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AULA 1 GEOGRAFIA HUMANA E ECONÔMICA - CONCEITOS, TEORIAS E MODELOS Prof.ª Olga Lúcia Castreghini de Freitas 2 INTRODUÇÃO – GEOGRAFIA HUMANA E GEOGRAFIA ECONÔMICA – ORIGEM E TRAJETÓRIA A aula de hoje introduz alguns elementos importantes para o percurso que realizaremos visando compreender a importância da geografia humana e da geografia econômica no âmbito da geografia e, em especial, os principais conceitos, teorias e modelos explicativos utilizados nesses campos do conhecimento. Para tanto, faremos uma recuperação sucinta do que foi a trajetória da geografia para entender o movimento mais geral dessa área do conhecimento e que induziu, igualmente, o movimento interno das várias especialidades da geografia. Embora a geografia humana seja ampla e abarque uma variedade imensa de especializações e problemáticas, nessa disciplina haverá um enfoque especial na geografia econômica. O conceito de paradigma será basilar para compreendermos o citado movimento da ciência, ao longo do tempo. Após o quê, verticalizaremos esse conceito de modo a aplicá-lo à geografia para percebermos as diferentes trajetórias ocorridas ao longo do tempo. TEMA 1 – GEOGRAFIA – DE SABER POPULAR A CIÊNCIA Na atualidade, não temos dúvida em afirmar que a geografia é a ciência que tem como objeto de análise o espaço geográfico. Contudo, isso não foi sempre assim. Com o passar do tempo, novos desafios foram sendo colocados para a análise geográfica, como razão direta da maior complexidade do mundo, das inovações técnicas, das demandas sociais, das novas perspectivas metodológicas e das novas ferramentas de trabalho e compreensão do mundo. Nesse percurso, novos conceitos foram formulados e, por vezes, os mesmos termos passaram a ter novos significados. É fundamental entender que, embora certos termos permaneçam os mesmos ao longo da história da geografia, seus significados se alteraram, além de novos conceitos terem sido incorporados com maior força interpretativa no âmbito dessa ciência. Os conceitos não podem ser compreendidos descontextualizados de um tempo e um espaço específicos, pois são construções sociais e, como tais, seu 3 conteúdo é móvel em contextos espaço-temporais distintos. Isso será aprofundado na próxima aula. Vamos iniciar nosso percurso nesta disciplina por meio de uma introdução sobre a própria origem da geografia, sem o que não é possível entendermos o desenvolvimento dessas duas especialidades que intitulam a disciplina, respectivamente geografia humana e geografia econômica e seu escopo teórico- conceitual. Antes de tratarmos dos conceitos e teorias, é preciso ressaltarmos que esses também estão diretamente relacionados aos vários períodos ou momentos em que se pode reconhecer a trajetória da geografia. Uma observação importante é que a geografia é uma ciência relativamente recente quando se toma a história da humanidade como referência. Foi apenas no final do século XIX que ocorreu a sistematização do conhecimento geográfico sob a denominação de geografia. Etimologicamente, a palavra de origem grega geographia pode ser decomposta em geo, que significa Terra, e graphien, que significa descrever ou descrição, resultando, assim, em descrição da Terra. Portanto, todos os fenômenos que se manifestavam na superfície da Terra poderiam se constituir em tema de interesse geográfico. Apenas em meados do século XX o espaço passa a ser reconhecido como principal preocupação dessa área do conhecimento, como será tratado na próxima aula. Contudo, do ponto de vista do saber geográfico procedente do senso comum, ou seja, daquilo que está presente intuitivamente na interpretação e interesse das pessoas, os conhecimentos geográficos remontam à Antiguidade e sua prática estava diretamente relacionada aos viajantes, exploradores, entre outros. Moraes (2002, p. 33-34) afirma que [...] até o final do século XVIII, não é possível falar de conhecimento geográfico, como algo padronizado, com um mínimo que seja de unidade temática, e de continuidade nas formulações. Designam-se como Geografia: relatos de viagem, escritos em tom literário; compêndios de curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos de órgãos de administração; obras sintéticas, agrupando os conhecimentos existentes a respeito dos fenômenos naturais; catálogos sistemáticos, sobre os continentes e os países do Globo etc. Na verdade, trata-se de todo um período de dispersão do conhecimento geográfico, onde [sic] é impossível falar dessa disciplina como um todo sistematizado e particularizado. 4 Ainda para Moraes (2002, p. 34), A sistematização do conhecimento geográfico só vai ocorrer no início do século XIX. E nem poderia ser de outro modo, pois pensar que a Geografia como um conhecimento autônomo, particular, demandava um certo número de condições históricas, que somente nesta época estarão suficientemente maturadas. Estes pressupostos históricos da sistematização geográfica objetivam-se no processo de avanço e domínio das relações capitalistas de produção. Portanto, é com a emergência do modo de produção capitalista que uma série de novos campos do conhecimento surgem, denominados de ciências modernas, e, em especial, as ciências humanas, no âmbito das quais a geografia passa a se inscrever. Isso está diretamente relacionado às novas demandas de leitura da realidade, ou seja: o mundo, em rápida transformação, estava a exigir novas possibilidade interpretativas para além daquelas oferecidas pelas ciências naturais e exatas. Alguns pressupostos foram fundamentais para que a geografia se transformasse num campo de conhecimento autônomo. Foram elas, de acordo com Moraes (2002): • conhecimento efetivo da extensão real do planeta; • existência de um repositório de informações, sobre variados lugares da Terra; • aprimoramento das técnicas cartográficas; • correspondência, no plano filosófico e científico, das transformações operadas nos níveis econômico e político. Assim, não podemos compreender o surgimento da Geografia como ciência, no séc. XIX, sem que se situe o processo de unificação de territórios originando os Estados-nação. A Alemanha é um exemplo emblemático: para sua unificação (ocorrida por volta de 1871), era imperioso que se construísse uma unidade territorial e de identidade capaz de unir fragmentos que eram, até então, dispersos e distintos, não constituindo uma visão nacional. É importante lembrar que os seus vários territórios eram independentes, em termos de decisões, culturas, línguas próprias (os dialetos de hoje), e a Geografia cumpriu papel relevante nesse processo, na medida em que representou a compreensão de processos espaciais, cruciais para a realidade de então. 5 Não foi por acaso que Humboldt (Alexandre Von Humboldt, conselheiro do rei da Prússia; naturalista e viajante) (Figura 1) e Ritter (Karl Ritter, tutor de uma família de banqueiros; filósofo e historiador) (Figura 2) passaram a ser considerados os “pais” da geografia, pois tiveram papel essencial na proposição da geografia como instrumento prático de viabilização das novas demandas daquele tempo. Figura 1 – Alexandre Von Humboldt (1769-1859) Créditos: Everett Historical/Shutterstock. Figura 2 – Karl Ritter (1779-1859) Crédito: Marzolino/Shutterstock. 6 Saiba mais Como nossa preocupação nesse curso não é com a história da geografia, mas com elementos relacionados à geografia humana de modo geral, não adentraremos as especificidades da gênese da geografia como ciência moderna, o que poderá ser conhecido por meio da leitura de textos de diversos autores que contribuíram para a interpretação crítica desse momento histórico. Dentre eles, recomenda-se a leitura de: MORAES, A. C. R. de. A gênese da geografiamoderna. São Paulo: Hucitec; Edusp, 1989. _____. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 2002. PEREIRA, R. M. F. A. Da geografia que se ensina à gênese da geografia moderna. 120 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1988. Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/75444>. Acesso em: 1 fev. 2019. TEMA 2 – RUPTURAS NO CONHECIMENTO – OS PARADIGMAS Desde o século XIX até o século XXI muita coisa mudou: o mundo se transformou, as pessoas também, assim como mudaram as perspectivas analíticas e metodológicas necessárias para a compreensão da sociedade. Isso não foi diferente com a ciência. Novas perspectivas emergiram e superaram as anteriores, num processo cíclico e desejável para o avanço do conhecimento. Nesse sentido, recorremos à proposição de Kuhn (1975), que nos oferece uma interpretação muito adequada desse processo ao formular o conceito de paradigma. Para o autor, paradigmas são “as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (Kuhn, 1975, p. 13). Para Brunet, Ferras e Théry (1993, p. 365), paradigmas são o conjunto de problemáticas e seus métodos adotados por uma ciência em um momento dado, segundo uma das concepções do momento; grupo de questões julgadas centrais, ou dominantes, em uma ciência. Por essa compreensão, a ciência não se desenvolve de modo linear ou cumulativo, mas por rupturas ou revoluções, como denomina Kuhn (1975). Esses 7 momentos de rupturas promovem uma grande transformação naquilo que se considera o papel central de determinado ramo do conhecimento, seu temário, seus métodos e seus conceitos prioritários. Figura 3 – Paradigma como ruptura Crédito: Olivier Le Moal/Shutterstock. TEMA 3 – OS PARADIGMAS DA GEOGRAFIA Podemos afirmar que a geografia passou por diferentes paradigmas, que podem ser sintetizados com base nas seguintes denominações: geografia tradicional ou clássica; geografia teorética ou geografia quantitativa; geografia crítica ou radical; e virada cultural. 