 
De fato, tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética buscaram, por 
meio da bandeira do desenvolvimento, promover o alinhamento de outros países 
a suas ideologias. Nesse sentido, Milani menciona o exemplo do apoio da URSS 
à China no contexto do Plano Quinquenal desse país, que ocorreu entre 1953 e 
1957 (Milani, 2018, p. 36). Nesse sentido, a cooperação internacional passou a 
ser utilizada como um verdadeiro instrumentopara promover o alinhamento de 
outros países à ideologia dos Estados Unidos ou da União Soviética, 
especialmente considerando que a descolonização colocava, frequentemente, 
importantes disputas de poder dentro dos países em fase de libertação. Assim, ao 
apoiar as partes de diferentes conflitos, Estados Unidos e União Soviética 
buscavam conseguir que países recém-independentes ficassem alinhados a suas 
ideologias. 
Nos anos 1960, o desenvolvimento consolidou-se como uma agenda 
central para as relações internacionais. De fato, segundo Milani (2018, p. 73), em 
1961, a criação do Comitê de Ajuda ao Desenvolvimento (CAD), no âmbito da 
OCDE, representou um marco fundamental nesse processo, em razão de sua 
contribuição para promover a harmonização de conceitos e de políticas. Ainda 
segundo o autor, o CAD formulou o conceito de “Ajuda Oficial para o 
Desenvolvimento”, ou AOD. De acordo com Milani (2018, p. 73), a AOD consiste 
no envio de recursos financeiros a países presentes na lista de beneficiários da 
OCDE e às instituições multilaterais de desenvolvimento, com o objetivo de 
promover o desenvolvimento e concedido a fundo perdido em, no mínimo, 25% 
do capital enviado. 
Além disso, o desenvolvimento tornou-se crescentemente presente nas 
agendas de política externa de diferentes países. No governo brasileiro de 
Juscelino Kubitschek, surgiu a Operação Pan Americana, na qual houve o pedido 
ao governo dos Estados Unidos para que fossem feitos investimentos no 
desenvolvimento de países da América Latina. Em 1961, os Estados Unidos 
criaram a Aliança para o Progresso, um programa cujo propósito era investir no 
desenvolvimento dos países latinos; porém, na prática, tinha o interesse de 
colocar dinheiro em projetos na região, de forma a afastar a influência soviética. 
De fato, segundo Doratioto e Vidigal (2014, p. 82), a Aliança para o Progresso 
 
 
5 
teve um papel mais de realizar os interesses americanos do que de servir ao 
propósito da promoção do desenvolvimento na América Latina. 
Se, por um lado, os Estados Unidos e a União Soviética utilizavam a 
bandeira do desenvolvimento para, entre outros, demarcar suas esferas de 
influência internacional, os países do chamado Sul Global afirmavam a 
importância do desenvolvimento para suas agendas de política externa. No caso 
do Brasil, por exemplo, em 1963, Araújo Castro, Ministro das Relações Exteriores 
brasileiro, discursou no contexto da Organização das Nações Unidas em favor do 
desarmamento, do desenvolvimento e da descolonização, o que ficou conhecido 
como o “discurso dos 3D’s”. Segundo Doratioto e Vidigal (2014, p. 86), nesse 
discurso, Araújo Castro reconheceu o desenvolvimento econômico como peça 
central para a política externa brasileira e destacou, ainda, a capacidade de o 
Brasil atuar para a promoção desse tema para outros países, haja vista as 
dimensões e capacidades do país. 
No contexto mais amplo das relações Internacionais, houve, na década de 
1960, uma crescente aproximação entre o desenvolvimento e desenvolvimento 
econômico por meio do comércio. Nesse sentido, em 1964, foi criada a 
Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), 
cujo propósito foi apoiar os países em desenvolvimento em sua integração com o 
comércio internacional, com o intuito de dotá-los de ferramentas e de mecanismos 
para que houvesse a inclusão desses países em matéria comercial de forma mais 
justa (UNCTAD, s.d.). 
Os anos 1970, por sua vez, trazem novidades para a CID. De acordo com 
Milani (2018, p. 51), em 1970, a Resolução 2.626 da Assembleia Geral das 
Nações Unidas propôs que os países desenvolvidos deveriam buscar atingir a 
meta de destinar ao menos 0,7% de seu Produto Nacional Bruto para a Ajuda 
Oficial para o Desenvolvimento. 
As Nações Unidas trazem a questão do desenvolvimento também em 1974, 
ano em que uma resolução da Assembleia Geral traz o estabelecimento da Nova 
Ordem Econômica Internacional (Milani, 2018, p. 53), que discutia os diversos 
entraves presentes no caminho dos países descolonizados para que eles se 
tornassem desenvolvidos. Entre esses obstáculos, estavam, segundo a resolução 
3.201, de 01 de maio de 1974, temas como a dominação estrangeira, a 
discriminação racional, o apartheid e o neocolonialismo (idem, p. 53). 
 
