Buscar

0 0 - Geografia Humana e Economica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 110 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 110 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 110 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOGRAFIA HUMANA E 
ECONÔMICA - CONCEITOS, 
TEORIAS E MODELOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Olga Lúcia Castreghini de Freitas 
 
 
 
2 
INTRODUÇÃO – GEOGRAFIA HUMANA E GEOGRAFIA ECONÔMICA – 
ORIGEM E TRAJETÓRIA 
A aula de hoje introduz alguns elementos importantes para o percurso que 
realizaremos visando compreender a importância da geografia humana e da 
geografia econômica no âmbito da geografia e, em especial, os principais 
conceitos, teorias e modelos explicativos utilizados nesses campos do 
conhecimento. 
Para tanto, faremos uma recuperação sucinta do que foi a trajetória da 
geografia para entender o movimento mais geral dessa área do conhecimento e 
que induziu, igualmente, o movimento interno das várias especialidades da 
geografia. 
Embora a geografia humana seja ampla e abarque uma variedade imensa 
de especializações e problemáticas, nessa disciplina haverá um enfoque especial 
na geografia econômica. 
O conceito de paradigma será basilar para compreendermos o citado 
movimento da ciência, ao longo do tempo. Após o quê, verticalizaremos esse 
conceito de modo a aplicá-lo à geografia para percebermos as diferentes 
trajetórias ocorridas ao longo do tempo. 
TEMA 1 – GEOGRAFIA – DE SABER POPULAR A CIÊNCIA 
Na atualidade, não temos dúvida em afirmar que a geografia é a ciência 
que tem como objeto de análise o espaço geográfico. Contudo, isso não foi 
sempre assim. Com o passar do tempo, novos desafios foram sendo colocados 
para a análise geográfica, como razão direta da maior complexidade do mundo, 
das inovações técnicas, das demandas sociais, das novas perspectivas 
metodológicas e das novas ferramentas de trabalho e compreensão do mundo. 
Nesse percurso, novos conceitos foram formulados e, por vezes, os 
mesmos termos passaram a ter novos significados. É fundamental entender que, 
embora certos termos permaneçam os mesmos ao longo da história da geografia, 
seus significados se alteraram, além de novos conceitos terem sido incorporados 
com maior força interpretativa no âmbito dessa ciência. 
Os conceitos não podem ser compreendidos descontextualizados de um 
tempo e um espaço específicos, pois são construções sociais e, como tais, seu 
 
 
3 
conteúdo é móvel em contextos espaço-temporais distintos. Isso será 
aprofundado na próxima aula. 
Vamos iniciar nosso percurso nesta disciplina por meio de uma introdução 
sobre a própria origem da geografia, sem o que não é possível entendermos o 
desenvolvimento dessas duas especialidades que intitulam a disciplina, 
respectivamente geografia humana e geografia econômica e seu escopo teórico-
conceitual. 
Antes de tratarmos dos conceitos e teorias, é preciso ressaltarmos que 
esses também estão diretamente relacionados aos vários períodos ou momentos 
em que se pode reconhecer a trajetória da geografia. 
Uma observação importante é que a geografia é uma ciência relativamente 
recente quando se toma a história da humanidade como referência. Foi apenas 
no final do século XIX que ocorreu a sistematização do conhecimento geográfico 
sob a denominação de geografia. 
Etimologicamente, a palavra de origem grega geographia pode ser 
decomposta em geo, que significa Terra, e graphien, que significa descrever ou 
descrição, resultando, assim, em descrição da Terra. Portanto, todos os 
fenômenos que se manifestavam na superfície da Terra poderiam se constituir em 
tema de interesse geográfico. 
Apenas em meados do século XX o espaço passa a ser reconhecido como 
principal preocupação dessa área do conhecimento, como será tratado na 
próxima aula. 
Contudo, do ponto de vista do saber geográfico procedente do senso 
comum, ou seja, daquilo que está presente intuitivamente na interpretação e 
interesse das pessoas, os conhecimentos geográficos remontam à Antiguidade e 
sua prática estava diretamente relacionada aos viajantes, exploradores, entre 
outros. 
Moraes (2002, p. 33-34) afirma que 
[...] até o final do século XVIII, não é possível falar de conhecimento 
geográfico, como algo padronizado, com um mínimo que seja de unidade 
temática, e de continuidade nas formulações. Designam-se como 
Geografia: relatos de viagem, escritos em tom literário; compêndios de 
curiosidades, sobre lugares exóticos; áridos relatórios estatísticos de 
órgãos de administração; obras sintéticas, agrupando os conhecimentos 
existentes a respeito dos fenômenos naturais; catálogos sistemáticos, 
sobre os continentes e os países do Globo etc. Na verdade, trata-se de 
todo um período de dispersão do conhecimento geográfico, onde [sic] é 
impossível falar dessa disciplina como um todo sistematizado e 
particularizado. 
 
 
4 
Ainda para Moraes (2002, p. 34), 
A sistematização do conhecimento geográfico só vai ocorrer no início do 
século XIX. E nem poderia ser de outro modo, pois pensar que a 
Geografia como um conhecimento autônomo, particular, demandava um 
certo número de condições históricas, que somente nesta época estarão 
suficientemente maturadas. Estes pressupostos históricos da 
sistematização geográfica objetivam-se no processo de avanço e 
domínio das relações capitalistas de produção. 
Portanto, é com a emergência do modo de produção capitalista que uma 
série de novos campos do conhecimento surgem, denominados de ciências 
modernas, e, em especial, as ciências humanas, no âmbito das quais a geografia 
passa a se inscrever. 
Isso está diretamente relacionado às novas demandas de leitura da 
realidade, ou seja: o mundo, em rápida transformação, estava a exigir novas 
possibilidade interpretativas para além daquelas oferecidas pelas ciências 
naturais e exatas. 
Alguns pressupostos foram fundamentais para que a geografia se 
transformasse num campo de conhecimento autônomo. Foram elas, de acordo 
com Moraes (2002): 
• conhecimento efetivo da extensão real do planeta; 
• existência de um repositório de informações, sobre variados lugares da 
Terra; 
• aprimoramento das técnicas cartográficas; 
• correspondência, no plano filosófico e científico, das transformações 
operadas nos níveis econômico e político. 
Assim, não podemos compreender o surgimento da Geografia como 
ciência, no séc. XIX, sem que se situe o processo de unificação de territórios 
originando os Estados-nação. A Alemanha é um exemplo emblemático: para sua 
unificação (ocorrida por volta de 1871), era imperioso que se construísse uma 
unidade territorial e de identidade capaz de unir fragmentos que eram, até então, 
dispersos e distintos, não constituindo uma visão nacional. 
É importante lembrar que os seus vários territórios eram independentes, 
em termos de decisões, culturas, línguas próprias (os dialetos de hoje), e a 
Geografia cumpriu papel relevante nesse processo, na medida em que 
representou a compreensão de processos espaciais, cruciais para a realidade de 
então. 
 
 
5 
Não foi por acaso que Humboldt (Alexandre Von Humboldt, conselheiro do 
rei da Prússia; naturalista e viajante) (Figura 1) e Ritter (Karl Ritter, tutor de uma 
família de banqueiros; filósofo e historiador) (Figura 2) passaram a ser 
considerados os “pais” da geografia, pois tiveram papel essencial na proposição 
da geografia como instrumento prático de viabilização das novas demandas 
daquele tempo. 
Figura 1 – Alexandre Von Humboldt (1769-1859) 
 
Créditos: Everett Historical/Shutterstock. 
Figura 2 – Karl Ritter (1779-1859) 
 
Crédito: Marzolino/Shutterstock. 
 
 
6 
Saiba mais 
Como nossa preocupação nesse curso não é com a história da geografia, 
mas com elementos relacionados à geografia humana de modo geral, não 
adentraremos as especificidades da gênese da geografia como ciência moderna, 
o que poderá ser conhecido por meio da leitura de textos de diversos autores que 
contribuíram para a interpretação crítica desse momento histórico. Dentre eles, 
recomenda-se a leitura de: 
MORAES, A. C. R. de. A gênese da geografiamoderna. São Paulo: Hucitec; 
Edusp, 1989. 
_____. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 2002. 
PEREIRA, R. M. F. A. Da geografia que se ensina à gênese da geografia 
moderna. 120 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências da 
Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1988. 
Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/75444>. Acesso em: 
1 fev. 2019. 
TEMA 2 – RUPTURAS NO CONHECIMENTO – OS PARADIGMAS 
Desde o século XIX até o século XXI muita coisa mudou: o mundo se 
transformou, as pessoas também, assim como mudaram as perspectivas 
analíticas e metodológicas necessárias para a compreensão da sociedade. Isso 
não foi diferente com a ciência. Novas perspectivas emergiram e superaram as 
anteriores, num processo cíclico e desejável para o avanço do conhecimento. 
Nesse sentido, recorremos à proposição de Kuhn (1975), que nos oferece 
uma interpretação muito adequada desse processo ao formular o conceito de 
paradigma. Para o autor, paradigmas são “as realizações científicas 
universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e 
soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência” (Kuhn, 
1975, p. 13). 
Para Brunet, Ferras e Théry (1993, p. 365), paradigmas são o conjunto de 
problemáticas e seus métodos adotados por uma ciência em um momento dado, 
segundo uma das concepções do momento; grupo de questões julgadas centrais, 
ou dominantes, em uma ciência. 
Por essa compreensão, a ciência não se desenvolve de modo linear ou 
cumulativo, mas por rupturas ou revoluções, como denomina Kuhn (1975). Esses 
 
 
7 
momentos de rupturas promovem uma grande transformação naquilo que se 
considera o papel central de determinado ramo do conhecimento, seu temário, 
seus métodos e seus conceitos prioritários. 
Figura 3 – Paradigma como ruptura 
 
Crédito: Olivier Le Moal/Shutterstock. 
TEMA 3 – OS PARADIGMAS DA GEOGRAFIA 
Podemos afirmar que a geografia passou por diferentes paradigmas, que 
podem ser sintetizados com base nas seguintes denominações: geografia 
tradicional ou clássica; geografia teorética ou geografia quantitativa; geografia 
crítica ou radical; e virada cultural. 
3.1 Geografia tradicional ou clássica 
A geografia tradicional ou clássica é justamente aquela que apontamos nos 
parágrafos anteriores, muito influenciada pelo método positivista de análise, que 
tem como uma de suas principais características o monismo metodológico, ou 
seja, o pressuposto de que as ciências são regidas por um método único. Nesse 
caso, oriundo das ciências naturais, tendo em vista serem estas as mais 
desenvolvidas à época. De forte influência alemã e francesa, em especial pela 
adoção do método monográfico regional, tinha por características ser descritiva e 
preocupar-se, sobremaneira, com inventários. Ressaltamos que, nesse momento, 
essas características convergiam para as demandas de um mundo que estava 
sendo ainda conhecido e explorado. Assim, a catalogação dos fenômenos 
existentes na superfície terrestre era útil e necessária. A geografia era feita por 
naturalistas, exploradores, viajantes. Não havia a formação universitária em 
geografia, fato que só ocorre, no Brasil, no início do século XX. 
 