3.1 Geografia tradicional ou clássica A geografia tradicional ou clássica é justamente aquela que apontamos nos parágrafos anteriores, muito influenciada pelo método positivista de análise, que tem como uma de suas principais características o monismo metodológico, ou seja, o pressuposto de que as ciências são regidas por um método único. Nesse caso, oriundo das ciências naturais, tendo em vista serem estas as mais desenvolvidas à época. De forte influência alemã e francesa, em especial pela adoção do método monográfico regional, tinha por características ser descritiva e preocupar-se, sobremaneira, com inventários. Ressaltamos que, nesse momento, essas características convergiam para as demandas de um mundo que estava sendo ainda conhecido e explorado. Assim, a catalogação dos fenômenos existentes na superfície terrestre era útil e necessária. A geografia era feita por naturalistas, exploradores, viajantes. Não havia a formação universitária em geografia, fato que só ocorre, no Brasil, no início do século XX. 8 Nesse momento, as sociedades geográficas têm papel importante no debate e na sistematização do conhecimento produzido. No Brasil, o processo de institucionalização da geografia é marcado por três fatos importantes: 1. a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), no ano de 1934, seguida, em 1935, pela criação da Universidade do Distrito Federal (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ), sob forte influência da geografia francesa; 2. a criação da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), no ano de 1934; 3. a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 1936. Dessa maneira, teve início o processo de formação em geografia pela via do ensino superior, resultando na possibilidade de rompimento com a situação vigente anteriormente a esse período, quando aqueles que faziam geografia eram, na verdade, engenheiros militares, cartógrafos, advogados, historiadores, viajantes, entre outros profissionais. Saiba mais Recomenda-se o filme As montanhas da Lua (1990), que retrata a trajetória de dois “geógrafos” britânicos para encontrar as nascentes do rio Nilo, na África. O filme contribui para o conhecimento do contexto existente no século XIX, das dificuldades práticas das expedições até os debates para legitimar o conhecimento produzido. 3.2 Geografia teorética ou quantitativa Também denominada de nova geografia, na medida em que propunha uma perspectiva distinta da anterior, a geografia teorética ou quantitativa prioriza a elaboração de teorias e modelos explicativos da realidade. Parte dos modelos que trabalharemos em aula futura são originários desse momento ou paradigma. Com ele, o neopositivismo tomado como referencial metodológico implicava a tentativa de matematização dos fenômenos, de modo a legitimar a condição de ciência, da geografia. Assim, uma importante influência da estatística e da matemática é observada, abstraindo-se a sociedade, por vezes reduzida meramente à noção de população. De forte influência anglo-saxônica, essa corrente se manifestou no Brasil no final dos anos de 1960 e, de modo mais expressivo, na década de 1970. 9 Saiba mais Para um contato mais próximo ao tipo de conhecimento produzido no âmbito desse paradigma, recomendamos a consulta aos seguintes textos: MENEZES, A. C. F.; MENEZES, W. C.; OLIVEIRA, E. X. G. Um modelo para estudo da difusão de emissoras de televisão nas cidades brasileiras: uma versão preliminar. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 37, n. 3, jul./set. 1975, p. 56-72. NASCIMENTO, M. das G. de O.; BECKER, O. M. S. O uso da cadeia de Markov como instrumento de mensuração de uma distância funcional percebida entre lugares. In: FAISSOL, S. (Org.). Tendências atuais na geografia urbano- regional: teorização e quantificação. Rio de Janeiro: IBGE, 1978. p. 217-224. 3.3 Geografia crítica ou radical A geografia crítica ou radical se caracteriza pela ruptura com a forma anterior de pensar e fazer geografia, propondo uma crítica radical às concepções, modelos e práticas anteriores. Sua base metodológica é o materialismo histórico e a lógica dialética, utilizando, assim, de formas mais sofisticadas de reflexão e colocando a sociedade e suas demandas e problemas como centro da atenção dos geógrafos. Em especial, as condicionantes oriundas da economia foram ressaltadas. A realidade passa a ser lida por meio de contradições e os pares dialéticos têm papel essencial nesse momento. Assim, o subdesenvolvimento, por exemplo, só pode ser compreendido pela existência de seu oposto, o desenvolvimento, numa relação de dependência indissociável, pois um só existe em face do outro. No Brasil, foi na década de 1980 que essa perspectiva se fortaleceu e passou a orientar a maioria da produção acadêmica na geografia, embora correntes anteriores ainda fossem observadas, mas de modo residual. Metaforicamente, podemos dizer que a lógica dialética proporciona uma forma de raciocínio tal qual uma espiral na qual o ponto de chegada jamais será o de partida, tendo em vista a complexidade crescente que se incorpora ao pensamento, por meio da formulação de uma tese, confrontada com sua antítese e posterior alcance da síntese, que se revela como uma nova tese e assim sucessivamente. Logo, essa metáfora da espiral se contrapõe àquela do círculo que se fecha em si mesmo (Figura 4). 10 Figura 4 – A espiral e o círculo como metáforas Créditos: Yes - Royalty Free/Shutterstock. 3.4 Virada cultural Embora a corrente crítica ainda seja muito importante na atualidade, sobretudo porqueé capaz de oferecer explicações acerca da realidade vigente no Brasil, a mudança do milênio se fez acompanhar, igualmente, de novas proposições e preocupações. Assim, para muitos autores, teríamos vivido, no final do século XX e início do XXI uma virada cultural, muito relacionada às proposições que afirmam estarmos num período de pós-modernidade, portanto, com transformações substanciais na forma de interpretação da realidade e com alteração no temário da própria geografia. A cultura passa a ser o fio condutor das novas narrativas que analisam os grupos sociais e possui relação direta com a determinação dos fenômenos políticos e econômicos. Saiba mais Para o aprofundamento dessa discussão, recomenda-se a leitura do texto: PEDROSA, B. V. O império da representação: a virada cultural e a geografia. Espaço e Cultura, v. 1, n. 39, p. 31-58, 2016. Disponível em: <https://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/31750/22475>. Acesso em: 1 fev. 2019. https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/31750/22475 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/31750/22475 11 TEMA 4 – AS SUBDIVISÕES DA GEOGRAFIA Concomitantemente às transformações da geografia, e de modo a responder às demandas necessárias à sociedade dos vários tempos tratados anteriormente, também ocorreu o aprofundamento temático e emergiram novas especialidades, ao longo do tempo. Certos ramos, como são comumente denominadas essas especialidades, surgiram, outros assumiram um segundo plano nas preocupações da geografia. Assim, podemos pensar em alguns agrupamentos, que podem nos ajudar a entender “onde” se situam a geografia humana e a geografia econômica, nosso objeto de preocupação nessa disciplina. De modo amplo e em relação à escala, podemos apontar duas perspectivas de análise, na geografia: • geral; • regional. No campo temático, também podemos distinguir duas perspectivas: • geografia física; • geografia humana. Observe que preferimos utilizar a palavra distinguir e não dividir, isso porque não se pode entender a geografia “partida”, embora se deva reconhecer a distinção entre seus componentes temáticos e as especificidades que eles requerem. Dessa forma, são reconhecidos – dentre outros – como ramos da geografia física: • climatologia; • geomorfologia; • biogeografia; • hidrologia; • paleogeografia. Por sua vez, a geografia humana se desdobra em diversas especialidades, com destaque para: 12 • geografia urbana; • geografia rural ou agrária (a depender da perspectiva teórico-metodológica adotada e da ênfase pretendida na análise); • geografia da população; • geografia política; • geografia econômica, subdividida em: • geografia agrícola; • geografia industrial; • geografia dos transportes. Recentemente, emergiram outras especializações, em razão das novas problemáticas do mundo moderno. Entre outras, podemos citar: • geografia da internet e do ciberespaço; • geografia feminista; • geografia da inovação; • geografia do comércio. Esforços de totalização do conhecimento geográfico devem ser registrados. O mais relevante nos parece ser aquele que propõe uma geografia socioambiental, que considera que [...] a abordagem geográfica do ambiente transcende à desgastada discussão da dicotomia geografia física versus geografia humana, pois concebe a unidade do conhecimento geográfico como resultante da interação entre os diferentes elementos e fatores que compõem seu objeto de estudo. (Mendonça, 2002, p. 123) Expressa, assim, o reconhecimento da necessidade de superação da dicotomia entre geografia física e geografia humana, buscando uma perspectiva integradora. TEMA 5 – GEOGRAFIA HUMANA E GEOGRAFIA ECONÔMICA Nessa disciplina nos interessam mais de perto a geografia humana e a geografia econômica. Contudo, uma advertência é necessária: a geografia humana se constitui numa dimensão mais ampla e em