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Guia do Estrategista ENEM Como estudar para ser aprovado no curso que você quiser! Ricardo Enrique Pereira Scholz Rafael Peixoto de Moraes Pereira Copyright © 2021, Ricardo Enrique Pereira Scholz e Rafael Peixoto de Moraes Pereira. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, por quaisquer meios, sem prévia e expressa autorização dos autores. Entre em contato com os autores enviando uma mensagem para autor@guiadoestrategista.com.br. ISBN: 978-65-00-16149-6 Publicado por meio do Kindle Direct Publishing© e impresso por Amazon.com, Inc.© Capa e contracapa: Ricardo Scholz Produção e fotografias de Flashcard e Mapa Mental: Ricardo Scholz Tirinha: Reginaldo Torres Júnior Gráficos: Ricardo Scholz Fotografias de abertura dos capítulos: Introdução: theilr, recorte de “spiral notebook”, disponível em https://www.flickr.com/photos/theilr/2266273563/ (CC BY-SA 2.0) Capítulo 1: Dafne Cholet, recorte em preto e branco de “Calendar*”, disponível em https://www.flickr.com/photos/dafnecholet/5374200948/ (CC BY 2.0) Capítulo 2: Richard Matthews, recorte em preto e branco de “Darts”, disponível em https://www.flickr.com/photos/richardofengland/6788829651/ (CC BY 2.0) Capítulo 3: Luigi Morante, recorte de “Old Woman”, disponível em https://www.flickr.com/photos/eudaimos/2555003647/ (CC BY 2.0) Capítulo 4: Dave Dugdale, recorte em preto e branco de “Butterfly”, disponível em https://www.flickr.com/photos/davedugdale/14235382818/ (CC BY-SA 2.0) Capítulo 5: Mark Bonica, recorte em preto e branco de “Giuoco Piano”, disponível em https://www.flickr.com/photos/23119666@N03/5312787867 (CC BY 2.0) Capítulo 6: bvi4092, recorte de “A downward spiral – Staircase in Pagoda”, disponível em https://www.flickr.com/photos/bvi4092/25828242626/ (CC BY 2.0) Capítulo 7: Marco 44, recorte em preto e branco de “Patience”, disponível em https://www.flickr.com/photos/114781795@N07/15544368093/ (CC BY 2.0) Capítulo 8: Caleb Roenigk, recorte em preto e branco de “Writing? Yeah.”, disponível em https://www.flickr.com/photos/crdot/6855538268/ (CC BY 2.0) Capítulo 9: Ricardo Scholz, recorte em preto e branco de “on the road”, disponível em https://www.flickr.com/photos/ricardoscholz/31389236970/ (CC BY-NC-SA 2.0) mailto:autor@guiadoestrategista.com.br https://www.flickr.com/photos/theilr/2266273563/ https://www.flickr.com/photos/dafnecholet/5374200948/ https://www.flickr.com/photos/richardofengland/6788829651/ https://www.flickr.com/photos/eudaimos/2555003647/ https://www.flickr.com/photos/davedugdale/14235382818/ https://www.flickr.com/photos/23119666@N03/5312787867 https://www.flickr.com/photos/bvi4092/25828242626/ https://www.flickr.com/photos/114781795@N07/15544368093/ https://www.flickr.com/photos/crdot/6855538268/ https://www.flickr.com/photos/ricardoscholz/31389236970/ O mundo é para quem nasce para o conquistar. E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. Fernando Pessoa, em “A Tabacaria” Índice Introdução Habituando-se a Estudar Concentrando-se Memorizando Para o Longo Prazo Cuidando do Corpo Estudando Estrategicamente Adotando um Método Estratégico Fazendo a Prova com Estratégia Escrevendo a Redação Estrategicamente Pegando a Estrada Agradecimentos Sobre os Autores Apêndice – Referências Sumário Introdução 1. Habituando-se a Estudar 1.1. Entenda Como Funcionam os Hábitos 1.2. Livre-se dos Maus Hábitos 1.3. Crie e Mantenha o Hábito de Estudar 2. Concentrando-se 2.1. Entenda Como Manter-se Focado 2.2. Adapte-se à Era Digital 3. Memorizando Para o Longo Prazo 3.1. Evite Práticas Ineficazes de Estudo 3.2. Torne-se Antifrágil 3.3. Favoreça Métodos de Aprendizagem Ativa 3.4. Use Variação, Intercalação e Espaçamento 3.5. Resumo 4. Cuidando do Corpo 4.1. Durma, e Durma Bem 4.2. Coma Bem, e Várias Vezes ao Dia 4.3. Exercite-se, e com Intensidade 5. Estudando Estrategicamente 5.1. Especialize-se 5.2. Faça Planejamento Estratégico Contínuo 5.3. Construa o Conhecimento de Forma Cíclica e Incremental 5.4. Escolha o Material Estrategicamente 5.5. Escolha os Assuntos Estrategicamente 5.6. Confie nos Dados 5.7. Conheça-se 5.8. Seja Realista ao Planejar 5.9. Estude com Qualidade 5.10. Busque Conforto 5.11. Descanse Periodicamente 6. Adotando um Método Estratégico 6.1. Entenda Como Funciona a Pontuação do Enem 6.2. Prepare-se Para Planejar 6.3. Meça Seu Desempenho 6.4. Planeje Seu Ciclo de Estudos 6.5. Escolha as Fontes de Estudo com Sabedoria 6.6. Estude em Grupo 7. Fazendo a Prova com Estratégia 7.1 Chegue Cedo e Saia Tarde 7.2 Faça a Prova em Ciclos 7.3 Adote um Método Consistente 7.4. Resolva as Questões com Estratégia 7.5 Use Técnicas de Chute 8. Escrevendo a Redação Estrategicamente 9. Pegando a Estrada Agradecimentos Sobre os Autores Apêndice – Referências Introdução Estudar de forma estratégica é maximizar a eficiência e a eficácia, de maneira consistente e sistemática. Eficiência é a capacidade de conseguir o melhor rendimento com o mínimo de recursos. Eficácia é a capacidade de atingir o objetivo desejado. Afinal, o bom rendimento com o mínimo de recursos (eficiência), mas que não leva à aprovação, é inútil, bem como não parece estimulante ser aprovado (eficácia) somente depois de passar vários anos estudando. Haverá fatores que afetarão sua preparação e que você não poderá manipular, tais como as variações do seu humor, sua maior ou menor dificuldade com cada disciplina, entre outros. Não obstante, você ainda poderá medir os efeitos desses fatores e, com base nisso, manipular constantemente os demais – como as escolhas de técnicas de estudo, dos assuntos, do quanto, de quando e de como estudar cada disciplina, por exemplo – para lhe favorecer. Isso é estratégia. Nesse contexto, o objetivo do estudo estratégico é maximizar o aproveitamento dos recursos visando diminuir o tempo necessário para ser aprovado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Esses recursos incluem o tempo disponível para estudo, todo o material de que você dispõe, o acesso a aulas regulares ou cursinhos, por exemplo. Pode parecer estranho dizer isto, mas, ao estudar para o Enem, o objetivo principal não é aprender, e, sim, ser aprovado. Aprender será uma consequência natural do processo vivenciado até a aprovação. Em cada fase do seu percurso, sua estratégia precisa ser diferente, pois é crucial adaptar-se às necessidades de cada momento. Seja porque a prova está próxima ou muito distante, porque você terá menos ou mais tempo disponível para os estudos durante um determinado período ou, ainda, porque a construção do seu conhecimento em cada disciplina ou assunto está em diferentes etapas. Assim, este livro tem como principal objetivo ensiná-lo a estudar de maneira estratégica para o Enem, maximizando suas chances de aprovação rápida no curso que você escolher. Ao longo de muito tempo, observamos como vários estudantes tinham práticas de estudo inconsistentes, ineficientes e ineficazes. Constatar isso foi o que nos levou a escrever este Guia do Estrategista Enem. Neste guia, propomos uma mudança de mentalidade. Para que você possa estudar estrategicamente, é preciso garantir primeiro que você vai adquirir o hábito de estudar. Assim, começamos ensinando-o a criar esse hábito. Uma vez o estudo inserido em sua rotina, para estudar com estratégia, é preciso entender como nosso cérebro funciona, e melhorar os processos de aprendizado para o longo prazo, como é o caso do Enem. Por isso, neste livro você aprenderá como manter o foco, como otimizar a memória de longo prazo e quais métodos de estudo são mais eficientes em cada contexto. Ainda, trazemos dicas práticas sobre o tripé de cuidados com seu corpo que podem turbinar sua aprendizagem: o sono, a alimentação e a atividade física. Listamos, então, um conjunto de princípios para estudar estrategicamente: eles devem guiá-lo em todas as decisões durante sua preparação. Uma vez com os princípios em mente, você poderá colocar em prática o método de planejamento de estudos que propomos. É importante que a estratégia não burocratizee sobrecarregue seus estudos, por isso, nosso método é simples, direto e flexível. Mostraremos com um exemplo completo como fazer isso na prática. Além disso, você precisa de estratégia também no momento da prova. Por isso, nós tratamos esse momento em dois capítulos específicos, ensinando-o a fazer a prova e a redação estrategicamente. Por fim, preparamos um material de apoio, disponível no site Guia do Estrategista (guiadoestrategista.com.br). Lá, você encontrará, por exemplo, planilhas de planejamento e acompanhamento prontas para uso. Esperamos que o conteúdo deste guia lhe seja útil. Temos certeza que as http://www.guiadoestrategista.com.br/ horas investidas na leitura deste livro serão revertidas em um estudo de muito melhor qualidade, eficiência e eficácia ao longo da sua trajetória, levando-o à aprovação com menos esforço e em menos tempo. Certamente, em breve você estará sentado na sala de aula do curso e da universidade que escolheu. Venha conosco! Boa leitura, bons estudos e boa prova! CAPÍTULO 1 Habituando-se a Estudar Ohábito de estudar é uma premissa tão importante para o que vem a seguir, que não podemos deixar de começar este livro mencionando alguns aspectos cruciais sobre ele. A seguir, vamos entender o que é e para que serve um hábito. Conhecer o mecanismo é essencial para evitar os maus hábitos e reforçar os bons. Assim, você aprenderá como desenvolver o bom hábito de estudos de forma prática. 