 
6 
Em 1978, Milani (2018, p. 55) destaca a realização, em Buenos Aires, da 
Conferência das Nações Unidas sobre Cooperação Técnica entre Países em 
Desenvolvimento. Segundo Milani, esse documento foi inovador, na medida em 
que os países em desenvolvimento reconheceram que a superação do 
subdesenvolvimento passava pela aquisição de competências próprias e de um 
esforço autônomo, que os países denominaram “autossuficiência nacional e 
coletiva” (Milani, 2018, p. 55). 
Nos anos 1980, o mundo passou por diversas crises de endividamento, as 
quais ocorreram na esteira das crises do petróleo de 1973 e de 1979, 
respectivamente, entre outros fatores. Nesse contexto, segundo Milani, a 
cooperação para a superação de crises financeiras passou a ser associada a 
condicionalidades políticas, as quais se tornaram conhecidas posteriormente 
como Consenso de Washington (Milani, 2018, p. 56). Nesse sentido, em troca de 
cooperação, os Estados foram solicitados a aderir medidas de austeridade fiscal 
e implementar medidas políticas e econômicas condizentes com as indicações do 
Fundo Monetário Internacional (Milani, 2018, p. 56). 
TEMA 3 – A CID APÓS OS ANOS DE 1990 
Com o término da Guerra Fria, o mundo deixou de ser pautado pela 
dualidade entre países alinhados aos Estados Unidos e à União Soviética, e esse 
fato teve consequências importantes também para o tema da cooperação para o 
desenvolvimento. De fato, Milani (2018) aponta que a cooperação deixou de ser 
usada como instrumento de alinhamento ideológico entre essas duas potências e 
passou a ter uma agenda de temas e de atores crescentemente diversificada. 
Esses fatos tiveram um reflexo direto também no contexto das Nações Unidas, na 
medida em que a paz passou a ser concebida não apenas como a ausência de 
conflitos violentos, mas a significar a presença de condições para o florescimento 
das capacidades humanas, ou desenvolvimento (Milani, 2018; Kemer et al, 2016). 
De fato, em 1992, o Secretário Geral das Nações Unidas, Boutros Boutros-Ghali, 
lançou um documento chamado “Agenda para a Paz”, no qual reforçou a 
relevância do desenvolvimento para a construção da paz nos países que 
emergiam de conflitos (Milani, 2018; Kemer et al, 2016). 
De maneira geral, o autor José Lindgren Alves destaca que os anos 1990 
se tornaram conhecidos como a “década das conferências”, haja vista que, na 
esteira do fim da Guerra Fria, a humanidade passou a buscar a esfera multilateral 
 
 
7 
para tratar a cooperação internacional no contexto de diversas conferências 
associados ao desenvolvimento. Entre essas conferências, destacam-se a 
Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento de 1992 (conhecida 
como “Rio-92”) e a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Social, que ocorreu 
em Copenhague em 1995 (Alves, 1997; 2018; Novaes, 1992). 
Na esteira desse processo, nos anos 2000, foram criados os Objetivos de 
Desenvolvimento do Milênio, que consistiram em um conjunto de metas 
acordadas entre 191 países e que deveriam ser alcançadas pela humanidade em 
um horizonte de 15 anos (ODM, s.d.). As metas foram direcionadas às seguintes 
áreas: (1) acabar com a fome e a miséria; (2) oferecer educação básica de 
qualidade para todos; (3) promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das 
mulheres; (4) reduzir a mortalidade infantil; (5) melhorar a saúde das gestantes; 
(6) combater a Aids, a malária e outras doenças; (7) garantir qualidade de vida e 
respeito ao meio ambiente e (8) estabelecer parcerias para o desenvolvimento 
(ODM, s.d.). 
No início da década de 2000, o ataque terrorista às torres gêmeas,nos 
Estados Unidos, fez que o tema da segurança internacional assumisse um papel 
de centralidade nas relações internacionais, o que reduziu a atenção dos países 
à cooperação e ao multilateralismo (Milani, 2018, p. 61). Alguns anos depois, o 
tema da cooperação retornou no contexto dos debates sobre a “eficácia da ajuda” 
que ocorreram no âmbito de dois Fóruns da OCDE em Paris, em 2005, e em Acra, 
em 2008 (OCDEb, s.d.). 
De fato, nesses encontros, enfatizou-se que a que a ajuda oficial ao 
desenvolvimento deveria ser pautada pelos seguintes critérios: (1) pertencimento: 
os países em desenvolvimento devem ser os responsáveis por definir suas 
próprias estratégias para redução da pobreza, para a melhoria de suas instituições 
e para o enfrentamento da corrupção; (2) alinhamento: os países desenvolvidos 
devem se orientar por esses objetivos e utilizar sistemas locais; (3) harmonização: 
os países doadores devem simplificar procedimentos e compartilhar informações, 
de forma a evitar a duplicação de esforços; (4) resultados: o foco deve ser nos 
resultados em matéria de desenvolvimento e (5) contabilidade mútua: tanto os 
países doadores quanto os países doadores devem ter accountability quanto aos 
resultados do desenvolvimento (OCDEb, s.d.). 
 
 
 
8 
TEMA 4 – ATORES DA COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO 
Conforme aponta Milani (2018, p. 62), a preocupação com a coordenação 
de esforços internacionais é plausível, haja vista o cenário internacional com 
aumento expressivo na diversidade de atores que participam de processos de 
cooperação. Nesse contexto, Milani (2018, p. 68 e 69) apresenta seis tipos básicos 
de atores que participam da cooperação para o desenvolvimento. O primeiro tipo 
são as organizações intergovernamentais multilaterais, as quais podem ser 
universais ou regionais. 
As organizações universais podem contar com a participação de todos os 
Estados, como é o caso das Nações Unidas. As organizações regionais, por sua 
vez, podem ter membros de determinada região geográfica, como é o caso do 
Mercosul. Um segundo tipo de atores são as agências governamentais bilaterais, 
as quais são agências que trabalham o tema da cooperação no contexto da 
política externa de seus países. São exemplos dessas agências a Agência 
Brasileira de Cooperação, a agência dos Estado Unidos, ou USAID e a agência 
de cooperação da Alemanha, ou GIZ. 
Um terceiro tipo de ator são as agências governamentais descentralizadas, 
as quais abrangem, por exemplo, agências de cooperação localizadas no contexto 
de cidades em particular, a exemplo das agências existentes em cidades como 
São Paulo e o Rio de Janeiro. O quarto tipo proposto por Milani (2018) são os 
atores não governamentais, os quais podem ser, por exemplo, associações 
religiosas, fundações empresariais, movimentos sociais e universidades. O quinto 
tipo são indivíduos, a exemplo de celebridades internacionais que atuam em 
projetos de cooperação, como é o caso do Bono Vox e da Angelina Jolie, entre 
outros. Por fim, o sexto tipo consiste em associações de múltiplos doadores, entre 
as quais estão as parcerias público-privadas (Milani, 2018, p. 68 e 69). Assim, o 
trabalho de sistematização proposto por Milani (2018) permite-nos observar que 
existe uma ampla variedade de atores que atuam no contexto da cooperação 
internacional. 
TEMA 5 – INTRODUZINDO A COOPERAÇÃO TÉCNICA PARA O 
DESENVOLVIMENTO NO BRASIL 
De acordo com a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), uma das 
vertentes da cooperação para o desenvolvimento é a cooperação técnica 
 