 
8 
Nesse momento, as sociedades geográficas têm papel importante no 
debate e na sistematização do conhecimento produzido. 
No Brasil, o processo de institucionalização da geografia é marcado por 
três fatos importantes: 
1. a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de 
São Paulo (USP), no ano de 1934, seguida, em 1935, pela criação da 
Universidade do Distrito Federal (atual Universidade Federal do Rio de 
Janeiro – UFRJ), sob forte influência da geografia francesa; 
2. a criação da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), no ano de 1934; 
3. a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano 
de 1936. Dessa maneira, teve início o processo de formação em geografia 
pela via do ensino superior, resultando na possibilidade de rompimento 
com a situação vigente anteriormente a esse período, quando aqueles que 
faziam geografia eram, na verdade, engenheiros militares, cartógrafos, 
advogados, historiadores, viajantes, entre outros profissionais. 
Saiba mais 
Recomenda-se o filme As montanhas da Lua (1990), que retrata a trajetória 
de dois “geógrafos” britânicos para encontrar as nascentes do rio Nilo, na África. 
O filme contribui para o conhecimento do contexto existente no século XIX, das 
dificuldades práticas das expedições até os debates para legitimar o 
conhecimento produzido. 
3.2 Geografia teorética ou quantitativa 
Também denominada de nova geografia, na medida em que propunha uma 
perspectiva distinta da anterior, a geografia teorética ou quantitativa prioriza a 
elaboração de teorias e modelos explicativos da realidade. Parte dos modelos que 
trabalharemos em aula futura são originários desse momento ou paradigma. Com 
ele, o neopositivismo tomado como referencial metodológico implicava a tentativa 
de matematização dos fenômenos, de modo a legitimar a condição de ciência, 
da geografia. Assim, uma importante influência da estatística e da matemática é 
observada, abstraindo-se a sociedade, por vezes reduzida meramente à noção 
de população. De forte influência anglo-saxônica, essa corrente se manifestou no 
Brasil no final dos anos de 1960 e, de modo mais expressivo, na década de 1970. 
 
 
9 
Saiba mais 
Para um contato mais próximo ao tipo de conhecimento produzido no 
âmbito desse paradigma, recomendamos a consulta aos seguintes textos: 
MENEZES, A. C. F.; MENEZES, W. C.; OLIVEIRA, E. X. G. Um modelo para 
estudo da difusão de emissoras de televisão nas cidades brasileiras: uma versão 
preliminar. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 37, n. 3, jul./set. 
1975, p. 56-72. 
NASCIMENTO, M. das G. de O.; BECKER, O. M. S. O uso da cadeia de Markov 
como instrumento de mensuração de uma distância funcional percebida entre 
lugares. In: FAISSOL, S. (Org.). Tendências atuais na geografia urbano-
regional: teorização e quantificação. Rio de Janeiro: IBGE, 1978. p. 217-224. 
3.3 Geografia crítica ou radical 
A geografia crítica ou radical se caracteriza pela ruptura com a forma 
anterior de pensar e fazer geografia, propondo uma crítica radical às concepções, 
modelos e práticas anteriores. Sua base metodológica é o materialismo histórico 
e a lógica dialética, utilizando, assim, de formas mais sofisticadas de reflexão e 
colocando a sociedade e suas demandas e problemas como centro da atenção 
dos geógrafos. Em especial, as condicionantes oriundas da economia foram 
ressaltadas. 
A realidade passa a ser lida por meio de contradições e os pares dialéticos 
têm papel essencial nesse momento. Assim, o subdesenvolvimento, por exemplo, 
só pode ser compreendido pela existência de seu oposto, o desenvolvimento, 
numa relação de dependência indissociável, pois um só existe em face do outro. 
No Brasil, foi na década de 1980 que essa perspectiva se fortaleceu e 
passou a orientar a maioria da produção acadêmica na geografia, embora 
correntes anteriores ainda fossem observadas, mas de modo residual. 
Metaforicamente, podemos dizer que a lógica dialética proporciona uma 
forma de raciocínio tal qual uma espiral na qual o ponto de chegada jamais será 
o de partida, tendo em vista a complexidade crescente que se incorpora ao 
pensamento, por meio da formulação de uma tese, confrontada com sua antítese 
e posterior alcance da síntese, que se revela como uma nova tese e assim 
sucessivamente. Logo, essa metáfora da espiral se contrapõe àquela do círculo 
que se fecha em si mesmo (Figura 4). 
 
 
10 
Figura 4 – A espiral e o círculo como metáforas 
 
Créditos: Yes - Royalty Free/Shutterstock. 
3.4 Virada cultural 
Embora a corrente crítica ainda seja muito importante na atualidade, 
sobretudo porqueé capaz de oferecer explicações acerca da realidade vigente no 
Brasil, a mudança do milênio se fez acompanhar, igualmente, de novas 
proposições e preocupações. 
Assim, para muitos autores, teríamos vivido, no final do século XX e início 
do XXI uma virada cultural, muito relacionada às proposições que afirmam 
estarmos num período de pós-modernidade, portanto, com transformações 
substanciais na forma de interpretação da realidade e com alteração no temário 
da própria geografia. 
A cultura passa a ser o fio condutor das novas narrativas que analisam os 
grupos sociais e possui relação direta com a determinação dos fenômenos 
políticos e econômicos. 
Saiba mais 
Para o aprofundamento dessa discussão, recomenda-se a leitura do texto: 
PEDROSA, B. V. O império da representação: a virada cultural e a geografia. 
Espaço e Cultura, v. 1, n. 39, p. 31-58, 2016. Disponível em: <https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/31750/22475>. Acesso 
em: 1 fev. 2019. 
 
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/31750/22475
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/31750/22475
 
 
11 
TEMA 4 – AS SUBDIVISÕES DA GEOGRAFIA 
Concomitantemente às transformações da geografia, e de modo a 
responder às demandas necessárias à sociedade dos vários tempos tratados 
anteriormente, também ocorreu o aprofundamento temático e emergiram novas 
especialidades, ao longo do tempo. 
Certos ramos, como são comumente denominadas essas especialidades, 
surgiram, outros assumiram um segundo plano nas preocupações da geografia. 
Assim, podemos pensar em alguns agrupamentos, que podem nos ajudar 
a entender “onde” se situam a geografia humana e a geografia econômica, nosso 
objeto de preocupação nessa disciplina. 
De modo amplo e em relação à escala, podemos apontar duas perspectivas 
de análise, na geografia: 
• geral; 
• regional. 
No campo temático, também podemos distinguir duas perspectivas: 
• geografia física; 
• geografia humana. 
Observe que preferimos utilizar a palavra distinguir e não dividir, isso 
porque não se pode entender a geografia “partida”, embora se deva reconhecer a 
distinção entre seus componentes temáticos e as especificidades que eles 
requerem. 
Dessa forma, são reconhecidos – dentre outros – como ramos da geografia 
física: 
• climatologia; 
• geomorfologia; 
• biogeografia; 
• hidrologia; 
• paleogeografia. 
Por sua vez, a geografia humana se desdobra em diversas especialidades, 
com destaque para: 
 
 
12 
• geografia urbana; 
• geografia rural ou agrária (a depender da perspectiva teórico-metodológica 
adotada e da ênfase pretendida na análise); 
• geografia da população; 
• geografia política; 
• geografia econômica, subdividida em: 
• geografia agrícola; 
• geografia industrial; 
• geografia dos transportes. 
Recentemente, emergiram outras especializações, em razão das novas 
problemáticas do mundo moderno. Entre outras, podemos citar: 
• geografia da internet e do ciberespaço; 
• geografia feminista; 
• geografia da inovação; 
• geografia do comércio. 
Esforços de totalização do conhecimento geográfico devem ser 
registrados. O mais relevante nos parece ser aquele que propõe uma geografia 
socioambiental, que considera que 
[...] a abordagem geográfica do ambiente transcende à desgastada 
discussão da dicotomia geografia física versus geografia humana, pois 
concebe a unidade do conhecimento geográfico como resultante da 
interação entre os diferentes elementos e fatores que compõem seu 
objeto de estudo. (Mendonça, 2002, p. 123) 
Expressa, assim, o reconhecimento da necessidade de superação da 
dicotomia entre geografia física e geografia humana, buscando uma perspectiva 
integradora. 
TEMA 5 – GEOGRAFIA HUMANA E GEOGRAFIA ECONÔMICA 
Nessa disciplina nos interessam mais de perto a geografia humana e a 
geografia econômica. Contudo, uma advertência é necessária: a geografia 
humana se constitui numa dimensão mais ampla e em seu âmbito encontra-se a 
 