seu âmbito encontra-se a 13 geografia econômica. Portanto, temos uma questão de ordem a considerar na análise de ambas. A geografia humana se preocupa, de modo geral, com a expressão espacial dos grupos sociais em suas mais diversas dimensões. Tem, portanto, um amplo espectro de preocupações. Seu temário é amplo e abrange questões relacionadas às populações, migrações, religiões, cidades, modos de vida, atividades econômicas, consumo, transporte, agricultura, entre outras, sempre na perspectiva de sua compreensão como elementos essenciais à constituição do espaço geográfico, conceito que será desenvolvido oportunamente. Pela natureza e diversidade de problemáticas, não se faz geografia humana sem que se busquem elementos em uma gama variada de outras disciplinas, com ênfase em: sociologia, economia, urbanismo, antropologia, ciência da comunicação, demografia. Assim, o conhecimento geográfico é também caracterizado pelo diálogo com as demais áreas do conhecimento. Não se trata de afirmar que a geografia é, ela própria, interdisciplinar, mas que o conhecimento por ela produzido depende em muito daquilo que é tratado por outras disciplinas. A geografia econômica, por sua vez, preocupa-se, segundo Small e Witherick (1992, p. 128), “com a distribuição das actividades económicas e com os factores e processos que afectam a sua ocorrência no espaço”. Trata-se de uma definição ampla, mas que permite compreender os principais elementos constitutivos dessa especialidade. Assim, setores como o agrícola, o industrial e o de transportes são considerados como núcleo duro desse ramo. Benko e Scott (2004, p. 152) afirmam que a tarefa atribuída à geografia econômica contemporânea “consiste em descrever a organização espacial da economia, e em particular, esclarecer as maneiras pelas quais a geografia influencia o funcionamento econômico do capitalismo”. Foi somente após os anos de 1950 que ela se afirma como campo de pesquisa do escopo da geografia. Com os fundamentos tratados na aula de hoje, esperamos que as bases da conformação do pensamento geográfico estejam claras, de modo que possamos prosseguir e nos aprofundar sobre seus conteúdos teóricos e analíticos, com o enfoque na geografia humana e da geografia econômica como ramos do conhecimento geográfico e diretamente dependentes do movimento maior dessa disciplina. 14 5.1 O que virá nas próximas aulas... Após essa visão ampla da geografia, de modo a situar as duas especialidades de nosso interesse, respectivamente geografia humana e geografia econômica, nas próximas aulas vamos abordar as bases conceituais desse campo do conhecimento, com ênfase nos conceitos de espaço, região, território, paisagem e lugar. Teorias e modelos também farão parte de nossas preocupações, assim como a discussão das bases de dados e fontes de informação, em especial daquelas disponíveis no Brasil, ressaltando os temas mais recorrentes na pesquisa atual. 15 REFERÊNCIAS BENKO, G.; SCOTT, A. J. La géographie économique: traditions et turbulences. In: BENKO, G.; STROHMAYER, U. (Org.). Horizons géographiques. Paris: Éditions Bréal, 2004. p. 151-192. BRUNET, R.; FERRAS, R.; THÉRY, H. Les mots de la géographie: dictionnaire critique. Montpellier: La Documentation Française, 1993. p. 365. KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1975. MENDONÇA, F. de A. Geografia socioambiental. In: MENDONÇA, F. de A.; KOZEL, S. (Org.). Elementos de epistemologia da geografia contemporânea. Curitiba: Ed. UFPR, 2002. p. 121-144. AS MONTANHAS da Lua. Direção: Bob Rafelson. EUA: TriStar Pictures, 1990. 136 min. MORAES, A. C. R. de. A gênese da geografia moderna. São Paulo: Hucitec: Edusp, 1989. _____. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 2002. PEDROSA, B. V. O império da representação: a virada cultural e a geografia.Espaço e Cultura, v. 1, n. 39, p. 31-58, 2016. PEREIRA, R. M. F. A. Da geografia que se ensina à gênese da geografia moderna. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1988. Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/75444>. Acesso em: 1 fev. 2019. SMALL, J.; WITHERICK, M. Dicionário de geografia. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992. AULA 2 GEOGRAFIA HUMANA E ECONÔMICA: CONCEITOS, TEORIAS E MODELOS Profª Olga Lúcia Castreghini de Freitas 2 CONVERSA INICIAL Essa aula tem por objetivo realizar uma discussão essencial para que se possa compreender a perspectiva da Geografia como ciência. Trataremos de um conceito-chave da Geografia, o conceito de espaço; para tanto, faremos um sobrevoo para conhecer como esse conceito foi incorporado à Geografia ao longo do tempo e como se apresenta hoje. Daremos ênfase à contribuição analítica de Milton Santos, um renomado geógrafo brasileiro, que além de propor uma conceituação para espaço, também oferece ferramentas analíticas para que possa ser operacionalizado, por meio da proposição de um outro conceito, qual seja, o de Meio Técnico-Científico- Informacional (MTCI). Além do conceito de espaço, temos outros muito importantes para a Geografia, que serão abordados futuramente, quando prosseguiremos com esse reconhecimento conceitual, inserindo os demais conceitos que também são essenciais para a leitura geográfica da realidade, respectivamente: território, região, lugar e paisagem. TEMA 1 – CONCEITO: DISCUSSÃO PRELIMINAR Os conceitos surgem para permitir a apreensão dos fenômenos. Por fenômeno podemos entender “algo que se mostra, revela ou manifesta na experiência” (Blackburn, 1997, p. 146). Portanto, uma das primeiras providências para se compreender um fenômeno é situá-lo no âmbito daquilo que já se conhece a seu respeito. Assim, devemos partir de formulações que permitem reconhecer tais fenômenos a partir do que propuseram aqueles que vieram antes de nós. Por conceito podemos compreender um termo, em particular um predicado. Possuir um conceito é ter a capacidade de usar um termo que o exprima ao fazer juízos; essa capacidade está relacionada com coisas como saber reconhecer quando o termo se aplica, assim como poder compreender as consequências de sua aplicação. O termo ‘ideia’ foi inicialmente usado da mesma maneira, mas é hoje evitado devido a suas associações com as imagens mentais subjetivas, que podem ser irrelevantes para a posse de um conceito. (Blackburn, 1997, p. 66) Os conceitos não podem ser compreendidos descontextualizados de um tempo e de um espaço específicos, na medida em que são construções sociais e não formulações cuja precisão independe do quando ou do onde. 3 Sendo construções sociais, seu conteúdo é móvel ao longo do tempo e do espaço; contudo, por vezes, o mesmo termo é utilizado para expressar fenômenos distintos daqueles para os quais foram originalmente pensados – portanto, em outro tempo e em outro espaço. Fourez (1995, p. 108), para fundamentar sua posição a respeito da assertiva de que os conceitos são construídos e não dados naturalmente, utiliza- se do conceito de cidade, que é fruto de uma construção intelectual, não tendo sido construído por acaso, mas sim “em função de interesses precisos, historicamente determinados”, e dependente “de uma certa visão do mundo e de sociedade” (Fourez, 1995, p. 108). Ainda para o autor, “a definição construída cientificamente é uma tradução da noção corrente ligada a esse termo. Porém, ela não lhe é equivalente [...] na medida em que se quer precisa e determinada dentro de um âmbito teórico, jamais recobrirá a noção global que nós possuímos” (Fourez, 1995, p. 109). Para além de contextos espaciais e temporais, a língua também concorre para a apreensão do conceito, sobretudo porque as traduções são aproximações entre distintas realidades, de modo que as palavras, na maioria das vezes, não conseguem capturar com a mesma competência a complexidade de noções que está por trás de um conceito. Também é preciso recordar que a trajetória da Geografia, tratada anteriormente, compreende diferentes maneiras de ver o mundo, perpassadas por distintas compreensões da realidade e do próprio objeto da Geografia enquanto ciência moderna. Por objeto podemos entender aquilo que dá sentido à determinada área do conhecimento; assim, tomada à luz da atualidade, a Geografia tem como objeto de estudo e análise, ou seja, como desafios e contribuição particular para compreender o mundo, uma perspectiva muito bem delimitada e definida, qual seja, o espaço. Também é preciso apontar os demais conceitos correlatos que trataremos na sequência, quais sejam: região, território, paisagem e lugar. Contudo, nem sempre foi assim; os objetos são determinações dos tempos em que se vive. Nos princípios da Geografia, era a superfície terrestre seu objeto; basta lembrar a própria etimologia do termo: Geo, “Terra”; graphen, “descrever”. Superfície e espaço são conceitos distintos e resultam, igualmente, em objetos de natureza diferenciada. 