 
9 
internacional (Brasil, 2014). Segundo a ABC, a cooperação internacional constitui, 
para o Brasil, um mecanismo central para o desenvolvimento, na medida em ela 
auxilia o país a “promover mudanças estruturais nos campos social e econômico 
brasileiro, com capacitação de instituições nacionais dos três níveis da federação, 
via transferência de tecnologia e conhecimento” (ABC, 2014). De fato, 
historicamente, a cooperação técnica permitiu ao país contribuir tanto para o 
desenvolvimento de outros países quanto, também, para que alcançássemos 
acesso a novos instrumentos e ferramentas técnicas. Um dos exemplos de maior 
notoriedade em termos de cooperação técnica foi o caso da cooperação entre o 
Brasil e o Japão em matéria agrícola. De fato, a despeito de o Cerrado Brasileiro 
apresentar características de solo que dificultariam o estabelecimento de 
plantações de alimentos, a cooperação com o Japão nos anos de 1970, no âmbito 
do “Programa de Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento Agrícola da 
região dos Cerrados”, ou PRODECER, deu um novo rumo para as terras 
agricultáveis dessa região do Brasil. Nesse sentido, as técnicas de correção da 
acidez do solo utilizadas pelos japoneses possibilitaram que o Brasil passasse a 
utilizar as terras do Cerrado para o plantio da soja (Heredia et al, 2010). Na 
atualidade, o Brasil é um dos maiores produtores mundiais desse produto. Outro 
exemplo de cooperação do Brasil é o caso da cooperação com a China em matéria 
de lançamento de satélites. Essa cooperação existe desde 1988 e permitiu a 
configuração do Programa China Brazil Earth Resources Satellite (CBERS). O 
Brasil também oferece a cooperação para o desenvolvimento a diversos países 
de variadas regiões do mundo, como os países africanos lusófonos, como Angola 
e Moçambique, o Haiti, na América Latina, e o Timor Leste, no Sudeste Asiático. 
Além disso, nossa cooperação internacional abrange um amplo escopo de temas, 
como saúde, agricultura, educação e esportes. 
Assim, evidencia-se a crescente importância da cooperação para o 
desenvolvimento para o Brasil e, em particular, para a cooperação técnica. Dada 
a importância desse tema para o Brasil, contamos com um órgão designado para 
planejar a cooperação técnica do Brasil: a Agência Brasileira de Cooperação 
(ABC). Essa agência foi criada em 1987 por meio do Decreto n. 94.973, com os 
objetivos de: 
[...] planejar, coordenar, negociar, aprovar, executar, acompanhar e 
avaliar, em âmbito nacional, programas, projetos e atividades de 
cooperação para o desenvolvimento em todas as áreas do 
conhecimento, recebida de outros países e organismos internacionais e 
aquela entre o Brasil e países em desenvolvimento, incluindo ações 
 
 
10 
correlatas no campo da capacitação para a gestão da cooperação 
técnica e disseminação de informações (ABC, s.d.) 
É interessante observar que o estabelecimento da ABC ocorreu no contexto 
da redemocratização do Brasil, e, nesse sentido, a cooperação tem sua 
importância reconhecida como um princípio da conduta do Brasil no plano 
internacional. De fato, o artigo quarto da Constituição Federal de 1988 
estabeleceu, em seu artigo quarto, que a um dos princípios que regem as relações 
internacionais do Brasil é a “cooperação entre os povos para o progresso da 
humanidade” (Brasil, 1988). 
Segundo a ABC (s.d.), os programas de cooperação técnica do Brasil 
possibilitam que o país compartilhe conhecimentos, boas práticas e experiências 
com outros países, o que fornece aos países com os quais o Brasil coopera a 
melhoria de suas condições estruturais, pois a cooperação técnica trabalha áreas 
essenciais para o aprimoramento dessas condições. Assim, a cooperação técnica 
do Brasil possibilita ao país concretizar os princípios das Relações Internacionais 
do Brasil da forma como estão presentes na Constituição e, assim, viabiliza a 
promoção do desenvolvimento em uma escala internacional com nossos 
parceiros. 
A presente aula consolidou temas centrais para compreender a cooperação 
para o desenvolvimento na atualidade. De fato, ao longo da aula, vimos a 
definição, o histórico dessa cooperação e, ainda, iniciamos o debate sobre uma 
das principais vertentes da cooperação do Brasil: a cooperação técnica para o 
desenvolvimento. No primeiro tema, vimos que, para Carlos Milani (2018, p. 21), 
a cooperaçãopode ser vista como “campo político fundamental das Relações 
Internacionais”. Vimos também que a história da cooperação para o 
desenvolvimento envolveu países capitalistas e socialistas, países desenvolvidos 
e em desenvolvimento, no contexto de relações marcadas por assimetrias de 
poder e por interesses diversos. Ainda assim, os exemplos apresentados na aula 
demonstraram que a cooperação simboliza o alcance de ganhos mesmo em 
contextos em que atores têm interesses diferentes: no âmbito do PRODECER, 
por exemplo, o Japão precisava de encontrar mercados fornecedores para sua 
alimentação (Heredia et al, 2010). Nesse sentido, a cooperação partiu de 
interesses diferentes e, mesmo assim, gerou resultados benéficos para as duas 
partes envolvidas. Dessa forma, embora a cooperação não pressuponha, 
necessariamente, a ausência de conflitos, ela pode ocorrer a despeito de 
posicionamentos diversos e de eventuais assimetrias no sistema internacional. 
 
