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E BOOK 70 ANOS DA TV

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ROGÉRIO
BORGES
da TV no BRASIL
2
Poucos aparelhos, uma transmissão amadora e cheia de problemas técnicos, a reação do público variando entre a curiosidade e a completa indiferença. Quando a Tupi emitiu o sinal pioneiro de uma emissora de TV 
no Brasil, em 18 de setembro de 1950, não seria de admirar que alguém, vendo 
aquela estreia, duvidasse de seu futuro. A novidade, que se consolidava nos EUA 
desde os anos 1930, chegou com atraso ao Brasil, pelas mãos pelo polêmico 
magnata da mídia Assis Chateaubriand e tendo no rádio um concorrente que 
parecia imbatível. Raros poderiam desconfiar que estavam presenciando o início 
de uma revolução.
Uma revolução que não termina nunca e é feita incessantemente, 
acompanhando as novidades de cada tempo. A inquietude da TV desde aquela 
transmissão inicial, sete décadas atrás, é o ponto nervoso dessa obra. Nesta 
jornada inicial, vamos falar de como este meio é, hoje, completamente diferente 
do que já foi um dia, agregando formatos e plataformas, interações e linguagens, 
promovendo experiências e sensações únicas.
Do bombril ao 8K
Na imagem, mal se conseguia distinguir o que era gente e o que era objeto. 
Formas um tanto embaçadas circulavam naquela tela dentro de uma espécie 
de caixote, de onde também saíam sons. Um cinema portátil, para alguns. Uma 
bobagem que não merecia atenção, para outros. Uma corrida tecnológica sem 
fim para quem a colocava no ar, em operações que beiravam a temeridade, com 
equipamentos imensos e caros, e resultados nem sempre satisfatórios. O início 
da TV no Brasil teve a marca do pioneirismo, com seus erros e histórias icônicas.
TV no Brasil 
sempre teve o 
rumo alterado 
por mudanças 
tecnológicas, 
mas nenhuma 
tão radical 
quanto a 
observada nos 
dias atuais
AS NOVAS 
TECNOLOGIAS DA TV
Reinvenção aos 70
Assis 
Chateubriand, 
responsável por 
trazer a TV ao 
Brasil, fala diante 
da câmera. Só 
200 aparelhos 
assistiram 
à primeira 
transmissão
da TV no BRASIL
3
Uma trajetória cuja evolução podemos medir pela qualidade da imagem que 
chega até nós hoje, 70 anos depois daqueles vultos e “fantasmas” fugidios. Esse 
tipo de problema teria vida longa na história da TV brasileira. Antenas ineficientes, 
improvisadas em perigosas instalações no telhado, ou em cima do aparelho, 
com pedacinhos de bombril nas pontas para ajudar na recepção. Quando os 
equipamentos ficaram melhores, as emissoras fizeram investimentos. O Brasil 
ganhou um sistema de satélites, nos anos 1970, e essa situação foi melhorando.
Tudo isso aconteceu gradativamente, enquanto a TV conquistava público e 
mercado. No início, porém, as condições eram muito complicadas. Em 1952, dois 
anos depois de sua instalação no Brasil, só existiam em todo o território nacional 
cerca de 11 mil televisores. Naquele ano, era inaugurada a TV Paulista, a terceira 
do Brasil, que se juntava às TVs Tupi de São Paulo e do Rio de Janeiro. Tateava-se 
um modelo de programação que pudesse seduzir mais telespectadores com seu 
conteúdo, já que, se dependesse da imagem, seria difícil.
Os registros daquela época mostram que a qualidade das transmissões era 
precária, com muitos cortes, imagens que dançavam na tela, instáveis, som sem 
sincronia com o que se via. Ainda que o equipamento que foi importado para 
inaugurar a TV no Brasil fosse de última geração, havia um problema crônico 
com os canais de transmissão. Em seus primeiros tempos, apenas um raio de 100 
quilômetros em torno da emissora era atendido pelo sinal. Só no final de 1951 o 
Brasil passou a fabricar seus próprios receptores, da marca Invictus.
A importação das câmeras dos EUA, imensas e frágeis, foi uma operação de 
guerra, assim como o contrabando que o dono da Tupi, Assis Chateaubriand, 
providenciou dos 200 primeiros aparelhos de TV, distribuídos em residências e 
lojas para que alguém assistisse à estreia. Das três câmeras que chegaram para 
o grande dia, uma pifou antes do início da transmissão. Uma das suspeitas é 
que a água benta jogada para benzer o equipamento tenha danificado seus 
mecanismos eletrônicos. E o pior é que não havia ninguém que soubesse 
consertar aquilo.
Mesmo com todos os contratempos, a TV foi ao ar e em seguida vieram outros 
canais, nos anos 1950 e 1960, com equipamentos mais modernos sendo trazidos 
da TV no BRASIL
4
do exterior, ao passo que o preço dos aparelhos domésticos ficava mais 
acessível. Ao dar seu próximo grande salto tecnológico, a TV já era algo bem 
disseminado no Brasil, um sonho de consumo acalentado por todas as famílias. 
E quem já possuía um receptor preto-e-branco passou a ambicionar algo a 
mais no início dos anos 1970, quando as imagens ganharam cores.
A primeira transmissão colorida no País foi em 1972, na cobertura da Festa 
da Uva, em Caxias do Sul, realizada pela TV Difusora, de Porto Alegre. Teste que 
foi um sucesso e estimulou a vinda de aparelhos de TV colorida para o Brasil. 
A cor já fazia parte da programação de canais no exterior. Basta lembrar que 
a Copa de 1970, no México, foi filmada com a nova tecnologia, mas por aqui 
ela precisou de mais tempo para engrenar. Era necessária fazer uma mudança 
total nos equipamentos, com muito investimento, e a TV Globo tomou a frente 
desse processo.
A TV Anhanguera foi pioneira na 
adoção das novas tecnologias, tudo para 
proporcionar mais qualidade nos serviços 
prestados aos telespectadores
A primeira novela a cores foi O Bem Amado, de 1973. Logo, em 1974, o 
Jornal Nacional passou a ser transmitido no formato colorido. Dali por diante, 
as inovações tecnológicas tiveram um ritmo mais rápido. Nos anos 1980, veio 
o videocassete, que permitia gravar programas ou assistir conteúdos na hora 
que se desejasse. O controle remoto, inventado ainda nos anos 1950 nos EUA, 
caiu no gosto do brasileiro. Em 1988, o governo autorizou a instalação da 
TV a cabo no Brasil, causando mais um impacto nos hábitos de consumo de 
conteúdo em imagens.
da TV no BRASIL
5
Admirável mundo novo
A revolução digital da TV mundial aprofundaria a transformação. As primeiras 
experiências com a TV digital no mundo ocorreram em 1995 nos EUA e Japão, que 
criaram sistemas próprios de transmissão nesse novo modelo, substituindo o anterior, 
chamado de analógico, e que vedava diversas ferramentas de interação e de desen-
volvimento na qualidade da imagem e do som. No Brasil, após muitas disputas políti-
cas e econômicas sobre qual desses modelos adotar, a TV digital chegou em 2007.
A TV brasileira ingressou, assim, na era da Alta Definição. Além de uma qualidade 
muito superior, permitiu interações com outras formas de comunicação, como a 
internet. “Hoje, praticamente todos os players que têm a TV tradicional estão inseridos 
nos aplicativos, na TV conectada”, enfatiza Carlos Cauvilla, diretor de Engenharia e 
Tecnologia de TV e Rádio do Grupo Jaime Câmara.
Esses aplicativos têm mudado a forma de fazer e consumir os conteúdos da TV. 
Os aparelhos ficaram inteligentes, interligando equipamentos simultaneamente pela 
internet. Ao mesmo tempo, a TV migrou para o smartphone e o computador, princi-
palmente quando se mescla ao cinema para abastecer os conteúdos de plataformas 
de streaming. “Além da tela tradicional na TV, você pode utilizar vários dispositivos 
conectados, incluindo a Smart TV, para consumir conteúdos, onde você quiser, da 
forma como você quiser”, aponta Cauvilla.
Acompanhar esses movimentos é o único caminho possível. “A TV Anhanguera e 
as emissoras do Grupo Jaime Câmara, desde a época do analógico, têm sido pionei-
ras no uso de tecnologias. Na transição do analógico para o digital, fomos a primeira 
rede de TV fora do eixo Rio-São Paulo a transmitir o sinal em HD, em alta definição. 
Também fomos agora, no Centro-Oeste, o primeiro grupo a transmitir no Globo Play, 
essa plataforma conectada em todos os dispositivos, mantendo essa conexão com o 
telespectador”, enumera Cauvilla.
Com novas demandas por interação, a TV de hoje busca soluções criativas. “De-
senvolvemos um aplicativo, oQVT (Quero Ver na TV), em que o telespectador pode 
se comunicar de forma direta. Numa plataforma no celular, ele consegue mandar 
para a gente conteúdo que pode ser exibido e se tornar uma reportagem em nos-
sos telejornais”, diz o diretor. “Essa evolução tecnológica nos deixa mais próximos 
do telespectador, para atender da melhor forma possível. A TV continuará a ser uma 
plataforma relevante”, complementa.
Uma evolução que aponta para experiências ainda mais abrangentes, transfor-
mando a TV em algo muito além do que poderia imaginar a mente mais criativa de 
70 anos atrás. “Já temos conteúdos produzidos em 4K para aparelhos inteligentes. 
Quem assina a Globo Play já pode experimentar isso. E, a caminho, nós já temos o 8K, 
que é de uma qualidade impressionante”, anuncia Cauvilla. “Além das resoluções do 
vídeo, existe também o áudio imersivo, que está tendo sua padronização finalizada e 
que fará parte dos novos modelos de telas.”
Preparados para tanta inovação? Pois é melhor tomar fôlego, porque toda essa 
evolução está só começando. “Quando olhamos para o futuro, já temos tecnologias 
que serão o diferencial para quem vai consumir TV. Nossos desafios serão entender 
cada vez mais os hábitos das pessoas, entender o que eles desejam e levar isso pela 
tecnologia, nos conteúdos. No Brasil, de forma gratuita, a TV continuará sendo muito 
importante na vida de nossos telespectadores”, acrescenta o diretor Cauvilla.
da TV no BRASIL
6
Para entender tudo
TV DIGITAL – A migração do sistema analógico 
para o digital foi um divisor de águas para a TV 
brasileira, que adotou um sistema misto, uma 
tecnologia baseada no modelo japonês, mas com 
adaptações de pesquisadores brasileiros. Houve um 
período de transição, com ajustes das emissoras e dos 
fabricantes de TV, possibilitando o ingresso de novos 
atores nesse mercado.
STREAMING – Baseadas em distribuição de 
dados digitais, são plataformas que estabelecem 
pontes entre hábitos de consumo próprios da TV, do 
cinema e da internet. Globo Play, Netflix, Disney Plus 
e Amazon Prime, entre outras, vêm consolidando esta 
programação por demanda, que se caracteriza pelo 
usuário consumir os conteúdos em vários suportes, na 
hora que quiser. 
4K E 8K – São medidas da qualidade da resolução 
das imagens que vemos nos aparelhos de TV. A versão 
HD já havia dado um salto enorme quanto ao sistema 
analógico. Depois veio a Full HD, com 2 milhões de 
pixels (pontos que formam as imagens) na tela. A 4K 
tem uma resolução 4 vezes melhor que a Full HD. A 8K é 
o dobro da 4K, dando uma sensação inédita até agora.
