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Raquel Diana Carneiro Alves Setembro de 2011 Universidade do Minho Escola de Ciências U M in ho |2 01 1 R aq ue l D ia na C ar ne iro A lv es Preparação e caracterização de electrólitos poliméricos para aplicação em dispositivos P re p a ra çã o e c a ra ct e ri za çã o d e e le ct ró li to s p o li m é ri co s p a ra a p li ca çã o e m d is p o si ti vo s Raquel Diana Carneiro Alves Setembro de 2011 Universidade do Minho Escola de Ciências Trabalho realizado sob a orientação da Professora Doutora Maria Manuela Silva Pires Silva Dissertação de Mestrado Mestrado em Técnicas de Caracterização e Análise Química Preparação e caracterização de electrólitos poliméricos para aplicação em dispositivos A todos os que fazem parte da minha vida e sem os quais eu nada sou… “Vencer não é nada, se não se teve muito trabalho; fracassar não é nada se se fez o melhor possível.” Nadia Boulanger, pianista Universidade do Minho 2010/2011 iv Agradecimentos Queria começar por agradecer à Doutora Manuela Silva a possibilidade que me deu de ter realizado este trabalho. De igual modo agradeço a sua ajuda, compreensão, preocupação… Enfim, agradeço por tudo o que me proporcionou este ano e que não foi tão pouco. Agradeço também à minha colega de laboratório tudo o que fez por mim. Luísa foste sem dúvida uma ajuda fulcral, uma grande companheira mas, principalmente, uma verdadeira amiga. Agradeço ao grupo do Doutor Luís da Universidade Nova de Lisboa pelas análises de SEM realizadas. Agradeço ao grupo do Brasil da Doutora A. Pawlicka pelas análises de Raio X e pela aplicação dos meus filmes em dispositivos electrocrómicos. Agradeço também à FCT pois parte deste trabalho foi financiado por uma bolsa de investigação, intitulada Transístores de filme fino de electrocrómicos para aplicação em janelas inteligentes - ELECTRA - PTDC/CTM/099124/2008. E como não poderia deixar de ser um agradecimento a todos aqueles que me são mais queridos. Aos meus pais por tudo o que me proporcionaram até hoje pois se sou a pessoa que sou a eles o devo. Ao meu maninho que está sempre do meu lado. Ao Simão por ser um namorado excepcional e um pilar na minha vida. À Virgínia e ao Manuel que são como uns pais para mim e me ajudam imenso. E para terminar à minha grande amiga Matilde que está sempre disponível para me apoiar. A todos os que contribuíram para a conclusão da minha tese o meu sincero e muito obrigado. Universidade do Minho 2010/2011 v Resumo Nos últimos anos as preocupações de arquitectos e industriais têm-se voltado para a produção de dispositivos com a capacidade de alterar a coloração de janelas ou superfícies. Tais dispositivos, designados de dispositivos electrocrómicos (ECD), permitem não só o controlo da transmissão ou reflexão da luz visível e energia solar como também um melhoramento a nível de conforto e eficiência energética. Os ECD até então produzidos são de vidro e recorrem a electrólitos líquidos, o que apresenta algumas desvantagens. Um dos problemas está relacionado com o facto de se utilizarem substratos grandes e unidades de produção dispendiosas. Por outro lado, o facto de o electrólito ser líquido complica a deposição de forma uniforme, levanta problemas de segurança para a saúde (devido às soluções utilizadas) e ainda, provoca problemas no controlo da transmitância (devido ao elevado tempo de comutação, o que limita a utilização em grandes áreas). É neste sentido que surge a intensa procura de novos materiais, mais baratos e com capacidade de suportar tais inconvenientes. O âmbito desta tese consiste em sintetizar novos materiais que possam ser utilizados como electrólitos sólidos poliméricos e que tenham a capacidade de substituir os mais tradicionais. Será também estudada a influência de alguns componentes constituintes dos electrólitos e, posteriormente, estes serão analisados segundo diversas técnicas. A Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC), Análise Termogravimétrica (TGA), Condutividade Iónica, Voltametria Cíclica, Microscopia Electrónica de Varrimento (SEM) e Raio X serão os métodos de análise utilizados. Foram ainda testados alguns dos electrólitos em dispositivos electrocrómicos. Universidade do Minho 2010/2011 vi Abstract In recent years the concerns of architects and manufacturers have turned to the production of devices with the ability to change the colour of windows or surfaces. Such devices, known as electrochromic devices (ECD) allow not only the control of transmission or reflection of visible light and solar energy as well as an improved level of comfort and energy efficiency. The ECD ever produced are glass and turn to liquid electrolytes, which have some disadvantages. One of the problems is related to the fact of using large substrates, and manufacturing costly. On the other hand, the fact that the electrolyte to be liquid complicating the deposition of a uniform, poses security problems for the health (due to the solutions used) and also causes problems in controlling the transmittance (due to the high commuting time, which limited use in large areas). In this sense, there is the intense search for new materials, cheaper and able to endure such inconveniences. The scope of this thesis is to synthesize new materials that can be used as solid polymer electrolytes and have the ability to replace the more traditional. It will also study the influence of some constituent components of the electrolyte and then it will be analyzed by various techniques. The Differential Scanning Calorimetry (DSC), Thermogravimetric Analysis (TGA), Ionic Conductivity, Cyclic Voltammetry, Scanning Electron Microscopy (SEM) and X-ray analysis methods are used. Some electrolytes were also being tested in electrochromic devices prototypes. Universidade do Minho 2010/2011 vii Índice Geral Agradecimentos ................................................................................................. iv Resumo ............................................................................................................... v Abstract .............................................................................................................. vi Índice Geral ....................................................................................................... vii Índice de Figuras ................................................................................................ xi Índice de Tabelas ............................................................................................. xvi Siglas e Abreviaturas ...................................................................................... xvii Capítulo 1 ........................................................................................................... 1 1. Breve Introdução ......................................................................................... 2 Capítulo 2 ........................................................................................................... 4 2. Electrólitos sólidos poliméricos ................................................................... 5 2.1 Definição ................................................................................................ 5 2.2 Constituição ........................................................................................... 8 2.2.1 Sais ............................................................................................... 9 2.2.1.1 Triflato de Magnésio (Mg(CF3SO3)2) ................................... 11 2.2.1.2 Triflato de Zinco (Zn(CF3SO3)2) ........................................... 11 2.2.2 Polímeros hospedeiros ............................................................... 12 2.2.2.1 Agar .....................................................................................14 2.2.2.2 Gelatina ............................................................................... 15 2.2.3 Plastificantes ............................................................................... 17 2.2.4 Agentes de ligação cruzada........................................................ 18 2.3 Aplicações ........................................................................................... 18 2.3.1 Baterias de estado sólido ........................................................... 18 2.3.2 Sensores..................................................................................... 20 Universidade do Minho 2010/2011 viii 2.3.3 Dispositivos electrocrómicos ....................................................... 21 2.3.4 Outras aplicações ....................................................................... 25 2.4 Técnicas de caracterização ................................................................. 25 2.4.1 Análises térmicas ........................................................................ 25 2.4.1.1 Análise Termogravimétrica (TGA) ....................................... 25 2.4.1.2 Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC) ..................... 28 2.4.2 Espectroscopia de Impedância Complexa .................................. 31 2.4.3 Voltametria Cíclica ...................................................................... 34 2.4.4 Difracção de Raio X .................................................................... 36 2.4.5 Microscopia Electrónica de Varrimento (SEM) ........................... 36 Referências ................................................................................................... 38 Capítulo 3 ......................................................................................................... 