1.1. Entenda Como Funcionam os Hábitos Hábitos são escolhas que fazemos de forma consciente no começo, mas que se tornam automatizadas com o passar do tempo. É um ciclo fechado de comportamento movido a dopamina, um mensageiro químico envolvido em processos com compensação, prazer, humor, entre outros. Hábitos surgem porque o nosso cérebro está sempre à procura de formas para melhorar sua eficiência. Se o cérebro fosse dividido em camadas, quanto mais internalizado um hábito, mais profunda a camada em que estaria localizado. Talvez seja surpreendente saber que quase a metade das nossas decisões em um dia são feitas de forma automática, graças aos hábitos. Eles acontecem em ciclos de três estágios: um gatilho, que dá a dica ao seu cérebro para selecionar o hábito e entrar em piloto automático; uma rotina, que é o comportamento em si, durante o qual suas atividades neurais ficam bastante reduzidas, liberando seu cérebro para processar outras tarefas; e uma recompensa, uma sensação que permite ao seu cérebro saber se valeu a pena internalizar esse ciclo. Na medida em que um ciclo é repetido diversas vezes, o seu cérebro começa a criar uma relação entre “o desejo”, pela antecipação de que um ciclo irá iniciar, e “a satisfação”, pela sensação que a recompensa exerceu. Mais importante do que compreender como os hábitos funcionam é entender como mudá-los. Não é fácil, nem rápido, nem simples, mas é possível. 1.2. Livre-se dos Maus Hábitos Em primeiro lugar, os maus hábitos acontecem porque nosso cérebro avalia as relações entre desejo (antecipação) e satisfação (realização), envolvidos na execução do hábito, pelos resultados de curto prazo. Isso torna nosso cérebro suscetível a valorizar mais o prazer em navegar pelas redes sociais, por exemplo, do que a dedicar tempo para conquistar aquela tão sonhada vaga no curso que queremos. E nesse caso, podemos pensar em poucos exemplos onde atividades de curto prazo (a satisfação imediata de ver quantos likes seu post teve) e longo prazo (a aprovação no Sisu daqui a quase um ano) sejam tão diametralmente opostas nas recompensas oferecidas. Além disso, os circuitos neurais dedicados ao simples desejo de recompensa – a sensação de prazer apenas por idealizar a realização do hábito – são em número muito maior do que os circuitos dedicados à satisfação real pelo que foi desejado – a sensação de prazer após a concretização do hábito. Por exemplo, imaginar inteirar-se do que está acontecendo no mundo pelas redes sociais pode gerar mais felicidade do que, efetivamente, a sensação após ter chegado ao final da sua timeline. Inclusive, justamente devido à idealização, e até, às vezes, ao retardamento da realização do desejo, a satisfação ao final pode causar uma baixa de dopamina, gerando infelicidade, mau humor e toda sorte de sentimentos até contrários ao que se buscava. Por sinal, se você sofre de problemas de vício em redes sociais, uso abusivo de celular, entre outros, incluímos nas referências excelentes recomendações de livros e aplicativos especializados, e até um documentário sobre o tema. Por fim, maus hábitos são retroalimentados. Se você está com preguiça de estudar, e decide jogar videogame, ao final da jogatina se sentirá ainda mais preguiçoso e sentirá o desejo de jogar ainda mais, numa espiral descendente. Portanto, a melhor maneira de livrar-se dos maus hábitos é livrando-se das tentações, ou seja, dos gatilhos associados a eles. Aquele seu amigo disciplinado não é muito melhor em manter o autocontrole, o diferencial dele reside no quanto ele evita passar pelas tentações de cair em maus estímulos, consciente ou inconscientemente. Por exemplo, o gatilho pode ser simplesmente ter o aplicativo do Instagram instalado no seu celular ou estudar com o celular ao lado – no caso do mau hábito de verificação contínua das redes sociais – ou ter na dispensa aquele biscoito recheado muito mais atraente que uma fruta qualquer – no caso do mau hábito alimentar. 1.3. Crie e Mantenha o Hábito de Estudar No Capítulo 6, você aprenderá um método que está intimamente relacionado à sua capacidade de desenvolver hábitos consistentes. Por isso, listamos aqui uma série de recomendações que facilitarão a criação de bons comportamentos de estudo, para que progressivamente se tornem automáticos, por meio da repetição. É muito importante ressaltar a repetição como palavra-chave: os hábitos se formam com base na quantidade de vezes em que o ciclo gatilho-rotina-recompensa é repetido, não pelo tempo. Estudar 1 hora por dia, por seis dias, é muito mais favorável para a consolidação de um hábito, do que estudar as mesmas 6 horas em um único dia. Sem falar nos impactos que isso traz para a formação de memórias de longo prazo, como veremos no terceiro capítulo. Portanto, quer saber quanto tempo levará para internalizar um hábito? O tempo necessário para repetir um ciclo por cerca de cem vezes. Assim, se você passar a estudar todos os dias, levará pouco mais de três meses para que o hábito de estudar esteja estabelecido. Mas ainda assim, será preciso ocupar- se em mantê-lo. Para criar e manter bons hábitos de estudo, é preciso torná-los claros, atraentes, fáceis e satisfatórios. 1.3.1. Torne o Hábito Claro Um dos maiores desafios para a mudança de hábitos é tornar-se consciente do que fazemos cotidianamente. Portanto, faça listas de bons e de maus hábitos que estejam no seu cotidiano. Não apenas reflita sobre isso, eleve o nível de conscientização desses comportamentos, escrevendo essas ações em um papel. Em especial, destaque os benefícios de se evitar cada um dos maus hábitos. Se estiver em dúvida sobre quando começar, tente o primeiro dia da semana, ou do mês. Evite o excesso de otimismo no início do estabelecimento do hábito de estudos: inicie com o mínimo de horas possível. Tornar o cumprimento da meta fácil permite que você ganhe confiança para estabelecer metas maiores. O mais importante nesse contexto é cumprir o planejado. E adote a regra de ouro de nunca furar o planejamento por dois dias consecutivos. Se você não estiver conseguindo seguir com o planejado, tente ser um pouco mais previdente: até a noite anterior ao dia de estudos, defina o plano de quando (hora) e onde (local) os estudos acontecerão. Registrar por escrito a intenção da implementação do hábito mais que dobra as chances de realizar o que foi planejado. Decidir ao longo do dia o que será feito exige um esforço maior da nossa capacidade decisória, e para alguns pode não funcionar bem. Se for o seu caso, faça isso com antecipação e, no dia, apenas dedique-sea seguir o plano. Caso contrário, você pode ser menos burocrático e decidir antes de cada bloco de estudos qual será a disciplina e assunto estudados. Isso, por outro lado, lhe dará mais flexibilidade para lidar com seu humor e disposição para cada disciplina ao longo do dia. O importante é observar o que funciona melhor para você. Tente usar as mesmas janelas de horários para os estudos. Por exemplo, das 14h às 17h. Isso tornará a rotina mais fácil de ser recordada, nos planos consciente e inconsciente, facilitando as repetições que formarão o hábito. Hábitos são muito dependentes dos estímulos ao nosso redor. É mais fácil mudar de hábitos quando mudamos para um novo ambiente. Se for possível, procure por uma biblioteca pública, um ambiente diferente da sua casa, uma cafeteria, mesmo que não seja um ambiente para todos os dias. Estudos demonstram que mudar de ares é uma estratégia muito efetiva, principalmente quando estamos começando a estruturar uma nova rotina de hábitos. Se um novo ambiente não for possível, tente reorganizar o ambiente atual de forma que ele proporcione o máximo de estímulos na direção da rotina de estudos, ao mesmo tempo que dificulta estímulos aos maus hábitos (fugindo dos gatilhos ruins). Por exemplo, coloque seu celular para carregar em outro ambiente, ou guardado na mochila – e no silencioso –, enquanto estuda. 1.3.2. Torne o Hábito Atraente Lembre-se que todos os comportamentos habituais humanos estão, em algum grau, associados a níveis altos de dopamina, como comer, namorar ou usar as redes sociais. Como vimos, esses picos de dopamina regem nossos desejos, e são liberados não apenas no momento em que experienciamos o que desejamos, mas também – e principalmente – quando imaginamos a realização do que desejamos (antecipação). Por isso, a importância em tornar atraentes os hábitos que necessitamos, já que, em geral, é a antecipação dos desejos que nos leva a agir. Uma boa estratégia é associar três hábitos: um que você já tenha atualmente, um que você necessite e um que você deseje. Por exemplo: após tomar café da manhã (hábito atual), estudarei por 1 hora e 30 minutos sem distrações (hábito necessário), e após isso acessarei minhas redes sociais por 15 minutos (hábito desejado). Dessa maneira, você estará posicionando o hábito que necessita (estudar) dentro da sua rotina habitual (café da manhã), enquanto, ao mesmo tempo, o associa com algo atraente (usar as redes sociais). Outra estratégia muito eficaz é cercar-se de pessoas que praticam os hábitos que você almeja, ou seja, estão também interessadas em tornar o estudo um hábito (ou já tornaram). Isso irá ajudá-lo a assumir essa nova identidade, ao ser reconhecido como parte daquele grupo, e permitirá que você se sinta mais atraente, por associação. Além disso, fará com que você não desista facilmente dessa sensação de pertencimento a um grupo cujo comportamento padrão é o que você deseja, permitindo a formação de uma rede de apoio em que você pode sempre buscar por ajuda. Seja para trocar materiais, tirar dúvidas, acordar publicamente objetivos, trocar experiências ou buscar apoio psicológico para os momentos mais difíceis, poucas coisas podem ser tão efetivas quanto estar rodeado de pessoas com bons hábitos de estudo. 