 
13 
geografia econômica. Portanto, temos uma questão de ordem a considerar na 
análise de ambas. 
A geografia humana se preocupa, de modo geral, com a expressão 
espacial dos grupos sociais em suas mais diversas dimensões. Tem, portanto, um 
amplo espectro de preocupações. 
Seu temário é amplo e abrange questões relacionadas às populações, 
migrações, religiões, cidades, modos de vida, atividades econômicas, consumo, 
transporte, agricultura, entre outras, sempre na perspectiva de sua compreensão 
como elementos essenciais à constituição do espaço geográfico, conceito que 
será desenvolvido oportunamente. 
Pela natureza e diversidade de problemáticas, não se faz geografia 
humana sem que se busquem elementos em uma gama variada de outras 
disciplinas, com ênfase em: sociologia, economia, urbanismo, antropologia, 
ciência da comunicação, demografia. 
Assim, o conhecimento geográfico é também caracterizado pelo diálogo 
com as demais áreas do conhecimento. Não se trata de afirmar que a geografia 
é, ela própria, interdisciplinar, mas que o conhecimento por ela produzido depende 
em muito daquilo que é tratado por outras disciplinas. 
A geografia econômica, por sua vez, preocupa-se, segundo Small e 
Witherick (1992, p. 128), “com a distribuição das actividades económicas e com 
os factores e processos que afectam a sua ocorrência no espaço”. Trata-se de 
uma definição ampla, mas que permite compreender os principais elementos 
constitutivos dessa especialidade. Assim, setores como o agrícola, o industrial e 
o de transportes são considerados como núcleo duro desse ramo. 
Benko e Scott (2004, p. 152) afirmam que a tarefa atribuída à geografia 
econômica contemporânea “consiste em descrever a organização espacial da 
economia, e em particular, esclarecer as maneiras pelas quais a geografia 
influencia o funcionamento econômico do capitalismo”. Foi somente após os anos 
de 1950 que ela se afirma como campo de pesquisa do escopo da geografia. 
Com os fundamentos tratados na aula de hoje, esperamos que as bases 
da conformação do pensamento geográfico estejam claras, de modo que 
possamos prosseguir e nos aprofundar sobre seus conteúdos teóricos e 
analíticos, com o enfoque na geografia humana e da geografia econômica como 
ramos do conhecimento geográfico e diretamente dependentes do movimento 
maior dessa disciplina. 
 
 
14 
5.1 O que virá nas próximas aulas... 
Após essa visão ampla da geografia, de modo a situar as duas 
especialidades de nosso interesse, respectivamente geografia humana e 
geografia econômica, nas próximas aulas vamos abordar as bases conceituais 
desse campo do conhecimento, com ênfase nos conceitos de espaço, região, 
território, paisagem e lugar. Teorias e modelos também farão parte de nossas 
preocupações, assim como a discussão das bases de dados e fontes de 
informação, em especial daquelas disponíveis no Brasil, ressaltando os temas 
mais recorrentes na pesquisa atual. 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
BENKO, G.; SCOTT, A. J. La géographie économique: traditions et turbulences. 
In: BENKO, G.; STROHMAYER, U. (Org.). Horizons géographiques. Paris: 
Éditions Bréal, 2004. p. 151-192. 
BRUNET, R.; FERRAS, R.; THÉRY, H. Les mots de la géographie: dictionnaire 
critique. Montpellier: La Documentation Française, 1993. p. 365. 
KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 
1975. 
MENDONÇA, F. de A. Geografia socioambiental. In: MENDONÇA, F. de A.; 
KOZEL, S. (Org.). Elementos de epistemologia da geografia contemporânea. 
Curitiba: Ed. UFPR, 2002. p. 121-144. 
AS MONTANHAS da Lua. Direção: Bob Rafelson. EUA: TriStar Pictures, 1990. 
136 min. 
MORAES, A. C. R. de. A gênese da geografia moderna. São Paulo: Hucitec: 
Edusp, 1989. 
_____. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 2002. 
PEDROSA, B. V. O império da representação: a virada cultural e a geografia.Espaço e Cultura, v. 1, n. 39, p. 31-58, 2016. 
PEREIRA, R. M. F. A. Da geografia que se ensina à gênese da geografia 
moderna. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências da 
Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1988. 
Disponível em <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/75444>. Acesso em: 
1 fev. 2019. 
SMALL, J.; WITHERICK, M. Dicionário de geografia. Lisboa: Publicações Dom 
Quixote, 1992. 
AULA 2 
GEOGRAFIA HUMANA E 
ECONÔMICA: CONCEITOS, 
TEORIAS E MODELOS 
Profª Olga Lúcia Castreghini de Freitas 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Essa aula tem por objetivo realizar uma discussão essencial para que se 
possa compreender a perspectiva da Geografia como ciência. Trataremos de um 
conceito-chave da Geografia, o conceito de espaço; para tanto, faremos um 
sobrevoo para conhecer como esse conceito foi incorporado à Geografia ao longo 
do tempo e como se apresenta hoje. 
Daremos ênfase à contribuição analítica de Milton Santos, um renomado 
geógrafo brasileiro, que além de propor uma conceituação para espaço, também 
oferece ferramentas analíticas para que possa ser operacionalizado, por meio da 
proposição de um outro conceito, qual seja, o de Meio Técnico-Científico-
Informacional (MTCI). 
Além do conceito de espaço, temos outros muito importantes para a 
Geografia, que serão abordados futuramente, quando prosseguiremos com esse 
reconhecimento conceitual, inserindo os demais conceitos que também são 
essenciais para a leitura geográfica da realidade, respectivamente: território, 
região, lugar e paisagem. 
TEMA 1 – CONCEITO: DISCUSSÃO PRELIMINAR 
Os conceitos surgem para permitir a apreensão dos fenômenos. Por 
fenômeno podemos entender “algo que se mostra, revela ou manifesta na 
experiência” (Blackburn, 1997, p. 146). Portanto, uma das primeiras providências 
para se compreender um fenômeno é situá-lo no âmbito daquilo que já se conhece 
a seu respeito. Assim, devemos partir de formulações que permitem reconhecer 
tais fenômenos a partir do que propuseram aqueles que vieram antes de nós. 
 Por conceito podemos compreender 
um termo, em particular um predicado. Possuir um conceito é ter a 
capacidade de usar um termo que o exprima ao fazer juízos; essa 
capacidade está relacionada com coisas como saber reconhecer quando 
o termo se aplica, assim como poder compreender as consequências de 
sua aplicação. O termo ‘ideia’ foi inicialmente usado da mesma maneira, 
mas é hoje evitado devido a suas associações com as imagens mentais 
subjetivas, que podem ser irrelevantes para a posse de um conceito. 
(Blackburn, 1997, p. 66) 
 Os conceitos não podem ser compreendidos descontextualizados de um 
tempo e de um espaço específicos, na medida em que são construções sociais e 
não formulações cuja precisão independe do quando ou do onde. 
 
 
3 
 Sendo construções sociais, seu conteúdo é móvel ao longo do tempo e do 
espaço; contudo, por vezes, o mesmo termo é utilizado para expressar fenômenos 
distintos daqueles para os quais foram originalmente pensados – portanto, em 
outro tempo e em outro espaço. 
 Fourez (1995, p. 108), para fundamentar sua posição a respeito da 
assertiva de que os conceitos são construídos e não dados naturalmente, utiliza-
se do conceito de cidade, que é fruto de uma construção intelectual, não tendo 
sido construído por acaso, mas sim “em função de interesses precisos, 
historicamente determinados”, e dependente “de uma certa visão do mundo e de 
sociedade” (Fourez, 1995, p. 108). 
Ainda para o autor, “a definição construída cientificamente é uma tradução 
da noção corrente ligada a esse termo. Porém, ela não lhe é equivalente [...] na 
medida em que se quer precisa e determinada dentro de um âmbito teórico, jamais 
recobrirá a noção global que nós possuímos” (Fourez, 1995, p. 109). 
 Para além de contextos espaciais e temporais, a língua também concorre 
para a apreensão do conceito, sobretudo porque as traduções são aproximações 
entre distintas realidades, de modo que as palavras, na maioria das vezes, não 
conseguem capturar com a mesma competência a complexidade de noções que 
está por trás de um conceito. 
 Também é preciso recordar que a trajetória da Geografia, tratada 
anteriormente, compreende diferentes maneiras de ver o mundo, perpassadas por 
distintas compreensões da realidade e do próprio objeto da Geografia enquanto 
ciência moderna. 
 Por objeto podemos entender aquilo que dá sentido à determinada área do 
conhecimento; assim, tomada à luz da atualidade, a Geografia tem como objeto 
de estudo e análise, ou seja, como desafios e contribuição particular para 
compreender o mundo, uma perspectiva muito bem delimitada e definida, qual 
seja, o espaço. Também é preciso apontar os demais conceitos correlatos que 
trataremos na sequência, quais sejam: região, território, paisagem e lugar. 
Contudo, nem sempre foi assim; os objetos são determinações dos tempos 
em que se vive. Nos princípios da Geografia, era a superfície terrestre seu objeto; 
basta lembrar a própria etimologia do termo: Geo, “Terra”; graphen, “descrever”. 
Superfície e espaço são conceitos distintos e resultam, igualmente, em objetos de 
natureza diferenciada. 
 