46 3. Parte Experimental .................................................................................... 47 3.1 Caixas de luvas ................................................................................... 47 3.2 Síntese dos electrólitos sólidos poliméricos ........................................ 50 3.2.1 Electrólitos sólidos poliméricos de agar ...................................... 50 3.2.2 Electrólitos sólidos poliméricos de gelatina ................................ 52 3.3 Análises térmicas ................................................................................. 55 3.3.1 Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC) ............................ 55 3.3.2 Análise Termogravimétrica (TGA) .............................................. 57 3.4 Condutividade iónica ........................................................................... 60 3.5 Estabilidade electroquímica ................................................................. 62 3.6 Difracção de Raios X ........................................................................... 64 3.7 Microscopia Electrónica de Varrimento (SEM) .................................... 65 3.8 Aplicação em dispositivos electrocrómicos .......................................... 65 Referências ................................................................................................... 67 Universidade do Minho 2010/2011 ix Capítulo 4 ......................................................................................................... 69 4. Resultados e Discussão ............................................................................ 70 4.1 Sistema de Agar e Triflato de Magnésio (AgarnMg(CF3SO3)2) ............ 70 4.1.1 Análises térmicas ........................................................................ 70 4.1.1.1 Análise Termogravimétrica (TGA) ....................................... 70 4.1.1.2 Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC) ..................... 72 4.1.2 Espectroscopia de Impedância Complexa .................................. 73 4.1.3 Voltametria Cíclica ...................................................................... 75 4.1.4 Difracção de Raio X .................................................................... 75 4.1.5 Microscopia Electrónica de Varrimento (SEM) ........................... 76 4.1.6 Aplicação nos dispositivos electrocrómicos ................................ 77 4.2 Sistema de Gelatina e Triflato de Magnésio (GelatinanMg(CF3SO3)2) . 79 4.2.1 Análises térmicas ........................................................................ 79 4.2.1.1 Análise Termogravimétrica (TGA) ....................................... 79 4.2.1.2 Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC) ..................... 80 4.2.2 Espectroscopia de Impedância Complexa .................................. 81 4.2.3 Voltametria Cíclica ...................................................................... 83 4.2.4 Microscopia Electrónica de Varrimento (SEM) ........................... 83 4.3 Sistema de Agar e Triflato de Zinco (AgarnZn(CF3SO3)2) .................... 84 4.3.1 Análises térmicas ........................................................................ 84 4.3.1.1 Análise Termogravimétrica (TGA) ....................................... 84 4.3.1.2 Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC) ..................... 85 4.3.2 Espectroscopia de Impedância Complexa .................................. 86 4.3.3 Voltametria Cíclica ...................................................................... 87 4.4 Sistema de Gelatina e Triflato de Zinco (GelatinanZn(CF3SO3)2) ........ 88 4.4.1 Análises térmicas ........................................................................ 88 4.4.1.1 Análise Termogravimétrica (TGA) ....................................... 88 Universidade do Minho 2010/2011 x 4.4.1.2 Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC) ..................... 89 4.4.2 Espectroscopia de Impedância Complexa .................................. 90 4.4.3 Voltametria Cíclica ...................................................................... 91 4.4.4 Microscopia Electrónica de Varrimento (SEM) ........................... 92 4.4.5 Aplicação nos dispositivos electrocrómicos ................................ 93 4.5 Efeito do formaldeído ........................................................................... 94 4.5.1 Análises térmicas ........................................................................ 94 4.5.1.1 Análise Termogravimétrica (TGA) ....................................... 94 4.5.1.2 Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC) ..................... 96 4.5.2 Espectroscopia de Impedância Complexa .................................. 96 4.6 Efeito do glicerol .................................................................................. 97 4.6.1 Sistema de Gelatina e Triflato de Magnésio ............................... 98 4.6.2 Sistema de Gelatina e Triflato de Zinco .................................... 101 Referências ................................................................................................. 105 Capítulo 5 ....................................................................................................... 107 5. Conclusão ............................................................................................... 108 Anexo ............................................................................................................. 113 Universidade do Minho 2010/2011 xi Índice de Figuras Capítulo 2 ........................................................................................................... 4 Figura 2.1 - Reacção de síntese do PEO ...................................................... 12 Figura 2.2 - Estrutura do PEO ....................................................................... 13 Figura 2.3 - Estrutura da agarose ................................................................. 14 Figura 2.4 - Esquema da configuração de um dispositivo electrocrómico .... 23 Figura 2.5 - Componentes de umaparelho de TGA ..................................... 26 Figura 2.6 - Curva exemplificativa de uma análise de TGA, neste caso de algumas amostras poliméricas ...................................................................... 27 Figura 2.7 - Exemplificação da determinação da temperatura do início de degradação ................................................................................................... 27 Figura 2.8 - Curva genérica de DSC de uma amostra com um comportamento ideal .............................................................................................................. 29 Figura 2.9 - Exemplo de um DSC de fluxo de calor ...................................... 30 Figura 2.10 - Exemplo de DSC de compensação de potência ...................... 30 Figura 2.11 - Diagrama de Nyquist ............................................................... 32 Figura 2.12 - Exemplificação da determinação da resistência ...................... 33 Figura 2.13 - Voltamograma cíclico de um di-ureasil e LiTFSI ...................... 34 Capítulo 3 ......................................................................................................... 46 Figura 3.1 - Laboratório de Electrólitos Poliméricos do Departamento de Química da Universidade do Minho .............................................................. 47 Figura 3.2 - Câmara preparativa ................................................................... 47 Figura 3.3 - Caixa de caracterização ............................................................ 48 Figura 3.4 - Câmara de armazenamento. ..................................................... 48 Figura 3.5 - a) Sistema regulador de pressão e b) borbulhador de parafina . 49 Figura 3.6 - Compartimento lateral para acesso ao interior das caixas ........ 49 Figura 3.7 - Portas de acesso para manuseio no interior das caixas ............ 50 Universidade do Minho 2010/2011 xii Figura 3.8 - Aspecto dos filmes de agar ........................................................ 51 Figura 3.9 - Aspecto dos filmes de gelatina .................................................. 53 Figura 3.10 - Forno da amostra e da referência do equipamento de DSC .... 55 Figura 3.11 - a) Aparelho de DSC e b) acessório de arrefecimento .............. 56 Figura 3.12 - Cadinho de DSC ...................................................................... 56 Figura 3.13 - a) Base, tampa e agulha de DSC; b) prensa [10]; c) cadinho selado ........................................................................................................... 57 Figura 3.14 - Equipamento de TGA .............................................................. 58 Figura 3.15 - Porta-amostra de TGA ............................................................. 59 Figura 3.16 - Limpeza do cadinho de TGA ................................................... 59 Figura 3.17 - a) Constituintes de uma célula de condutividade; b) Imagem real da célula de condutividade utilizada .............................................................. 60 Figura 3.18 - Exemplificação da montagem utilizada para as medições de condutividade ................................................................................................ 61 Figura 3.19 - Aparelho utilizado nas análises de condutividade.................... 61 Figura 3.20 - Microeléctrodo de ouro ............................................................ 