SMART TV – Um computador em forma de TV, 
que capta sinais de internet, projeta material de seu 
celular e já faz outros serviços domésticos. A TV é uma 
espécie de vanguarda de uma fronteira tecnológica em 
pleno desenvolvimento, que é a internet das coisas. O 
preço, antes proibitivo, tem caído e novas gerações dos 
produtos já seduzem os consumidores.
ÁUDIO IMERSIVO – As pesquisas em torno dessa 
ferramenta para a TV vêm sendo desenvolvidas já 
há algum tempo, tomando algo parecido com o 
que já existe em várias salas de cinema. A diferença 
é que tal instrumental estaria em nossa sala, 
conferindo uma experiência sensitiva intensa a partir 
da interação de som e imagem, de acordo com o 
conteúdo que é visto.
NOVAS TELAS – Quando surgiram as telas planas e 
as slims (bem finas), com aparelhos de TV que dispensam 
os tubos de imagem, houve um espanto geral. Hoje, telas 
imensas e que se curvam e com painéis especiais, com 
sistemas tecnológicos de emissão de luz de cada ponto 
formador da imagem, proporcionam uma sensação 
imersiva ainda mais profunda.
da TV no BRASIL
7
As telenovelas brasileiras são produções dinâmicas, que ousam em te-máticas e linguagens, na relação com o público, na forma de mostrar as muitas faces do País. Com um olho no enredo e outro na audiência, auto-
res e autoras souberam auscultar a batida dos sentimentos dos telespectadores, 
provocando e debatendo nosso jeito de ser, nossa forma de pensar e agir, nossas 
mazelas e nossas qualidades, registrando retratos cômicos e dramáticos do Brasil. 
Por isso esse tipo de atração firmou-se como o mais popular nos 70 anos da TV 
brasileira.
A primeira novela da TV brasileira foi uma adaptação de um sucesso no rádio, Sua 
Vida Me Pertence, que estreou em dezembro de 1951, na TV Tupi. Passava apenas 
duas vezes por semana e era escrita, dirigida e protagonizada por Walter Forster. Ufa! 
Teve apenas 15 capítulos e tinha no elenco Lima Duarte, hoje com 90 anos. Na época, 
a teledramaturgia era feita ao vivo – não havia equipamentos para gravação – e o 
principal investimento voltava-se para a produção de espetáculos teatrais encenados 
na TV, como o Grande Teatro Tupi.
O hábito de ver novela começou a arraigar-se mesmo no brasileiro no início 
dos anos 1960, quando os folhetins passaram a ser diários. A primeira obra neste 
formato foi 2-5499 Ocupado, trama protagonizada pelo casal 20 da TV, Tarcísio 
Meira e Glória Menezes, em 1963, na Tupi. Em 1964, ocorreu o primeiro fenôme-
no de audiência, o dramalhão latino O Direito de Nascer, também na Tupi. Com 
poucos televisores no País, o último capítulo foi transmitido para multidões nos 
ginásios do Ibirapuera, em São Paulo, e do Maracanãzinho, no Rio.
O desfecho apoteótico do personagem Albertinho Limonta, vivido por Amil-
ton Fernandes, mostrou definitivamente que aquele seria o principal produto de 
AS NOVELAS
Em seus 70 
anos, nenhuma 
atração eletrizou 
mais o público 
da TV no Brasil 
que as novelas. 
Um gênero 
que, em 2020, 
celebra também 
o centenário 
daquela que 
foi sua autora 
pioneira
Um povo noveleiro
Tarcísio Meira, Cláudio 
Cavalcanti, Macedo 
Neto e Cláudio Marzo 
em Irmãos Coragem, 
1970 (Foto: Acervo 
Globo)
da TV no BRASIL
8
entretenimento oferecido pela TV, em capítulos diários, por longos meses. As no-
velas invadiram o cotidiano dos brasileiros, contando histórias cheias de dramas 
e lágrimas. Mas em 1968, Lima Duarte, o mesmo Midas responsável por dirigir O 
Direito de Nascer, revolucionou o gênero com Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso, 
modernizando a narrativa das novelas e inaugurando um novo tempo.
Os anos 1970, com a entrada da Globo de forma definitiva na disputa com a 
Tupi e a Excelsior pela primazia das novelas, foi a década das ousadias, como o 
western Irmãos Coragem, de Janete Clair, com a criação de heróis que conquista-
ram até o público masculino. Foi também o tempo de O Bem Amado, um passo 
arriscado na direção da crítica alegórica do regime militar, escrita pelo comunista 
de carteirinha Dias Gomes e que se tornou também a primeira novela em cores 
do Brasil. Odorico Paraguaçu encarnava o coronelismo da política brasileira.
A sensualidade de Gabriela na novela que mostrou pela primeira vez o univer-
so de Jorge Amado neste formato, o sucesso internacional de A Escrava Isaura, a 
comédia rasgada de Guerra dos Sexos foram, aos poucos, contribuindo para criar 
horários específicos para os folhetins, que poderiam ser ocupados pelas tramas 
românticas e urbanas de Janete Clair (Selva de Pedra), pelo realismo mágico de 
Dias Gomes (Saramandaia) ou pelo riso solto de Sílvio de Abreu (Cambalacho) e 
de Cassiano Gabus Mendes (Que Rei Sou Eu?)
As novelas brasileiras foram se diversificando e criando fenômenos. Vale Tudo 
foi um marco nesse sentido, por mostrar um Brasil ocupado pelo embate entre a 
honestidade e o jeitinho brasileiro num tempo em que a censura a essas pro-
duções havia sido revogada. Vieram os sucessos trigueiros de Tieta, Pantanal e 
Renascer, a diversão teen de Vamp, as protagonistas negras de Xica da Silva e Da 
Cor do Pecado, a doçura de Carrossel e Chiquititas, o novelão clássico de Senhora 
do Destino, o suspense de Avenida Brasil. Mil faces de um povo noveleiro.
Sua Vida me Pertence, 
a primeira novela, 
estreou em dezembro 
de 1951, na TV Tupi
Tarcísio Meira e 
Glória Menezes foram 
protagonistas de 
2-5499 Ocupado
O Sheik de Agadir: 
boa aceitaçãojunto 
ao telespectador
Sônia Braga na pele 
de Gabriela, de 
Jorge Amado
da TV no BRASIL
9
La Magadan, a pioneira
Uma história que tinha um sheik árabe, uma princesa assassina e um 
oficial nazista. Em resumo, uma loucura. Mas eram exatamente essas tramas 
rocambolescas que faziam milhões de pessoas colarem os olhos na tela da TV 
preto-e-branco – de casa ou de algum vizinho – para acompanhar dramalhões 
que usavam e abusavam de romances proibidos, laços de sangue secretos, crimes 
misteriosos e finais que variavam entre os felizes e os trágicos. Assim nasceu a 
novela brasileira. E o gênero teve uma parteira: a cubana Gloria Magadan.
No ano em que a TV no Brasil completa 70 anos de existência também marca 
o centenário desta autora pioneira das novelas, responsável por alguns dos 
primeiros sucessos da teledramaturgia nacional. Gloria nasceu em Cuba em 1920, 
mas a revolução comunista em seu país, liderada por Fidel Castro e Che Guevara, 
em 1959, fez com que precisasse migrar. Na ilha caribenha, ela já era escritora e 
encontrou abrigo no Brasil a partir de 1964. A TV Globo foi inaugurada no ano 
seguinte e seus destinos se encontraram.
As novelas passaram a ter formatos 
de capítulos diários apenas em 1963, 
apesar de a TV Tupi, a pioneira das 
emissoras por aqui, ter feito algumas 
tentativas no gênero com exibições 
mais espaçadas. Foi Gloria Magadan, 
nesta segunda fase da produção de 
teledramaturgia nacional, quem deu 
as cartas por mais de dez anos. Ela 
ingressou na Globo e implantou no 
canal a tradição de produzir novelas. 
Escrevia suas próprias histórias e 
supervisionava os textos de outros 
autores, entre os quais Janete Clair, 
que viria a substituí-la como maior 
nome do gênero.
Na Globo, O Sheik de Agadhir, 
a novela que tinha a princesinha 
psicopata (Marieta Severo) e um 
nazista extemporâneo (Mário 
Lago), foi um de seus maiores sucessos, entrando para o imaginário das novelas 
brasileiras. Também escreveu Eu Compro Esta Mulher, A Rainha Louca e O Homem 
Proibido, produções livremente inspiradas em clássicos da literatura. Seu reinado 
na emissora acabou no final dos anos 1960, quando a empresa percebeu que a 
fórmula de Magadan já não agradava tanto o público. A Tupi já produzia novelas 
mais modernas.
Ela acabou saindo da emissora carioca e chegou a escrever mais uma novela, E 
Nós, Aonde Vamos? Na verdade, ela acabou indo para fora do Brasil, onde seu estilo 
folhetinesco ainda tinha boa aceitação – aliás, basta ver as produções das TVs de 
México, Colômbia, Venezuela para atestar essa diferença. Encontrou em Miami um 
local onde seu trabalho era muito valorizado para o público latino que vivia no EUA. 
Morreu em junho de 2001, ainda lembrada por aqui como a mulher que iniciou a 
telenovela brasileira.
Gloria Magadan: 
autora cubana 
veio para o Brasil 
em 1964
da TV no BRASIL
10
JANETE CLAIR 
(1925-1983) – Se 
Glória Magadan foi 
a pioneira, ninguém 
revolucionou 
mais o gênero 
no Brasil que sua 
“estagiária” Janete 
Clair. O talento 
desta mineira 
de Conquista já havia sido atestado 
na Rádio Nacional, onde escreveu 
radionovelas, mas a ousadia de romper 
com parâmetros apareceu na TV, com 
folhetins em que surgia o cotidiano 
do brasileiro. Logo de cara, solucionou 
um fracasso, Anastácia, A Mulher Sem 
Destino, criando um terremoto que 
matou os personagens, recomeçando do 
zero. Depois, encavalou vários sucessos, 
a começar pela antológica Irmãos 
Coragem, de 1970. Em seguida vieram 
Selva de Pedra, Pecado Capital, O Astro, 
Pai Herói. Morreu enquanto escrevia Eu 
Prometo, concluída por Glória Perez.
IVANI RIBEIRO 
(1916-1995) – 
Fazer estrondoso 
sucesso com a 
mesma novela 
mais de uma vez, 
escrevendo versões 
diferentes para 
emissoras distintas. 
Será que alguém 
conseguiu tal feito? Ivani Ribeiro sim, 
e mais de uma vez. A partir de 1963, 
esta paulista de São Vicente escreveu 
tramas para vários canais, como Tupi e 
Excelsior. Chegou a lançar 13 novelas 
seguidas para um único horário da 
Excelsior. Nos anos 1970, emplacou na 
Tupi dois sucessos, Mulheres de Areia 
e A Viagem. Vinte anos depois, já na 
Globo, fez o remake de ambas e repetiu 
o fenômeno, algo inédito naquelas 
proporções. Antes, já havia escrito A 
Gata Comeu para o horário das 18h da 
Globo, recuperando a trama A Barba 
Azul, levada ao ar pela Tupi.
