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Dor Abdominal Aguda

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A dor abdominal, que é uma queixa frequente entre os pacientes 
ambulatoriais nos consultórios e departamentos de emergência, pode 
ser benigna e autolimitada ou apresentar sintoma de doença grave que 
ameaça a vida. A dor abdominal crônica que está presente há meses 
ou anos, na ausência de outras doenças orgânicas, é quase sempre 
funcional e não necessita de avaliação de urgência. Em contrapartida, 
a maioria dos pacientes com dor abdominal aguda grave necessita de 
uma avaliação detalhada, emergencial, que pode rapidamente revelar 
uma doença cirúrgica aguda. 
A interpretação correta da dor abdominal aguda pode ser um desafio. 
Poucas situações clínicas exigem maior discernimento, considerando 
que o mais catastrófico dos eventos pode ser antecipado por sinais e 
sintomas muito sutis. Em todos os casos, o médico deve distinguir 
aqueles quadros que requerem intervenção urgente de outros que 
podem ser conduzidos clinicamente. A anamnese e o exame físico 
meticulosamente executados são essenciais para abordar o 
diagnóstico diferencial, quando necessário, a fim de permitir a 
avaliação diagnóstica para uma condução rápida do caso 
 
 
• Somática superficial: bem localizada, bem definida, bem 
caracterizada, próxima ao ponto onde ocorrem o estímulo ou a 
irritação dos planos anatômicos da parede do abdomen – originada da 
pele 
• Somática profunda: pouco menos localizada, mas ainda definida, 
próxima ao ponto da lesão – originada da musculatura da parede e 
peritôneo parietal inervado pelos nervos frênico, toraco-abdominais, 
subcostais e plexo lombosacral 
OBS: O peritônio visceral não apresenta inervação para a dor, mas 
sensações de distensão ou tração podem ser sentidos difusamente. 
• Visceral: varia conforme o tecido afetado, profunda, difusa, mal 
definida, podendo localizar-se na linha média do abdômen (regiões 
epigástrica, periumbilical e hipogástrica) ou nos quadrantes da parede 
abdominal, dependendo da inervação da víscera de onde partem os 
estímulos, podendo ser em cólica, em consequência dos espasmos e 
distensões da víscera envolvida. 
Existe uma propedêutica que é: 
o Come, dói e passa → provavelmente é contração de vesícula 
o Dói, come e passa → pensa-se que o fato de comer melhorou a dor, 
isso tem relação a gastrite, úlceras gástricas/abdominais e duodenites. 
O fato de a comida chegar, diminui a acidez e melhora a dor. 
Dor em cólicas muito intensas pode dar vômitos, então pode não ter 
obstrução. Como é um vomito biliosa, não está obstruído. 
A 1ª coisa que faria, seria um exame físico, para avaliar em qual 
quadrante se localiza a alteração. Ordem: inspeção → ausculta → 
percussão → palpação. 
O histórico deve determinar o curso da duração, característica, 
localização e padrão de radiação da dor. A dor abdominal severa que 
começa repentinamente em alguns segundos ou minutos indica um 
evento catastrófico, tal como ruptura esofágica, úlcera péptica ou 
víscera perfurada, gestação ectópica rompida, aneurisma aórtico 
rompido, isquemia mesentérica aguda ou infarto do miocárdio. Dor 
que progride em uma-duas horas é consistente com distúrbio 
inflamatório rapidamente progressivo (p. ex., colecistite, apendicite, 
pancreatite), obstrução aguda de uma víscera (obstrução do intestino 
delgado, cólica ureteral) ou isquemia de órgão causada por 
estrangulamento de suprimento sanguíneo (volvo, hérnia, 
estrangulada, torção ovariana). A dor menos grave e que se 
desenvolve no decorrer de horas é mais comumente causada por uma 
condição médica do que cirúrgica, incluindo distúrbios GI superiores 
(dispepsia), distúrbios intestinais (gastroenterite, doença intestinal 
inflamatória), distúrbios hepáticos (hepatite, abscessos), distúrbios 
urinários (cistite, pielonefrite) ou infecções ginecológicas. Entretanto, 
a lenta evolução dos distúrbios cirúrgicos, como colecistite, 
apendicite ou diverticulite e abscessos intra-abdominais não devem 
ser ignorados. 
O caráter da dor fornece informações importantes sobre o fato de os 
sintomas serem devidos a estímulos viscerais ou estímulos parietais 
(peritonite). Pacientes com peritonite podem relatar dor localizada 
profunda ou irritação com atividades e manobras que alongam ou 
movimentam o peritônio parietal, tais como andar, se movimentar na 
cama e tossir. Como resultado, eles tendem a ficar deitados e quietos 
para evitar o estímulo da dor. Em contrapartida, os pacientes com dor 
visceral podem se movimentar ou andar incessantemente, ou ainda 
tentar evacuar na tentativa de aliviar os sintomas. 
Quanto a localização da dor a divisão em regiões ou quadrantes 
facilita na hora de identificar a causa do problema: 
 