62 Figura 3.21 - Montagem utilizada na realização de ensaios de voltametria cíclica ............................................................................................................ 63 Figura 3.22 - Microeléctrodo e material utilizado no seu polimento .............. 64 Figura 3.23 - Difractómetro de Raio X ........................................................... 64 Figura 3.24 - Ilustração de um protótipo de um dispositivo electrocrómico ... 66 Capítulo 4 ......................................................................................................... 69 Figura 4.1 - Curva de TGA de agar ............................................................... 70 Figura 4.2 - TGA dos electrólitos de AgarnMg(CF3SO3)2............................... 71 Figura 4.3 - Temperatura de degradação dos electrólitos de agar e triflato de magnésio ...................................................................................................... 71 Figura 4.4 - Análises de DSC dos electrólitos de AgarnMg(CF3SO3)2. .......... 73 Universidade do Minho 2010/2011 xiii Figura 4.5 - Condutividade iónicas dos electrólitos de AgarnMg(CF3SO3)2 ... 73 Figura 4.6 - Isotérmicas da condutividade iónica em função da percentagem de sal ............................................................................................................ 74 Figura 4.7 - Voltamograma cíclico da amostra Agar32.30%Mg(CF3SO3)2, obtido à temperatura ambiente, com direcção inicial de varrimento anódica ........... 75 Figura 4.8 - Difracção de Raio X do electrólito Agar16.79%Mg(CF3SO3)2 ........ 76 Figura 4.9 - Figura de SEM do electrólito Agar16.79%Mg(CF3SO3)2 ................ 77 Figura 4.10 - Voltamograma cíclico da janela electrocrómica com a configuração WO3/Electrólito de Agar e Triflato de Magnésio/CeO2-TiO2 ..... 77 Figura 4.11 - Densidades de carga dos ECDs com electrólitos de agar e Mg(CF3SO3)2 ................................................................................................. 78 Figura 4.12 - Curvas de TGA das amostras de GelatinanMg(CF3SO3)2 ........ 79 Figura 4.13 - Temperaturas de degradação das amostras de geletina e triflato de magnésio.................................................................................................. 80 Figura 4.14 - Curvas de DSC das composições GelatinanMg(CF3SO3)2 ...... 81 Figura 4.15 - Condutividade iónicas dos electrólitos de Gelatinan Mg(CF3SO3)2 ................................................................................................. 81 Figura 4.16 - Isotérmicas da condutividade iónica em função da percentagem de sal ............................................................................................................ 82 Figura 4.17 - SEM da amostra Gelatina9.12%Mg(CF3SO3)2 ............................ 83 Figura 4.18 - Termogramas dos electrólitos de agar e triflato de zinco ......... 84 Figura 4.19 - Temperaturas de degradação do sistema AgarnZn(CF3SO3)2 . 85 Figura 4.20 - Curvas de DSC das composições AgarnZn(CF3SO3)2 ............. 85 Figura 4.21 - Condutividade iónica do sistema de AgarnZn(CF3SO3)2 .......... 86 Figura 4.22 - Isotérmicas das amostras de AgarnZn(CF3SO3)2 ..................... 86 Figura 4.23 - Voltamograma cíclico da composição Agar33.08%Zn(CF3SO3)2 obtido à temperatura ambiente, com direcção inicial de varrimento anódica 87 Figura 4.24 - Temperaturas de degradação do sistema Gelatinan Zn(CF3SO3)2 .................................................................................................. 88 Universidade do Minho 2010/2011 xiv Figura 4.25 - Curvas de TGA das amostras de gelatina e triflato de zinco ... 89 Figura 4.26 - Curvas de DSC das composições de gelatina e triflato de zinco .............................................................................................................. 89 Figura 4.27 - Condutividade iónica dos electrólitos de Gelatinan Zn(CF3SO3)2 .................................................................................................. 90 Figura 4.28 - Isotérmicas das amostras de gelatina e triflato de zinco .......... 91 Figura 4.29 - Voltamograma da amostra Gelatina7.01%Zn(CF3SO3)2 ............. 92 Figura 4.30 - SEM da amostra de Gelatina4.80%Zn(CF3SO3)2 ........................ 92 Figura 4.31 - Voltamograma cíclico da janela electrocrómica com a configuração WO3/Electrólito de Gelatina e Triflato de Zinco/CeO2-TiO2 ...... 93Figura 4.32 - Densidades de carga dos ECDs com electrólitos de gelatina e Mg(CF3SO3)2 ................................................................................................. 94 Figura 4.33 - Curvas de TGA das amostras de gelatina e triflato de magnésio com e sem formaldeído ................................................................................. 95 Figura 4.34 - Temperaturas de degradação das amostras com e sem formaldeído ................................................................................................... 95 Figura 4.35 - Curvas de DSC da matriz e das composições de gelatina e triflato de magnésio com e sem formaldeído ................................................ 96 Figura 4.36 - Condutividade iónica das amostras de gelatina com e sem formaldeído ................................................................................................... 96 Figura 4.37 - Termogramas das amostras de gelatina com diferentes quantidades de glicerol ................................................................................. 98 Figura 4.38 - Temperaturas de degradação das amostras de gelatina com 0.5 g e 1.25 g de glicerol ..................................................................................... 99 Figura 4.39 - Curvas de DSC dos electrólitos de GelatinanMg(CF3SO3)2 com maior e menor quantidade de glicerol ........................................................... 99 Figura 4.40 - Condutividade iónica dos electrólitos de gelatina e triflato de magnésio com diferentes proporções de glicerol ........................................ 100 Universidade do Minho 2010/2011 xv Figura 4.41 - Voltamograma cíclico da amostra de gelatina e triflato de magnésio com maior quantidade de glicerol, obtido à temperatura ambiente e com direcção inicial de varrimento anódica ................................................ 101 Figura 4.42 - Termogramas das amostras de gelatina e triflato de zinco com diferentes quantidades de glicerol ............................................................... 101 Figura 4.43 - Temperaturas de degradação das amostras de gelatina e triflato de zinco com 0.5 g e 1.25 g de glicerol ....................................................... 102 Figura 4.44 - Curvas de DSC dos electrólitos de gelatina e triflato de zinco com maior e menor quantidade de glicerol ................................................. 102 Figura 4.45 - Condutividade iónica dos electrólitos de gelatina e triflato de zinco com diferentes proporções de glicerol ............................................... 103 Figura 4.46 - Voltamograma cíclico da amostra de gelatina e triflato de zinco com maior quantidade de glicerol, obtido à temperatura ambiente e com direcção inicial de varrimento anódica ........................................................ 103 Universidade do Minho 2010/2011 xvi Índice de Tabelas Capítulo 2 ........................................................................................................... 4 Tabela 2.1 - Propriedades dos electrólitos líquidos e sólidos ......................... 5 Tabela 2.2 - Exemplos de matérias electrólitos poliméricos produzidos ....... 19 Tabela 2.3 - Algumas formas de cromismo ................................................... 22 Tabela 2.4 - Reacções típicas de coloração anódica e catódica................... 24 Capítulo 3 ......................................................................................................... 46 Tabela 3.1 - Massas de reagentes utilizados para a preparação dos filmes de agar e triflato de magnésio ............................................................................ 51 Tabela 3.2 - Massas de reagentes utilizados para a preparação dos filmes de agar e triflato de zinco ................................................................................... 52 Tabela 3.3 - Massas de reagentes utilizados para a preparação dos filmes de gelatina e triflato de magnésio ...................................................................... 53 Tabela 3.4 - Massas de reagentes utilizados para a preparação dos filmes de gelatina e triflato de zinco ............................................................................. 54 Tabela 3.5 - Massas de reagentes utilizados para a preparação dos filmes de gelatina com uma quantidade superior de glicerol ........................................ 55 Capítulo 4 ......................................................................................................... 69 Tabela 4.1 - Valores de condutividade iónica das amostras de gelatina e triflato de magnésio, com e sem formaldeído ................................................ 