DIAS GOMES 
(1922-1999) 
– Nos anos de 
chumbo da década 
de 1970, a Globo 
peitou a ditadura e 
manteve como um 
de seus principais 
autores do horário 
nobre o comunista 
assumido Dias Gomes, o dramaturgo 
baiano que já havia feito história no 
cinema ao ver sua obra O Pagador de 
Promessas chegar à Palma de Ouro 
em Cannes com o filme de Anselmo 
Duarte. Isso, claro, irritava os censores, 
que gostavam de cortar suas tramas, até 
chegar ao ápice de proibir um de seus 
trabalhos de ir ao ar. Em 1975, a primeira 
versão de Roque Santeiro foi embargada 
no dia da estreia. Roque Santeiro só foi ao 
ar em 1985. Outra de suas novelas, O Bem 
Amado, provocava os poderosos. São de 
sua autoria ainda as tramas Saramandaia 
e O Espigão.
CASSIANO 
GABUS MENDES 
(1929-1993) – 
Pioneiro da TV 
brasileira, Cassiano 
Gabus Mendes 
testemunhou 
a primeira 
transmissão da 
Tupi, em 1950. 
Com apenas 21 anos de idade, já 
escrevia textos para a emissora, até 
chegar a cargos de direção, bancando a 
revolucionária Beto Rockfeller, de Bráulio 
Pedroso, em 1968, protagonizada por 
seu cunhado, Luiz Gustavo. Sua primeira 
novela, porém, só estreou em 1976: 
Anjo Mau. Foi na Globo que Cassiano 
se destacou como autor, com vários 
sucessos na década de 1980. Em Elas Por 
Elas, criou o detetive atrapalhado Mário 
Fofoca. Também escreveu Ti-Ti-Ti e Brega 
& Chique e, por fim, a satírica Que Rei 
Sou Eu?, uma alegoria bem humorada 
das mazelas brasileiras.
As penas da história
Separamos 
10 autoras e 
autores, com 
seus grandes 
sucessos, que 
fizeram o Brasil 
ser o país que 
assiste e produz 
novelas como 
nenhum outro 
no mundo.
da TV no BRASIL
11
GILBERTO BRAGA (1945- ) – Ele 
assinou suas primeiras tramas 
com Janete Clair (Bravo!) e Lauro 
César Muniz (Corrida do Ouro) 
nos anos 1970, até ser destacado 
para adaptar obras literárias, para o 
horário das 18h da Globo. Daí veio 
o arrebatador sucesso A Escrava 
Isaura, uma das novelas brasileiras 
mais vistas no exterior. Também é 
dele o fenômeno Dancin’Days. Nos anos 1980, ao lado de 
Aguinaldo Silva, escreveu Vale Tudo, com as vilãs Odete 
Roitman e Maria de Fátima. É autor ainda de trabalhos 
como O Dono do Mundo, Celebridade e Paraíso Tropical.
BENEDITO RUY BARBOSA 
(1931- ) – As novelas rurais, épicos 
do interior do Brasil, são sua marca 
registrada. Desde Meu Pedacinho 
de Chão, no início dos anos 1970, 
até sua última obra, Velho Chico, 
ele mergulhou nesses universos. 
Isso fica patente na trilogia formada 
por Pantanal (Manchete), Renascer 
e O Rei do Gado (Globo). A cultu-
ra italiana também foi bastante abordada por ele, em 
novelas como Os Imigrantes (Bandeirantes), Terra Nostra 
e Esperança (Globo). Duas filhas e um neto do novelista 
seguiram o mesmo caminho do patriarca.
SÍLVIO DE ABREU (1942- ) – Ele 
primeiro tentou a carreira de ator, 
mas foi como autor que Sílvio de 
Abreu fez sucesso. Seu primeiro 
trabalho foi a versão de Éramos Seis 
para a Tupi. Mas foi na comédia que 
ele se encontrou, a começar por 
Guerra dos Sexos, em que teve a ou-
sadia de colocar os ícones Paulo Au-
tran e Fernanda Montenegro numa 
antológica cena de pastelão. Vieram ainda Cambalacho, 
Sassaricando e Deus nos Acuda. Daí migrou para novelas 
mais dramáticas, com a policialesca A Próxima Vítima, e as 
românticas Belíssima e Passione. 
AGUINALDO SILVA (1943- ) – 
Jornalista que fazia coberturas 
policiais, Aguinaldo Silva iniciou sua 
carreira na TV escrevendo séries 
que remetiam àquele universo, até 
estrear como novelista em Partido 
Alto. Depois vieram a ruidosa par-
ceria com Dias Gomes em Roque 
Santeiro (ele lembra que escreveu 
a maior parte da trama sozinho) e 
a dobradinhacom Gilberto Braga em Vale Tudo. A partir 
de Tieta, novela que criou às pressas a pedido da Globo, 
enfileirou sucessos, como Pedra Sobre Pedra, Porto dos 
Milagres, A Indomada e Senhora do Destino.
LAURO CÉSAR MUNIZ (1938- ) – 
Veterano nas novelas, Lauro César 
Muniz ajudou a formar vários cole-
gas de profissão. Na Globo, onde 
ajudou a emissora a conquistar 
a liderança da audiência, escre-
veu sucessos como Escalada, Os 
Gigantes, Casarão e a metanarrativa 
Espelho Mágico, em que abordava 
o próprio universo da TV. Nos anos 
1980, emplacou novelas de grande audiência, como a 
trama de suspense e vingança Roda de Fogo e a política 
O Salvador da Pátria. Nos últimos anos, produziu tramas 
para a TV Record.
GLÓRIA PEREZ (1947- ) – Ela é 
uma espécie de herdeira de Janete 
Clair, com tramas que se baseiam 
no melhor estilo novelão. Foi assim 
com Barriga de Aluguel, inicial-
mente pensada para o horário das 
20h, mas deslocada para a faixa 
das 18h por ser considerada “dra-
mática demais”. Depois ela con-
seguiu se firmar no horário nobre 
com tramas como De Corpo e Alma (quando viveu a 
tragédia de perder a filha Daniella Perez, assassinada por 
um colega de elenco), Explode Coração e as histórias 
multiculturais O Clone, Caminho das Índias e América.
da TV no BRASIL
12
Uma aliada poderosa
A data oficial da primeira transmissão de TV no Brasil é 18 de setembro de 1950. Mas antes que a TV Tupi, de São Paulo, inaugurasse por aqui aquele que seria o meio de comunicação mais popular do País, o dono do canal, o magna-
ta Assis Chateaubriand, fez um teste do equipamento que havia adquirido para o 
empreendimento. Em 5 de julho de 1950, na sede de sua empresa, os Associados, foi 
feita uma transmissão fechada para convidados, entre artistas e empresários interna-
cionais. Era a inauguração festiva do Museu de Arte de São Paulo.
O PAPEL DA ARTE
Em seus 70 anos 
no Brasil, a TV 
foi um meio 
poderoso de 
popularização 
da cultura, 
contribuindo 
para sua 
expansão e 
variedade
O Masp era uma das meninas dos olhos de Chateaubriand. Ele angariava doações 
– às vezes com extorsões – para reforçar os recursos destinados à compra de obras 
de grandes mestres da pintura europeia. Reza a lenda que o homem que montou o 
acervo do museu, Pietro Maria Bardi, teve dificuldades em convencer o patrão a não 
colocar esses quadros nos estúdios da Tupi no dia de sua inauguração, o que poderia 
danificá-los com o excesso de luz. Há laços profundos entre a TV e as artes no Brasil, o 
que geraria um intercâmbio intenso entre elas.
Clássicos do teatro e da literatura, lançamento de grandes nomes da música, apoio 
ao cinema fizeram, desde o seu início, parte da história da TV brasileira. Essa comu-
nhão foi importante para popularizar manifestações culturais antes restritas a fre-
quentadores de plateias de elite. Obras a que a maioria das pessoas não teriam acesso 
foram inseridas nas casas de milhões de brasileiros, em seus formatos originais ou em 
adaptações, familiarizando esses trabalhos com novos públicos, abrindo horizontes 
culturais mais amplos a gerações de telespectadores.
Uma das primeiras iniciativas nesse sentido foi o Grande Teatro Tupi, exatamente 
na emissora pioneira. Produzidas nas sedes de São Paulo e do Rio de Janeiro, essas 
montagens eram apresentadas ao vivo – nos anos 1950 não havia equipamento para 
Nana Caymmi e 
Gilberto Gil no Festival 
da Música Popular 
Brasileira de 1967
da TV no BRASIL
13
gravação dos programas – e levaram à TV grandes nomes dos palcos nacionais. A 
ideia de sua criação foi de Guilherme Figueiredo, que escalou um elenco que incluía 
nomes como Fernanda Montenegro (a primeira atriz contratada profissionalmente 
da TV brasileira), Nathalia Timberg e Ítalo Rossi.
Todos esses nomes integravam ou viriam a integrar companhias de teatro brasi-
leiras históricas, como o TBC, o Teatro Brasileiro de Comédia. Seus maiores criadores 
se revezavam entre as câmeras da Tupi e os palcos, fazendo com que nascesse ali 
a teledramaturgia nacional, antes mesmo do surgimento das telenovelas. E nasceu 
levando clássicos do teatro grego, peças de Shakespeare, obras dos maiores drama-
turgos do mundo. Tudo isso produzido em escala industrial. Só o autor Manoel Carlos, 
por exemplo, adaptou mais de 100 obras para a Tupi.
A emissora foi a responsável pelo ingresso na TV de gigantes do porte de Fernan-
do Torres, Ziembinski, Sérgio Brito, Tônia Carrero, Sérgio Cardoso. Até mesmo nomes 
que tinham certa resistência em entrar no novo meio se renderam à possibilidade 
de levar arte de alta qualidade a um público numeroso, encenando textos de Ibsen, 
Goethe, Tchekov, Pirandello, Eugene O’Neill. E ali também se deu a estreia de astros e 
estrelas que depois estariam nas novelas, como Francisco Cuoco, Claudio Cavalcanti, 
Sebastião Vasconcelos, Iara Lins e Zilka Salaberry.
Ao todo, em suas diferentes fases, os teleteatros da Tupi levaram ao ar nada menos 
que 1.321 textos, em programas que também tiveram os nomes de TV de Vanguar-
da, Tele-Teatro Brastemp, TV de Comédia. Entre seus colaboradores estavam autores 
como Rachel de Queiroz, que escreveu a peça O Padrezinho Santo, levada ao ar em 
24 de abril de 1958, e um de seus textos de teatro mais conhecidos, A Beata Maria do 
Egito, encenado na TV em 04 de janeiro de 1959, com adaptação de Dionísio Azeve-
do e Lima Duarte no elenco.
Grande Teatro 
Tupi: Fernanda 
Montenegro e 
Sérgio Britto 
em A Casa em 
Ordem
Até mesmo 
nomes que 
tinham certa 
resistência 
em entrar no 
novo meio se 
renderam à 
possibilidade 
de levar arte de 
alta qualidade 
a um público 
numeroso
da TV no BRASIL
14
Nos palcos, nas páginas
Do teatro para outros gêneros literários. Ao longo de sua história, a TV lançou um 
olhar especial para a literatura, sobretudo a brasileira, fazendo verdadeiros clássicos 
tornarem-se atrações muito populares. Novelas, séries, especiais ganharam a teli-
nha, permitindo que as obras dos maiores expoentes da produção literária nacional 
experimentassem novas roupagens e públicos. Nesse quesito, a TV Globo foi a que 
mais investiu. Já nos anos 1970, a adaptação do romance Gabriela, de Jorge Amado, 
inaugurou em horário nobre esse nicho.
