Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A Studocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade Manual de Jornalismo Televisivo Atelier de Televisão (Universidade Autónoma de Lisboa) A Studocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade Manual de Jornalismo Televisivo Atelier de Televisão (Universidade Autónoma de Lisboa) Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo https://www.studocu.com/pt/document/universidade-autonoma-de-lisboa/atelier-de-televisao/manual-de-jornalismo-televisivo/13675487?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo https://www.studocu.com/pt/course/universidade-autonoma-de-lisboa/atelier-de-televisao/4830372?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo https://www.studocu.com/pt/document/universidade-autonoma-de-lisboa/atelier-de-televisao/manual-de-jornalismo-televisivo/13675487?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo https://www.studocu.com/pt/course/universidade-autonoma-de-lisboa/atelier-de-televisao/4830372?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo MANUAL DE JORNALISMO DE TELEVISÃO Produção apoiada pelo Programa Operacional Formação e Desenvolvimento Social (POEFDS), co-fi nanciado pelo Estado Português e pela União Europeia, através do Fundo Social Europeu Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo FICHA Título Manual de Jornalismo de Televisão Autor Jorge Nuno Oliveira Edição Centro Protocolar de Formação Profi ssional para Jornalistas (Cenjor) R. de Júlio de Andrade, 5 – 1150-206 Lisboa – Telef. 21 885 50 00 Coordenação de Projecto Fernando Cascais Coordenação Editorial José Luiz Fernandes Infografi as Sofi a Rosa Capa e Design Maria Ramos Fotografi a da Capa Miguel Ribeiro Fernandes Revisão ELingua © Instituto de Emprego e Formação Profi ssional Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor. 1.ª Edição: 2007 Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 MANUAL DE JORNALISMO DE TELEVISÃO Jorge Nuno Oliveira Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 4 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 7 1. OS GÉNEROS JORNALÍSTICOS EM TELEVISÃO 9 1.1. Pequena peça de telejornal 11 1.2. Reportagem de telejornal ou de curta duração 11 1.3. Documentário e grande reportagem 11 1.4. Entrevista 12 1.5. Debate 12 1.6. Apresentação 12 2. A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM 13 2.1. Os enquadramentos de plano 13 2.2. Os movimentos de câmara 15 2.3. A colocação da câmara 16 2.4. Os pontos fortes da imagem 21 2.5. A regra dos terços 21 3. A ESCRITA JORNALÍSTICA DE TELEVISÃO 23 3.1. Escrita curta, clara, forte e sugestiva 23 4. PRODUZIR UMA REPORTAGEM DE TELEVISÃO 33 4.1. Os primeiros passos 33 4.2. O guião de reportagem 34 4.3. As fases de produção da reportagem 37 4.4. Estruturas de reportagens 40 5. ENTREVISTAR EM DIRECTO 45 5.1. O plano jornalístico da entrevista 46 5.2. O plano televisivo da entrevista 47 Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 6 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O SUMÁRIO 6. ENFRENTAR AS CÂMARAS 51 6.1. Comunicar em directo 52 6.2. Comunicar com credibilidade 53 6.3. A expressividade 55 7. A PRODUÇÃO DE TELEJORNAIS 59 7.1. Editar um telejornal 59 7.2. Realizar um telejornal 60 7.3. O papel do assistente de realização 61 7.4. O alinhamento de telejornal 62 EXERCÍCIOS 65 GLOSSÁRIO 73 BIBLIOGRAFIA 75 SÍTIOS NA INTERNET 77 ÍNDICE DE FIGURAS 79 Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 7 Este Manual de Jornalismo de Televisão pretende ser um apoio prático, ilustrando algumas técnicas ne- cessárias ao exercício das tarefas básicas da produção de materiais televisivos. Está dividido em sete partes modu- lares: os géneros jornalísticos televisivos, a construção da imagem, as técnicas de escrita jornalística para televisão, as técnicas de produção de reportagens, a entrevista em directo, as técnicas de comportamento perante as câmaras de televisão e a produção, gestão e realização de alinha- mentos de telejornal. Os conteúdos dos módulos, sustentados em exercícios prá- ticos e demonstrações técnicas, pretendem servir de guia para a descoberta experimental de uma actividade que só pode exprimir-se plenamente no seu terreno natural: a pró- pria televisão. Este manual é complementado com um videograma, recur- so didáctico auxiliar para a formação em sala e em estú- dio, que serve, também, como instrumento de auto-estudo e para consolidar competências adquiridas nos Ateliês de Jornalismo de Televisão do Cenjor. Introdução Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 8 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 9 1. Os géneros jornalísticos em televisão Objectivo: Identifi car as diferentes formas de comunicar informação através do meio televisivo. A comunicação jornalística em televisão não é uniforme. Os dife- rentes produtos socorrem-se de técnicas e efeitos muito diversos para fazerem passar a mensagem e alcançarem os seus objectivos: serem vistos, ouvidos e entendidos pelo maior número possível de pessoas. Para serem efi cazes, as mensagens jornalísticas, em televisão, revestem-se de formas atraentes e apelativas. Um jornal de televi- são, como qualquer outro programa, para ser visto, ouvido e enten- dido, deve respeitar regras específi cas de comunicação. Os próprios conteúdos são tratados de forma adequada à fi nalidade última de qualquer produto jornalístico: ser captado e entendido. Os diferentes géneros jornalísticos são formas de enriquecer a comunicação, combatendo a monotonia formal e melhorando o rit- mo dos produtos televisivos As diferentes formas de exprimir a linguagem jornalística e tele- visiva são agrupadas em géneros. Os principais géneros jornalísticos televisivos são: • Peça de telejornal • Reportagem de telejornal • Documentário ou grande reportagem • Entrevista • Debate • Apresentação O que une todos estes géneros? O facto de serem, qualquer um deles, formas de comunicação jornalística e o facto de serem emitidos em televisão. Ou seja, todos estes géneros têm a ver com a linguagem – jornalística – e com o meio – televisão. Os diferentes géneros jornalísticos são formas de enriquecer a comunicação, combatendo a monotonia formal e melhorando o ritmo dos produtos televisivos.9 Os diferentes géneros jornalísticos são formas de enriquecer a comunicação, combatendo a monotonia formal e melhorando o ritmo dos produtos televisivos. Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 10 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O O que distingue estes géneros? A duração, no caso de uma pequena peça, uma pequena repor- tagem ou uma grande reportagem ou documentário; O formato, no caso de uma entrevista ou de um debate, ou de um pivô de telejornal ou de um vivo de reportagem; A linguagem televisiva, no caso de uma reportagem ou de uma entrevista; de uma peça de telejornal ou de um documentário, por exemplo; A linguagem jornalística, no caso de uma peça de telejornal ou de um documentário; de um vivo de reportagem ou de um pivô de telejornal; Se o objectivo de todos os géneros jornalísticos é o de comu- nicar uma mensagem jornalística, por que razão há tantos géneros jornalísticos? Porque a variedade da forma ajuda a comunicar a mensagem, combatendo a monotonia, o cansaço e a desatenção e estimulando o interesse e a motivação para conhecer. Porque nem tudo deve ser dito do mesmo modo. Exemplo: as consequências da liberalização do consumo da droga não devem ser tratadas através de uma pequena peça de telejornal, mas sim através de uma grande reportagem, ou de uma entrevista ou de um debate. Um atentado no Sri Lanka que provocou a morte a dez pessoas não merece mais do que uma pequena peça de telejornal, em Portugal. Porque nem tudo pode ser dito do mesmo modo. A recolha de informações na primeira pessoa só pode ser feita através de uma entrevista. A efi cácia da comunicação depende da forma. Há entrevistas que só podem ser emitidas tal como foram produzidas, mas há entrevistas que podem, ou devem, ser tratadas jornalisticamente. Há informações que valem apenas se tiverem o respectivo suporte de imagem: uma perseguição automóvel, por exemplo, só deve ser publicada em televisão se houver imagens. Caso contrário, como “explicar” a uma audiência de televisão, apenas por palavras, esse acontecimento? Como distinguir, então, os diferentes géneros jornalísticos? 1.1. Pequena peça de telejornal 10 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O t u e e o d n j c o c s a d p e i e q e H d p “ a Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 11 1.2. Reportagem de telejornal ou de curta duração 1.1. Pequena peça de telejornal É uma informação tratada em off 1 ou numa peça curta, de dura- ção não superior a 1’20”. O tema nem sempre é de importância crucial. O seu tratamento nem sempre exige grande investigação nem trabalho de exterior. Os recursos e meios utilizados são rudimentares (e.g. não impli- ca directos, pós-produção vídeo nem áudio, etc.). 