1.3.3. Torne o Hábito Fácil Para criar e manter um hábito, é preciso diminuir a energia necessária para realizar a ação, aumentando sua probabilidade de ocorrência. Haverá dias em que você não terá motivação suficiente, e é preciso estar preparado para lidar com eles. Quando estudar em casa, mantenha sua mesa organizada (antes e após o estudo). Deixar a sua mesa sempre pronta diminui a inércia para começar os estudos. Além disso, torne a sua mesa de estudos o lugar mais simples possível. Mantenha apenas as canetas necessárias. O uso excessivo de cores para tomar notas geralmente torna as anotações muito lentas. Nada além de duas cores irá aumentar muito sua capacidade de retenção de informação. Uma garrafa de água, uma caneta preta e uma vermelha, um lápis, uma borracha, alguns Post-its, uma régua e um marca-texto devem ser suficientes. Mantenha todos os livros, apostilas e demais materiais que você venha a precisar tão acessíveis quanto possível. Preferencialmente organizados em pastas sanfonadas (material em estudo) ou pastas arquivo (material já estudado). Use um serviço de nuvem – como o Google Drive – para armazenamento de materiais digitais. Muitos deles disponibilizam um espaço gratuito que deve ser suficiente para armazenar PDFs, arquivos de áudio e até alguns vídeos. O uso de serviços de nuvem é ainda mais crucial para quem estuda fora de casa, se houver Internet no local de estudo. Mantenha seus arquivos muito bem organizados, para que o acesso seja sempre fácil e rápido. Caso você tenha optado por estudar fora de casa, tente escolher um local que não seja tão distante, ou que esteja em um caminho natural da sua rotina (entre a sua casa e a sua escola ou o seu trabalho, por exemplo). A ideia é que tudo seja mais prático, e não o contrário. Assim como vale a pena organizar seu ambiente com antecedência, organize antecipadamente a sua mochila para o dia seguinte. Além de diminuir o estresse, diminuirá as chances de que você esqueça algum material importante. Em resumo, seja sua mochila ou sua mesa de estudos, deixe-os preparados para a próxima sessão de estudos ao terminar a sessão atual. Tudo que é feito para facilitar os bons hábitos pode ser aplicado inversamente para dificultar os maus hábitos. Portanto, guardar o seu celular num pote fechado em outro quarto da casa ou dentro de um bolso da mochila, ou remover os cabos e controles do seu videogame e deixá-los sob a responsabilidade de alguém que só deverá liberá-los dentro de dias e horários específicos podem ser boas opções. Caso encontre dificuldade para começar um dia de estudos, experimente estudar por apenas 5 minutos. Você ficará surpreso ao perceber que é mais difícil parar, uma vez que a rotina foi iniciada. Mais importante do que cumprir plenamente o que foi planejado é manter o padrão se repetindo, ainda que apenas parcialmente. Estudar por um tempo reduzido durante vários dias mantém um padrão que precisará ser melhorado. Não fazer nada destrói o hábito. 1.3.4. Torne o Hábito Satisfatório Nosso cérebro funciona a maior parte do tempo baseando a replicação dos nossos hábitos nas recompensas de curto prazo, quer elas tragam resultados bons ou ruins. Experiências satisfatórias, mesmo que gerem resultados ruins com o passar do tempo, são registradas como um comportamento a ser repetido. E o contrário acontece com experiências insatisfatórias: mesmo que gerem bons resultados futuros, serão registradas como um comportamento a ser evitado. Por isso, é importante tornar satisfatórias as recompensas imediatas dos nossos hábitos de estudo. Existem pessoas que se sentem mais confortáveis em usar um rastreador diário de hábitos – há vários aplicativos para celular –, tornando, dessa forma, o acompanhamento visual do progresso mais imediato. Esse registro facilita a ideia já discutida de que você não deve quebrar um hábito por dois dias consecutivos. Faça os registros do cumprimento das rotinas mais importantes por escrito, o que reforçará a ideia de que você está tendo uma progressão concreta. Pode parecer algo bobo, mas pessoas que mantêm esses registros aumentam consideravelmente suas chances de sucesso. Existe uma máxima: “o que pode ser medido, pode ser melhorado”. Seja diariamente ou semanalmente, mantenha algum registro da sua evolução. Apenas tente não rastrear simultaneamente hábitos demais. Comece marcando quando você estudou as horas que havia planejado, dormiu as horas necessárias e praticou atividades físicas. Recompense seus sacrifícios com momentos de prazer, sem culpa, a cada vez que alcançar determinados objetivos. Ou você também pode agir de forma inversa, produzindo uma penalidade caso você execute um mau hábito quando não deveria. Aqui, novamente vale a ideia de assumir um compromissopúblico com alguém próximo, que possa garantir o acesso ao bônus ou o cumprimento da penalidade. Observe se você funciona melhor com reforço positivo (bônus) ou negativo (penalidade), ou ambos. Lembre-se que tudo que foi apresentado de forma propositiva para a criação e a manutenção dos bons hábitos pode ser invertido para a interrupção e substituição dos maus hábitos. Conseguir transformar seus hábitos de maneira eficaz o coloca à frente de muitos concorrentes, e é uma habilidade que ajudará muito na aplicação dos métodos que propomos neste livro. CAPÍTULO 2 Concentrando-se Agora que você já tem o hábito de estudar, é preciso garantir que o tempo que você passa estudando valerá a pena. Otimizar o tempo de estudos está relacionado a produzir mais e desperdiçar menos. Para isso, o caminho é otimizar a sua capacidade de concentração e foco. 2.1. Entenda Como Manter-se Focado A falta de capacidade de concentração é um dos problemas mais recorrentes no mundo contemporâneo, principalmente devido às novas tecnologias e ao crescimento do mercado de entretenimento. É cada vez mais difícil manter-se focado em trabalhos com alto grau de dificuldade que requerem a capacidade de aprender assuntos complexos sem interrupções, devido à demanda cognitiva intensa. Essa perda afeta tantas pessoas que nossa cultura em direção ao trabalho desfocado está expondo uma quantidade massiva de oportunidades pessoais e econômicas para aqueles que reconhecem o potencial de resistir a essa tendência e priorizam o foco. Aprender a desenvolver habilidades de forma rápida enquanto se produz resultados com excelência são os dois fatores- chaves não apenas em provas como o Enem, mas para sua vida no competitivo mercado de trabalho atual. Ambas as coisas requerem uma capacidade de concentração profunda. O cérebro humano é fabuloso, porém sua capacidade de lidar com grandes quantidades de informações é limitada. Ele funciona como um foco de luz, só podendo iluminar as coisas uma de cada vez. Aproximar-se dessas coisas faz com que você perceba os detalhes, ao mesmo tempo em que você perde o foco de todas as demais. Essa limitação fica ainda mais evidente quando tentamos fazer várias tarefas ao mesmo tempo, algo conhecido como multitasking. E para piorar a situação, não conseguimos migrar de foco entre tarefas de forma instantânea. Quando estabelecemos um foco, nossa capacidade de concentração vai aumentando exponencialmente e pode levar até 20 minutos até atingir o seu ponto máximo. Portanto, alternar entre diferentes tarefas leva a um enorme prejuízo de produtividade. Para muitas pessoas, aumentar as horas de estudo em concentração profunda é a única maneira de alcançar melhores resultados. A boa notícia é que essa concentração pode e deve ser treinada. Uma das maneiras de fazer isso é usando a Técnica Pomodoro: 1. Escolha apenas uma tarefa para se concentrar, sem qualquer outra distração; 2. Inicie um temporizador de 25 minutos; 3. Ao final, tome um intervalo de 5 minutos para descansar; 4. Repita o processo por quatro vezes, totalizando 2 horas. Existem diversas outras técnicas que podem ampliar sua concentração, mas talvez essa seja a mais famosa. É possível encontrar muitas aplicações para smartphones que simulam o temporizador, mas recomendamos que você use um relógio convencional para manter-se livre do aparelho que mais causa perda de foco nas pessoas. Caso não consiga começar com 25 minutos, tente começar com menos tempo, até que sua capacidade melhore e você eventualmente ultrapasse esse tempo padrão. Em geral, as pessoas conseguem manter um nível máximo de concentração por 60 a 90 minutos. Depois disso, recomendamos um intervalo de descanso. Essa técnica também oferece um ganho indireto, porque mantém todo seu foco no processo de aprendizado, e não na conclusão da tarefa. Apesar de parecer indiferente, é a conclusão da tarefa que desencadeia a dor psicológica que leva as pessoas a procrastinar, ou seja, postergar o que deveriam estar fazendo agora. Para o seu cérebro, resolver alguns problemas de matemática por alguns minutos (processo) soa muito melhor do que concluir toda a lista de exercícios (tarefa). Também é importante destacar que estudar ouvindo música prejudicará sua capacidade de concentração severamente. Algumas músicas eruditas – como Mozart, Vivaldi, Bach, etc. – são exceções a essa regra. Essas músicas induzem o seu cérebro a uma zona de mais alto poder de concentração – normalmente, elas são apenas instrumentais ou contêm coros ininteligíveis – e produzem o mesmo benefício, ainda que sejam ouvidas em baixo volume. Existem aplicativos para smartphone com músicas que promovem esse estado. Além disso, você também pode procurar por playlists voltadas para estudos no Spotify. Uma última dica valiosa: é muito comum sentir mais dificuldade de concentração quando estudamos algo que ainda não dominamos. O importante é que quanto mais você domina um determinado assunto, mais fácil será passar longos períodos concentrado nele. 2.2. Adapte-se à Era Digital Antes de terminar este capítulo, é importante tratarmos de algo que afeta profundamente a capacidade de concentração das pessoas: o tempo que elas passam conectadas às plataformas digitais, como redes sociais, principalmente, por meio dos celulares. Consideramos essencial priorizar os benefícios de uma relação de significado de longo prazo em lugar de uma relação de satisfação de curto prazo com essas tecnologias. Para isso, primeiro, é necessário entender que essa relação viciosa com as telas não é um problema exclusivamente seu. Em particular, os aplicativos de redes sociais, plataformas de vídeos e videogames não são tão inocentes como parecem a princípio. Não se trata de você ser preguiçoso ou de uma falha de caráter, mas de uma indústria que movimenta bilhões em pesquisas com o intuito de tornar seu uso compulsivo, gerando um vício comportamental, drenando de forma inevitável as duas coisas que as pessoas têm de mais valioso: o tempo e a atenção. Existe