O autor baiano, aliás, é um dos nomes mais constantes no casamento entre TV e 
literatura. Depois da morena Cravo e Canela, vieram mais adaptações, como Tenda 
dos Milagres, Dona Flor e Seus Dois Maridos e o megassucesso Tieta, no final dos 
anos 1980. A novela fez a brejeirice da protagonista e a carolice da vilã Perpétua con-
quistarem o Brasil, o que acontece ainda hoje em suas reprises na TV fechada e nos 
serviços de streaming. O mergulho no universo sertanejo também foi realizado por 
intermédio de trabalhos de outros gênios.
Em um especial premiado internacionalmente, o poema Morte e Vida Severina, de 
João Cabral de Melo Neto, foi cantado, declamado e encenado no sertão árido e nas 
margens do Rio Capiberibe. Já o humor de O Auto da Compadecida, de Ariano Su-
assuna, que havia ganhado uma adaptação mais antiga, nos fez rir e nos emocionou 
na minissérie global, com um elenco estelar e inspirado. A série virou filme e repetiu 
o sucesso. Mais recentemente, o especial Alexandre e Outros Heróis trouxe à tona a 
parte bem humorada da prosa de Graciliano Ramos.
Nos sertões mais centrais do País, o épico de Guimarães Rosa foi adaptado em 
uma das mais elogiadas minisséries da história da TV, Grande Sertão: Veredas. Um ou-
tro clássico de nossas letras, O Tempo e o Vento, do gaúcho Érico Verissimo, foi levado 
Edwin Luise e 
Lucélia Santos em 
A Escrava Isaura, 
um dos grandes 
sucessos da TV
Jorge Amado 
é um dos 
nomes mais 
constantes no 
casamento 
entre TV e 
literatura
da TV no BRASIL
15
à TV em uma produção de grande porte, acompanhando as gerações da família Terra 
Cambará e a história do Rio Grande do Sul. Outra de suas obras, Incidente em Antares, 
foi adaptada para uma série de TV. A Globo levou ao ar, ainda, uma novela baseada 
em Olhai os Lírios do Campo,também do autor.
O filho de Érico, Luis Fernando Verissimo, tornou-se um nome recorrente nos 
especiais de humor da Rede Globo, principalmente na série A Comédia da Vida 
Privada. Ocupava um horário específico na programação, chamado Terça Nobre, para 
o qual foram adaptados textos como O Alienista, de Machado de Assis, O Coronel e o 
Lobisomem, de José Cândido de Carvalho, e Os Pastores da Noite, de Jorge Amado. 
Episódios curtos e exibidos em uma única noite, ao contrário de séries mais longas ou 
novelas retiradas da literatura.
O Sorriso do Lagarto, 
de João Ubaldo Ribeiro, e 
Riacho Doce, de José Lins 
do Rego, viraram séries na 
Globo. Capitu foi uma adap-
tação de Dom Casmurro, de 
Machado de Assis, e Anar-
quistas Graças a Deus saiu 
do livro de mesmo nome 
de Zélia Gattai. Novelas de 
época de autores do século 
19 conquistaram o público, 
a começar por A Escrava 
Isaura, de Bernardo Gui-
marães. Em 1975, a Globo 
transformou em novela os 
romances Helena, de Ma-
chado de Assis, e A Moreni-
nha, de Joaquim Manuel de 
Macedo.
A lista é imensa: Dois 
Irmãos, de Milton Hatoum; 
Ciranda de Pedra, de Lygia Fagundes Telles; A Casa das Sete Mulheres, de Letícia 
Wierzchowski; A Muralha, de Dinah Silveira de Queiroz; Agosto, de Rubem Fonseca; 
Chapadão do Bugre, de Mário Palmério (esta última, na TV Manchete, emissora que 
também adaptou Tocaia Grande, de Jorge Amado). Os contos de Lima Barreto, por 
exemplo, foram unidos, resultando na novela Fera Ferida. O mesmo aconteceu com a 
novela Felicidade, reunião de narrativas de Aníbal Machado.
Além disso, a TV foi a responsável por levar os próprios escritores para mais próxi-
mo de seu público. Cora Coralina, por exemplo, foi “apresentada” aos seus leitores em 
reportagens de emissoras de televisão. Assim, sua voz e sua figura de uma senhora já 
bastante idosa integraram o imaginário de seus versos. Já a imagem mais famosa de 
Clarice Lispector é a de sua última entrevista, dada de improviso à TV Cultura pouco 
antes de morrer. As respostas ferinas, o cigarro aceso, a língua presa criaram uma 
mística ainda maior em torno da autora.
Tony Ramos e 
Bruna Lombardi na 
minissérie da Globo 
Grande Sertão: 
Veredas, de 1985
da TV no BRASIL
16
Compartilhamento de telas
“Ô, da poltrona!”. Este jargão, repetido em tantas noites de domingo na progra-
mação da Rede Globo, era uma das senhas para uma atração de grande audiência: 
o programa de humor Os Trapalhões. O quarteto formado por Renato Aragão (Didi), 
Dedé Santana, Mussum e Zacarias fez da TV um trampolim irresistível para outro tipo 
de tela, bem maior. Por pelo menos duas décadas, Os Trapalhões produziram de um 
a dois filmes por ano, quase todos eles recordistas de bilheteria. Foram mais de 40 
produções, com milhões de pessoas nos cinemas.
Esse é apenas um exemplo da forma como TV e cinema também andaram juntos 
no Brasil desde a inauguração da Tupi, em 1950. Boa parte do público viu nossos maio-
res clássicos da telona na telinha. Mesmo aqueles filmes produzidos antes da chegada 
da TV ao País, como as chanchadas da Atlântida dos anos 1940, depois foram reprisa-
dos por várias emissoras, estimuladas pela popularidade dos artistas que integravam 
os elencos dos filmes, como Grande Otelo e Oscarito. Muitos migraram para a TV, em 
programas de humor ou novelas.
Mesmo trabalhos considerados mais densos também tiveram espaço, como os 
premiados O Pagador de Promessas – a obra de Dias Gomes depois ganharia uma 
adaptação para a TV – e Deus e o Diabo na Terra do Sol já foram exibidas algumas 
vezes, ainda que hoje estejam restritas a canais específicos da TV a cabo. Mas as comé-
dias inocentes de Mazzaropi, por exemplo, ainda podem ser vistas em sessões promo-
vidas pela TV Cultura. Como aconteceu em quase todo o mundo, porém, o cinema 
comercial virou a estrela na grade de programação.
Quando se lança uma produção cinematográfica, há toda uma estratégia de 
marketing que inclui, claro, a TV, em todos os seus formatos. Antes a TV aberta im-
perava sozinha, quadro que mudou com a ampliação de canais a cabo e que foi 
revolucionado com a chegada do streaming. Telefilmes também surgiram como um 
produto alternativo oriundo da TV e séries foram reeditadas para se transformarem em 
obras para a exibição nas salas de cinema. A Globo chegou a abrir um estúdio, a Globo 
Filmes, de olho nessa interação.
Mais recentemente, a linguagem mais esmerada e esteticamente melhor traba-
lhada do cinema passou a influenciar as produções de TV. Nomes ligados ao cinema, 
como Fernando Meirelles e Cao Hamburger, desenvolveram projetos com canais de 
televisão ou com produtoras, elevando o nível técnico de determinados projetos. Até 
mesmo diretores de fotografia consagrados, como Walter Carvalho, começaram a ser 
solicitados para emprestar seu olhar para séries e novelas. Cinema e TV, em todos os 
sentidos, nunca estiveram tão interligados.
Dedé Santana, 
Lucinha Lins, 
Renato Aragão, 
Mussum e Zacarias 
no filme Os 
Saltimbancos 
Trapalhões
Os 
Trapalhões 
produziram 
de um a dois 
filmes por 
ano, quase 
todos eles 
recordistas 
de bilheteria
da TV no BRASIL
17
Trilha sonora de nossas vidas
Programas musicais de grande audiência, com os maiores nomes da nossa mú-
sica, em todos os estilos, contribuíram para criar um público amplo e variado para a 
produção fonográfica nacional a partir da TV. Isso vem desde os primeiros tempos, já 
que a televisão tinha um forte lastro com o rádio. Vários artistas da chamada Era de 
Ouro radiofônica também foram soltar a voz ou apresentar seus programas no novo 
meio de comunicação. Muitos telespectadores passaram a ver pela primeira vez o 
rosto de quem eram fãs, mas de quem só conheciam a voz.
Um dos que fizeram esse caminho foi Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Sucesso no 
rádio, repetiu a dose na TV, na Tupi e na Globo. Por seu programa passavam, além dos 
calouros, artistas de todos os matizes. Não é à toa que apadrinhou nomes como Clara 
Nunes, que era adorado por Roberto Carlos e Raul Seixas e ganhou até homenagem 
num samba de Gilberto Gil. Na mesma esteira, outras atrações fizeram sucesso seme-
lhante, como o Programa Flávio Cavalcanti, que também quebrava discos de que não 
gostava, e o Clube do Bolinha.
Um capítulo à parte foram os 
festivais de música, alguns bastante 
emblemáticos. O filme Uma Noite 
em 67 mostra o mais espetacular 
de todos, o 3º Festival da Música 
Popular Brasileira, da TV Record. 
Reunidos, em uma única disputa e 
com canções que marcaram história, 
os gigantes Gilberto Gil (Domin-
go no Parque, acompanhado dos 
Mutantes), Caetano Veloso (Alegria, 
Alegria), Edu Lobo (Ponteio) e Chico 
Buarque (Roda Viva). Nesse período 
nasceram a Jovem Guarda e a Tro-
picália, sob os holofotes da principal 
emissora de TV da época.
O documentário Tropicália, de 
Marcelo Machado, mostra que Paulo 
Machado de Carvalho, então dono 
da Record, estimulava uma certa “guerra civil” nos bastidores da emissora, formando 
grupos de diferentes gêneros que rivalizavam entre si. Caetano Veloso chega a dizer, 
no filme, que foi assistindo os programas de Chacrinha, com sua estética tropicali-
zada, que sedimentou parte de sua linha de atuação. Ele também afirma, categori-
camente, que sem a TV, aqueles movimentos intensos não teriam ocorrido tal qual 
aconteceram.
Nos estúdios da Record, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa popularizaram 
o iê, iê, iê. Também ali Elis Regina e Jair Rodrigues capitanearam o badalado O Fino da 
Bossa. Pela TV assistimos a Bossa Nova ganhar o mundo, testemunhamos o nasce-
douro do Rock Brasil e a histórica primeira edição do Rock in Rio, em 1985, vimos os 
trios elétricos tomarem a folia e os sambas cariocas transformarem-se em hinos, pre-
senciamos a ascensão do sertanejo, do funk e as novelas colaram em nossa mente 
hits românticos. A TV só faz sentido com trilha sonora.
Abelardo Barbosa, 
o Chacrinha: por 
seu programa 
passaram grandes 
nomes
da TV no BRASIL
18
– Atenção! Atenção! O senhor Presidente da República,Getúlio Vargas, suicidou-se 
nas dependências do Palácio do Catete!