1.2. Reportagem de telejornal ou de curta duração Informação recolhida in loco 2, com duração variável entre os 1’20” e os 1’50”. O tema é geralmente de grande importância. O seu tratamento exige vastos recursos técnicos e o conhecimento seguro de regras de preparação, produção, concepção e execução. Exige meios de produção (directos, por exemplo) e de pós-pro- dução sofi sticados. Aplica técnicas narrativas próprias, baseadas em critérios de preponderância da imagem, tempo de discurso, ritmo, velocidade, pausa e técnica de escrita. 1.3. Documentário e grande reportagem Trabalho de longa duração, variável entre os 25 e os 50 minutos 3. Tema de fôlego, relacionado com a actualidade imediata (GR) ou com questões que, não sendo urgentes, se ligam à actualidade (Documentário). Exemplo: o actual estado da saúde em Portugal é um óptimo tema para uma grande reportagem; a evolução dos 1 Na gíria jornalística televisiva, este tipo de peça chama-se “off 2”. É um género televisivo em que o apresentador de televisão lança imagens enquanto continua a falar sobre elas. Ou seja: o texto que o espectador ouve enquanto vê as imagens está a ser dito, em directo, pelo apresentador. Pelo contrário, nas outras peças, o texto dito pelo jornalista (também chamado “som ou voz off”) está gravado. 2 A presença do repórter no local é uma condição indispensável para a caracterização do género Reportagem. Só tendo estado no local pode o repórter ser testemunha dos aconte- cimentos que presenciou, dando deles uma informação credível e autêntica. A reportagem é uma narrativa jornalística contada em voz activa pelo jornalista. 3 O Documentário distingue-se da Reportagem por, entre outras características, recuar no tempo e permitir uma visão mais enquadrada dos acontecimentos. A noção de perspectiva his- tórica é fundamental no Documentário, ao passo que na Reportagem prevalecem os critérios de actualidade. 11 Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 12 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 12 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O avanços científi cos no combate à sida é um excelente tema para um documentário. Ambos os temas estão relacionados com a saú- de. Mas a GR aborda uma questão actual, premente, polémica. O documentário é mais vasto, mais pausado, olha mais para o fundo do que para a superfície. Investigação jornalística demorada e aprofundada. Maior tempo de produção e de preparação. Maior tempo de execução. Recurso a meios e técnicas muito sofi sticadas, quer do ponto de vista operacional, quer do ponto de vista jornalístico-televisivo. Exemplo: a narrativa obedece a regras estritas; o ritmo e a técnica de escrita são particularmente importantes; as sequências de imagens e de ‘vivos’ devem ser criteriosamente montadas; os movimentos de câmara podem ser mais lentos e amplos. 1.4. Entrevista Relação entre um entrevistador e um ou dois entrevistados. Em directo ou gravada. Raramente exige recursos complexos de realização. Exige a aplicação de técnicas apropriadas. 1.5. Debate Relação entre um entrevistador e vários convidados, com ou sem público. Em directo ou gravado. Exige recursos complexos de realização. Exige habilitação técnica apropriada. 1.6. Apresentação Relação entre o jornalista e a câmara de televisão. Em directo ou gravada. Em estúdio ou no exterior. Pivô de telejornal. Vivo de reportagem. Directo do exterior. 1.4. Entrevista Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 1313 2. A construção da imagem Objectivos: Conhecer o léxico profi ssional da actividade televisiva; Conhecer os diferentes enquadramentos de plano; Conhecer os movimentos de câmara e os seus signifi cados técnicos. A televisão é o império da imagem. É o meio de comunicação mais poderoso, infl uente e popular em todo o Mundo. Através dele, podemos ser testemunhas oculares de qualquer acontecimento, a qualquer hora, em qualquer lugar. Uma reportagem de televisão sem boas imagens é tão aberrante como uma peça de teatro sem actores ou um concerto sem música. A televisão é o império da imagem. Não há televisão sem ima- gem e tudo se subordina à imagem. Associada ao som, a imagem condiciona a televisão e dá-lhe corpo, essência, signifi cado e repre- sentação. Mesmo na informação, a imagem representa dois terços da mensagem. A televisão é o império da imagem. É o meio de comunicação mais poderoso, infl uente e popular em todo o Mundo. Através dele, podemos ser testemunhas oculares de qualquer acontecimento, a qualquer hora, em qualquer lugar A televisão e, particularmente, os satélites de comunicações mu- daram o Mundo. Hoje, tudo se passa diante de todos nós, ao mesmo tempo e em qualquer lugar. É este o poder da televisão, o mensageiro universalque mostra as notícias como se nós estivéssemos a presenciá-las in loco. A te- levisão transforma-nos em testemunhas oculares do que se passa no Mundo. 2.1. Os enquadramentos de plano As imagens não têm, todavia, a mesma dimensão ou importân- cia. Nem signifi cam todas o mesmo. Conhecer as diferenças de va- lor entre imagens é fundamental para poder trabalhar com elas. A captação de imagens faz-se através de planos. Cada plano tem a sua própria força e signifi cado. Vamos conhecê-los para melhor os Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 2. A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM compreendermos e utilizarmos. Do mais aberto ao mais fechado Plano geral – Plano de descrição de todos os elementos de uma cena ou ambiente. O plano de um relvado de futebol, em toda a dimen- são, é um plano geral. É também um plano geral aquele que mostra uma praça, uma cena completa de rua, uma sala ou os ocupantes de uma mesa. Os planos não têm o mesmo valor. Os planos mais fechados apelam mais à emoção. Os planos mais abertos são mais dirigidos à informa- ção. Do mesmo modo, o zoom in sugere tensão e aumento da expecta- tiva, ao passo que o zoom out sugere distanciamento e distensão Os planos gerais são planos de ambiente. Retratam a atmosfera de uma situação ou local e devem ser exibidos longamente, para o espec- tador poder captar todos os seus pormenores. Um plano geral é apreen- dido, primeiro, no seu conjunto, mas o olhar, à medida que se habitua a esse conjunto, vai à procura dos detalhes que compõem a cena. De- vemos, por isso, dar tempo ao espectador para se inteirar do conteúdo de um plano geral. Plano inteiro – Plano de corpo inteiro, retrata uma pessoa ou várias pessoas em toda a sua dimensão. São visíveis a cabeça, tron- co e membros, além de outros pormenores signifi cativos para a si- tuação captada. Plano americano – Plano de fi gura humana captado da cabeça até meio da coxa. •1• Os enquadramentos de plano são fundamentais para perceber a intensidade e o significado da mensagem Os planos não têm o mesmo valor. Os planos mais fechados apelam mais à emoção. Os planos mais abertos são mais dirigidos à informação. Do mesmo modo, o zoom in sugere tensão e aumento da expectativa, ao passo que o zoom out sugere distanciamento e distensão. Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 1515 2.2. Os movimentos de câmara Plano médio – Plano de fi gura humana “cortado” pela linha da cintura. Plano próximo – Plano de fi gura humana “cortado” pela linha do peito e pelo meio dos braços. Grande plano – Plano de fi gura humana “cortado” na linha dos ombros. Muito grande plano – Plano de fi gura humana que capta apenas a cabeça. Plano de pormenor – Plano que capta detalhes de uma fi gura humana ou de uma cena ou ambiente. Os olhos, as mãos, um reló- gio, por exemplo, são planos de pormenor. Ao captar a mesma realidade com diferentes enquadramentos e “cortes”, a câmara mostra partes diferentes da realidade e conduz o espectador a perceber mais ou melhor cada plano ou pormenor. Por isso aplica-se aos enquadramentos de plano uma regra: Quanto mais aberto é o plano mais informação contém. E quanto mais fechado é o plano mais ele apela à emoção. 2.2. Os movimentos de câmara A câmara de televisão pode também captar planos em movi- mento. São dois os movimentos principais que podem ser executa- dos com uma câmara: travellings e panorâmicas. Os travellings são movimentos em que a câmara se desloca so- bre o seu próprio eixo, percorrendo um caminho. Os travellings podem ser horizontais (para a esquerda, para a direita, para a frente ou para trás) e verticais (para cima ou para baixo). As panorâmicas podem ser igualmente horizontais (para a es- querda ou para a direita) e verticais (para cima e para baixo). Neste caso, a câmara está fi xa sobre o seu eixo, rodando apenas para os lados ou na vertical. A câmara pode, ainda, proporcionar outro movimento de ima- gem: o zoom, ou efeito óptico de aproximação ou afastamento da imagem, através do jogo de lentes. Estes movimentos podem ser de zoom in (aproximação da imagem) ou de zoom out (afastamento de imagem). Os movimentos podem, também, ser compostos. Uma câmara pode iniciar uma captação de imagem em travelling, passando de- Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 16 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 16 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O pois para uma panorâmica e terminar o seu movimento com um zoom in, por exemplo. Muitas outras combinações podem ser fei- tas, de acordo com os critérios, as necessidades e as fi nalidades do repórter de imagem. 