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1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA 2 Juliana Crespo Lopes Psicóloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina e Pedagoga pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Tem especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional e em Docência na Educação Superior. Mestra e Doutora pela Universidade de Brasília, na área de Desenvolvimento Humano e Educação. Tem experiência como professora da Educação Básica, Graduação e Pós-Graduação. Atualmente realiza estágio pós-doutoral na Charles University, em Praga, República Tcheca. DIVERSIDADE, DIFERENÇA E DEFICIÊNCIA: IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS 1ª edição Ipatinga – MG 2021 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação à Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Naiana Leme Camoleze Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva Carla Jordânia G. de Souza Rubens Henrique L. de Oliveira Design: Brayan Lazarino Santos Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Luiza Filgueiras © 2020, Faculdade Única. É proibida a reprodução total ou parcial deste livro em qualquer meio sem autorização escrita do editor NEaD – Núcleo de Educação as Distancia FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br http://www.faculdadeunica.com.br/ 4 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, traremos ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos científico (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo abordado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações importantes que você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. É para o esclarecimento do significado de determinados termos/palavras mostrado ao longo do livro. Este espaço é destinado à reflexão sobre questões citadas em cada unidade, para associação com suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 5 SUMÁRIO NOMENCLATURA E POSTURAS ................................................................. 8 1.1 PESSOAS E NÃO CAIXAS ..................................................................................... 8 1.2 COMO CHAMAR? ..............................................................................................11 1.3 COMO LIDAR? ....................................................................................................18 FIXANDO O CONTEÚDO ...........................................................................................20 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ................................................ 23 2.1POR QUE O PASSADO IMPORTA? ........................................................................23 2.2 PERCURSO MUNDIAL ...........................................................................................24 2.3 PERCURSO BRASILEIRO .......................................................................................27 FIXANDO O CONTEÚDO ...........................................................................................33 EDUCAÇÃO INCLUSIVA PARA QUEM? .................................................. 37 3.1 PARA ALÉM DOS LAUDOS E LAUDADOS .............................................................37 3.2 APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS ......................................................................41 3.3 CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA .....................................................43 FIXANDO O CONTEÚDO ...........................................................................................44 PLANO DE DESENVOLVIMENTO INDIVIDUALIZADO ............................... 52 4.1 RASTREIO INICIAL ............................................................................................53 4.1.1 Contextos .......................................................................................................... 53 4.1.2 Olhar para o estudante ................................................................................ 54 4.2 OBJETIVOS .......................................................................................................59 4.3 ADAPTAÇÃO CURRICULAR ............................................................................61 FIXANDO O CONTEÚDO ......................................................................................64 RECURSOS, POSTURAS E ESTRUTURAS ..................................................... 67 5.1 RECURSOS TECNOLÓGICOS ...............................................................................67 5.2 POSTURAS............................................................................................................69 5.3 ESTRUTURAS .........................................................................................................72 FIXANDO O CONTEÚDO ...........................................................................................73 UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 04 UNIDADE 05 6 AVALIAÇÃO ............................................................................................ 79 6.1 PARA QUE SERVE A AVALIAÇÃO? .....................................................................79 6.2 AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO ............................................................................81 6.3 DIFERENTES POSSIBILIDADES DE AVALIAÇÃO .....................................................83 6.3.1 Avaliações individuais ............................................................................................. 84 6.3.2 Avaliações coletivas .......................................................................................... 88 FIXANDO O CONTEÚDO ...........................................................................................90 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO .........................................................93 REFERÊNCIAS .............................................................................................................94 UNIDADE 06 7 CONFIRA NO LIVRO Antes de começarmos a estudar sobre Educação Inclusiva e as políticas que colaboram para sua existência e permanência, vamos pensar em quem é esse “público-alvo” e refletir sobre a forma como nos referimos e lidamos com essas pessoas. Vamos prosseguir em nossos estudos conhecendo como foi o processo de tornar a Educação um espaço de inclusão. Para isso vamos falar sobre sua história (mundial e brasileira) e também sobre leis, declarações e outros documentos que ajudaram a construir a Educação Inclusiva. Na terceira unidade vamos refletir sobre o que significa uma Educação verdadeiramente Inclusiva. Falaremos sobre como deve ser a prática e a postura educacional e sobre os desdobramentos e contribuições que a Educação Inclusiva promove na sociedade.Na quarta unidade vamos discorrer de maneira mais prática sobre Plano de Desenvolvimento Individualizado. Para isso, abordaremos desde as ações iniciais necessárias para a construção de um PDI até as formas de se realizar a adaptação curricular. Na quinta unidade abordaremos sobre os recursos tecnológicos, as posturas e as estruturas presentes no sistema educacional e como modificá-las e aperfeiçoá-las para garantir uma Educação para todos os estudantes, em suas diferenças e singularidades. Na última unidade falaremos sobre os motivos para avaliar estudantes, pensando de forma crítica e inclusiva. Serão mencionadas diferentes práticas avaliativas e as muitas possibilidades de atividades que podem ser feitas para promover aprendizagens, identificar o que estudantes estão aprendendo e quais as dificuldades encontradas. 8 NOMENCLATURA E POSTURAS 1.1 PESSOAS E NÃO CAIXAS Nossa sociedade tem estado cada vez mais consciente a respeito das formas como lidar com as pessoas que destoam de uma normatividade imposta pela sociedade. Começamos a refletir sobre os machismos, racismos e homofobias que existem não só nas falas e posturas individuais, mas também aqueles que aparecem de forma estrutural quando nem percebemos. Nesta unidade quero convidar você a conhecer o que chamamos de capacitismo. Capacitismo é considerar que pessoas não apresentam deficiências físicas, intelectuais ou sensoriais são, de alguma forma, superiores àquelas que apresentam (CAMARGO; CARVALHO, 2019). Dentro dessa postura e visão de sujeitos, pessoas consideradas deficientes têm suas capacidades, habilidades e mesmo existências no mundo menosprezadas. Alguns exemplos do que é capacitismo: ter pena; direcionar a palavra a acompanhantes ao invés de falar diretamente com a pessoa; partir da premissa que a pessoa não vai conseguir fazer algo; considerar que a pessoa ou sua deficiência são lições de vida ou fardos para terceiros; se admirar com conquistas de pessoas consideradas deficientes. Todos nós já fomos capacitistas. Indo além, todos nós teremos atitudes ou pensamentos capacitistas no futuro. O que podemos fazer é conhecer mais, ouvir mais e respeitar cada vez mais. O capacitismo existe porque determinamos que existe algo chamado de deficiência, uma falta. Ela pode ser física, intelectual ou comportamental. Comecem a perceber a frequência com a qual vocês olham alguém na rua, na televisão, na escola e já se perguntam ou comentam com a pessoa ao seu lado: “O UNIDADE 01 9 que é que ele tem?”. Essa pergunta é o título de um livro da Olivia Byington (2016), cantora brasileira, talvez hoje mais conhecida por ser a mãe de Gregório Duvivier. Mas no caso do livro, a Olivia é mãe do João, irmão do Gregório. João tem Síndrome de Apert, uma doença rara que faz com que ele, entre outras questões, tenha um rosto bem diferente da maioria dos nossos. E quando as pessoas olham pro João, só conseguem pensar nisso e já determinar que ele tem um problema. É bastante comum que a gente tente colocar as pessoas em caixinhas. E isso acontece em todos os âmbitos de nossa sociedade. Nos pautamos em dicotomias: existem pessoas gordas e magras; altas e baixas; ricas e pobres; esforçadas e preguiçosas; divertidas e chatas. E nesse movimento de dicotomias, temos o normal e o anormal. Agora pergunto a vocês: o que é normal? Quem tem o direito de estabelecer que seu modo de funcionamento e seu corpo devem ser parâmetro? Você percebe que tendemos a nos colocar como o padrão e comparar todas as outras pessoas a partir de nós? Se eu tenho R$1.000, quem tem R$3.000 é rico. Se eu tenho R$50.000, quem tem R$3.000 é pobre. Se para mim matemática é muito fácil, eu acho estranho que alguém tenha dificuldades nessa disciplina. Se eu enxergo, pessoas cegas são deficientes visuais. Mas você já tentou fechar os olhos e ler um cardápio em braile usando a ponta do seu dedo indicador? Pois então, você é um deficiente táctil! Skliar (2003) fala sobre colocarmos sempre no “outro” o problema, a falta, a deficiência. Determinamos que o que somos e os grupos que fazemos parte é considerado como normal e adequado. Separamos o “nós” do “eles” e, nessa prática, não existe uma intenção de se enxergar e trabalhar com o outro. É a dualidade que foi mencionada agora há pouco: uma dualidade que considera que existe um padrão mais adequado, mais funcional, mais ideal. O resto é problema, deficiência, transtorno, doença. Skliar (2003) explica que o que é muitas vezes chamado de Inclusão Escolar é, na verdade, uma grande segregação. Existe um foco tão grande em criar e usar certas nomenclaturas para designar estudantes que eles não são vistos em sua inteireza, em suas potencialidades. O que acontece é que esses nomes vão mudando com o tempo, numa tentativa de tornar mais “bonito” (ou menos feio...), mas todos esses rótulos continuam determinando que essas pessoas não são ideais. Quando a escola foca mais no que considera um problema do que nas pessoas em si, as práticas educativas estão muito mais próximas da Educação Especial do que 10 em uma Educação de fato inclusiva. Voltando ao João Byington, determinar que ele tem uma condição genética é mais importante do que conversar com ele, saber quem ele realmente é. Até se pode buscar promover seu desenvolvimento, mas a síndrome dele vai estar frequentemente em primeiro lugar, ao invés dele. Se é mais importante saber o que é que ele tem, a invés de buscar saber quem ele é, estamos segregando. Quando o diagnóstico é tudo (ou quase tudo) que vemos é porque estamos comparando com o padrão de normalidade que construímos a partir de nossa compreensão de que os normais somos nós. É importante conhecer as especificidades de cada estudante para atender adequadamente às demandas. Um estudante cego irá precisar de textos em braile e de audiodescrição; um estudante surdo irá precisar de um intérprete de LIBRAS; um estudante autista irá precisar de explicações mais concretas. Porém, de forma semelhante, Pedro precisará de imagens para entender uma explicação; Gabriela de um suporte anatômico no lápis para escrever melhor e Arthur precisará que a professora sente ao lado dele para explicar determinado conteúdo. Por que os três últimos foram chamados pelos nomes e os três primeiros não? A pessoa tem que vir antes. https://bit.ly/3nwSnQw 11 Vamos continuar discutindo essas questões no próximo tópico, entendendo melhor os vários nomes que utilizamos e pensando em novas formas de enxergarmos e nos referirmos a quem é diferente de nós, os supostos normais. 1.2 COMO CHAMAR? São inúmeros os nomes que utilizamos para designar as tais pessoas diferentes de nós. Em um mundo ideal simplesmente aboliríamos qualquer designação que rotulasse pessoas, mas a ideia aqui é problematizar nossas posturas e práticas em relação aos nomes para no futuro nem precisarmos mais deles. Vamos começar com uma importante reflexão: como você xinga as pessoas quando elas fazem algo errado ou não entendem o que você quer? A grande maioria das pessoas chama as outras de retardado, imbecil, mongol e idiota. Muito provavelmente você já usou essas palavras enquanto xingamentos, não é? Você sabia que elas, em algum momento, foram utilizadas para se referir a pessoas que apresentavam um desenvolvimento cognitivo com alguma forma de comprometimento? Usar um termo que designa ou designou pessoas com deficiência como se fosse um xingamento é capacitismo. Passada a catarse e entendendo que ser diferente de mim e dos meus iguais não é algo ruim e muito menos um xingamento, vamos continuar nossa problematização. Estamos vivendo um momento em que a visão médica ocupa espaçocentral. Temos diagnósticos para tudo, sejam questões físicas, mentais ou comportamentais. O correto é não xingar ninguém, mas te desafio a pensar em três xingamentos que não são capacitistas (e nem homofóbicos, machistas ou racistas). ______________________ ___________________ ____________________ Se você só conseguiu pensar em xingamentos relacionados a animais (anta, burro, vaca) saiba que eles são especistas, por que os animais representam coisas negativas? Sugiro tentar mais um pouquinho, para quando extravasar sua raiva, já ter algumas cartas na manga: _________________ ________________________ ______________________ 12 Estar triste significa estar com depressão, sentir o coração bater mais rápido em um momento de poucas certezas significa ter transtorno de ansiedade. De forma semelhante, ter dificuldades constantes em matemática está relacionado ao Transtorno de Aprendizagem chamado Discalculia e temos vários para a escrita e a leitura: de Disortografia, de Disgrafia, de Dislexia. A lista ainda não acabou, infelizmente. Crianças e adolescentes que confrontam regras têm Transtorno Opositor Desafiador e pessoas com dificuldade de se concentrar, especialmente em coisas desinteressantes, têm Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Essa visão de que tudo é doença se chama patologização ou medicalização. O primeiro termo foi bastante usado por Michel Foucault, um autor que talvez vocês já tenham ouvido falar. Foucault (1997) falou sobre muitas coisas importantes, entre elas sobre como prisões, escolas e hospitais psiquiátricos têm muito mais em comum do que a gente imagina. Ele fala sobre como a sociedade deseja corpos dóceis e que as crianças que destoam disso precisam ser disciplinadas. Atualmente temos falado mais sobre medicalização, entendendo como um processo em que: [...] as questões da vida social, sempre complexas, multifatoriais e marcadas pela cultura e pelo tempo histórico, são reduzidas à lógica médica, vinculando aquilo que não está adequado às normas sociais a uma suposta causalidade orgânica, expressa no adoecimento do indivíduo. Assim, questões como os comportamentos não aceitos socialmente, as performances escolares que não atingem as metas das instituições, as conquistas desenvolvimentais que não ocorrem no período estipulado, são retiradas de seus contextos, isolados dos determinantes sociais, políticos, históricos e relacionais, passando a ser https://bit.ly/3fv3TeJ https://bit.ly/3bvsoGS 13 compreendidos apenas como uma doença, que deve ser tratada (UNIFESP , 2019, online). Ou seja, se um estudante está com dificuldades em acompanhar algum conteúdo, não se concentra nas aulas ou está atrasado em relação a seus colegas, ele é diagnosticado com algum transtorno. Destoar da norma é visto como doença e quando existe uma doença não existem culpados. Não é responsabilidade da escola, da