uma relação direta entre o seu tempo e a sua atenção, e a renda gerada para essas empresas. Se você sofre com isso, provavelmente seu comportamento compulsivo está além do seu controle, e é apenas resultado direto da realização de um plano de negócios. Plataformas como redes sociais são propagandeadas pelos seus aspectos positivos, mas, muitas vezes, esse é um benefício muito pequeno diante do tempo e da atenção que investimos nelas. Para além disso, com frequência, elas destroem nossa produtividade e satisfação com a vida. Sendo inevitável aderir a novas tecnologias, é importante refletir sobre qual é a melhor maneira de usá-las, procurando sempre a intencionalidade em detrimento da mera satisfação momentânea. Existe uma grande epidemia no mundo: a da escassez de solidão. Provavelmente você deve estar surpreso com isso, mas tomemos a definição de Raymond Kethledge e Michael Erwin: "a solidão não é sobre o que está acontecendo ao redor do seu ambiente, mas ao redor da sua mente. É um estado onde a sua mente está livre da interferência de outras mentes". Portanto, você pode desfrutar da solidão em lugares lotados, ou não conseguir obtê-la quando está conectado virtualmente a outras pessoas. Em outras palavras, a solidão só existe quando você não está prestando atenção em nada além dos seus próprios pensamentos. Entre as vantagens da solidão, estão permitir um melhor entendimento sobre si, clarificar problemas difíceis, cultivar novas ideias, regular nossas emoções e fortalecer nossos relacionamentos, na medida em que passamos a valorizar mais o tempo que passamos juntos na vida real. Antes de seguir com algumas prescrições para equilibrar sua relação com o mundo digital, é importante estabelecer dois pressupostos. Primeiro, não encare essa mudança como algo temporário, como uma espécie de detox das redes sociais, mas como uma mudança permanente na maneira como você se relaciona com essas plataformas na sua vida. E segundo, passe alguns dias procurando pelas coisas que realmenteadicionam valor na sua vida, tentando responder de forma sincera e direta que tipo de pessoa você deseja se tornar ou que tipo de objetivos você pretende atingir nos próximos 12 meses – como entrar em uma boa universidade, no curso que você escolheu, por exemplo. É a perseguição implacável desses objetivos que irá preencher o vazio deixado pelo uso compulsivo dessas plataformas. Principalmente nas primeiras duas semanas, é completamente normal sentir ansiedade e urgência para checar essas plataformas novamente, mas esse sentimento desaparece, tenha paciência. No mais, adote algumas ações proativas para lidar melhor com a era digital: Baixe aplicativos que medem quanto tempo você passou no celular – e em cada aplicativo –, além do número de vezes em que a tela foi desbloqueada. Tome conhecimento desses números pelo período de uma semana, e pense no quanto poderia ser feito com parte desse tempo. De tempos em tempos, verifique se você ainda se mantém em um nível aceitável de uso; Deixe seu telefone na mochila ou em outro cômodo, sempre que possível; Preferencialmente, delete os aplicativos das redes sociais do seu aparelho celular. A facilidade de acesso e o fato desses dispositivos estarem sempre conosco facilitam o comportamento compulsivo. Ter que estar sentado em frente a um computador, com frequência, é um mecanismo que diminui substancialmente seu uso; Coloque seu celular no modo "Não Perturbe", isso desabilitará todas as notificações e sons do celular. Dessa forma, você terá mais controle sobre o seu dispositivo, não o contrário; Planeje uma janela de tempo em que você pode fazer uso sem culpa dessas plataformas, limitando sua exposição a dias e horários específicos; De forma similar, tente ter momentos específicos para manter relacionamento com seus entes mais próximos, de preferência um contato que não envolva apenas trocas de mensagens de texto ou "dar likes" em postagens. Essa é uma forma não apenas de melhorar substancialmente sua capacidade de estudar por mais tempo, mas também de aumentar a significância desses momentos; Lembre-se que o WhatsApp também é uma rede social. Ao pensar em enviar uma mensagem, pergunte-se se é imprescindível que seja enviada naquele momento ou se pode esperar o intervalo dos seus estudos. Além disso, mantenha-se apenas nos grupos essenciais e desligue as notificações de mensagens (por sinal, isso pode ser feito para todas as redes sociais). CAPÍTULO 3 Memorizando Para o Longo Prazo Uma vez que desenvolveu o hábito de estudar e é capaz de se concentrar adequadamente enquanto estuda, você pode finalmente preocupar-se em melhorar sua estratégia de estudos. E estratégia envolverá muitas perspectivas. Uma delas é a otimização do aprendizado. Afinal, mais vale estudar bem do que estudar muito. Neste capítulo, vamos tratar do aspecto mais crucial na otimização do aprendizado: a memória de longo prazo. Aprender é adquirir conhecimento ou habilidades. No entanto, só faz sentido aprender se pudermos utilizar, depois, o que aprendemos. Todo o conhecimento e todas as habilidades adquiridas precisam ser recuperáveis, em algum momento posterior ao do aprendizado. Assim, tudo que aprendemos precisa ser memorizado. E essa é, talvez, a maior armadilha envolvendo o aprendizado. Há várias maneiras de estudar. No entanto, algumas registrarão a informação na memória de longo prazo, e outras o farão na memória de curto prazo. Como os nomes sugerem, o que for registrado na primeira estará acessível meses ou anos depois. Já o que for registrado somente na segunda se perderá em poucos dias. Para o Enem, não precisamos dizer em qual memória você precisa armazenar o que estuda ao longo do ano, não é? Aprender a aprender não é algo que acontece naturalmente. Nosso cérebro é muito suscetível ao que chamamos de erro de metacognição: uma ilusão que não nos permite avaliar de maneira precisa o quão bem aprendemos. Em grande medida, isso acontece porque as boas práticas de aprendizado não são nada intuitivas. Podemos fazer uma analogia entre o processo de aprendizado e a musculação. Assim como ninguém nasce musculoso, ninguém nasce sabendo das coisas. Você já deve ter ouvido falar em hipertrofia, aquele crescimento muscular que muitos buscam a fim de tonificar seus músculos após uma sequência de treinos. Mas você já se perguntou o que acontece para que o músculo cresça? É preciso treinar intensamente, induzindo a fadiga a um ponto que é conhecido como falha muscular. Identificamos isso quando tentamos prosseguir no exercício, mas estamos tão cansados que o corpo já não consegue completar o movimento. Nesse ponto, acontece o que é conhecido como microrruptura das fibras musculares. E é justamente a microrruptura e a recomposição dessas fibras – após um período de descanso – que causa um reforço na musculatura. Isso nos permite melhorar nossa capacidade para aumentar a carga de peso do exercício, levando-nos gradativamente na direção do nosso objetivo final: ter músculos tonificados. A maioria das pessoas pensa que sua capacidade intelectual se deve exclusivamente ao que foi herdado geneticamente ao nascer. É algo tão comum que deram um nome a isso: mentalidade voltada à rigidez, ou seja, a crença de que nossa capacidade cognitiva é fixa, rígida. No entanto, nosso cérebro possui uma característica chamada neuroplasticidade. É ela a responsável por permitir que possamos aprender qualquer coisa. Assim como ter músculos mais tonificados, aprender é – e, em boa medida, sempre deve ser – um processo desconfortável. Romper as fibras para que os músculos cresçam mais fortes é certamente difícil e dolorido. De forma semelhante, a aprendizagem mais profunda e duradoura requer esforço. Na verdade, quanto mais fácil e rápido costuma ser um aprendizado, maiores as chances de esquecermos o que aprendemos tão rapidamente quanto aprendemos. 3.1. Evite Práticas Ineficazes de Estudo Inserir conhecimentos e habilidades na memória de longo prazo exige que você tenha boas práticas de estudo. No entanto, é também importante evitar práticas ineficazes. Assim, a seguir, vamos tratar das duas práticas prejudiciais mais comuns entre estudantes do Enem. 3.1.1. Estudo Intensivo e Blocado É muito comum encontrar estudantes que adotam a prática intensiva e blocada. Eles estudam exaustivamente um determinado assunto até que se sintam completamente seguros para avançar para outros tópicos. Durante um curto tempo (intensivo) resolvem todos os exercícios que encontram (bloco) com o intuito de testar seus conhecimentos. Essa prática, com poucas alterações, também é conhecida popularmente como “enfiar a cara nos livros às vésperas da prova”. Evidentemente, ela funciona, mas desde que a avaliação aconteça poucos dias após a preparação, e trate de um escopo muito limitado de assuntos. Quando estamos nos preparando para uma avaliação como o Enem, que pode ocorrer semanas, meses ou até anos depois de termos estudado um assunto, e cujo escopo engloba diferentes disciplinas e assuntos, essa prática falha miseravelmente. Ela falha porque favorece que as informações fiquem disponíveis apenas para a nossa memória de curto prazo, e nos ilude em relação à maneira com que avaliamos nosso próprio desempenho. É como entrar em uma competição de halterofilismo, em que todos os seus músculos serão avaliados, tendo treinado intensivamente apenas os bíceps. E é exatamente isso que ocorre no Enem: alunos concentram-se por horas, às vezes durante dias, estudando um único assunto ou disciplina, enquanto negligenciam todo o resto. O resultado é que esse conhecimento fica apenas na memória de curto prazo, e perde-se rapidamente. No final, após alguns meses, eles saberão muito pouco do que estudaram, e nada do que deixaram de estudar naquele período. Ademais, vale lembrar que não é assim que acontece no Enem, não fazemos a prova de cada disciplina isoladamente. Por mais que seja satisfatória a ilusão de estar evoluindo em um ponto específico, devemos treinar o mais próximo possível da forma comojogaremos, porque certamente jogaremos da forma como treinamos. Ainda que isso pareça mais difícil, frustrante, lento ou exija mais esforço. 