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Desenvolvimento da criança e as relações psicologia, escola e sociedade Desenvolvimento da criança e as relações psicologia, escola e sociedade Delinea, 2021 nº de p. : 10 Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Desenvolvimento da criança e as relações psicologia, escola e sociedade 3 Abertura Estudante, Embora a família seja o primeiro agente socializador na infância, atualmente ela não desempenha mais o papel socializante totalizante, uma vez que outros agentes assumiram muitas de suas funções. Um desses agentes é a escola. Nesta unidade, você vai estudar diferentes perspectivas históricas sobre a interação social na família, na escola e na comunidade. Abordaremos a criança no lar, incluindo as questões sobre o universo familiar e sua importância para o desenvolvimento afetivo-emocional da criança. Finalizando os conteúdos, veremos o processo de desenvolvimento social inicial da criança e as interações entre ela, família, escola e comunidade no contexto contemporâneo. Bons estudos! 4 1 A criança no lar A primeira relação social do bebê é com sua mãe (ou mãe substituta), e é com quem estabelece os primeiros vínculos e experiências afetivas. Essa relação se estende aos demais familiares, e o pai também pode desenvolver íntima relação de afeto e vínculo emocional. Aos dois meses de vida – às vezes antes disso – a criança já dá sinais de que reconhece a voz da mãe ou de pessoas muito próximas: é possível perceber o efeito tranquilizador que estas pessoas exercem quando a criança está agitada. A qualidade da relação afetiva direcionada à criança tem forte influência no desenvolvimento das suas habilidades sociais. Não existe consenso sobre o quanto as experiências afetivas da criança, nos dois primeiros anos de vida, impactam sobre sua disponibilidade para futuros contatos social. Fase inicial Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: a imagem mostra duas mulheres segurando um bebê. Ao fundo, uma praia. Embora as generalizações sejam arriscadas, e qualquer diagnóstico de personalidade e eventuais carências afetivas deva ser realizado por profissional especializado, levando em consideração diferentes variáveis, é importante que professores e educadores fiquem atentos aos cuidados que os pais dispensam aos filhos, pois os pais tendem a repetir o padrão de cuidados que tiveram de seus próprios pais. A qualidade do tratamento dado pelos pais à criança reflete diretamente no comportamento desta: se é tratada com impaciência e frieza, tende a ser ansiosa e insegura. Nestes casos, o prejuízo emocional é grave e pode ter consequências duradouras na vida da pessoa. Ainda que a criança seja mal tratada pelos pais, o pouco de cuidado oferecido a ela faz com que se vincule fortemente 5 a eles por razões de sobrevivência, porém tende a ser insegura e pouco disponível para o contato social. O tratamento negligente na primeira infância pode ser compensado com atenção e afeto adequados ao longo do desenvolvimento infantil, mas, ainda assim, os maus tratos nos primeiros anos de vida da criança exercem forte influência sobre o desenvolvimento posterior infantil. Nas situações em que a criança é privada do afeto dos pais, é possível que ela desenvolva esse vínculo com outros adultos, tais como a babá ou mesmo a professora, pois o vínculo afetivo não é restrito aos pais biológicos, e a criança pode obter afeto e se vincular com pessoas sem qualquer relação consanguínea. Negligência afetiva Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: A imagem mostra uma criança pequena chorando Situações assim podem ser percebidas na relação do aluno com o professor: se a criança estabelece uma relação muito dependente, busca estar sempre perto fisicamente e demanda reconhecimento constante, pode ser sinal de que não está recebendo em casa carinho suficiente dos pais. Nos casos em que a criança tem sua demanda afetiva satisfeita em casa, ela deixa claro que o afeto pelo professor é secundário em relação aos pais. Por outro lado, se a criança tende a se isolar no grupo escolar e possui uma postura hostil com o professor e demais colegas, isto pode indicar que ela não teve referência de relacionamento afetivo em casa. Nesses casos, a criança não aprendeu a estabelecer relações afetivas porque não teve essa experiência. Se essa falta não for suprida no decorrer do seu desenvolvimento, ela pode se tornar um adulto com sérios problemas de socialização e de capacidade de vinculação afetiva com outras pessoas. 6 2 Desenvolvendo aprendizagem social inicial É na convivência saudável e com orientações claras que a criança aprende os limites e direitos do outro, que ela é estimulada a estabelecer contato com outras pessoas e a refletir sobre a sua própria conduta e seu comportamento nas interações sociais. O estímulo à reflexão e a explicação cuidadosa das regras sociais possibilita que a criança desenvolva suas habilidades sociais, respeitando e valorizando as pessoas, assim como preservando sua autonomia e independência pessoal. Convivência social Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: crianças de 3 a 4 anos brincando juntas no chão em casa. Quando a criança se sente amada e protegida no seu núcleo familiar e sabe que pode confiar nas pessoas próximas, ela tenderá a se relacionar de maneira amigável e sensível com as demais pessoas, obtendo assim estima e reconhecimento da comunidade. Os vínculos são fundamentais para a aprendizagem e a convivência social: sem eles, a qualidade dos relacionamentos fica comprometida e surgem tensões das mais variadas ordens, pois os seres humanos distanciam-se afetivamente, apesar da proximidade física. Comunicação A qualidade da comunicação entre os pais (cuidador próximo) e a criança é um fator fundamental para o desenvolvimento da relação de confiança no processo de aprendizagem social inicial. 