família ou da sociedade. E o estudante, apesar de não ser culpado por seus “desvios”, é percebido como menos competente por um motivo que exige tratamento constante. No processo de medicalização não se reflete sobre possíveis mudanças nas práticas pedagógicas, nas posturas docentes ou nas estruturas das instituições escolares. Todos esses aspectos certamente influenciam (positiva e negativamente) comportamentos e construções de conhecimentos de estudantes. Ao contrário, as soluções estão sempre restritas aos estudantes que deverão fazer sessões de psicoterapia, fonoaudiologia, psicomotricidade, aulas de reforço escolar e, muitas vezes, tomar medicamentos. Retomando a lista dos chamados Transtornos de Aprendizagem e de Comportamento, vamos parar um pouco para refletir sobre o que é, afinal, um Transtorno. Se um estudante é diagnosticado como tendo o Transtorno de Aprendizagem de Discalculia, quantos professores irão se esforçar para garantir que ele aprenda de fato os conteúdos de matemática? Afinal, se é um Transtorno, uma doença catalogada, pressupõe-se que o professor pode fazer malabarismos enquanto chupa cana e toca flauta que mesmo assim o estudante não vai aprender, não é? Esses rótulos, essas caixinhas nas quais estudantes com dificuldades em acompanhar conteúdos escolares são colocados, restringem suas possibilidades e também as ações docentes. Todos perdem, mas os estudantes perdem mais. Existe 14 uma educadora chamada Maria Helena Souza Patto, ela escreveu em 1980 uma tese que continua muito atual sobre a construção do fracasso escolar. Ela explica que o fracasso escolar é construído pela sociedade, não é algo do estudante, apesar de ser ele quem carregue esse peso e todas as consequências que essa ideia acarreta (PATTO, 2015). Os tais dos Transtornos de Aprendizagem e de Comportamento também carregam um outro aspecto que vale a pena pensarmos: em nosso cotidiano onde encontramos a palavra “transtorno”? Figura 1: Desculpe o transtorno Disponível em: https://bit.ly/3sfUtrC. Acesso em: 15 de dez. de 2020. Transtornos são buracos na pista, barulhos de britadeira em um sábado de manhã e a necessidade de você ter que fazer um desvio longo e não planejado quando está sem tempo. Para piorar mais ainda, quando ouvimos nos corredores, sala de professores e reuniões de Conselho de Classe, os diálogos são mais ou menos assim: Exemplo 1: - Nossa, estou com 3 TDAH na minha sala. - Coitada!! Eu tive um TOD e um TDAH ano passado e vinha pra cá rezando pra pelo menos um deles faltar! - Ah, minha alegria é que está tendo atendimento especializado pros meus laudados! Se não fosse isso.... https://bit.ly/3sfUtrC 15 Você percebeu que eu nenhum momento o diálogo menciona estudantes, crianças ou adolescentes? No lugar de se enxergar sujeitos só se vê transtornos, doenças, buracos na pista e barulhos de britadeira. Se eu percebo um estudante enquanto um transtorno quer dizer que ele me incomoda, que a presença dele me incomoda. E mais do que isso, esse transtorno precisa ser consertado, resolvido. Esse transtorno precisa sumir ou pelo menos deixar de ser percebido. A fala do diálogo (não muito) hipotético acima que se refere ao atendimento especializado tira a responsabilidade do docente de sala de aula, transferindo-a para profissionais que devem prover apoio, mas não conduzir todo o processo educacional. Estudantes são jogados de um lado para o outro como batatas quentes, não são desejados nem bem vistos (afinal, são buracos na pista). Ainda neste universo dos mil e um nomes que não devem ser usados, temos a a palavra “portador”, que passa uma ideia de doença ou de perigo. Veja os exemplos Portador de deficiência Portador do vírus HIV. Homem entrou no banco portando uma bomba. Ela estava portando uma arma. Quando se “porta” algo é como se a pessoa tivesse contraído um vírus e, mais do que isso, pudesse sair por aí transmitindo essa doença. Ou então estivesse em posse de um artefato perigoso e pudesse causar alguma destruição. E então chegamos no eufemismo “especial”. Sim, essa perspectiva foi importante durante algum tempo, assim como outras que já foram mencionadas aqui. A questão é a importância de se evoluir e continuar aprendendo, se informando e refletindo. Por que é ruim falar que uma criança é especial? Bem, você pode falar que seus filhos, sobrinhos, vizinhos, estudantes são especiais caso eles sejam pessoas especiais. O que não é legal é tentar esconder ou tornar mais agradável aos olhos e ouvidos quando você quer dizer que uma criança tem 16 síndrome de Down, é autista, cega, ou surda. Estar fora da norma não é ruim, nem errado e não é motivo de vergonha. Os eufemismos são usados para tentar diminuir a gravidadede uma situação. Quando se diz que alguém é “forte” quando na verdade a pessoa é gorda, por exemplo. Quem fala “forte” entende que gordo é um xingamento, um adjetivo desagradável. Mas por que chamar alguém de gordo é mal-educado e dizer que é magra é um elogio? Porque nossa sociedade convencionou assim... Mas para muitas culturas, ser gorda é sinal de saúde e magra, doença. Então, no caso das questões físicas, sensoriais, motoras, comportamentais e cognitivas que destoam daquilo que alguém um dia resolveu chamar de “normal” (lembrem-se das discussões lá pro primeiro subtítulo), elas são todas negativas e geram muitos tabus e posturas de “pisar em ovos”. Quando na verdade, são simplesmente características e formas de ser e estar no mundo, que geram maiores ou menores demandas. O grande ponto dessa parte de nosso texto é que ser cego, surdo ou autista, usar cadeiras de rodas, ter alguma síndrome, ter dificuldades para se concentrar ou para acompanhar as aprendizagens da turma não é algo ruim. O que é ruim é viver com essas questões em uma sociedade que ao invés de acolher, exclui. Se houvesse acessibilidade em todos os lugares, com rampas adequadas, audiodescrições, legendas e intérpretes de LIBRAS, essas pessoas não teriam seus direitos restritos ou dificultados. Se as práticas didático-pedagógicas considerassem as subjetividades e singularidades de todos os estudantes, seriam realizadas diferentes atividades, de diferentes formas e isso colaboraria para que todos os estudantes tivessem aprendizagens significativas, conseguindo direcionar atenção e compreendendo conteúdos. O problema não é a pessoa e sim o contexto. O nome dessa seção é “Como chamar” e depois de toda essa discussão e propostas de reflexões, espero que você já saiba a resposta: Chame a pessoa pelo nome dela! Parece uma piadinha, mas é a verdade, devemos evitar rotular estudantes. E mesmo que você tenha dois estudantes cegos na mesma sala, eles são sujeitos diferentes, correto? Você se refere a todos os seus amigos canhotos como “os canhotos” ou são Jorge e Renata que, por acaso, são ambos canhotos? Claro que falamos sobre ‘estudantes autistas”, “estudantes surdos” e “estudantes cegos”, mas devemos evitar quando se trata de pessoas específicas porque afinal, elas são 17 pessoas. Hoje em dia no Brasil se convencionou falar “Pessoa com deficiência”. Esse termo é justificado por dois grandes motivos: a pessoa vem primeiro e a deficiência não a define. Antes era “pessoa deficiente”, que dá a ideia de que ela toda é uma falta (afinal é isso que deficiência significa). Ainda assim, alguns grupos e pessoas não gostam dessa designação. Pessoas autistas, por exemplo, preferem ser entendidas enquanto pessoas autistas do que “pessoas com autismo”, porque essa segunda nomenclatura dá uma ideia de doença, como “pessoa com catapora”. Faz sentido, né? Pessoas surdas preferem ser designadas assim do que como “pessoas com deficiência auditiva”, porque elas entendem que a surdez não é uma deficiência, inclusive existe uma grande cultura surda no Brasil e no mundo. Ao longo deste livro será usada a expressão pessoas com desenvolvimento atípico, entendendo que não existe um padrão de normalidade. Pessoas se desenvolvem de maneiras diversas daquilo que costumamos encontrar em nosso cotidiano. * Vou recriar aquele diálogo: Exemplo 2: - Nossa, preciso de novas ideias para as aulas! A Paula, o Artur e o Diego estão com muita dificuldade pra se concentrar nas explicações e atividades. - Que difícil... Ano passado eu dei aula pro Artur e uma coisa que funcionou muito foi usar exemplos do cotidiano, relacionando o que eu explicava com coisas que ele conhecia. - Olha, a Márcia, professora do atendimento especializado pode te ajudar com algumas ideias. Conversa com ela na hora que tua turma estiver na Educação Física. 18 Nessa nova versão da conversa entre professores, além de alterar as formas como se referem a estudantes, também modifiquei algumas posturas docentes. E sobre isso que falaremos na próxima e última seção de nossa primeira unidade. 1.3 COMO LIDAR? Este tópico pode ser resumido por uma frase bastante simples: lide com respeito. Porém, a ideia de respeito não é tão simples assim, então vamos começar falando sobre as diferenças em tolerar, aceitar e respeitar. Tolerar não é bom. Não se deve tolerar a presença de estudantes em sala de aula. Porque só se tolera aquilo que é ruim. Ninguém tolera uma viagem paradisíaca, mas muita gente tolera um tio chato. Porque deveria ser feito um esforço para lidar com a presença de certos estudantes, ou para lidar com a proposta de Educação Inclusiva? Aceitar é melhor, mas ainda falta porque não era o desejado. Eu posso aceitar um pagamento em cheque, mas eu preferia receber em dinheiro. Por que não seria desejada a presença de certos estudantes? Por que não seria desejada uma Educação Inclusiva? E finalmente chegamos no respeito. Todas as relações devem ser permeadas pelo respeito. A questão é que devemos respeitar as pessoas por serem pessoas e não por serem mais velhas, mais poderosas, mais fortes ou mais bravas. E nessa ideia de que respeito é um direito humano, nada mais correto do que respeitar todos os estudantes (e também ser respeitada/o por eles). Não se respeita a dificuldade, a demanda ou a especificidade que trazem, se respeita as pessoas em sua totalidade. Posto isso, recomendo fortemente que se lide com todos os estudantes com respeito, tenham eles dificuldades e demandas identificadas ou não. O diálogo entre docentes que refiz no final do tópico anterior traz essa ideia de respeito, tanto na forma como estudantes são percebidos e referidos, como em uma postura que busca contribuir para seus desenvolvimentos. Vygotsky (1997) explicava entre as décadas de 1920 e 1930 que todas as crianças podem se desenvolver e aprender. Sim, existem diferenças em relação a aspectos sensoriais, cognitivos e comportamentais, porém, diferenças não são impeditivos. Existem diferentes formas de se mediar as construções de conhecimento e os processos de desenvolvimento. Não existem barreiras impenetráveis ou fixas. 19 Faz-se necessário ter em mente que todos os estudantes têm potencialidades, merecem respeito e um olhar atento de docentes. Esse olhar atento ultrapassa os diagnósticos e os estereótipos. Ele enxerga o Daniel, a Camila, o Ricardo e a Joana. https://bit.ly/2LKa9SQ 20 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Assinale a alternativa correta a respeito de nomenclaturas: a) Retardado é um xingamento e não podemos usar para falar de pessoas especiais. b) A nomenclatura a ser usada é Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais. c) Quando usamos siglas médicas para falar de estudantes estamos sendo precisos em relação às demandas. d) Quando falamos Pessoa com Deficiência estamos enfatizando a pessoa. e) Falar que um estudante é especial reflete o carinho e o envolvimento que existe entre professora e estudante. 2. Assinale a alternativa que descreve um exemplo de capacitismo: a) Acreditar que todos são capazes. b) Acreditar que ninguém é capaz. c) Xingar pessoas. d) Considerar que pessoas com desenvolvimento diferenciado são tão capazes quanto todas as outras. e) Dirigir a fala para o acompanhante e não para a pessoa. 3. Assinale a alternativa correta: a) Entre as pessoas com deficiência, algumas têm potencialidades, mas outras não. b) Pessoas com deficiências têm várias potencialidades. c) O planejamento pedagógico não é atribuição da professora de sala de aula. d) De nada adianta uma potencialidade não cognitiva na escola. e) A escola precisa de umlaudo médico para fazer a inclusão. 4. Sobre as posturas docentes, assinale a alterativa correta: a) A tolerância deve prevalecer em todos os espaços escolares. b) A intolerância é aceitável em algumas situações. c) Devemos aceitar apenas atitudes respeitosas. d) A postura mais adequada para se estabelecer nas relações escolares é a aceitação. e) O respeito deve existir em todas as relações. 21 5. Se as práticas didático-pedagógicas considerassem as ______________ e _______________ de todos os estudantes, seriam realizadas diferentes atividades, de diferentes formas e isso ____________ para que todos os estudantes tivessem aprendizagens significativas, conseguindo direcionar atenção e compreendendo conteúdos. a) padronizações / pluralidades / ratificaria b) subjetividades / singularidades / colaboraria c) subjetividades / singularidades / prejudicaria d) subjetividades / pluralidades / colaboraria e) subjetividades / pluralidades / prejudicaria 6. Todas as relações devem ser permeadas: a) Pelo respeito b) Pela intolerância c) Pelos estereótipos d) Pelas dificuldades e) Pela demanda 7. Sobre o desenvolvimento, marque a alternativa correta: a) As barreiras de desenvolvimento são impenetráveis e fixas. b) Não são todas as crianças que podem se desenvolver e aprender. c) Não existem diferenças em relação a aspectos sensoriais, cognitivos e comportamentais. d) As formas de se mediar as construções de conhecimento e os processos de desenvolvimento seguem um padrão. e) Diferenças não são impeditivos. Existem diferentes formas de se mediar as construções de conhecimento e os processos de desenvolvimento. 8. Marque a alternativa que complete corretamente a frase: “Um olhar atento do professor deve:” 22 a) Diagnosticar se o estudante é TDAH, TOD etc. b) No lugar de se enxergar sujeitos, enxergar apenas os transtornos e doenças. c) Transferir a responsabilidade para profissionais que provêm apoio e não conduzir todo o processo educacional. d) Vislumbrar que todos os estudantes têm potencialidades, merecem respeito deve- se ultrapassar os diagnósticos. e) Separar e segregar os estudantes com dificuldades em acompanhar conteúdos escolares. 23 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA 2.1 POR QUE O PASSADO IMPORTA? Figura 2: Importância da história Disponível em: https://bit.ly/3q2TrgC Acesso em: 05 de jan. de 2020. A frase de Edmund Burke sintetiza bem este tópico. Estudar a parte histórica e de legislações dificilmente é um momento de prazer para estudantes de licenciaturas. Porém, alguma parte disso é importante quando entendemos que o que temos hoje só foi possível porque houve um longo processo para mudar situações de sofrimento, negligência, exclusão e violência. A abordagem desses aspectos históricos e legislativos será breve e interessante. Nem tudo será agradável de saber, mas certamente servirá como reflexão para evitar que volte a acontecer. Muitas pessoas e instituições se esforçaram ao longo dos últimos séculos para mudar a forma como enxergamos as pessoas que apresentam alguma atipicidade em seu desenvolvimento. Algumas promoveram mudanças pontuais, outras abriram os horizontes para possibilidades UNIDADE 02 https://bit.ly/3q2TrgC 24 mais humanizadoras. Estamos vivendo um momento histórico complexo, em que apesar de termos acesso a todas as tecnologias que possibilitem entrarmos em contato com todos os conhecimentos produzidos no mundo, a ciência e a uma perspectiva humanizadora dos sujeitos estão perdendo espaço e atenção. Estão negando o aquecimento global e exaltando o terraplanismo; a alfabetização tem sido vista por muitos como um método mecânico; pessoas são cada vez mais resumidas a números e índices. No Brasil foi retomada em 2020 uma discussão que autoriza escolas a não aceitarem a matrícula de certos estudantes, alegando não estarem aptas a prover práticas educacionais que promovam desenvolvimento e aprendizagem de todos. Isso é um grande retrocesso, pois permite a retomada de exclusões e segregações. Além disso, a não obrigatoriedade da Educação Inclusiva em todos os estabelecimentos de ensino afetará os cursos de formação inicial e continuada de professores, que só aprenderão sobre as diferenças caso optem por um caminho formativo específico. Escolas e professores preparados apenas para estudantes considerados “normais” tornam o contexto educacional mais mecanizado, desumanizador, padronizador e excludente. Não serão apenas os estudantes que apresentam alguma atipicidade no desenvolvimento que serão afetados, mas toda a sociedade. Estudar a história é fundamental para caminharmos sempre em frente, buscando o melhor para todos, e não para uma suposta maioria. 2.2 PERCURSO MUNDIAL Encontramos muita violência, morte, exclusão e preconceito no percurso histórico de pessoas com desenvolvimento atípico. Desde a Grécia antiga até o século XVIII foram frequentes os casos de abandono, exorcismo, morte pela fogueira e internação em manicômios (PESSOTTI, 1984). Conforme a medicina foi avançando, essas pessoas (inclusive crianças) sofreram muitas intervenções dolorosas e invasivas, desde lobotomias até choques elétricos constantes. 