2.3. A colocação da câmara A posição da câmara em relação à pessoa ou objecto captado também pode variar. Se a câmara estiver num plano superior ao do objecto, o plano é picado. Se, pelo contrário, o objecto estiver num plano superior ao da câmara, o plano é contrapicado. A utilização dos diversos planos e enquadramentos, bem como os movimentos e posições de câmara pressupõe diversos signifi ca- dos e intenções. Os planos gerais devem ser usados para mostrar todo o enqua- dramento de uma cena ou ambiente. Em informação, utilizam-se para descrever ambientes e transmitir ao espectador tudo o que ele necessita de saber sobre as circunstâncias que envolvem os acon- tecimentos. Os grandes planos ou muito grandes planos, por seu lado, trans- mitem emoções e convicções. São utilizados para traduzir expres- sões, captar olhares e sensações. São muito fortes do ponto de vista sensorial e emotivo. Devem ser usados criteriosamente, de modo a não fatigar a atenção do espectador. Os planos próximos ou médios são os ideais para entrevistas. Permitem conhecer melhor a pessoa que está a falar. Dão informa- ções úteis sobre a forma como está vestido, a sua expressão cor- poral e gestos, os acessórios que usa, o aprumo e asseio ou a falta deles. São planos que retratam com grande fi delidade e clareza os entrevistados. Os planos em movimento devem ser usados à medida do movi- mento do olho humano. Não devem ser demasiado rápidos nem for- çados. Devem ser pausados. Sugerem, normalmente, contemplação e repouso. Os planos de aproximação (zoom in ou travelling para a frente) devem corresponder a uma necessidade de aproximação do próprio espectador. Quando em movimento, a câmara deve subs- tituir-se ao espectador e antecipar os desejos de mover o corpo ou olhar no sentido da acção. Relativamente à posição da câmara, há que notar que os planos picados fragilizam a imagem das pessoas ou dos objectos. Um pla- Os planos em movimento devem ser usados com muita cautela. Por um lado, porque só são efi cazes se equivalerem aos movimentos que o espectador faria se estivesse no local. Por outro lado, porque difi cultam a montagem das imagens. Nunca se devem cortar nem colar planos em movimento. 2. A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 2.3. A colocação da câmara no contrapicado, pelo contrário, engrandece a dimensão de qual- quer pessoa ou objecto. Um homem pequeno, captado em plano contrapicado, pode parecer um homem alto. E vice-versa. As imagens não têm o mesmo valor. Dependem do enquadra- mento, dos movimentos, das posições das câmaras, da sequência em que são inseridas, de um fundo musical ou de um intenso si- lêncio. Tudo pode mudar de sentido. Tudo pode ser interpretado de maneira diferente, mesmo que a “realidade” nos entre pelos olhos adentro. Como se a realidade fosse apenas uma... É esse o poderda televisão. O de transformar a realidade em ilusão e a ilusão em realidade. Onde está o poder da televisão? Na imagem. No signifi cado das imagens, dos sons e dos textos. Mas o signifi cado não existe independentemente do mensageiro nem do destinatário da mensagem. O poder da TV está no modo como os espectadores interpre- tam os sinais que ela emite. A mensagem é um código, ou seja, um complexo sistema de sinais. Como interpretar, então, esse código? A codifi cação é um processo de representação ou signifi ca- ção do Mundo e das coisas, quer do ponto de vista técnico, quer do ponto de vista ideológico, quer, fi nalmente, do ponto de vista profi ssional. •2• Plano inteiro Representa a figura humana na sua totalidade. Quando referido a um objecto ou cena chama-se Plano Geral Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 2. A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM •4• Plano médio Plano cortado pela cintura. Muito usado, também, em situações de directo no exterior e de apresentação em estúdio •5• Plano Próximo Plano cortado por altura do peito, a meio do braço, acima do cotovelo. Usa-se sobretudo em situações de apresentação em estúdio •3• Plano americano Plano cortado pelo meio da coxa, acima do joelho. Assim chamado por ser muito usado nos westerns americanos, de modo a mostrar as pistolas dos cowboys. Muito utilizado em directos do exterior, para que se possa ver o cenário em que se encontra o repórter Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 2.3. A colocação da câmara •6• Grande Plano Plano cortado na zona do pescoço e na linha superior dos ombros. É um plano que realça a cabeça e a expressão. Pouco usado em informação, excepto em situações de grande relevância emocional •7• Muito Grande Plano Plano cortado pela base do queixo e pela parte superior da testa. É um plano de expressão do rosto •8• Plano de Pormenor Plano que destaca um pormenor ou detalhe de um conjunto. Deve ser usado depois do plano mais aberto Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 20 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O A escolha da peça de abertura de um telejornal é um exemplo de representação. É um sinal que eu quero transmitir. Entendamos que, em televisão, nada é natural. Tudo faz parte de um processo de codifi cação. Porque a mensagem não é captada de igual modo por todos. Quando emito uma mensagem, eu tenho em mente um signifi - cado preferido. Mas será que é esse signifi cado que o espectador vai entender? Se for, estaremos perante um caso de interpretação preferi- da. Se o espectador entender a mensagem, mas concordar com ela apenas parcialmente, estaremos perante uma interpretação nego- ciada. Se o espectador entender a mensagem, mas discordar do seu signifi cado, estamos perante uma interpretação oposta. Quando o espectador não entende o signifi cado preferido da mensagem, falamos de interpretação ou descodifi cação aber- rante. Como chegar, então, ao espectador de modo a que ele interprete o signifi cado da mensagem sem desvios nem distorções? Através de mensagens fechadas, que reduzam ao mínimo pos- sível a amplitude de interpretações. Só que isso é muito difícil – senão mesmo impossível - de al- cançar. Um simples facto (dois aviões chocam com as Torres Gémeas) pode ser interpretado de diferente modo. Tudo depende do enquadramento cultural, étnico, político, so- cial ou cultural, entre outros, do espectador. Tudo conjugado, tudo misturado, tudo construído, pode forne- cer sinais, interpretações e conotações diferentes. Assim se percorre o caminho, por vezes tortuoso, entre signifi - cante e signifi cado. Entre denotações e conotações. Uma rosa ou um lábio podem não signifi car o mesmo para diferentes pessoas. Nada é inquestionável, hermético ou unívoco. 2. A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM 20 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O r c d a c s m r o s c p c c c u Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 21 2.4. Os pontos fortes da imagem Nem tudo o que vemos numa imagem tem o mesmo valor. Al- guns elementos sobrepõem-se a outros, atraindo imediatamente a atenção de quem olha. São elementos que têm o poder de desviar o olhar. São os pontos fortes da imagem. São de quatro tipos esses pontos fortes: • Humanos • Cromáticos • Cinéticos • Aberrantes Os pontos fortes humanos são os que valorizam a presença de uma ou de várias pessoas numa imagem. Um pôr-do-sol pode ser uma imagem de grande beleza, mas pode passar despercebida entre muitas outras de natureza semelhante. A não ser que, na imagem daquele pôr-do-sol em particular, haja pessoas. Nessa situação, o olhar do espectador é imediatamente atraído para o elemento huma- no. Só depois percorre os outros elementos da imagem. Os pontos fortes cromáticos são os que valorizam a presença da cor mais forte. Numa paisagem enevoada, cinzenta ou monocro- mática, o que mais pode fazer atrair a atenção do espectador, senão o apelo de uma cor forte e contrastante? Numa ampla seara amarela é para o vermelho vivo da papoila que se desvia irresistivelmente o olhar. Os pontos fortes cinéticos valorizam o movimento. Um pla- no fi xo, retratando uma cena estática, pode aborrecer facilmente qualquer espectador. Geralmente, esses planos são curtos, porque a apreensão dos respectivos elementos faz-se muito rapidamente. Mas se, a meio de um plano estático, surgir algo em movimento, a atenção do espectador é imediatamente estimulada. A atracção pelo movimento arrasta consigo o olhar. Os pontos fortes aberrantes valorizam os elementos que estão a mais na imagem ou que não pertencem à cena. Uma árvore no meio de um deserto ou um homem em calções de banho no meio de um grupo de esquimós são exemplos de situações inesperadas. Nenhum olhar resiste a esse apelo. 2.5. A regra dos terços Os elementos de uma imagem podem também ser valorizados 2.4. Os pontos fortes da imagem 21 Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 22 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O segundo a respectiva localização. No mundo ocidental, as pessoas lêem e escrevem da esquerda para a direita e de cima para baixo. Esse movimento implícito e instintivo do olhar acompanha-nos em todas as situações. Quando admiramos uma foto ou um plano em movimento tendemos naturalmente a desviar o olhar para a direita. É aí que a nossa atenção primeiro se concentra. Vejamos a Fig. 9. A imagem está dividida em nove quadrados iguais. Mas nem todos têm o mesmo valor. Os elementos dentro dos quadrados mais à direita são mais valorizados pelo olhar humano do que os restantes. O último terço da imagem vale mais do que o segundo (o do meio) e o segundo vale mais do que o primeiro. 