7 No começo, a comunicação se dá por gestos, tato, contato visual e tom de voz. Este complexo sistema transmite à criança os sentimentos dos pais, proporciona a ela a sensação de segurança, carinho e proteção (ou não). Com o desenvolvimento da língua, a comunicação amplia-se, começando a envolver níveis mais abstratos. A língua passa a desempenhar importante função no processo de socialização. Por meio das palavras, ela pode se expressar e entender melhor o que lhe é dito. Os pais podem explicar as condutas indevidas e fazer a criança refletir sobre seu papel nas interações sociais, o que possibilita que ela vá formando uma noção de suas ações e participação no contexto familiar e no meio social mais amplo: Através da linguagem, as crianças formam conceitos sobre si mesmas e sobre seus relacionamentos com os outros, e aprendem a expressar necessidades pessoais e sociais. Portanto, grande parte de seu desenvolvimento inicial está intricadamente ligado à proficiência com que elas adquirem habilidades linguísticas. (FONTANA, 1991, p. 9) O papel da família Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: a imagem mostra três pessoas: um homem, uma mulher e um bebê. O homem beija a cabeça do bebê, e a mulher roça o nariz no rosto do homem. O ambiente familiar funciona como preparação para a vida em comunidade: é nele que a criança pode exercitar outros papéis sociais num ambiente seguro e protegido. Por meio deste processo, ela se instrumenta e aprende regras básicas de convivência que serão ampliadas para o ambiente comunitário. 8 3 Questões atuais As escolas, como espaços sociais, refletem os conflitos e as características da sociedade em determinado período histórico. Assim, os conflitos e desafios da sociedade contemporânea aparecem nas escolas e nos ambientes educacionais também. Embora estejamos imersos nesta sociedade, sem o distanciamento crítico que permite uma análise mais isenta, é possível destacar algumas transformações que impactam a educação: novas tecnologias; e disseminação dos meios de comunicação. Estes dois fatoressão englobados pela denominação de TICs – Tecnologias da Informação e da Comunicação. Estas mudanças impactam diretamente na estrutura, organização e dinâmica familiar, em qualquer uma de suas configurações. Fontana (1991) classifica a família em nuclear e estendida. A família nuclear refere-se aos parentes de primeiro grau, pais e filhos, e a família estendida corresponde aos parentes de 2º e 3º graus (tios, avós, primos etc.). Tanto a família nuclear como a família estendida sofreram mudanças significativas. Família nuclear No caso da família nuclear, foram mudanças estruturais: o formato pai, mãe e filho(s) não é mais considerado norma universal. O aumento dos divórcios, filhos de casamentos múltiplos, filhos cuidados por apenas um dos progenitores, gestações tardias, filhos de casais homoafetivos ampliaram as possibilidades de configuração familiar. Família estendida A família estendida fragmentou-se espacialmente, haja vista a amplitude que a mobilidade social ganhou: os jovens – e também os adultos – deslocam- se para outros espaços em busca de oportunidades de estudo e trabalho e constituem sua família nuclear longe da sua cidade natal. Ao mudar para outra região, o contato direto com tios e avós fica reduzido, e estes deixam de exercer uma influência direta na educação das crianças. Esta fragmentação da família estendida diminui a pressão social e vigilância disciplinar sobre as crianças. 9 Fechamento Nesta unidade, você aprendeu que: • os aspectos sociais constituem o universo humano e o particularizam em relação aos demais seres vivos, pois possibilitam o contato e a transmissão da cultura; • no universo social, a criança aprende a expressar emoções, experimenta sen- timentos de alegria, tristeza, tranquilidade e inquietações; • o conceito de criança vigente na sociedade atual não é natural e nem mesmo universal: trata-se de uma construção histórica e cultural; • a primeira relação social do bebê é com sua mãe (ou mãe substituta) e é com quem estabelece os primeiros vínculos e experiências afetivas; • a qualidade da relação afetiva direcionada à criança tem forte influência no desenvolvimento de suas habilidades sociais; • é na convivência saudável e com orientações claras que a criança aprende os limites e direitos do outro; • o domínio linguístico desempenha importante função no processo de socia- lização da criança; • as escolas, como espaços sociais, refletem os conflitos e as características da sociedade em determinado período histórico; • a terapia familiar trabalha a família como um todo, como uma visão sistêmica. 10 Referências FONTANA, D. Psicologia para Professores. São Paulo: Loyola. 1991.
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