4 Desse modo, o conceito de espaço foi incorporado à Geografia, no interior do processo de constituição desse ramo do conhecimento, como trataremos a seguir. TEMA 2 – ESPAÇO: CONCEITO FUNDAMENTAL DA GEOGRAFIA Em seu texto Espaço, um conceito-chave da Geografia, Roberto Lobato Corrêa (2000), analisa a trajetória desse conceito ao longo da história da Geografia, demonstrando como, à luz de paradigmas diferentes, o conceito foi sendo modificado. Lembra também que, enquanto termo, está presente na linguagem do dia a dia, revelando que, para além de sua natureza conceitual específica para a Geografia, também tem sentidos corriqueiros – aliás, como ocorre com vários dos conceitos importantes para a Geografia (ex: região, lugar, paisagem, dentre outros). Santos (1994, p. 89) afirma que “a palavra espaço é uma dessas que abrigam uma multiplicidade de sentidos. [...] Impõe-se uma clara intenção epistemológica na conceituação do espaço e na busca de seus materiais analíticos”. Por isso, é importante saber que existe um debate qualificado no campo científico, de modo a não reproduzir seu sentido de senso comum quando se trata de um trabalho e/ou interpretação acadêmica. Várias áreas do conhecimento também utilizam o termo espaço, mas com sentidos distintos. Esse será nosso desafio nesta aula: entender a trajetória da inserção do conceito de espaço na Geografia, desde seus distintos paradigmas, até a proposição de um conceito que pode ser também uma chave analítica para a contemporaneidade. 2.1 O espaço na Geografia tradicional Segundo Corrêa (2000), na Geografia tradicional predominavam os conceitos de paisagem, região natural, gênero de vida e diferenciação de área; o espaço não era um conceito-chave nesse momento histórico. Contudo, menção deve ser feita ao uso da expressão “espaço vital” por Ratzel, no âmbito de sua obra Antropogeografia, que tratava de uma teoria operacional aos ideais expansionista do Estado à época. Por espaço vital entendia-se a necessidade de ampliação do território quando a população de um 5 Estado apresentava elevada densidade e tomava, pela força, territórios vizinhos, de modo a ampliar seu espaço vital, ou seja, aquele necessário à vida de determinada sociedade (Barret et al., 2000). Nesse sentido, pode-se afirmar que o espaço não aparecia de modo explícito na Geografia, sendo tomado em sua condição de “receptáculo”, aquilo que contém os fenômenos, ou seja, muito próximo da noção de área. 2.2 O espaço na Geografia teorética ou quantitativa No momento seguinte, da Geografia teorética ou quantitativa, o espaço aparece com relevância, mas numa concepção distinta da que veremos para a atualidade. Osconceitos de paisagem e região passam a ter pouca relevância, enquanto os de lugar e território praticamente não são tratados. Duas vertentes caracterizam a abordagem espacial nesse período, e serão importantes para compreendermos, posteriormente, a emergência de diversos modelos e teorias que tiveram muita influência na Geografia Humana e na Geografia Econômica. 2.2.1 Espaço como planície isotrópica ou homogênea Refere-se a uma superfície plana, com as mesmas propriedades físicas em todas as direções, sendo, assim, abstrata, pois a realidade não se apresenta dessa forma. Isso será melhor compreendido quando analisarmos algumas teorias locacionais alinhadas a essa compreensão de espaço, com destaque para aquelas propostas por Von Thünen (1826); Christaller (1933) e Weber (1909), que serão devidamente conhecidas e trabalhadas nas aulas finais dessa disciplina. Para Corrêa (2000, p. 21), numa planície isotrópica a variável mais importante é a distância, aquela que determina em um espaço previamente homogêneo a diferenciação espacial [...] há uma uniforme densidade demográfica, de renda e de padrão cultural que se caracteriza, entre outros aspectos, pela adoção de uma racionalidade econômica fundada na minimização dos custos e maximização dos lucros ou da satisfação. A circulação nesta planície é possível em todas as direções. 2.2.2 Espaço como representação matricial Outra vertente concebe o espaço como sendo representado por uma matriz. Harvey (1969) seria um dos autores responsáveis por essa perspectiva. Segundo Corrêa (2000, p. 22), 6 o espaço relativo é entendido a partir das relações entre os objetos, relações estas que implicam em custos- dinheiro, tempo, energia- para se vencer a fricção imposta pela distância. É no espaço relativo que se obtêm rendas diferenciais (de localização) e que desempenham papel fundamental na determinação do uso da terra [...] a geografia como uma ciência espacial, que estudaria fenômenos sociais e da natureza sob um ângulo comum, o espacial, que forneceria assim a unidade à geografia. Deste modo rios e lugares centrais poderiam ser analisados com o mesmo método e mesma linguagem. 2.2.3 Geografia humanística e espaço vivido Em retrospectiva acerca do conceito de espaço, não poderíamos deixar de mencionar outra abordagem, aquela que trata do espaço vivido, tributário da corrente denominada de Geografia humanística que, para alguns autores, ocorreu paralelamente à Geografia quantitativa (no Brasil nas décadas de 1970/80). O geógrafo Yi-Fu Tuan, autor da célebre obra Topofilia (cujo sentido seria algo como o elo afetivo entre a pessoa e o lugar), é o que melhor representa essa vertente. Segundo Corrêa (2000, p. 32), consideram-se os sentimentos espaciais e as idéias de um grupo ou povo sobre o espaço a partir da experiência [...] o espaço vivido é uma experiência contínua, egocêntrica e social, um espaço de movimento em um espaço-tempo vivido que se refere ao efetivo, ao mágico, ao imaginário. Saiba mais O livro Geografia: conceitos e temas é uma excelente fonte de informações sobre o tema desta aula. Em especial o capítulo de Roberto Lobato Corrêa, intitulado “Espaço: um conceito-chave da geografia, veja a referência a seguir: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Org.) Geografia: conceitos e temas. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. CORRÊA, R. L. Espaço: um conceito-chave da geografia. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Org.) Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p. 15-47. TEMA 3 – O ESPAÇO NA GEOGRAFIA CRÍTICA Foi a partir dessa concepção de Geografia que o espaço adquiriu sua maior centralidade, apoiado na teoria marxista e revelando as contradições socioespaciais da sociedade capitalista. 7 O espaço passa a ser compreendido como uma expressão da sociedade, como “o lócus da reprodução das relações sociais de produção” (Corrêa, 2000, p. 25). Nessa concepção, uma sociedade só se torna concreta através de seu espaço, do espaço que ela produz e, por outro lado, o espaço só é inteligível através da sociedade. Não há, assim, por que falar em sociedade e espaço como se fossem coisas separadas que nos reuniríamos a posteriori, mas sim de formação sócio-espacial. (Corrêa, 2000, p. 27) Assim, o espaço deixa de ser compreendido como “palco” das ações da sociedade, para ser visto como um ato intrínseco ao ato de viver: quando se vive, se se trabalha, se produz espaço. Aprofundaremos o conceito de espaço à luz da proposição de Milton Santos no próximo tema. Essa concepção representou uma grande transformação na forma de pensar e fazer Geografia. Metodologicamente, a lógica dialética favoreceu a compreensão da realidade, por meio das contradições intrínsecas ao modo de produção capitalista. 3.1 O espaço e a virada cultural No âmbito daquilo que se convencionou chamar de “virada cultural” e que, no Brasil na década de 1990, passou a ter influência no pensamento geográfico, o espaço tem menos relevância na discussão, sendo superado pelo estudo da paisagem. Esse período é, para Pedrosa (2016, p. 39) um momento de “afastamento lento do marxismo, mas, ao mesmo tempo, uma mistura de alguns de seus elementos com os debates da pós-modernidade”. Assim, temas como “o cotidiano, a vida material, as representações sociais e a identidade passam a ser o foco de algumas questões, incorporando, muitas vezes, o debate pós-moderno” (Pedrosa, 2016, p. 40). Gênero, raça (e seu sentido desde a dominação de certos grupos sociais) e classe social passam a ser tendências debatidas nesse momento. Em resumo, pode-se afirmar que essa vertente credita à cultura um peso maior na determinação dos fenômenos, sejam eles políticos ou econômicos, em relação ao que se fazia anteriormente. 8 A paisagem “teria o papel de produzir e reproduzir a cultura, ganhando novos significados e remodelações de acordo com os contextos sociais e históricos” (Pedrosa, 2016, p. 51). TEMA 4 – O ESPAÇO EM MILTON SANTOS Ao tratar do conceito de espaço, não se pode deixar de considerar a contribuição do geógrafo brasileiro Milton Santos, seja pela sua importância no âmbito da Geografia brasileira, seja pelas contribuições que trouxe ao pensamento geográfico. Para Santos, o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. Através da presença desses objetos técnicos: hidroelétricas, fábricas, fazendas modernas, portos, estradas de rodagem, estradas de ferro, cidades, o espaço é marcado por esses acréscimos, que lhe dão conteúdo extremamente técnico. O espaço é hoje um sistema de objetos cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos ao lugar e seus habitantes. (Santos, 1996, p. 51) Nesse conceito, Milton Santos reafirma suas proposições anteriores, ao tratar do espaço como a relação entre fluxos e fixos, ou seja, elementos materiais e imateriais que, em conjunto, produzem o espaço geográfico. O espaço não é, portanto, limitado ao visível, fixo, material, mas só pode ser compreendido em sua relação indissociável com os fluxos, que são invisíveis, imateriais. Eis aí sua singularidade. Assim, o espaço não é apenas um sistema de objetos. Na Figura 1, observamos a materialidade do espaço; nela vemos edifícios e ruas, mas essa materialidade só se transforma em espaço quanto a ela acrescentamos a dimensãoda ação, dos fluxos. A imagem não captura a dimensão que o anima, sem a qual não há espaço geográfico. 