Na manhã daquele fatídico 24 de agosto de 1954, o veículo que primeiro deu 
o plantão do desfecho da grave crise política que se desenrolava nos derradeiros 
dias de governo de Getúlio Vargas foi o rádio. Locutores empostavam as vozes com 
dramaticidade para informar ao Brasil sobre o tiro fatal dado pelo mandatário da 
nação no próprio peito. Mas as manifestações de desespero das pessoas em frente ao 
caixão do líder político, as filas para o velório, a revolta contra os inimigos de Getúlio, 
esses registros em imagens já devemos à TV.
Ela havia chegado ao Brasil apenas 4 anos antes da morte trágica de Getúlio, mas 
mostrou desde o início sua vocação para ser um dos principais meios de arquivo de 
acontecimentos históricos. O primeiro telejornal brasileiro foi produzido pela emis-
sora que inaugurou a TV no Brasil, a Tupi. Ele se chamava Imagens do Dia e começou 
a ser produzido antes mesmo de a primeira transmissão do canal do magnata Assis 
Chateaubriand ir ao ar. Uma equipe captou parte do desfile do 15 de Setembro em 
São Paulo e isso foi exibido em 19 de setembro.
Portanto, um dia depois de a Tupi entrar no ar, o locutor Ruy Rezende leu um texto 
introdutório e as imagens, captadas pelos cinegrafistas Jorge Kurkjian, Paulo Salomão 
e Alfonso Zibas, começaram a ser mostradas ao ainda pequeno público paulistano 
que tinha aparelhos receptores em casa. A professora Edna Mello Silva, professora da 
O PAPEL DO JORNALISMO
Desde 1950, 
a TV brasileira 
tem sido, com 
seu jornalismo, 
um arquivo 
de registros 
históricos de 
épocas, regimes 
políticos e 
episódios que 
moldaram o 
mundo como 
o conhecemos 
hoje
Testemunha ocular 
da História
Cid Moreira e 
Hilton Gomes 
foram os primeiros 
apresentadores do 
Jornal Nacional
da TV no BRASIL
19
Universidade Federal de São Paulo, resgatou essa história pioneira, estudando essas 
primeiras imagens do telejornalismo nacional, condensadas em 8 filmes preservados 
na Cinemateca Brasileira.
“Na época, a programação da TV Tupi de São Paulo iniciava-se a partir das 20 horas 
e o telejornal não tinha um horário certo para ser veiculado, pois dependia da pro-
gramação a ser exibida antes dele”, escreve a pesquisadora, em um de seus estudos 
sobre o tema. Ela aponta que a linguagem então empregada ainda estava muito 
ligada à do rádio, mas não só a ele. “É possível deduzir que a influência do cinejornal 
pode ter sido marcante na forma de reportar os acontecimentos. Notícias esportivas 
e informações ligadas à agenda dos governantes.”
Hoje completamente em desuso, 
cinejornal já fazia sucesso, levando 
às plateias imagens de fatos e perso-
nalidades. Eram apresentadas antes 
da exibição dos filmes nas salas de 
cinema, sempre, como descreve 
Edna Mello, “com imagens em planos 
abertos, com poucos cortes, acompa-
nhados pela narração de um locutor 
em off”. Espécie de precursores do 
telejornalismo, os cinejornais sobre-
viveram algum tempo, com atrações 
como o Canal 100, que trazia breves 
documentários sobre nosso futebol, 
sob os versos da canção que entoava 
“Que bonito é...”
O rádio, porém, era o meio de comunicação com mais apelo popular e não demo-
rou para seu principal produto jornalístico migrar para a TV. No ar desde 28 de agosto 
de 1941 na Rádio Nacional, o Repórter Esso (tinha esse nome porque era patrocinado 
pela gigante do petróleo) era um companheiro inseparável dos brasileiros. Com o 
slogan “Testemunha Ocular da História”, sua primeira transmissão informou o público 
sobre o ataque alemão à Normandia, na França, durante a Segunda Guerra Mundial. 
Escutá-lo à noite tornou-se tradição familiar.
Já em 1952, a TV Tupi arregimentou a atração para sua programação. 
Sua voz mais conhecida foi Heron Domingues, que o apresentou no 
rádio entre 1944 e 1962. Na TV, o noticiário foi rebatizado para O Seu 
Repórter Esso, apresentado por nomes como Luiz Jatobá e Gontijo 
Teodoro, ficando no ar até 1970. Naquele ano, ele já tinha um concor-
rente de peso, o Jornal Nacional, da Rede Globo, que foi ao ar em 1º de 
setembro de 1969, tendo na bancada os apresentadores Cid Moreira e 
Hilton Gomes, depois substituído por Sérgio Chapelin.
O Jornal Nacional, aliás, foi o primeiro telejornal brasileiro a ser trans-
mitido em rede nacional, simultaneamente, explorando uma tecnologia 
que chegara ao Brasil em fevereiro de 1969 e que permitiu que os brasileiros vissem a 
chegada do Homem à Lua – com cobertura de repórteres do País no lançamento da 
espaçonave Apollo 11, nos EUA – naquele mesmo ano, e a Copa do Mundo de 1970. 
A primeira entrevista via satélite também foi feita em 1969, pela Globo, uma conversa 
de Hilton Gomes com o papa Paulo VI, direto do Vaticano.
Canal 100: telejornal 
era exibido nos 
cinemas e tinha o 
futebol como centro
da TV no BRASIL
20
Quem fez nossa TV
O âncora da TV Globo, Heron Domingues, deu a notícia tão aguardada naqueles 
dias de agosto de 1974. No boletim Jornal Internacional era mostrado o sinal da Casa 
Branca, aberto antes do início do pronunciamento do então presidente dos EUA, 
Richard Nixon, mostrando o homem que estava no centro de uma crise política iné-
dita. Sem saber que já poderia ser visto por alguém, ele contava piadas e mostrava-
-se descontraído. Minutos depois, anunciaria sua renúncia do cargo mais poderoso 
do mundo, na esteira do escândalo de Watergate.
Heron deu todas as informações e saiu da emissora carioca para jantar com amigos. 
Voltou para casa e deitou-se. Naquela mesma noite, um enfarte fulminante calou uma 
das vozes mais conhecidas do Brasil desde os tempos do Repórter Esso no rádio, aos 
50 anos de idade. Esta é uma das muitas histórias que beiram o inacreditável e mar-
cam o telejornalismo brasileiro na sua missão de levar informações de fatos relevantes 
ao público. Heron era 
comentarista do Jornal Na-
cional, cuja primeira edição 
foi apresentada por Hilton 
Gomes e Cid Moreira.
Cid foi um símbolo do 
mais longevo telejornal 
da história da TV brasileira, 
aquele que ainda é líder de 
audiência no segmento. 
Ao lado dele, por décadas, 
esteve Sérgio Chapelin. E 
por muitos anos, no seu 
cérebro, estiveram profis-
sionais como Armando 
Nogueira e Alice-Maria, 
jornalistas que, mesmo 
antes da criação da Rede 
Globo, já levava notícias 
a todo o Brasil. Armando, 
por exemplo, trabalhou na Copa de 1954. Hilton Gomes cobriu o assassinato de John 
Kennedy pela TV Excelsior, em 1963, e a ida do homem à Lua, em 1969.
Nesses 70 anos, o telejornalismo inovou em formatos, como a revista eletrônica 
Fantástico, pioneira em mesclar, com mais ousadia, informação e entretenimento. 
Também foram criados programas de mais fôlego, tomando como padrão atrações 
da TV dos EUA. O Globo Repórter é um deles, que começou com os materiais es-
peciais e investigativos feitos por nomes como Hélio Costa e Lucas Mendes. Glória 
Maria, a primeira jornalista negra com destaque, também tem sua trajetória ligada ao 
programa, mostrando todo o mundo em suas reportagens.
O modelo de ancoragem mais opinativo dos telejornais foi inaugurado por aqui 
por Boris Casoy, no SBT Brasil, e Marília Gabriela inovou na forma de fazer entrevistas 
com mais profundidade em seus programas na Bandeirantes. Flagrantes, furos jor-
nalísticos, coberturas especiais, premiações internacionais – como o material produ-
zido pela Rede Globo sobre a invasão do Complexo do Alemão – ajudam a contar 
essa trajetória de sete décadas.
Heron Domingues 
apresentou o boletim 
Jornal Internacional 
na Globo
da TV no BRASIL
21
Nada passou em branco
A televisão levou todos os fatos históricos para dentro da casa dos brasileiros 
nos últimos 70 anos, cobrindo, em cada uma das sete décadas que compõem sua 
trajetória, o que de mais importante moveu o mundo, dos avanços da ciência às 
maiores tragédias, das guerras e revoluções aos feitos humanos que desafiaram nossa 
imaginação. Tudo pôde ser visto em preto e branco ou a cores, no formato analógico 
ou digital,em imagens fugidias ou em alta definição. São 70 anos de mediação entre 
nossa vida e este vasto mundo.
Anos 1950
ANOS JK – O presidente Juscelino Kubitschek soube, como poucos, abrir seu 
sorriso para os ainda incipientes noticiários de TV, mas que já captavam o espírito 
daqueles 50 anos em 5. Uma coroação que veio com as obras e a inauguração de 
Brasília, tudo filmado.
REVOLUÇÃO CUBANA – Os barbudos que desceram a Sierra Maestra para plan-
tar, no quintal dos EUA, um regime comunista na Guerra Fria, também foram mostra-
dos pela TV brasileira. Fidel Castro e Che Guevara eram personagens distantes para a 
maioria, mas não desconhecidos.
Anos 1960
GOLPE DE 64 – A crise iniciada com a renúncia de Jânio Quadros e agravada no 
governo de João Goulart resultou no golpe militar de 1964, também coberto – e 
até mesmo apoiado – por emissoras de TV, que dali por diante viveriam, por sua vez, 
períodos de dura censura.
CHEGADA DO HOMEM À LUA – Um pequeno passo para um homem, um 
grande passo para a humanidade. A frase do astronauta Neil Armstrong, o primeiro 
homem a pisar na Lua, em 1969, foi ouvida por plateias eletrizadas em todo o mundo 
via satélite, inclusive na TV brasileira.
Anos 1970
REVOLUÇÃO SEXUAL – Os anos 1960 já haviam sido de mudanças profundas no 
comportamento e na cultura, o que continuou nos anos 1970. No Brasil, os hippies, 
roqueiros, os jovens ganharam cor, podendo ser vistos em programas jornalísticos na 
TV brasileira.
HERZOG – Mesmo sob censura, o telejornalismo tinha focos de resistência duran-
te a ditadura. Um deles ficava na TV Cultura e seu diretor, Vladimir Herzog, foi chama-
do a depor no DOPS, de São Paulo, em 1975. Foi assassinado lá dentro e sua morte 
abalou o regime militar.
da TV no BRASIL
22
Anos 1980
DIRETAS JÁ E TANCREDO – Comícios pelo Brasil, votação no 
Congresso para a volta das eleições diretas para presidente, derrota, 
vitória no Colégio Eleitoral. Tancredo Neves punha fim à ditadura, mas 
morreu sem tomar posse. A TV acompanhou seu ápice e seu martírio.
QUEDA DO MURO DE BERLIM – Trepado em cima do Muro de 
Berlim, o repórter Silio Boccanera atestava, em uma reportagem anto-
lógica, que o maior símbolo da Guerra Fria estava ruindo. Era o fim de 
uma era, o emblema de um fato histórico que a TV brasileira mostrou, 
ao vivo.