25 Antes elas eram assassinadas ou deixadas para morrer, depois sofriam muitas dores em nome de um tratamento, de uma cura. Durante o período nazista na Alemanha, elas eram usadas para experimentos médicos sem anestésicos ou cuidados pra evitar infecções. Em todas essas circunstâncias, elas não eram vistas como pessoas, como seres humanos que têm sentimentos, dores, vontades e medos. Existe um mito grego bastante interessante chamado de Procusto (O Estirador), no qual a única hospedaria da região tinha uma cama de ferro na qual os viajantes tinham que se encaixar perfeitamente. Caso fossem maiores que a cama, Procusto cortava seus membros. Caso fossem menores, Procusto os estivava até ficarem do tamanho correto (HACQUARD, 1990). Esse mito fala sobre a necessidade de se encaixar em um padrão predeterminado e, quando não existe um encaixe imediato, tudo será feito para solucionar o que é visto como problema. Os espaços e contextos históricos nos quais foi possível se distanciar dessas Relembrando do que falamos na primeira unidade e no que você percebe em seus contextos, o que é feito hoje em dia para adequar estudantes a um padrão preestabelecido? 26 práticas violentas foram aqueles nos quais o cristianismo teve força. De acordo com a religião, pessoas com desenvolvimento atípico eram enviadas de Deus para servirem de fardo e lição. Ou seja, eram enviadas como castigos para pecadores e oportunizavam a redenção através da caridade e do acolhimento (PESSOTTI, 1984). De fato, foi uma mudança significativa passar da morte na fogueira e abandono na floresta para serem bem tratadas por motivos egoístas. Mas ainda assim, ao enxergar essas pessoas enquanto fardos, elas já eram, desde então, buracos na pista. Um dos grandes avanços em relação à educação de pessoas que têm um desenvolvimento atípico no mundo aconteceu na França do século XVIII. Lá foram criadas duas escolas, uma para crianças cegas e outra para crianças surdas. Foi aí que criaram o sistema braille e que a comunicação gestual foi desenvolvida para se tornar um sistema de comunicação. Nos outros países a comunicação gestual foi banida, com estudantes surdos sendo obrigados a oralizarem e lerem lábios. Infelizmente tal percepção chegou também à França e a escola para crianças surdas passou algumas décadasadotando também este método violento que foca em tornar as pessoas surdas o mais parecidas com as normais (lembra um pouco o mito de Procusto, não é?) Dando um grande pulo na linha do tempo, chegamos à década de 1990. Ela foi marcada por dois encontros mundiais que ligados à UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e também ao Banco Mundial. A primeira em Jontiem teve o tema “Educação para Todos” e inaugurou no cenário internacional uma necessidade de que todos os seus países signatários percebessem a importância de prover Educação para todos, independente de questões econômicas, geográficas e sociais. Quando pensamos em “todos”, fazemos referência a “todo mundo”, certo? E então as pessoas que apresentam algum desenvolvimento atípico estariam incluídas aí. E talvez estivessem, mas foi preciso um novo encontro, dessa vez em Salamanca (Espanha), em 1994 para discutir “Princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais”. Nessa ocasião foi quando, de fato, se falou sobre estudantes que precisavam de outras abordagens e ferramentas pedagógicas para aprender. Apesar do sistema educacional de cada país funcionar de um jeito, Salamanca foi um marco do que veio a se desenvolver enquanto políticas educacionais inclusivas. Em vários países ainda existem escolas específicas para 27 estudantes que apresentam desenvolvimentos atípicos, mas, na maioria deles existe um esforço para a inclusão que, quando não é alcançado, se torna em esforço para o desenvolvimento do sujeito. 2.3 PERCURSO BRASILEIRO O Brasil tinha estreita relação com a França e seu sistema educacional e no século XIX foram criados o Imperial Instituto dos Meninos Cegos (hoje Instituto Benjamin Constant - IBC) e o Instituto Imperial de Surdos-Mudos (hoje Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES). A fundação dessas instituições foi muito importante para proporcionar desenvolvimentos e aprendizagens adequados para seus públicos. Até a década de 1980 o que existiu no Brasil esteve relacionado a práticas de Educação Especial segregada, fornecida pelo Estado ou por instituições beneficentes, como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). É importante destacar aqui a função que todas as instituições deste tipo tiveram e ainda têm no desenvolvimento de pessoas com diferentes demandas e características de desenvolvimento. Até hoje o IBC e o INES têm força e muitos defensores. Essas instituições promovem educação, capacitação, desenvolvimento de novas técnicas e abordagens e difusão de conhecimento e cultura sobre a realidade de pessoas cegas e pessoas surdas, além de ser um espaço de interação com pares e reconhecimento de suas potencialidades. O grande problema é que todos os outros espaços escolares deveriam fazer o mesmo. No mínimo, toda criança surda deveria ter condições de ser alfabetizada em LIBRAS e toda criança cega deveria poder aprender a ler e escrever em Braille em suas próprias escolas. 28 A partir da década de 1980 teve início o processo de Integração na Educação, com classes especiais dentro da escola regular (Miranda, 2004). Fisicamente a Escola passa a ser de todos, porém, isso se limitava a uma prática de passar pelo mesmo portão. As salas de aula ainda eram separadas, assim como as abordagens pedagógicas eram distintas. Como não existia nenhuma forma de interação com outras crianças durante todo o período de aulas, o mesmo acontecia nos momentos de entrada, saída e recreio. A única coisa é que havia a presença de estudantes “diferentes” na escola, mas isso não promovia qualquer forma de consciência sobre a importância da diferença, do respeito e da troca de experiências. A Inclusão escolar só se tornou política pública no Brasil em 1988, com a nova Constituição Federal. Porém, mesmo nesse documento, não era expressa uma exigência de que todos fossem incluídos. O que o texto dizia era que “preferencialmente” estudantes deveriam ser atendidos pela rede regular de ensino. Sabemos que é complexo exigir que algo seja 100% cumprido de uma mesma forma, porque seria negar especificidades de contextos e pessoas. Porém, o “preferencialmente” abre brechas significativas (BRASIL, 1988). Perceba a diferença: Exemplo 3: Eu prefiro sorvete de chocolate. Se tiver sorvete de baunilha, eu como. Exemplo 4: O único sorvete que eu gosto é o de chocolate. Se estiver um dia de muito calor, eu quiser um doce e só tiver sorvete de baunilha, eu até como. Um aspecto muito importante que a Constituição Federal trouxe foi a existência de serviços de apoio, adaptações de currículo e de métodos de ensino, de forma a promover aprendizagens e desenvolvimento de forma inclusiva na sala de aula regular. https://bit.ly/35xXWIh 29 O Brasil assinou as Declarações de Jontiem e de Salamanca e, com isso, o tema da Educação Inclusiva passou a aparecer mais em leis e políticas públicas a partir de 1996, com uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e depois nos Planos Nacionais de Educação de 2001 e de 2014. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 ainda utilizava a expressão “necessidades especiais” (BRASIL, 1996) e sua atualização, de 2013, utiliza diferentes nomenclaturas, evidenciando que são pessoas diferentes, com demandas diferentes, e que não é correto colocar todas elas dentro de uma mesma caixinha. Outra alteração sutil, porém, importante foi dizer que o atendimento especializado deveria ser “transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 2013). A ideia de transversalidade mostra que o atendimento especializado é complementar e não o principal serviço educacional para estudantes que apresentem demandas específicas de aprendizagem. O Plano Nacional de Educação (PNE) para o decênio 2001-2010 (BRASIL, 2001) talvez seja o primeiro documento que fala em “Escola Inclusiva”, dizendo que a construção de uma escola inclusiva seria o grande avanço daquele momento histórico. O PNE seguinte teve um processo bastante longo de produção e aprovação, sendo publicado apenas em 2014. Ele apresenta como sua 4ª: “Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino” (BRASIL , 2014, p. 7). O documento enfatiza a importância de que professores tenham acesso a cursos para realizar uma Educação Inclusiva adequada dentro da escola regular. A última lei que será abordada aqui é o Estatuto da Pessoa Com Deficiência (BRASIL, 2015). Esse documento é de extrema importância e, por isso, a parte que versa sobre Educação será disponibilizada aqui para vocês lerem diretamente: CAPÍTULO IV DO DIREITO À EDUCAÇÃO Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa 30 com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida; II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condiçõesde acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena; III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a conquista e o exercício de sua autonomia; IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas; V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem em instituições de ensino; VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos métodos e técnicas pedagógicas, de materiais didáticos, de equipamentos e de recursos de tecnologia assistiva; VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano de atendimento educacional especializado, de organização de recursos e serviços de acessibilidade e de disponibilização e usabilidade pedagógica de recursos de tecnologia assistiva; VIII - participação dos estudantes com deficiência e de suas famílias nas diversas instâncias de atuação da comunidade escolar; IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvimento dos aspectos linguísticos, culturais, vocacionais e profissionais, levando-se em conta o talento, a criatividade, as habilidades e os interesses do estudante com deficiência; X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação inicial e continuada de professores e oferta de formação continuada para o atendimento educacional especializado; XI - formação e disponibilização de professores para o atendimento educacional especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de profissionais de apoio; 31 XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de recursos de tecnologia assistiva, de forma a ampliar habilidades funcionais dos estudantes, promovendo sua autonomia e participação; XIII - acesso à educação superior e à educação profissional e tecnológica em igualdade de oportunidades e condições com as demais pessoas; XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de nível superior e de educação profissional técnica e tecnológica, de temas relacionados à pessoa com deficiência nos respectivos campos de conhecimento; XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar; XVI - acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da educação e demais integrantes da comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às atividades concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de ensino; XVII - oferta de profissionais de apoio escolar; XVIII - articulação intersetorial na implementação de políticas públicas. § 1º Às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas determinações (BRASIL, 2015, p. 8-10). O Estatuto da Pessoa com Deficiência reúne todos os avanços construídos desde o século XIX para que seja realizada uma educação verdadeiramente inclusiva. Não é mais a escola que é inclusiva, é o sistema educacional. As potencialidades são vistas e desenvolvidas. A acessibilidade é garantida, bem como as adaptações necessárias. Fala-se sobre ensino e aprendizagem, mas vai muito além ao falar sobre pesquisas, participação de estudantes, formação adequada de professores, abordar o assunto relacionado às diferentes formas de desenvolvimento e garantia de todos os direitos. A lei é maravilhosa. Mas e sua efetivação? Ao entrar na maioria das escolas brasileiras, públicas ou particulares, podemos encontrar uma série de falhas, faltas e dificuldades. É de suma importância que existam leis para garantir direitos e informar obrigações, porém, não basta que elas existam. Skliar (2001) defende que as leis deveriam ser o ponto de chegada e não o 32 ponto inicial das transformações pedagógicas. De acordo com o autor, a lei deveria levar em consideração as concepções de professores, pais, alunos, funcionários e comunidade, uma vez que todos são produtores de mudanças e não apenas operários. O que acontece é que as escolas recebem, de forma verticalizada e imposta, instruções para modificar suas práticas dentro de um prazo. Especificamente, falando sobre a Educação Inclusiva, acaba que este tema fica malvisto entre professores, que se sentem obrigados e coagidos a fazer algo, sem nem serem ouvidos. Apesar dessa última consideração, o que podemos fazer hoje? Bem, podemos falar sobre as leis, diretrizes e instruções, buscando encontrar um significado próprio para a instituição e para todos que dela fazem parte. Podemos construir coletivamente uma Educação que faz sentido, respeitar todas as pessoas que fazem parte da comunidade escolar e nos sentirmos também respeitados. Por fim, podemos tentar uma maior participação política, seja através de participação nos conselhos municipais, nos centros comunitários, de uma gestão democrática da escola, votar em candidatos que nos representam de fato e acompanhar as decisões e os processos legislativos. Que nosso futuro não seja uma volta a caminhos do passado. 33 FIXANDO O CONTEÚDO 1. A discussão “Princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais” foi um marco do que veio a se desenvolver enquanto políticas educacionais inclusivas, e aconteceu: a) na França do século XVIII b) Na Grécia antiga c) Em Salamanca (Espanha), em 1994 d) em Jomtiem (Tailândia), em 1990. e) No Brasil, em 1992. 2. A partir da década de 1980 teve início o processo de Integração na Educação, e com isso: a) As salas de aula deixaram de ser separadas e as abordagens pedagógicas passaram a ser unificadas. b) Desenvolveu-se a consciência sobre a importância da diferença, do respeito e da troca de experiências. c) Apesar da presença de estudantes “diferentes” na escola, as salas de aula permaneciam separadas, com pouca interação entre estudantes diferentes. d) As salas de aula deixaram de ser separadas e as abordagens pedagógicas deixaram de ser distintas. e) Com a presença de estudantes “diferentes” na escola, a interação se deu de forma natural, principalmente, nos momentos de entrada, saída e recreio. 3. A Inclusão escolar só se tornou política pública no Brasil em: a) 1988, com a nova Constituição Federal (CF) b) 1996, com uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) c) 2001, com o Plano Nacional de Educação d) 2014, com o Planos Nacionais de Educação 34 e) 1990, com o Tratado de Jomtiem 4. “Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino”, consta em qual documento: a) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 b) O Plano Nacional de Educação para o decênio 2014-2024 c) Constituição Federal de 1988 d) Estatuto da Pessoa Com Deficiência de 2015 e) Código de Defesa do Consumidorde 1990 5. Segundo o Estatuto da Pessoa Com Deficiência (BRASIL, 2015): a) É dever exclusivamente do Estado assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. b) É dever do Estado e da família assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. c) É dever exclusivamente do Estado e da família assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, e dever da comunidade escolar e da sociedade agir colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. d) É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. e) É dever da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de violência, negligência e discriminação. 6. É de suma importância que existam leis para garantir direitos e informar obrigações, porém, não basta que elas existam. O que podemos fazer hoje? 35 a) Receber de forma verticalizada e imposta instruções para modificar nossas práticas dentro de um prazo. b) Não levar em consideração as concepções de professores, pais, alunos, funcionários e comunidade. c) Tentar uma menor participação política. d) Levar em consideração apenas as concepções dos professores, que lidam diariamente com os alunos. e) Construir coletivamente uma Educação que faz sentido, respeitar todas as pessoas que fazem parte da comunidade escolar e nos sentirmos também respeitados. 7. A não obrigatoriedade da Educação Inclusiva em todos os estabelecimentos de ensino: a) Afetará os cursos de formação inicial e continuada de professores, que só aprenderão sobre as diferenças caso optem por um caminho formativo específico. b) Não afetará os cursos de formação inicial e continuada de professores, que só aprenderão sobre as diferenças caso optem por um caminho formativo específico. c) Afetará apenas os cursos de formação inicial de professores e eles aprenderão sobre as diferenças caso optem por um caminho formativo específico. d) Não afetará os cursos de formação inicial e continuada de professores, que de nenhuma forma aprenderão sobre as diferenças caso optem por um caminho formativo específico. e) Não afetará os cursos de formação continuada de professores e eles não aprenderão sobre as diferenças caso optem por um caminho formativo específico. 