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STHEFANIE BESSA – T28 (UNISL) A demência é uma síndrome clínica, decor- rente de uma disfunção cerebral na qual ocorre perturbação de múltiplas funções cog- nitivas, como memória, atenção e aprendi- zado, pensamento, orientação, compreen- são, cálculo, linguagem e julgamento. Decorrente a sintomatologia, é conhecida como a “doença dos A”, uma vez que o pa- ciente apresenta amnésia (perda da memó- ria, principalmente a curto prazo), associada com outro domínio cognitivo, como: → Afasia (perda parcial ou total da capaci- dade de expressar ou compreender a lin- guagem falada ou escrita). → Apraxia (incapacidade para realizar ta- refas que exijam recordar padrões ou se- quências de movimento). → Agnosia (incapacidade de identificar um objeto com o uso de um ou mais sen- tidos). → Acalculia (perda das habilidades mate- máticas já adquiridas, como contar, so- mar e subtrair). → Perturbação do funcionamento execu- tivo. Domínios como esses devem apresentar de- clínio importante em comparação ao nível de funcionamento prévio do indivíduo e ser severos o suficiente para interferir nas funções diárias (trabalho, atividades sociais e relacio- namentos) e da independência do paciente. A identificação de um paciente com demên- cia não é simples. Na maioria das vezes, não é ele que de queixa de alteração na memó- ria, e sim um familiar ou quem o acompanha. O diagnóstico definitivo para a maioria das síndromes demenciais depende do exame neuropatológico. Entretanto, no dia a dia, o seu diagnóstico é essencialmente clínico, e exames de neuroimagem e de laboratório são solicitados com o objetivo de afastar cau- sas reversíveis, como depressão, uso de medi- cações e deficiência de vitamina B12. CLASSIFICAÇÃO DAS SÍNDROMES DEMENCIAIS → Reversíveis – se tratadas precocemente, têm um bom prognóstico. Uso de medicamentos – psicotrópicos e anal- gésicos narcóticos. Metabólicas – distúrbio hidroeletrolítico, desi- dratação, insuficiência renal ou hepática e hi- poxemia. Neurológicas – hidrocefalia de pressão nor- mal, tumor e hematoma subdural crônico. Infecciosas – meningite crônica, AIDS, neuro- sífilis. Colágeno-vasculares – LES, artrite temporal, vasculite reumatóide, sarcoidose e púrpura trombocitopênica trombótica. Endócrinas – doenças tireoidiana, paratireoi- diana, adrenal e da hipófise. Nutricionais – deficiência de vit. B12, ácido fó- lico, tiamina e niacina. Alcoolismo crônico → Irreversíveis Doença de Alzheimer Demência Vascular Demência por corpúsculo de Lewy Demências frontotemporais A- DEMÊNCIA DE ALZHEIMER É um distúrbio neurodegenerativo, de causa não conhecida e que acomete, sobretudo, DEMÊNCIA STHEFANIE BESSA – T28 (UNISL) idosos, além de ser considerada a causa maus comum de demência. Tem início insidi- osos, da perda de memória, e declínio cogni- tivo lento e progressivo. Fisiopatologia: Há uma queda global de ace- tilcolina, neurotransmissor responsável pela cognição. Isso vai levar em último caso a atro- fia cortical temporal/parietal, do hipocampo e do núcleo basal de Meynert (células relaci- onadas com a memória). Associado a esse quadro, há depósito de placas senis amiloides no interstício dos neurônios – formadas pela proteína amiloide beta (Aβ). Além disso, há formação de agregados de proteína TAU no citoplasma dos neurônios. Em conjunto, acaba, levando a disfunção e morte neuro- nal. - Na membrana celular dos neurônios existe proteínas chamadas de “Proteína Precursora de Amiloide” que ajudam o neurônio a cres- cer e se reparar. Como qualquer proteína, ela tem uma vida útil, e quando seu uso não é mais satisfatório, duas enzimas principais (alfa- secretase e gama