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SOBRE A UNIÃO ESTÁVEL E O NAMORO QUALIFICADO

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UNIÃO ESTÁVEL, NAMORO QUALIFICADO E O CONTRATO DE NAMORO
A Constituição Federal de 1988 em seu Art. 226 § 3 reconheceu a União Estável como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. No entanto, é importante pontuar que um relacionamento longo por si só não é suficiente para caracterizar uma união estável.  Como define nosso Código Civil de 2002 em seu Art. 1.723, a união estável é caracterizada pela união entre duas pessoas que têm convivência pública, notória, contínua e com o intuito de constituir família. Há, atualmente, além do conceito de união estável, o conceito de namoro qualificado que é descrito como uma evolução do afeto em que as pessoas estão juntas, mas não tem intenção de constituir uma família. É importante ressaltar que morar junto não necessariamente enquadra o relacionamento em uma união estável, tendo que se analisar também os outros elementos do relacionamento. Outro aspecto importante é que não se exige um lapso temporal mínimo para que se considere constituída a união estável e tampouco há a necessidade de que o casal tenha filhos. De acordo com artigo do IBDFAM, pode-se haver também casos em que o casal mora em casas separadas, mas tem-se a estabilidade da união. 
Apesar das semelhanças que possam causar confusão na hora de enquadrar um relacionamento como união estável ou como namoro qualificado, já que ambos têm o cunho romântico-afetivo externados publicamente e costumam ser duradouros, os efeitos jurídicos dos dois tipos de relacionamentos são bem distintos. No caso da união estável há um regime de bens e no caso de dissolução gera divisão patrimonial e obrigação de prestar alimentos, enquanto o namoro qualificado não é causa para nenhum desses efeitos. 
Assim, no namoro qualificado há planos para constituição de família, há projetos para o futuro, enquanto na união estável há uma família plena já constituída que transmite a imagem externa de um casamento, ou, em outras palavras, transmite a “aparência de casamento”.
Diante dessa aproximação entre união estável e namoro qualificado a opção de um contrato de namoro celebrado por meio de instrumento público ou particular começou a surgir para que não haja a caracterização da união estável e, com isso, resguardar os interesses e o patrimônio dos envolvidos, desde que a declaração de vontade constante do aludido instrumento seja reflexo da verdade. O contrato de namoro, é então, um documento assinado entre as partes, arquivado em cartório de forma pública, que busca disciplinar a relação em que vive o casal e resguardar a situação patrimonial. 
Há no mundo jurídico uma constante discussão quanto a validade deste contrato, tendo doutrinadores que se posicionam dos dois lados. De acordo com Maria Berenice Dias este contrato é inexistente e desprovido de eficácia no seio do ordenamento jurídico. Ainda segundo Flávio Tartuce tal contrato deve ser considerado nulo nos casos em que já tenha se constituído uma União Estável. Para o doutrinador tal contrato constitui-se como uma forma de renunciar direitos e obrigações inerentes ao instituto da União Estável, fazendo disso um contrato nulo por ter como objetivo fraudar a lei. 
No âmbito jurisdicional, os tribunais vêm entendo que somente o contrato de namoro não é suficiente para afastar o reconhecimento de uma união estável e seus efeitos. Há, no entanto, decisões que tomam o contrato de namoro como prova da qualificação da relação como namoro e não união estável. Como foi o caso do caso ocorrido na 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a qual em um julgamento de um recurso de apelação proveniente de uma ação de reconhecimento de união estável, objetivando a partilha de bens e percepção de alimentos, confirmou a sentença proferida em Primeiro Grau e negou provimento ao recurso, sob o entendimento que não se tratava de uma união estável, mas de um namoro. O Relator fundamentou sua decisão em elementos fáticos, como o curto tempo de relacionamento, a inexistência de coabitação e o fato de terem firmado um contrato de namoro: "Verifica-se que os litigantes convencionaram um verdadeiro contrato de namoro, celebrado em janeiro de 2005, cujo objeto e cláusulas não revelam ânimo de constituir família"(gn). (TJSP - Apelação n. 9103963-90.2008.8.26.0000. 9ª Câmara de Direito Privado. Relator: Grava Brazil. Data de julgamento: 12/08/2008).
 Em outro caso, o Tribunal de Justiça de São Paulo julgou demanda emblemática em que, não obstante houvesse a alegação de uma das partes de que o relacionamento seria um namoro, foi reconhecida a união estável, pois, dentre outros fundamentos, o casal havia tentado a inseminação artificial em mais de uma oportunidade. Essa evidência demonstra uma contradição ao requisito inerente ao namoro, qual seja, a ausência de intenção de constituir família. 
Neste caso, acredito que contrato de namoro é valido enquanto entre as partes existir, única e exclusivamente, uma relação de namoro, se, por algum motivo, durante a vigência do contrato a relação dos contratantes mudar de um namoro para uma união estável este será rescindido tacitamente. Estando então a sua validade condicionada diretamente a relação que de fato exista entre os contratantes, da forma como se tratam perante a sociedade. Acredito que seja importante analisar também se o contrato foi formulado de boa-fé e não como uma tentativa de fraude, isto é importante, principalmente, se pensar as condições das mulheres na sociedade brasileira. E no caso de o contrato ter sido formulado na tentativa de uma fraude, este será nulo de pleno direito. Por tanto, o contrato de namoro por si só não tem validade necessitando de provas da existência ou não da União Estável.

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