2. A CONSTRUÇÃO DA IMAGEM 9• A regra dos terços 22 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O s l E t m É i q d s Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 23 3. A escrita jornalística de televisão Objectivos: Identifi car as técnicas de escrita de textos jornalísticos para televisão; Conhecer as regras da oralidade e da coloquialidade. Escrever para televisão exige o domínio de uma técnica muito apurada. A escrita audiovisual representa, no fundo, um corte abso- luto com todos os parâmetros de escrita que nos ensinaram desdeos tempos da escola. De uma escrita apoiada em sinais gráfi cos e des- tinada a ser lida vamos passar para uma escrita que representa sons. Uma escrita que se destina a ser ouvida e entendida logo à primeira vez e que, por isso, deve ser coloquial. A escrita jornalística de televisão deve ser curta, clara, forte e sugestiva. 3.1. Escrita curta, clara, forte e sugestiva Curta, porque as frases e palavras curtas são mais fácil e com- pletamente apreendidas. A escrita de televisão é uma escrita desti- nada a ser ouvida. A comunicação oral é tanto mais efi caz quanto mais curtas forem as palavras e frases pronunciadas. Além disso, uma comunicação curta é uma comunicação que traduz segurança, confi ança e credibilidade. Quando Charles De Gaulle era Presidente da França, estudiosos do Centre de Perfectionnement des Journalistes, em Paris, medi- ram o tamanho das frases que ele proferia nos seus discursos. Nos primeiros tempos do mandato, De Gaulle falava com frases curtas. As suas afi rmações eram categóricas e exprimiam certezas e con- vicções profundas. Os discursos tinham cerca de 14 palavras por frase. Mas, à medida que o tempo passava e que as difi culdades políti- cas de De Gaulle se avolumavam, os seus discursos perdiam força As frases curtas são mais fáceis de memorizar e as palavras curtas também. É sempre preferível escrever curto, utilizando a regra essencial de “uma ideia = uma frase; uma frase = uma ideia”. 23 As frases curtas são mais fáceis de memorizar e as palavras curtas também. É sempre preferível escrever curto, utilizando a regra essencial de “uma ideia == uma frase; umaa frase = uma ideia”. Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 24 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 24 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 3. A ESCRITA JORNALÍSTICA DE TELEVISÃO e convicção na exacta medida em que ganhavam em número de palavras por frase. No último ano como Presidente da República, antes de perder as eleições, Charles De Gaulle já tinha perdido a atenção e o interesse dos seus eleitores. Os discursos que proferia eram excessivamente maçadores, estruturados em frases muito lon- gas. Cada uma tinha 33 palavras, em média. À medida que perdia a razão e a força, De Gaulle aumentava o tamanho dos seus discursos, na convicção de que quanto mais falas- se mais era ouvido. O que aconteceu foi exactamente o contrário. No jornalismo televisivo, esta lição ensina-nos que a escrita mais efi caz é a mais curta. Entre uma frase muito longa e outra muito curta, qualquer telespectador prefere a mais curta, perceben- do-a melhor e de forma mais completa. Uma escrita curta favorece a atenção do espectador. A escrita de televisão deve ser, também, forte. O jornalista, ao escrever para os ouvidos dos seus espectadores, deve saber que “pa- lavras, leva-as o vento”. A única maneira de as segurar, de as fi xar na atenção e na memória de quem nos ouve, é escrever com força. Escolher palavras fortes, palavras que transmitam ideias e sensa- ções pujantes, sólidas. Num teste realizado junto de estudantes de Relações Públicas e Publicidade, na Universidade de Providence, Connecticut, Estados Unidos, foi exibido um curtíssimo fi lme com uma sucessão muito rápida de palavras, escritas a branco sobre um fundo a negro. Em dez segundos, apareciam cerca de cem palavras diferentes. Aos es- tudantes era pedido que indicassem a palavra que considerassem mais forte. Uma maioria esmagadora – creio que 78 por cento – es- colheu três palavras: sexo, amor e trabalho. As três palavras que são, afi nal, a maior parte da nossa vida. Os estudantes escolheram- nas porque elas foram ao encontro dos padrões culturais, sociais e pessoais dominantes. No fi nal da experiência, um publicitário diria que foram as palavras que escolheram os estudantes, e não o contrá- rio. A nós cabe-nos pôr à disposição do público as palavras capazes de escolherem o maior número possível de pessoas. As palavras mais fortes são as que melhor e por mais tempo serão recordadas. Uma escrita forte favorece a memória do espectador. A clareza da escrita televisiva é outra das condições essenciais do sucesso da comunicação auditiva. Palavras complexas, de senti- do duvidoso ou controverso devem ser evitadas. Se tivermos dúvi- das sobre a clareza de uma palavra, devemos escolher um sinónimo que, além de mais curto e mais forte, seja igualmente mais claro. Palavras como discernir, por exemplo, devem ser eliminadas do Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 2525 Sem clareza, não há comunicação em televisão. Ao contrário do leitor de jornais, o espectador de televisão tem que perceber a mensagem à primeira. Ele não tem hipótese de voltar atrás e “reler” a notícia ou a informação que lhe escapou. Se a mensagem não for clara, perde-se. Irremediável. 3.1. Escrita curta, clara, forte e sugestiva nosso léxico enquanto jornalistas televisivos. No seu lugar, há pala- vras muito mais claras do que essa, como perceber ou entender. Em vez de decrescer, por que não dizer diminuir? Quanto mais claras forem as palavras que escolhermos, mais efi caz será a nossa comu- nicação. Uma escrita clara facilita a compreensão da mensagem e favorece uma relação inteligente com o espectador. A escrita de televisão deve ser coloquial. Cada palavra e cada frase têm de ser entendidas como sons harmoniosos, coerentes e agradáveis. Tudo o que for dito deve ser entendido de imediato pelo espectador. Simplifi car é a palavra-chave na escrita jornalística em televisão. Devemos, por fi m, escolher palavras ou expressões sugestivas para condimentar ou apaladar um texto ou uma frase. A escrita su- gestiva é uma escrita apontada às conotações semânticas, às metá- foras, aos signos, ao adagiário popular. Desta forma, estaremos a conferir às palavras, às frases e às expressões um condimento que vai torná-las mais apetitosas e, por isso, mais facilmente entendidas pelos telespectadores. Se assim for, estaremos a garantir que o que dissemos foi bem ouvido e bem guardado. Uma escrita sugestiva estimula a imaginação do espectador. A escrita de televisão é extremamente volátil, apesar da força das imagens que a sustentam. O jornalista de televisão nem sempre tem, infelizmente, o apoio de boas imagens para fazer passar a sua mensagem jornalística. Outras vezes, nem há sequer imagens para mostrar. É o caso dos pivôs de telejornal ou dos directos. Nessas alturas, a técnica de escrita televisiva deve ser ainda mais apurada e refi nada. Tenha sempre em conta a existência das imagens. Este pormenor pode parecer óbvio, mas nem sempre é considerado quando escre- vemos um texto de televisão. As ideias não podem ser redundantes, ou seja, não podemos limitar-nos a dizer aquilo que o espectador está a ver. Temos, isso sim, que lhe explicar o contexto jornalístico das imagens que ele está a ver, enquadrando-as de modo a construir uma realidade coerente e harmoniosa. Texto, imagens e sons devem fundir-se de modo natural. Além de curta, clara, forte e sugestiva, a escrita de televisão deve respeitar algumas regras fundamentais: Cuidado com os números. Os números são os elementos mais voláteis da comunicação oral/auditiva. Se não tiverem o suporte da imagem, os números desaparecem logo após terem sido pronuncia- dos. Esta tendência é tanto mais acentuada quanto maiores forem Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 26 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 26 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O os números.A solução é arredondá-los, desde que essa técnica não ponha em causa a integridade jornalística da informação. É sempre preferível dizer 12 por cento, em vez de 11,8 por cento. Ou cerca de 30 pessoas, em vez de 29. Os números com mais de dois algarismos devem ser evitados, excepto se tiverem suporte gráfi co. Há situações em que o apelo dos números é irresistível. Mas devemos resistir, sempre, à tentação de encharcar as notícias de te- levisão com números. Repare neste exemplo sobre um balanço do pontifi cado do Papa João Paulo II: “Aos 83 anos, e com um papado marcado por dois atentados, Karol Wojtyla contabiliza uma lista de quase dois mil e quinhentos discursos proferidos e uma quilometragem percorrida que seria su- fi ciente para dar 29 vezes a volta à Terra ou ir três vezes à Lua.” Os números estão lá, mas a técnica da comparação, ou