secretase) a destroem e seus restos ficam solúveis para serem elimina- dos. O problema é quando vem uma enzima chamada beta-secretase ou gama secretase alterada, que destrói proteína em um local di- ferente, sendo seus restos não solúveis – for- mando a famigerada proteína amiloide Aβ. Elas começam a se acumular e se juntar entre os neurônios, formando placas senis beta ami- loides, atrapalhando as sinapses e causando inflamação local. Além disso, essas placas amiloides Aβ mandam informações para pro- teínas TAU dentro dos neurônios, fazendo com que elas se desorganizem e formem novelos neurofibrilares. Entretanto, a proteína TAU é responsável por estabilizar a estrutura neuro- nal através dos microtúbulos (sendo como tri- lhos de trem) para a informação ser transmi- tida. Isso tudo associado a déficit de acetilco- lina cai levar a apoptose dos neurônios – com atrofia do córtex celular acometendo regiões importantes como região parietal e hipo- campo. Quadro clínico: Fase inicial – caracterizada por sintomas va- gos e difusos, sendo o comprometimento da memória recente o sintoma mais proemi- nente e precoce. Fase intermediária – deterioração mais acen- tuada dos déficits de memória além de afa- sia, agnosia e apraxia. Empobrecimento de vocabulário, parafasias semânticas e fonêmi- cas e dificuldade de compreensão. Julga- mento alterado, perdendo a noção de riscos. Pode ocorrer agitação, perambulação, agressividade e distúrbios do sono. Fase avançada – funções cognitivas grave- mente comprometidas, com dificuldade para reconhecer pessoas e espaços familia- res. Drástica redução da fluência e surgi- mento de ecolalia, sons incompreensíveis até atingir o mutismo. Geralmente o paciente está acamado e vem a falecer por complica- ções da síndrome de imobilidade. Evolução clínica: Fatores de risco: idade, histórico familiar posi- tivo, síndrome de Down, traumatismo crani- ano grave, baixa escolaridade, hipercoleste- rolemia, diabetes, HAS (relação ainda duvi- dosa), tabagismo, sedentarismo, alcoolismo e obesidade. Abordagem diagnóstica: História clínica – tempo de início dos sintomas; associação com outras doenças; uso de me- dicações ou drogas ilícitas; história familiar; comprometimento nas atividades profissio- nais, ocupacionais ou sociais do indivíduo (uti- lização de escalas de vida diária); alteração de comportamento; alteração da memória; história de outras doenças psiquiátricas. Testes para avaliação cognitiva – miniexame do estado metal; teste do relógio; fluência STHEFANIE BESSA – T28 (UNISL) verbal; teste de memória de palavras; teste de memória de figuras. MINIMENTAL É o teste mais utilizado para avaliação da função cognitiva por ser rápido, de fácil apli- cação, não requerendo material específico. Deve ser utilizado como instrumento de ras- treamento, não substituindo uma avaliação mais detalhada. Não serve como teste diagnóstico, mas sim para indicar funções que precisam ser inves- tigadas. É um teste cognitivo rápido para tentar triar possivelmente um paciente com demência. TESTE DO RELÓGIO Trata-se de um teste amplamente utilizado como rastreio cognitivo, de simples aplica- ção e de rápida execução, que avalia a memória, função motora, função executiva e compreensão verbal. Tratamento/ prognóstico: É uma doença neu- rodegenerativa que piora com o tempo. Não existem medicamentos ou métodos capazes de reverter a progressão da doença. O óbito ocorre geralmente 10 anos após o diagnós- tico por causas secundárias como infecções, tromboses etc. B- DEMÊNCIA VASCULAR Refere-se ao comprometimento cognitivo com interferência funcional importante pro- veniente de uma etiologia vascular. A piora do quadro se dá em “degraus”, a