97 Universidade do Minho 2010/2011 xvii Siglas e Abreviaturas A - área dos eléctrodos aPEO - poli(óxido de etileno) amorfo à temperatura ambiente CE - carbonato de etileno d - espessura do electrólito DMSO - dimetilsulfóxido DSC - Differential Scanning Calorimetry (Calorimetria Diferencial de Varrimento) E - potencial ECD - Electrochromic Devices (Dispositivos Electrocrómicos) FTIR - Fourier transform infrared spectroscopy (Espectroscopia de Infravermelho com transformada de Fourier) Gly - Glicina I - corrente eléctrica Ic - corrente capacitiva If - corrente faradaica ITO - estanho dopado com óxido de índio Universidade do Minho 2010/2011 xviii log cond - logaritmo da condutividade MC3 - carbonato modificado Mw - massa molecular n - percentagem de sal ni - número de espécies móveis PE - poli(etileno) PEG - poli(etilenoglicol) PEO - poli(óxido de etileno) PEM - Polymer Electrolyte Membrane (electrólitos de membrana poliméricos) PP – poli(propileno) PTFE - poli(tetrafluoretileno) PVA/PMMA - álcool polivinílico/poli(metacrilato) PVC - policloreto de vinilo Q - densidade de carga R - resistência SPEs - Solid Polymer Electrolytes (Electrólitos Sólidos Poliméricos) SEM - Scanning Electron Microscopy (Microscopia Electrónica de Varrimento) Universidade do Minho 2010/2011 xix T - temperatura T0 - temperatura empírica t - tempo Tc - temperatura de cristalização Temp - temperatura Tf - temperatura de fusão TFSI - bis(trifluorometanosulfonil)imida Tg - temperatura de transição vítrea TGA - Termogravimetric Analysis (Análise Termogravimétrica) THF - Tetrahidrofurano ui - mobilidade de espécies móveis VTF - Vogel-Tamman-Fulcher X - grau de cristalinidade Z’ - componente real da função impedância Z’’ - componente imaginária da função impedância Zi - carga das espécies móveis ΔG - energia livre de Gibbs ΔH - variação de entalpia Universidade do Minho 2010/2011 xx ΔT - variação de temperatura ΔS - variação de entropia dH/dT - velocidade de aquecimento dH/dt - variação de energia calorífica σ - condutividade σtotal - condutividade total Capítulo 1 – breve Introdução Este capítulo inicial tem por objectivo fazer uma breve apresentação dos temas principais abordados ao longo de todo o trabalho. Começa-se por se referir qual a importância dos materiais produzidos a nível laboratorial, seguido das técnicas utilizadas para a caracterização dos mesmos. Capítulo 1 – Breve Introdução Universidade do Minho 2010/2011 2 1. Breve Introdução Por apresentarem inúmeras vantagens comparativamente aos seus homólogos líquidos, os condutores iónicos de estado sólido, dos quais os electrólitos sólidos poliméricos são exemplo, têm recebido especial atenção por parte dos investigadores que trabalham nesse ramo. No entanto, quando comparada a condutividade iónica dos sólidos com a dos líquidos afere-se que os últimos são 100 a 1000 vezes superiores. Embora se prefiram condutividades elevadas, e o esforço no momentoconsiste em melhorar os electrólitos poliméricos nesse sentido, estes últimos apresentam vantagens como o facto de formarem filmes muito finos, de elevada área superficial e com flexibilidade, que compensam o inconveniente anteriormente referido. Tecnologicamente, os condutores de estado sólido têm-se revelado importantes para uma grande variedade de dispositivos de armazenamento/conversão de energia, dos quais são exemplo baterias recarregáveis, células de combustível, dispositivos electrocrómicos, entre outros. Os estudos pioneiros relatam trabalhos utilizando como matrizes hospedeiras polímeros como o poli(óxido de etileno). Actualmente, este tem vindo a ser substituído por polímeros naturais, como agar e gelatina que, além de biodegradáveis, têm boas propriedades físicas, química e mecânicas. Para se produzirem electrólitos de estado sólido, normalmente, dissolvem-se sais apropriados em matrizes poliméricas de elevado peso molecular. Além disso, adiciona-se um agente de ligação cruzada e um plastificante, este de massa molar substancialmente inferior à do polímero e, utilizado com o objectivo de diminuir a temperatura de transição vítrea, que é aumentada pela adição de elevados níveis de sal. Para caracterização dos materiais produzidos recorreu-se a um número variado de técnicas. Capítulo 1 – Breve Introdução Universidade do Minho 2010/2011 3 A estabilidade térmica foi avaliada através da análise termogravimétrica, que indicava as temperaturas do início de degradação e pela calorimetria diferencial de varrimento, que permitia inferir quais os processos térmicos sofridos pelas diferentes amostras. A condutividade iónica foi estimada com recurso à espectroscopia de impedância complexa e utilizando uma célula produzida nos laboratórios da Universidade do Minho. A estabilidade electroquímica foi determinada através de ensaios de voltametria cíclica realizados à temperatura ambiente. Para identificar a(s) fase(s) presente(s) nas amostras usou-se a difracção de raios X. A microscopia electrónica de varrimento foi importante para avaliar a superfície dos electrólitos. Por último, alguns dos filmes produzidos foram aplicados em pequenos dispositivos electrocrómicos de forma a verificar a performance dos mesmos. Após obtidos os resultados estes foram analisados e discutidos. Com eles retiraram-se algumas conclusões e fizeram-se algumas sugestões que poderiam ser seguidas para dar continuidade a este trabalho. Capítulo 2 – Electrólitos Sólidos poliméricos Neste capítulo será descrito o estado de arte relacionado com o tema focal de toda a tese, ou seja, electrólitos sólidos poliméricos. Inicialmente, falar-se-á sobre o que são electrólitos poliméricos, quais as alterações que estes têm sofrido com o avanço a nível de investigação e de que materiais são feitos. A nível dos constituintes aborda-se um pouco sobre a função que cada um desempenha no filme final referindo-se também a importância para uma escolha atenta de cada componente. De seguida, são expostas as propriedades que este tipo de materiais deve possuir, tais como, estabilidade térmica, condutividade iónica e estabilidade electroquímica, para que sejam adequados para o fim a que se destinam. Neste sentido, seguidamente, serão apresentadas algumas das possíveis aplicações destes filmes, tais como, baterias de estado sólido, sensores, dispositivos electrocrómicos e outras aplicações. Para terminar serão relatadas as técnicas utilizadas para caracterização dos materiais produzidos, nomeadamente, Análises térmicas (Análise Termogravimétrica e Calorimetria Diferencial de Varrimento), Espectroscopia de Impedância Complexa, Voltametria Cíclica, Difracção de Raio X e Microscopia Electrónica de Varrimento. Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 5 2. Electrólitos sólidos poliméricos 2.1 Definição No presente ano comemoram-se 38 anos da descoberta dos electrólitos poliméricos por Wright [1]. As propriedades electroquímicas excelentes deste tipo de materiais foram reconhecidas por Armand [2] que as descreveu à comunidade de iónicos de estado sólido, em St. Andrews em 1978, no 2º Encontro Internacional nesta área. Desde essa época a pesquisa neste campo tem-se focado na preparação de novos materiais com elevada condutividade iónica e no desenvolvimento de modelos de transporte iónico [3]. Os materiais denominados de electrólitos poliméricos designam uma vasta família de condutores de iões, obtidos por dissolução de um sal numa rede polimérica adequada [4]. Os materiais sólidos ionicamente condutores apresentam algumas vantagens quando comparados com os seus homólogos líquidos, Tabela 2.1 [5-8]. Tabela 2.1 - Propriedades dos electrólitos líquidos e sólidos [5-8]. Electrólitos Líquidos Electrólitos Sólidos * Bom comportamento em termos de condutividade iónica; * Bastante reactivos para com os eléctrodos, o que se traduz num menor número de ciclos da célula e, por conseguinte, numa diminuição do tempo de vida útil; * Riscos em termos de segurança; * Elevados custos de produção para garantir uma arquitectura adequada à prevenção de derrames. * Tolerância a choques, vibrações e deformação mecânica; * Inexistência de fugas de líquidos ou gases; * Maximização da área de contacto entre os eléctrodos e o electrólito devido à produção de filmes finos; * Possibilidade de construção de células com geometria variável (deformável) e com design inovador e prático; * Diminuição dos custos associados a vedações e separadores no interior da célula. Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 6 Do ponto de vista prático, os electrólitos sólidos demonstram propriedades particularmente atractivas na medida em que não manifestam problemas práticos associados ao vazamento de líquidos prejudiciais ou intoxicação por gases e, por outro lado, possibilitam produzir estruturas miniaturizadas usando técnicas de fabrico simples ou células com excepcionais tempos de vida e amplas gamas de temperatura em que operam [9]. A electroquímica de condutores iónicos macromoleculares fornece uma comparação bastante interessante entre os líquidos e os sólidos. Os electrólitos sólidos podem ser cristalinos, amorfos, de sais fundidos e poliméricos e têm em comum o facto de que todos são condutores de iões únicos e, apesar de os iões fundidos terem mais de uma espécie móvel, estas estão essencialmente dissociadas. Esta propriedade é importante no caso dos electrólitos poliméricos conferindo-lhes algumas vantagens. Os materiais poliméricos possuem propriedades mecânicas que permitem a construção de células electroquímicas de estado sólido. Recorrendo-se a polímeros amorfos de elevado peso molecular, estes podem comportar-se como verdadeiros sólidos, tornando-se menos frágeis e com capacidade de formar bons contactos interfaciais com o eléctrodo [9]. A uma dada temperatura a condutividade iónica dos electrólitos poliméricos é tipicamente 100 a 1000 vezes menor que a exibida por electrólitos líquidos [10]. Embora sejam preferidas condutividades elevadas e tenha sido feito um esforço no sentido de melhorar a dos electrólitos poliméricos, esta desvantagem é compensada por alguns factores. Por exemplo, os electrólitos poliméricos podem formar filmes muito finos de elevada área de superfície e, por outro lado, do ponto de vista de aplicações electroquímicas, a flexibilidade deste tipo