3.1.2. Releitura Passiva Outra prática comum e igualmente prejudicial entre estudantes é a releitura passiva de textos sublinhados, slides e resumos. Muitos alunos têm o hábito de reler os grifos realizados nesses materiais – ou o próprio material inteiro – como forma de memorização. A partir da segunda releitura, é comprovado que essa prática não é muito eficaz para memorização de longo prazo, e traz consigo ainda outras desvantagens: consome muito tempo e causa um erro de metacognição involuntário, na medida em que induz uma falsa sensação de fluidez, quando na verdade já decoramos aquelas palavras, sem perceber o quanto não sabemos sobre aquele assunto. No máximo, você pode fazer isso como método de revisão, pouco antes do exame. 3.2. Torne-se Antifrágil O fator-chave dos bons métodos de estudo é a submissão à testagem e, por consequência, aos erros. Quanto mais testes realizamos, melhor calibramos nossa apreciação entre o que realmente sabemos e o que achamos que sabemos. Em quase todas as áreas, domina melhor o conhecimento e a habilidade quem se testa com maior frequência, errando e, por consequência, identificando seus pontos fracos. Costumamos estar bem familiarizados com o conceito de fragilidade: o que é exposto ao estresse se quebra. Mas é necessário entender o inverso disso. O antifrágil, quando exposto ao estresse, torna-se mais forte, ao invés de quebrar-se. Exatamente como as fibras musculares. Por isso é importante que nossos erros sejam frequentes e pequenos, o que acontece quando realizamos exercícios e simulados. Não tenha vergonha ou receio de testar-se frequentemente, e encare esses erros como a fonte mais rica de informações de que pode dispor. São eles que dirão de forma mais precisa onde você necessita tentar com mais afinco e onde deve considerar novas estratégias. Substitua a mentalidade voltada à rigidez por uma mentalidade voltada ao crescimento. Nela, o combustível de motivação são os desafios, o esforço, é onde abraçamos uma dificuldade desejável. Aqui, os testes não são encarados como réguas, mas como bússolas que o orientam em direção a uma versão melhor de si mesmo, e o guiam pelo caminho mais curto até seus objetivos. Pessoas que encaram os erros como definitivos, que imaginam os testes como uma medição sobre sua “inteligência fixa e inata”, tendem a evitar desafios difíceis, pois se sentem diminuídas quando falham. Por outro lado, pessoas que entendem a função da tentativa e a importância do erro, da superação do desafio como forma de aprimoramento, que percebem que sua capacidade está em grande medida sob o seu próprio controle, tendem a ser motivadas para encarar esses desafios difíceis e, com grande frequência, persistem neles. Para os músculos crescerem, é preciso falhar. E para continuar progredindo devemos seguir aumentando pesos, nos expondo a novas falhas, sempre desafiando nossa capacidade atual para um pouco além do limite conhecido. Todo aprendizado de alta performance é uma escalada tortuosa em espiral: aprender é cometer erros. Não imagine que há algo de errado por sentir dificuldade e desconforto. A recompensa virá em forma de profundidade, precisão e durabilidade do conhecimento ou da habilidade que foram adquiridos. 3.3. Favoreça Métodos de Aprendizagem Ativa Agora que você já sabe as práticas a evitar quando estiver estudando, e a importância dos testes e do erro no processo cognitivo, é indispensável também saber quais métodos utilizar para otimizar a internalização do conhecimento na memória de longo prazo. Assim, para não ficarmos restritos à teoria de testagem e exposição ao erro, a seguir sugerimos algumas técnicas de aprendizado que funcionam sob esses princípios. Evidentemente, você não precisa aplicar todas as técnicas a todos os assuntos ou disciplinas. Caberá a você definir qual técnica será mais adequada para cada disciplina e cada assunto, considerando também o seu perfil de estudante. Todas elas envolvem reflexão, que conecta quatro conceitos muito importantes para um aprendizado efetivo: Recuperação: recordar ativamente os conhecimentos e habilidades adquiridas; Elaboração: conectar o novo conhecimento ou habilidade com aquilo que você já sabe; Geração: parafrasear as ideias principais, usando suas próprias palavras; Calibragem: alinhar, por meio de um feedback objetivo e exterior a você mesmo, o que realmente aprendeu com o que acha que aprendeu, evitando o erro de metacognição (autoengano). 3.3.1. Flashcards A técnica consiste em produzir cartões sobre os assuntos estudados. Na frente, constará uma pergunta que você elaborou e que tenta, da melhor forma possível, testar o seu entendimento sobre um conceito-chave daquele tópico. Se necessário, quebre conceitos complexos em múltiplas perguntas, uma para cada cartão. No verso, constará a resposta mais completa que você pôde elaborar, inclusive com consulta a livros e a outros materiais, ao ter estudado pela primeira vez aquele assunto. As respostas podem incluir figuras, símbolos, mnemônicos, e não precisam fazer nenhum sentido para qualquer outra pessoa além de você mesmo. Os cartões são distribuídos em duas pilhas distintas: em processo e concluídos. A primeira delas (em processo) deve receber um cartão assim que for produzido, e conter os cartões que você sente mais dificuldade em lembrar. A outra (concluídos), deve conter os cartões que você já avalia ter dominado. Não tenha pressa em migrar os cartões de uma pilha para outra, aguarde até ter respondido corretamente três ou mais vezes o cartão antes de migrá-lo. A partir disso, quando estiver estudando, você pode estabelecer que pegará três ou mais cartões da primeira pilha (em processo) antes de pegar um cartão da segunda pilha (concluídos). Sempre tente responder aos cartões em voz alta, ou por escrito. Costumamos achar que pensamos quando pensamos, mas, na verdade, só realmente pensamos quando escrevemos ou verbalizamos o que pensamos. Pode parecer um detalhe, mas isso faz muita diferença. Tente fazer uso diário dos cartões. Estabeleça um número de cartões para o dia, puxe a pergunta do primeiro cartão da pilha em processo, e tente respondê-lo, seguindo assim pelo número de cartões escolhidos. Lembre-se que o importante é se esforçar ao máximo para responder o cartão antes de olhar a resposta no verso. Também determine previamente quantos cartões da pilha em processo você puxará (sugerimos três) para cada cartão da pilha concluídos. Ao final de cada sessão, embaralhe as duas pilhas separadamente. 3.3.2. Mapas Mentais Mapas mentais são uma técnica inovadora, criada por Tony Buzan, que permite usar recursos de revisão, imaginação e consolidação do conhecimento. Seu funcionamento baseia-se na ideia de que nosso cérebro não pensa de forma linear, mas de modo multidimensional, por associações de sentimentos, cores, palavras e imagens-chave, que irradiam a partir de um conceito central, como uma árvore e seus galhos. A ideia é conseguir armazenar informações de forma similar à maneira como o cérebro funciona, tornando assim a recuperação ativa dessas informações mais fácil e organizada. Observe que, por esse motivo, os mapas mentais são muito pessoais. Estudar por mapas mentais feitos por outras pessoas não é o mesmo que estudar por mapas mentais que você mesmo produziu. Até porque a própria confecção do mapa mental é responsável por boa parte da sistematização e da consolidação das informações na sua memória de longo prazo. Para fazer um bom mapa mental, comece colocando o conceito-chave sobre o qual ele irá tratar no centro da página. A partir disso, vá fazendo as ligações e desenhos, utilizando cores e símbolos, em várias ramificações em diversos níveis. Indicamos livros especializados nisso, nas referências. 3.3.3. Resumos Esse método é também conhecido como Método de Feynman, e consiste em quatro passos: 1. Pegueuma folha em branco e escolha um conceito-chave; 2. Escreva sobre esse tópico como se estivesse ensinando para uma pessoa leiga; 3. A partir disso, identifique as falhas na sua compreensão; e 4. Revise e simplifique o resumo. Resumos são especialmente úteis quando estamos em lugares públicos, como bibliotecas, e não podemos estudar em voz alta. Além disso, compartilhar o que você sabe, como quando ensinamos a alguém, é a forma mais sofisticada de aprendizado. E é exatamente isso que você deve ter em mente quando pratica esse método. Onde um ensina, dois aprendem. O aprendizado de longo prazo ocorre, em grande parte, no ato de fazer o resumo. Daí a importância de você fazer seus próprios resumos, em vez de estudar por resumos prontos. Os resumos prontos e focados no Enem podem ser materiais muito úteis, como veremos no Capítulo 6, mas para um fim diferente. Além disso, reler ou, melhor ainda, refazer o resumo podem ser boas formas de revisão. 3.4. Use Variação, Intercalação e Espaçamento Independente da técnica escolhida para cada disciplina em cada momento, é importante que ela trabalhe com práticas que envolvam variação, intercalação e espaçamento. 3.4.1. Variação Já mencionamos que estudar de forma intensiva e blocada é prejudicial à memorização de longo prazo. Considerando o Enem, devemos nos preparar para uma avaliação que abordará assuntos de maneira imprevisível e fora de sequência cronológica ou lógica, justamente o contrário do que encontramos ao resolver blocos intensivos de exercícios do mesmo assunto. Assim, você precisa treinar a sua mente para as condições dinâmicas do exame. Seu cérebro precisa estar preparado para fazer triagens de problemas e escolher respostas compatíveis. Não basta praticar o que sabe. É como você pratica o que sabe que irá determinar o quanto sua aprendizagem será útil no momento crucial da prova. Por isso, reforçamos: pratique da maneira mais próxima possível à realidade que você encontrará na hora do exame. Dessa maneira, não se dedique exaustivamente a resolver toda aquela lista de trigonometria antes de passar para o próximo assunto, mesmo que não se sinta ainda completamente seguro. E vá além, não fique sempre preso às mesmas técnicas de estudo: varie as abordagens com as quais se prepara para o exame. Use técnicas diferentes para estudar um mesmo assunto. Em resumo, variação significa manter-se estudando assuntos variados, variando também as técnicas de estudo. 