8. Escolas e professores preparados apenas para estudantes considerados “normais” tornam o contexto educacional: a) mais inclusivo, humanizador e dinâmico. b) mais mecanizado, desumanizador, padronizador e excludente. Não serão apenas 36 os estudantes que apresentam alguma atipicidade no desenvolvimento que serão afetados, mas toda a sociedade. c) mais mecanizado, desumanizador, padronizador e excludente. Sendo apenas os estudantes que não apresentam alguma atipicidade no desenvolvimento é que serão afetados. d) mais dinâmico, humanizador e inclusivo. Sendo apenas os estudantes que não apresentam alguma atipicidade no desenvolvimento é que serão afetados. e) mais dinâmico, menos humanizador e mais inclusivo. 37 EDUCAÇÃO INCLUSIVA PARA QUEM? 3.1 PARA ALÉM DOS LAUDOS E LAUDADOS Se você chegou até aqui já percebeu que o que importa são os estudantes e não os diagnósticos que carregam. Assim, o que vamos chamar de Educação Inclusiva é formada por uma prática didático-pedagógica e uma postura institucional que garantem que todos os estudantes, independente de quem e como sejam, construam conhecimentos, se desenvolvam enquanto sujeitos e sejam acolhidos por seus contextos. Mas os diagnósticos são inúteis? De forma alguma, só são mal utilizados. O problema é pensar que o diagnóstico nos fornece todas as informações que precisamos e que ele define as possibilidades e restrições de cada estudante. Como ilustrado na primeira unidade, muitas pessoas usam a expressão “laudado” para se referir a estudantes. É triste e perturbador fazer isso, pois resume a pessoa a uma condição e as práticas e posturas pedagógicas são direcionadas apenas para o diagnóstico. Mais ainda, se as pessoas cabem em caixinhas e rótulos, existem uma tendência em tratá-las da mesma forma. Quando você tem dor de cabeça, você toma o mesmo remédio que todas as pessoas que você conhece? Provavelmente não! O fato de diferentes pessoas terem dores de cabeça não é suficiente para dizer que todos sentem da mesma forma e que existe uma solução para todos. Um remédio que funciona para um, não funciona para outro. Uma pessoa com dor de cabeça pode sentir náuseas, outra não conseguir ficar em lugares claros, outra não suportar barulhos. Outras ainda, tomam água, relaxam um pouco e a dor passa. Algumas sentem a dor na área da testa, outras nas laterais, outras no meio da cabeça e outras, ainda, na cervical. Um diagnóstico e milhares de cenários e possibilidades. Os diagnósticos servem, na verdade, para oficialmente nos permitirem sermos mais atentos às subjetividades e singularidades de estudantes ao invés de exigir que UNIDADE 03 38 se adéquem a uma média. Mas afinal, quem está na média? Muitos estudantes sem qualquer tipo de diagnóstico estão aquém ou além do que chamam de “maioria”. Provavelmente, você passou por situações em que teve dificuldade em acompanhar o que era trabalhado em determinada disciplina. E da mesma forma se entediou com explicações que considerava longas e desnecessárias. Figura 3: Escola: o lugar onde poucos cabem Fonte: Harper et al. (1986) A imagem acima é de um livro chamado “Cuidado, Escola!”. Ela é uma representação da tendência das escolas de não enxergarem a diferença. Você percebe que o professor é um círculo assim como as formas? Isso está relacionado ao que discutimos na primeira unidade a partir de Skliar: eu sou o parâmetro de normalidade e o que não for igual a mim destoa. Nesse caso ele definitivamente não era maioria. Vemos ali um círculo feliz e todas as outras formas tristes. Talvez se a forma oval se espremer ela caiba. Talvez o losango e o triângulo retângulo caibam com folga embaixo e com uma ponta para fora. Outras formas vão se equilibrar, mas o retângulo e o quadrado não cabem de jeito nenhum. O retrato das escolas hoje é a imagem acima. Alguns são considerados perfeitos, outros se adéquam com sobras e faltas e alguns não são acolhidos. Não existe uma maioria. Se for para definir, a maioria é diversa e heterogênea. Assim, a maioria dos estudantes se beneficiaria de um olhar mais individualizado e de práticas menos convencionais de ensino. 39 Voltando aos diagnósticos, eles nos fornecem pistas. Sabemos que estudantes surdos precisam de um intérprete de LIBRAS e que português será sua segunda língua. Estudantes cegos precisam de uma estrutura que envolve impressão em braile e/ou audiodescrição, bem como de uma reglete para escrever em braile, um soroban para realizar operações matemáticas ou um computador com softwares adequados. Estudantes autistas, em geral, precisam de subsídios concretos e de ambientes calmos. Estudantes que usam cadeiras de rodas precisarão de atividades físicas de acordo com suas possibilidades de movimentos e deslocamentos. Estudantes com dificuldade em se concentrar e ficar sentado na carteira precisam de aulas mais dinâmicas e que prendam seu interesse.https://bit.ly/3jIBCT9. https://bit.ly/3jIBCT9 40 Indo além das questões de acessibilidade, podemos pensar que estudantes surdos precisam de estímulos visuais que facilitarão muito a aprendizagem de vários outros estudantes, focando a atenção e também proporcionando a visualização de conceitos antes abstratos. O soroban poderia ser utilizado em uma aula de matemática com todos os estudantes aprendendo de forma concreta a realizar diferentes cálculos. Na verdade, sabemos que diferentes recursos concretos podem beneficiar todos os estudantes, como por exemplo, os desatentos e desinteressados além daqueles que estão com alguma dificuldade para acompanhar os conteúdos. Explorar diferentes possibilidades de movimentos e atividades nas aulas de https://bit.ly/3kYFoXT https://bit.ly/2OxeLxp https://bit.ly/3t4tRcm 41 educação física pode ser bom também àqueles estudantes que não têm suas habilidades de jogo bem desenvolvidas e que, em geral, evitam e sofrem com as aulas. 3.2 APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS É fundamental que seja estabelecida uma diferença entre ensinar e aprender. Um professor dizer que ensinou algo não é verdade se estudantes não aprenderam. É comum chamarmos de “processo de ensino e aprendizagem”, por entender que é um processo que envolve diferentes pessoas e ações. Anastasiou (2012) chama de ensinagem, explicando que é uma única ação, em que existe uma relação intrínseca entre a ideia de ensinar e aprender. Paulo Freire enfatiza a importância de que estudantes estejam envolvidos de forma ativa nos processos de construção de conhecimentos. Como você pode ver, no parágrafo anterior foram utilizados diferentes termos para designar essa ação relacionada à aprendizagem. Todos têm sua validade, porém, não significam exatamente a mesma coisa. Quando alguém fala de ensinou algo, quer dizer que explicou sobre determinado assunto (e a pessoa pode ou não ter entendido a explicação). Quando alguém fala que aprendeu algo, quer dizer que através de pesquisas (na internet, livros, revistas) ou por experiência ou por uma explicação de outra pessoa, compreendeu sobre determinado assunto. Percebe que existem várias possibilidades para entrarmos em contato com conhecimentos? Você certamente já ouviu falar sobre Vygotsky e as mediações, correto? Então, algumas mediações são realizadas por pessoas, outras por diferentes ferramentas. A ideia de processos de ensino e aprendizagem traz antes de mais nada uma ideia de processo. Isso significa que se entende que as coisas não acontecem imediatamente e que existem vários fatores envolvidos. Em um exemplo bem simples: para aprender a fazer bem os cálculos de divisão você precisou saber fazer subtrações e multiplicações. E na verdade você também precisou dominar a tabuada para saber rapidamente sobre qual número deveria ser colocado no quociente. Depois de dominar todas essas habilidades, você precisou entender a mecânica do cálculo. Finalmente, você precisou realizar várias vezes o cálculo de divisão para treinar essa nova habilidade. No meio desse processo todo não era 42 possível dizer que você ainda não sabia ou que já sabia dividir, não é? Pois estava aprendendo. Observe o verbo no gerúndio, ele dá a ideia de movimento, de processo. Guarde bem essa noção de processo porque ela aparece em três definições aqui. Os processos de ensino e aprendizagem e de ensinagem querem dizer basicamente a mesma coisa, só que o segundo deixa mais evidente que não existe ensino sem aprendizagem. Ambos são processos e acontecem ao longo de toda a vida, dentro e fora de instituições de ensino. Um ponto curioso seria o questionamento inverso: existe aprendizagem sem ensino? Talvez se considerarmos todas as formas de autodidatismo exista aprendizagem sem ensino. Porém, vendo pelo ângulo das mediações, sempre existe algum material/instrumento/vivência que possibilitou essa aprendizagem. Por fim, chegamos aos processos de construção de conhecimentos. E aqui vamos nos reter um pouco mais por entender que é essa visão coloca estudantes em sua devida posição de protagonismo. Então aqui temos três ideias: (1) que é um processo; (2) que existe uma construção, ao contrário de uma absorção/recepção; (3) a palavra “conhecimentos” está no plural porque se entende que existem múltiplos conhecimentos no mundo e não somente aquele do professor ou do livro. Entendendo todos esses importantes aspectos, vamos falar sobre aprendizagens significativas. Talvez o nome devesse ser outro, justamente pelo que foi dito logo acima, mas se mantém enquanto “aprendizagem” para enfatizar a necessidade de que essa ação realizada por estudantes não seja algo mecânico, decorado ou passivamente absorvido. Aprendizagens significativas são aquelas na quais estudantes produzem conhecimentos, que os conteúdos fazem sentido e passam a constituir os saberes discentes. Entendendo que as práticas pedagógicas devem sempre buscar que estudantes tenham aprendizagens significativas e que estudantes são diferentes entre si, inclusive em suas formas de perceber e compreender as coisas, a educação 43 inclusiva é necessária em todo e qualquer contexto escolar e universitário. Mesmo sem laudos e diagnósticos, faz-se necessário estabelecer práticas didático- pedagógicas que deem conta das diferenças. Um estudante que está desmotivado, cansado, com fome, vivendo situações adversas em casa, que tenha baixa autoestima, que tenha medo de errar, que tenha dificuldades em se concentrar ou em visualizar informações de forma abstrata terá as mesmas chances de ter aprendizagens significativas? Então, ele também precisa de um olhar atento e, provavelmente, se beneficiará de práticas didático- pedagógicas diferenciadas. Conforme vínhamos falando na seção anterior, todos se beneficiam de adaptações e novas práticas pedagógicas. Os aparatos concretos que são utilizados para estudantes cegos também serão bons àqueles com dificuldades de abstração. Imagens e esquemas para pessoas surdas ajudam a chamar e sustentar a atenção de diferentes estudantes. Uma explicação mais pormenorizada para algum estudante com questões cognitivas será muito útil para vários outros que não estão acompanhando os conteúdos. Educação Inclusiva é isso: garantir que a totalidade de estudantes está sendo considerada e acolhida e que a partir de diferentes abordagens didático- pedagógicas está construindo conhecimentos de forma processual, com aprendizagens significativas. As escolas precisam de um laudo para respaldarem adaptações de currículos, de avaliações, de instalações e de práticas pedagógicas. Então, que laudos médicos sirvam para garantir direitos e aumentar as possibilidades de desenvolvimento e crescimento. Como já sabemos bem, devemos pensar na pessoa e não em seu diagnóstico. 3.3 CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Agora que já sabemos o que é e para quem deve ser a Educação Inclusiva, vamos um pouco adiante para entender a dimensão da importância dela para estudantes, professores, escola e sociedade. Você se lembra de quando falamos sobre a questão da diferença estar sempre no outro? Quando em uma sala de aula todos os estudantes têm cabelos escuros, um estudante loiro irá ser o diferente. E lembrando que para o senso comum ser diferente é ruim. Na vida real o que temos, geralmente, é o estabelecimento do 44 diferente em termos de cor da pele, na qual escolas consideradas de maior qualidade têm em geral muito mais alunos brancos do que negros. Dê uma olhada na foto a seguir: Figura 4: Formandos em Medicina da Universidade Federal da Bahia Disponível em: https://bit.ly/3ej1SBR. Acesso em: 01 de fev. de 2021. Essa imagem é bastante simbólicaporque evidencia aquilo que estamos acostumados: ter médicos brancos. Com isso, frequentemente lemos uma notícia de que um médico negro foi vítima de racismo, com pacientes se recusando a ser atendidos, por exemplo. Enquanto a maioria dos médicos for branca, inclusive no estado com maior número de pessoas negras do país, ser um médico negro será o diferente (e aquele diferente negativo). Acontece que além disso é bem provável que a gente continue encontrando notícia e estudos mostrando que pessoas negras, em especial mulheres, sofrem mais violência médica. Isso acontece porque existe uma visão (das pessoas brancas) que pessoas negras são mais resistentes a dor. Quanto mais médicos negros existirem, menos essa visão errada sobre a diferença irá persistir. https://bit.ly/3ej1SBR 45 Poucas pessoas que apresentam desenvolvimentos atípicos chega até a Universidade um número ainda menor que se forma. A ausência dessas pessoas desde a Educação Infantil é tão evidente que, quando estão presentes, são imediatamente notadas e apontadas. E, novamente, são consideradas um “diferente ruim”, seja porque não têm capacidade, porque são dignas de pena, porque é um buraco na pista. O que é importante entender aqui é que quanto mais comum for a presença de pessoas que destoem de um único padrão, mais a diferença vai ser vista apenas enquanto diferença. Não enquanto boa ou ruim e apenas como “mais uma” diferença. Precisamos de salas de aula povoadas de todos os tipos de pessoas para que a diferença seja entendida como algo natural, necessário e importante. É natural porque o mundo é plural e diverso. Porque por mais que estejamos acostumados a ver pessoas brancas, dentro de um certo padrão considerado belo, que apresentam desenvolvimentos físico, cognitivo e social típicos, isso não é a maioria e muito menos o “normal”. Temos uma infinidade de tipos de corpos e formas se de estar no mundo. Se você observar o terminal de ônibus urbano de sua cidade vai perceber que são poucas as pessoas que se parecem com protagonistas da novela. É necessário porque assim como o exemplo da necessidade de se ter mais médicos negros para quebrar estigmas e atitudes médicas, temos a necessidade de ter em nossa sociedade profissionais das mais diferentes áreas que destoem do tal padrão de normalidade que foi falado acima. É necessário termos advogados, médicos, professores, engenheiros, dançarinos, psicólogos, jornalistas, cineastas, cozinheiros, enfim, profissionais de todas as áreas que sejam e pensem diferente. Tanto para garantir voz, direitos e produtos específicos que outras pessoas não pensariam, quanto para quebrar estigmas e preconceitos tão presentes em nossa sociedade. 46 Por fim, é importante porque a situação acima só será possível caso essas pessoas estejam nas escolas regulares, sendo acolhidas em suas diferenças e tendo acesso a uma educação verdadeiramente inclusiva. As crianças sozinhas não têm preconceitos. São os adultos e a sociedade como um todo que ensinam isso. Uma criança pequena que tenha Síndrome de Down não é vista pelo formato do rosto ou pela forma como fala. Ela é percebida pelas outras crianças de mesma idade por seus passos de dança ou seu desenho preferido, da mesma forma como qualquer outra criança da sala. Conforme as crianças crescem elas vão estabelecendo um critério de “normalidade” e percebendo e taxando as diferenças. Por isso, se desde sempre as pessoas que apresentam desenvolvimento atípico estiverem presentes em todos os espaços da sociedade, esse critério de “normalidade” será alterado, expandido. Todos os olhares de estranhamento e as provocações que Heloisa sofre estão relacionados ao fato das pessoas a perceberem enquanto uma diferente estranha. Caso aquelas crianças e adultos já tivessem tido convívios saudáveis com outras pessoas com limitações de movimentos, novas concepções teriam sido construídas. Em uma cena desse curta metragem aparecem os obstáculos para se chegar até uma lanchonete. E se tivéssemos mais engenheiros, arquitetos que usassem cadeiras de rodas, bengalas ou outro suporte para se locomover? Provavelmente, existiria mais acessibilidade! Por fim, quanto mais diferença temos e reconhecemos em sala de aula, mais abertura existe para que os currículos e as práticas didático-pedagógicas sejam repensados. O que se vê nas escolas convencionais é muito próximo do que se via há 100 anos, com a diferença de que talvez algumas salas de aula usem tablets e lousas digitais, mas o cerne continua o mesmo. A proposta de Educação Inclusiva nos faz olhar para cada estudante, enxergando suas potências e dificuldades e https://bit.ly/2OupIzE 47 buscando caminhos para acessar e promover o desenvolvimento. Na Educação Inclusiva se busca promover processos de construções de conhecimentos e aprendizagens significativas. Professoras e professores que realizam a Educação Inclusiva têm um olhar e uma prática diferenciada que beneficiará a todos. A Educação Inclusiva é importante para construirmos uma sociedade mais respeitosa, acolhedora, que valoriza a diferença ao mesmo tempo que garante direitos a todos. Educação Inclusiva é importante para que todas as pessoas tenham acesso à educação, a uma profissão, a um reconhecimento enquanto cidadão em suas potencias. Educação Inclusiva é importante para que quebremos estereótipos de normalidade e práticas de violência e preconceito. 