 
4 
Desse modo, o conceito de espaço foi incorporado à Geografia, no interior 
do processo de constituição desse ramo do conhecimento, como trataremos a 
seguir. 
TEMA 2 – ESPAÇO: CONCEITO FUNDAMENTAL DA GEOGRAFIA 
Em seu texto Espaço, um conceito-chave da Geografia, Roberto Lobato 
Corrêa (2000), analisa a trajetória desse conceito ao longo da história da 
Geografia, demonstrando como, à luz de paradigmas diferentes, o conceito foi 
sendo modificado. Lembra também que, enquanto termo, está presente na 
linguagem do dia a dia, revelando que, para além de sua natureza conceitual 
específica para a Geografia, também tem sentidos corriqueiros – aliás, como 
ocorre com vários dos conceitos importantes para a Geografia (ex: região, lugar, 
paisagem, dentre outros). 
Santos (1994, p. 89) afirma que “a palavra espaço é uma dessas que 
abrigam uma multiplicidade de sentidos. [...] Impõe-se uma clara intenção 
epistemológica na conceituação do espaço e na busca de seus materiais 
analíticos”. 
Por isso, é importante saber que existe um debate qualificado no campo 
científico, de modo a não reproduzir seu sentido de senso comum quando se trata 
de um trabalho e/ou interpretação acadêmica. Várias áreas do conhecimento 
também utilizam o termo espaço, mas com sentidos distintos. 
Esse será nosso desafio nesta aula: entender a trajetória da inserção do 
conceito de espaço na Geografia, desde seus distintos paradigmas, até a 
proposição de um conceito que pode ser também uma chave analítica para a 
contemporaneidade. 
2.1 O espaço na Geografia tradicional 
Segundo Corrêa (2000), na Geografia tradicional predominavam os 
conceitos de paisagem, região natural, gênero de vida e diferenciação de área; o 
espaço não era um conceito-chave nesse momento histórico. 
Contudo, menção deve ser feita ao uso da expressão “espaço vital” por 
Ratzel, no âmbito de sua obra Antropogeografia, que tratava de uma teoria 
operacional aos ideais expansionista do Estado à época. Por espaço vital 
entendia-se a necessidade de ampliação do território quando a população de um 
 
 
5 
Estado apresentava elevada densidade e tomava, pela força, territórios vizinhos, 
de modo a ampliar seu espaço vital, ou seja, aquele necessário à vida de 
determinada sociedade (Barret et al., 2000). 
Nesse sentido, pode-se afirmar que o espaço não aparecia de modo 
explícito na Geografia, sendo tomado em sua condição de “receptáculo”, aquilo 
que contém os fenômenos, ou seja, muito próximo da noção de área. 
2.2 O espaço na Geografia teorética ou quantitativa 
No momento seguinte, da Geografia teorética ou quantitativa, o espaço 
aparece com relevância, mas numa concepção distinta da que veremos para a 
atualidade. Osconceitos de paisagem e região passam a ter pouca relevância, 
enquanto os de lugar e território praticamente não são tratados. 
Duas vertentes caracterizam a abordagem espacial nesse período, e serão 
importantes para compreendermos, posteriormente, a emergência de diversos 
modelos e teorias que tiveram muita influência na Geografia Humana e na 
Geografia Econômica. 
2.2.1 Espaço como planície isotrópica ou homogênea 
Refere-se a uma superfície plana, com as mesmas propriedades físicas em 
todas as direções, sendo, assim, abstrata, pois a realidade não se apresenta 
dessa forma. Isso será melhor compreendido quando analisarmos algumas 
teorias locacionais alinhadas a essa compreensão de espaço, com destaque para 
aquelas propostas por Von Thünen (1826); Christaller (1933) e Weber (1909), que 
serão devidamente conhecidas e trabalhadas nas aulas finais dessa disciplina. 
Para Corrêa (2000, p. 21), numa planície isotrópica 
a variável mais importante é a distância, aquela que determina em um 
espaço previamente homogêneo a diferenciação espacial [...] há uma 
uniforme densidade demográfica, de renda e de padrão cultural que se 
caracteriza, entre outros aspectos, pela adoção de uma racionalidade 
econômica fundada na minimização dos custos e maximização dos 
lucros ou da satisfação. A circulação nesta planície é possível em todas 
as direções. 
2.2.2 Espaço como representação matricial 
Outra vertente concebe o espaço como sendo representado por uma 
matriz. Harvey (1969) seria um dos autores responsáveis por essa perspectiva. 
Segundo Corrêa (2000, p. 22), 
 
 
6 
o espaço relativo é entendido a partir das relações entre os objetos, 
relações estas que implicam em custos- dinheiro, tempo, energia- para 
se vencer a fricção imposta pela distância. É no espaço relativo que se 
obtêm rendas diferenciais (de localização) e que desempenham papel 
fundamental na determinação do uso da terra [...] a geografia como uma 
ciência espacial, que estudaria fenômenos sociais e da natureza sob um 
ângulo comum, o espacial, que forneceria assim a unidade à geografia. 
Deste modo rios e lugares centrais poderiam ser analisados com o 
mesmo método e mesma linguagem. 
2.2.3 Geografia humanística e espaço vivido 
 Em retrospectiva acerca do conceito de espaço, não poderíamos deixar de 
mencionar outra abordagem, aquela que trata do espaço vivido, tributário da 
corrente denominada de Geografia humanística que, para alguns autores, ocorreu 
paralelamente à Geografia quantitativa (no Brasil nas décadas de 1970/80). O 
geógrafo Yi-Fu Tuan, autor da célebre obra Topofilia (cujo sentido seria algo como 
o elo afetivo entre a pessoa e o lugar), é o que melhor representa essa vertente. 
Segundo Corrêa (2000, p. 32), 
consideram-se os sentimentos espaciais e as idéias de um grupo ou 
povo sobre o espaço a partir da experiência [...] o espaço vivido é uma 
experiência contínua, egocêntrica e social, um espaço de movimento em 
um espaço-tempo vivido que se refere ao efetivo, ao mágico, ao 
imaginário. 
Saiba mais 
O livro Geografia: conceitos e temas é uma excelente fonte de informações 
sobre o tema desta aula. Em especial o capítulo de Roberto Lobato Corrêa, 
intitulado “Espaço: um conceito-chave da geografia, veja a referência a seguir: 
CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Org.) Geografia: conceitos 
e temas. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. 
CORRÊA, R. L. Espaço: um conceito-chave da geografia. In: CASTRO, I. E.; 
GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Org.) Geografia: conceitos e temas. Rio 
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p. 15-47. 
TEMA 3 – O ESPAÇO NA GEOGRAFIA CRÍTICA 
 Foi a partir dessa concepção de Geografia que o espaço adquiriu sua maior 
centralidade, apoiado na teoria marxista e revelando as contradições 
socioespaciais da sociedade capitalista. 
 
 
7 
 O espaço passa a ser compreendido como uma expressão da sociedade, 
como “o lócus da reprodução das relações sociais de produção” (Corrêa, 2000, p. 
25). 
 Nessa concepção, 
uma sociedade só se torna concreta através de seu espaço, do espaço 
que ela produz e, por outro lado, o espaço só é inteligível através da 
sociedade. Não há, assim, por que falar em sociedade e espaço como 
se fossem coisas separadas que nos reuniríamos a posteriori, mas sim 
de formação sócio-espacial. (Corrêa, 2000, p. 27) 
 Assim, o espaço deixa de ser compreendido como “palco” das ações da 
sociedade, para ser visto como um ato intrínseco ao ato de viver: quando se vive, 
se se trabalha, se produz espaço. 
 Aprofundaremos o conceito de espaço à luz da proposição de Milton Santos 
no próximo tema. Essa concepção representou uma grande transformação na 
forma de pensar e fazer Geografia. Metodologicamente, a lógica dialética 
favoreceu a compreensão da realidade, por meio das contradições intrínsecas ao 
modo de produção capitalista. 
3.1 O espaço e a virada cultural 
 No âmbito daquilo que se convencionou chamar de “virada cultural” e que, 
no Brasil na década de 1990, passou a ter influência no pensamento geográfico, 
o espaço tem menos relevância na discussão, sendo superado pelo estudo da 
paisagem. 
Esse período é, para Pedrosa (2016, p. 39) um momento de “afastamento 
lento do marxismo, mas, ao mesmo tempo, uma mistura de alguns de seus 
elementos com os debates da pós-modernidade”. Assim, temas como “o 
cotidiano, a vida material, as representações sociais e a identidade passam a ser 
o foco de algumas questões, incorporando, muitas vezes, o debate pós-moderno” 
(Pedrosa, 2016, p. 40). Gênero, raça (e seu sentido desde a dominação de certos 
grupos sociais) e classe social passam a ser tendências debatidas nesse 
momento. 
Em resumo, pode-se afirmar que essa vertente credita à cultura um peso 
maior na determinação dos fenômenos, sejam eles políticos ou econômicos, em 
relação ao que se fazia anteriormente. 
 
 
8 
A paisagem “teria o papel de produzir e reproduzir a cultura, ganhando 
novos significados e remodelações de acordo com os contextos sociais e 
históricos” (Pedrosa, 2016, p. 51). 
TEMA 4 – O ESPAÇO EM MILTON SANTOS 
 Ao tratar do conceito de espaço, não se pode deixar de considerar a 
contribuição do geógrafo brasileiro Milton Santos, seja pela sua importância no 
âmbito da Geografia brasileira, seja pelas contribuições que trouxe ao 
pensamento geográfico. 
 Para Santos, o espaço 
é formado por um conjunto indissociável, solidário e também 
contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não 
considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história 
se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos 
naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos 
fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, 
fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma 
máquina. Através da presença desses objetos técnicos: hidroelétricas, 
fábricas, fazendas modernas, portos, estradas de rodagem, estradas de 
ferro, cidades, o espaço é marcado por esses acréscimos, que lhe dão 
conteúdo extremamente técnico. O espaço é hoje um sistema de objetos 
cada vez mais artificiais, povoado por sistemas de ações igualmente 
imbuídos de artificialidade, e cada vez mais tendentes a fins estranhos 
ao lugar e seus habitantes. (Santos, 1996, p. 51) 
 Nesse conceito, Milton Santos reafirma suas proposições anteriores, ao 
tratar do espaço como a relação entre fluxos e fixos, ou seja, elementos materiais 
e imateriais que, em conjunto, produzem o espaço geográfico. 
 O espaço não é, portanto, limitado ao visível, fixo, material, mas só pode 
ser compreendido em sua relação indissociável com os fluxos, que são invisíveis, 
imateriais. Eis aí sua singularidade. 
 Assim, o espaço não é apenas um sistema de objetos. Na Figura 1, 
observamos a materialidade do espaço; nela vemos edifícios e ruas, mas essa 
materialidade só se transforma em espaço quanto a ela acrescentamos a 
dimensãoda ação, dos fluxos. A imagem não captura a dimensão que o anima, 
sem a qual não há espaço geográfico. 
 