9 Figura 1 – Sistemas de objetos em Hong Kong: ruas, edifícios, rede elétrica Crédito: esb professional/Shutterstock. Na Figura 2, observa-se aquilo a que Santos (1996) se refere como artificialidade, como objetos técnicos, verdadeiras próteses espaciais. Figura 2 – Malha viária: sofisticado sistema de objetos Crédito: blue planet studio/Shutterstock. Ao tratar da produção do espaço, não nos limitamos ao meio urbano; as artificialidades estão também cada vez mais presentes no campo. As Figuras 3 e 4 mostram, respectivamente, o uso de drones na agricultura, e robôs como facilitadores do cultivo de plantas, demonstrando a sofisticação técnica que caracteriza o momento presente. Contudo, uma advertência deve ser feita: esses objetos técnicos não estão igualmente distribuídos pelo mundo – pelo contrário, são seletivos. Essa seletividade se explica pelo papel de cada porção do espaço na lógica capitalista e pelo seu protagonismo ou subalternidade nas relações estabelecidas. Figura 3 – Fertilização por drones 10 Crédito: suwin/Shutterstock. Figura 4 - Produção de melão, assistida por robôs Crédito: feelgoodluck/Shutterstock. Saiba mais Para conhecer um pouco mais do pensamento desse importante geógrafo brasileiro, sugerimos que procure e assista o documentário a seguir e consulte também o site do autor, que traz diversos textos, além da biografia do autor. • ENCONTRO com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá. Direção: Silvio Tendler. Brasil, 2007. 89 min. • MILTON SANTOS. Disponível em <http://miltonsantos.com.br>. Acesso em: 11 fev. 2019 TEMA 5 – O MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL (MTCI) Como coroamento da proposição de Santos acerca do espaço, podemos distinguir a formulação do conceito de de Meio Técnico-Científico-Informacional – MTCI. Trata-se do reconhecimento de que os acréscimos ao espaço natural foram mudando de qualidade com o passar do tempo, numa complexidade crescente. Ao meio natural acrescentou-se a técnica; à técnica acrescentou-se a densidade científica, e à ela a densidade informacional, característica maior da atualidade. 11 Portanto, o espaço é produto desse processo. O espaço perdeu, com a complexidade do mundo, sua característica de natural; nada mais é natural. Santos (1994, p. 51) afirma que O meio geográfico em via de constituição (ou de reconstituição) tem uma substância científico-tecnológico-informacional. Não é nem meio natural, nem meio técnico. A ciência, a tecnologia e a informação estão na base mesma de todas as formas de utilização e funcionamento do espaço, da mesma forma que participam da criação de novos processos vitais e da produção de novas espécies (animais e vegetais). É a cientifização e a tecnicização da paisagem. É, também, a informatização, ou antes, a informacionalização do espaço. A informação tanto está presente nas coisas como é necessária à ação realizada sobre essas coisas. Os espaços assim requalificados atendem sobretudo a interesses dos atores hegemônicos da economia e da sociedade, e assim são incorporados plenamente às correntes de globalização. Um desdobramento importante dessa proposição é que o MTCI não se difunde igualmente por todos os lugares; ao contrário, há áreas que Santos (1994, p. 51-52) denomina de áreas de densidade (‘zonas luminosas’), área praticamente vazias (zonas ‘opacas’) e uma infinidade de situações intermediárias estando cada combinação à altura de suportar as diferentes modalidades do funcionamento das sociedades em questão. Esse meio técnico, científico e informacional está presente em toda a parte, mas suas dimensões variam de acordo com continentes, países, regiões: superfícies contínuas, zonas mais ou menos vastas, simples pontos. A partir dessa concepção, Santos nos oferece uma possibilidade de pensar o Brasil. O MTCI é, portanto, uma forma de expressão de uma etapa mais sofisticada da divisão territorial do trabalho. Segundo Santos e Silveira (2002, p. 140), pode-se reconhecer no Brasil uma região concentrada, ou seja, uma região onde os novos objetos apresentam-se de modo mais generalizado no território, com a presença das infraestruturas fundamentais para o período atual. Assim, Santos e Silveira (2002) empreendem um esforço no sentido de pensar o Brasil por meio de variáveis relacionadas ao meio técnico-científico- informacional, observando que as desigualdades territoriais contemporâneas se assentam em novas variáveis dispostas em pares contraditórios, respectivamente zonas de densidade e rarefação; fluidez e viscosidade; espaços da rapidez e da lentidão; espaços luminosos e opacos; espaços que mandam e espaços que obedecem. • Zonas de densidade e de rarefação: “o território mostra diferenças de densidades quanto às coisas, aos objetos, aos homens, aos movimentos 12 das coisas, dos homens, das informações, do dinheiro e também das ações” (Santos; Silveira, 2002, p. 260) • Fluidez e viscosidade: a fluidez pode ser percebida na criação de “condições para maior circulação dos homens, dos produtos, do dinheiro, da informação, das ordens etc.”. (Santos; Silveira, 2002, p. 261). Os sistemas de engenharia facilitam o movimento e o processo de criação de fluidez é seletivo; portanto, está presente em certas porções do território e ausente – ou menos presente –, em outras. • Espaços da rapidez e da lentidão: “os espaços da rapidez são, do ponto de vista material, os dotados de maior número de vias (e de vias com boa qualidade), de mais veículos privados (e de veículos mais modernos e velozes), de mais transportes públicos (com horários mais frequentes, convenientes e precisos e também mais baratos). Do ponto de vista social, os espaços da rapidez serão aqueles onde é maior a vida de relações”. (Santos; Silveira, 2002, p. 263) • Espaços luminosos e opacos: por espaços luminosos, Santos e Silveira (2002, p. 264), denominam “aqueles que mais acumulam densidades técnicas e informacionais”, tornando-se, dessa forma, “mais aptos a atrair atividades com maior conteúdo em capital, tecnologia e organização”. Por outro lado, nos espaços opacos, observa-se, em contraposição, a ausência dessas características. • Espaços que mandam e espaços que obedecem: Por fim, há espaços que apresentam um maior número de funções diretoras; esses seriam os espaços que mandam, são os ordenadores da produção, do movimento e do pensamento sobre o território. Apresentam papel central na localização de entidades públicas e privadas. Desse modo, em tempos de globalização, essas desigualdades territoriais produziram uma nova divisão territorial do país, resultando na proposição, pelo autor, de Quatro Brasis, a saber: • Região concentrada, formada, grosso modo, pelo Sudeste e Sul e caracterizada “pela implantação mais consolidada dos dados da ciência, da técnica e da informação” (Santos; Silveira, 2002, p. 269). Nela, o MTCI se implantou sobre uma base urbanizada, onde as demandas do mundo globalizado encontram respostas modernas e compatíveis com o período 13 histórico atual. Atividades de ponta do terciário estão presentes, dentre elas a financeira. São Paulo segue sendo a mais importante metrópole do país, com elevadas densidades de redes de todo tipo: de consumo, de infraestrutura, de finanças etc. A agricultura moderna também está presente nessa porção do território. • Brasil do Nordeste, caracterizado por um povoamento antigo, pela presença de um meio mecanizado pontual e pouco denso e pela herança da ocupação econômica antiga. Nele, o MTCI se apresenta apenas como manchas localizadas no território. • Região Centro Oeste, é caracterizada por uma ocupação periférica recente e na qual o MTCI se estabeleceu sobre um território “natural”, conformandoáreas de agricultura globalizada, de precisão, e com fazendas modernas produzindo commodities como soja, milho e algodão, com intenso consumo de fertilizantes e defensivos agrícolas. • Amazônia, caracterizada por rarefação demográfica e baixas densidades técnicas. Nela, o MTCI se materializa como pontos esparsos no território. Essa regionalização pode ser observada na Figura 5, embora uma advertência seja necessária: nem sempre o MTCI está circunscrito aos limites político-administrativos dos estados. Assim, essa representação é apenas uma aproximação e não deve ser vista como definitiva, tendo em vista especialmente o avanço do agronegócio por porções do território, “borrando” tais limites. 14 Figura 5 – Meio técnico-científico-informacional e as regiões do Brasil – 1999 Fonte: Elaborado com base em Santos, 2002, p. LXIV. Portanto, à luz dessa proposição teórica, podemos encontrar subsídios analíticos para pensar sobre elementos concretos de nosso país e para reconhecer o processo de constituição do espaço com suas especificidades. Saiba mais Aprofunde a compreensão de MTCI por meio das seguintes leituras: • SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo. Globalização e meio técnico-científico- informacional. São Paulo: Hucitec, 1994. • SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2002. 15 REFERÊNCIAS BARRET, C. et al. Dictionnaire de géographie humaine. Paris: Liris, 2000. BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. CORRÊA, R. L. Espaço: um conceito-chave da geografia. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.) Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p. 15-47. FOUREZ, G. A construção das ciências. São Paulo: Ed. Unesp, 1995. HARVEY, D. Explanation in Geography. London: Edward Arnold, 1969. PEDROSA, B. V. O Império da representação: a virada cultural e a geografia. Espaço e Cultura, v. 1, n. 39, p. 31-58, 2016. SANTOS, M. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. _____. Técnica, espaço, tempo. Globalização e meio técnico-científico- informacional. São Paulo: Hucitec, 1994. SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2002. AULA 3 GEOGRAFIA HUMANA E ECONÔMICA – CONCEITOS, TEORIAS E MODELOS Profª Olga Lúcia Castreghini de Freitas 2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA A ANÁLISE GEOGRÁFICA (PARTE 2): REGIÃO, TERRITÓRIO, PAISAGEM, LUGAR, REDE CONVERSA INICIAL Além do conceito de espaço, tratado anteriormente, vários outros são basilares para a análise geográfica. Nesta aula vamos destacar cinco deles, os quais permeiam os estudos no âmbito da geografia desde sua origem. Contudo – como já advertimos antes – embora o termo se mantenha, seu conteúdo sofreu considerável alteração ao longo da história da geografia. Trataremos, assim, dos conceitos de região, território, paisagem, lugar e rede, todos eles, para além de sua perspectiva acadêmica, possuem também uma compreensão popular, pois são utilizados no dia a dia, o que requer atenção, pois, além desse uso cotidiano, no âmbito da geografia, tais termos se transformam em conceitos e, portanto, são objeto de reflexões teóricas e construções que se alteram com o passar do tempo. Além dessa perspectiva cotidiana, esses conceitos também perpassam uma série de outras áreas do conhecimento – sociologia, economia, urbanismo, dentre outras – na medida em que se referem ao que podemos denominar de escalas espaciais e de ação das pessoas e das políticas públicas, dentre outras. Iniciaremos nosso percurso pela compreensão desses conceitos, conhecendo a relevância deles em cada momento da história da geografia para perceber como eles foram se alterando. Daremos ênfase especial ao momento presente e como os conceitos podem contribuir para a explicação do mundo em sua perspectiva espacial. TEMA 1 – REGIÃO A preocupação com a região é antiga na geografia. Ritter, ainda no século XIX, dedicou-se a estudar e propor regiões com base em critérios naturais, buscando assim sua singularidade em meio à totalidade do mundo. Nessa época destacam-se os estudos comparativos. Com isso, a questão geral versus regional estava também no cerne dessa área do conhecimento nascente à época, assim como a perspectiva metodológica nomotética versus idiográfica, ou seja, aquela que busca leis 3 universais e aquela que prioriza os casos individuais. Essa dupla perspectiva está, desta maneira, na própria origem da geografia científica. 1.1 A região na geografia tradicional ou clássica Na geografia tradicional ou clássica o método regional (denominado de monografia regional) era o grande referencial de estudos da geografia. Este consistia em, de acordo com Lencioni (1999, p. 105), conter uma análise detalhada do meio físico, das formas de ocupação, das atividades humanas e de como o homem se ajusta à natureza. O olhar sobre a natureza deveria conter uma perspectiva histórica na análise da relação homem-meio. Fundamentalmente, a monografia regional deveria estabelecer a integração dos elementos físicos e sociais e acrescentar uma visão sintética de região. Essa perspectiva, embora ultrapassada no âmbito da geografia científica na atualidade, ainda perpassa muitas visões equivocadas do trabalho do geógrafo, em especial no âmbito da geografia escolar, ou seja, a identificação da geografia como a ciência da “compilação” dos elementos de determinada porção do espaço. É importante lembrar que, na atualidade, com o avanço das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs), não cabe mais à geografia o papel de detentora de informações sobre o espaço, tarefa que foi essencial num momento histórico em que o mundo ainda era apenas parcialmente conhecido e que a catalogação de elementos geográficos era essencial. Hoje, no entanto, seu papel não pode ser esse, visto que qualquer mecanismo de busca na internet nos oferece mais detalhes e informações sobre o espaço do que qualquer pessoa seria capaz de fazê-lo. Nosso papel deve ser, então, o analítico, o de oferecer leituras da realidade que permitam contribuir para desvendar as dinâmicas espaciais, seus conflitos e suas contradições. Outra contribuição importante para pensar a região na geografia foi a de Alfred Hettner (1859-1941); para ele, a preocupação principal da geografia era a diferenciação da superfície terrestre; “para Hattner, o objeto da geografia não é o estudo da relação homem e meio, mas da diferenciação da superfície terrestre”. Essa perspectiva foi desenvolvida posteriormente por Hartshorne e conhecida na geografia regional como a de diferenciação de áreas ou diferenciação espacial. Desse modo, “a região, como individualidade espacial, se constituiria, portanto, parte da totalidade; ou seja, uma parte da superfície terrestre [...] os 4 recortes feitos na realidade são provenientes do exercício intelectual, não existindo em si mesmo” (Lencioni, 1999, p. 123). Importante observação deve ser destacada: a região não existe em si mesma, ou seja, cada região é definida com base em determinados critérios, de determinado olhar, de determinada intencionalidade. Por isso, convivemos com uma variedade imensa de recortes regionais, como exemplificaremos posteriormente. Devemos também salientar a questão da escala da região, quais os limiares inferiores e superiores nessa definição? Isso também depende da realidade que se quer regionalizar. 1.2 A região na geografia quantitativa ou teorética Sob influência de Hartshorne, a região é compreendida na geografia quantitativa ou teorética como uma possibilidade de estabelecimento de leis gerais, assim, “tudo o que é geográfico deve encontrar uma linguagem matemática; por assimdizer, uma expressão matemática [...] a região se tornou um instrumento técnico-operacional, a partir do qual se procurou organizar o espaço” (Lencioni, 1999, p. 134). O método científico passou a ser a referência na definição da região, superando a visão anterior das monografias. Nessa perspectiva, emerge o planejamento regional, como possibilidade concreta de intervenção no espaço, abrindo um novo campo de trabalho para a geografia. Disso decorre, no Brasil, em final da década de 1970, a regulamentação da profissão de Bacharel em Geografia ou geógrafo. Emerge também a teoria dos sistemas como possibilidade de apreensão da região, entendida como uma parte de um sistema. A análise regional lança mão de técnicas estatísticas e matemáticas, como variáveis, matrizes e equações. Três enfoques acerca do conceito de região prevalecem nesse período, respectivamente: 1. A região homogênea: aquela cujas características interiores são mais semelhantes entre si do que com o exterior. Essa homogeneidade pode ser de recursos naturais, renda, traços culturais, produção e consumo, dentre outras. 5 2. A região polarizada: exprime a organização de determinada região a partir da interdependência de uma ou várias cidades, capaz de polarizar uma porção do espaço que é heterogêneo. 3. A região-plano ou de programa: região administrativa, conceito operacional, relacionado, portanto, à gestão político-administrativa. A relevância da região é reconhecida também por outros campos do conhecimento, o que resultou no surgimento, nos anos de 1950, de uma nova área denominada ciência regional ou economia espacial, congregando economistas, geógrafos, cientistas políticos, sociólogos, dentre outros. Walter Isard (1919-2010) é uma das referências dessa nova disciplina, cujo objetivo é estudar “a intervenção humana no território” (Benko, 1999, p. 7). Preocupa-se, desse modo, com a repartição das atividades econômicas no território. Para Benko (1999, p. 11), “o aparecimento e o desenvolvimento da economia regional no pós-guerra encontram-se ligados à qualificação estatal da região como um problema. A região impõe-se deste modo como objecto de análise económica porque se torna na preocupação que se traduz na necessidade de uma política”. 1.3 A região na geografia sob influência da fenomenologia Nessa vertente a principal preocupação passou a ser com o espaço vivido, “aquele que é construído socialmente a partir da percepção das pessoas. Espaço vivido e, mais que isso, interpretado pelos indivíduos. Igualmente, espaço vivido como revelador das práticas sociais” (Lencioni, 1999, p. 153). Com isso, é o lugar que ascende como referência espacial – como veremos adiante – mas não o lugar concreto, objetivo, o lugar como significado particular, como subjetividade e resultado das experiências individuais das pessoas. Insere-se a perspectiva de que os laços afetivos criam identidade regional, com isso “a identidade dos homens com a região se tornou, então, um problema central na Geografia Regional de inspiração fenomenológica” (Lencioni, 1999, p. 154). Ênfase é dada nas construções mentais sobre a região; como técnica, coloca-se a construção de mapas mentais. 6 1.4 A região à luz do pensamento crítico No âmbito da geografia crítica ou radical, a região passou a ser vista como parte de uma totalidade; não que tal visão fosse inovadora em relação às correntes anteriores, mas porque a natureza da totalidade é que era distinta; tratava-se, agora, de uma totalidade histórica, e temas como desenvolvimento desigual e combinado ou subdesenvolvimento, foram privilegiados. A região passou a ser analisada como resultante da divisão territorial do trabalho, inserida na dinâmica do modo de produção capitalista. 