3.4.2. Intercalação Misturar os tipos de exercício dentro de cada assunto, no entanto, não será suficiente. Intercale também as disciplinas, ou melhor ainda, mescle os assuntos. Desafie diariamente sua capacidade de filtrar e reconhecer tipos de problemas e decidir pela solução certa. Para evitar o cansaço, talvez seja possível intercalar disciplinas de muitos cálculos com disciplinas mais teóricas. Ou, ainda, intercalar disciplinas mais difíceis com as mais fáceis, preservando sua capacidade de concentração. Evidentemente, as disciplinas mais difíceis ou mais fáceis irão variar de pessoa para pessoa. 3.4.3. Espaçamento Por fim, assim como as fibras rompidas precisam de tempo para se regenerar maiores e mais fortes entre os treinos de musculação, também o aprendizado precisa de tempo entre as práticas, para que um grau desejável de esquecimento aconteça, e as informações possam voltar a ser recuperadas a partir da memória de longo prazo. Quando praticamos de forma intensiva, com pouco espaço de tempo entre repetições, nosso cérebro estará recrutando informações a partir da nossa memória de curto prazo. Somos, então, induzidos ao erro metacognitivo e levados a achar que estamos tendo um desempenho superior. Portanto, ao visitar um assunto pela primeira vez, adquira o costume de repassa-lo em linhas gerais, por alguns minutos, no dia seguinte. Faça uma segunda revisão após uma semana, e uma última revisão quinze dias depois da segunda, totalizando três revisões. O importante é manter um espaço de tempo necessário para esquecer parcialmente as informações antes de resgatá-las por um dos métodos ativos. Perceba que revisitar os assuntos de forma espaçada – com um intervalo de tempo entre as sessões de estudo – é exatamente uma revisão. Você pode – e deve – usar um dos métodos ativos que explicamos neste capítulo. Após esse período, sinta-se à vontade para fazer mais revisões – por exemplo, com 30 dias ou mais – ou faça uso dos exercícios, pois assim você, inevitavelmente, cruzará com assuntos já estudados. Isso obrigará o seu cérebro a recuperar as informações a partir da memória de longo prazo, ajudando a fixá-las ainda mais. 3.5. Resumo Encerramos este capítulo reforçando que é necessário: Evitar práticas ineficazes de estudo, como a releitura passiva e o estudo intensivo e blocado; Submeter-se à testagem frequentemente, por meio de simulados e exercícios. Quanto mais frequentemente nos expomos aos erros, menores eles tendem a ser e mais nos fortalecemos na medida em que os identificamos e nos dedicamos a corrigi-los (antifragilidade); Favorecer métodos de aprendizagem ativa, que envolvam reflexão, recuperação, elaboração, geração e calibragem; Buscar feedback objetivo, que o ajude a identificar seus pontos fracos; Produzir seus próprios flashcards, mapas mentais e resumos; o ato de produzi-los é que permite o aprendizado para o longo prazo; Escolher práticas que envolvam variação, intercalação e espaçamento nos seus estudos. CAPÍTULO 4 Cuidando do Corpo Cuidar do corpo é parte fundamental na sua preparação. Ainda assim, muitos estudantes negligenciam o papel do corpo na preparação para uma prova importante como o Enem. Mas não se vence a corrida com um cavalo cansado e sem forças. Assim, é preciso garantir que seu cérebro estará na melhor forma para aprender e memorizar as informações, e sua musculatura estará em boas condições de enfrentar 5 horas e 30 minutos de prova sem tirar sua atenção com dores e desconfortos. A saúde de qualquer pessoa reside no tripé sono, alimentação e atividade física, sendo o primeiro a base para os dois últimos. Assim, vamos começar falando sobre ele. 4.1. Durma, e Durma Bem Pode parecer propaganda barata, mas o sono é o segredo para se viver mais tempo. Ele garante que se tenha uma memória acima da média e mais criatividade, conserva a sua aparência, controla o seu peso, apetite e humor, e diminui o seu risco de infarto, derrames, diabetes, depressão e ansiedade. Na verdade, não existe um transtorno emocional que não possa ser agravado pela privação de sono de qualidade. E o pior: dormimos muito mal. Dois terços dos adultos dormem menos que 7 ou 8 horas diárias, que é o recomendado. O sono é uma solução gratuita e, talvez por isso, tão subestimada. Infelizmente, a relação entre boas horas de sono e produtividade é um contrassenso para muitas pessoas. Mas é o contrário: quanto menos você dorme, mais breve e menos produtiva será a sua vida. E essa conclusão é sustentada por pelo menos duas dezenas de milhares de estudos científicos. 4.1.1. Sono NREM e Sono REM Existem dois tipos de sono: o NREM (non-rapid eye movement) e o REM (rapid eye movement). Esses dois sonos travam uma batalha no seu cérebro em cinco ciclos de, aproximadamente, 90 minutos cada. Na primeira metade do seu tempo total de sono existe uma prevalência do sono NREM, que poderíamos aproximar como duas fases, sendo uma mais leve e outra mais profunda. Na segunda metade, de forma complementar, o sono REM passa a dominar a dinâmica dessas disputas. Cada um desses tipos de sono é responsável pela restauração de diferentes funções essenciais no nosso cérebro e – apenas para nos concentrarmos no que realmente nos interessa – algumas delas têm uma relação especial com os nossos estudos para o Enem. A cada noite, durante a fase NREM leve, ondas cerebrais que operam enquanto você dorme preparam uma parte do seu cérebro (o hipocampo) para que ele seja descarregado e fique apto a receber novas informações, ou seja, forme novas memóriasde curto prazo. Na fase NREM profunda, essas ondas permitem que as informações sejam filtradas em importância para que algumas delas sejam transferidas para uma outra parte do seu cérebro (o córtex), onde essas novas e também antigas informações serão reordenadas de maneira que possam permanecer acessíveis pela sua memória de longo prazo. Portanto, o sono NREM exerce uma função relacionada à nossa capacidade de formação de novas memórias, além da retenção dessas informações no longo prazo. Perceba que, em contrapartida, permanecer acordado por muito tempo diminui sua capacidade de concentração e retenção de informação ao impedir que o seu cérebro possa operar numa rearquitetura da informação cerebral para consolidação do aprendizado. Isso pode reduzir sua capacidade de formar novas memórias de curto prazo em até 20% e consolidar memórias de longo prazo em até 40%. E mais: por reorganizar todas as informações, e não apenas as novas, o sono permite que tenhamos acesso não apenas às novas informações que estão sendo incluídas na memória de longo prazo, mas também a antigas informações que antes estavam inacessíveis. Já durante o sono REM acontece o que a maioria de nós definiria genuinamente como sonhos. Ele também desempenha papéis fundamentais para a nossa saúde emocional. Imagine uma experiência muito traumática pela qual já tenha passado. Agora tente recontar com detalhes essa experiência para outra pessoa. Certamente as emoções que você sente ao narrar o acontecimento são de uma ordem muito inferior ao que sentiu quando as vivenciou. Isso acontece porque o sonho onírico estimula uma cura ao oferecer superação emocional, permitindo progredir para um futuro emocional, sem permanecer escravizado por um passado traumático. Em curtas palavras: não é o tempo que cura, mas o tempo que passamos nos sonhos que nos permite superar nossas feridas emocionais. Além desse fantástico bálsamo restaurador, o sono REM também é responsável por outra função muito importante para nossos estudos: a criatividade. Com o afrouxamento da hierarquia lógica, ele permite associações de memórias oriundas de partes completamente distintas do conhecimento (localizadas em diferentes regiões do cérebro), inspirando a criatividade e promovendo a solução de problemas complexos. Se você já foi dormir com um problema na cabeça e acordou com a solução, certamente sabe do que estamos falando. Sonhar é como trocar a lente sob a qual opera nosso sistema cognitivo. Trocamos o foco restrito do mundo desperto por uma grande angular, isso nos permite observar não apenas algumas estrelas, mas grandes e distantes constelações do nosso conhecimento, aumentando nossa compreensão do funcionamento do universo. Por fim, o sono REM também cumpre uma importante função complementar na consolidação de memórias. Ele permite lembrar de detalhes de experiências presentes, integrando-as às experiências passadas, construindo um conhecimento em perspectiva autobiográfica, complementando o trabalho feito pelo sono NREM. Daí a importância de não encurtar o sono acordando cedo demais, pois acordar 1 ou 2 horas antes das 8 horas recomendadas de sono diário afetará desproporcionalmente seu sono REM. 4.1.2. Um Cochilo por Dia A ciência demonstra que tirar um cochilo durante o dia é um hábito benéfico para a saúde, pois, como já vimos, o sono NREM leve renova nossa capacidade de memorizar. No entanto, é importante que esse sono dure em torno de 15 a 25 minutos, e seja usufruído preferencialmente logo após o almoço. Esse tipo de descanso restaura a sua capacidade de absorver mais informações e auxilia no processo de consolidação da memória, sem causar o efeito de inércia do sono, algo que dificultaria o retorno às atividades. Considere que é normal levar um tempo médio de 15 minutos para conseguir cochilar, algo mais facilmente atingido quando se adquire o hábito e quando fazemos uso de mecanismos para bloquear a claridade, como máscaras tapa-olhos ou cortinas blackout. Você pode achar que o tempo gasto com esse cochilo seria melhor investido estudando, mas a qualidade do seu estudo após o cochilo certamente compensará. No entanto, é aconselhável que, um mês antes do exame, você se desvincule desse costume, de forma a evitar um estado sonolento no dia da prova. Se tiver que ficar com uma só lição: a prática sozinha não leva à perfeição; a prática, acrescida de uma boa noite de sono, é que leva. O sono potencializa nossas capacidades de aprender, memorizar, resolver problemas e tomar decisões. 