 
 
 
 
9 
Figura 1 – Sistemas de objetos em Hong Kong: ruas, edifícios, rede elétrica 
 
Crédito: esb professional/Shutterstock. 
 Na Figura 2, observa-se aquilo a que Santos (1996) se refere como 
artificialidade, como objetos técnicos, verdadeiras próteses espaciais. 
Figura 2 – Malha viária: sofisticado sistema de objetos 
 
Crédito: blue planet studio/Shutterstock. 
 Ao tratar da produção do espaço, não nos limitamos ao meio urbano; as 
artificialidades estão também cada vez mais presentes no campo. As Figuras 3 e 
4 mostram, respectivamente, o uso de drones na agricultura, e robôs como 
facilitadores do cultivo de plantas, demonstrando a sofisticação técnica que 
caracteriza o momento presente. 
 Contudo, uma advertência deve ser feita: esses objetos técnicos não estão 
igualmente distribuídos pelo mundo – pelo contrário, são seletivos. Essa 
seletividade se explica pelo papel de cada porção do espaço na lógica capitalista 
e pelo seu protagonismo ou subalternidade nas relações estabelecidas. 
Figura 3 – Fertilização por drones 
 
 
10 
 
Crédito: suwin/Shutterstock. 
Figura 4 - Produção de melão, assistida por robôs 
 
Crédito: feelgoodluck/Shutterstock. 
Saiba mais 
Para conhecer um pouco mais do pensamento desse importante geógrafo 
brasileiro, sugerimos que procure e assista o documentário a seguir e consulte 
também o site do autor, que traz diversos textos, além da biografia do autor. 
• ENCONTRO com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá. Direção: 
Silvio Tendler. Brasil, 2007. 89 min. 
• MILTON SANTOS. Disponível em <http://miltonsantos.com.br>. Acesso em: 11 
fev. 2019 
TEMA 5 – O MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL (MTCI) 
Como coroamento da proposição de Santos acerca do espaço, podemos 
distinguir a formulação do conceito de de Meio Técnico-Científico-Informacional – 
MTCI. Trata-se do reconhecimento de que os acréscimos ao espaço natural foram 
mudando de qualidade com o passar do tempo, numa complexidade crescente. 
Ao meio natural acrescentou-se a técnica; à técnica acrescentou-se a densidade 
científica, e à ela a densidade informacional, característica maior da atualidade. 
 
 
11 
Portanto, o espaço é produto desse processo. O espaço perdeu, com a 
complexidade do mundo, sua característica de natural; nada mais é natural. 
Santos (1994, p. 51) afirma que 
O meio geográfico em via de constituição (ou de reconstituição) tem uma 
substância científico-tecnológico-informacional. Não é nem meio natural, 
nem meio técnico. A ciência, a tecnologia e a informação estão na base 
mesma de todas as formas de utilização e funcionamento do espaço, da 
mesma forma que participam da criação de novos processos vitais e da 
produção de novas espécies (animais e vegetais). É a cientifização e a 
tecnicização da paisagem. É, também, a informatização, ou antes, a 
informacionalização do espaço. A informação tanto está presente nas 
coisas como é necessária à ação realizada sobre essas coisas. Os 
espaços assim requalificados atendem sobretudo a interesses dos 
atores hegemônicos da economia e da sociedade, e assim são 
incorporados plenamente às correntes de globalização. 
 Um desdobramento importante dessa proposição é que o MTCI não se 
difunde igualmente por todos os lugares; ao contrário, há áreas que Santos (1994, 
p. 51-52) denomina de 
áreas de densidade (‘zonas luminosas’), área praticamente vazias 
(zonas ‘opacas’) e uma infinidade de situações intermediárias estando 
cada combinação à altura de suportar as diferentes modalidades do 
funcionamento das sociedades em questão. Esse meio técnico, 
científico e informacional está presente em toda a parte, mas suas 
dimensões variam de acordo com continentes, países, regiões: 
superfícies contínuas, zonas mais ou menos vastas, simples pontos. 
A partir dessa concepção, Santos nos oferece uma possibilidade de pensar 
o Brasil. O MTCI é, portanto, uma forma de expressão de uma etapa mais 
sofisticada da divisão territorial do trabalho. Segundo Santos e Silveira (2002, p. 
140), pode-se reconhecer no Brasil uma região concentrada, ou seja, uma região 
onde os novos objetos apresentam-se de modo mais generalizado no território, 
com a presença das infraestruturas fundamentais para o período atual. 
Assim, Santos e Silveira (2002) empreendem um esforço no sentido de 
pensar o Brasil por meio de variáveis relacionadas ao meio técnico-científico-
informacional, observando que as desigualdades territoriais contemporâneas se 
assentam em novas variáveis dispostas em pares contraditórios, respectivamente 
zonas de densidade e rarefação; fluidez e viscosidade; espaços da rapidez e da 
lentidão; espaços luminosos e opacos; espaços que mandam e espaços que 
obedecem. 
• Zonas de densidade e de rarefação: “o território mostra diferenças de 
densidades quanto às coisas, aos objetos, aos homens, aos movimentos 
 
 
12 
das coisas, dos homens, das informações, do dinheiro e também das 
ações” (Santos; Silveira, 2002, p. 260) 
• Fluidez e viscosidade: a fluidez pode ser percebida na criação de 
“condições para maior circulação dos homens, dos produtos, do dinheiro, 
da informação, das ordens etc.”. (Santos; Silveira, 2002, p. 261). Os 
sistemas de engenharia facilitam o movimento e o processo de criação de 
fluidez é seletivo; portanto, está presente em certas porções do território e 
ausente – ou menos presente –, em outras. 
• Espaços da rapidez e da lentidão: “os espaços da rapidez são, do ponto 
de vista material, os dotados de maior número de vias (e de vias com boa 
qualidade), de mais veículos privados (e de veículos mais modernos e 
velozes), de mais transportes públicos (com horários mais frequentes, 
convenientes e precisos e também mais baratos). Do ponto de vista social, 
os espaços da rapidez serão aqueles onde é maior a vida de relações”. 
(Santos; Silveira, 2002, p. 263) 
• Espaços luminosos e opacos: por espaços luminosos, Santos e Silveira 
(2002, p. 264), denominam “aqueles que mais acumulam densidades 
técnicas e informacionais”, tornando-se, dessa forma, “mais aptos a atrair 
atividades com maior conteúdo em capital, tecnologia e organização”. Por 
outro lado, nos espaços opacos, observa-se, em contraposição, a ausência 
dessas características. 
• Espaços que mandam e espaços que obedecem: Por fim, há espaços 
que apresentam um maior número de funções diretoras; esses seriam os 
espaços que mandam, são os ordenadores da produção, do movimento e 
do pensamento sobre o território. Apresentam papel central na localização 
de entidades públicas e privadas. 
Desse modo, em tempos de globalização, essas desigualdades territoriais 
produziram uma nova divisão territorial do país, resultando na proposição, pelo 
autor, de Quatro Brasis, a saber: 
• Região concentrada, formada, grosso modo, pelo Sudeste e Sul e 
caracterizada “pela implantação mais consolidada dos dados da ciência, da 
técnica e da informação” (Santos; Silveira, 2002, p. 269). Nela, o MTCI se 
implantou sobre uma base urbanizada, onde as demandas do mundo 
globalizado encontram respostas modernas e compatíveis com o período 
 
 
13 
histórico atual. Atividades de ponta do terciário estão presentes, dentre elas 
a financeira. São Paulo segue sendo a mais importante metrópole do país, 
com elevadas densidades de redes de todo tipo: de consumo, de 
infraestrutura, de finanças etc. A agricultura moderna também está 
presente nessa porção do território. 
• Brasil do Nordeste, caracterizado por um povoamento antigo, pela 
presença de um meio mecanizado pontual e pouco denso e pela herança 
da ocupação econômica antiga. Nele, o MTCI se apresenta apenas como 
manchas localizadas no território. 
• Região Centro Oeste, é caracterizada por uma ocupação periférica 
recente e na qual o MTCI se estabeleceu sobre um território “natural”, 
conformandoáreas de agricultura globalizada, de precisão, e com fazendas 
modernas produzindo commodities como soja, milho e algodão, com 
intenso consumo de fertilizantes e defensivos agrícolas. 
• Amazônia, caracterizada por rarefação demográfica e baixas densidades 
técnicas. Nela, o MTCI se materializa como pontos esparsos no território. 
Essa regionalização pode ser observada na Figura 5, embora uma 
advertência seja necessária: nem sempre o MTCI está circunscrito aos limites 
político-administrativos dos estados. Assim, essa representação é apenas uma 
aproximação e não deve ser vista como definitiva, tendo em vista especialmente 
o avanço do agronegócio por porções do território, “borrando” tais limites. 
 
 
 
14 
Figura 5 – Meio técnico-científico-informacional e as regiões do Brasil – 1999 
 
Fonte: Elaborado com base em Santos, 2002, p. LXIV. 
Portanto, à luz dessa proposição teórica, podemos encontrar subsídios 
analíticos para pensar sobre elementos concretos de nosso país e para 
reconhecer o processo de constituição do espaço com suas especificidades. 
Saiba mais 
Aprofunde a compreensão de MTCI por meio das seguintes leituras: 
• SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo. Globalização e meio técnico-científico-
informacional. São Paulo: Hucitec, 1994. 
• SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do 
século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2002. 
 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
BARRET, C. et al. Dictionnaire de géographie humaine. Paris: Liris, 2000. 
BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 
1997. 
CORRÊA, R. L. Espaço: um conceito-chave da geografia. In: CASTRO, I. E.; 
GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (Orgs.) Geografia: conceitos e temas. Rio 
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p. 15-47. 
FOUREZ, G. A construção das ciências. São Paulo: Ed. Unesp, 1995. 
HARVEY, D. Explanation in Geography. London: Edward Arnold, 1969. 
PEDROSA, B. V. O Império da representação: a virada cultural e a geografia. 
Espaço e Cultura, v. 1, n. 39, p. 31-58, 2016. 
SANTOS, M. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. São 
Paulo: Hucitec, 1996. 
_____. Técnica, espaço, tempo. Globalização e meio técnico-científico-
informacional. São Paulo: Hucitec, 1994. 
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século 
XXI. Rio de Janeiro: Record, 2002. 
 