 
11 
REFERÊNCIAS 
ABC – Agência Brasileira de Cooperação. Conceito. Disponível em: 
<http://www.abc.gov.br/CooperacaoTecnica/Conceito>. Acesso em: 01 ago. 
2019. 
_____. Histórico. Disponível em: <http://www.abc.gov.br/SobreABC/Historico>. 
Acesso em: 01 ago. 2019. 
ALVES, J. A. L. A Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Social e os paradoxos 
de Copenhague. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, v. 40, n. 
1, p. 142-166, jun. 1997. 
_____. A década das conferências: 1990-1999. 2. ed. Brasília: FUNAG, 2018. 
BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 
Brasília, DF, 05 out. 1988. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 
1 ago. 2019. 
_____. Ministério das Relações Exteriores. Diretrizes para o desenvolvimento 
da cooperação técnica internacional multilateral e bilateral. 4. ed. Brasília, DF, 
Agência Brasileira de Cooperação, 2014. 
MILANI, C. Solidariedade e interesse: motivações e estratégias na cooperação 
internacional para o desenvolvimento. Curitiba: Appris, 2018. 
DORATIOTO, C. E.; VIDIGAL, F. História das Relações Internacionais do 
Brasil. São Paulo: Saraiva, 2014. 
HEREDIA, B.; PALMEIRA, M.; LEITE, S. P. Sociedade e Economia do 
"Agronegócio" no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 25, n. 74, p. 
159-176, out. 2010. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102690920100003000
10&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 1 ago. 2019. 
KEMER, T.; PEREIRA, A. E.; BLANCO, R. A construção da paz em um mundo 
em transformação: o debate e a crítica sobre o conceito de peacebuilding. Revista 
de Sociologia e Política, Curitiba, v. 24, n. 60, p. 137-150, dez. 2016. Disponível 
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
44782016000400137&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 1 ago. 2019. 
 
 
12 
NOVAES, W. Eco-92: avanços e interrogações. Estudos Avançados, São Paulo, 
v. 6, n. 15, p. 79-93, ago. 1992. 
OCDE. Paris Declaration and Accra Declaration for Action. Disponível em: 
<http://www.oecd.org/dac/effectiveness/parisdeclarationandaccraagendaforactio
n.htm>. Acesso em: 1 ago. 2019. 
ODM. Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Disponível em: 
<http://www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-milenio>. 
Acesso em: 01 ago. 2019. 
UNCTAD. Disponível em: <https://unctad.org/en/Pages/aboutus.aspx#>. Acesso 
em: 01 ago. 2019. 
 
 
 
AULA 3 
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Profª Thaíse Kemer 
2 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula aprofundaremos o papel da cooperação Sul-Sul para o Brasil, 
haja vista que, no contexto da cooperação internacional, essa forma de 
cooperação assume centralidade para a política externa brasileira 
contemporânea. De fato, a cooperação entre países em desenvolvimento 
representa um pilar fundamental das relações internacionais do país, pois permite 
que haja a diversificação e o reforço de nossas parcerias internacionais e a busca 
conjunta da superação de desafios comuns. Nesse contexto, a aula está dividida 
em cinco partes. 
Na primeira parte, trabalharemos a importância da cooperação Sul-Sul para 
o país, de maneira a discutir seu papel para a busca da superação de 
desigualdades estruturais no contexto internacional. Além disso, debateremos 
também o papel das instituições internacionais para essa cooperação, de forma a 
evidenciar sua relevância como meio para a construção de diálogos entre países 
em desenvolvimento, os quais dispõem de poucos recursos para investir em 
negociações internacionais. Além disso, veremos que as instituições contribuem 
para dar maior segurança aos acordos internacionais, o que é vantajoso tanto 
para os países desenvolvidos quanto para aqueles em desenvolvimento. 
Na segunda parte, tratamos das linhas gerais que pautam a cooperação 
técnica brasileira, as quais incluem os dispositivos da Constituição Federal 
relativos aos princípios que regem as relações internacionais do Brasil, assim 
como os benefícios dessa cooperação. Na terceira parte, por sua vez, discutimos 
as bases normativas e políticas da cooperação para o desenvolvimento do país. 
Por fim, nas duas últimas seções, apresentamos estudos de caso que 
evidenciam como a cooperação para o desenvolvimento do Brasil ocorre na 
prática. Para tanto, enquanto esta aula trata dos temas da agricultura, da saúde e 
da educação, posteriormente daremos continuidade à exposição de mais alguns 
casos práticos, haja vista que a observação da realidade constitui um instrumento 
essencial para analisar criticamente a prática da cooperação internacional. 
TEMA 1 – A IMPORTÂNCIA DA COOPERAÇÃO SUL-SUL 
 No contexto da cooperação brasileira ao desenvolvimento internacional, a 
expressão cooperação Sul-Sul, que se refere à cooperação entre países em 
desenvolvimento, é comumente utilizada. De fato, o Brasil trabalha em conjunto 
3 
 
 
com outros países em desenvolvimento a fim de avançar agendas de interesse 
mútuo. 
De acordo com Leite (2011), os países do sul veem a cooperação Sul-Sul 
por meio das instituições internacionais como mecanismo central para suas 
políticas externas, pois: (1) a cooperação amplia as possibilidades para a correção 
de assimetrias internacionais; (2) a cooperação via instituições facilita o 
cumprimento de acordos internacionais; e (3) as instituições oferecem um canal 
de diálogo entre países com poucos recursos para investir em negociações 
internacionais. 
No que se refere ao primeiro tópico, de acordo com Leite (2011, p. 38), a 
cooperação Sul-Sul permite que países em desenvolvimento possam se 
aproximar para a defesa de normas e valores que viabilizem a busca de um 
sistema internacional menos desigual. Quanto ao segundo tópico, as instituições 
internacionais oferecem aos países em desenvolvimento mecanismos para 
facilitar a negociação, a supervisão e o acompanhamento de acordos 
internacionais, o que favorece a cooperação Sul-Sul (Leite, 2011, p. 38). 
Essas características das instituições internacionais são benéficas para os 
países em desenvolvimento, ao passo que tornam as negociações internacionais 
menos custosas para esses países, em termos materiais e humanos, e facilitam 
o diálogo entre eles e a busca da solução para desafios comuns (idem, p. 39). 
Além disso, Flemes e Saraiva (2014, p. 227) veem a cooperação como uma forma 
de possibilitar aos países em desenvolvimento uma forma de contraposição 
perante ações unilaterais das grandes potências, pois a cooperação favorece que, 
em conjunto, eles possam ter maior voz e protagonismo no contexto internacional. 
 De acordo com Leite (2011, p. 39), é importante observar, no entanto, que 
nem todos os países em desenvolvimento se apresentam da mesma forma no 
cenário internacional, pois há países, como o Brasil, que, embora estejam em fase 
de desenvolvimento, são reconhecidos como potências médias, ou, segundo Lima 
(2005), como “países intermediários”. De acordocom Lima (2005, p. 1), um país 
é reconhecido como intermediário quando preenche ao menos um dos três 
requisitos a seguir: “capacidades materiais, uma medida de autopercepção e o 
reconhecimento dos outros Estados, em especial das grandes potências”. 
Para Lima (2005, p. 2), então, o Brasil pode ser considerado um país 
intermediário, porque, embora tenha recursos e capacidades limitadas, trata-se 
de uma economia emergente e que busca assumir um protagonismo em foros 
4 
 