de materiais é também muito importante. Para que um material possa ser utilizado como electrólito polimérico deve possuir determinadas propriedades, tais como [9]: * Condutividade adequada para efeitos práticos; Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 7 * Baixa condutividade electrónica; * Boas propriedadesmecânicas; * Estabilidade química, electroquímica e fotoquímica; * Facilidade de processamento. Estas propriedades são fundamentais quando se pretende desenvolver novas gerações de electrólitos poliméricos que sejam comercialmente mais atractivos. Os electrólitos poliméricos podem ser divididos em cinco classes [9]: Classe 1 - Sistema livre de solvente, onde a fase ionicamente condutora é formada por dissolução de sais em matrizes poliméricas de elevado peso molecular. Este é, normalmente, o termo associado à definição de electrólito polimérico; Classe 2 - Electrólitos gel, obtidos pela dissolução do sal em líquidos polares seguida da adição de material polimérico inactivo, de modo a aumentar a estabilidade mecânica do material; Classe 3 - Electrólitos plastificados, em que se adiciona pequenas quantidades do solvente de elevada constante dieléctrica ao electrólito polimérico condutor para aumentar a sua condutividade; Classe 4 - Borrachas iónicas, formadas por polímeros de elevado peso molecular e por uma mistura de sais fundidos a baixa temperatura. A nível estrutural, estes electrólitos têm alguns factores em comum com electrólitos gel. Classe 5 - Compósitos, baseados na adição de nanopartículas cerâmicas ao electrólito polimérico. Isto confere-lhes melhorias a nível de propriedades mecânicas e estabilidade interfacial, relativamente aos outros electrólitos mas, no entanto, os resultados de condutividade iónica à temperatura ambiente são ainda baixos para possíveis aplicações comerciais. Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 8 Os mais estudados são os pertencentes à Classe 1 cujo maior inconveniente é a baixa condutividade. No entanto, recentemente, são os materiais mais desenvolvidos na área de condutores de estado sólido na medida em que as suas aplicações em células comerciais têm suscitado interesse crescente por parte dos investigadores. Tecnologicamente são importantes para uma grande variedade de dispositivos de armazenamento/conversão de energia, tais como, baterias recarregáveis, células de combustível, supercondensadores, fontes de alimentação híbrida, dispositivos electrocrómicos, entre outros [11, 12]. 2.2 Constituição Desde bem cedo, década de 70, que Armand e os seus colaboradores sintetizaram SPEs (do inglês Solid Polymer Electrlytes) de sais de lítio que se revelaram potenciais materiais para aplicação em dispositivos electrocrómicos e células primárias e secundárias [2]. Os primeiros electrólitos sólidos poliméricos mais estudados são baseados em PEO complexado com diferentes sais. Actualmente, têm-se apostado na síntese de filmes com base em polímeros naturais, tais como, agar [13], gelatina [14], quitosano [15, 16], amido [17], que apresentam diversas vantagens por serem biodegradáveis e materiais que permitem preparar um filme com propriedades adequadas [18]. Por dissolução de sais apropriados em matrizes poliméricas de elevado peso molecular podem-se obter diversos SPEs. No entanto, a formação destes com propriedades mecânicas, térmicas e electroquímicas adequadas depende de diversos factores, tais como [19, 20]: 1) a concentração de grupos polares ou átomos com pares de electrões disponíveis ( -O-, -NH-, -CN-) existentes na cadeia do polímero deve capaz de coordenar com os catiões dos sais utilizados; 2) a distância entre os grupos de coordenação deve permitir a maximização da interacção entre o catião e o polímero; Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 9 3) devem-se utilizar sais de baixa energia de reticulação; 4) o polímero deve ter a capacidade de adoptar uma conformação de baixa energia, permitindo assim, uma coordenação múltipla inter- e ultra- molecular. Assim sendo, para que os materiais sejam atractivos do ponto de vista da aplicação para a qual se destinam é fundamental, tendo em conta estes factores, uma escolha adequada de todos os componentes constituintes dos SPEs. Normalmente, um electrólito deste tipo contém: um sal, um ou dois polímeros hospedeiros, chamados blends quando se recorre a dois polímeros [21], um plastificante e um agente de ligação cruzada. 2.2.1 Sais Para que o sal seja solúvel na matriz polimérica deve-se verificar a formação de complexos ião-polímero estáveis e, por outro lado, as variações de entalpia e entropia devem conduzir a uma baixa energia livre de Gibbs (ΔG). A função de Gibbs ou energia livre de Gibbs é uma função de estado que permite inferir sobre a espontaneidade de uma reacção [22]. Para tal, há que ter em conta as variações de entalpia (ΔH), entropia (ΔS) e temperatura, como mostra a equação seguinte. STHG Equação 2.1 Segundo a termodinâmica a entropia é uma função de estado que mede o estado caótico ou de desordem de um sistema [22]. Na formação de electrólitos poliméricos a variação de entropia pode ser positiva ou negativa. Quando há quebra de ligações ião-ião verifica-se um aumento da desordem e, desta forma, ΔS>0. No entanto, nos SPEs, a coordenação de iões do sal às cadeias do polímero resulta num aumento da ordem do sistema, o que se traduz num ΔS<0. Por outro lado, por observação da equação 2.1, apura-se que também é importante ter em conta a temperatura a que o processo ocorre. A dissolução do sal só é espontânea se ΔG<0. Assim sendo, se ΔS<0 o sal só Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 10 é solúvel se ΔH<0. Caso ΔS>0 o termo TΔS passa a ser dominante quanto maior o valor de temperatura. Pelo Primeiro Princípio da Termodinâmica a variação de entalpia indica a quantidade de calor libertada ou absorvida por um sistema durante um processo. A energia de rede de um sal (ΔH>0) é tanto maior quanto maior a carga e menor o raio dos iões, ou seja, depende do sal usado. A entalpia de solvatação dos catiões pelas cadeias do polímero (ΔH<0) depende da força estabelecida na ligação de grupos de coordenação do polímero e dos catiões do sal. A força da interacção entre o solvente polimérico e o sal pode ser classificada de acordo com o princípio ácido base forte/fraco de Henderson- Hasselbach. Ácidos fortes são catiões pequenos, sem electrões de valência que possam ser facilmente polarizados ou removidos (Ex: metais alcalinos e alcalino-terrosos). Os ácidos fracos, por sua vez, são catiões maiores com vários electrões de valência que são facilmente distorcidos ou removidos (Ex: Hg2+). Assim sendo, os catiões mais adequados para formar SPEs são [19]: Mg2+, Ca2+ > Li+, Na+ > Ni2+, Cu2+, Zn2+ > Cd2+, Ag+, Hg2+ Sendo Mg2+ o mais forte e Hg2+ o mais fraco. Quanto às bases fortes estas contêm ligantes não-polarizáveis de elevada electronegatividade a passo que as fracas têm grupos mais polarizáveis. Em água ou solventes com ligações de hidrogénio os aniões são solvatados e estabilizados por pontes de hidrogénio. Em solventes poliméricos a estabilidade do anião depende da dispersão da carga sendo que os aniões maiores com carga deslocalizada requerem pouca solvatação. Deste modo, tanto podem ser fracos (I-) como fortes (CF3SO3 -), sendo os mais apropriados para a formação de electrólitos poliméricos [9]: F- << Cl- < I- ≈ SCN- < ClO4 - ≈ CF3SO3 - < BF4 - ≈ AsF6 - Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 11 Em suma, as maiores energias de solvatação de catiões +2 e +3 podem induzir a formação de complexos poliméricos. Quanto aos aniões, os mais frequentemente estudados e usados na síntese de SPEs são [9]: ClO4 -, CF3SO3 -, (CF3SO2)N -, BPh4 -, PF6 -, BF4 -, AsF6 -, SCN- 2.2.1.1 Triflato de Magnésio (Mg(CF3SO3)2) O uso de sais de magnésio surge como uma boa alternativa aos de lítio pois apresentam algumas vantagens que o tornam promissor. (1) A sua abundância natural torna-o mais barato que o Li; (2)Não é tóxico e, portanto, é amigo do ambiente; (3) É menos reactivo que o Li em atmosferas húmidas e com oxigénio logo, os riscos de trabalhar ao ar livre estão minimizados; (4) Os raios iónicos do Li+ e do Mg2+ são comparáveis em magnitude, o que significa que as pilhas de magnésio podem utilizar compostos de inserção que têm sido desenvolvidos para as células de lítio [23]. Muitos autores têm reportado a síntese e propriedades dos SPEs convencionais compostos com PEO e tiocianato de magnésio (Mg(SCN)2) [24], perclorato de magnésio (Mg(ClO4)2) [24, 25] ou cloreto de magnésio (MgCl2) [26-30]. 2.2.1.2 Triflato de zinco (Zn(CF3SO3)2) Apesar do seu potencial de eléctrodo baixo (E = -0.76 V), o zinco é considerado um bom candidato para o fabrico de baterias recarregáveis de estado sólido. Por ser um elemento abundante na natureza, não-tóxico e muito estável, podendo ser manuseado em segurança em atmosferas húmidas e com oxigénio, faz dele um potencial elemento para este tipo de materiais [31]. Ao longo dos últimos anos a tecnologia de pilhas alcalinas recarregáveis de óxido de manganês/zinco progrediu rapidamente [32], no entanto, o número de estudos de electrólitos com sais de zinco é relativamente baixo [33-35]. Apesar de haver relatos de perclorato de zinco incorporado em PEO [33] o Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 12 sistema mais amplamente estudado inclui PEO e sais de halogéneos e zinco, ZnX2, sendo X = Cl [34], Br [36], I [36]. 