AULA 3 
GEOGRAFIA HUMANA E 
ECONÔMICA – CONCEITOS, 
TEORIAS E MODELOS 
Profª Olga Lúcia Castreghini de Freitas 
 
 
2 
CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA A ANÁLISE GEOGRÁFICA (PARTE 2): 
REGIÃO, TERRITÓRIO, PAISAGEM, LUGAR, REDE 
CONVERSA INICIAL 
Além do conceito de espaço, tratado anteriormente, vários outros são 
basilares para a análise geográfica. Nesta aula vamos destacar cinco deles, os 
quais permeiam os estudos no âmbito da geografia desde sua origem. Contudo 
– como já advertimos antes – embora o termo se mantenha, seu conteúdo 
sofreu considerável alteração ao longo da história da geografia. 
Trataremos, assim, dos conceitos de região, território, paisagem, lugar e 
rede, todos eles, para além de sua perspectiva acadêmica, possuem também 
uma compreensão popular, pois são utilizados no dia a dia, o que requer 
atenção, pois, além desse uso cotidiano, no âmbito da geografia, tais termos se 
transformam em conceitos e, portanto, são objeto de reflexões teóricas e 
construções que se alteram com o passar do tempo. 
Além dessa perspectiva cotidiana, esses conceitos também perpassam 
uma série de outras áreas do conhecimento – sociologia, economia, urbanismo, 
dentre outras – na medida em que se referem ao que podemos denominar de 
escalas espaciais e de ação das pessoas e das políticas públicas, dentre outras. 
Iniciaremos nosso percurso pela compreensão desses conceitos, 
conhecendo a relevância deles em cada momento da história da geografia para 
perceber como eles foram se alterando. Daremos ênfase especial ao momento 
presente e como os conceitos podem contribuir para a explicação do mundo em 
sua perspectiva espacial. 
TEMA 1 – REGIÃO 
 A preocupação com a região é antiga na geografia. Ritter, ainda no século 
XIX, dedicou-se a estudar e propor regiões com base em critérios naturais, 
buscando assim sua singularidade em meio à totalidade do mundo. Nessa época 
destacam-se os estudos comparativos. 
Com isso, a questão geral versus regional estava também no cerne dessa 
área do conhecimento nascente à época, assim como a perspectiva 
metodológica nomotética versus idiográfica, ou seja, aquela que busca leis 
 
 
3 
universais e aquela que prioriza os casos individuais. Essa dupla perspectiva 
está, desta maneira, na própria origem da geografia científica. 
1.1 A região na geografia tradicional ou clássica 
Na geografia tradicional ou clássica o método regional (denominado de 
monografia regional) era o grande referencial de estudos da geografia. Este 
consistia em, de acordo com Lencioni (1999, p. 105), 
conter uma análise detalhada do meio físico, das formas de ocupação, 
das atividades humanas e de como o homem se ajusta à natureza. O 
olhar sobre a natureza deveria conter uma perspectiva histórica na 
análise da relação homem-meio. Fundamentalmente, a monografia 
regional deveria estabelecer a integração dos elementos físicos e 
sociais e acrescentar uma visão sintética de região. 
 Essa perspectiva, embora ultrapassada no âmbito da geografia científica 
na atualidade, ainda perpassa muitas visões equivocadas do trabalho do 
geógrafo, em especial no âmbito da geografia escolar, ou seja, a identificação da 
geografia como a ciência da “compilação” dos elementos de determinada porção 
do espaço. 
É importante lembrar que, na atualidade, com o avanço das Novas 
Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs), não cabe mais à geografia 
o papel de detentora de informações sobre o espaço, tarefa que foi essencial 
num momento histórico em que o mundo ainda era apenas parcialmente 
conhecido e que a catalogação de elementos geográficos era essencial. Hoje, no 
entanto, seu papel não pode ser esse, visto que qualquer mecanismo de busca 
na internet nos oferece mais detalhes e informações sobre o espaço do que 
qualquer pessoa seria capaz de fazê-lo. Nosso papel deve ser, então, o 
analítico, o de oferecer leituras da realidade que permitam contribuir para 
desvendar as dinâmicas espaciais, seus conflitos e suas contradições. 
Outra contribuição importante para pensar a região na geografia foi a de 
Alfred Hettner (1859-1941); para ele, a preocupação principal da geografia era a 
diferenciação da superfície terrestre; “para Hattner, o objeto da geografia não é o 
estudo da relação homem e meio, mas da diferenciação da superfície terrestre”. 
Essa perspectiva foi desenvolvida posteriormente por Hartshorne e conhecida na 
geografia regional como a de diferenciação de áreas ou diferenciação espacial. 
Desse modo, “a região, como individualidade espacial, se constituiria, 
portanto, parte da totalidade; ou seja, uma parte da superfície terrestre [...] os 
 
 
4 
recortes feitos na realidade são provenientes do exercício intelectual, não 
existindo em si mesmo” (Lencioni, 1999, p. 123). 
Importante observação deve ser destacada: a região não existe em si 
mesma, ou seja, cada região é definida com base em determinados critérios, de 
determinado olhar, de determinada intencionalidade. Por isso, convivemos com 
uma variedade imensa de recortes regionais, como exemplificaremos 
posteriormente. 
Devemos também salientar a questão da escala da região, quais os 
limiares inferiores e superiores nessa definição? Isso também depende da 
realidade que se quer regionalizar. 
1.2 A região na geografia quantitativa ou teorética 
 Sob influência de Hartshorne, a região é compreendida na geografia 
quantitativa ou teorética como uma possibilidade de estabelecimento de leis 
gerais, assim, “tudo o que é geográfico deve encontrar uma linguagem 
matemática; por assimdizer, uma expressão matemática [...] a região se tornou 
um instrumento técnico-operacional, a partir do qual se procurou organizar o 
espaço” (Lencioni, 1999, p. 134). 
 O método científico passou a ser a referência na definição da região, 
superando a visão anterior das monografias. 
Nessa perspectiva, emerge o planejamento regional, como possibilidade 
concreta de intervenção no espaço, abrindo um novo campo de trabalho para a 
geografia. Disso decorre, no Brasil, em final da década de 1970, a 
regulamentação da profissão de Bacharel em Geografia ou geógrafo. 
 Emerge também a teoria dos sistemas como possibilidade de apreensão 
da região, entendida como uma parte de um sistema. A análise regional lança 
mão de técnicas estatísticas e matemáticas, como variáveis, matrizes e 
equações. 
 Três enfoques acerca do conceito de região prevalecem nesse período, 
respectivamente: 
1. A região homogênea: aquela cujas características interiores são mais 
semelhantes entre si do que com o exterior. Essa homogeneidade pode 
ser de recursos naturais, renda, traços culturais, produção e consumo, 
dentre outras. 
 
 
5 
2. A região polarizada: exprime a organização de determinada região a partir 
da interdependência de uma ou várias cidades, capaz de polarizar uma 
porção do espaço que é heterogêneo. 
3. A região-plano ou de programa: região administrativa, conceito 
operacional, relacionado, portanto, à gestão político-administrativa. 
 A relevância da região é reconhecida também por outros campos do 
conhecimento, o que resultou no surgimento, nos anos de 1950, de uma nova 
área denominada ciência regional ou economia espacial, congregando 
economistas, geógrafos, cientistas políticos, sociólogos, dentre outros. 
Walter Isard (1919-2010) é uma das referências dessa nova disciplina, 
cujo objetivo é estudar “a intervenção humana no território” (Benko, 1999, p. 7). 
Preocupa-se, desse modo, com a repartição das atividades econômicas no 
território. 
 Para Benko (1999, p. 11), “o aparecimento e o desenvolvimento da 
economia regional no pós-guerra encontram-se ligados à qualificação estatal da 
região como um problema. A região impõe-se deste modo como objecto de 
análise económica porque se torna na preocupação que se traduz na 
necessidade de uma política”. 
1.3 A região na geografia sob influência da fenomenologia 
Nessa vertente a principal preocupação passou a ser com o espaço 
vivido, “aquele que é construído socialmente a partir da percepção das pessoas. 
Espaço vivido e, mais que isso, interpretado pelos indivíduos. Igualmente, 
espaço vivido como revelador das práticas sociais” (Lencioni, 1999, p. 153). 
Com isso, é o lugar que ascende como referência espacial – como 
veremos adiante – mas não o lugar concreto, objetivo, o lugar como significado 
particular, como subjetividade e resultado das experiências individuais das 
pessoas. Insere-se a perspectiva de que os laços afetivos criam identidade 
regional, com isso “a identidade dos homens com a região se tornou, então, um 
problema central na Geografia Regional de inspiração fenomenológica” 
(Lencioni, 1999, p. 154). Ênfase é dada nas construções mentais sobre a região; 
como técnica, coloca-se a construção de mapas mentais. 
 