 
internacionais multilaterais, de maneira a buscar modificações na agenda 
internacional. Ainda que essa análise não seja recente e possa ser objeto de 
debates na contemporaneidade, ela evidencia que a cooperação oferece 
importantes instrumentos de poder para países com pouca capacidade relativa 
em termos de recursos e capacidades no contexto internacional. Assim, a próxima 
seção aprofunda a cooperação técnica do Brasil como importante ferramenta para 
a aproximação com outros países na busca da superação das desigualdades 
internacionais. 
TEMA 2 – ESTRATÉGIA DA COOPERAÇÃO TÉCNICA BRASILEIRA 
 Conforme vimos anteriormente, a cooperação para o desenvolvimento do 
Brasil fundamenta-se na Constituição Federal de 1988, a qual destaca, em seu 
art. 4º, que o Brasil se rege pelo princípio da “cooperação dos povos para o 
progresso da humanidade”. Nesse contexto, a ABC publicou um documento 
denominado “Documento de Estratégia da Agência Brasileira de Cooperação” 
(ABC, 2013), no qual expõe os princípios, prioridades geográficas e setoriais e 
benefícios da cooperação técnica para o Brasil. Quanto aos princípios, a ABC 
destaca: 
a promoção de autonomias nacionais na formulação e gestão de 
políticas públicas de desenvolvimento; a horizontalidade nas relações de 
cooperação e equilíbrio de interesses; o mútuo benefício; o respeito à 
soberania e a não ingerência de uma parte cooperante nos assuntos 
internos da outra; a não imposição de condicionalidades; o 
reconhecimento e utilização das experiências e das capacidades locais; 
e o foco no desenvolvimento de capacidades humanas, institucionais e 
produtivas como base para o alcance de avanços qualitativos, 
mensuráveis e duráveis. (ABC, 2013, p. 1) 
 Esses princípios são centrais para compreender a postura brasileira no 
contexto da cooperação internacional. A promoção de autonomias nacionais 
significa que o Brasil apoia outros países com seus projetos de desenvolvimento, 
de maneira a respeitar sua autonomia na formulação de suas próprias políticas 
públicas. A horizontalidade na cooperação, por sua vez, significa que a tomada 
de decisão entre o Brasil e os países com os quais coopera é tomada de maneira 
conjunta, sem nenhum tipo de ingerência e com o respeito mútuo à soberania das 
partes. Já a não imposição de condicionalidades significa que a cooperação com 
outros países ocorre sem que haja o estabelecimento de condicionalidades de 
qualquer natureza. Por fim, a utilização das vivências e capacidades locais é um 
princípio da cooperação brasileira que enfatiza o papel das sociedades locais para 
5 
 
 
a busca do desenvolvimento. Nesse sentido, a cooperação brasileira age para o 
reforço dessas capacidades, de maneira a dotá-las de melhores condições 
técnicas, materiais e de conhecimento para buscar a melhoria autônoma de suas 
perspectivas de futuro. 
 No que se refere às prioridades geográficas, a ABC (2013, p. 1) afirma que 
a cooperação do Brasil confere prioridade a países fronteiriços, e, de forma mais 
ampla, à América Latina, ao Caribe e à África. Quanto aos temas da cooperação, 
a ABC (2013) destaca a diversificação das temáticas trabalhadas pelo Brasil, o 
que é resultado de um mundo crescentemente globalizado, ao qual as diferentes 
agendas estão relacionadas. Esse é o caso, por exemplo, do tema da segurança 
alimentar e nutricional, que relaciona, entre outros, a cooperação em agricultura, 
para o aprimoramento no cultivo de alimentos; a cooperação em ciência e 
tecnologia, com vistas ao aprimoramento das técnicas de seleção de grãos; e o 
desenvolvimento de técnicas agrícolas sustentáveis. 
 Por fim, entre os benefícios da cooperação para o Brasil, a ABC (2013) 
destaca, entre outros: 
 Otimização de recursos: a cooperação pode trazer ganhos para as partes 
sem que haja, necessariamente, volumosos aportes de recursos materiais; 
 Projeção internacional: o Brasil beneficia-se tanto de uma melhoria de sua 
imagem no plano internacional quanto da ampliação de seus laços com 
outros países, o que pode ser altamente benéfico para a geração de 
parcerias futuras em diferentes temáticas; 
 Visibilidade às áreas de ponta: por meio da cooperação, o Brasil pode dar 
maior destaque internacional para as áreas científicas e tecnológicas nas 
quais apresenta maior desenvolvimento, o que gera reconhecimento no 
exterior quanto às capacidades do país; 
 Capacitação: a participação na cooperação gera grande aprendizado para 
as instituições que se envolvem nesse processo; (v) aprimoramento das 
políticas públicas; 
 Interação com países desenvolvidos, em desenvolvimento e organismos 
internacionais; 
 Diversificação de parcerias: o Brasil amplia suas parcerias com países de 
diferentes regiões do mundo e cria uma agenda positiva com eles. 
6 
 