48 FIXANDO O CONTEÚDO 1. A respeito dos diagnósticos, assinale a correta: a) Os diagnósticos servem, na verdade, para oficialmente nos permitirem rotular e colocar as pessoas em caixinhas. b) Os diagnósticos servem, na verdade, para oficialmente nos permitirem sermos mais atentos às subjetividades e singularidades de estudantes ao invés de exigir que se adéquem a uma média. c) Os diagnósticos servem, na verdade, para oficialmente fornecer todas as informações que precisamos sobre os estudantes. d) Os diagnósticos servem, na verdade, para oficialmente definir as possibilidades e restrições de cada estudante. e) Os diagnósticos servem, na verdade, para oficialmente nos permitirem sermos mais atentos às subjetividades e singularidades de estudantes e exigirmos que todos se adéquem a uma média. 2. Segundo Anastasiou, ____________ é uma única ação, em que existe uma relação intrínseca entre a ideia de ensinar e aprender. Assinale a opção que melhor completa a frase. a) Diagnóstico b) Mediação c) Educação Inclusiva d) Ensinagem e) Medióstico 3. Os processos de construção de conhecimentos abarcam três ideias: a) (1) Que é um processo; (2) que existe uma construção, ao contrário de uma absorção/recepção; (3) a palavra “conhecimentos” está no plural porque se entende que existem múltiplos conhecimentos no mundo e não somente aquele do professor ou do livro. 49 b) (1) Que é um processo; (2) que existe uma absorção/recepção; (3) que a palavra “conhecimento” é aquele que vem do professor ou do livro. c) (1) É um processo; (2) existe uma construção; (3) a palavra “conhecimentos” está no plural porque são dois: do professor ou do livro. d) (1) Não é um processo; (2) não existe uma construção, ao contrário de uma absorção/recepção; (3) a palavra “conhecimento” é um conceito único. e) (1) Que é um processo; (2) que existe uma construção, ao contrário de uma absorção/recepção; (3) a palavra “conhecimento” é um conceito único. 4. Aprendizagens significativas são: a) aquelas nas quais estudantes produzem conhecimentos que fazem sentido para o professor. b) aquelas nas quais estudantes produzem conhecimentos teóricos e iguais, onde os conteúdos seguem um padrão. c) aquelas nas quais estudantesproduzem conhecimentos, que os conteúdos fazem sentido e passam a constituir os saberes discentes. d) aquelas nas quais estudantes conseguem reproduzir os conhecimentos dos professores. e) aquelas nas quais professores produzem conhecimentos, que os conteúdos fazem sentido e passam a constituir os saberes discentes. 5. Complete a frase com a alternativa correta: “a educação inclusiva...” a) Só é necessária, tanto no contexto escolar quanto universitário, se o estudante tiver laudos e diagnósticos. b) Não é necessária para estabelecer práticas didático-pedagógicas que deem conta das diferenças. c) É necessária em todo e qualquer contexto escolar e universitário. Mas somente com laudos e diagnósticos, fazendo-se necessário estabelecer práticas didático- pedagógicas que deem conta das diferenças. d) É necessária em todo e qualquer contexto escolar e universitário. Mesmo sem laudos e diagnósticos, faz-se necessário estabelecer práticas didático- pedagógicas que deem conta das diferenças. 50 e) Não é necessária em todo e qualquer contexto escolar e universitário. Mesmo com laudos e diagnósticos, não se faz necessário estabelecer práticas didático- pedagógicas que deem conta das diferenças. 6. Olhar para cada estudante enxergando suas potências e dificuldades, buscando caminhos para acessar e promover o desenvolvimento; buscar promover processos de construções de conhecimentos e aprendizagens significativas; ter professoras e professores com um olhar e uma prática diferenciada que beneficia a todos; ____________ é muito importante para que a gente construa uma sociedade mais respeitosa, acolhedora, que valoriza a diferença ao mesmo tempo que garante direitos a todos. Marque a alternativa que apresente a resposta correta sobre o que estamos falando no trecho acima: a) O Diagnóstico b) A Educação Inclusiva c) A Solidariedade d) A LDB e) O Preconceito 7. É um exemplo de artefato que foi adaptado para pessoas cegas e que poderia ser utilizado em uma aula de matemática com todos os estudantes aprendendo de forma concreta a realizar diferentes cálculos: a) Reglete b) Libras c) Esquadros d) Tabuada e) Soroban 8. Sobre o Ensino e a Aprendizagem é correto afirmar que: a) Ensino é o único que é um processo que acontece ao longo de toda a vida. 51 b) Aprendizagem é a única que é um processo que acontece ao longo de toda a vida. c) Ambos são processos e acontecem ao longo de toda a vida, dentro e fora de instituições de ensino. d) Ambos são processos e acontecem ao longo de toda a vida, porém, apenas o ensino acontece dentro de instituições de ensino. e) Ambos são processos e acontecem ao longo de toda a vida, porém, apenas a aprendizagem acontece dentro de instituições de ensino. 52 PLANO DE DESENVOLVIMENTO INDIVIDUALIZADO Já está estabelecido que as práticas didático-pedagógicas nem sempre alcançam todos os estudantes da mesma forma e que alguns estudantes precisam de apoios específicos e de outras abordagens para conseguirem, de fato, produzir aprendizagens significativas. A partir dessa compreensão, nesta unidade falaremos sobre um documento bastante importante para o processo de Educação Inclusiva, o Plano de Desenvolvimento Individualizado (PDI). O PDI, na verdade, é mais do que um documento, se constituindo enquanto um plano de ação que compreende informações sobre o estudante, objetivos de aprendizagens e formas de alcançar tais desenvolvimentos, para períodos que podem englobar inclusive mais do que um ano letivo. Como o próprio nome diz, ele é um plano individual para um estudante em específico. Não é um Plano de Desenvolvimento para Estudantes Autistas, Cegos, Surdos ou com Síndrome de Down. O objetivo é o desenvolvimento de forma global, desde as habilidades sociais até aspectos cognitivos e curriculares. Ele leva em consideração cada sujeito, seus contextos, suas especificidades e singularidades. Figura 5: Crianças realizando diferentes atividades com diferentes recursos Disponível em: https://bit.ly/3qxna0N. Acesso em: 02 de fev. de 2021. UNIDADE 04 https://bit.ly/3qxna0N 53 No Plano de Desenvolvimento Individual estaremos avaliando a todo o tempo. Existe uma avaliação preliminar, que chamaremos de Rastreio Inicial e que será o próximo tópico desta unidade, as avaliações em si, que serão abordadas na próxima unidade e, finalmente, a concepção de que a avalição é um processo contínuo. As práticas avaliação devem extrapolar a mensuração do que o aluno não sabe ou não conhece, como acontece na escola convencional. Na Educação Inclusiva os processos avaliativos são importantes para acompanhar o desenvolvimento de cada estudante. Por isso, devemos identificar as condições favorecedoras e as barreiras de aprendizagem existentes para atender às necessidades educacionais de cada aluno. A escola deve ser entendida como o lugar do aprender e não como um “depósito” de crianças e adolescentes. A escola deve se adequar e se preparar para responder às demandas de cada estudante e o PDI é parte dessa adequação e preparação. 4.1 RASTREIO INICIAL A primeira coisa que deve ser feita para a construção de um PDI é saber quem é esse estudante. Isso parece óbvio, mas existem várias informações que precisamos buscar. Inicialmente, pensamos na parte considerada mais “escolar”: as habilidades cognitivas e quais têm sido as compreensões dos estudantes a respeito de conteúdos. É fundamental que se tenha profundo conhecimento sobre o que estudantes estão compreendendo e quais as dificuldades que têm sido encontradas no percurso. Sem isso não é possível traçar qualquer planejamento didático- pedagógico. Porém, um segundo passo é de extrema importância aqui, um avanço nessa compreensão de sujeito que aprende e produz conhecimentos. O que influencia o desenvolvimento de uma pessoa, além de seu funcionamento cognitivo? 4.1.1 Contextos Partindo do príncipo de que: todo estudante vem de algum lugar, seja uma escola anterior, terapias e sua família. É imprescindível entender como se configura essa família, qual funcionamento 54 e quais as possibilidades têm, se os familiares não são alfabetizados ou têm baixa escolaridade, isso certamente influenciará a forma como serão enviadas as atividades a serem realizadas em casa, por exemplo. O mesmo com famílias que não dispõem de tempo para estimular essa criança, adolescente ou adulto. A escola anterior, quando houver, é fonte de informações preciosíssimas. Sabe quando muda o prefeito de uma cidade e ele altera tudo que estava sendo feito na gestão anterior? Causa indignação porque é um trabalho de quatro anos com investimentos financeiros e de pessoal jogado no lixo. O mesmo acontece quando um estudante vai para uma nova escola e a instituição não dá continuidade ao que a escola anterior descobriu, desenvolveu e realizou. São anos de esforços, tentativas, descobertas e ganhos são descartados. Já as terapias, frequentemente distantes das escolas, podem não só fornecer informações importantes como trabalhar em conjunto para promover desenvolvimentos. Muitas vezes o contexto de intervenção individualizada ajuda a estimular algumas especificidades que em sala de aula podem ser mais difíceis de serem trabalhadas. O ideal é que além de uma conversa inicial ou pelo menos o envio de relatórios, seja realizada uma reunião periódica com pelo menos o profissional responsável pela equipe, para retomar o PDI, definir questões que as terapias podem atuar de forma mais próxima e continuar a troca de informações sobre o estudante, possibilidadesde abordagens e busca conjunta por superação de dificuldades. 4.1.2 Olhar para o estudante Depois dessa primeira etapa do rastreio, em que situamos o estudante no mundo, precisamos olhar para o estudante de fato. Isso significa identificar o que 55 sabe, o que não sabe ainda e o que consegue fazer com apoio. Também abarca suas formas de se comunicar com o mundo e necessidades de suportes específicos. Da mesma forma como é importante entrar em contato com a escola anterior, manter um diálogo próximo com docentes anteriores também é. Portanto, falem com professoras e professores regentes, de disciplinas específicas e, também, se houver, das salas de apoio especializado. Investiguem o que o estudante aprendeu, quais as abordagens didático-pedagógicas que funcionaram melhor, quais as principais dificuldades e as potencialidades que foram identificadas. Sobre a questão da comunicação, existem muitas formas de se comunicar, mesmo sem falar, sem ouvir, sem enxergar, sem fazer expressões faciais ou movimentos corporais. Vamos explorar aqui as principais delas: LIBRAS – A Língua Brasileira de Sinais é mais do que uma comunicação gestual, inclui expressões faciais e tem toda uma estrutura gramatical própria. Tem inclusive “sotaques”, com sinais distintos em diferentes regiões do país. Ela é brasileira, isso significa que em Portugal existe outra, por exemplo. Da mesma forma, existe a Língua Britânica de Sinais (BSL) e a Estadounidense (ASL). Existe o alfabeto em Libras e em todas as outras Línguas de Sinais, mas a comunicação vai muito além de soletrar. Existem sinais para diferentes palavras, sendo verbos, substantivos, advérbios, adjetivos etc. Os sinais têm movimentos, configurações de mão, localizações, orientações e expressões faciais diferentes. É usada pelas pessoas surdas. Figura 6: Exemplos de sinais em LIBRAS Disponível em: https://bit.ly/3rvfvBs. Acesso em: 08 de fev. de 2021. https://bit.ly/3rvfvBs 56 Softwares de comunicação assistiva – São aplicativos de celular ou softwares de computador que promovem outras formas de comunicação. Neles é possível selecionar imagens, palavras e letras (clicando ou até mesmo selecionando com o olhar) e o software produz os sons das palavras correspondentes. Em geral são usados por pessoas que têm dificuldades de oralizar, como pessoas autistas e pessoas com paralisia cerebral. Um exemplo que talvez a maioria de vocês já tenha visto era o cientista Stephen Hawking, ele tinha uma doença degenerativa chamada Esclerose Lateral Aminiotrófica (ELA), em que os músculos do corpo vão parando de responder ao longo do tempo. No caso de Hawking, a Intel desenvolveu um recurso que captava os movimentos que ele fazia com um músculo da bochecha e ele dava palestras longas e complexas dessa forma. Figura 7: Cientista Stephen Hawking e sua ferramenta de comuncação assistiva Disponível em: https://bbc.in/3chKFWV. Acesso em: 08 de fev. de 2021. Comunicação por troca de imagens – Bastante utilizada por crianças autistas, essa forma de comunicação é simples e barata, podendo ser feita de forma artesanal, impressa ou comprada pronta. Consiste em um conjunto de imagens representando objetos, pessoas, ações e sentimentos que são entregues de forma a comunicar o que se deseja. Em um momento mais avançado é possível construir frases com as imagens. Um dos modelos mais conhecidos deste tipo de comunicação é o PECS – Picture Exchange Communication System (em português, Sistema de Comunicação por Troca de Imagens). https://bbc.in/3chKFWV 57 Figura 8: Criança segurando pasta com PECS Disponível em: https://bit.ly/3v77SDt. Acesso em: 08 de fev. de 2021. A razão para trazer aqui esses três exemplos é porque é fundamental que as formas de comunicação e qualquer outra tecnologia ou recurso que colabore com o desenvolvimento de estudantes devem ser levados em conta. Como interagir com um estudante que não compartilha de nossas formas usuais de comunicação? Como esperar que esse estudante aprenda se não há comunicação? Portanto, o rastreio vai além das questões de conteúdos e abordagens didático-pedagógicas, realmente inclui o estudante enquanto um sujeito completo, que existe e interage com o mundo de maneiras específicas. Outras formas de suportes específicos podem ser desde cadeiras de rodas (e suas decorrentes questões de acessibilidade), pisos tácteis, intérpretes de LIBRAS, impressões em Braile e softwares leitores, mesas imantadas, computadores e tablets com softwares adequados de escrita e leitura para todos que necessitem, mesas e cadeiras adaptados, materiais em relevo, óculos, lupas, calçados especiais, bengalas, aparelhos auditivos, materiais com pega adaptada, abafadores de ruídos e vários outros objetos e instrumentos que colaboram para melhores aprendizagens, interações, mobilidade e desenvolvimento global de estudantes. https://bit.ly/3v77SDt 58 Assim, depois de fazer todo esse rastreio inicial que incluiu conhecer o estudante, sua família, identificar suas questões de aprendizagem, trocar ideias com outros profissionais de dentro e de fora da escola e saber quais recursos são necessários para que este estudante consiga se desenvolver plenamente, podemos seguir com a construção dos Planos de Desenvolvimento Individual. Porém, existe um importante adendo: o rastreio é permanente. Isso significa que sempre temos que https://bit.ly/3rtEvJj https://bit.ly/3qsz6B9 https://bit.ly/2O6KVzY 59 buscar novas informações sobre o estudante e seus processos de construção de conhecimentos e de desenvolvimento. 4.2 OBJETIVOS Se eu desejo saber se meus estudantes sabem realizar uma divisão, qual tipo de enunciado entre os dois mostrados abaixo você acha mais adequado? Exemplo 5: a) Era um lindo dia de verão, fazia sol e borboletas enchiam o céu. Quatorze crianças brincavam no parquinho do bairro. Estava muito sol e ao longe os pequenos avistaram a mais desejada das pessoas: o vendedor de picolés! Elas decidiram que iriam comprar todos os 56 picolés. Quantos picolés cada criança irá tomar? b) Resolva o seguinte cálculo: 56 ÷ 14 = Você percebeu a diferença entre ambas? Na primeira questão apesar de haver a necessidade de se realizar um cálculo de divisão, a habilidade de interpretação de textos é essencial. Esse exemplo será retomado mais tarde, quando será aprofundada a questão da avaliação. Mas, por ora é fundamental que você entenda que temos que definir muito bem nossos objetivos, para encontrar o melhor caminho para atingi-los. Muitas vezes, quando abordamos a Educação Inclusiva existem pessoas que consideram como: “o importante é socializar”, “o importante é acolher a criança e a família”, “não dá pra focar em conteúdo” e “tudo bem se não aprender”. Todas essas frases são, parcialmente, verdadeiras; vamos destrinchar cada uma abaixo. 