concre- tização, ajuda a perceber a dimensão gigantesca da distância per- corrida pelo Papa. Em vez dos quilómetros percorridos, foi usada a técnica da comparação. A técnica do arredondamento é também muito utilizada quando so- mos obrigados a lidar com números. Imaginemos um terramoto que provocou a morte, segundo números ofi ciais, de 2978 pessoas. Neste caso, devemos dizer que o terramoto matou cerca de 3 mil pessoas. É um número “redondo” e, por isso, mais facilmente memorizável pelo espectador. No caso de números que não podem ser arredondados nem compa- rados, usamos a técnica da representação gráfi ca, mostrando ao espec- tador os valores exactos. Por exemplo: 3. A ESCRITA JORNALÍSTICA DE TELEVISÃO NÚMERO DE MORTES NAS ESTRADAS 2002 2003 1298 1339 (MAIS 41) Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 2727 3.1. Escrita curta, clara, forte e sugestiva Cuidado com os “recuos temporais”. Palavras como respecti- vamente não podem ser utilizadas nunca. Se o fi zermos, estaremos a obrigar o telespectador a recuar no tempo. Imagine a frase: “A reunião foi dominada pelas intervenções do Sr. Silva e do Sr. Santos, respectivamente tesoureiro e secretário-geral da associação”. Este respectivamente está a obrigar a associar os nomes aos cargos e, portanto, a fazer-nos recuar, a “olhar para trás, a pensar quem é o quê”. Isso é inadmissível em televisão. A escrita deve ser de tal forma clara, directa e concisa que ninguém seja obrigado a parar para pensar ou para recapitular. Cuidado com os adjectivos. Devem ser evitados, a não ser em situações estritamente necessárias para a compreensão dos factos ou para tornar a escrita mais sugestiva. Mas a regra é não usar. Não só por razões de pura técnica jornalística (os adjectivos são, geralmente, qualifi cativos e a qualifi cação de algo ou de alguém pode ser jorna- listicamente repreensível) como também por razões de fl uência de comunicação. Quanto menos palavras utilizarmos, melhor. Cuidado com os advérbios. Tal como os adjectivos, são muletas evitáveis. Cuidado com os pronomes demonstrativos, sobretudo quando obrigam a “recuos temporais”. Dizer que “o presidente da Câmara de Lisboa quer limpar as ruas desta cidade” é incorrecto do ponto de vista da técnica de escrita jornalística. Neste caso, como em outros se- melhantes, devem encontrar-se sinónimos ou, se necessário, repetir a palavra. Em televisão, as repetições não fazem mal a ninguém, desde que usadas com equilíbrio, parcimónia e efi cácia. Aliás, a única ma- neira de garantir que a informação essencial de uma notícia é recebida é repeti-la, pelo menos uma vez. Em suma: a escrita televisiva deve soar bem. Quando escreve um texto, um jornalista deve lê-lo em voz alta antes de o gravar. Só desse modo pode perceber se tudo está bem: se as frases têm ritmo e musi- calidade, se “passam bem”, se se ouvem e entendem bem, se não há cacofonias. Todos os textos devem ser curtos, sem abdicarem, no entanto, da riqueza do estilo. Mas a regra é eliminar de uma frase tudo o que a polua. Uma comparação possível é com as regras de acentuação de palavras em português: só são acentuadas as palavras que, se não tivessem acento, seriam lidas de outro modo. Ou seja, os acentos só existem se forem absolutamente necessários. Passa-se o mesmo com os textos de televisão. Só lá devem estar as palavras que são absolu- tamente necessárias. O resto é inútil. Os recuos temporais são “proibidos” em televisão. Não faz sentido obrigar o espectador a “voltar atrás” para perceber o que esta- mos a dizer. Como não faz sentido utilizar o advérbio respectiva- mente. Nunca. Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 28 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O Diga Perguntar Dizer Escolher Compreender, entender Ver Mostrar Mostrar Confl ito, luta Comportamento, atitude Vontade, intenção Desejo, vontade Dizer Comandar Elogio Aborrecido, irritado Exigir Morrer Desmaiar, ir abaixo Desistir Desejo, vontade Pergunta, dúvida Impedir, travar Eliminar, acabar com Incomodar Pedir Azar Responder Conseguir, alcançar Diferença Insistir, não desistir Chuva Em vez de Questionar Enunciar Optar Discernir Visualizar Desvendar Evidenciar Disputa Postura Intuito Desiderato Proferir Liderar Encómio Agastado Reivindicar Falecer Desfalecer Abdicar Pretensão Interrogação Obstaculizar Erradicar Importunar Solicitar Infortúnio Retorquir Lograr Discrepância Porfiar Pluviosidade Repare nestes exemplos. As palavras na coluna à es- querda são complexas, difíceis, “caras”. Por que não substi- tuí-las por outras mais simples, claras, directas? 3. A ESCRITA JORNALÍSTICA DE TELEVISÃO 28 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O q t Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 29 E que tal este exemplo? O primeiro texto é demasiado confuso e sofi sticado para ser ouvido e compreendido à primeira. É um texto pesado, cheio de expressões complicadas. A solução, afi nal, parece simples... Não seria melhor substituir um texto tão complexo por este, bas- tante mais simples e efi caz? A simplicidade é, pois, a palavra-chave em todo o processo de construção de materiais televisivos, a começar no respectivo texto de suporte. Veja como algumas ideias confusas podem ser “desen- roladas” como se de um novelo se tratasse, de modo a construir uma ideia clara, límpida e imediatamente compreensível: 3.1. Escrita curta, clara, forte e sugestiva Uma hecatombe abateu-se sobre a cidade do Sado, ao quinto dia do quarto mês do ano jubilar. Os índices de pluviosidade atingiram valores métricos inaudi- tos, na ordem dos 3,652 hectolitros por km2. A intempérie pairava sobre os sadinos e já há vários dias que os tons plúmbeos faziam antecipar o catastrófi co desfecho. A tragédia diluviana ceifou a vida a dois indivíduos cauca- sianos de meia-idade. As chamadas de socorro ecoaram insistentemente nos aquar- telamentos dos soldados da paz da terra de Elmano Sadino, os quais, graças à incansável tenacidade, levaram a bom porto a tarefa de auxílio solidário e altruísta. Duas pessoas morreram devido às chuvas torrenciais em Setúbal. Os bombeiros não tiveram mãos a medir para acudir às centenas de pedidos de ajuda. TEXTO CONFUSO, “ENROLADO” TEXTO CLARO, DIRECTO A centenária estação de comboios do Rossio, na cidade de Lisboa, vai ser objecto de profundas obras de remodelação e aprimoramento, quer do ponto de vista estrutural, quer do ponto de vista apenas superfi cial, de modo a restituir-lhe a beleza original, bem como dotá-la de maior funcionalidade e comodidade. As mudanças serão mais visíveis sobretudo ao nível da fachada. A estação do Rossio, em Lisboa, vai fi car de cara lavada. 29 Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo30 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 30 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O Escrever para televisão é tão simples como falar. O segredo está, na maior parte dos casos, em escrever tal como falamos. Essa é a melhor forma de garantir que o espectador nos ouve e nos entende. Evite a monotonia! Nunca comece com a confi rmação de algo que já se conhece. Notícia é o inesperado. Caso contrário, quase nunca é notícia. Dizer “tal como o previsto”, ou “tal como se esperava”, ou “como toda a gente sabe” é desvalorizar o que vem a seguir. Nunca diga: “Vamos começar por…”. Os espectadores sabem muito bem quando é que você está a começar e por onde. Escreva com simplicidade A melhor fórmula é o SuVerComDir: Sujeito+Verbo+Comple mento Directo. É o modo mais directo de exprimir uma ideia. Além disso, é assim que nós falamos normalmente. A frase “Eu fui ver uma peça de teatro com os meus colegas” é preferível à frase “Eu fui ver, com os meus colegas, uma peça de teatro”. Bang! Zás! Triim! Esta linguagem tipo banda desenhada não ser- ve para as notícias de televisão. Além de ser demasiado agressiva, não é sufi cientemente clara nem, muito menos, contém informações relevantes! “Culpado!! Foi o veredicto do tribunal da Boa Hora!” ou “Tragédia! Comboio esmaga seis em passagem de nível!” são frases demasiado bombásticas para serem boas aberturas de uma peça ou reportagem. Os leads de uma só palavra não ajudam a perceber a situação e podem revelar-se confusos. Além disso, não ajudam a transmitir, de modo coloquial, a informação desejada. As pessoas não falam daquela maneira e não ouvem nem entendem daquela maneira. Normalmente, exprimem-se segundo as fórmulas tradicionais da língua portuguesa. Começam pelo sujeito, seguem para o verbo e rematam com um complemento directo ou, às vezes, indirecto. “O Fernando morreu”. Ninguém diz ao amigo: “Morto!! É como está o Fernando!!” 3. A ESCRITA JORNALÍSTICA DE TELEVISÃO Os corpos foram retirados, sem vida, pelos bombeiros. Os corpos foram retirados pelos bombeiros sem vida. Parece óbvio que só uma destas frases faz sentido. A outra é confusa e presta-se a interpretações erradas... Sejamos claros! Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 3131 3.1. Escrita curta, clara, forte e sugestiva Atenção às citações Um apresentador começa um noticiário com uma frase de cho- que: “Vamos queimar tudo! Nada vai fi car de pé. Utilizaremos bom- bas, fogo, gases e balas!”