 
TEMA 3 – BASES DA COOPERAÇÃO BRASILEIRA PARA O 
DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL (COBRADI) 
 De acordo com o IPEA (2018, p. 16), a Cooperação Brasileira para o 
Desenvolvimento Internacional (COBRADI) é financiada com recursos do Tesouro 
Nacional e compreende o pagamento dos recursos materiais e humanos 
necessários para viabilizar essa cooperação. Segundo o IPEA (2018, p. 296), a 
COBRADI compreende ações para a cooperação do Brasil nas seguintes áreas: 
 Cooperação técnica; 
 Cooperação educacional; 
 Cooperação científica e tecnológica; 
 Cooperação humanitária; 
 Proteção e apoio a refugiados; 
 Operações de manutenção da paz; 
 Gastos com organismos internacionais. 
Em particular, de acordo com o IPEA (2018, p. 21), a cooperação técnica 
internacional engloba o desenvolvimento de capacidades técnicas, tanto 
institucionais quanto individuais, e o “compartilhamento de práticas destinadas a 
promover mudanças qualitativas e estruturais em benefício de países terceiros” 
(IPEA, 2018, p. 21). 
 Do ponto de vista institucional, a gestão da cooperação técnica é feita pela 
Agência Brasileira de Cooperação (ABC), que atua no contexto de diferentes 
arranjos de cooperação: 
 Sul-Sul bilateral; 
 Trilateral com países desenvolvidos; 
 Trilateral com organismos internacionais; 
 Sul-Sul com organismos regionais; 
 Sul-Sul com blocos de países (IPEA, 2018, p. 21). 
No que se refere à cooperação Sul-Sul, em um primeiro momento, o Brasil 
busca identificar temas de relevância mútua com países em desenvolvimento. A 
partir desse diagnóstico, busca as instituições que disponham dos conhecimentos 
necessários para os projetos em questão (IPEA, 2018, p. 22). 
7 
 
 
 Quanto à cooperação trilateral com países desenvolvidos, o Brasil procura 
agir em parceria com países desenvolvidos na implementação de projetos em 
terceiros países (idem, p. 22). Na cooperação trilateral com organismos 
internacionais, por sua vez, o Brasil busca organismos internacionais para 
viabilizar a implementação de ações de promoção do desenvolvimento no 
contexto dos terceiros países (idem, p. 22). 
 Para viabilizar a COBRADI, o Brasil envolve diferentes instituições 
brasileiras para a implementação de projetos para o desenvolvimento. Nesse 
sentido, de acordo com o IPEA (2018, p. 25-26), entre 2014 e 2016, a ABC 
trabalhou em conjunto com mais de 126 entidades nacionais, como a Agência 
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o Banco Central do Brasil (BACEN), a 
Força Aérea Brasileira (FAB) e universidades federais, como a Universidade de 
Brasília, a Universidade de São Paulo, a UniversidadeFederal do Paraná e 
inúmeros outros atores nacionais. 
Nesse contexto, o relatório da OBS (2017) reconhece que “o Brasil não 
dispõe de uma política única, coerente e institucionalizada nacionalmente para a 
Cooperação Sul-Sul”. Assim, os diferentes projetos de cooperação envolvem 
diferentes arranjos de atores, o que, embora seja parte da natureza de projetos 
que são marcadamente multidisciplinares, também dificulta a coordenação das 
diferentes iniciativas de cooperação que contam com a participação do Brasil. 
 De acordo com Milani et al. (2016, p. 17), dados da ABC entre 2005 e 2013 
evidenciam que a agricultura, a saúde e a educação estão entre as principais 
áreas da cooperação técnica do Brasil. Dessa forma, para aprofundar o 
conhecimento sobre ela, as seções seguintes oferecerão exemplos desses 
âmbitos da cooperação nacional. 
TEMA 4 – A COOPERAÇÃO NA PRÁTICA: AGRICULTURA 
 A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) é uma 
instituição pública que descreve seu propósito da seguinte forma: “Somos uma 
empresa de inovação tecnológica focada na geração de conhecimento e 
tecnologia para agropecuária brasileira”. A EMBRAPA vincula-se ao Ministério da 
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e, segundo o IPEA (2018, p. 162), 
está atualmente presente em todos os continentes, de maneira a atuar em 
conjunto com instituições ligadas à pesquisa agropecuária no mundo todo. De 
fato, o IPEA (2018, p. 170) destaca que a EMBRAPA faz pesquisas tanto em 
8 
 
 
parceria com países desenvolvidos, como os Estados Unidos, quanto em conjunto 
com países em desenvolvimento, como os do chamado Cotton-4+Togo, grupo de 
países formado por Benin, Burkina Faso, Chade, Mali e, a partir de 2014, o Togo, 
os quais assumem grande protagonismo internacional na produção de algodão. 
 Ainda nesse contexto, vale mencionar que, em 2014, o Brasil venceu um 
contencioso contra os Estados Unidos no contexto da Organização Mundial de 
Comércio (OMC). De fato, os Estados Unidos foram acionados por terem 
oferecido subsídios a seus produtores agrícolas, o que foi contra as regras 
estabelecidas pela OMC, pois prejudicava os produtores agrícolas de outros 
países, entre eles o Brasil. Assim, o Brasil acionou os Estados Unidos na OMC e 
recebeu receitas deles como forma de compensar os prejuízos causados pelos 
subsídios. 
Dessa forma, o Brasil, por meio do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) e 
da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), fez um projeto de cooperação 
trilateral com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) denominado 
"Cooperação Sul-Sul para a promoção do trabalho decente em países produtores 
de algodão na África e América Latina” (MRE, 2014). Nesse projeto, os países do 
Cotton 4+Togo também foram beneficiados por meio das iniciativas do projeto, 
que incluíram “a sistematização, compartilhamento e adaptação de experiências 
brasileiras relevantes em áreas tais como combate à pobreza, inclusão produtiva, 
prevenção e erradicação do trabalho infantil e do trabalho forçado, entre outras” 
(MRE, 2014). Assim, o exemplo da atuação do Brasil com os Estados Unidos e os 
referidos países africanos demonstra que a cooperação pode ocorrer inclusive em 
contextos conflitivos. 
TEMA 5 – A COOPERAÇÃO NA PRÁTICA: SAÚDE E EDUCAÇÃO 
 O Brasil tem uma destacada atuação na área da saúde, atuando em fóruns 
internacionais globais e regionais sobre o tema, como a Organização das Nações 
Unidas, no caso dos primeiros, e a Organização Pan-Americana de Saúde, no 
caso dos segundos (IPEA, 2018, p. 63). Para ilustrar essa cooperação, apresenta-
se, a seguir, a cooperação internacional na área de Bancos de Leite Humano. 
A Rede de Bancos de Leite Humano é uma ação da Política Nacional de 
Aleitamento Materno que faz a coleta, o processamento e a distribuição de leite 
humano a bebês prematuros e de baixo peso e, além disso, oferece apoio à 
amamentação (RBLH, S.d.). A coordenação da rede fica a cargo da Fiocruz, cujo 
9 
 