4.1.3. Dormindo Melhor Para que você tenha um sono de melhor qualidade, é importante seguir algumas práticas. Comece mantendo o bom hábito de ter um horário fixo para dormir e acordar. Se for o caso, crie um alarme para o horário de ir para a cama (e siga-o!). Não pratique exercícios físicos nas três horas que antecedem o horário de deitar, porque isso irá elevar a adrenalina no seu organismo, dificultando adormecer. Evite o consumo de cafeína (chocolate, café, energéticos ou refrigerantes são as fontes mais comuns), especialmente no turno da tarde e antes de dormir. No organismo, a cafeína leva de cinco a seis horas para se reduzir à metade da quantidade que foi ingerida. Uma xícara de café que você tomou às 18h ainda estará com alta concentração na sua corrente sanguínea na hora de dormir, prejudicando, principalmente, a fase profunda do sono NREM. Evite o consumo de álcool. Embora o álcool seja conhecido como um sedativo, sedação não é sono natural. Poucas substâncias podem ter um efeito tão devastador na qualidade do sono como o álcool. Sedar as células cerebrais é desligá-lás, um efeito muito diferente de permitir que as células operem nas ondas de frequência do sono profundo. O álcool fragmenta seu sono, fazendo o corpo despertar brevemente várias vezes ao longo da noite, embora não nos lembremos disso. Além disso, ele é um dos mais poderosos repressores de sono REM, causando um efeito nefasto para as memórias em processo de consolidação, podendo comprometê-las em até 50%. Infelizmente, beber hoje pode incapacitar severamente suas memórias de três dias atrás, ou mais. À noite, evite também comidas de difícil digestão (ricas em gorduras ou carboidratos) e consumo excessivo de líquidos. Evite cochilar após as 15h, para que o seu ciclo de sono noturno não sofra prejuízos. Se possível, antes de deitar, tome um relaxante banho quente. Isso ajudará o seu corpo a dilatar os vasos sanguíneos, facilitando dissipar o calor da superfície da pele, e refrescando o núcleo interno em 1°C ou mais – nosso corpo se sente mais cômodo ao dormir em ambientes mais frios, até próximo de 18°C, variando um pouco com o sexo/idade/peso. Tomar um banho quente pode gerar de 10% a 15% mais sono NREM profundo. Faça o possível para eliminar fontes de luz no seu quarto. Se não for possível instalar uma cortina blackout, não tenha vergonha de fazer uso de uma tela de papelão – removível talvez – para vedar completamente a entrada de luz natural pela janela, ou usar um tapa-olhos. Três horas antes do horário de dormir, deixe as telas – TV, tablet, celular, etc. – fora do seu alcance e diminua as luzes da casa. A melatonina, um hormônio que sinaliza ao seu cérebro a hora de se preparar para dormir, é coagido pela emissão de luz artificial, especialmente a emitida por dispositivos eletrônicos. Essa luz represa a melatonina em até 50%, empurrando sua janela de sono para até 3 horas após o horário natural. Esse efeito de desregulação da janela de sono ecoa por dias após a noite em que você foi banhado pela luz do aparelho. Usar óculos com proteção contra luz azul ajuda a mitigar os efeitos deletérios do uso prolongado de telas, mas não faz milagres. Se não pode deixar de usá-las à noite, verifique se o seu computador, celular e/ou TV possuem modos de luz quente (também chamados de modo noturno) automaticamente acionados ao escurecer. Ouça música ou leia algo que não esteja diretamente relacionado com seus estudos enquanto aguarda o sono chegar. Se for ler, dê preferênciapara material impresso ou telas que não emitem luz, usando luzes quentes (amarelas) e de mais baixa potência possível, mas não tanto a ponto de você sentir-se forçando a vista. 4.2. Coma Bem, e Várias Vezes ao Dia Uma vez que você está dormindo bem, é importante também observar se você está se alimentando adequadamente. Aqui, há três momentos cruciais: na sua vida cotidiana, nas 24 a 48 horas que antecedem as provas, e durante a prova. Em todos os casos, manter-se hidratado é importantíssimo. Na sua vida cotidiana, o ideal é que você faça uma reeducação alimentar, com a criação de hábitos saudáveis – use o que você aprendeu no capítulo sobre criação de hábitos –, o que será um ganho para o resto da sua vida, muito além do Enem. No entanto, alguns comportamentos simples podem ser facilmente incluídos na sua rotina, com um pouco de organização, como fazer seis ou mais refeições ao dia. Pular refeições dificulta manter as necessidades nutricionais do seu corpo – e particularmente do seu cérebro – nos níveis necessários. Valorizar o café da manhã e evitar refeições pesadas à noite é outro comportamento importante, ainda que você tenha que acordar meia hora mais cedo para colocar isso em prática adequadamente – nesse caso, vá dormir meia hora antes, obviamente. Além disso, é muito importante que você fique sempre atento para variar as fontes de nutrientes, pois, muitas vezes, um determinado alimento é rico em alguns nutrientes, mas quando consumido exageradamente pode ser prejudicial à sua saúde. Por exemplo, o brócolis é rico em fibras e em vitaminas A, B, C, E e K, além de ter propriedades antioxidantes. No entanto, um estudo apontou que o consumo exagerado causou hipotireoidismo em animais, porque o brócolis em excesso pode bloquear a utilização e absorção do iodo, retendo atividade da glândula tireóide. Para manter uma alimentação balanceada, você deve observar se ela contém todos os nutrientes necessários para um bom funcionamento do seu cérebro, e, particularmente, dos mecanismos relacionados à cognição e à construção da memória: ômega-3 e ômega-6, ferro, proteínas, vitaminas e açúcares complexos, por exemplo. E, sobretudo, evitando que ela contenha em excesso substâncias que causam efeitos negativos sobre a cognição e a memória, como açúcar, sódio, gorduras saturadas e gorduras trans. No entanto, no seu preparo para o Enem, você provavelmente já estará enfrentando várias mudanças de hábitos, e mudar hábitos alimentares pode ser extenuante. Assim, pondere se você realmente precisa de uma mudança radical nos seus hábitos alimentares, ou se você pode chegar a um compromisso razoável entre as comidas que lhe farão bem, e aquelas que, em excesso, podem lhe atrapalhar. Você não precisa abandonar completamente certos prazeres gastronômicos tidos como “não saudáveis” – aquele sorvete no final de semana, ou a batata frita após o cinema com os amigos, por exemplo. Basta usar o bom senso, e mantê-los em uma baixa frequência. 4.2.1. Alimentando-se Melhor Idealmente, se você tiver os recursos necessários ou sua escola tiver um nutricionista, converse com ele a respeito da melhor dieta e dos melhores hábitos alimentares, explicando sua situação de estudante e deixando claro que seu objetivo é otimizar a cognição e a memorização – e, não, necessariamente, ficar “sarado/a”. Não tome qualquer suplementação sem conversar com um médico ou nutricionista, pois pode ser prejudicial à sua saúde. Por exemplo, as vitaminas em excesso tomadas em megadoses se comportam como substâncias químicas – drogas, medicamentos, fármacos –, podendo desencadear doenças em pessoas predispostas. De toda maneira, vamos comentar sobre alguns nutrientes importantes na sua alimentação, explicando por que eles são importantes e onde encontrá- los. Não falaremos de todos, pois isso seria material para um livro inteiro. Focaremos naqueles cuja importância para a cognição ou a memória é maior e já possui comprovação científica razoável. Você certamente já ouviu falar em ômega-3 e, talvez, também em ômega- 6. Essas são denominações que agrupam séries de ácidos graxos poli- insaturados. A presença de ômega-3 melhora a resposta das sinapses e é essencial ao funcionamento do cérebro, pois estimula os neurônios. Em baixos níveis, pode causar deficiência visual e sua ausência causa problemas no aprendizado e na motivação. Já o ômega-6 influencia na habilidade que os neurônios têm de se utilizarem da glicose. Esses ácidos graxos podem ser encontrados em óleos vegetais (canola ou soja), peixes e nozes, por exemplo. Já o ferro influencia na capacidade de concentração, aprendizado e memória. É utilizado na síntese de neurotransmissores e de enzimas envolvidas no processo de mielinização das fibras nervosas. Estudos indicam correlação entre baixo desempenho escolar e deficiência de ferro, mesmo que em nível insuficiente para o diagnóstico de anemia. A carência de ferro pode levar a problemas na aprendizagem, hiperatividade, baixa capacidade de atenção, percepção, memória e motivação. A absorção do ferro de origem animal é muito superior à do ferro de origem vegetal. Assim, ao consumir ferro de origem vegetal, é importante garantir níveis corretos de vitamina C no organismo, pois isso aumenta sua absorção (o que explica o hábito de incluir laranja na feijoada). Por outro lado, substâncias como a cafeína dificultam a absorção do ferro. Assim, evite alimentos como café, chá mate e chá verde logo após ingerir alimentos ricos em ferro. O ferro é encontrado em grandes quantidades na carne vermelha, especialmente fígado, rins ou coração (coma com moderação). Outros alimentos também são ricos em ferro: peixes, beterraba, gema de ovo, cereais (como massas integrais, quinoa, aveia, cevada e trigo), leguminosas (como lentilha e feijão), oleaginosas (como avelã, amêndoa e castanha-do-pará) e vegetais verdes (agrião, rúcula, espinafre, couve e brócolis). As proteínas são outro nutriente essencial ao processo de aprendizagem. Nem todas as proteínas que necessitamos são sintetizadas pelo nosso organismo, tendo de ser adquiridas por meio dos