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GABRIEL GALEAZZI 1 VULVOVAGINITE FLORA VAGINAL NORMAL E CORRIMENTO FISIOLÓGICO CORRIMENTO VAGINAL FISIOLÓGICO Pequena quantidade, homogêneo Fluído, esbranquiçado ou eventualmente amarelado pH entre 4,0-4,5 Odor ausente Ausência de prurido Ausência de sinais inflamatórios MECANISMOS DE DEFESA DA REGIÃO GENITAL Vulva Pele, pelos e pequenos lábios protegendo a entrada da vagina Vagina Anatomia (favorece a eliminação de secreções) Estrutura elástica e cilíndrica Microbioma vaginal pH ácido Epitélio das paredes vaginais Resposta imune à agressão FLORA VAGINAL A flora vaginal normal é constituída por diferentes espécies de lactobacilos (L. acidophilus ou bacilos de Doderlein), bactérias aeróbicas Gram-positivas Mecanismos de ação dos lactobacilos Ácido lático → Ambiente vaginal ácido (pH 4-4,5) Biossurfactantes Imunidade inativa (ativação de linfócitos T) Peróxido de hidrogênio Bacteriocinas MUDANÇAS DE FLORA VAGINAL FLORA VAGINAL EM CRIANÇAS Nas meninas pré-púberes, nas quais os níveis de estrogênio são mais baixos, temos menores níveis de glicogênio e, consequentemente, pH mais alcalino e predisposição às vulvovaginites Higiene inadequada, uso de fraldas e possibilidade de corpos estranhos contribuem para o aparecimento de vulvovaginetes nessa faixa etária FLORA VAGINAL NO CLIMATÉRIO As mulheres nessa fase têm menores níveis de glicogênio devido ao hipoestrogenismo e à depleção dos lactobacilos vaginais A colonização por Escherichia coli é maior nessas pacientes, independente da atividade sexual VAGINOSE BACTERIANA (VB) É a principal causa de corrimento vaginal de origem infecciosa no menacme Corrimento característico Branco ou acinzentado Homogêneo Com odor fétido FATORES DE RISCO Atividade sexual desprotegida Duchas vaginais Tabagismo Infecções sexualmente transmissíveis Raça negra Obesidade QUADRO CLÍNICO Assintomático (50-75%) Corrimento branco ou branco-acinzentado, homogêneo, com odor fétido pH vaginal alcalino Sem sinais inflamatórios CONSEQUÊNCIAS DA VB Na gestação: aumento do risco de parto prematuro ↑ risco de Endometrite ↑ risco de Doença inflamatória pélvica (DIP), quando presente em pacientes que irão realizar procedimentos, como inserção de DIU, curetagem uterina etc ↑ risco de Aquisição de ISTs DIAGNÓSTICO Critérios de Nugent (padrão-ouro) Faz a avaliação microbiológica dos elementos vaginais É pouco utilizado na prática clínica Critérios de Amsel Corrimento vaginal branco ou branco-acinzentado, homogêneo pH > 4,5 Teste das aminas positivo Consiste na adição de solução de KOH 10% na secreção vaginal O resultado é positivo caso haja liberação de odor de “peixe podre”, devido à volatização das aminas produzidas pelos anaeróbios Observação das clue cells (células-alvo ou células- guia) ao exame bacterioscópico Redução de Lactobacilos Aumento do pH vaginal Aumento dos anaeróbios Liberação de enzimas proteolíticas Corrimento vaginal característico GABRIEL GALEAZZI 2 TRATAMENTO Indicações Pacientes sintomáticas Pacientes assintomáticas gestantes ou que irão se submeter a procedimentos Na VB, via oral e tópica têm a mesma eficácia e não há necessidade de tratamento das parcerias sexuais Primeira opção (incluindo gestantes e lactentes) Segunda opção Recorrência Metronidazol 250mg, 2cp, VO, de 12/12 por 7 dias OU Metronidazol gel vaginal 100mg/g, um aplicador cheio, via vaginal, à noite, ao deitar-se, por 5 dias Clindamicina 300mg, 1cp, VO, de 12/12h, por 7 dias Metronidazol 250mg, 2cp, VO, de 12/12h por 10 a 14 dias OU Metronidazol gel vaginal 100mg/g, um aplicado cheio, via vaginal, à noite, ao deitar-se, por 10 dias, seguido de tratamento supressivo com óvulo de ácido bórico intravaginal 600mg por 21 dias e metronidazol gel vaginal 100mg/g, 2x/semana, por 4 a 6 meses Detalhes importantes Caso seja optado por metronidazol oral, deve ser orientada a abstinência de álcool até 24h após o tratamento A FEBRASGO e o CDC acrescentam o Tinidazol como opção terapêutica, mas este não deve ser utilizado na gestação A literatura considera portadoras de VB recorrentes as pacientes com mais de 3 episódios de VB em 12 meses CANDIDÍASE VULVOVAGINAL (CVV) É a segunda causa mais comum de vulvovaginites É causada por espécies de Candida sp., na maioria dos casos por Candida albicans (80-92%) Esse fungo pode estar