 
 
6 
1.4 A região à luz do pensamento crítico 
No âmbito da geografia crítica ou radical, a região passou a ser vista 
como parte de uma totalidade; não que tal visão fosse inovadora em relação às 
correntes anteriores, mas porque a natureza da totalidade é que era distinta; 
tratava-se, agora, de uma totalidade histórica, e temas como desenvolvimento 
desigual e combinado ou subdesenvolvimento, foram privilegiados. A região 
passou a ser analisada como resultante da divisão territorial do trabalho, inserida 
na dinâmica do modo de produção capitalista. 
1.5 A região na pós-modernidade 
Nessa etapa a região perde seu protagonismo, substituída por outras 
escalas, em especial às do global e do local. É como se o nível regional fosse 
esvaziado em função dessas novas escalas emergentes. 
TEMA 2 – REGIONALIZAÇÃO: PERSPECTIVAS APLICADAS 
Por regionalização podemos entender o ato de criar regiões para uma 
determinada porção do espaço. Como afirmado anteriormente, essa ação é 
intencional; regionaliza-se com base em uma determinada necessidade: as 
regiões não são dadas naturalmente, mas são formas de olhar o espaço e 
buscar porções com semelhanças entre si à luz de determinada problemática. 
No âmbito nacional, normalmente a definição de regiões está associada a 
políticas públicas, o que resulta numa diversidade de recortes regionais sobre 
um mesmo espaço. 
Dessa forma, é comum observarmos a superposição de regiões sobre um 
mesmo espaço, de modo a atender lógicas distintas de intervenção. Nesse caso, 
as regiões podem ser compreendidas como entidades espaciais de escala 
média, entre o local e o nacional. 
 Dessa forma, “a região não existe em si mesma, ela não é objeto de 
estudo no significado restrito do termo, pois ela se conforma no final do processo 
de investigação, processo esse que com a elaboração de critérios definidos no 
processo de investigação constrói o recorte espacial” (Lencioni, 1999, p. 201). 
A região “tem um sentido bastante conhecido como unidade 
administrativa e, neste caso, a divisão regional é o meio pelo qual se exerce 
frequentemente a hierarquia e o controle na administração dos Estados” 
 
 
7 
(Gomes, 1995, p. 53). Assim, é comum observarmos a proposição operacional, e 
diversas regionalizações. 
Saiba mais 
Como resultado da discussão anterior, exemplificamos, a seguir, algumas, 
dentre as diversas possibilidades de regionalização do Estado do Paraná. 
Procure informações acerca das regionalizações existentes em seu Estado e 
entenda melhor essa temática. 
Figura 1 – Estado do Paraná: regiões administrativas, 2015 
 
Fonte: Ipardes, 2015. (Disponível em: <http://www.ipardes.gov.br/biblioteca/docs/Documentacao
_Criacao_RA_Outubro2015.pdf>. Acesso em: 5 jul. 2019). 
Figura 2 – Estado do Paraná: regionais de saúde 
 
Fonte: Paraná, 2009. (Disponível em: <http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/PDR_atualizado
__Edson.pdf>. Acesso em: 5 jul. 2019. 
 
 
8 
Figura 3 – Estado do Paraná: regionalização turística 
 
Fonte: Secretaria do Esporte e do Turismo do Estado do Paraná, 2017. (Disponível em: 
<http://www.turismo.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=946>. Acesso em: 5 
jul. 2019. 
Figura 4 – Estado do Paraná: Núcleos Regionais de Educação 
 
Fonte: SEED, S.d. (Disponível em: <http://www.nre.seed.pr.gov.br/>. Acesso em: 5 jul. 2019). 
 
 
9 
2.1 Escalas da regionalização 
A escala da regionalização pode variar de desde aquela que toma o 
mundo todo como totalidade e propõe uma regionalização, agrupando aquelas 
áreas com alguma(s) característica(s) semelhante(s) entre si, passando pela 
escala nacional (Figuras 5 e 6), e a proposição do que também podemos 
denominar de macrorregiões, ou mesmo escalas intermediárias dentro de uma 
mesma unidade territorial como – no caso do Brasil, os estados – e até mesmo 
chegar à escala da cidade, na qual, por vezes, identificamos regiões-
administrativas que funcionam como uma espécie de descentralização do 
governo municipal. 
Quando tomamos o mundo como totalidade, a regionalização mais 
conhecida é aquela que o divide considerando elementos da natureza, em 
especial a partir da continuidade de terras separadas entre si pelos oceanos, 
formando assim, os continentes (Figura 7). 
 Mais recentemente, características da economia e sociedade criaram 
divisões regionais do mundo; as mais conhecidas são: países desenvolvidos e 
países subdesenvolvidos; primeiro, segundo e terceiro mundos; países centrais 
e países periféricos; países emergentes, países pobres e países ricos. 
 Quando elementos da economia prevalecem, seja como potencialidades 
de produção, seja como interesses comerciais semelhantes,novos 
agrupamentos surgem, podemos destacar os mais conhecidos: EU (União 
Europeia); Mercosul (Mercado Comum do Sul); NAFTA (North American Free 
Trade Agreement – “Tratado Norte-Americano de Livre Comércio”) (Figuras 8 e 
9). 
 
 
 
10 
Figura 5 – Brasil: divisão em macrorregiões 
 
 
Crédito: Luisrftc/Shutterstock. 
Figura 6 – Regiões administrativas na França (2016) 
 
Crédito: Rainer Lesniewski/Shutterstock. 
 
 
11 
Figura 7 – Mundo regionalizado em continentes 
 
Crédito: Pyty/Shutterstock 
Figura 8 – MERCOSUL 
 
Crédito: Peter Hermes Furian/Shutterstock. 
 
 
12 
Figura 9 – União Europeia 
 
Crédito: Peter Hermes Furian/Shutterstock. 
Saiba mais 
Na Bahia, o Governo do estado propôs uma regionalização baseada na 
definição daquilo que foi denominado de Territórios de Identidade, 26 no total, o 
que pode ser pesquisado nos links oficiais da SEI (Superintendência de Estudos 
Econômicos e Sociais do Estado da Bahia). 
TEMA 3 – TERRITÓRIO 
Território difere conceitualmente tanto de espaço como de região. 
Território é uma porção do espaço apropriado por um grupo humano, que o 
controla e o delimita. Por vezes a noção de território está relacionada a uma 
jurisdição político-administrativa, como o território nacional, estadual ou 
municipal, prevalecendo sua dimensão funcional, mas seu sentido vai além 
desse. Território pressupõe relações de poder sobre determinada parcela do 
espaço, cujos limites não são precisos e podem ser móveis e transitórios. Nesse 
caso, a dimensão simbólica prevalece. 
 
 
13 
 Assim, o território do narcotráfico, por exemplo, se constitui por uma 
porção do espaço cuja lógica de dominação e controle provém do tráfico de 
drogas. Os territórios da prostituição se revelam, na maioria das vezes, por meio 
da apropriação de porções do espaço em certos momentos do dia, normalmente 
no período noturno, revelando usos e lógicas distintas de dia e de noite, 
conformando, igualmente, distintos territórios. 
Originalmente, a noção de território esteve diretamente ligada à área de 
domínio de certos animais, cujo processo de delimitação de seus territórios 
implicava numa apropriação biológica. 
Recentemente, um grande debate tem se estabelecido a respeito da 
criação e/ou do desaparecimento de territórios, processo que Haesbaert (2004) 
denomina de desterritorialização (para o desaparecimento) e reterritorialização 
(para a criação). Isso se daria em função da emergência de novas lógicas, em 
especial a das redes, que transformaria o mundo de territorial para reticular, ou 
conectado por redes, num processo de ligações não contíguas no espaço. 
 Haesbaert (2004), começa seu livro intitulado O mito da 
desterritorialização indagando se o mundo estaria passando pelo processo de 
desterritorialização, ou, como muitos afirmam se estaríamos numa etapa 
caracterizada pelo “fim dos territórios”, “sob o impacto dos processos de 
globalização que ‘comprimiram’ o espaço e o tempo, erradicando as distâncias 
pela comunicação instantânea e promovendo a influência de lugares os mais 
distantes uns sobre os outros, a fragilização e todo tipo de fronteira e a crise da 
territorialidade dominante” (Haesbaert, 2004, p. 19-20). 
Podemos também exemplificar o processo de des-re-territorialização por 
meio de um exemplo simples: um grupo de imigrantes que, ao sair de seu 
território de origem, deixa para trás não apenas os elementos físicos, concretos 
daquele lugar, mas também seus laços identitários. Ao se fixar noutro lugar, 
preocupa-se em recompor os elementos deixados para trás, recriando seu modo 
de vida, refundando elementos de sua cultura e vida cotidiana, de seu trabalho, 
de suas crenças, mantendo viva a língua original, dentre outros. Ao proceder 
dessa maneira, podemos afirmar que o que ocorre é a reconstrução de seu 
território, porém em outro local, que, originalmente, não tinha conexões com 
suas origens. Esse processo recria, reterritorializa esse grupo que foi 
desterritorializado por força de seu deslocamento. 
 
 
14 
 Como síntese desse debate, Haesbaert sugere a priorização de outro 
enfoque: o da multiterritorialidade, entendida como 
uma alternativa conceitual dentro de um processo denominado por 
muitos como “desterritorialização”. Muito mais do que perdendo ou 
destruindo nossos territórios, ou melhor, nossos processos de 
territorialização (para enfatizar a ação, a dinâmica), estamos na maior 
parte das vezes vivenciando a intensificação e complexificação de um 
processo de (re)territorialização muito mais múltiplo, "multiterritorial". 
(Haesbaert, 2007, p. 19) 
O conceito de território tem sido apropriado por diversas áreas das 
ciências sociais, revelando o reconhecimento da importância da dimensão 
espacial para a compreensão da sociedade. 
 Haesbaert e Limonad (2007, p. 42) apresentam os seguintes 
pressupostos necessários para a compreensão do conceito de território: 
• primeiro, é necessário distinguir território e espaço (geográfico); eles 
não são sinônimos, apesar de muitos autores utilizarem 
indiscriminadamente os dois termos – o segundo é muito mais amplo 
que o primeiro. 
• o território é uma construção histórica e, portanto, social, a partir das 
relações de poder (concreto e simbólico) que envolvem, 
concomitantemente, sociedade e espaço geográfico (que também é 
sempre, de alguma forma, natureza); 
• o território possui tanto uma dimensão mais subjetiva, que se propõe 
denominar, aqui, de consciência, apropriação ou mesmo, em alguns 
casos, identidade territorial, e uma dimensão mais objetiva, que pode-
se denominar de dominação do espaço, num sentido mais concreto, 
realizada por instrumentos de ação político-econômica. 
 Continuam os autores, “Nas sociedades tradicionais prevaleceria uma 
construção de territórios baseada em áreas ou zonas e nas sociedades 
modernas predominaria a construção de territórios onde o elemento dominante 
seriam as redes ou a geometria dos pontos e linhas” (Haesbaert; Limonad, 2007, 
p. 43). 
 O Quadro 1 apresenta um esforço de síntese elaborado por Haesbaert e 
Limonad (2007, p. 45), de modo a demonstrar as diferentes abordagens 
relacionadas ao conceito de território. 
 