2.2.2 Polímeros hospedeiros Várias são as respostas que podem ser dadas quando se refere ao termo polímero, no momento, a definição mais comum e geralmente aceite é de um sistema formado por um conjunto de macromoléculas, ou seja, um sistema de entidades moleculares de grande dimensão, que são obtidas pela ligação covalente de um grande número de unidades de repetição constitucionais, designadas de unidades monoméricas. As estruturas macromoleculares correspondentes a esta definição têm dimensões moleculares, ou seja, pesos moleculares, muito maiores que os das moléculas simples [37]. A maioria do trabalho inicial realizado a nível de electrólitos poliméricos e, grande parte dos estudos relatados até agora concentram-se em poli(óxido de etileno) e homopolímeros hospedeiros para um diversificado número de espécies de sal. Embora já tenham sido feitas uma grande variedade de estruturas de polímeros na tentativa de optimizar propriedades eléctricas e / ou estabilidade mecânica e electroquímica, muitos destes incorporam PEO como componente de coordenação [10]. O PEO é um polímero linear de elevada massa molecular (Mw ≈ 5x10 6) pertencente à classe dos poliéteres cuja unidade monomérica consiste em [- (CH2)mO-]n, sendo m=2. Este é obtido por polimerização catalítica, como mostra a Figura 2.1, através da abertura do anel de óxido de etileno. Figura 2.1 - Reacção de síntese do PEO [38]. Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 13 Quanto à estrutura a molécula de PEO é constituída por sete unidades de óxido de etileno em duas voltas de hélice, Figura 2.2. Figura 2.2 - Estrutura do PEO [38]. Por possuir ligações C-O, e pelo facto de o oxigénio ser um átomo com pares de electrões disponíveis, tornam-se bons dadores de electrões e excelentes coordenadores de catiões. Por esta razão é possível solubilizar um elevado número de sais de forma a se obter SPEs com elevada estabilidade química e electroquímica. Quando forma complexos com sais, bem como na sua forma pura, este polímero tem tendência para cristalizar, o que se traduz em valores bastante modestos de condutividade iónica. De forma a inibir a cristalização, aumentando assim a condutividade, têm sido investigadas diversas estratégias. Uma delas, seguida por diversos investigadores, consiste na incorporação de poli(etilenoglicol) (PEG) na cadeia principal, de modo a quebrar as longas sequências das unidades de óxido de etileno. Trata-se de uma reacção cujo resultado se traduz num polímero amorfo à temperatura ambiente, designado de poli(óxido) de etileno amorfo, aPEO. Recentemente, a atenção de alguns investigadores tem-se focado na utilização de polímeros naturais. Por possuírem boas propriedades químicas e físicas e também por apresentarem baixo custo de produção tem-se vindo a introduzir estas matrizes hospedeiras na preparação dos electrólitos Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 14 poliméricos. O amido [39], o quitosano [40-42], o agar [13] e a gelatina [18, 14, 43] são exemplos de alguns polímeros utilizados. 2.2.2.1 Agar O agar é o ficocolóide1 de utilização mais antiga sendo que o seu método de produção foi descoberto em meados do século XVII. Devido à capacidade de formar géis muito fortes tem sido extensivamente usado na indústria alimentar como agente gelificante. Proveniente da parede celular de algas marinhas vermelhas e origem na malaia o teor de agar nas agarófitas2 varia de acordo com o mar onde se encontram, nomeadamente, concentração de dióxido de carbono, pressão de oxigénio, temperatura da água e intensidade de radiação solar. Os principais países produtores são o Chile, a Espanha e o Japão [44]. Devido à combinação de algumas características importantes, tais como, o facto de ser renovável e biodegradável, de possuir um enorme poder de gelificação e por apresentar um processo de extracção bastante simples o agar é apontado como um promissor candidato para uso futuro em materiais. O agar é um biopolímero que consiste numa mistura de dois tipos de polissacarídeos: a agarose e a agaropectina [45]. A porção de cada um varia de acordo com a espécie de alga, no entanto, a agarose é o componente principal, representando cerca de 70% do total. A agarose, Figura 2.3, é um polissacarídeo que consiste em cadeias repetidas de unidades alternadas de β-1,3-D-galactose e α-1,4 3,6-anidro-L- galactose e é responsável pela força gelificante da molécula. Figura 2.3 - Estrutura da agarose [13]. 1 Polissacarídeo coloidal extraído de algas. 2 Algas que contêm agar. Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 15 A agaropectina é um polissacarídeo mais complexo, menos claramente definido, mas sabe-se que é sulfatado e apresenta baixo poder gelificante em água. Comercialmente o agar pode ser vendido sob diversas formas: pó, flocos, barras e fios. Em pó seco é insolúvel em água fria mas, a temperaturas entre os 95 e os 100 ºC, expande-se consideravelmente, e absorve uma quantidade de água de cerca de vinte vezes do seu próprio peso, formando um gel com a importante característica de não ser tóxico. No que diz respeito à gelificação, a parte gelificante possui uma estrutura de dupla-hélice que se agrega para formar uma estrutura tridimensional que retém as moléculas de água nos seus interstícios, o que permite a formação de géis termo-reversíveis [44]. Além de aditivo em diversas aplicações na indústria alimentícia (produtos lácteos, enlatados, confeitaria), o agar é também usado a nível médico e farmacêutico, como laxante e agente terapêutico para disfunções do aparelho digestivo, em biologia vegetal, onde é usado em meios de cultura, entre outras aplicações [44-46]. Ainda não tanto falado, este biopolímero começa também a ser utilizado na confecção de electrólitos poliméricos, onde funciona como polímero hospedeiro, para a produção de filmes [13, 47]. 2.2.2.2 Gelatina A gelatina é um composto proteico solúvel de origem animal [48]. É obtida pela hidrólise parcial do colagénio (principal proteína fibrosa dos ossos, cartilagens e pele) sendo que as suas propriedades são influenciadas pela fonte, idade do animal e tipo de colagénio, a partirda qual são obtidas [49]. O colagénio e a gelatina são diferentes formas da mesma macromolécula. As suas moléculas são compostas por três cadeias α entrelaçadas que se designam de colagénio de tripla hélice. Tal estrutura, estabilizada por pontes de hidrogénio intra e inter-cadeia, é o produto de uma repetição quase contínua da sequência Gly-X-Y, onde X = prolina e Y = hidroxiprolina [49]. Após a desnaturação do colagénio a tripla hélice é quebrada Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 16 e a cadeia dos polipéptidos pode interagir de maneira a formar uma tripla hélice parcial do colagénio, designada de gelatina estrutural [48]. As fontes mais abundantes de gelatina são os tecidos conjuntivos, ossos e peles de animais, geralmente vacas e porcos [50]. Há, no entanto, relatos que falam em gelatina derivada de peixes cuja produção percentual em 2007, cerca de 1.5% era o dobro dos resultados obtidos em 2002 [49]. Nos últimos 10-15 anos tem-se verificado um crescente interesse na valorização económica de subprodutos industriais (da indústria da carne e do peixe). Neste sentido, a literatura científica refere-se, por exemplo, ao colagénio e à gelatina na medida em que são materiais biodegradáveis, de baixo custo, com boas propriedades para formar filmes, serem não-tóxicos e produzirem soluções transparentes com elevada viscosidade [49, 18]. A qualidade da gelatina depende de propriedades reológicas e físico- químicas [49]. Parâmetros de composição, solubilidade, transparência, cor, odor e sabor são alguns factores que afectam a qualidade, no entanto, os principais atributos que melhor definem a sua qualidade são a força do gel e a estabilidade térmica (temperaturas de gelificação e fusão). Tanto a força do gel como a estabilidade térmica dependem das propriedades moleculares da gelatina, essencialmente, no que diz respeito a dois factores principais: (i) composição de aminoácidos e (ii) distribuição do peso molecular, devido às condições de processamento [51]. O teor de prolina e hidroxiprolina é particularmente importante para o efeito de gelificação. O processo de gelificação do colagénio e da gelatina é termo-reversível, mas em direcções opostas: géis de colagénio fundem quando se baixa a temperatura enquanto com géis de gelatina ocorre o inverso, ou seja, fundem quando se aumenta a temperatura. As propriedades físicas relacionadas com a estrutura da gelatina também influenciam a sua qualidade. Desta forma, vários autores têm estudado as propriedades estruturais recorrendo a diferentes metodologias, tais como, Microscopia Electrónica de Varrimento (SEM) [52], Calorimetria Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 17 Diferencial de Varrimento (DSC) [53], Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR) [54]. A qualidade da gelatina e as propriedades físicas influenciam a aplicação para a qual se destinam. Este biomaterial tem sido extensivamente estudado devido à sua capacidade de formar películas, propriedade que o torna de potencial interesse para inúmeras aplicações. Microencapsulamento de medicamentos e materiais industriais, preparação de colas, revestimento de comprimidos e preparação de filmes são exemplos de alguns dos usos [45]. 