60 Exemplo 6: (1) Vamos reformular para “é importante socializar”? A ideia de um artigo no início da frase coloca como se fosse a única coisa importante e isso não é verdadeiro. A socialização é essencial para todos os estudantes e privar estudantes que apresentam desenvolvimentos atípicos do convívio social com outros estudantes e professores é danoso para todos, como já falamos anteriormente neste livro. (2) Mesmo procedimento anterior: “é importante acolher a criança e a família”. Porém, fazer somente isso não é o suficiente. O acolhimento é uma postura necessária, não o objetivo da escolarização. (3) O ato de focar apenas – ou principalmente - em conteúdos, a que chamamos de conteudismo, não é benéfico para estudantes de forma geral. Como já sabemos,a educação vai além de aprender conteúdos curriculares. Entretanto, ignorar conteúdos curriculares por pressupor que estudantes não irão aprender é negligência e violência. Todos têm direito de se desenvolver nas mais diferentes áreas. (4) Tudo bem não aprender da mesma forma, no mesmo ritmo e exatamente o mesmo conteúdo que outros estudantes. Mas o pensamento de “tudo bem se não aprender” muitas vezes está relacionado ao ponto anterior, com uma negligência docente. É importante trabalhar conteúdos curriculares das mais diferentes disciplinas com todos os estudantes. Considerando aqui o Plano de Desenvolvimento Individual, devemos definir muito bem os objetivos para alcançá-los. A partir dessa definição é possível encontrar os melhores caminhos e abordagens didático-pedagógicas e não cometer o deslize demonstrado no exemplo de divisão anterior. Definir o objetivo de que determinado estudante aprenda ler e a escrever é um bom objetivo a médio/longo prazo, mas qual o percurso para desenvolver tais habilidades? Talvez um objetivo inicial seja que ele se familiarize com o alfabeto, formas e sons. Esse objetivo deve ser explícito, por mais óbvio que possa parecer. Explicando melhor, se meu objetivo é escalar o Monte Everest e eu nunca escalei nada maior do que trilhas de 30 minutos para chegar a uma cachoeira ou a uma praia, eu preciso dedicar alguns anos treinando. Mais do que isso, preciso estabelecer objetivos como: fortalecimento muscular, aumentar a capacidade cardiorrespiratória, escalar montanhas dentro e fora do Brasil, estabelecimento de saúde mental (muita gente não pensa nesse objetivo, mas sem uma cabeça boa ninguém sobe o Everest), conseguir equipamentos adequados, aprender a usar os 61 equipamentos de segurança. Certamente existem mais objetivos que poderiam ser elencados aqui, mas, presumo que você tenha entendido a ideia. Defina bem os objetivos que você quer alcançar com cada estudante. Perceba que alguns são de curto prazo e outros mais prolongados. O PDI deve conter todos eles, assim como o caminho para alcançar cada um. Retomando o exemplo da escalada, existem várias formas de se fazer fortalecimento muscular, cada tipo de corpo e de metabolismo reage melhor a uma delas, não é? Tem gente que faz musculação, outros Pilates, outros lutam. Na escola, seja com conteúdos curriculares ou sociais, emocionais ou motores é a mesma coisa. Cada estudante vai se desenvolver melhor e alcançar com mais qualidade os objetivos de uma forma. 4.3 ADAPTAÇÃO CURRICULAR Depois de termos feito o rastreio Inicial e definido os objetivos, chegamos à Adaptação Curricular. Como o próprio nome diz, se refere a uma adaptação, uma personalização do currículo para o estudante. A Adaptação Curricular é a materialização do Plano de Desenvolvimento Individual, mas ela só pode acontecer depois de se fazer um adequado rastreio inicial, estabelecer bem os objetivos e permanecer fazendo rastreios e avaliações dos processos vividos. A partir dos objetivos, deve ser feita uma seleção de conteúdos acessíveis, significativos e importantes àquele estudante naquele momento. Por “acessíveis”, entenda aqueles conteúdos curriculares que o estudante já tem os pré-requisitos para lidar com o assunto (é preciso saber multiplicar para saber dividir, por exemplo). Significativos são aqueles conteúdos que vão ressoar em cada estudante, que estarão relacionados a vivências prévias e interesses, que fazem parte de um contexto no qual o estudante está inserido. A questão da importância merece ser explorada com mais atenção, porque é um assunto delicado. Como definir o que é importante para outra pessoa? Temos que ter muito cuidado e não nivelar por baixo, subestimando as capacidades de estudantes. Muitas pessoas julgam que o importante é saber se comportar adequadamente, outras que é aprender o básico (ler, escrever e contar), outras que os conteúdos curriculares a partir do segundo ciclo do Ensino Fundamental são desnecessários para estudantes que apresentam desenvolvimento atípico. E se no dia que você entrasse na escola decidissem que você não iria conseguir aprender 62 conteúdos complexos e nem te dessem a oportunidade de entrar em contato com eles, como você estaria hoje? O conteúdo importante é aquele que o estudante tem condições de acompanhar e que lhe agrega. Mas atenção, talvez, para determinado estudante não seja importante decorar regras de acentuação gráfica, mas isso não significa que ele não deva aprender a acentuar as palavras. Você certamente sabe que a palavra “você” é acentuada, mas talvez saiba isso simplesmente por saber, de tanto ler a palavra grafada assim e não por ser uma oxítona terminada em “e”. Um ponto de destaque sobre a Adaptação Curricular é que devemos utilizá- la na construção de uma Educação Inclusiva. Isso significa que além de buscar estimular o desenvolvimento global do estudante, precisamos lembrar que ele está inserido em uma sala de aula. Assim, parte do processo de Adaptação Curricular será buscar no conteúdo programático que está sendo trabalhado com a turma, os conteúdos específicos para o estudante em questão. Se a turma está trabalhando multiplicação, mas o estudante ainda não tem as bases para este conteúdo, pode-se, por exemplo, trabalhar agrupamentos de quantidade com ele. Se a turma está estudando sobre fotossíntese, mas o estudante ainda não lê e escreve, pode entrar em contato com esse assunto de forma falada e experiencial. Se o estudante já lê, mas ainda não tem fluência para certas atividades de leitura e interpretação de texto, pode ter acesso a textos simplificados sobre a mesma temática. 63 64 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Sobre o Plano de Desenvolvimento Individualizado (PDI), assinale a alternativa correta: a) é um documento que tem a função de informar futuros docentes sobre como era o estudante no passado. b) é um plano de ação que compreende informações sobre o professor de cada matéria. c) são feitos para períodos de apenas um ano letivo. d) podem englobar inclusive mais do que um ano letivo. e) é um plano de desenvolvimento apenas para estudantes autistas, cegos, surdos ou com Síndrome de Down. 2. É o objetivo do Plano de Desenvolvimento Individualizado é: a) o desenvolvimento de forma global, desde as habilidades sociais até aspectos cognitivos e curriculares. b) o desenvolvimento de forma global, focando apenas em habilidades curriculares. c) o desenvolvimento de forma geral, com foco nos aspectos curriculares. d) o desenvolvimento de forma geral, com foco nos aspectos cognitivos. e) o desenvolvimento de forma particular e concentrada, focando apenas em habilidades curriculares. 3. Na Educação Inclusiva os processos avaliativos são importantes para acompanhar o desenvolvimento de cada estudante. Assinale o que devemos identificar para atender às necessidades educacionais de cada aluno: a) as condições determinantes e as barreiras de aprendizagem b) as condições determinantes e as condições favorecedoras c) as condições favorecedoras e as barreiras de aprendizagem d) as condições favorecedoras e as barreiras determinantes e) as condições determinantes e as barreiras determinantes 65 4. É uma avaliação preliminar onde a primeira coisa que deve ser feita para a construção de um PDI é saber quem é esse estudante. Estamos falando de: a) Contextos b) Rastreio Inicial c) Desenvolvimento de forma global d) Condições favorecedoras e) Barreiras de aprendizagem 5. São fontes de informações preciosíssimas sobre os estudantes: a) A família, a escola anterior, os terapeutas. b) A família, o secretário de educação, osterapeutas. c) Apenas escola anterior. d) Apenas a família. e) O secretário de educação e a família. 6. Existem muitas formas de se comunicar, mesmo sem falar, sem ouvir, sem enxergar, sem fazer expressões faciais ou movimentos corporais. São exemplos dessas formas de comunicação: a) Softwares de imagens. b) Softwares de Libras, Comunicação por troca de palavras. c) Softwares de matemática, Comunicação por troca de imagens. d) LIBRAS, Softwares de comunicação assistiva, Comunicação por troca de imagens e) LIBRAS, Softwares para desenhar. 7. O rastreio inicial incluiu conhecer o _____________, sua família, identificar suas questões de _________, trocar ideias com outros profissionais de dentro e de fora da escola e saber quais recursos são necessários para que este estudante consiga se desenvolver _____________. a) professor / aprendizagem / parcialmente 66 b) professor / aprendizagem / minimamente c) estudante / comportamento / minimamente d) estudante / aprendizagem / parcialmente e) estudante / aprendizagem/ plenamente 8. O que significa usar a Adaptação Curricular na construção de uma Educação Inclusiva: a) Ignorar o conteúdo programático que está sendo trabalhando em turma, sem se preocupar com o objetivo prático. a) buscar no conteúdo programático que está sendo trabalhado com a turma, os conteúdos específicos para o estudante em questão. b) buscar no conteúdo programático que está sendo trabalhado com a turma, apenas os conteúdos específicos para a turma em questão. c) buscar no conteúdo curricular que está sendo trabalhado na escola, os conteúdos específicos para os estudantes em geral. d) buscar no conteúdo programático que está sendo trabalhado com a turma, os conteúdos gerais sem focar no estudante em questão. 67 RECURSOS, POSTURAS E ESTRUTURAS O que é necessário para se fazer uma educação inclusiva? Nesta unidade retomaremos os recursos já mencionados, adicionaremos alguns outros e depois vamos pensar mais profundamente sobre outras questões não materiais que são fundamentais para bons processos educativos sejam realizados. 5.1 RECURSOS TECNOLÓGICOS Quando pensamos em tecnologias, nos vêm à cabeça computadores, smartphones e eletrodomésticos com inteligência artificial, não é? Eles todos são, de fato, tecnologias, mas na verdade, significa “a aplicação de conhecimento científico para objetivos práticos da vida humana ou, como algumas vezes é dito, para a transformação e manipulação do ambiente humano” (ENCICLOPÉDIA BRITANNICA, 2020). Isso quer dizer que cadeira é uma tecnologia, assim como o fósforo e calçados. Antes não existiam e diferentes conhecimentos foram necessários para que fossem produzidos e tornassem a vida humana mais simples. Pensando no contexto escolar, o quadro (de giz, branco e o digital) é uma tecnologia, assim como o material dourado e lápis e cadernos. Já viram filmes com pessoas escrevendo com pena em pergaminhos? E olhe só, isso também é tecnologia, porque foi necessário produzir essa tinta ou pegá-la de algum lugar, colocá-la em um recipiente que favorecesse o molhar da ponta da pena e, também, foi necessário um corte específico na haste dessa pena para que a escrita saísse bem. Tudo isso só foi possível porque houve uma junção de conhecimentos buscando satisfazer essas necessidades. Vimos nas Unidades 3 e 4 algumas tecnologias que podem ser utilizadas ao se construir uma Educação Inclusiva. Recapitulando e aprimorando: Cadeiras de rodas, rampas adequadas, elevadores, banheiros acessíveis, portas largas, muletas, andadores; UNIDADE 05 68 Pisos táteis, corrimão, bengala, impressões em Braile, softwares leitores e de escrita, audiodescrição, reglete, soroban, materiais em relevo, óculos, lupas; Intérpretes de LIBRAS, aparelhos auditivos, softwares tradutores de conteúdo para LIBRAS; Mesas imantadas, computadores e tablets com softwares adequados de escrita e leitura para todos que necessitem, mesas e cadeiras adaptados, calçados especiais, materiais com pega adaptada; Abafadores de ruídos, dimmers, brinquedos de stims, materiais que proporcionem estímulos de propriocepção e de equilíbrio/desequilíbrio físico, espaços que possibilitem corridas, pulos e escaladas; Essa lista ainda pode se estender muito, pois cada estudante pode demandar alguma tecnologia específica e, também, porque novas tecnologias, sejam elas assistivas ou não são criadas com grande frequência. 69 5.2 POSTURAS Mais importantes do que qualquer recurso tecnológico são as posturas docentes e da escola como um todo. De que adianta uma escola ter os melhores equipamentos, computadores, tablets e softwares se não acredita que estudantes conseguem aprender e se desenvolver? Certamente os recursos materiais são importantes e contribuem significativamente com os processos de construção de conhecimentos e de desenvolvimento de estudantes. Alguns, inclusive, são essenciais para garantir o acesso e permanência em espaços escolares, como aqueles relacionados à mobilidade e comunicação. Entretanto, sem querer abrir espaço para uma autorização de qualquer prática de sucateamento e legitimar que professoras e professores dediquem tempo extraclasse para a confecção de materiais artesanais adaptados, as posturas docente e escolar vêm em primeiro lugar. Sabemos pelas mídias de vários relatos de histórias de sucesso e superação em que professores altamente dedicados e escolas comprometidas conseguiram avanços incríveis mesmo em meio a situações precárias. Tais avanços podem ser tanto em relação às práticas pedagógicas inclusivas ou aos processos de construção de conhecimentos de forma geral. Temos escolas paupérrimas com altas aprovações nos processos seletivos para universidades e estudantes com notas máximas na redação do ENEM que estudaram em situações extremamente desfavorecedoras. O que é importante aqui é não enxergar tais situações como meritocracia, em que o esforço individual ou mesmo de um pequeno coletivo foi o único responsável. Muitas vezes essa percepção invisibiliza a necessidade de investimentos e políticas públicas. Tendo isso tudo em mente, leia a seguinte afirmação com cautela: precisamos de posturas antes de recursos. Educadores que acreditam nos seus estudantes ajudam a construir um ambiente pedagógico muito mais efetivo do que aqueles que contam com um tablet por aluno, mas que os menosprezam. 70 As pré-concepções que docentes têm de seus estudantes alteram significativamente a forma como lidam com eles e, consequentemente, com as aprendizagens e desenvolvimentos destes estudantes. Quando as expectativas são baixas, é bem provável que os avanços também sejam (BRITTO; LOMONACO, 1983). Entendendo que muitos professores não têm uma visão crítica a respeito da diversidade e buscam um padrão de normalidade (que já estabelecemos neste livro que não existe), todos aqueles que destoam do desejado são vistos com menos credibilidade e interesse. Isso significa que quando dois estudantes, um negro e outro branco, expressam uma mesma dificuldade de compreensão de determinado conteúdo, o branco é melhor tratado e tem suas dúvidas sanadas. Essa situação não acontecerá com o estudante negro ou, pelo menos, não com a mesma qualidade. Por causa disso, as possibilidades de construção de conhecimentos e desenvolvimento escolar ficam prejudicadas. Tanto isso é verdade que no Brasil, a quantidade de estudantes negros reprovados é o dobro do número de estudantes brancos na mesma situação (MORENO, 2019). https://bit.ly/3rusTWJ 71 Alémdas questões de aprendizagem, fica explícita uma diferença na forma de lidar com emoções e comportamentos de estudantes brancos e negros, sendo os primeiros mais acolhidos e compreendidos que os últimos. Todos esses estigmas acontecem também, guardadas suas proporções e especificidades, com estudantes que apresentam alguma atipicidade no desenvolvimento, com estudantes pobres, com estudantes que não se encaixam em um padrão hetero-cis- normativo e quaisquer outros grupos que destoam daquilo que foi imposto enquanto padrão. Como já foi abordado anteriormente é frequente que estudantes que apresentem alguma atipicidade no desenvolvimento sejam menos estimulados nas escolas. Seja por uma questão de proteção ou de subestimação, oportunidades lhes são vedadas. Também existem professores que apesar de não proteger e nem subestimar estudantes, não têm a disposição para modificar a forma como os processos de construção e conhecimento acontecem na sala de aula, sendo pouco acessíveis e/ou interessantes para vários estudantes que destoam daquele padrão esperado. A partir de toda essa situação, não é difícil imaginar o desenrolar que grande parte dos estudantes terá em sua trajetória escolar. A aula padrão não é para a maioria, é para os poucos que se adaptam. Você se lembra da imagem da professora e de um estudante de forma circular e todos os outros estudantes com diferentes formas geométricas, todos precisando se encaixar em círculos? É isso o que acontece. A “média” não é a maioria. Quem tem dificuldades em acompanhar conteúdos escolares não é a média, quem tem facilidade também não. Estudantes agitados, desatentos, com fome, que sofrem preconceitos, que são questionadores, que são pobres também não são a média. Observe abaixo um gráfico de Distribuição Normal, toda a parte pintada de preto não é a média, não é o padrão. Se pensarmos em estudantes em uma sala de aula temos aqueles do início do gráfico, que por algum motivo não estão acompanhando os conteúdos trabalhados e os do final, que já estão além deles. 