 
 
15 
Quadro 1 – As abordagens conceituais de território em três vertentes básicas 
 
Fonte: Haesbaert; Limonad, 2007, p. 45. 
Santos (2002), por sua vez, introduz a noção de território usado. Para o 
autor: 
O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de 
sistemas de coisas superpostas. O território tem que ser entendido 
como o território usado, não o território em si. O território usado é o 
chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer 
àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho, o 
lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício a 
vida. (Santos, 2002, p. 10) 
 Essa proposição foi praticamente a última empreitada teórica levada a 
frente por Milton Santos, antes de seu falecimento no ano de 2001. O autor 
propôs o conceito de território usado que, como ele afirma, relaciona-se ao 
exercício da vida. 
 Considerando as várias possibilidades de interpretação do conceito de 
território, e de resto de vários conceitos que estamos tratando nesse curso, o 
importante é sempre explicitarmos a opção teórico-conceitual que adotamos em 
 
 
16 
nosso trabalho, cercando-nos de amplo referencial bibliográfico. Por isso é 
fundamental a leitura dos textos indicados na bibliografia. 
TEMA 4 – PAISAGEM E LUGAR 
 A seguir trataremos de dois conceitos importantes para a geografia: 
paisagem e lugar. 
4.1 Paisagem 
O conceito de paisagem está presente na geografia desde seus 
primórdios. Todavia sua importância oscilou ao longo do tempo, sendo 
resgatado mais recentemente no bojo da virada cultural, sobre a qual tratamos 
em anteriormente. 
Como precursores dos estudos da paisagem na geografia podemos citar, 
ainda no século XIX, os alemãesOtto Schlüler e August Meitzen, além de Carl 
Sauer no início do século XX. 
Inicialmente a paisagem era compreendida em estreita relação com as 
artes, em especial a pintura. Retratar paisagens significava, assim, revelar a 
aparência de porções do espaço, resultantes especialmente da relação entre 
elementos da natureza e criados pelo homem. 
Figura 10 – Paisagem retratada em pintura 
 
Crédito: Yarikart/Shutterstock. 
 
 
17 
 Desse modo, podemos afirmar que a paisagem é aquilo que se revela 
como forma espacial e sua apreensão não necessariamente é capaz de revelar 
a estrutura dos locais observados, tampouco os processos que lhe deram 
origem. 
 Dunlop (2009, p. 18), afirma que se trata de uma “percepção subjetiva e 
instantânea, bem diferente de uma porção do espaço terrestre objetivo [...] a 
paisagem é antes de tudo um olhar sobre o mundo, que se faz desde um ponto 
de vista particular e num momento particular”. 
 A paisagem revela uma representação que ocorre a partir da visão do ser 
humano sobre seu ambiente. Por isso, há uma associação imediata entre 
paisagem e pintura ou fotografia, de modo específico e com o campo das artes, 
de modo geral. 
A paisagem pode ser entendida como o “tempo cristalizado” (Barret et al., 
2000, p. 136). Sua compreensão fomenta fortes laços com a arquitetura e com 
as artes, dentre outras, além de relações multidimensionais e multissensoriais. 
Recentemente, novas dimensões da apreensão da paisagem têm sido 
enfatizadas, em especial: paisagens olfativas – o(s) cheiro(s) dos lugares; 
paisagens sonoras – o(s) som(ns) dos lugares; paisagens do tato – aquelas que 
se formulam a partir da sensibilidade dos cegos; dentre outras. 
4.2 Lugar 
Lugar aparece como conceito-chave na vertente da geografia 
humanística, que tem na fenomenologia seu embasamento metodológico. 
O geógrafo mais conhecido a elaborar o conceito de lugar como resultado 
da experiência individual que as pessoas desenvolvem com o meio foi Yi-Fu 
Tuan, em especial ao publicar sua célebre obra denominada Topofilia (1980), 
definida como o elo afetivo entre a pessoa e o lugar. 
Portanto, a ideia de pertencimento está diretamente relacionada ao lugar, 
bem como a percepção das pessoas sobre o meio. Desta maneira, lugares são 
distintos dependendo da apreensão individual das pessoas. Por exemplo, uma 
mesma rua pode significar sentimentos positivos para uma pessoa que teve uma 
experiência agradável nela e, por outro lado, pode ser evitada ou negada por 
outra pessoa que nela foi assaltada. Assim, a percepção do lugar não é 
absoluta, mas depende das experiências e sentimentos individuais. 
 
 
18 
Mais recentemente, uma importante discussão emergiu no âmbito das 
ciências sociais, especificamente da antropologia, com base na proposição feita 
por Augé (2012) da noção de não lugar. 
Reconhecendo o mundo acelerado em que vivemos – período este 
denominado pelo autor de supermodernidade, e em oposição ao conceito de 
lugar, o não lugar se forma a partir das demandas do mundo globalizado, que 
implanta formas espaciais e equipamentos semelhantes em todo o planeta, 
criando uma espécie de contraidentidade, ou seja, aniquilando as identidades 
locais-regionais em função da implantação de uma certa identidade global, 
promovida pelos impulsos da globalização. 
Nas palavras do autor, “Os não lugares são tanto as instalações 
necessárias à circulação acelerada das pessoas e bens (vias expressas, trevos 
rodoviários, aeroportos) quanto os próprios meios de transporte ou os grandes 
centros comerciais, ou ainda os campos de trânsito prolongados onde são 
alojados os refugiados do planeta” (Augé, 2012, p. 36). 
A Figura 11, mostra um exemplo de não lugar, desde a proposição de 
Áuge: no campo de refugiados, observamos a padronização das barracas a 
ordem em sua disposição, os mesmos materiais construtivos, dentre outros, que 
aniquilam qualquer possibilidade de ligação identitária e afetiva como o lugar, 
também porque sua natureza é transitória, tratando-se de um local de 
passagem. 
Figura 11 – Campo de refugiados no Iraque (2016) 
 
Crédito: Matus Duda/Shutterstock 
 
 
19 
 As Figuras 12, 13 e 14, mostram o interior dos aeroportos em diferentes 
porções do planeta. Revela-se nestas uma brutal semelhança de elementos 
arquitetônicos, assim como na padronização das informações e na disposição 
dos objetos ao ponto que, se fizéssemos um exercício de levar alguém de olhos 
vendados a qualquer aeroporto internacional do mundo e tirássemos a venda na 
área central do aeroporto, seguramente essa pessoa não teria elementos para 
saber em que cidade e em que país estaria. Essa é a reflexão que motivou Augé 
(2012) a propor a noção de não lugar. 
Figura 12 – Aeroporto em Doha, Qatar (2017) 
 
Crédito: Uskarp/Shutterstock. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
Figura 13 – Aeroporto em Dusseldorf, Alemanha (2018) 
 
Crédito: Ververidis Vasilis/Shutterstock. 
Figura 14 – Aeroporto em Brasília, Brasil (2014) 
 
Crédito: Robert Napiorkowski/Shutterstock. 
TEMA 5 – REDE 
 Antes de concluir essa síntese dos principais conceitos trabalhados 
em/pela geografia, não poderíamos deixar de apresentar o conceito de rede. 
Isso porque tal conceito, embora presente há muito tempo nas preocupações 
 
 
21 
geográficas, assume na contemporaneidade perspectiva importante, em especial 
com a emergência das NTIC. 
 O conceito de rede permite inserir uma visão que prioriza os fluxos e o 
ciberespaço como preocupações fundamentais para a compreensão do mundo 
de hoje. 
 Atualmente fala-se em território-rede, empresa-rede, sociedade em rede, 
demostrando um uso diverso daquele existente no passado, no qual a rede 
referia-se às bases técnicas implantadas no território, ligadas assim à 
infraestrutura: rede de transporte, rede viária, rede de telecomunicações, rede 
elétrica, dentre outras, relacionadas àquilo que vimos acerca do sistema de 
objetos que constituem um dos componentes do espaço, na perspectiva de 
Milton Santos. Esse uso continua sendo importante, mas a ele se adicionou uma 
maior complexidade conceitual, pelo qual se entende por rede geográfica “o 
conjunto de localizações humanas articuladas entre si por meio de vias e fluxos. 
Nesse sentido, ela constitui caso particular de rede em geral, esta forma que 
advém da topologia. Sua importância para a geografia, como se tentará 
evidenciar, é enorme, pois é parte fundamental da espacialidade humana”. 
Para Corrêa (2012, p. 200), as redes se tornam geográficas quando são 
consideradas em sua dimensão espacial. Assim, para o autor, “a passagem de 
uma rede social para uma rede geográfica se dá quando assim a consideramos, 
a despeito de sua necessária espacialidade, expressa em localizações 
qualificadas, e com interações espaciais entre elas” (Corrêa, 2012, p. 201). 
 Para Dias (2000) as redes no presente ganham um novo sentido em 
razão das estratégias de comunicação e circulação inerentes a estas. 
Muitas são as complexidades produzidas ao longo do século XX que 
redesenharam o mapa do mundo [...] Processos de múltiplas ordens: 
de integração produtiva, de integração de mercados, de integração 
financeira, de integração da informação. Mas processos igualmente de 
desintegração, de exclusão de vastas superfícies do globo [...]. Todos 
esses processos para serem viabilizados implicam estratégias, 
principalmente estratégias de circulação e de comunicação, duas faces 
da mobilidade que pressupõem a existência de redes, uma forma 
singular de organização. (Dias, 2000, p. 147) 
 Ainda para a autora, “Os fluxos, de todo tipo – das mercadorias às 
informações pressupõem a existência das redes. A primeira propriedade das 
redes é a conexidade – qualidade de conexo – que tem ou em que há conexão, 
ligação. Os nós das redes são assim lugares de conexões, lugares de poder e 
de referência” (Dias, 2000, p. 148). 
 
 
22 
 Vivemos num mundo onde prevalece

Continue navegando