Na mulher, uma história menstrual precisa é imprescindível. É 
importante lembrar que as relações anatômicas normais podem estar 
significativamente alteradas no útero gravídico. A dor abdominal e 
pélvica pode ocorrer durante a gravidez em razão de quadros que não 
requerem cirurgia. Finalmente, alguns resultados laboratoriais que em 
outras condições seriam significativos (p. ex., leucocitose) podem ser 
resultantes de alterações fisiológicas normais durante a gestação. 
Durante o exame físico, a inspeção crítica simples do paciente, como, 
por exemplo, a fácies, a posição no leito e a atividade respiratória, 
fornece indícios valiosos. A quantidade de informações reunidas é 
diretamente proporcional à gentileza e à dedicação do médico. Se um 
paciente com inflamação peritoneal tiver sido examinado 
bruscamente, a avaliação acurada pelo médico seguinte torna-se quase 
impossível. É desnecessário e cruel pesquisar a hipersensibilidade de 
rebote (sinal de Blumberg) pela liberação súbita da palpação profunda 
em paciente com suspeita de peritonite. Obtém-se a mesma 
informação por meio da percussão delicada do abdome (i.e., 
hipersensibilidade rebote em miniatura), manobra que pode ser muito 
mais precisa e capaz de localizar o problema. Pode-se identificar a 
hipersensibilidade de rebote pedindo ao paciente que tussa, sem a 
necessidade de tocar no abdome. Além disso, a demonstração forçada 
de hipersensibilidade de rebote assusta e induz espasmo protetor em 
pacientes nervosos ou preocupados mesmo em sua ausência. Uma 
vesícula biliar palpável pode passar despercebida se a palpação for 
agressiva a ponto de o espasmo muscular voluntário superpor-se à 
rigidez muscular involuntária. Como na anamnese, deve-se dispensar 
o tempo que for necessário para a realização do exame. Os sinais 
abdominais podem ser mínimos; entretanto, se forem acompanhados 
de sintomas consistentes, talvez sejam excepcionalmente 
significativos. Os sinais abdominais podem estar prática ou totalmente 
ausentes nos casos de peritonite pélvica, de modo que um exame 
pélvico e toque retal cuidadosos são imprescindíveis em todo paciente 
com dor abdominal. A hipersensibilidade ao exame pélvico ou retal 
na ausência de outros sinais abdominais pode ser causada por 
patologias de tratamento cirúrgico, como apendicite perfurada, 
diverticulite, torção de cisto ovariano e muitas outras. Muita atenção 
tem sido dispensada à presença ou ausência de ruídos peristálticos, 
seu caráter e frequência. A ausculta do abdome é um dos aspectos 
menos frutíferos do exame físico de pacientes com dor abdominal. 
Podem ocorrer tragédias, como uma obstrução do intestino delgado 
com estrangulamento ou apendicite perfurada, na presença de 
peristalse normal. Por outro lado, quando a parte proximal do intestino 
acima da obstrução torna-se acentuadamente distendida e edematosa, 
os ruídos peristálticos podem perder as características de borborigmo, 
tornando-se fracos ou inaudíveis, mesmo quando não há peritonite. 
Em geral, é a peritonite química grave de início súbito que está 
associada a um abdome verdadeiramente silencioso. 
Os exames laboratoriais podem ser importantes na avaliação do 
paciente com dor abdominal; todavia, com poucas exceções,eles 