presente na flora vaginal normal como comensal, mas tem a habilidade de tirar proveito das alterações do meio vaginal do hospedeiro para agredir a mucosa e gerar doença FATORES DE RISCO Gravidez Imunossupressão Diabetes mellitus Uso de antibióticos e corticoides Estresse Uso de contraceptivos hormonais Hábitos de higiene íntima inadequados Uso de DIU e diafragma QUADRO CLÍNICO Prurido de intensidade variável Corrimento vaginal esbranquiçado com aspecto de “leite coalhado” ou “queijo cottage”, sem odor associado Se houver muita inflamação, pode haver queixa de dispareunia, de queimação e de disúria Geralmente, os sintomas são piores na semana que antecede a menstruação Ao exame ginecológico, podem ser observados hiperemia vulvar, edema e fissuras O exame especular mostra mucosa vaginal hiperemiada e corrimento aderido às paredes vaginais CLASSIFICAÇÃO Candidíase não complicada (todos os critérios a seguir devem estar presentes) Candidíase complicada (pelo menos um dos critérios deve estar presente) Episódios Esporádicos e pouco frequentes (<3 episódios/ano) Recorrentes Sintomas Leves a moderados Graves Agente etiológico Provável Candida albicans Outras espécies de Candida que não C. albicans, particularmente C. glabrata Características das pacientes Não gestante e imunocompetente Grávidas, portadoras de diabetes descontrolado, imunossuprimidas Candidíase recorrente corresponde à presença de 4 ou mais episódios de candidíase em 12 meses DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito por meio do exame físico associado a um exame complementar Exames complementares na CVV pH vaginal: ácido, abaixo de 4,5 Teste das aminas: negativo, pois aqui não há anaeróbios Microscopia: visualização do fungo (leveduras, hifas e pseudohifas) Cultura de secreção vaginal Deve ser solicitada apenas se: Alta suspeita de candidíase com microscopia negativa ou Mulheres com sintomas persistentes ou recorrentes (para avaliar a possibilidade de espécies não albicans) TRATAMENTO Na CVV, a via oral e tópica têm a mesma eficácia e não há necessidade de tratamento das parcerias sexuais, pois não se trata de uma infecção sexualmente transmissível Na gestação e na lactação, apenas é indicado o tratamento tópico GABRIEL GALEAZZI 3 TRATAMENTO DA CANDIDÍASE NÃO COMPLICADA Primeira opção Segunda opção Miconazol creme a 2% ou outros derivados imidazólicos, via vaginal, um aplicador cheio, à noite, ao deitar-se, por 7 dias OU Nistatina 100.000 UI, uma aplicação, via vaginal, à noite, ao deitar-se, por 14 dias Fluconazol 150mg VO, dose única OU Itraconazol 100mg, 2cp, VO, 2x/dia, por 1 dia TRATAMENTO DA CANDIDÍASE COMPLICADA A FEBRASGO e o CDC recomendam a confirmação por meio de cultura de secreção vaginal para a identificação de eventuais cepas não albicans e para realizar DDX com a vaginose citolítica e as dermatopatias Tratamento de Indução (no Episódio Agudo) Tratamento de Manutenção Fluconazol 150mg, VO, 1x/dia, dias 1, 4 e 7 OU Itraconazol 100mg, 2cp, VO, 2x/dia, por 1 dia OU Miconazol creme vaginal tópico diário por 10 a 14 dias Fluconazol 150mg, VO, 1x/semana, por 6 meses OU Miconazol creme vaginal tópico, 2x/semana OU Miconazol óvulo vaginal, 1x/semana, durante6 meses TRICOMONÍASE É a infecção sexualmente transmissível (IST) de etiologia não viral mais comum do mundo É a terceira maior causa de vulvovaginite em mulheres no menacme Seu agente etiológico é o protozoário flagelado anaeróbio Trichomonas vaginalis Além da transmissão sexual (principal), há transmissão de mães infectadas para RN (2-17%) QUADRO CLÍNICO Maioria das pacientes é assintomática Corrimento amarelo-esverdeado, fluído, abundante, bolhoso, podendo ter odor desagradável (existe alta taxa de coinfecção com vaginose bacteriana) Devido à intensa reação inflamatória, ocorre ardor, prurido, dispareunia e disúria Ao exame especular, podem ser visíveis hemorragias pontuais no colo uterino e na vagina: colo em framboesa/em morango, que após a aplicação da solução de lugol é denominado colo tigroide ou Schiller malhado CONSEQUÊNCIAS DA INFECÇÃO Mulheres não gravidas Uretrite, cistite, DIP, infertilidade e aumento do risco de infecção pelo HIV Mulheres grávidas Ruptura prematura de membranas, parto pré- termo e RN com baixo peso ao nascer Recém-nascido Há o risco de a mãe infectada transmitir para o bebê Homens A infecção