72 Figura 9: Curva de Gauss Disponível em: https://bit.ly/3t0iceH. Acesso em: 08 de fev. de 2021. Importante perceber que não é porque alguns estudantes têm facilidades com conteúdos e demonstram altas habilidades em determinadas áreas, que eles não precisam de uma educação inclusiva. Se falta estímulo e interesse, por que esse estudante continuará estudando? Por outro lado, estudantes podem ter facilidade até determinado ponto do conteúdo, porém, por não terem experimentado situações que os desafiassem antes, não terão as ferramentas para lidar com isso e podem acabar vivenciando dificuldades futuras. Por tudo isso, a postura docente é tão importante. Educadores devem acolher a todos, em suas singularidades e promover espaços de desenvolvimento e construção de conhecimentos que sejam acessíveis, interessantes e significativos a todos. 5.3 ESTRUTURAS Quando se fala em estruturas talvez talvez lembremos primeiro da estrutura física. Sim, elas são importantes, principalmente quando pensamos nas questões de acessibilidade para pessoas que usam cadeiras de rodas. Mas não é disso que se trata este subtítulo. De qualquer forma, vamos pensar na estrutura física de um prédio para começar a adentrar este assunto. Qual a sensação se você entrar em um apartamento sem janelas? Provavelmente, algo similar à opressão e/ou claustrofobia. E o que acontece com um prédio que os donos da cobertura decidem tudo sobre o prédio sozinhos, inclusive sobre como os outros moradores devem se comportar? Ou existirá uma submissão https://bit.ly/3t0iceH 73 por medo de perder a moradia, dependendo da forma como esse poder for construído, ou então uma rebelião. Agora traçando um paralelo, temos que uma estrutura escolar na qual estudantes e educadores sejam oprimidos, sem espaço para pensar, para inovar, para “arejar” ideias e práticas, é um ambiente hostil e desagradável, similar ao apartamento sem janelas. Precisamos poder olhar para fora, respirar, deixar a luminosidade entrar, colocar plantas próximas à janela para que cresçam, apreciar um nascer ou pôr do sol e filosofar sobre a vida. Da mesma forma, uma escola e todo o seu sistema educacional precisa poder olhar para fora, oxigenar ideias e práticas, proporcionar o crescimento de estudantes e apreciar, refletir, questionar e transformar. No exemplo dos moradores da cobertura, fica evidenciada a estrutura hierárquica onde instâncias superiores detêm o poder. Seja no caso de Secretarias de Educação ou Equipe Gestora de escolas, é bastante comum que existam muitas regras e exigências impostas, cabendo aos demais a obediência. Um dos problemas disso é que gera uma situação onde a opressão é aplicada ao seguinte mais fraco: Figura 10: Ciclo da opressão Disponível em: https://bit.ly/3bqduAX. Acesso em: 08 de fev. de 2021. A Educação Libertadora seria aquela, na metáfora do apartamento arejado, repleta de janelas, varandas e espaços para se criar enquanto sujeito e, também, criar o mundo. É uma educação que só existe com o questionamento, com https://bit.ly/3bqduAX 74 constantes transformações. Uma educação em que estudantes são protagonistas e participam ativamente da construção de conhecimentos, de forma significativa. Na charge acima é como se o maior fosse o diretor da escola ou o Secretário de Educação, o do meio fosse o professor de sala de aula ou a escola como um todo e, por fim, o estudante é o último. Quando o processo é unidirecional e verticalizado (↓) existe um grande exercício de poder, pouca comunicação, pouco espaço de trocas e transformações. O menor simplesmente aceita as imposições de cima, seja porque tem medo, seja porque tem possibilidades para pensar e agir diferente. Um exemplo para ilustrar essa falta de possibilidades: Caso uma pessoa tenha passado a vida inteira jogando e assistindo apenas futebol, se alguém entregar um taco de beisebol para ela, o que acontecerá? Ela nunca viu um taco de beisebol na vida, nem assistiu a um jogo de beisebol, não sabe nem como é a bola desse esporte. Ou seja, faltam recursos, conhecimentos e possibilidades para que ele jogue beisebol, por mais que tenha o taco para isso. A famosa frase de Paulo Freire na imagem da página anterior ressoa ainda mais quando pensamos em todas as minorias inseridas nos sistemas educacionais. Note o uso da palavra “inserida” ao invés de incluída, isso significa que elas estão presentes naqueles espaços mas não, necessariamente, que estejam de fato constituindo-os, em um processo coletivo de transformações, aprendizagens, reflexões e desenvolvimentos. As minorias (que muitas vezes são a maioria) são as que mais sofrem estruturalmente. Você já ouviu falar em racismo estrutural e em machismo estrutural? É comum pessoas afirmarem que não são racistas ou machistas, pois não praticam atos que consideram ser de cunho discriminatório. Porém, é igualmente comum que, por exemplo, essas pessoas enquanto educadoras deem menos atenção às demandas 75 escolares de um estudante negro ou considerarem que meninas têm mais dificuldade em aprender matemática. Ambas as posturas e práticas consequentes são estruturais e prejudicam o desenvolvimento e a construção de conhecimentos de estudantes. O pensamento afeta o comportamento docente com estes e vários outros estudantes. Estruturalmente, estudantes que destoam daquela normalidade padrão, que já discutimos algumas vezes, têm menos condições de aprender e de se desenvolver. Eles recebem menos atenção, suas dúvidas são menos acolhidas e suas dificuldades são consideradas como algo generalizado de seu grupo: Exemplo 7: - Isso é difícil demais para ela. - Nuncaconsegui ensinar isso para um autista. - Não adianta, surdos não aprendem isso. - Aluno cego não precisa fazer aula de artes plásticas. - Já que ele é cadeirante, na aula de Educação Física ele pode ficar “ajudando” o professor. - Ele já aprendeu muita coisa, não precisa “forçar a barra”, ele tem Síndrome de Down. - A escola já cumpriu seu papel, ela sabe até ler e escrever! Agora é socializar. - Ah, esse aí não aprende nada mesmo. Você consegue adivinhar a que a primeira fala está se remetendo e a quem a última fala está se referindo? Sim, a primeira é algum conteúdo da área de exatas, possivelmente, matemática, mas também física e algumas áreas de química. E a última é uma criança, provavelmente, pobre e negra. Isso é a estrutura impedindo sujeitos de aprenderem. Precisamos ajudar a construir uma nova estrutura escolar, mais acolhedora, emancipadora, transformadora e que enxerga cada estudante em todo seu potencial. Escolas nas quais as posturas individuais e coletivas estejam direcionadas em prol de um mesmo grande objetivo: uma educação verdadeira inclusiva para todas e todos. 76 1. São dispositivos desenvolvidos para atender a diferentes demandas de pessoas que apresentam desenvolvimentos atípicos. Este conceito se refere a: a) Tecnologia assistente b) Tecnologia assistiva c) Tecnologia atípica d) Tecnologia típica e) Tecnologia humana 2. Professores altamente dedicados e escolas comprometidas conseguiram avanços incríveis mesmo em meio a situações precárias. Tais avanços podem ser: a) tanto em relação às práticas pedagógicas excludentes ou aos processos de construção de conhecimentos de forma geral. b) estritamente em relação às práticas pedagógicas inclusivas. c) em relação aos processos de construção de conhecimentos de forma geral. d) tanto em relação aos processos de construção de conhecimentos, quanto em relação às práticas de conhecimentos de forma geral. e) tanto em relação às práticas pedagógicas inclusivas, quanto aos processos de construção de conhecimentos de forma geral. 3. As pre-concepções que docentes têm de seus __________ alteram significativamente a forma como lidam com eles e, consequentemente, com as ___________ e desenvolvimentos destes estudantes. a) estudantes / aprendizagens b) estudantes / avaliações c) materiais / aprendizagens d) conhecimentos / aprendizagens e) conhecimentos / avaliações 77 4. Em relação aos Stims de estudantes autistas: a) Só podemos permiti-los dentro de sala de aula, pois o estudante será vítima de bullying se fizer isso no pátio. b) Não podemos permitir ou encorajar esse tipo de comportamento de forma alguma. c) Podemos permitir, mas não encorajar esse tipo de comportamento. d) São comportamentos importantes de autorregulação de estudantes autistas. e) São comportamentos disruptivos de autorregulação de estudantes autistas. 5. Complete a frase: A aula padrão ___________, é para os _____________ a) é para a maioria / poucos que se adaptam. b) não é para a maioria / que se esforçam. c) não é para a maioria / poucos que se adaptam. d) é para a maioria / que se esforçam. e) não é para a maioria / estudantes inteligentes. 6. A estrutura escolar deve: a) ser menos acolhedora, emancipadora, repressora e que enxerga cada estudante em todo seu potencial. b) ser mais repressora, verticalizante, transformadora e que enxerga seus estudantes isonomicamente. c) ser mais acolhedora, emancipadora, transformadora e que enxerga cada estudante em todo seu potencial. d) ser mais acolhedora, autoritária, repressora e que enxerga cada estudante em todo seu potencial. e) ser mais verticalizante, emancipadora, transformadora e que enxerga cada estudante em todo seu potencial. 7. Sobre a necessidade de considerar a questão de estudantes negros ao se falar de Educação Inclusiva: 78 a) É racista. b) É necessária e faz sentido, pois existe um racismo estrutural também na educação. c) Não faz sentido. d) É necessária, apesar de não fazer sentido nesse contexto. e) Não é necessária, mas faz sentido, pois existe um racismo estrutural também na educação. 8. As pre-concepções que docentes têm de seus estudantes alteram significativamente a forma como lidam com eles e, consequentemente, com as aprendizagens e desenvolvimentos destes estudantes. Por isso: a) expectativas altas geram, provavelmente, avanços reduzidos. b) professores não devem ter expectativas com seus estudantes. c) professores devem ter expectativas altas somente com estudantes que têm dificuldades. d) quando as expectativas são baixas, provavelmente, avanços sejam reduzidos. e) professores devem ter expectativas baixas com todos os seus estudantes. 79 AVALIAÇÃO 6.1 PARA QUE SERVE A AVALIAÇÃO? Por que você enquanto futuro(a) professor(a) irá avaliar seus estudantes? Porque as escolas exigem. Para decidir pela aprovação ou reprovação de estudantes. Para poder dar uma nota ao final do período. Para classificar estudantes. Para testar a aprendizagem de estudantes. Caso algumas das opções acima tenham feito sentido para você, esta última unidade te convidará a quebrar alguns paradigmas. As avaliações não devem servir para atribuir notas e para comparar estudantes uns com outros ou com uma meta estipulada. Também devemos desvincular a ideia de testagem, afinal testamos um automóvel antes de comprar ou testamos a existência de uma carga viral em um organismo, não é? Por fim, atribuir notas simplesmente porque “é assim que funciona” ou porque existe uma demanda institucional é um motivo tão ruim quanto motivar estudantes a aprender para “ganhar” uma nota boa. Percebe o verbo “ganhar” parece um prêmio, um presente? Cada vez mais estudantes se motivam a tirar boas notas, mas não a aprender. A diferença é gigantesca e você sabe que já viveu alguma situação em que recebeu uma boa nota, mas que não tinha compreendido, de fato, o conteúdo. Muitos estudantes no final dos anos letivos ganham presentes por terem sido aprovados, ganham carros por terem passado no vestibular. Estudantes são celebrados pelo feito da aprovação, como se a única coisa que importasse fosse chegar na linha de chegada. Não importa se colaram, se memorizaram e esqueceram, se foram aprovados com as notas mínimas para isso. Aqui outro ponto importante: o que significam as notas mínimas. Se a média de uma escola é 6, a pessoa que recebe uma nota 6 é aprovada, mas, não conseguiu responder corretamente a 40% das questões. Se acreditássemos que UNIDADE 06 80 provas escritas individuais e sem consulta realmente avaliassem o quanto estudantes sabem sobre determinado assunto, estaria tudo bem chegar ao próximo ano escolar sem dominar 40% do conteúdo. disruptivos Quando estudantes perguntam “Vai cair na prova?” é porque lhes foi ensinado a valorizar e priorizar provas e notas. E como se o único motivo que os estimulasse a prestar atenção nas aulas fosse ser bem-sucedido nas avaliações. Um recém motorista que consegue ser aprovado na prova de habilitação fazendo uma baliza, parando o carro em uma subida e retomando sua condução, dando setas quando for virar e chegando talvez até a terceira marcha está pronto para enfrentar um momento de tráfego intenso ou de estradas com vários caminhões? Isso significa que não, necessariamente, ser aprovado em um processo avaliativo garante aprendizagens completas. Pensando na estrutura e no contexto das provas escritas, temos que: [...] a prova está centrada no conteúdo e não nos objetivos, [...] aplicam estas provas controlando o ambiente: nãoprocedem a explicações, não realizam leituras, não permitem qualquer movimentação. Posteriormente, corrigem as provas atribuindo notas e devolvem as provas e “orientam” os alunos com rendimento insuficiente para “estudarem mais”. Na verdade, ao assim procederem, os professores restringem sua ação à realização de uma avaliação unicamente classificatória [...] (MORAES, 2008, p. 51). O que Moraes (2008) coloca é que a prova escrita individual realmente se tornou um momento de testagem e apreensão. O estudante não importa, a aprendizagem não importa. O controle do ambiente ao qual a autora se refere provoca medo e angústia. Não se tem ali qualquer intenção de colaborar para os processos de construção de conhecimento, em mediar a compreensão que estudantes têm sobre determinado assunto, de responder a dúvidas. Ou seja, de fato não há aprendizagens, muito menos completas. * É importante que estudantes aprendam porque querem aprender, porque encontram sentido nos processos de construção de conhecimento, porque buscam 81 mais. As avaliações devem ser uma consequência e não um objetivo. Estudar apenas na véspera da prova e não ao longo do mês de aulas (fato que acontece com frequência) influencia todo o processo de aprendizagem e desenvolvimento. Novamente, relembre seus tempos de escola e o quanto você ignorou determinados conteúdos porque “não iriam cair” ou porque “nem vale a pena estudar porque não é o principal”. E para que isso tudo seja alcançado, a escola como um todo tem que prover contextos onde isso seja estimulado e construído, o que é mais difícil em situações nas quais o foco está nas provas escritas individuais. Nos últimos anos têm-se entendido que é necessário se afastar da ideia de que a avaliação é um ato isolado, onde o estudante é o responsável por suas aprendizagens. Avaliar passa a ser um ato social, que tem por foco a construção coletiva de conhecimentos e de aprendizagens de cada estudante (BORGES; TAUCHEN; BARCELLOS, 2019). Afinal, para que avaliamos? Você se recorda dos Planos de Desenvolvimento Individuais? Pois então, avaliamos para intervir melhor. Para identificar o que estudantes ainda não dominam e poder, assim, trabalhar tal conteúdo com outra abordagem e com outro tempo. As avaliações em suas mais diferentes formas devem ser oportunidades de construção de conhecimentos. Por que não aprender durante uma avaliação? 6.2 AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO Portanto, entendendo que avaliamos para intervir melhor, precisamos estruturar esse processo duplo e contínuo. Quando avaliar? Quando intervir? Como intervir? Como avaliar? As primeiras três perguntas serão respondidas neste tópico e a última com mais detalhamento no tópico seguinte. Devemos avaliar a todo o tempo e não apenas no final de períodos letivos. 82 Mas, para entender melhor essa questão precisamos abordar as três principais práticas de avaliação que existem: Avaliação Diagnóstica, Avaliação Formativa e Avaliação Somativa. Para o trabalho de intervenção-avaliação, devemos utilizar as duas primeiras práticas avaliativas. Apesar de parecer que a Avaliação Diagnóstica acontece apenas no início do trabalho pedagógico, ela está sempre presente. Os conhecimentos de estudantes estão sempre crescendo e precisamos constantemente identificar em que conteúdo ou parte dele devemos atuar. Na avaliação formativa o objetivo é a aprendizagem de estudantes e isso se consegue inclusive com a participação ativa deles. É a intenção de aprender porque se entende que é importante e necessário e não porque haverá uma prova a respeito. Da mesma forma que a anterior, a Avaliação Formativa está sempre presente. Não existe um dia do calendário escolar para sua aplicação, ela é um processo contínuo. Se avaliação e intervenção caminham juntas e se entendemos que as avaliações diagnósticas e formativas acontecem de forma contínua e processual, o mesmo acontecerá com a intervenção. Você percebeu, inclusive, que a avaliação diagnóstica sempre antecede um planejamento de intervenção e que a avaliação formativa é, em si, interventiva? A única prática avaliativa que tem um fim em si mesma é a avaliação somativa, aquela que queremos nos distanciar o tanto quando for possível. 