2.2.3 Plastificantes Nos polímeros, a adição de elevados níveis de sal é necessária pois provoca um aumento na condutividade e, por outro lado, é conhecido por aumentar a temperatura de transição vítrea. No sentido de diminuir a Tg, aumentando assim o movimento segmental do polímero e, por conseguinte a condutividade iónica, têm-se recorrido à adição de plastificantes à síntese de electrólitos [55]. Os plastificantes são substâncias, geralmente líquidas, de massas molares substancialmente inferiores às dos polímeros que, quando adicionados a estes geram materiais aparentemente homogéneos, menos rígidos, mais flexíveis e mais fáceis de trabalhar. Existe um vasto número de artigos que descrevem os efeitos dos plastificantes nas propriedades físicas, químicas e funcionais de filmes biodegradáveis. Os plastificantes actuam aumentando o espaço entre as moléculas de polímero, o que se traduz numa diminuição da interacção entre estes e de uma menor energia necessária para que ocorra a rotação em torno da ligação C-C. Desta forma, verifica-se uma diminuição da Tg e do grau de cristalinidade [13]. Várias são as moléculas orgânicas que podem ser utilizadas como plastificantes. O carbonato de etileno (CE), o poli(etilenoglicol) (PEG) e o glicerol, por possuírem elevada constante dieléctrica e baixa pressão de vapor, Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 18 são muito usados para este fim [13]. Outros autores referem o uso de xilitol, sorbitol e maltitol [47]. No que diz respeito a propriedades mecânicas e de transparência o glicerol é o mais adequado [47]. 2.2.4 Agentes de ligação cruzada Para melhorar as propriedades funcionais dos filmes poliméricos são adicionados agentes de ligação cruzada, tais como: formaldeído, gluteraldeído ou glioxal [18]. O formaldeído é inflamável e incolor, apresentando um odor pungente à temperatura ambiente. Existe na Natureza e em produtos naturais como a madeira e alguns frutos e, artificialmente, provém do escape de motores de automóveis sem catalisadores e do fumo do cigarro [56]. A maior parte do formaldeído advém da produção industrial para uso comercial, no fabrico de resinas, filmes fotográficos, bactericidas, entre outros. Estudos epidemiológicos classificam o formaldeído como um cancerígeno, daí que se deve evitar o período de exposição com este composto [56]. 2.3 Aplicações 2.3.1 Baterias de estado sólido As baterias recarregáveis de lítio com base em tecnologias de electrólitos sólidos poliméricos são propostas para uma ampla gama de aplicações, tais como, veículos eléctricos e dispositivos de comunicação electrónicos e pessoais. Estas aplicações têm muitos conjuntos de requisitos de desempenho específicos e diferentes. Por exemplo, os dispositivos de comunicação requerem baterias altamente fiáveis e seguras com elevada densidade energética e um longo ciclo de vida [57]. O seu desenvolvimento torna-se importante na medida em que, a cada ano que passa, as baterias para dispositivos electrónicos têm-se tornado menores e mais leves [58]. Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 19 Os electrólitos poliméricos descobertos e desenvolvidos ao longo das últimas décadas baseiam-se em tecnologias de células de combustível e baterias com capacidade de poderem tornar veículos eléctricos uma opção de transporte competitiva e ecológica. No entanto, alcançar a competitividade de custos das fontes de energia electroquímica avançada é um desafio que exige melhorias no desempenho da fonte, bem como reduções substanciais nos custos de materiais e fabrico. Neste sentido, surgem os electrólitos poliméricos que apresentam melhor desempenho e capacidades funcionais que podem contribuir de forma importante para enfrentar esse desafio [59]. Vários institutos de pesquisa têm desenvolvido baterias com SPEs desde que foi descoberta, em 1975, a condução iónica em PEO/Na+ [60]. Na Tabela 2.2 estão presentes algumas classes de electrólitos poliméricos, o ano em que foram produzidos e as principais características. Tabela 2.2 - Exemplos de matérias electrólitos poliméricos produzidos (adaptada de [57]). Classe do electrólito polimérico Condutividade (S/cm) Ano Características 25ºC 100ºC Poliéteres de elevado peso molecular 10-6 10-3 1978 Boas propriedades mecânicas e baixa condutividade iónica e número de transferência catódica Poliéteres de baixo peso molecular 10-5 10-3 1980 Propriedades mecânicas muito fracas e limitadacondutividade à temperatura ambiente Redes e ligações cruzadas 10-5 10-3 1981 Cristalinidade limitada e limitada condutividade à temperatura ambiente Co-polímeros 10-5 10-3 1983 Cristalinidade residual, baixa condutividade e fracas propriedades mecânicas Aditivos plastificantes 10-4 10-3 1985 Condutividade melhorada e estabilidade química e mecânica limitada Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 20 Electrólitos poliméricos de gel e hospedeiros 10-3 10-2 1990 Fase única, alta condutividade e estabilidade electroquímica limitada Em 1978 Armand propôs o uso de um polímero condutor em baterias [61] e, desde aí, a cada ano têm crescido os esforços de pesquisa. As características dos electrólitos poliméricos de lítio incluem elevada segurança, à prova de fugas, e flexibilidade na sua concepção (finos, ampla área, forma, etc.) [62]. No entanto, embora a tecnologia de electrólitos poliméricos de lítio seja reconhecida para a produção de baterias de elevada densidade energética, é improvável que um único electrólito polimérico de lítio seja uma tecnologia capaz de atender a todos os requisitos de desempenho das diversas aplicações a que se destinam [57]. É neste âmbito que surge a procura incessante de novos electrólitos. 2.3.2 Sensores Os sensores iónicos de estado sólido são adequados para a produção de dispositivos miniaturizados e são também importantes na medida em que permitem operar a temperaturas elevadas [10]. Os sensores químicos fornecem informação directa e em tempo real de certas substâncias químicas presentes, por exemplo, no meio ambiente. Os sensores electroquímicos clássicos com electrólitos líquidos são, geralmente, bastante volumosos e, além disso, o vazamento do electrólito pode corroer várias partes do dispositivo e, desta forma, limitar o seu tempo de vida e prejudicar a sua função. Desta forma, o progresso neste campo tem sido dirigido para a produção de sensores de estado sólido, que não contêm fase líquida evitando, deste modo, as desvantagens dos mesmos [63]. Nos sensores com SPEs o eléctrodo indicador é criado directamente na superfície do electrólito sólido polimérico ou está em contacto com este [64, Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 21 65]. O SPE proporciona uma conexão electrolítica do eléctrodo indicador com os outros eléctrodos (referência e contra-eléctrodo) e, além disso, pode servir para separar o espaço da amostra. Esta configuração confere vantagens tais como [63]: 1. A geometria do espaço de detecção pode ser concebida com base nas exigências de detecção, sem respeitar os requerimentos electroquímicos da célula; 2. É possível detectar substâncias, mesmo em ambientes com propriedades inadequadas para medidas electroquímicas, como em líquidos de condutividade eléctrica desprezível ou em gases. A possibilidade de detectar as substâncias na fase gasosa pode ser considerada como a principal contribuição dos sensores baseados em SPEs para a química electroanalítica; 3. O eléctrodo indicador pode estar em contacto directo com o meio de teste, sem qualquer barreira de difusão adicional. O transporte da substância electroactiva em direcção ao eléctrodo é, desta forma, rápido o que se reflecte em propriedades estáticas e dinâmicas favoráveis do sensor, traduzindo-se numa resposta rápida. A nível de aplicações para determinar gases, os electrólitos sólidos poliméricos têm sido aplicados em sensores para determinação de CO2 [66] e etanol [67], por exemplo. O electrólito polimérico mais comum nos sensores electroquímicos é o baseado no co-polímero poli(tetrafluoretileno) e poli(éter vinílico sulfunilfluorídrico), manufacturado pela DuPont e, comercialmente é conhecido por Nafion [63]. A resposta deste sensor na fase gasosa depende da humidade relativa do gás [68-71]. 2.3.3 Dispositivos electrocrómicos O cromismo é uma mudança reversível nas propriedades ópticas de uma substância causada pela aplicação de um determinado estímulo. Existem muitos materiais crómicos, tais como, compostos orgânicos e inorgânicos e Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 22 polímeros condutores cujas propriedades resultam de diversos mecanismos. Várias são as formas de cromismo existentes e estas podem ser classificadas mediante o estímulo aplicado, Tabela 2.3 [72]. Tabela 2.3 - Algumas formas de cromismo. Tipo de cromismo Estímulo aplicado Termocromismo Mudança na temperatura Fotocromismo Exposição a radiação electromagnética Halocromismo Mudança do pH da solução Piezocromismo Aplicação de pressão mecânica Solvatocromismo Alteração da polaridade do solvente Ionocromismo Induzido pela adição de iões Electrocromismo Aplicação de uma diferença de potencial Comercialmente, a forma mais útil de cromismo é o electrocromismo, sendo que os materiais electrocrómicos já são conhecidos desde 1968 [73]. Desde o relato pioneiro do fenómeno de electrocromismo que os materiais têm sido amplamente estudados para diversas aplicações tecnológicas. Os materiais electrocrómicos mais estudados são os filmes de óxidos de metais, corantes moleculares e polímeros condutores. Desta forma, tais materiais têm sido aplicados em dispositivos de informação, na indústria automóvel (em vidros e espelhos de reflectância) e na arquitectura em janelas inteligentes (do inglês smart windows) [74]. Um dispositivo electrocrómico, designado de ECD, não é mais que uma célula electroquímica cujo eléctrodo electrocrómico está separado do contra- eléctrodo por um electrólito líquido ou sólido, Figura 2.4. Por aplicação de um potencial verifica-se a carga/descarga da célula electroquímica, o que se traduz numa mudança de cor [75]. Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 23 Figura 2.4 - Esquema da configuração de um dispositivo electrocrómico (adaptado de [76]). Por observação da figura anterior averigua-se que um dispositivo electrocrómico é constituído por diferentes camadas, cada uma com função específica. Estas, normalmente, são depositadas em substratos transparentes de vidro, materiais poliméricos ou papel [77-79]. A camada condutora transparente deve ser constituída por um material electricamente condutor e opticamente transparente a passo que o filme electrocrómico deve apresentar propriedades electrocrómicas, sendo o trióxido de tungsténio (WO3) o exemplo de um material bastante utilizado [80]. O electrólito é a camada condutora de iões, seguido de uma camada armazenadora de iões e, por último, uma segunda camada electricamente condutora e opticamente transparente. O melhor material em termos de propriedades ópticas e eléctricas utilizado como armazenador de iões é o In2O3:Sn, conhecido como estanho dopado com óxido de índio (ITO) [81]. Consoante os materiais utilizados, algumas das camadas podem ser combinadas de modo a apresentarem funções duplas. Há, no entanto, que ter em conta que a camada armazenadora e a electrónica são condutoras de iões e electrões a passo que o electrólito, idealmente, não deve conduzir electrões [82]. Em 1975 foi apresentado o mecanismo para o electrocromismo que envolve a injecção ou extracção de iões pequenos (M+) e electrões de acordo com a seguinte reacção [83]: 33 WOMxexMWO x iões Substrato Camada condutora Camada colectora iónica Electrólito Filme electrocrómico Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 24 Onde M+ pode ser, por exemplo, iões de hidrogénio (H+), lítio (Li+), sódio (Na+) e potássio (K+) [76]. Existem dois tipos de electrocromismo, o anódico e o catódico. Alguns óxidos coloram catodicamente, devido à injecção de iões, e são exemplo os óxidos de tungsténio, molibdénio,nióbio e titânio. Os óxidos de níquel, ródio, cobalto e irídio, devido à extracção de iões, seguem um processo de coloração anódica [9]. Na tabela seguinte está representada o tipo de coloração e a reacção típica que ocorre no material, utilizando o lítio como ião de coloração e o trióxido de tungsténio (WO3) e o óxido de vanádio v (V2O5) como filme electrocrómico [82]: Tabela 2.4 - Reacções típicas de coloração anódica e catódica. Tipo de coloração Reacção Típica Catódica )()( 33 azulWOLixexLitetransparenWO x Anódica xexLiazulOVamareloOVLix )()( 5252 Para que os ECD sejam eficientes têm que atender a uma série de requisitos, nomeadamente, [84]: * Elevada eficiência de coloração; * Grande efeito de memória, associado à persistência de coloração do material após interrupção de estímulo; * Tempo que leva o material a alterar a coloração, ou seja, tempo de resposta curto; * Boa estabilidade e durabilidade. Os dispositivos electrocrómicos além das inúmeras aplicações a que se destinam contribuem também para a protecção do ambiente. A nível da indústria arquitectónica recorre-se a uma fonte de energia limpa e inesgotável ao mesmo tempo que se cria um conforto dinâmico, nos edifícios onde são Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 25 usados, de forma economicamente rentável. O uso de janelas electrocrómicas contribui para a redução da electricidade requerida para arrefecimento durante o verão e aquecimento no inverno, o que se traduz numa diminuição na emissão de gases com efeito de estufa [85]. 2.3.4 Outras aplicações Outra das aplicações diz respeito ao fabrico de células de combustível. Estas convertem energia química em eléctrica e calor, pela combinação de hidrogénio com oxigénio com formação de água. O último estado da tecnologia das células de combustível baseia-se em electrólitos de membrana poliméricos (PEM - Polymer Electrolyte Membrane). Estes têm a capacidade de atingir ≈60% na conversão de energia eléctrica ou 80% na co-geração de energia eléctrica e térmica com mais de 90% de redução dos maiores poluentes. Actualmente, nos Estados Unidos da América, foram implementadas mais de 200 células de combustível em veículos e 20 em autocarros [86]. Outra aplicação diz respeito à área médica. Alguns materiais de electrólitos usados em baterias de estado sólido podem ser modificados e usados para um tipo particular de sistema drug delivery conhecido como dispositivo iontoforético [87]. Os SPEs podem também ser utilizados em células fotoelectroquímicas [10], em dispositivos ópticos [88] e em supercondensadores [89]. 2.4 Técnicas de caracterização 2.4.1 Análises térmicas 2.4.1.1 Análise Termogravimétrica (TGA) A termogravimetria é utilizada quando se pretende analisar a variação de uma dada amostra sob uma atmosfera controlada. Quando sujeita a Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 26 aquecimento, as variações de massa que se verificam podem ser explicadas devido à ruptura de ligações químicas com consequente libertação de produtos voláteis (como acontece na degradação térmica de alguns polímeros) ou à formação de ligações químicas, originando a fixação de produtos (como ocorre na oxidação de metais) [90]. Para efectuar análises termogravimétricas (TGA - Termogravimetric Analysis) são necessárias termobalanças, ou seja, aparelhos onde se façam os registos da variação de massa em função da temperatura ou tempo. Tais aparelhos consistem numa combinação entre uma microbalança de elevada sensibilidade (0.1 µg) e um forno sujeito a um programa de temperatura com atmosfera controlada [91]. Na Figura 2.5 está representado um aparelho de TGA com os componentes que o constituem. Figura 2.5 - Componentes de um aparelho de TGA [38]. Quanto à amostra a ser analisada esta é colocada num cadinho suspenso por um filamento ligado à balança. A escolha do cadinho é uma questão importante pois ele pode ter várias formas e possuir diversas composições. Assim sendo, há que ter em conta que o seu ponto de fusão deve ser superior à gama de temperatura em estudo e, por outro lado, não pode reagir quimicamente com a amostra. Os cadinhos mais utilizados em análises deste tipo são, tipicamente, de platina, alumínio, quartzo ou alumina [92]. Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 27 Os resultados obtidos aparecem sob a forma de curva termogravimétrica, onde se representa a massa ou percentagem em massa em função da temperatura ou tempo, Figura 2.6. Figura 2.6 - Curva exemplificativa de uma análise de TGA, neste caso de algumas amostras poliméricas [93]. As curvas de TGA são características de cada composto ou sistema, devido à ocorrência única de reacções numa determinada gama de temperatura a uma determinada velocidade de aquecimento, que dependem da estrutura molecular do composto em estudo. Estas permitem estudar processos que levam à degradação térmica do material e caracterizar a estabilidade térmica do mesmo. Com as curvas termogravimétricas é também possível determinar a temperatura onset, ou seja, a temperatura do início de degradação. Para tal, traça-se uma paralela ao eixo da temperatura e uma tangente à curva e acha- se o valor por extrapolação, como exemplifica a Figura 2.7. Figura 2.7 - Exemplificação da determinação da temperatura do início de degradação. Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 28 Tal como acontece com outras técnicas, em TGA também existem diversos factores que podem afectar os resultados durante um ensaio. Estes podem ser fundamentalmente de dois tipos: instrumentais ou ligados às características das amostras. Os factores instrumentais estão relacionados com a velocidade de aquecimento do forno, geometria do cadinho e do forno, sensibilidade do sistema de registo e composição do cadinho. Quanto aos erros ligados às características da amostra estes dependem da quantidade e tamanho das partículas, empacotamento, natureza e condutividade térmica da própria amostra [94]. 2.4.1.2 Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC) A Calorimetria Diferencial de Varrimento (DSC - Differential Scanning Calorimetry) é muito utilizada para caracterizar termicamente diversos materiais, tais como os poliméricos. Trata-se de uma técnica de elevada sensibilidade que permite medir inúmeras propriedades, como: temperatura de transição vítrea (Tg), temperatura de cristalização (Tc), temperatura de fusão (Tf), grau de cristalinidade (X), estabilidade térmica e electroquímica, entre outras. Por ser capaz de caracterizar quantitativa e qualitativamente uma diversidade de materiais em gamas alargadas de temperatura e por se obter informações relevantes com pequenas quantidades de amostra esta técnica torna-se vantajosa. A representação das curvas de DSC consiste no traçado do calor diferencial dado à amostra, expresso como velocidade de aquecimento (dH/dt), em função da temperatura (T) ou do tempo (t), Figura 2.8. Capítulo 2 - Electrólitos Sólidos Poliméricos Universidade do Minho 2010/2011 29 Figura 2.8 - Curva genérica de DSC de uma amostra com um comportamento ideal [38]. Na Figura 2.8 está representada a curva de DSC de uma amostra com um comportamento ideal quando sujeita a um programa de aquecimento. A transição I corresponde a uma transição vítrea, ou seja, consiste num pequeno deslocamento relativamente à linha de base. Trata-se de um processo que, por vezes, é difícil de identificar, nomeadamente, quando a amostra a estudar se trata de um polímero semi-cristalino, uma vez que o movimento da cadeia dos polímeros nas regiões amorfas é restringido pela presença de regiões cristalinas. A transição II diz respeito a um processo exotérmico que,
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