. Assustador... Será que se tratava de uma operação de marketing para combater a queda das audiências? Ou será que…. Pois, é isso! Aquelas não eram as palavras do apresenta- dor, mas as de outra pessoa. O problema é que a citação vinha logo a abrir e o espectador não teve tempo, sequer, de perceber de quem eram aquelas palavras. Um risco que não podemos correr. Frases tão fortes como aquela, ou outras, mesmo menos brutais, devem ser previamente identifi cadas, para evitar confusões e facilitar a clareza da comunicação. “Aqui não chove…” “Aqui, a situação é normal. O trânsito voltou a fl uir sem grandes problemas e a chuva já não cai há mais de uma hora”. Aqui? Aqui, onde? Lisboa? Carrazeda de Ansiães? Fornos de Algodres? Lou- lé? O que pensarão os espectadores de algumas dessas localidades quando ouvem dizer que “aqui” não chove? Há que evitar estas situações e perceber que um jornal nacional é isso mesmo: nacional. Destina-se a todas as pessoas, quer chova, quer faça sol no local onde estão a ver o telejornal. Comece pela notícia Não comece a sua notícia pelo local onde ela aconteceu. “Em Loures, dezoito pessoas fi caram feridas na explosão de uma botija de gás”. Será que, ao ouvir isso, os espectadores da Trofa largaram tudo o que estavam a fazer para fi carem a saber o que aconteceu em Loures? Se a notícia começasse por “Na Trofa…”, será que as pessoas, em Loures, se interessavam mais pela notícia? Talvez não. O mais importante, numa notícia, é o próprio acontecimento. O lo- cal onde decorreu é, quase sempre – mas nem sempre – o elemento menos importante. A escrita de televisão deve ser coloquial. Devemos escrever tal como falamos, sem artifícios nem construções sintácticas complexas. A escrita deve aproximar-se da oralidade, funcionando quase como que uma transcrição de palavras ditas. Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 32 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 32 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 3333 4. Produzir uma reportagem de televisão Objectivo: Identifi car as técnicas de produção de uma reportagem de televisão, desde a fase de pré- produção até à respectiva fi nalização. 4.1. Os primeiros passos A produção de uma reportagem de televisão deve respeitar uma série ordenada e coerente de passos. Objectivo: sistematizar o tra- balho do repórter, facilitar a sua execução no terreno e tornar mais efi caz a construção da reportagem. Cada passo deve ser dado de forma coerente, integrada e harmoniosa: • Identifi cação do tema • Recolha de informações • Selecção das informações • Hierarquização das informações • Montagem O primeiro passo a dar é a identifi cação do tema a tratar. Co- nhecido o tema, o jornalista deve procurar saber todas as suas im- plicações, desdobramentos, causas e consequências. Nesta fase, o repórter deve recolher o maior número possível de informações so- bre o tema, quer lendo o que já tenha sido publicado, quer consul- tando documentação avulsa ou recolhendo opiniões e testemunhos de pessoas relacionadas com a questão. Num segundo momento, o repórter parte para o terreno com o repórter de imagem. Observa as situações e as pessoas, recolhe in- formações. Anota tudo o que vê e sente e certifi ca-se de que tudo está perfeitamente identifi cado. Horas, locais, nomes, cargos, fra- ses, conceitos, ideias. Nada pode fi car para trás, nada pode ser es- quecido. Em articulação perfeita com o repórter de imagem, o jornalista es- tabelece prioridades: as imagens, primeiro! Defi ne campos de acção A identifi cação do tema da reportagem e do respectivo ângulo de abordagem é essencial para a defi nição dos conteúdos. Um tema vago e um ângulo de abordagem indefi nido desmobilizam os espectadores. Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 34 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 34 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O e começa a antecipar o modo como a sua reportagem vai desenvol- ver-se. Nesta fase, o jornalista deve decidir claramente os passos que precisa de dar para construir a reportagem que já tem na cabeça. O terceiro momento da produção da reportagem é o da selec- ção da informação. O jornalista deve visionar todas as imagens recolhidas e consultar todos os seus apontamentos e decidir o que é importante e o que é irrelevante. No visionamento, o repórter deve identifi car, com a ajuda do time code 1, os planos que considera mais importantes e de que pode vir a necessitar na montagem. Nesta fase, o jornalista deve identifi - car, igualmente, os vivos que considera mais relevantes, anotando o respectivo início e fi m. Num quarto momento, há que hierarquizar toda essa informa- ção seleccionada, encadeando-a de acordo com critérios de impor- tância jornalística. 4.2. O guião de reportagem Após esta fase inicial, que se destina a estabelecer os contornos e os conteúdos do tema, o jornalista deve construir uma sinopse fi nal ou guião da sua reportagem, defi nindo: • Ângulo de abordagem• Estrutura material da reportagem • Estrutura formal da reportagem • Áreas de desenvolvimento da reportagem • Remate da reportagem O ângulo de abordagem é essencial. Ao seleccionar um de- terminado lado da questão e ao valorizá-lo na sua escolha inicial, o jornalista vai condicionar o enquadramento do tema e o seu de- senvolvimento, conduzindo o espectador por um caminho pré-de- fi nido. Esta escolha é fundamental, porque ajuda a compreender a questão, concentra a atenção do espectador e defi ne claramente os contornos da reportagem. A escolha do ângulo de abordagem está submetida a três crité- rios decisivos: o visual, o material e o formal. Do ponto de vista do critério visual, o jornalista deve começar a 1 O time code é um sistema que facilita a localização de uma dada imagem numa cassete. No momento da gravação das imagens, o sistema de time code associa a cada imagem um tempo. Esse tempo é imutável e pode ser lido em qualquer máquina de vídeo, uma vez que o registo fi ca gravado. Ao visionar uma cassete, o jornalista identifi ca os planos e localiza-os pelo respectivo time code. 4. PRODUZIR UMA REPORTAGEM DE TELEVISÃO Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 4.2. O guião de reportagem montar a sua reportagem pela imagem mais forte, ou seja, a imagem mais relevante, quer estética quer jornalisticamente. Começar com uma imagem fraca ou demasiado genérica é o mesmo que dizer ao espectador que aquela reportagem é tão fraca e genérica com as imagens. Se a nossa primeira imagem provocar no espectador reacções de espanto, de surpresa ou de curiosidade, ele vai querer continuar a ver a reportagem. Garantidamente. Do ponto de vista material, o jornalista deve escolher, de entre todas as informações recolhidas, a, ou as, que considerar mais rele- vantes do ponto de vista jornalístico. Essa escolha é decisiva. Se o ângulo de abordagem da nossa reportagem for sustentado por uma escolha material fraca ou irrelevante, o espectador não se sentirá atraído, preferindo mudar de canal ou de assunto. Por outro lado, a escolha dos conteúdos deve ser enquadrada por uma formulação interessante e forte. O início deve ser atraente, inovador, surpreen- dente. O espectador gosta de ser surpreendido e convidado a saber mais. O ataque da nossa reportagem deve, por isso, respeitar as regras da novidade, da surpresa e da relevância. Caso contrário estaremos perante qualquer outra coisa que não uma reportagem. O ataque deve conter todos os elementos que tornam a nossa reportagem in- teressante e apetecível: a informação mais importante, a descrição de pessoas, ambientes e situações e um elemento de atracção – que tanto pode ser formal, como material. Uma reportagem nunca pode começar do mesmo modo como começaria uma simples notícia. O •10• A presença do repórter no local do acontecimento é essencial. Só assim pode o jornalista recolher de modo independente, actual e completo todas as informações necessárias à construção da reportagem Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 36 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 36 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O repórter tem de acrescentar muito mais à simples descrição de um facto, se quer cativar o seu espectador e criar nele a vontade de ver a reportagem. No desenvolvimento do tema, o jornalista deve ter atenção ao conteúdo e tamanho das frases e dos planos. Quanto mais simples e curtos, melhor. O espectador não pode ser obrigado a pensar no que está a ver ou ouvir. O nosso trabalho é o de simplifi car, descodifi car, traduzir. O espectador não quer ser incomodado, quer ser informa- do. Uma reportagem de televisão não é uma tese científi ca nem um exercício de erudição. Além de curtas e simples, as frases devem conter todos os ele- mentos necessários à fácil e imediata compreensão da mensagem. Estrutura directa, tão próxima quanto possível da coloquialidade. Reportagem retrato de • Pessoas • Situações • Ambientes Reportagem investigação • Testemunhal • Documental A reportagem é, quase sempre, um retrato. De pessoas (rosto, marcas, expressões, gestos, reacções, atitudes, comportamentos, ti- ques, características, carácter, personalidade, modo de vestir, etc.), de situações ou de ambientes. Mas também é, sempre, um trabalho de investigação, que tanto pode ser desenvolvido através da recolha de testemunhos, como da consulta de documentos. No momento de terminar a reportagem, o jornalista deve re- matá-la com uma imagem e uma frase muito forte, que sintetize os pontos fortes do seu trabalho ou que exprima uma conclusão jor- nalisticamente aceitável do que fi cou dito e revelado. O remate da reportagem é a última ideia ou sensação com que o espectador vai fi car. Convém que seja uma sensação forte, agradável e substancial. Caso contrário, ele sentir-se-á frustrado e desanimado. A reportagem deve assentar em factos e, acima de tudo, em pes- soas. São elas que dão a dimensão humana e interessante à história, aproximando-a do espectador. Sem pessoas, a reportagem é uma abstracção, uma narrativa distanciada, seca e desapaixonada. As pessoas, as suas histórias, os seus dramas, as suas vitórias ou der- 4. PRODUZIR UMA REPORTAGEM DE TELEVISÃO Há muitas formas de contar uma história. Além do rigor, o jornalista deve socorrer-se de técnicas narrativas que transmitam ritmo e dinamismo à sua reportagem. A imaginação, o talento e a criatividade são peças fundamentais para a criação de boas reportagens de televisão. Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 3737 4.3. As fases de produção da reportagem rotas, os seus feitos ou fracassos, aproximam o espectador e criam uma atmosfera de identifi cação social e vivencial insubstituível. As pessoas da nossa reportagem devem ter opinião e emoções. Devem ter rosto e gestos. Ao repórter cabe registar tudo isso de for- ma eloquente mas equilibrada, sem distorcer factos ou situações. A reportagem é uma história viva e vivida. 4.3. As fases de produção da reportagem Vejamos, então, as fases da produção de uma boa reportagem de televisão: 1. Pré-produção • Contactos • Recolha prévia de informações Documental Fontes pessoais • Autorizações De captação de imagens De entrevista ou registo de depoimentos • Sinopse ou Guião 2. Preparativos (Equipamento) • Câmara • Cassetes (de 20 ou 30 minutos, tendo em conta que para cada minuto de peça montada são necessários 10 minutos de material “bruto”) • Tripé • Iluminação De recurso, para situações inesperadas Kit completo, para captação de imagens ou grava- ção de entrevistas em interiores de grandes dimensões • Baterias Pilhas para os microfones emissores Baterias para a câmara Baterias para a iluminação • Microfones A escolha do equipamento adequado à reportagem é muito importante. Num ambiente de muito ruído, como o de um estádio, por exemplo, é preciso ter atenção especial aos microfones a utilizar. De ambiente, para captar o som das bancadas; unidireccionais para captar a voz do repórter. Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 38 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 38 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O Direccionais De ambiente Cardióides 3. No local • Perceber o acontecimento Prioridade à imagem • Dialogar com o repórter de imagem • Trabalho de equipa Cada um para seu lado Objectivos comuns • Captar todas as imagens • Recolher o máximo de informações • Identifi car todas as pessoas, locais e horas/datas4. Após o regresso • Visionar o material recolhido Identifi car os melhores planos com o time code Identifi car e “isolar” os vivos • Conferir todas as informações • Seleccionar as melhores imagens • Seleccionar as melhores informações • Estabelecer um plano de montagem A imagem mais forte vem primeiro Selecção de vivos • Escrever o off Em função das imagens Em articulação com os vivos • O remate da reportagem A segunda imagem mais forte remata a reporta- gem O off fi nal deve ser conclusivo 5. Montagem • Montar o “esqueleto” Sequência off-“vivo”-off-“vivo”-off 1.... 1 Em televisão, off signifi ca que não vemos a pessoa que está a falar. “Vivo” signifi ca o oposto: vemos quem fala. 4. PRODUZIR UMA REPORTAGEM DE TELEVISÃO Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 3939 4.3. As fases de produção da reportagem • Planos com duração média aproximada de 3 a 5 segundos Respeito pelo ritmo e cadência de leitura Respeito pela inteligibilidade de cada plano • Vivos com a duração máxima de 20 segundos • Respeitar as “respirações” entre sequências de cenas e entre offs e vivos Não colar planos em movimento Não cortar planos em movimento 6. Ver o trabalho produzido • Nunca entregar a reportagem antes de a visionar. Coloque-se no papel do espectador e seja o seu maior crítico Para melhor compreender o conceito e a vantagem do guião de reportagem, repare neste exemplo de um texto extraído do jornal Público com informações sobre um novo sistema de segurança para empresas ou particulares: «Alguns empresários de Guimarães descobriram uma nova forma de guardar as suas empresas sem recorrer ao uso de alarmes ou mesmo sem contratarem qualquer empresa de segurança. Em vez disso compram cães, contratam uma em- presa para os educar e depois é só colocá-los no interior das fábricas a “vigiar”. A Educadog é uma das empresas “pionei- ras” neste tipo de tarefas e José Ribeiro, o responsável pela “escola e hotel para cães” tem, neste momento, uma carteira de nove clientes a quem presta este tipo de serviço. Na prática, os empresários e donos dos cães pedem a Ribeiro que os treine para que defendam as suas propriedades. Depois de prepara- dos, os animais permanecem no hotel canino da Educadog e, diariamente, por volta das 21h00 são levados aos pares, numa carrinha, para as empresas. Já dentro das instalações que vão vigiar, são-lhes retirados os açaimes e deixados “à solta”. No fi m do mês, os empresários pagam, em média, 400 eu- ros por mês, em vez de verbas bem mais elevadas, caso tives- sem contratado uma empresa de segurança. “Em França este é já um método de segurança usado há muitos anos”, explicou ao PÚBLICO José Ribeiro. Aliás, foi naquele país que o dono da Educadog começou a trabalhar no ramo e desde que regressou a Portugal, há oito anos, não tem feito outra coisa senão tratar e ensinar cães. Como em Guimarães, pelo menos mais uma escola, no Porto, usa este método. Contactado pelo PÚBLICO, um dos empresários que já usou cães para guardar a sua empresa, enquanto estava em Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 40 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O obras, não poupou elogios ao sistema. “Nunca fui assaltado e foram os melhores guardas que já tive “, referiu. Agora, já com as obras concluídas, os cães regressaram a casa do em- presário onde também têm por função proteger a moradia. No caso das empresas, os animais fi cam sempre no interior das instalações, evitando assim que alguém “acidentalmente” possa ser atacado no exterior das fábricas. Defensores dos animais falam em “ilegalidade” “Eticamente chocante”, é assim que Gonçalo Pereira, da Liga dos Direitos dos Animais, comenta o uso de cães na guarda das empresas. “É um procedimento ilegal em vários aspectos, desde o treino que é dado aos cães até à forma como são mantidos durante a noite”, refere ainda o responsável pela Liga que vê nesta situação “mais um caso fl agrante em que o homem quer tirar o máximo rendimento de animais, inclusive dos animais domésticos”. A falta de legislação clara sobre o uso de animais na protecção e defesa de bens acaba por abrir espaço para que “tudo possa acontecer”. De qualquer forma, o Ministério da Administração Interna estará já a produzir nova legislação sobre esta actividade, embora ainda sem data para a sua publicação.» Tendo em vista as informações contidas nesta notícia, o jorna- lista terá que seleccionar as que considera mais relevantes e esta- belecer uma hierarquia. Depois, terá que preparar a captação das imagens para ilustrar a sua reportagem, bem como estabelecer os contactos necessários para recolher informações e depoimentos de pessoas que podem ser úteis à narrativa. São primeiros passos que podem ser dados com mais segurança se recorrermos à ajuda de um guião de reportagem. 