 
modelo é, atualmente, objeto da cooperação internacional no contexto de uma 
parceria entre a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), a ABC e o Ministério da Saúde. 
De acordo com o IPEA (2018, p. 27), a Rede de Bancos de Leite Humano é a 
maior do mundo e, por isso, o Brasil coopera nessa temática com mais de vinte 
países das Américas, África e Europa. Ainda segundo o IPEA (2018, p. 27), no 
contexto dessa parceria, mais de 1,5 milhão de mulheres já foram assistidas e 
mais de 390.000 recém-nascidos já foram beneficiados. 
 Um dado relevante dessa rede é que ela evidencia o conceito de 
cooperação estruturante do Brasil na área da saúde, a qual vem sendo 
desenvolvida pela Fiocruz. Segundo o IPEA (2018, p. 63), a cooperação 
estruturante pauta-se por oferecer uma capacitação avançada não apenas para 
indivíduos, mas também no que se refere a instituições. Além disso, “Mais que 
assessorar, trata-se de buscar promover educação avançada e consolidação de 
lideranças, utilizando os próprios atores nacionais na sua implantação” (IPEA, 
2018, p. 63). Destaca-se, ainda, a ênfase nas relações de solidariedade e de não 
dependência desse tipo de intercâmbio (idem), o que dá mais chances para a 
busca da superação do subdesenvolvimento. 
 No caso da educação, por sua vez, uma das iniciativas do Brasil consiste 
na cooperação com países em desenvolvimento para proporcionar o ingresso de 
estudantes desses países em instituições de ensino superior brasileiras. De 
acordo com Milani et al. (2016, p. 18), a cooperação educacional constitui 
instrumento para melhorar a educação de estudantes provenientes de países em 
desenvolvimento e, também, pode ser compreendida como meio para aproximar 
as culturas do Brasil com outros países, por meio da aproximação dos estudantes. 
Nesse sentido, os autores destacam que: “Como lembram Pinheiro e Beshara 
(2012), cultura e educação são consideradas importantes fontes de soft power do 
Brasil na arena internacional, uma vez que contribuem para o reforço dos laços 
políticos e econômicos entre o Brasil e os países parceiros” (Milani et al., 2016, p. 
18). Assim, destacam-se as iniciativas do Programa Estudante-Convênio de Gra-
duação (PEC-G) e do Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação 
(PEC-PG). Segundo o IPEA (2018, p. 197), em 2016, 56 países da África, da Ásia 
e das Américas participavam desses programas. 
 Por fim, no campo da cooperação para a formação profissional, um projeto 
de destaque é a parceria entre a ABC e o Serviço Nacional de Aprendizagem 
Industrial (SENAI). Essa parceria viabiliza o treinamento de alunos de países 
10 
 
 
como Angola, Cabo Verde, Paraguai, Timor Leste e Guiné Bissau em áreas como 
a construção civil, costura industrial, confeitaria e mecânica de automóveis; entre 
2014 e 2016, 1069 pessoas entre 18 e 59 anos foram capacitadas no contexto 
dessa cooperação (IPEA, 2018, p. 28). 
FINALIZANDO 
 Nesta aula conhecemos os princípios e estratégias que regem a 
cooperação do Brasil e também pudemos verificar, por meio de casos práticos, 
exemplos da atuação do Brasil em agricultura, saúde e educação. Nesse contexto, 
vimos que o Brasil pauta suas relações internacionais pela cooperação 
internacional, e que essa cooperação pode trazer múltiplos benefícios ao país. A 
cooperação internacional possibilita que ampliemos nossa projeção internacional, 
pois nossas capacidades técnicas e a solidariedade passam a ser reconhecidas 
internacionalmente. 
Dessa forma, ao ampliar o prestígio internacional, temos mais 
oportunidades de desenvolvimento e de parcerias futuras. Além disso, por meio 
da cooperação internacional, o Brasil posiciona-se como um país que se orienta 
pelo diálogo e pela solidariedade nas relações internacionais, o que nos posiciona 
como um país pacífico e colaborativo. A cooperação favorece o aprimoramento 
de nossas instituições, e, como vimos, as diferentes temáticas de cooperaçãoenvolvem variados atores nacionais, ampliando nossas possibilidades de 
aprendizado. 
 
 
 
 
 
11 
 
 
REFERÊNCIAS 
FLEMES, D.; SARAIVA, M. G. Potências emergentes na ordem de redes: o caso 
do Brasil. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 57, n. 2, p. 214-232, dec. 2014. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
73292014000200214&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 6 ago. 2019. 
GUIA para monitoramento e mensuração da cooperação sul-sul brasileira. OBS – 
Observatório Brail e o Sul, 2017. Disponível em: 
<https://obs.org.br/cooperacao/1135-guia-para-monitoramento-e-mensuracao-
da-cooperacao-sul-sul-brasile>. Acesso em: 6 ago. 2019. 
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada. Cooperação brasileira para 
o desenvolvimento internacional: levantamento 2014-2016. Brasília: IPEA, 
ABC, 2018. 
LEITE, P. S. O Brasil e a operação sul-sul em três momentos: os governos 
Jânio Quadros/João Goulart, Ernesto Geisel e Luiz Inácio Lula da Silva. Brasília: 
Fundação Alexandre de Gusmão, 2011. 
MANUAL de gestão da cooperação técnica sul-sul. ABC – Agência Brasileira de 
Cooperação. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 2013. 
MILANI, C. R. S.; CONCEICAO, F. C. da; M’BUNDE, T. S. Cooperação sul-sul em 
educação e relações Brasil-PALOP. Cad. CRH, Salvador, v. 29, n. 76, p. 13-
32, abr. 2016. 
RBLH – Rede Global de Bancos de Leite Humano. Quem somos. Disponível em: 
<https://rblh.fiocruz.br/quem-somos>. Acesso em: 6 ago. 2019. 
 