1.5 A região na pós-modernidade Nessa etapa a região perde seu protagonismo, substituída por outras escalas, em especial às do global e do local. É como se o nível regional fosse esvaziado em função dessas novas escalas emergentes. TEMA 2 – REGIONALIZAÇÃO: PERSPECTIVAS APLICADAS Por regionalização podemos entender o ato de criar regiões para uma determinada porção do espaço. Como afirmado anteriormente, essa ação é intencional; regionaliza-se com base em uma determinada necessidade: as regiões não são dadas naturalmente, mas são formas de olhar o espaço e buscar porções com semelhanças entre si à luz de determinada problemática. No âmbito nacional, normalmente a definição de regiões está associada a políticas públicas, o que resulta numa diversidade de recortes regionais sobre um mesmo espaço. Dessa forma, é comum observarmos a superposição de regiões sobre um mesmo espaço, de modo a atender lógicas distintas de intervenção. Nesse caso, as regiões podem ser compreendidas como entidades espaciais de escala média, entre o local e o nacional. Dessa forma, “a região não existe em si mesma, ela não é objeto de estudo no significado restrito do termo, pois ela se conforma no final do processo de investigação, processo esse que com a elaboração de critérios definidos no processo de investigação constrói o recorte espacial” (Lencioni, 1999, p. 201). A região “tem um sentido bastante conhecido como unidade administrativa e, neste caso, a divisão regional é o meio pelo qual se exerce frequentemente a hierarquia e o controle na administração dos Estados” 7 (Gomes, 1995, p. 53). Assim, é comum observarmos a proposição operacional, e diversas regionalizações. Saiba mais Como resultado da discussão anterior, exemplificamos, a seguir, algumas, dentre as diversas possibilidades de regionalização do Estado do Paraná. Procure informações acerca das regionalizações existentes em seu Estado e entenda melhor essa temática. Figura 1 – Estado do Paraná: regiões administrativas, 2015 Fonte: Ipardes, 2015. (Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/biblioteca/docs/Documentacao _Criacao_RA_Outubro2015.pdf>. Acesso em: 5 jul. 2019). Figura 2 – Estado do Paraná: regionais de saúde Fonte: Paraná, 2009. (Disponível em: <http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/PDR_atualizado __Edson.pdf>. Acesso em: 5 jul. 2019. 8 Figura 3 – Estado do Paraná: regionalização turística Fonte: Secretaria do Esporte e do Turismo do Estado do Paraná, 2017. (Disponível em: <http://www.turismo.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=946>. Acesso em: 5 jul. 2019. Figura 4 – Estado do Paraná: Núcleos Regionais de Educação Fonte: SEED, S.d. (Disponível em: <http://www.nre.seed.pr.gov.br/>. Acesso em: 5 jul. 2019). 9 2.1 Escalas da regionalização A escala da regionalização pode variar de desde aquela que toma o mundo todo como totalidade e propõe uma regionalização, agrupando aquelas áreas com alguma(s) característica(s) semelhante(s) entre si, passando pela escala nacional (Figuras 5 e 6), e a proposição do que também podemos denominar de macrorregiões, ou mesmo escalas intermediárias dentro de uma mesma unidade territorial como – no caso do Brasil, os estados – e até mesmo chegar à escala da cidade, na qual, por vezes, identificamos regiões- administrativas que funcionam como uma espécie de descentralização do governo municipal. Quando tomamos o mundo como totalidade, a regionalização mais conhecida é aquela que o divide considerando elementos da natureza, em especial a partir da continuidade de terras separadas entre si pelos oceanos, formando assim, os continentes (Figura 7). Mais recentemente, características da economia e sociedade criaram divisões regionais do mundo; as mais conhecidas são: países desenvolvidos e países subdesenvolvidos; primeiro, segundo e terceiro mundos; países centrais e países periféricos; países emergentes, países pobres e países ricos. Quando elementos da economia prevalecem, seja como potencialidades de produção, seja como interesses comerciais semelhantes,novos agrupamentos surgem, podemos destacar os mais conhecidos: EU (União Europeia); Mercosul (Mercado Comum do Sul); NAFTA (North American Free Trade Agreement – “Tratado Norte-Americano de Livre Comércio”) (Figuras 8 e 9). 10 Figura 5 – Brasil: divisão em macrorregiões Crédito: Luisrftc/Shutterstock. Figura 6 – Regiões administrativas na França (2016) Crédito: Rainer Lesniewski/Shutterstock. 11 Figura 7 – Mundo regionalizado em continentes Crédito: Pyty/Shutterstock Figura 8 – MERCOSUL Crédito: Peter Hermes Furian/Shutterstock. 12 Figura 9 – União Europeia Crédito: Peter Hermes Furian/Shutterstock. Saiba mais Na Bahia, o Governo do estado propôs uma regionalização baseada na definição daquilo que foi denominado de Territórios de Identidade, 26 no total, o que pode ser pesquisado nos links oficiais da SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais do Estado da Bahia). TEMA 3 – TERRITÓRIO Território difere conceitualmente tanto de espaço como de região. Território é uma porção do espaço apropriado por um grupo humano, que o controla e o delimita. Por vezes a noção de território está relacionada a uma jurisdição político-administrativa, como o território nacional, estadual ou municipal, prevalecendo sua dimensão funcional, mas seu sentido vai além desse. Território pressupõe relações de poder sobre determinada parcela do espaço, cujos limites não são precisos e podem ser móveis e transitórios. Nesse caso, a dimensão simbólica prevalece. 13 Assim, o território do narcotráfico, por exemplo, se constitui por uma porção do espaço cuja lógica de dominação e controle provém do tráfico de drogas. Os territórios da prostituição se revelam, na maioria das vezes, por meio da apropriação de porções do espaço em certos momentos do dia, normalmente no período noturno, revelando usos e lógicas distintas de dia e de noite, conformando, igualmente, distintos territórios. Originalmente, a noção de território esteve diretamente ligada à área de domínio de certos animais, cujo processo de delimitação de seus territórios implicava numa apropriação biológica. Recentemente, um grande debate tem se estabelecido a respeito da criação e/ou do desaparecimento de territórios, processo que Haesbaert (2004) denomina de desterritorialização (para o desaparecimento) e reterritorialização (para a criação). Isso se daria em função da emergência de novas lógicas, em especial a das redes, que transformaria o mundo de territorial para reticular, ou conectado por redes, num processo de ligações não contíguas no espaço. Haesbaert (2004), começa seu livro intitulado O mito da desterritorialização indagando se o mundo estaria passando pelo processo de desterritorialização, ou, como muitos afirmam se estaríamos numa etapa caracterizada pelo “fim dos territórios”, “sob o impacto dos processos de globalização que ‘comprimiram’ o espaço e o tempo, erradicando as distâncias pela comunicação instantânea e promovendo a influência de lugares os mais distantes uns sobre os outros, a fragilização e todo tipo de fronteira e a crise da territorialidade dominante” (Haesbaert, 2004, p. 19-20). Podemos também exemplificar o processo de des-re-territorialização por meio de um exemplo simples: um grupo de imigrantes que, ao sair de seu território de origem, deixa para trás não apenas os elementos físicos, concretos daquele lugar, mas também seus laços identitários. Ao se fixar noutro lugar, preocupa-se em recompor os elementos deixados para trás, recriando seu modo de vida, refundando elementos de sua cultura e vida cotidiana, de seu trabalho, de suas crenças, mantendo viva a língua original, dentre outros. Ao proceder dessa maneira, podemos afirmar que o que ocorre é a reconstrução de seu território, porém em outro local, que, originalmente, não tinha conexões com suas origens. Esse processo recria, reterritorializa esse grupo que foi desterritorializado por força de seu deslocamento. 14 Como síntese desse debate, Haesbaert sugere a priorização de outro enfoque: o da multiterritorialidade, entendida como uma alternativa conceitual dentro de um processo denominado por muitos como “desterritorialização”. Muito mais do que perdendo ou destruindo nossos territórios, ou melhor, nossos processos de territorialização (para enfatizar a ação, a dinâmica), estamos na maior parte das vezes vivenciando a intensificação e complexificação de um processo de (re)territorialização muito mais múltiplo, "multiterritorial". (Haesbaert, 2007, p. 19) O conceito de território tem sido apropriado por diversas áreas das ciências sociais, revelando o reconhecimento da importância da dimensão espacial para a compreensão da sociedade. Haesbaert e Limonad (2007, p. 42) apresentam os seguintes pressupostos necessários para a compreensão do conceito de território: • primeiro, é necessário distinguir território e espaço (geográfico); eles não são sinônimos, apesar de muitos autores utilizarem indiscriminadamente os dois termos – o segundo é muito mais amplo que o primeiro. • o território é uma construção histórica e, portanto, social, a partir das relações de poder (concreto e simbólico) que envolvem, concomitantemente, sociedade e espaço geográfico (que também é sempre, de alguma forma, natureza); • o território possui tanto uma dimensão mais subjetiva, que se propõe denominar, aqui, de consciência, apropriação ou mesmo, em alguns casos, identidade territorial, e uma dimensão mais objetiva, que pode- se denominar de dominação do espaço, num sentido mais concreto, realizada por instrumentos de ação político-econômica. Continuam os autores, “Nas sociedades tradicionais prevaleceria uma construção de territórios baseada em áreas ou zonas e nas sociedades modernas predominaria a construção de territórios onde o elemento dominante seriam as redes ou a geometria dos pontos e linhas” (Haesbaert; Limonad, 2007, p. 43). O Quadro 1 apresenta um esforço de síntese elaborado por Haesbaert e Limonad (2007, p. 45), de modo a demonstrar as diferentes abordagens relacionadas ao conceito de território. 