Anos 1990
IMPEACHMENT DE COLLOR – Povo na rua vestido de preto e 
um coro único pelo País. A TV brasileira, como se cobrisse um enredo 
policial, via as provas se avolumarem contra o então presidente Fer-
nando Collor e transmitiu ao vivo a votação de seu impeachment.
PLANO REAL – Esperança de estabilização econômica que muitos 
receberam com ceticismo, escaldados com os fracassos da década 
anterior, o Plano Real finalmente venceu a hiperinflação e fez a econo-
mia respirar ares mais civilizados. 
Anos 2000
11 DE SETEMBRO – Uma cena inacreditável. Ao vivo, canais 
transmitiam o choque do segundo avião contra as Torres Gêmeas 
do World Trade Center, em Nova York, enquanto cobriam a primeira 
colisão. O Brasil e o mundo pararam para ver os ataques terroristas nos 
EUA.
ACIDENTES AÉREOS – Um plantão noticiou, em setembro de 
2006, que um avião da Gol havia desaparecido sobre a Amazônia. 
Outro plantão, em julho de 2007, mostrava um avião da TAM ardendo 
em chamas, em São Paulo. Duas tragédias dissecadas pela TV.
Anos 2010
PRIMAVERA ÁRABE – Quedas de ditadores – algumas delas, 
de forma violenta –, pedidos por mais liberdade e desestabilização 
da geopolítica internacional. A chamada Primavera Árabe ganhou 
amplo espaço nos noticiários e os brasileiros puderam testemunhar 
os protestos.
JORNADAS DE 2013 – Edições especiais de telejornais sinaliza-
vam que o que víamos nas ruas brasileiras em junho de 2013 não era 
algo trivial. Centenas de milhares de pessoas nas grandes cidades do 
País pediam honestidade na política e melhores serviços públicos. 
da TV no BRASIL
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“Você tem a pulseira da Jade?” “Viu o cabelo da Solange?” “Aquele vestido da Preta é lindo.” “Gostei da camisa do Flamel.” Em diferentes momentos, essas frases estiveram na boca dos brasileiros e elas 
mostram que a TV dita moda, estabelece tendências, vira febre. As pulseiras da Jade 
eram as que Giovanna Antonelli usava na novela O Clone. O cabelo da Solange era 
o ostentado por Lídia Brondi em Vale Tudo. O vestido da Preta era o desfilado por 
Taís Araújo em Da Cor do Pecado. A camisa do Flamel era a marca do figurino do 
alquimista de Edson Celulari em Fera Ferida.
“O figurino para os personagens de uma novela e de um programa de variedades 
possui diferenças”, explica o estilista goiano Paulo Vitor Santos, há dois anos 
trabalhando na Globo, onde já participou de produções como as novelas Órfãos da 
Terra, Verão 90 e Amor de Mãe. “Nas novelas, o nosso guia principal é o texto escrito 
pelo autor. É a partir dali que extraímos as características da personagem, fazemos 
pesquisas de campo e começamos a ‘criar’ sua personalidade através das roupas. Nos 
programas de variedade vestimos os apresentadores que não são personagens e sim 
alguém que já possui personalidade própria”, acrescenta.
Acompanhando as tendências do tempo em que são exibidas, as novelas, 
sobretudo, acabam sendo uma espécie de registro do que se usava, do que fazia 
sucesso em determinada época. Criou-se uma cultura no País de se olhar com 
atenção para a TV em busca de inspiração e modelos que, rapidamente, ganham 
as ruas, as vitrines das lojas, as bancas dos camelôs, os salões de beleza. “Algumas 
histórias possuem personagens com mais apelo estético e isso, consequentemente, 
se reflete no figurino”, diz Paulo Vitor. “Para esses personagens são feitas pesquisas 
mais profundas de desfiles internacionais e tendências que ainda estão por vir.”
FEBRES E MODAS DA TV
Fazendo a cabeça do públicoTV foi uma inventora e 
propagadora 
de tendências 
em roupas e 
penteados, 
lançando modas 
que ganharam 
as ruas e ficaram 
na memória
O corte de cabelo 
de Tônia Carrero 
em Pigmaleão 
70 (1970) é até 
hoje um dos mais 
copiados
da TV no BRASIL
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Para algo fazer sucesso fora das telas, porém, depende do carisma de quem 
interpreta o personagem, dos rumos que ele terá na trama, da resposta dos telespec-
tadores. “Eu acredito que uma peça ou acessório cai no gosto do público por dois 
motivos principais: o primeiro é a frequência de exposição, a outra é a identificação 
com o personagem, história”, avalia o figurinista. “Saber o que vai virar moda ou não é 
sempre uma surpresa. Às vezes, o que a figurinista escolheu achando que ia virar uma 
tendência pode não cair no gosto do público; em outras, o que ela escolheu despre-
tensiosamente vira uma febre.”
O mesmo acontece com as cabeças, dos personagens e dos telespectadores. 
“A gente tem que estar acompanhando para poder estar antenado no momento. 
O que a brasileira mais assiste é novela. Ela procura as personagens, as atrizes que 
estão fazendo sucesso para poder se espelhar”, afirma o cabeleireiro Eder Bueno 
Macedo. Com seus mais de 30 anos de profissão, ele já testemunhou inúmeros 
cortes e penteados lançados pela TV e que clientes desejaram reproduzir em 
seus próprios cabelos. “Os escritores vão criando histórias a partir de imagens da 
vida real. Acho isso bacana. Tem que saber escolher seu estilo”, aconselha.
As mais copiadas
O cabeleireiro Eder Bueno recorda-se de alguns íco-
nes da TV brasileira que já movimentaram e ainda agitam 
os salões de beleza com seus estilos. “Um dos cortes mais 
copiados, ainda hoje comentados, é o da Tônia Carrero 
na novela Pigmaleão 70. Até hoje é pedido, com uma 
nova releitura, claro. Outros cortes muito copiados foram 
o da atriz Marília Pêra, em Brega & Chique, da Cristiane 
Torloni, em A Gata Comeu, da Vera Fischer, em Perigosas 
Peruas, e da Débora Falabella, em Avenida Brasil”, cita. 
“Outra atriz muito copiada é a Glória Pires.”
Para diferentes linhas de corte, referências também 
distintas. “Falando em franjas, as mais famosas até hoje 
foram as de Lídia Brondi, em ValeTudo, e de Alinne 
Moraes, em Duas Caras. Febre na época. Em repicados, 
o mais famoso é o de Cláudia Raia. Nos tempos mais 
atuais, vem o cabelo da Cláudia Abreu, em Belíssima”, 
aponta. “A atriz mais copiada atualmente é a Giovanna 
Antonelli, e seu cabelo de mais sucesso foi o da novela 
Da Cor do Pecado. Ela estava com um cabelo curto, todo 
arrepiado atrás, franja toda colorida. Muito lindo”, elogia.
“Algumas histórias possuem personagens com mais 
apelo estético e isso, consequentemente, se reflete no 
figurino”, revela o figurinista Paulo Vitor. “O trabalho 
do figurinista é conseguir equilibrar essa variante com 
um olhar estético para a TV.” Peças mais simples, que 
dão mais margem para serem reproduzidas, largam na 
frente nessa corrida, como as blusas ciganinhas da per-
sonagem Babalu (Letícia Spiller), em Quatro por Quatro. 
Paulo Vitor, desde criança, prestava atenção no que o 
pessoal vestia nas atrações da TV. “Sempre!”, enfatiza.
Marília Pêra 
em Brega 
& Chique 
(1987): 
outro corte 
muito 
pedido
Os vestidos 
de veludo 
da Nazaré, 
em Senhora 
do Destino 
(2004) 
marcaram o 
figurino da 
época
da TV no BRASIL
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Suas lembranças sobre os figurinos que lhe marcaram permanecem muito 
vivas. “Um que eu me lembro muito é o da personagem Fada Bela (Angélica), no 
programa Caça Talentos. Lembro dos figurinos do Castelo Rá-Tim-Bum. De nove-
las, os vestidos de veludo da Nazaré em Senhora do Destino; as roupas branco/
Off white da eterna Carminha, de Avenida Brasil, e por aí vai...” Mais exageradas, 
como a viúva Porcina (Regina Duarte), em Roque Santeiro, ou mais sóbrias, como 
as Helenas de Manoel Carlos, todos os estilos convivem na TV.
Nem sempre 
dá para seguir
Nem todos podem dizer que têm a versatilidade capilar de 
uma Fátima Bernardes, certo? A apresentadora ficou conhecida 
por fazer verdadeiras revoluções nos cabelos, deixando às vezes 
o público surpreso, perplexo. Certa vez, ela precisou explicar seu 
novo visual depois do choque que as pessoas levaram ao vê-la 
na bancada do Jornal Nacional. Nem sempre é possível fazer tan-
tas peripécias, ainda que a moda que a TV sugere seja tentadora. 
“Nessas horas, temos que explicar que não dá para fazer o que 
querem. Já perdi cliente por causa disso”, admite o cabeleireiro 
Eder Bueno.
Essa fissura pela moda também já foi abordada nas próprias 
atrações da TV, como novelas e séries desse universo. A mais 
famosa delas foi Ti-Ti-Ti, de Cassiano Gabus Mendes, que ganhou 
duas versões. O cerne da trama era a rivalidade entre dois nomes 
da alta costura, Victor Valentim (Luiz Gustavo) e Jacques Leclair 
(Reginaldo Faria). Eles foram tão populares nos anos 1980, que a 
primeira versão da novela gerou o lançamento de produtos reais, 
como o batom Boka Loka. Também de Cassiano Gabus Mendes, 
Plumas & Paetês tinha um enredo que envolvia uma empresa do 
ramo da moda.
No final dos anos 1980, Antônio Calmon escreveu Top Model, 
um sucesso absoluto. Depois, no início dos anos 1990, veio a 
minissérie Sex Appeal, que tratava do concorrido mercado das 
modelos de grife. Em Vale Tudo, de Gilberto Braga e Aguinaldo 
Silva, um dos núcleos era a revista de moda Tomorrow. Belíssima, 
de Sílvio de Abreu, tinha como cenário uma fábrica de roupas. A 
última trama que trouxe esse elemento foi Verdades Secretas, de 
Walcyr Carrasco, mostrando os lados obscuros desse meio. E Wa-
lcyr criou ainda, em A Dona do Pedaço, a influencer de moda Vivi 
Guedes (Paloma Oliveira), que virou fenômeno nas redes sociais.
Babalu (Letícia Spiller), 
de Quatro por Quatro 
(1994), ostentava 
blusas ciganinhas
da TV no BRASIL
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Quem lembra dessas modas?
AS BOCAS DE SINO – Nos anos 1960 e 1970, as calças bocas 
de sino, camisas bufantes e, depois da chegada da cor à TV, um 
verdadeiro arco-íris na telinha, alimentavam os sonhos de consumo 
do público, dos programas da Jovem Guarda da Record a Beto 
Rockfeller, da Tupi.
COSTELETAS JORNALÍSTICAS – A cena parece insólita, mas 
nos anos 1970, Cid Moreira e Sérgio Chapelin, na bancada do Jornal 
Nacional, ostentavam vistosas costeletas, cabelos volumosos, ternos 
com cortes da moda e cores berrantes. Difícil prestar atenção nas 
notícias.
IDEAL DE BELEZA – Há quem diga que não houve mulher 
mais bonita que Tônia Carrero. Quando a dama do teatro, com sua 
elegância natural, migrou para a TV, lançou moda em novelas como 
Pigmalião 70 (cabelos cheios) e Água Viva (a prática do top less).