AULA 4 
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Profª. Thaíse Kemer 
 
 
2 
INTRODUÇÃO 
Nesta aula, vamos expor estudos de caso sobre a cooperação para o 
desenvolvimento do Brasil, dado que a análise de casos reais configura 
instrumento imprescindível para a geração de conhecimento. 
Trabalharemos dois temas que são centrais para esse objetivo. O primeiro 
deles é a cooperação em ciência e tecnologia, crucial para a geração de 
condições estruturais que viabilizem o desenvolvimento de nossos parceiros 
internacionais. Do mesmo modo, por meio da cooperação em ciência e tecnologia 
o Brasil ganha experiência e conhecimento para aprimorar seu próprio 
conhecimento. O Sistema Nacional de Tecnologia, Ciência e Inovação, que 
congrega o conjunto de atores relacionados à produção de ciência e tecnologia 
no Brasil, é, nesse sentido, fundamental para esse processo. Além disso, 
abordaremos as relações entre a diplomacia e a ciência, já que a ciência tanto 
permite a melhoria das relações entre os países quanto possibilita avanços que 
seriam inviabilizados – ou reduzidos – caso as pesquisas científicas fossem 
desenvolvidas apenas de forma separada pelos países. 
O segundo tema, por sua vez, trata da cooperação em direitos humanos. 
Nesse contexto, após uma exposição do conceito de “direitos humanos” e de 
alguns dos principais tratados internacionais na matéria, a aula aborda a proteção 
dos refugiados. Esse tópico é de grande complexidade no mundo contemporâneo, 
pois envolve todos os cuidados necessários para que as pessoas em situação de 
refúgio sejam protegidas, adaptem-se ao país e alcancem autossuficiência 
econômica e bem-estar social. Outros temas trabalhados na aula são as 
contribuições do Brasil a organismos internacionais e às operações de 
manutenção da paz. Por fim, são expostos aspectos básicos necessários à 
formalização da cooperação técnica Sul–Sul. Nesse contexto, além de diferenciar 
os instrumentos de Acordo Básico de Cooperação Técnica e de Memorando de 
Entendimento, a aula trabalha a estratégia e a gestão de projetos de cooperação. 
Assim, são apresentados tanto a estrutura lógica quanto o ciclo de gestão que 
permitem a organização da cooperação técnica do Brasil. 
TEMA 1 – A COOPERAÇÃO NA PRÁTICA: CIÊNCIA E TECNOLOGIA 
Segundo o IPEA (2018, p. 133), no campo da cooperação científica e 
tecnológica deve-se destacar a importância do Sistema Nacional de Tecnologia, 
Ciência e Inovação, que compreende o conjunto de atores envolvidos na produção 
 
 
3 
científica e tecnológica nacional. Entre esses atores, estão “governo, empresas e 
instituições de ensino e pesquisa, associações acadêmicas, científicas e 
empresariais e sindicais e agências de fomento” (IPEA, 2018, p. 133). São 
exemplos desses atores o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e 
Comunicações (MCTIC), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 
Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior (CAPES) e a Agência Espacial Brasileira (AEB), entre inúmeros outros. 
Ainda segundo o IPEA (2018, p. 142), a cooperação na área de ciência e 
tecnologia pode ser compreendida no contexto da “diplomacia científica”, a qual 
pode ser compreendida por meio de três termos: (1) diplomacia para a ciência; (2) 
ciência para a diplomacia; e (3) ciência na diplomacia. 
Na diplomacia para a ciência, enquadram-se iniciativas diplomáticas que 
buscam viabilizar a cooperação internacional em ciência e tecnologia. De fato, 
conforme aponta o IPEA (2018), diversos experimentos científicos são altamente 
custosos, de maneira que a cooperação entre diferentes países possibilita a 
redução desses custos, ao mesmo tempo em que traz o avanço do conhecimento 
para todos os participantes. São exemplos dessa forma de cooperação a Estação 
Espacial Internacional e a a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear 
(European Organization for Nuclear Research, ou CERN) (IPEA, 2018, p. 42-43; 
CERN, 2019). 
No caso da ciência para a diplomacia, a cooperação em ciência e 
tecnologia funciona como um meio para aproximar países e, assim, contribuir para 
a melhoria de suas relações internacionais. Um exemplo dessa forma de 
cooperação foi o Programa Ciência sem Fronteiras (IPEA, 2018, p. 144). 
Por fim, no caso da ciência na diplomacia, a ciência é utilizada com vistas 
à melhoria das relações entre países em uma matéria em particular. Nesse 
contexto, o IPEA (2018, p. 145) destaca a importância do Painel 
Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). O IPCC é um órgão da 
Organização das Nações Unidas (ONU) cujo propósito é elaborar a avaliação da 
ciência relacionada às mudanças climáticas (IPCC, 2019). O órgão foi criado com 
o intuito de oferecer aos formuladores de políticas públicas avaliações sobre as 
mudanças climáticas, seus riscos e potenciais estratégias de mitigação e 
adaptação. Por essas iniciativas, o IPCC foi agraciado com o Prêmio Nobel da 
Paz no ano de 2007 (IPCC, 2019). 
 
 
 
4 
TEMA 2 – A COOPERAÇÃO NA PRÁTICA: DIREITOS HUMANOS 
De acordo com o art. 4º da Constituição Federal de 1988, o Brasil pauta 
suas relações internacionais pela prevalência dos direitos humanos. Segundo o 
relatório do IPEA (2018, p. 225), a noção contemporânea de “direitos humanos” 
está compreendida na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), que 
foi elaborada como a Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 
de dezembro de 1948. De fato, de acordo com o artigo primeiro dessa declaração: 
Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades 
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, 
seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra 
natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer 
outra condição. (ONU, 2019) 
A partir da DUDH, diversos tratados internacionais de direitos humanos 
foram elaborados para proteger os direitos humanos, entre os quais o Pacto 
Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966) e o Pacto Internacional dos 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), a Convenção Internacional sobre 
Todas as Formas de Discriminação Racial (1965); a Convenção Sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (1979), a 
Convenção Sobre os Direitos da Criança (1989) e a Convenção Sobre os Direitos 
das Pessoas com Deficiência (2006), entre outras (ONU, 2019b). 
De acordo com o IPEA

Continue navegando