partir de novos eventos isquêmicos, com flutuação do déficit cognitivo. Apresenta sinais focais, de acordo com a re- gião cerebral acometida. Atinge pessoas com múltiplos riscos cardiovasculares, sendo mais comum em idosos e no sexo masculino. Etiologia: múltiplos infartos lacunares; lesões extensas da substância branca (doenças de Binswanger);hemorragias cerebrais hiperten- sivas; vasculites; sequelas de hemorragia su- baracnóidea e de hematomas subdurais. Fisiopatologia: são dois tipos de demência vascular. Demência multi-infarto – quadro com início súbito após eventos isquêmicos usualmente corticais. Clínica conhecida por ser em “de- graus”, por existir piora após novos episódios. O paciente geralmente tem alterações neu- rológicas focais associadas, como afasia, he- miparesia etc. Demência difusa de substância branca (Binswanger) – quadro com evolução mais in- sidiosa, secundário a lesões isquêmicas da substância branca encefálica periventricular (leucariose). Associado ao quadro, podem existir sintomas/sinais neurológicos, como con- fusão, desorientação, alterações da deam- bulação, disfonia, disfagia etc. STHEFANIE BESSA – T28 (UNISL) Fatores de risco: obesidade, raça negra, baixa escolaridade, hiperuricemia, Policite- mia, sedentarismo, ambiente estressante, me- dicação inadequada, antecedentes de do- enças cardiovasculares e cerebrovasculares, HAS, DM, tabagismo, alcoolismo, doenças cardíacas, fibrilação atrial, aterosclerose e dislipidemia. Prevenção: prática de atividade física regu- lar, manutenção do peso corporal ade- quado, baixa ingestão de gorduras, ativida- des de lazer, leitura, rede social de apoio e uso adequado das medicações. Tratamento: os medicamentos utilizados atu- almente têm obtido resultados parciais no controle da doença. Anti-colinesterásicos – demência leve a mo- derada. Ocorre melhora da cognição e das atividades de vida diária. Ex. Donepezil, Rivas- tigmina, Galantamina e Memantina (fases moderada e grave. Bloqueador de canal de cálcio – uso de nimo- dipina ainda necessita de mais estudos. C- DEMÊNCIA POR CORPÚSCULOS DE LEWY Doença neurodegenerativa caracterizada por acúmulo de proteínas anormais nas célu- las cerebrais (alfa-sinucleína) – corpos de Lewy. Apresenta-se com flutuação na cogni- ção, alucinações visuais recorrentes e parkin- sonismo precoce (rigidez, acinesia e fáceis amímica). Etiologia: não é totalmente compreendida. O que se sabe é que fatores genéticos quando associados a condições ambientais desenvol- vem o início do quadro. Fisiopatologia: há uma proteína pré-sináptica chamada alfa-sinucleína, relacionada com a condução das informações. Alterações ge- néticas fazem com que haja alterações em sua estrutura, levando ao acúmulo anormal dessa proteína nas células cerebrais, o que é chamado de “corpos de Lewy”. Isso leva a uma inflamação local “neurite” com posterior morte neuronal. Esse acúmulo proteico pode ocorrer em vários locais do cérebro, como córtex frontal, lobos temporais, giro cingu- lado, substância nigra e locus coertuleus, causando os diversos sintomas presentes como sinais parkinsonianos e alucinações vi- suais (corpos de Lewy na região para-hipo- campal e córtex temporal inferior). Quadro clínico: 1º estágio – dura de 3 a 7 anos, caracterizado por esquecimento leve, alguns períodos rápi- dos de delírios e falta de iniciativa no dia a dia. 2º estágio – há piora das funções cerebrais cognitivas e dos delírios, com alucinações au- ditivas e visuais. É muito comum haver que- das. 3º estágio – é a fase maus avançada, com distúrbios psiquiátricos do tipo psicose, agita- ção e confusão mental. Tratamento: → Tratamento comportamental. → Anticolinesterásicos. → Memantina