83 Continuará existindo a avaliação somativa? Por um bom tempo sim, afinal é todo um sistema que se pauta em classificações, seja na escola, na Educação Superior ou nos exames de ingresso nas instituições de diferentes níveis de educação. Porém, podemos buscar nos distanciar dela e de todas essas práticas convencionais de educação na qual o professor é único detentor de conhecimentos, que não trabalha junto com estudantes e que define sozinho o que e como será feito todo o procedimento pedagógico em sala de aula. Então, como intervir? Lembrando do que falamos nas primeiras unidades: enxergando seus estudantes enquanto sujeitos que têm a capacidade de aprender e de se desenvolver. Intervir aos poucos, de forma acessível e significativa. Utilizar todos os recursos disponíveis e necessários para cada estudante. Buscar informações com outros profissionais dentro e fora da escola e também com a família. Trabalhar de forma coletiva e entendendo que essa coletividade inclui o estudante. 6.3 DIFERENTES POSSIBILIDADES DE AVALIAÇÃO Neste último tópico do livro serão abordadas as diferentes possibilidades que temos para identificar o quanto estudantes estão dominando conteúdos e quais a dificuldades encontradas nesse percurso de construção de conhecimentos. Serão diferentes propostas para avaliações diagnósticas e formativas, para todos os estudantes. As sugestões se pautam em uma busca por uma mudança das práticas e posturas pedagógicas, rumo à construção de contextos escolares mais significativos, promotores de desenvolvimentos e aprendizagens e, também, que sejam acolhedores de todas as diversidades. https://bit.ly/3emmMQt 84 6.3.1 Avaliações individuais Avaliação escrita Vamos dar início pensando em como tornar as tais provas algo mais interessante, acessível e promotor de aprendizagens. E se a avaliação individual for com consulta? Isso só é um problema quando as respostas são óbvias e facilmente retiradas dos livros. Questões que demandam reflexões, opiniões próprias e problematizações podem ser boas opções. Um outro ponto importante é a questão dos feedbacks, somente a entrega de um papel com anotações em caneta seria o suficiente? E a correção onde apenas o professor mostra no quadro as respostas corretas, atinge o objetivo? Ter a oportunidade de refazer as questões que não acertou pode ser uma atividade formativa bastante significativa. Algumas adaptações nas avaliações escritas podem colaborar para que estudantes a executem melhor. A primeira delas se refere aos enunciados. Você se recorda dos exemplos da Unidade 4? Exemplo 8: Era um lindo dia de verão, fazia sol e borboletas enchiam o céu. Quatorze crianças brincavam no parquinho do bairro. Estava muito sol e ao longe os pequenos avistaram a mais desejada das pessoas: o vendedor de picolés! Elas decidiram que iriam comprar todos os 70 picolés. Quantos picolés cada criança irá tomar? Resolva o seguinte cálculo: 70 ÷ 14 = Pois então, ao construir qualquer instrumento de avaliação e aferição da aprendizagem lembre-se de quais são seus objetivos. Enunciados muito complexos podem impedir que estudantes consigam resolver questões. Outras adaptações dizem respeito ao tamanho das letras, impressão em somente um lado do papel, organização do espaço e inserção de “lembretes”. Um exemplo: 85 Exemplo 9: 1. Resolva o seguinte cálculo: 56 ÷ 2 = Lembre-se de procurarnúmeros menores ou iguais na tabuada do número que está dividindo! 56 | 2 j -4↓ 28 16 -16 00 No exemplo acima existe uma organização prévia do espaço, letras um pouco maiores e um lembrete de como se realiza um cálculo de divisão. Não existe problema em tornar o caminho do estudante menos complexo quando se percebe que tal complexidade o afeta negativamente. Da mesma forma, esse tipo de ajuda pode ser bastante benéfico quando estudantes ainda estão no processo de aprender determinado conteúdo. Perguntas que exigem respostas escritas mais completas também podem ter adaptações: Exemplo 10: As capitanias hereditárias foram uma forma justa de dividir o Brasil? Disponível em: https://bit.ly/3ueK4MG . Acesso em: 08 de fev. de 2021. https://bit.ly/3ueK4MG 86 Quando a pergunta é desmembrada fica mais fácil responder de forma completa. E o enunciado que explicita a importância de respostas mais elaboradas também colabora. A imagem das capitanias hereditárias ajuda o estudante a se recordar do que se trata e, como você pode perceber, a forma como as perguntas foram elaboradas não abre espaço para respostas prontas. Avaliações orais Tire de sua cabeça aquela ideia de uma situação vexatória em que na frente de toda a turma o estudante precisa responder uma série de perguntas oralmente. No lugar disso, imagine uma situação em que um professor pede de maneira próxima e sem mobilizar toda a turma que o estudante explique sua compreensão sobre determinado tema. Essa prática permite que o professor acompanhe o raciocínio do estudante, explicando melhor o que for necessário. Também pode ser útil para estudante que têm mais dificuldades de organizar seus pensamentos por escrito. Estudantes surdos podem fazer isso em LIBRAS com o apoio de um intérprete, afinal o Português não é sua primeira língua. Trabalhos de pesquisa Estudantes podem realizar entrevistas, observações e pesquisas online indo além de uma possibilidade de “copia e cola”. Para isso, é necessário ajudar nesse processo com perguntas simples que culminam em algo mais, promovendo a reflexão e a curiosidade. Um exemplo de trabalho assim pode ser observar os efeitos da água e do sol para o crescimento de plantas. O estudante observaria, por exemplo, três feijões germinando, deixando um sem água, outro sem luz do sol e o terceiro em condições ideais. Ao longo de uma semana produziria anotações no caderno (ou com registros em gravação de voz) e tiraria fotos. Ao final desse período poderia pesquisar para entender mais sobre a fotossíntese, entrevistar funcionários de uma floricultura ou um parente que goste de jardinagem. Diário de aprendizagem Nos diários de aprendizagem estudantes relatam suas percepções sobre o 87 que estudam, podem escrever dúvidas, soluções, curiosidades despertadas e contar sobre o que aprenderam de forma resumida. Pensando que nem todos os estudantes têm a possibilidade de fazer isso por escrito, é possível pensar em outros mecanismos como gravação de vídeos curtos, por exemplo. Áqueles que escrevem, pode ser sugerido algo em forma de “blog” ou de jornalzinho. Portfólios Os portfólios de aprendizagens são um compêndio das produções em determinado período escolar. Reúnem trabalhos de pesquisa, diários de aprendizagem, fotos de atividades, relatos e reflexões. É um bom recurso para se fazer uma avaliação formativa com estudantes, na qual eles percebem o caminho percorrido, as aprendizagens construídas e definem próximos passos. Autoavaliações Muitas pessoas pensam que a autoavaliação é um método de “enrolação”, só para ajudar estudantes a serem aprovados. Isso porque na possibilidade de se atribuir uma boa nota, não haveria motivo para alguém não o fazer. É, de fato, um raciocínio plausível, mas, depende de como isso é construído com a turma e de que forma será produzido. Uma possibilidade é que ao invés de ser apenas uma atribuição de notas, estudantes produzam uma reflexão sobre suas trajetórias, aprendizagens e ações ao longo do período letivo naquela disciplina. Que sejam elencadas suas dificuldades e suas conquistas com os conteúdos trabalhados. Além disso, se é construída uma cultura onde a nota não é supervalorizada e classificatória, diminuem as chances de atribuições de notas altas sem pertinência. Por fim, qual o problema de um estudante se atribuir nota 10? 88 6.3.2 Avaliações coletivas Muitas atividades avaliativas citadas, anteriormente, também podem ser realizadas de forma coletiva. Essa possibilidade é interessante para que exista uma troca, onde quem entende mais de determinado assunto pode colaborar com as aprendizagens do outro. Além disso, sabemos o quanto aprendemos quando ensinamos. Avaliações escritas coletivas O funcionamento é o mesmo das avaliações escritas individuais, com as mesmas adaptações, caso elas sejam necessárias. Podem ser com ou sem consulta, dependendo de como forem formuladas as perguntas. Trabalhos em grupo Seguir o mesmo que os trabalhos de pesquisa individuais, com a importante diferença de que é preciso, de fato, ensinar como realizar trabalhos em grupo. Definir tarefas para cada integrante e proporcionar espaços em aula para que o trabalho seja iniciado e finalizado de forma coletiva. Podem ser estruturadas pesquisas mais complexas, com formulação de hipóteses e traçados de metodologias para alcançar uma resposta. Por mais que isso pareça complexo demais, não é. Exemplo 11: O que queremos saber: Como acontece, de verdade, a fotossíntese? O que achamos que pode ser: As plantas precisam de água e de sol para crescer. Como iremos descobrir: Vamos observar três plantas crescendo: uma com água, mas sem sol. Outra com sol, mas sem água. Outra com sol e com água. Vamos observar todos os dias por uma semana, anotando e tirando fotos. Depois vamos entrevistar algum adulto que trabalhe com plantas. 89 Como será nosso trabalho: Vamos entregar as observações com fotos e as entrevistas por escrito e vamos apresentar para a turma levando as três plantinhas e contando o que aprendemos. Avaliações entre pares Similar à autoavaliação, também existem críticas em relação à avaliação entre pares. As pessoas tendem a pensar que colegas, necessariamente, se favoreceriam. Novamente, traremos a questão da importância das notas. Uma avaliação entre pares pode trazer pontos específicos para que estudantes ponderem a respeito de seus colegas. Pode vir ao final de um trabalho de grupo, por exemplo: Exemplo 12: Fulano participou de todo o processo? No que ele ajudou? O que você aprendeu com ele? O que você ensinou para ele? Esse tipo de prática pode ajudar estudantes a se perceberem melhor, fornece subsídios para que professores estimulem novas habilidades em estudantes e fortalece o senso de coletividade. 90 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Sobre avaliações, assinale a alternativa correta: a) As avaliações devem servir para atribuir notas e para comparar estudantes uns com ou outros ou com uma meta estipulada. b) As avaliações não devem servir para atribuir notas, mas sim para comparar estudantes uns com ou outros ou com uma meta estipulada. c) As avaliações não devem servir para atribuir notas e nem para comparar estudantes uns com ou outros ou com uma meta estipulada. d) As avaliações devem servir para atribuir notas e, também, para comparar estudantes uns com ou outros ou com uma meta estipulada. e) As avaliações devem servir para comparar estudantes uns com ou outros e com várias metas estipuladas. 2. A prova está centrada no conteúdo e não nos objetivos,professores não explicam, não realizam leituras, não permitem qualquer movimentação de estudantes. Posteriormente, corrigem as provas atribuindo notas e devolvem as provas e “orientam” os alunos com rendimento insuficiente para “estudarem mais”. Ao procederem assim, os professores: a) avaliam perfeitamente o conhecimento adquirido. b) avaliam de forma a dar importância ao estudante e a aprendizagem. c) restringem sua ação à realização de uma aprendizagem completa. d) restringem sua ação à realização de uma avaliação unicamente classificatória. e) restringem sua ação à realização de uma avaliação unicamente voltada ao conhecimento adquirido. 3. A avaliação: a) É um ato isolado. b) É oportunidade de aprendizagem. c) É inútil e não deveria existir em nenhum formato. d) É necessária para aprovar e reprovar estudantes. 91 e) Um ato antissocial. 4. Que perguntas devemos responder para estruturar o processo de Avaliação e Intervenção: a) Quanto avaliar? b) Quando reprovar? c) Quando intervir? E quando avaliar? d) Quando avaliar? E como avaliar? e) Quando avaliar? Quando intervir? Como intervir? Como avaliar? 5. Existem três principais práticas de avaliação. Quais são? a) Avaliação Diagnóstica, Avaliação Formativa e Avaliação Somativa. b) Avaliação Inicial, Avaliação Secundária e Avaliação Terciária. c) Avaliação Diagnóstica, Avaliação Formadora e Avaliação Definitiva. d) Avaliação do Estudante, Avaliação do Professor e Avaliação Conjunta. e) Avaliação Diagnóstica, Avaliação Formativa e Avaliação Definitiva. 6. Sobre a Avaliação Diagnóstica, podemos afirmar: a) É uma avaliação processual, na qual estudantes ficam cientes de suas aprendizagens, progressos e dificuldades. Professores e estudantes interagem e trabalham juntos buscando alcançar aprendizagens. b) É a mais comumente utilizada. É aquela que atribui notas, menções, classificando estudantes. É criticada porque apenas comunica resultados ao invés de promover uma regulação da aprendizagem. c) É a intenção de aprender porque se entende que é importante e necessário e não porque haverá uma prova a respeito. d) É nela que identificamos os conhecimentos prévios e as dificuldades. A partir da avaliação diagnóstica professores podem (e devem) elaborar o trabalho pedagógico que será realizado. 92 e) É nela que identificamos os conhecimentos conclusivos. A partir da avaliação diagnóstica professores podem (e devem) elaborar o trabalho pedagógico que será realizado. 7. Existem diferentes possibilidades que temos para identificar o quanto estudantes estão dominando conteúdos e quais as dificuldades encontradas nesse percurso de construção de conhecimentos. Dentre elas podemos citar: a) Avaliação de práticas unidirecionais e com provas. b) Avaliação unidirecional, Avaliações com provas, Trabalhos de pesquisa, Diário de aprendizagem, Portfólios. c) Avaliações escritas, Avaliações orais, Trabalhos de pesquisa, Diário de aprendizagem, Portfólios, Autoavaliações. d) Avaliações com prova unidirecionais, Diário de bordo, Portfólios, Autoavaliações. e) Avaliações orais, Trabalhos de pesquisa, Diário de bordo, Avaliações de professores. 8. Sobre os Diários de aprendizagem, podemos afirmar: a) Estudantes podem realizar entrevistas, observações e pesquisas online indo além de uma possibilidade de “copia e cola”. b) Estudantes relatam suas percepções sobre o que estudam, podem escrever dúvidas, soluções, curiosidades despertadas e contar sobre o que aprenderam de forma resumida. c) É um compêndio das produções em determinado período escolar. Reúnem trabalhos de pesquisa, diários de aprendizagem, fotos de atividades, relatos e reflexões. d) Trazem pontos específicos para que estudantes ponderem a respeito de seus colegas. e) Trazem questões que demandam reflexões, opiniões próprias e problematizações 93 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO UNIDADE 01 UNIDADE 02 QUESTÃO 1 D QUESTÃO 1 C QUESTÃO 2 E QUESTÃO 2 C QUESTÃO 3 B QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 B QUESTÃO 5 B QUESTÃO 5 D QUESTÃO 6 A QUESTÃO 6 E QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 A QUESTÃO 8 D QUESTÃO 8 B UNIDADE 03 UNIDADE 04 QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 D QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 A QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 C QUESTÃO 4 C QUESTÃO 4 B QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 A QUESTÃO 6 B QUESTÃO 6 D QUESTÃO 7 E QUESTÃO 7 E QUESTÃO 8 C QUESTÃO 8 B UNIDADE 05 UNIDADE 06 QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 C QUESTÃO 2 E QUESTÃO 2 D QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 B QUESTÃO 4 D QUESTÃO 4 E QUESTÃO 5 C QUESTÃO 5 A QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 D QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 C QUESTÃO 8 D QUESTÃO 8 B 94 REFERÊNCIAS ANASTASIOU, L. Ensinar, aprender e processos de ensinagem. In: ANASTASIOU, L.; ALVES, L. P. Processos de Ensinagem na Universidade: Pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Joinville: Editora Univille, 2012. p. 15-42. BORGES, D.; TAUCHEN, G.; BARCELLOS, V. Avaliação da aprendizagem escolar: contexto histórico e suas pesquisa. Revista Intersaberes, online, v. 14, jan./mar. 2019. Disponível em: https://bit.ly/2LGkG1q. Acesso em: 15 out. 2020. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988. Leis Contitucionais. Brasília, DF: 05 [s. n.], [1988]. Disponível em: https://bit.ly/2XvTpSJ. Acesso em: 20 nov. 2020. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: 20 [s. n.], [1996]. Disponível em: https://bit.ly/2SDr5Lc. Acesso em: 03 maio 2020. BRASIL. Lei Nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. Brasília, DF: [s. n.], [2001]. 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