15 Quadro 1 – As abordagens conceituais de território em três vertentes básicas Fonte: Haesbaert; Limonad, 2007, p. 45. Santos (2002), por sua vez, introduz a noção de território usado. Para o autor: O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de coisas superpostas. O território tem que ser entendido como o território usado, não o território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho, o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício a vida. (Santos, 2002, p. 10) Essa proposição foi praticamente a última empreitada teórica levada a frente por Milton Santos, antes de seu falecimento no ano de 2001. O autor propôs o conceito de território usado que, como ele afirma, relaciona-se ao exercício da vida. Considerando as várias possibilidades de interpretação do conceito de território, e de resto de vários conceitos que estamos tratando nesse curso, o importante é sempre explicitarmos a opção teórico-conceitual que adotamos em 16 nosso trabalho, cercando-nos de amplo referencial bibliográfico. Por isso é fundamental a leitura dos textos indicados na bibliografia. TEMA 4 – PAISAGEM E LUGAR A seguir trataremos de dois conceitos importantes para a geografia: paisagem e lugar. 4.1 Paisagem O conceito de paisagem está presente na geografia desde seus primórdios. Todavia sua importância oscilou ao longo do tempo, sendo resgatado mais recentemente no bojo da virada cultural, sobre a qual tratamos em anteriormente. Como precursores dos estudos da paisagem na geografia podemos citar, ainda no século XIX, os alemãesOtto Schlüler e August Meitzen, além de Carl Sauer no início do século XX. Inicialmente a paisagem era compreendida em estreita relação com as artes, em especial a pintura. Retratar paisagens significava, assim, revelar a aparência de porções do espaço, resultantes especialmente da relação entre elementos da natureza e criados pelo homem. Figura 10 – Paisagem retratada em pintura Crédito: Yarikart/Shutterstock. 17 Desse modo, podemos afirmar que a paisagem é aquilo que se revela como forma espacial e sua apreensão não necessariamente é capaz de revelar a estrutura dos locais observados, tampouco os processos que lhe deram origem. Dunlop (2009, p. 18), afirma que se trata de uma “percepção subjetiva e instantânea, bem diferente de uma porção do espaço terrestre objetivo [...] a paisagem é antes de tudo um olhar sobre o mundo, que se faz desde um ponto de vista particular e num momento particular”. A paisagem revela uma representação que ocorre a partir da visão do ser humano sobre seu ambiente. Por isso, há uma associação imediata entre paisagem e pintura ou fotografia, de modo específico e com o campo das artes, de modo geral. A paisagem pode ser entendida como o “tempo cristalizado” (Barret et al., 2000, p. 136). Sua compreensão fomenta fortes laços com a arquitetura e com as artes, dentre outras, além de relações multidimensionais e multissensoriais. Recentemente, novas dimensões da apreensão da paisagem têm sido enfatizadas, em especial: paisagens olfativas – o(s) cheiro(s) dos lugares; paisagens sonoras – o(s) som(ns) dos lugares; paisagens do tato – aquelas que se formulam a partir da sensibilidade dos cegos; dentre outras. 4.2 Lugar Lugar aparece como conceito-chave na vertente da geografia humanística, que tem na fenomenologia seu embasamento metodológico. O geógrafo mais conhecido a elaborar o conceito de lugar como resultado da experiência individual que as pessoas desenvolvem com o meio foi Yi-Fu Tuan, em especial ao publicar sua célebre obra denominada Topofilia (1980), definida como o elo afetivo entre a pessoa e o lugar. Portanto, a ideia de pertencimento está diretamente relacionada ao lugar, bem como a percepção das pessoas sobre o meio. Desta maneira, lugares são distintos dependendo da apreensão individual das pessoas. Por exemplo, uma mesma rua pode significar sentimentos positivos para uma pessoa que teve uma experiência agradável nela e, por outro lado, pode ser evitada ou negada por outra pessoa que nela foi assaltada. Assim, a percepção do lugar não é absoluta, mas depende das experiências e sentimentos individuais. 18 Mais recentemente, uma importante discussão emergiu no âmbito das ciências sociais, especificamente da antropologia, com base na proposição feita por Augé (2012) da noção de não lugar. Reconhecendo o mundo acelerado em que vivemos – período este denominado pelo autor de supermodernidade, e em oposição ao conceito de lugar, o não lugar se forma a partir das demandas do mundo globalizado, que implanta formas espaciais e equipamentos semelhantes em todo o planeta, criando uma espécie de contraidentidade, ou seja, aniquilando as identidades locais-regionais em função da implantação de uma certa identidade global, promovida pelos impulsos da globalização. Nas palavras do autor, “Os não lugares são tanto as instalações necessárias à circulação acelerada das pessoas e bens (vias expressas, trevos rodoviários, aeroportos) quanto os próprios meios de transporte ou os grandes centros comerciais, ou ainda os campos de trânsito prolongados onde são alojados os refugiados do planeta” (Augé, 2012, p. 36). A Figura 11, mostra um exemplo de não lugar, desde a proposição de Áuge: no campo de refugiados, observamos a padronização das barracas a ordem em sua disposição, os mesmos materiais construtivos, dentre outros, que aniquilam qualquer possibilidade de ligação identitária e afetiva como o lugar, também porque sua natureza é transitória, tratando-se de um local de passagem. Figura 11 – Campo de refugiados no Iraque (2016) Crédito: Matus Duda/Shutterstock 19 As Figuras 12, 13 e 14, mostram o interior dos aeroportos em diferentes porções do planeta. Revela-se nestas uma brutal semelhança de elementos arquitetônicos, assim como na padronização das informações e na disposição dos objetos ao ponto que, se fizéssemos um exercício de levar alguém de olhos vendados a qualquer aeroporto internacional do mundo e tirássemos a venda na área central do aeroporto, seguramente essa pessoa não teria elementos para saber em que cidade e em que país estaria. Essa é a reflexão que motivou Augé (2012) a propor a noção de não lugar. Figura 12 – Aeroporto em Doha, Qatar (2017) Crédito: Uskarp/Shutterstock. 20 Figura 13 – Aeroporto em Dusseldorf, Alemanha (2018) Crédito: Ververidis Vasilis/Shutterstock. Figura 14 – Aeroporto em Brasília, Brasil (2014) Crédito: Robert Napiorkowski/Shutterstock. TEMA 5 – REDE Antes de concluir essa síntese dos principais conceitos trabalhados em/pela geografia, não poderíamos deixar de apresentar o conceito de rede. Isso porque tal conceito, embora presente há muito tempo nas preocupações 21 geográficas, assume na contemporaneidade perspectiva importante, em especial com a emergência das NTIC. O conceito de rede permite inserir uma visão que prioriza os fluxos e o ciberespaço como preocupações fundamentais para a compreensão do mundo de hoje. Atualmente fala-se em território-rede, empresa-rede, sociedade em rede, demostrando um uso diverso daquele existente no passado, no qual a rede referia-se às bases técnicas implantadas no território, ligadas assim à infraestrutura: rede de transporte, rede viária, rede de telecomunicações, rede elétrica, dentre outras, relacionadas àquilo que vimos acerca do sistema de objetos que constituem um dos componentes do espaço, na perspectiva de Milton Santos. Esse uso continua sendo importante, mas a ele se adicionou uma maior complexidade conceitual, pelo qual se entende por rede geográfica “o conjunto de localizações humanas articuladas entre si por meio de vias e fluxos. Nesse sentido, ela constitui caso particular de rede em geral, esta forma que advém da topologia. Sua importância para a geografia, como se tentará evidenciar, é enorme, pois é parte fundamental da espacialidade humana”. Para Corrêa (2012, p. 200), as redes se tornam geográficas quando são consideradas em sua dimensão espacial. Assim, para o autor, “a passagem de uma rede social para uma rede geográfica se dá quando assim a consideramos, a despeito de sua necessária espacialidade, expressa em localizações qualificadas, e com interações espaciais entre elas” (Corrêa, 2012, p. 201). Para Dias (2000) as redes no presente ganham um novo sentido em razão das estratégias de comunicação e circulação inerentes a estas. Muitas são as complexidades produzidas ao longo do século XX que redesenharam o mapa do mundo [...] Processos de múltiplas ordens: de integração produtiva, de integração de mercados, de integração financeira, de integração da informação. Mas processos igualmente de desintegração, de exclusão de vastas superfícies do globo [...]. Todos esses processos para serem viabilizados implicam estratégias, principalmente estratégias de circulação e de comunicação, duas faces da mobilidade que pressupõem a existência de redes, uma forma singular de organização. (Dias, 2000, p. 147) Ainda para a autora, “Os fluxos, de todo tipo – das mercadorias às informações pressupõem a existência das redes. A primeira propriedade das redes é a conexidade – qualidade de conexo – que tem ou em que há conexão, ligação. Os nós das redes são assim lugares de conexões, lugares de poder e de referência” (Dias, 2000, p. 148). 22 Vivemos num mundo onde prevalece
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