não tratada tem sido associada à prostatite, à balanopostite, à epidimite, à infertilidade e ao CA de próstata DIAGNÓSTICO Microscopia: identifica o protozoário pH vaginal: acima de 4,5 Teste das aminas: pode ser positivo, devido à coinfecção com vaginose bacteriana PCR (padrão-ouro) TRATAMENTO O tratamento deve ser somente pela via oral, pois as medicações tópicas não atingem níveis terapêuticos na uretra e nas glândulas de Bartholin, as quais servem como reservatórios endógenos do protozoário e podem causar recorrência Tratamento segundo o Ministério da Saúde (2020) Metronidazol 400mg, 5cp, VO, dose única (dose total: 2g) OU Metronidazol 250mg, 2cp, VO, de 12/12h, por 7 dias Detalhes importantes Todas as parcerias sexuais devem ser tratadas A paciente não pode consumir bebida alcóolica durante o tratamento e até 24h após o término O tratamento não difere para gestantes e para lactentes (o metronidazol é categoria B) OUTRAS VULVOVAGINITES VAGINOSE CITOLÍTICA As pacientes apresentam proliferação excessiva de lactobacilos. Esses microrganismos, isolados ou em conjunto com outros, danificam as células da camada intermediária vaginal, ocasionando citólise Corrimento vaginal esbranquiçado com prurido, sensação de queimação, desconforto e dispareunia, que se acentuam no período pré-menstrual Diagnóstico pH vaginal: ácido, menor que 4 Microscopia: evidencia excesso de lactobacilos com núcleos celulares desnudos Cultura para fungos: deve ser feita para realizar DDX com CVV Teste das aminas: negativo Tratamento Medida de alcalinização do meio vaginal com duchas de bicarbonato VAGINITE INFLAMATÓRIA DESCAMATIVA É uma forma de vaginite purulenta crônica É não infecciosa e ocorre, principalmente, em mulheres na peri e pós-menopausa Fisiopatologia é pouco conhecida, mas acredita-se que, devido às mudanças da flora vaginal próprias do climatério, há a redução da população lactobacilar e o aumento do crescimento de outros microrganismos, resultando em intensa resposta inflamatória Corrimento vaginal moderado ou profuso, purulento, acompanhado de desconforto ou de dispareunia GABRIEL GALEAZZI 4 Diagnóstico pH vaginal: devido à queda dos lactobacilos, o pH está elevado, acima de 4,5 Microscopia: observa-se aumento dos polimorfonucleares e das células escamosas parabasais (características da pós-menopausa) Tratamento Clindamicina creme vaginal Glicocorticoides vaginais VAGINITE ATRÓFICA Faz parte da Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGM), que corresponde às alterações histológicas e físicas da vulva, da vagina e do trato urinário baixo, devido à deficiência estrogênica A queda de estrogênio provoca afinamento de epitélio, aumento do pH vaginal e predominância de células vaginais parabasais e basais O corrimento vaginal é escasso, mas ocorrem sintomas de dispareunia, disúria e de redução da lubrificação vaginal Diagnóstico pH vaginal: alcalino Microscopia: redução da população lactobacilar e aumento de células parabasais Tratamento Estrogenioterapia tópica Queixa de corrimento vaginal Ananese, exame especular e pH vaginal pH<4,5 Prurido + corrimento grumoso Microscopia Hifas/esporos Candidíase Aumento de lactobacilos Vaginose citolítica Mucoide Corrimento fisiológico pH>4,5 Odor fétido e Whiff positivo Sim Exame a fresco Clue cells Vaginose bacteriana Protozoários flagelados Tricomoníase Não Exame a fresco: células inflamatórias Vaginite aeróbia/vaginite inflamatória descamativa Tipo de corrimento Sintomas pH Aminas Microscopia Corrimento vaginal fisiológico Claro, fluido, em pequena qtde 3,5- 4,5 - Células epiteliais e lactobacilos Vaginose bacteriana Fluido, homogêneo, acinzentado Odor >4,5 + Clue cells Candidíase vulvovaginal Branco, grumoso, tipo leite coalhado Ardor, prurido <4,5 - Esporos, hifas, pseudohifas Tricomoníase Amarelo- esverdeado, bolhoso Dispareunia, prurido, disúria, pode ter odor >4,5 + ou - Trichomonas Vaginose citolítica Esbranquiçado, quantidade variável Prurido, queimação, dor <4,5 - Aumento de lactobacilos, leucócitos raros ou ausentes Vaginite inflamatória descamativa Purulento em grande quantidade Dor, dispareunia >4,5 - Aumento de polimorfonucleares e células parabasais Vaginite atrófica Escasso Disúria, dispareunia >4,5 - Aumento de células parabasais e redução de lactobacilos
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