não foi estudada. → Neurolépticos em baixas doses. → Levodopa. → Clonazepam (0,25 a 1,5mg) e melato- nina (3 a 12mg) para distúrbios do sono. D- DEMÊNCIA FRONTO-TEMPORAL (DOENÇA DE PICK) Trata-se de uma condição resultante de pro- gressiva degeneração do lobo frontal e/ou temporal. É causa importante da demência pré-senil, e seus sintomas habitualmente se ini- ciam aos 40 a 65 anos. Etiologia: é uma doença com forte relação genética, cerca de 40% dos pacientes que apresentam a doença, tem casos relatados na família. De fato, essa doença é genética, com ativação ambiental por mecanismos ainda não conhecidos. Existem descrições de mutações de genes que se relacionam com a etiologia da doença, as principais: muta- ções do gene MAPT, cromossomo 17; muta- ções do gene GRN, cromossomo 17; mutação no gene C9ORF72, cromossomo 19. STHEFANIE BESSA – T28 (UNISL) Fisiopatologia: existem proteínas dentro do ci- toplasma dos neurônios chamada TAU, que são responsáveis por estabilizar a estrutura neuronal através dos microtúbulos para a in- formação ser transmitida. Paciente com de- mência de Pick tem genes que não codifi- cam essa proteína adequadamente. Como resultado, há uma desorganização cito-arqui- tetural do neurônio, levando à sua morte, re- sultando, macroscopicamente, uma atrofia principalmente frontal e/ou temporal. - Em exames de necrópsias, essas proteínas al- teradas podem ser visualizadas e são chama- das de corpos de Pick. Quadro clínico: Comum haver alterações do comportamento sexual, com desinibição, jo- cosidade e hipersexualidade, além de hipero- ralidade, hiperfagia com ganho de peso e obsessão em tocar objetos. Na evolução, há instalação de um quadro demencial, geral- mente com outros achados neurológicos, como afasia e apraxia. Tratamento: não há benefício com o uso dos inibidores da acetilcolinesterase. Estudos apontam para o benefício dos inibidores sele- tivos da recaptação de serotonina. Os distúr- bios de comportamento respondem ao uso de antagonistas dopaminérgicos ou antipsi- cóticos. REABILITAÇÃO COGNITIVA E GRUPO DE APOIO FAMILIAR O objetivo da reabilitação cognitiva é recu- perar as habilidades, desbloquear as funções cognitivas comprometidas e estimular a soci- alização. Já o grupo de apoio familiar busca conscien- tizar quanto aos sintomas da demência, for- necendo esclarecimento e discussão de solu- ções práticas. Objetivos: • Resgatar a relação paciente-familiar; • Prevenir doenças no cuidador/familiar; • Redução da interdependência; • Despertar interesses variados e afetivi- dade; • Orientação para a realidade; • Estimular a segurança e preparar para complicações e até o óbito. TREINAMENTO COGNITIVO • Livro de memória; • Frases e desenhos que orientem a pes- soa em sua vida cotidiana; • Estimulação social; • Exercícios; • Bons hábitos alimentares; • Estímulos aos cuidados da higiene. CONTROLE DO AMBIENTE • Eliminar elementos arquitetônicos ge- radores de estresse ou confusão; • Promover a orientação espacial; • Criação de áreas de lazer com limita- ção à passagem para áreas de risco (ex. cozinha); • Música pode melhorar a agitação. DIAGNÓSTICO • Exames laboratoriais (a fim de excluir causas secundárias): o Hemograma o Sorologias (VDRL, HEP B, HIV) o Função tireoidiana o Dosagem de vitamina B12 e ácido fólico o Exclusão de doenças autoimu- nes • Exames de imagem: o TC de crânio o RNM de crânio o SPECT e PET o Líquor A FAMÍLIA A demência no meio familiar provoca diver- sas mudanças, como: socioeconômicas, rom- pimento da interrelação do paciente com o familiar e alteração da dinâmica familiar pela progressiva dependência do paciente.
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