raramente estabelecem um diagnóstico. A leucocitose jamais deve ser 
o único fator decisivo para indicar ou não a cirurgia. Pode-se observar 
uma contagem de leucócitos > 20.000/μL na perfuração de uma 
víscera; contudo, pancreatite, colecistite aguda, doença inflamatória 
pélvica e infarto intestinal são quadros que também podem estar 
associados a leucocitose acentuada. Não é raro obter-se uma 
contagem normal de leucócitos em casos de perfuração de vísceras 
abdominais. O diagnóstico de anemia pode ser mais importante do que 
a contagem dos leucócitos, particularmente quando combinado com a 
história clínica. 
O exame de urina pode revelar o grau de hidratação ou excluir uma 
doença renal grave, diabetes ou infecção urinária. Os níveis 
sanguíneos de ureia, a glicemia e a bilirrubina sérica podem ser úteis. 
Os níveis séricos de amilase podem estar aumentados em 
consequência de muitas outras doenças que não a pancreatite, como, 
por exemplo, úlcera perfurada, obstrução intestinal com 
estrangulamento e colecistite aguda; logo, as elevações nos níveis de 
amilase sérica não afastam a necessidade de cirurgia. 
As radiografias simples de abdome em posição ortostática ou em 
decúbito lateral podem ser úteis nos casos de obstrução intestinal, 
úlcera perfurada e vários outros distúrbios. Em geral, são 
desnecessárias em pacientes com apendicite aguda ou com hérnia 
externa estrangulada. Em raros casos, a seriografia do trato 
gastrintestinal superior com bário ou contraste hidrossolúvel pode 
revelar uma obstrução intestinal parcial que tenha escapado do 
diagnóstico por outros meios. Se houver a possibilidade de obstrução 
do cólon, deve-se evitar a administração oral de sulfato de bário. Por 
outro lado, nos casos suspeitos de obstrução do cólon (sem 
perfuração), o clister opaco pode ser diagnóstico. 
Na ausência de traumatismo, o exame de TC e a laparoscopia 
substituíram o lavado peritoneal como instrumento diagnóstico. A 
ultrassonografia mostrou-se útil na detecção de aumento da vesícula 
biliar ou do pâncreas, cálculos biliares, aumento do ovário ou gravidez 
tubária. A laparoscopia é particularmente útil para o diagnóstico de 
afecções pélvicas, como cistos ovarianos, gravidez tubária, salpingite 
e apendicite aguda. 
A cintilografia hepatobiliar com ácido iminodiacético pode auxiliar a 
diferenciar entre colecistite aguda e cólica biliar por pancreatite 
aguda. A TC pode revelar um pâncreas aumentado, ruptura de baço 
ou espessamento da parede do cólon ou do apêndice, e estriação de 
mesocolo ou de mesoapêndice, característicos de diverticulite ou 
apendicite. 
 
A alta a pedido é um direito do paciente. 
Deve-se ter em mente que um hospital não é uma unidade prisional e 
que o paciente ou seu responsável legal estão no gozo pleno da 
autonomia. 
Ainda que não tenha um valor jurídico absoluto na Justiça Cível e 
Penal, é um documento importante que mostrará ao Juíz, se for o caso, 
que a alta não foi médica e sim por vontade do paciente ou seu 
responsável legal. 
• Harrison e cols. Medicina Interna – Ed. Mc Graw Hill,16a. Edição, 
2005, Vol I, pág 88 a 91. 
• Cecil, Goldman e Ausiello e cols. Tratado de Medicina Interna, Ed. 
Elsevier, 22a. Edição, 2005, pág 904 a 912. 
• Resumos da Med

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