LIBERDADE EM MADEIXAS – Os cabelos soltos foram marca 
nos libertários anos 1970, com a beleza de Sônia Braga liderando as 
tendências, seja como a trigueira Gabriela, seja como a empoderada 
Júlia de Dancin’ Days. Combinavam bem com vestido de chita ou 
bustiê.
O FRENÉTICO DANCIN’ DAYS – Abra suas asas, solte suas feras! 
A novela Dancin’ Days trouxe o universo da discoteca, com roupas 
descoladas e coloridas para homens e mulheres e a inconfundível 
meia colorida associada a sandálias abertas. Conjunto confortável 
para dançar.
UM CORTE INESQUECÍVEL – Maria Cláudia chamava a atenção 
na novela Plumas e Paetês com um corte de cabelo que seria 
recorrente nos anos 1980. Ele formava um grande volume, curto 
na frente, enorme atrás. Modelo que depois migrou para a música, 
adotado por vários artistas.
O CHANEL CHIQUE – Uma das personagens mais hilárias das 
novelas brasileiras foi capaz, ainda, de lançar um corte de cabelo 
copiadíssimo. O chanel negro da falida Rafaela, de Brega & Chique, é 
inesquecível. Ponto para a elegância e o talento de Marília Pêra.
AS GAROTAS DO FANTÁSTICO – Nos anos 1980, a audiência 
masculina do programa Fantástico era vitaminada pelo concurso 
Garotas do Fantástico. Os minúsculos biquínis nos modelos asa delta, 
na frente, e fio dental, atrás, viraram moda, ousadias levadas para as 
praias do País.
AS BOTAS DA XUXA – O programa era para o público infantil, 
mas Xuxa, além de Rainha dos Baixinhos, também foi a rainha dos 
acessórios, que iam de pulseiras à chuquinha no cabelo. Mas nada se 
compara às quilométricas botas, que iam acima dos joelhos. Muita 
gente usou.
da TV no BRASIL
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O PODER DO COURO – Protagonista da novela Fera Radical, Malu 
Mader surgia na tela vestindo jaquetas de couro, calças jeans e outros 
acessórios que denotavam sensualidade e um certo poder rústico. Não 
deu outra. As peças, fáceis de combinar, viraram moda.
AS VIAGENS DE GLÓRIA PEREZ – As novelas da escritora têm marcas 
registradas: tramas em países exóticos, dancinhas típicas e toda sorte de 
elementos que viram febre nos figurinos. A pulseira que também era anel, 
peça usada em O Clone, virou artigo de primeira necessidade.
A SUNGUINHA DO GALÃ – Carlos Alberto Riccelli era mostrado em 
numerosas cenas da novela Vale Tudo usando sungas para lá de cavadas. 
Nos anos 1980 e 1990, o modelo era muito comum entre os homens. 
Depois caiu em desuso, substituído por peças mais recatadas.
ACESSÓRIOS DE PANO – Sandrinha (Adriana Esteves), de Torre 
de Babel, popularizou um diadema feita de tecido. Antes, os irmãos 
interpretados por Guilherme Fontes e Guilherme Leme, usavam, em 
Bebê a Bordo, lenços, inserindo essa peça no vestuário masculino.
E AQUELAS OMBREIRAS? – Uma das modas mais populares – e 
mais feias – legadas pelos anos 1980 foram as imensas ombreiras, 
colocadas em ternos, jaquetas, blusas. Nas novelas, elas eram 
onipresentes. Apresentadores, como Gugu e Xuxa, as adotaram. E o 
público também.
BLACK POWER – Demorou para que os cabelos crespos fossem 
aceitos na TV, em novelas e telejornais. Mais um sinal do racismo estrutural 
da sociedade brasileira. A partir do momento que atrizes e jornalistas 
negras ganharam destaque, puderam assumir a beleza de seus fios.
GÓTICO SOFT – Roupas negras e maquiagem escura, da sombra ao 
batom. O visual gótico conquistou os adolescentes do início dos anos 
1990 graças à novela teen Vamp, de enorme sucesso. Os vampiros soft 
da TV eram copiados por meninas e meninos.
SENSUAIS E PODEROSAS – Algumas personagens conseguiram 
fazer de peças de roupa íntima algo maisque isso. Tieta (Betty Faria) 
mostrava sutiãs de renda vermelha ou preta com naturalidade. Mais 
recentemente, Bibi Perigosa (Juliana Paes) era adepta de body cavados. 
AS CAMISAS DO ALQUIMISTA – Camisas de algodão cru de mangas 
compridas, sem gola, com uma fileira de botões na frente que ia até a 
altura do peito. Esse visual conquistou os homens nos anos 1990 graças ao 
personagem Flamel (Edson Celulari), da novela Fera Ferida.
da TV no BRASIL
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Chico Anysio, travestido de uma senhora gaúcha, pega o telefone e dispa-ra, no melhor sotaque dos pampas: “João Baptista? É Salomé!” Em plena ditadura militar, o presidente João Baptista Figueiredo era satirizado pela 
personagem do maior criador de tipos da história do humor na TV do Brasil, em 
esquetes que não perdoavam as mazelas de um País que vivia sob censura. Em 
horário nobre da Globo, Chico levava ao público uma crítica contundente que 
os telejornais não eram autorizados a fazer. Este é um dos papéis que o humor 
desempenhou por aqui.
Nos seus 70 anos de história, rir fez parte do cotidiano de quem assiste TV nas mais 
diversas emissoras do País. Já nos seus primeiros anos, alguns formatos humorísticos 
migraram do rádio para a nova mídia. Certos quadros, como o Primo Rico e Primo 
Pobre, interpretados pelos veteranos Paulo Gracindo e Brandão Filho, por exemplo, 
atravessaram décadas, fazendo aparições em vários programas. Outros nasceram 
num formato para a TV, mas com tipos trazidos do circo e do rádio, como A Praça da 
Alegria, que estreou na Tupi ainda em 1953.
Explorando a lógica dos vaudevilles franceses e as peças de Teatro de Revista 
brasileiros, o riso na TV nacional buscou sua identidade, seja com fórmulas que 
apostavam na picardia, em piadas de cunho sexual, quanto num humor mais 
inocente, ou mesmo físico, algo mais inspirado em comediantes clássicos do ci-
nema, como a dupla O Gordo e o O Magro, Buster Keaton, Irmãos Marx e Charles 
Chaplin. Dessa variedade de opções, a TV brasileira foi encontrando seu próprio 
jeito de fazer um público imenso e heterogêneo rir ao mesmo tempo.
HUMOR NA TV
Sete décadas de gargalhadasProgramas 
de humor 
figuram entre 
as principais 
atrações da TV 
em sua história 
no Brasil, 
transformando-
se no decorrer 
das décadas 
e traduzindo 
nossa 
mentalidade e 
vida pública
Chico Anísio 
como Salomé: 
crítica à 
ditadura 
militar
da TV no BRASIL
29
Logo vieram os comediantes de destaque, muitos deles iniciados também no 
rádio, no circo ou nas comédias da Atlântida dos anos 1940 e 1950, grande labo-
ratório de roteiristas, atores e atrizes que se tornaram populares da maior parte do 
público brasileiro por meio da TV. Puxados pelo carisma da imbatível dupla Oscarito 
e Grande Otelo, outros rostos estrearam naquela época, para, nas décadas seguintes, 
virarem referência no novo meio. Em certa escala, as chanchadas da telona migra-
ram para a telinha, com outros recursos e armas.
Os programas de humor ganharam mais vigor na TV brasileira nos anos 1960, 
sobretudo na Record e na Excelsior. Nelas, Ronald Golias aprontava confusões na 
Família Trapo e Moacyr Franco mostrava seus múltiplos talentos de ator, cantor e 
comediante em Moacyr Franco Show. É 
quando a Globo, inaugurada em 1965, 
entra nessa disputa, primeiro com Balança, 
Mas Não Cai, em 1968, e depois com Faça 
Humor, Não Faça Guerra. Por trás dessas 
produções, havia nomes como Carlos 
Manga e Max Nunes, roteiristas e diretores 
provindos do cinema e do rádio.
Nos anos 1970, os programas ganha-
ram contornos mais políticos em razão do 
aperto do cerco da ditadura. Mesmo em 
atrações aparentemente inocentes, como 
a pioneira versão de A Grande Família, 
levada ao ar a partir de 1972 pela Globo, 
havia o olhar do autor Oduvaldo Vianna 
Filho, o Vianinha, notório militante de esquerda que inseria nas situações cotidianas 
dos roteiros as agruras econômicas de um típico núcleo familiar brasileiro e seus 
perrengues financeiros, desmentindo a narrativa do Milagre Econômico vendida 
pelos militares.
Um dos expoentes daquela nova fase dos humorísticos que cutucavam nas 
feridas do País foi Chico Anysio, que estreou seu Chico City na Globo em 1973, por 
onde desfilavam personagens que tinham a língua ferina e o comportamento 
desprezível, incluindo aí coronéis autoritários e políticos corruptos. Nos programas 
que faria depois, Chico Anysio acrescentaria a essa galeria um líder religioso pilantra, 
gente que dava carteiradas para conquistar privilégios, moralistas que tinham vidas 
secretas para lá de animadas. Um quadro comple-
to do Brasil, enfim.
Logo, Chico ganhou a companhia de Jô Soares 
nesse terreno, que também criou personagens 
críticos, sobretudo nos anos 1980, época de 
uma redemocratização cheia de vícios. Em Veja 
O Gordo e Viva o Gordo, Jô fazia graça, já na 
abertura, com figuras proeminentes da vida real – 
nem o papa João Paulo II escapava –, ironizando 
seres autoritários nostálgicos da ditadura ou 
vítimas do regime que custavam a acreditar que 
aquele período tenebroso havia acabado. Jô 
tinha a bagagem de ter trabalhado no jornal O 
Pasquim, pedra no sapato do autoritarismo.
Jô Soares em uma 
das esquetes do 
seu Viva o Gordo
O quadro Primo 
Rico, Primo Pobre 
foi um dos grandes 
sucessos da TV
da TV no BRASIL
30
Os Mestres da Alegria
Por muitos anos, Chico Anysio e Jô Soares, na Rede Globo, e Carlos Alberto 
de Nóbrega, titular no SBT há mais de 30 anos do banco da Praça É Nossa, 
herdado de seu pai, Manuel de Nóbrega, foram portos-seguros para comediantes 
veteranos que ajudaram a construir o humor na TV brasileira. Em seus programas, 
verdadeiras entidades da área, como José Vasconcellos, Zezé Macedo, Walter 
D’Ávila, Lúcio Mauro, Costinha, Antônio Carlos Pires, Moacyr Franco, Zilda 
Cardoso, Grande Otelo e Brandão Filho, continuaram no dia-a-dia do público.
Ao mesmo tempo, essas atrações também revelaram novos nomes do humor, 
como Tom Cavalcante, Cláudia Jimenez, Fafy Siqueira, Heloísa Perissé, Ingrid 
Guimarães, Marcius Melhem, Leandro Hassum e o próprio filho de Chico Anysio, 
Bruno Mazzeo. Além disso, popularizaram tipos que se tornaram sinônimos 
de certas situações brasileiras, gravando bordões em nossa memória. Dona 
Bela, Catifunda, Rolando Lero, a Velha Surda, Bronco, Baltazar da Rocha e João 
Canabrava viraram “pessoas” e não apenas personagens.