4.4. Estruturas de reportagens Construir uma reportagem signifi ca encontrar a estrutura mais adequada ao objectivo de comunicar a mensagem com efi cácia. As formas de construir uma reportagem são quase infi nitas. Tudo depende da criatividade do repórter, do seu talento e da sua qualidade técnica. Mas é possível agrupar em nove os tipos de estrutura de uma reportagem: A estrutura circular. É uma das mais efi cazes. A reportagem co- meça e acaba com o mesmo ângulo. A sua construção assenta numa 4. PRODUZIR UMA REPORTAGEM DE TELEVISÃO 40 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O l b i c p p g 4 a T q r m Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 4.4. Estruturas de reportagens GUIÃO DE REPORTAGEM TEXTO OU IDEIA IMAGEM Ângulo de ataque Este não é um cão qualquer. É um segurança de quatro patas e muitos dentes, contratado para tomar conta desta fábrica Cão na fábrica, de guarda Desenvolvimento Como funciona Treino dos cães/acção Vivo do treinador Guarda e vigilância O transporte dos cães para a fábrica A vigilância nocturna Vivo do empresário A contestação Liga dos Direitos dos Animais Vivo de um activista A resposta Vantagens do negócio: Vivo do empresário e do treinador Vantagens práticas: vivo do empresário Consequência: o cão é o melhor amigo do homem. Excepto se o homem for um segurança ou —guarda-nocturno Vivo de um guarda-nocturno ou segurança Remate Antes de casa roubada, cães à porta Cão a ladrar furiosamente sob a ameaça de intrusos Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 42 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 42 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O descrição de vários aspectos encadeados e interligados, criando um círculo fechado. Tem a vantagem de transmitir ao espectador a ideia de que tudo foi tratado, tudo foi visto, tudo foi explicado. Ao acabar como começou, a reportagem dá a ideia de ter feito uma viagem com- pleta. Por outro lado, o espectador fi ca com a sensação, ao rever, no fi nal, o tema de abertura, de que foi feita uma recapitulação. A sensa- ção fi nal é a de que a reportagem teve princípio, meio e fi m. A estrutura cronológica. É um método que relata os aconte- cimentos à medida que foram acontecendo. Tem a vantagem de os ordenar no tempo, permitindo encadeá-los numa sequência crono- lógica. Tem, no entanto, o inconveniente de não respeitar a lei da proximidade, uma vez que começa com o evento mais antigo, e não com o mais recente. Por outro lado, não hierarquiza a informação: o mais importante, do ponto de vista jornalístico, não pode ser me- dido pelo tempo em que aconteceu, mas pelos efeitos que produziu ou vai produzir. A estruturacronológica invertida. A reportagem começa pelo fi m e vai recuando no tempo até à origem. O problema da lei da proximidade fi ca resolvido, uma vez que o tema de abertura é o mais recente, mas a hierarquia das informações continua a ser posta em causa. Esta é, de todas as estruturas possíveis, a mais difícil de aplicar. Contar uma história de trás para a frente não é um método que se utilize vulgarmente. A estrutura cronológica mista. É uma forma de evitar os prin- cipais inconvenientes das duas estruturas anteriores. Neste caso, introduz-se um elemento de hierarquização jornalística das infor- mações, partindo depois para uma arrumação cronológica. É um método que pode revelar-se de grande utilidade em situações de enquadramentos históricos ou de efemérides. A estrutura da pirâmide invertida. É o método utilizado, por excelência, nas agências de informação. Mas também pode ser usado numa reportagem televisiva. É uma estrutura que privilegia a hierarquização das notícias, começando pela mais importante e acabando na menos importante. Se, do ponto de vista jornalístico, este método é correcto, do ponto de vista televisivo suscita muitas dúvidas. Em televisão, uma reportagem não deve terminar com o assunto menos importante. Pelo contrário, deve terminar em cres- cendo, com um tema e umas imagens fortes, quer jornalisticamente, quer televisivamente. A estrutura dialéctica. Assenta no plano tese – antítese – sín- tese. Apesar de ser uma estrutura clássica, utilizada em situações complexas do ponto de vista científi co, tem pouco valor jornalístico. 4. PRODUZIR UMA REPORTAGEM DE TELEVISÃO Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 4343 A síntese é, normalmente, o ponto mais importante de uma estrutura deste tipo. Não deve, por isso, fi car para o fi m. Quanto a aspectos positivos, realce para a exposição de pontos de vista opostos sobre um assunto. Uma vantagem jornalística, mas talvez a única. A estrutura demonstrativa. Visa demonstrar uma ideia. É uma estrutura jornalisticamente interessante, porque permite conhecer todos os argumentos que sustentam uma conclusão. A reportagem parte de uma ideia central e é construída tendo por base a demons- tração dessa ideia. Tem o inconveniente de só mostrar um dos lados da questão. A estrutura descritiva ou analítica. É a mais completa. Assen- ta numa lógica de descrição exaustiva da situação, das suas causas, das suas consequências e, em alguns casos, nas soluções. É, do pon- to de vista jornalístico, a mais abrangente, uma vez que todos os ân- gulos e facetas da questão são abordados e revelados. Peca, apenas, por alguma falta de hierarquização, uma vez que os acontecimentos e os factos são tratados numa sequência lógica. A estrutura específi ca. É o método que reúne o melhor de todos os anteriores. Está subordinado ao conceito da mensagem essen- cial e respeita os enquadramentos lógicos e jornalísticos. Permite variações de acordo com a criatividade do repórter, desde que res- peite, sempre, o carácter específi co da estrutura: a mensagem cen- tral. A partir dessa plataforma, constrói-se a reportagem de acordo com a desmultiplicação do tema principal em subtemas com ele relacionados. Eu, jornalista, observo atentamente todos os pormenores. Sei que a diferença entre uma boa reportagem e uma reportagem como as outras está na capacidade de perceber os pormenores, identifi car as coisas mais particulares, interpretar os mais pequenos sinais, ver o que os outros não vêem, fi car a saber e a perceber o que está por detrás do cenário e do palco. Eu observo atentamente para além dos factos e das evidências. Eu observo atentamente o insólito, o inesperado, o pitoresco. Eu, jornalista, pergunto para fi car a saber mais. Não paro de perguntar, para fi car a saber tudo e mais alguma coisa sobre tudo e todas as coisas. Sei que as minhas perguntas vão ajudar-me a perce- ber melhor as coisas e que as respostas que obtiver vão enriquecer 4.4. Estruturas de reportagens O jornalista deve manter perante todas as situações uma mente aberta e disponível e revelar uma enorme e insaciável curiosidade. Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 https://www.studocu.com/pt?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=manual-de-jornalismo-televisivo 44 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O 44 JO R N A LI SM O D E TE LE VI SÃ O os meus trabalhos. Eu pergunto mais para poder dizer e mostrar mais. As minhas peças ou reportagens são mais completas e interes- santes porque têm mais e melhor informação. Sei que o “porquê” é a mola que faz avançar o conhecimento. Eu, jornalista, escrevo com frases curtas, simples e efi cazes. Escrevo frases com menos de seis segundos, porque sei que isso vai dar ritmo à minha reportagem. O meu espectador vai gostar de ver uma reportagem com frases curtas, porque sabe que, desse modo, não vai ter difi culdades em compreender tudo até ao fi m. Escrevo com frases simples, porque o meu espectador vai querer perceber tudo o que eu escrever, sem ter de parar para se interrogar sobre o que signifi ca isto ou aquilo. Escrevo com frases efi cazes, porque quero que a minha escrita alcance todos os objectivos, através de uma linguagem forte, sugestiva, colorida e perfumada. Sou um jornalista ambicioso e exigente. Sei que a qualidade do meu trabalho depende de muitas coisas diferentes. Algumas não dependem de mim. Mas outras, só eu posso controlar e determinar. Sei que posso usar a imaginação e a criatividade para tornar mais leve e apetecível uma reportagem. Sei que posso esforçar-me cada vez mais para exprimir as ideias com clareza e para as ordenar de modo coerente, harmonioso e interessante, combinando imagens, sons e informações de modo tão efi caz, que tudo parece simples, natural e inevitável. Sei que posso escrever para que todos me com- preendam. E sei que posso escrever para que todos gostem de ver a minha reportagem. 4. PRODUZIR UMA REPORTAGEM DE TELEVISÃO REPORTAGEM É: Uma história contada por imagens com pessoas e muito ritmo acção e interesse para criar impacto Descarregado por Leticia Ribeiro (leticialopesribeiro2002@gmail.com) lOMoARcPSD|7635759 4545 5. Entrevistar em directo Objectivo: Conhecer as técnicas de preparação e condução de uma entrevista de televisão em directo. A entrevista é um género jornalístico muito complexo e exigen- te. Muito mais quando se trata de uma entrevista de televisão, em directo. Repare: televisão, directo. Dois simples elementos que podem transformar uma entrevista num sucesso profi ssional ou num fracasso descomunal. Tudo depende da preparação, da concentração, do estilo e da noção televisiva do acontecimento. Mesmo uma pequena entrevista de dois minutos é um “espectáculo de televisão”. Ou seja, deve ter ritmo, interesse, dinamismo, importância e despertar a curiosi- dade do espectador. Aqui estão, de uma penada, os principais critérios de defi nição do jornalismo televisivo: • Importância • Interesse • Curiosidade • Ritmo • Dinâmica Se a entrevista não tiver importância – ou porque o tema não presta ou porque o entrevistado não ajuda... – a entrevista não in- teressa a ninguém e muito menos desperta a curiosidade de quem quer que seja. Se, por outro lado, a entrevista não tiver ritmo nem dinamis- mo, pode desmobilizar a atenção do espectador, que “desliga” e se desinteressa, mesmo que a entrevista seja sobre o assunto mais extraordinário do Mundo. Importa, por isso, ter atenção aos conteúdos e à forma. De que me interessa ter em estúdio o cientista que descobriu a cura para a Uma entrevista de televisão em directo é como um jogo de voleibol: bola para cá e para lá, sem bater no chão. Sempre que a “bola bate no chão”, a entrevista perde ritmo
Compartilhar