alimentos. Há dois tipos de proteínas: a proteína animal, com alto valor biológico, incluindo todos os aminoácidos que o corpo precisa, e a proteína vegetal, com menor valor biológico, e alguns aminoácidos faltantes. A carência de proteínas prejudica a produção de dopamina e de adrenalina, causando falta de energia e diminuindo o estado de alerta. São alimentos ricos em proteínas: soja, camarão, frango, salmão, amêndoa, carne vermelha, peixes, entre outros. Evidentemente, as vitaminas são também indispensáveis para manter seu corpo na melhor forma. Já vimos que a vitamina C pode melhorar a absorção de ferro. Mas além de melhorar a absorção de outros nutrientes, as vitaminas são vitais para a memória e a cognição. Por exemplo, pesquisas indicam que a falta de vitaminas A, D e do complexo B podem causar comprometimento da memória e da cognição. Já a vitamina E é um antioxidante poderoso, prevenindo a perda de desempenho da memória e da cognição decorrentes de estresse oxidativo – causados por privação de sono ou dietas com excesso de gorduras e carboidratos, por exemplo. A ingestão de fígado lhe garantirá vitaminas A, D e do complexo B. Mas você encontra vitamina A também em alimentos como gema de ovo, cenoura, espinafre, manga e mamão. As vitaminas do complexo B estão presentes nos peixes, castanhas, abacates e vegetais verdes, por exemplo. A vitamina D está presente nas gemas de ovo, no atum e na sardinha, entre outros, mas precisa da exposição à luz solar para ser absorvida. O tempo de exposição necessário para sintetizar uma mesma quantidade de vitamina D irá variar com a tonalidade da sua pele, entre 15 minutos e 1 hora e 15 minutos, três vezes por semana. Quanto mais clara for a sua pele, menor o tempo de exposição necessário, dentro desse intervalo. Mas se você tem risco aumentado de câncer de pele, pode ser mais indicado a suplementação. Finalmente, a vitamina E pode ser encontrada em amêndoas, castanhas-do-pará,amendoim, óleo de girassol e avelã, por exemplo. 4.2.2. Reduzindo Danos Como vimos, um bom hábito alimentar não apenas exige a ingestão de todos os nutrientes de que precisamos, mas também a abstenção daquilo que nos faz mal. E talvez esta última seja a parte mais difícil na construção do hábito de alimentar-se de maneira saudável. Assim, uma boa prática pode ser a redução de danos. Em vez de banir da noite para o dia um determinado item da sua dieta, você pode trocá-lo por outro menos danoso, ou reduzir a quantidade consumida. Por exemplo, aquele chocolate ao leite depois do almoço pode ser trocado por uma menor quantidade de chocolate 70% cacau (até 15g por dia). Quem sabe com o tempo você consegue substituir o chocolate 70% cacau por doce de banana caseiro e, mais algum tempo depois, por uma fruta. A ingestão de determinadas substâncias, como açúcar, sódio (presente no sal de cozinha), gorduras saturadas e gorduras trans causa menor desempenho cognitivo e reduz a plasticidade sináptica no hipocampo, por exemplo. O impacto sobre os neurônios é direto. Um dos maiores vilões da modernidade é o açúcar. A ingestão de alimentos com baixo índice glicêmico vai garantir níveis baixos de insulina e regular a glicemia, o que melhora o desempenho intelectual. Por outro lado, o alto consumo de açúcar por longos períodos prejudica a memória e o aprendizado. Outra substância a se evitar – ou, idealmente, banir – são as gorduras trans. Há três tipos de gorduras: as insaturadas (conhecidas como “gorduras boas”), as saturadas (que, na dose certa, ainda têm alguma importância para o organismo), e as trans (sem nível recomendado de consumo). Embora presente naturalmente em alguns produtos de origem animal, como carnes e leites, nessas fontes sua dose é muito pequena. Os malefícios das gorduras trans ocorrem quando se consome especialmente sua versão hidrogenada, criada pela indústria. Em excesso, ela intoxica os neurônios, podendo causar ansiedade, depressão e déficit de atenção, por exemplo. Estão presentes em margarinas, massas e pães, biscoitos e bolachas recheadas, sorvete cremoso, queijo amarelo, salgadinhos, pipoca de micro-ondas e até em barras de cereais. Trataremos, por fim, dos ultraprocessados. Eles são alimentos que passaram por técnicas e processamentos envolvendo grandes quantidades de açúcar, sal, gorduras, realçadores de sabor e texturizantes, além de conservantes, acidulantes e estabilizantes. Além disso, eles são modificados para enganar seu paladar, de forma a tornarem-se viciantes. Há estudos sugerindo que consumir ultraprocessados em excesso está correlacionado a inúmeras doenças – de obesidade a câncer, diabetes e problemas cardiovasculares –, bem como à baixa qualidade de sono, o que – como já vimos – pode afetar drasticamente sua cognição e sua memória. Perceba, assim, como está tudo interligado. 4.2.3. Alimentação Antes e Durante a Prova Um ou dois dias antes da prova, fique atento para não comer nada que venha de fontes pouco confiáveis, de maneira a evitar uma infecção intestinal ou enjoos, antes ou durante o exame. Assim, o ideal é cozinhar em casa. Se essa opção não estiver disponível, certifique-se de evitar produtos e restaurantes que você não conhece, preferindo aqueles com os quais já teve mais de uma experiência, sempre sem transtornos. Jamais faça a prova com o estômago vazio, pois isso pode causar hipoglicemia, sonolência, dificuldade de concentração, tontura, dor de cabeça, queda de pressão e fraqueza, por exemplo. Alguns desses podem ser fortes o suficiente para tirá-lo completamente da disputa. De maneira inversa, evite refeições pesadas e alimentos muito gordurosos antes da prova, pois podem deixá-lo sonolento. Evite também alimentos com excesso de sal. Eles aumentam sua sede, causando desconforto – e talvez várias idas ao banheiro – durante a prova. Na hora da prova, é imprescindível levar água e algo para comer. Mas observe as regras do edital sobre embalagens. Não exagere nas quantidades e leve sempre comidas leves, de consumo prático e rápido. Frutas frescas e um sanduíche de pão integral com queijo branco embalado em papel filme podem ser boas opções. No caso das frutas, leve-as higienizadas e prontas para consumo. Por fim, evite embalagens muito barulhentas, pois podem incomodar outros candidatos. 4.3. Exercite-se, e com Intensidade O tripé do cuidado com o corpo, que também envolve o sono e a alimentação, como vimos, se completa com a atividade física. Vários estudos apontam para melhorias no desempenho da memória de trabalho e da função executiva, ambos importantíssimos para o aprendizado. A memória de trabalho é uma memória de curtíssimo prazo, que guarda informações temporárias apenas enquanto as estamos utilizando para processar outras informações, como quando guardamos um valor temporário ao fazer uma operação matemática de cabeça. Ela é imprescindível para o raciocínio e a tomada de decisão. Já função executiva controla os processos cognitivos e inclui a memória de trabalho, mas também o raciocínio, a resolução de problemas e o planejamento e execução. Ela é, portanto, utilizada no processo de aprendizagem e, entre outras coisas, nos capacita a manter o foco. Os benefícios da atividade física na cognição variam com a idade e outros fatores, mas é certo que o saldo é positivo em todos os casos. Indivíduos com alto preparo aeróbico, em regra, possuem um sistema cognitivo mais eficiente. Há também fartas evidências de que a atividade física é benéfica à cognição e ao desempenho acadêmico, beneficiando também as estruturas de suporte do cérebro, em todas as faixas etárias. Inclusive, a prática de exercícios pode induzir a proliferação e a maior sobrevivência de neurônios do hipocampo ao longo da vida. Além disso, a prática de atividade física regular pode prevenir ou reverter o declínio cognitivo e neural decorrente da idade, e está associada com a redução de uma infinidade de doenças físicas – como as cardiovasculares, o câncer de mama, as doenças crônicas e as degenerativas – e mentais – como a depressão e a ansiedade. Por sinal, auto-estima e depressão podem ser fatores mediadores da associação entre atividade física e cognição. Finalmente, a prática de exercícios melhora a eficiência, a latência e a profundidade do sono, comprovando mais uma vez que tudo está interligado. Portanto, incluir o hábito da atividade física em sua vida – assim como no caso da alimentação saudável e do sono de qualidade – vai lhe proporcionar ganhos para muito além do Enem. Ainda não se sabe exatamente como prescrever exercícios de forma a otimizar os efeitos sobre a cognição – quando iniciar, quais as melhores variedades, intensidades, frequências e durações, por exemplo. Mesmo assim, é importante que você mantenha o hábito de praticar alguma atividade física de maneira regular enquanto se prepara para o Enem. Dessa forma, algumas dicas podem ser úteis para escolher a atividade que melhor se adapta à sua realidade. Primeiro, pratique exercícios aeróbicos, seja em esportes individuais (como corrida, natação, ciclismo ou surf) ou em esportes coletivos (como futebol, vôlei ou artes marciais), e exercite-se preferencialmente em intensidade alta, ou ao menos moderada, uma vez que a grande maioria das evidências científicas aponta para a melhoria da função cognitiva condicionada a essas intensidades de exercício. Além disso, certifique-se de fortalecer a musculatura das costas, dos ombros e do pescoço, pois você vai precisar delas durante as provas do Enem. A corrida, a natação ou o ciclismo podem ser excelentes opções, pois nelas você pode facilmente ajustar o nível de intensidade e aumentar seu preparo cardiorrespiratório, com a vantagem de não precisar se submeter a um horário rígido, como no caso dos esportes coletivos. Além dos benefícios físicos e cognitivos, se você se permitir deixar o celular em casa, será uma excelente oportunidade de praticar a solidão. Aproveite esse tempo para colocar suas ideias em ordem e promover uma autorreflexão. Por
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