Esses mestres do humor ajudam-nos a contar um pouco de nossa história para 
além da TV. Pensar no quarteto dos Trapalhões, por exemplo, é também falar de 
uma infância passada nos anos 1970 e 1980, quando a criançada ficava ansiosa para 
ver Didi, Dedé, Mussum e Zacarias no cinema. Dercy Gonçalves, que chegou a ter 
programas próprios nos anos 1970, tornou-se conhecida por seu vocabulário sem 
pudores, desafiando estereótipos em relação a pressões de comportamento que 
sempre pesou sobre as mulheres em uma sociedade machista.
A TV também abriu espaço para que comediantes do cinema chegassem a 
outros públicos sem sair de seu habitat. Foi o caso de Mazzaropi, astro de seus 
filmes em que interpreta um caipira que transitava entre a inocência absoluta e a 
Costinha
José Vasconcelos
Ronald Golias e Grande Otelo
da TV no BRASIL
31
matreirice sábia do interior. Os chamados shows de um homem só não ficaram 
de fora, com programas de auditório abrindo oportunidade para esses artistas do 
teatro, como as sessões de piadas fortes de Ary Toledo no programa Sílvio Santos, 
as canções do menestrel Juca Chaves ou os causos de Rolando Boldrin.
Com o envelhecimento e a morte de muitas dessas referências, outros 
tomaram seus lugares. Já nos anos 1980, novos roteiristas inseriram mais ousadia 
nas atrações, como a trupe da TV Pirata e do Casseta & Planeta. As chamadas 
sitcoms, modelos de programas cômicos muito populares nos EUA, ganharam 
mais terreno no Brasil, com maior produção de séries desta natureza por aqui, 
sobretudo na Rede Globo, como as criadas por Miguel Falabella (Toma Lá, Dá Cá 
e Pé na Cova) e Cláudio Paiva (Tapas & Beijos),que voltou ao ar em reprises.
Os enlatados de sucesso
Se foi sem querer querendo, não sei, mas que o sucesso veio com tudo e para ficar, 
já não resta dúvidas. O sucesso tão longevo e insuspeito como o do seriado Chaves, 
que ficou no ar no SBT por mais de 35 anos ininterruptamente – ainda 
mais em se tratando de um produto produzido no México ainda nos 
anos 1970 –, é um fenômeno cuja explicação talvez nem mesmo seja 
mais necessária. Em termos de programa de humor, com a famosa 
claque (a risada artificial inserida na cena), nenhum enlatado conquistou 
tantos fãs no Brasil quanto este.
Outras atrações vindas do exterior foram muito apreciadas. A 
romântica e inocente Jeannie É um Gênio fez sucesso na TV brasileira 
nos anos 1970. Nos anos 1980, a Globo manteve nos finais da tarde 
um horário para as sitcoms norte-americanas, como As Super Gatas e 
O Poderoso Benson. A chegada da TV a cabo permitiu que fenômenos 
dos EUA fossem vistos simultaneamente aqui, como as séries Seinfeld, 
Friends, Two And a Half Man, Modern Family e The Big Bang Theory, além de 
programas de humor, como Saturday Night Life.
Carlos Alberto de 
Nóbrega (direita) em 
um dos quadros de 
sucesso do A Praça é 
Nossa: a velha surda
O seriado 
mexicano Chaves 
ficou no ar no 
SBT por mais 
de 35 anos 
ininterruptos
da TV no BRASIL
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Os clássicos do riso
A PRAÇA DA ALEGRIA – “A mesma praça, o mes-
mo banco…” A música veio bem depois da estreia 
na TV Tupi, em 1953, mas também está ligada à Praça 
da Alegria, de Manuel da Nóbrega, e depois à Praça 
é Nossa, de seu filho Carlos Alberto. Um clássico com 
quase 70 anos.
FAMÍLIA TRAPO – Programa que misturava tea-
tro e TV, como muitas atrações das primeiras décadas 
da televisão no Brasil, a Família Trapo era capitaneada 
por Ronald Golias e tinha no elenco um jovem Jô 
Soares (um de seus criadores) e o comediante Rena-
to Corte Real.
BALANÇA, MAS NÃO CAI – O programa foi criado 
inicialmente na Rádio Nacional, nos anos 1950, por Max 
Nunes e Paulo Gracindo, mas só estreou na Globo em 
1968, dirigido por Lúcio Mauro. Era um grande cortiço, 
em que os mais absurdos e engraçados personagens 
conviviam.
A GRANDE FAMÍLIA – Sua primeira versão foi 
ao ar em 1972 e tinha Eloísa Mafalda, Jorge Dória 
e Brandão Filho nos principais papéis. A segunda 
versão começou a ser exibida na Globo em 2001 e 
durou até 2014, com Marieta Severo e Marco Nanini 
vivendo o casal Lineu e Nenê.
O PLANETA DOS HOMENS – Jô Soares e Agildo 
Ribeiro eram os anfitriões deste humorístico, que 
ironizava nosso comportamento de cada dia, em uma 
brincadeira com o filme O Planeta dos Macacos. Até 
um símio, o macaco Sócrates, ganhou vida na atração 
criticando os humanos.
CHICO CITY – Chico Anysio teve seu primeiro 
programa-solo de humor na Globo a partir de 1973. 
Ali já apareciam alguns de seus personagens mais 
famosos, como Azambuja e Coronel Limoeiro. Chico 
teria várias atrações, como Chico Anysio Show, nos 
anos 1980.
OS TRAPALHÕES – Sucesso na Excelsior em 1966 
como Adoráveis Trapalhões, a atração, com várias 
formações – mas sempre com Renato Aragão e Dedé 
Santana no elenco – passou pela Record (Os Insociá-
veis) e Tupi, antes de chegar à Globo em 1977, já com 
Mussum e Zacarias.
da TV no BRASIL
33
ESCOLINHA DO PROFESSOR RAIMUNDO – Pro-
grama criado em 1952 na Rádio Mayrink Veiga pelo 
radialista e humorista Haroldo Barbosa, sua estreia na TV 
foi em 1957, na TV Rio. Chico Anysio o manteve como 
quadro de seus projetos até virar uma atração própria. 
Inesquecível.
VIVA O GORDO – Jô Soares já havia escrito e 
atuado em vários programas de humor na Globo, 
como Faça Humor, Não Faça Guerra e Satiricom, 
quando ganhou uma nova atração, o Viva o Gordo. 
Fez questão de trabalhar com amigos antigos, como 
Paulo Silvino e Francisco Milani.
TV PIRATA – Em uma metanarrativa até então 
inédita na TV, o programa reuniu atores que faziam 
comédia, mas não eram reconhecidos como 
comediantes, como Marco Nanini, Ney Latorraca, 
Diogo Vilela, Débora Bloch, Regina Casé e Cláudia 
Raia. Foi revolucionário.
SAI DE BAIXO – De uma ideia de Luiz Gustavo, 
com execução de Daniel Filho, as noites de domingo 
ganharam a graça de personagens como o escroque 
Caco Antibes (Miguel Falabella), a tonta Magda 
(Marisa Orth) e o porteiro Ribamar (Tom Cavalcante). 
CASSETA & PLANETA – Parte dos roteiristas da 
TV Pirata adivinha deste grupo, junção dos jornais 
satíricos Planeta Diário e Casseta Popular, formado 
por Bussunda, Hélio de La Peña, Hubert, Marcelo Ma-
dureira, Beto Silva, Cláudio Manoel e Reinaldo. Sátira 
total à política e à TV.
COMÉDIA MTV – Num estilo mais anárquico, a 
MTV levou ao ar um tipo de programa que influiu até 
nos programas da Globo. Não à toa, alguns de seus 
nomes, como Marcelo Adnet, Tatá Werneck e Dani 
Calabresa, foram desenvolver projetos na emissora 
carioca.
ZORRA – Por mais de uma década apostando no 
humor físico e nas piadas de cunho sexual, o Zorra 
Total ocupou as noites de sábado da Globo, até o 
formato ser substituído por algo mais crítico e atual, 
o Zorra, com paródias da cena política e sátiras de 
situações do cotidiano.
da TV no BRASIL
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ESPORTE
Copas do 
Mundo, 
Olimpíadas, 
Fórmula 1 e até 
campeonato 
de sinuca. A TV 
brasileira, em 
seus 70 anos, 
alimentou a 
paixão por todos 
os esportes 
e produziu 
instantes 
memoráveis
Quando a TV brasileira foi inaugurada, em setembro de 1950, o Brasil vivia um de seus maiores traumas esportivos, um luto que se abatera sobre o País dois meses antes. Em 16 de julho daquele ano, cerca de 200 mil 
pessoas no Maracanã viram a Seleção Brasileira de futebol perder a final da 
primeira Copa do Mundo disputada no Brasil, levando 2 x 1 do Uruguai, no que 
ficou conhecido como Maracanazo. O Brasil nunca havia sido campeão e ainda 
esperaria 8 anos para ter este sonho realizado. A TV nasceu por aqui num ano 
esportivamente fatídico.
O esporte foi uma das armas do novo veículo para conquistar público, ainda 
que houvesse pouquíssimos aparelhos de TV disponíveis para receber essas ima-
gens pioneiras. Em um estudo apresentado na USP sobre as transmissões espor-
tivas na televisão brasileira, Henrique Gasparino resgata a informação de que a TV 
Tupi, primeira emissora do País, colocou no ar, ainda em seu início, o programa 
Vídeo Esportivo, apresentado por Aurélio Campos. O primeiro jogo transmitido 
foi um Palmeiras x São Paulo, no Estádio do Pacaembu, em outubro de 1950.
Nos anos seguintes, questões estruturais permaneceram sendo obstáculos 
difíceis de superar para uma maior popularização das transmissões esportivas 
pela TV. O rádio continuou a ser o modo preferido do público para acompanhar 
os grandes clássicos e até a Copa do Mundo, uma vez que quando se falava em 
esporte, todo mundo logo pensava em futebol, claro. Os fãs de esportes olím-
picos aguardariam ainda mais para conseguir ver na TV as modalidades serem 
disputadas. A primeira transmissão de Olimpíadas no Brasil foi em 1972, direto da 
Alemanha.
Paixões nacionais
Seleção campeã 
do mundo em 
1958, na Suécia
da TV no BRASIL
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Depois da inauguração da Rede Globo, em 1965, a Tupi e a Record passaram a ter 
uma forte concorrência. Com os satélites à disposição, o brasileiro passou a ver, além 
de seu sagrado futebol dos domingos, eventos internacionais. Já em 1972, a Globo 
transmitiu o primeiro título de Emerson Fittipaldi na Fórmula 1, inaugurando no País 
um novo gosto pelo automobilismo. A emissora, aliás, trabalhou para que o Brasil fosse 
incluído no calendário das corridas, o que só ocorreu em 1973, em Interlagos.
O início dos anos 1970 foi o ponto de virada para a inclusão 
do esporte em horários nobres das emissoras brasileiras. A Copa 
do Mundo do México, em 1970, os Jogos Olímpicos de Muni-
que, em 1972, a vitória na Fórmula 1 de Emerson, também em 
1972, abriram os olhos das TVs para este nicho lucrativo. Nos 
anos 1980, as competições de diferentes modalidades fizeram 
ainda mais sucesso, com direito a algumas loucuras. Várias delas

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