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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI ANA PAULA AZEVEDO C. OLIVEIRA TALITA ABARCA ATENDIMENTO PSICOLÓGICO AO PACIENTE HOSPITALIZADO APÓS A TENTATIVA DE SUICÍDIO São Paulo 2016 ANA PAULA AZEVEDO C. OLIVEIRA TALITA ABARCA ATENDIMENTO PSICOLÓGICO AO PACIENTE HOSPITALIZADO APÓS A TENTATIVA DE SUICÍDIO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profa. Larissa Forni dos Santos. São Paulo 2016 ANA PAULA AZEVEDO C. OLIVEIRA TALITA ABARCA ATENDIMENTO PSICOLÓGICO AO PACIENTE HOSPITALIZADO APÓS A TENTATIVA DE SUICÍDIO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profa. Larissa Forni dos Santos. Aprovado em Nome do orientador/titulação/IES Nome do convidado/ titulação/IES Nome do convidado/IES RESUMO O trabalho do psicólogo é de grande importância no contexto hospitalar, ainda mais durante uma situação de risco, como a de uma tentativa de suicídio, sendo esta situação um caso que necessita de uma intervenção rápida, ágil e bem estruturada. Dessa forma, este estudo se propôs a investigar, através realização de um entrevista para obtenção de um relato de experiência, quais são as condutas necessárias no trabalho do psicólogo hospitalar na intervenção com pacientes imediatamente após a tentativa de suicídio. Os dados foram coletados através de uma entrevista semiestruturada aplicada pessoalmente junto a duas profissionais com experiência neste campo de atuação. A entrevista foi áudio gravada, com consentimento da participante. O material foi analisado qualitativamente, através de análise de conteúdo temática. Espera-se que este trabalho possa auxiliar em pesquisas futuras a construir estratégias de intervenção e de suporte ao profissional exposto a esta problemática. Palavras-chave: Psicologia. Suicídio. Manejo. Hospital Geral. ABSTRACT The work of the psychologist is of great importance in hospitals, especially during a situation of risk, such as from a suicide attempt and this situation a case that requires a quick, agile and well-structured intervention. Thus, this study set out to investigate, through an account of experience, what are the necessary management in the hospital psychologist work on intervention with patients immediately after the suicide attempt. The data collected through a semi-structured interview applied personally by a professional with experience in this field. The interview was audio recorded, with consent of the participant. The analysis of this material was carried out from a qualitative approach. It’s hoped that this work may assist in future research build intervention strategies and professional support exposed to this problem. Key-words: Psychology. Suicide. Handling. General Hospital. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 7 1.1 Incidência, Fatores de risco e proteção......................................................................7 1.2 Atenção a saúde: a doença crônica associada ao suicídio ........................................10 1.3 Atendimento ao paciente após a tentativa de suicídio ............................................. 11 1.4 A importância da formação acadêmica do psicológo...............................................14 2 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 15 3 OBJETIVO ............................................................................................................... 15 3.1 Objetivo geral .......................................................................................................... 15 3.1.1 Objetivos específicos ............................................................................................ 16 4 HIPÓTESE ................................................................................................................ 16 5 METODOLOGIA ..................................................................................................... 16 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................18 7 CONCLUSÃO........................................................................................................... 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 25 APÊNDICES.................................................................................................................31 ANEXO......................................................................................................................... 33 7 1 INTRODUÇÃO Este trabalho visa apresentar algumas dimensões sobre o fenômeno de suicídio, partindo de questões apresentadas na literatura, como a incidência, fatores de risco e de proteção, assim como, as possibilidades de intervenção do psicólogo hospitalar no momento subsequente a ocorrência de uma tentativa. De acordo com Shneidman (1975-1994, p. 203 e p. 1774 apud RIBEIRO, 2006) o suicídio é "o ato humano de cessação auto infligida, intencional e que pode ser melhor compreendido como um fenômeno multidimensional”. Já para Werlang, Macedo e Kruger (2004, apud TORO et al., 2013, p. 413) “o suicídio é um ato que tem como finalidade encontrar uma solução para um sofrimento intenso e é marcado por uma atitude interna ambivalente, pois, ao mesmo tempo em que o indivíduo quer alcançar a morte, ele busca ajuda, socorro”. Então, é possível compreender que esse fenômeno está presente em todas as culturas, podendo ter diversas causas e como veremos em seguida, sua incidência tem crescido ao longo dos anos (CROCETTA, 2013). No contexto em que envolve o suicídio, o papel do psicólogo deve ser o de agente transformador, sua atuação envolve o atendimento a escuta, o acolhimento, as orientações e o possível encaminhamento à rede de saúde mental (ZANA & KÓVACS, 2013). 1.1 Incidência, fatores de risco e de proteção De acordo com o Ministério da Saúde (2004), incidência é o número de casos novos de determinado fenômeno que aparece em uma comunidade, durante um certo intervalo de tempo, dando uma ideia de sua dinâmica e desenvolvimento. A Organização Mundial da Saúde (2000 apud, Schnitman et al., 2010) afirma que as diferenças entre as taxas de incidência de suicídio apresentadas na literatura, entre os diversos países, pode ser consequência da falta de uniformidade nos procedimentos de notificação. Por isso, apesar de ser analisado em alguns países, as taxas de suicídio podem ser muito maiores do que se é divulgado. Apesar de faltar uniformidade na notificação, em termos de número de óbitos, o Brasil está entre os dez países que registram os maiores índices absolutos de suicídio. Segundo Botega et. al (2010), foram 8.639 suicídios oficialmente registrados em 2006, o que representa, em média, 24 mortes por dia. A partir destes dados são realizadas as análises de quais são os fatores 8 de risco do suicídio, sendo possível delinear planejamentos estratégicos com os objetivos de prevenir, identificar precocemente e intervir durante as crises. De acordo com Ferreira (2014) a religiosidade pode ser um dos fatoresde proteção. O autor ainda acredita que, pessoas religiosas buscam o enfrentamento das dificuldades da vida por meio da crença em um Ser superior, dando significado às crises vivenciadas. Já, a Organização Mundial da Saúde (2006 apud AQUINO, 2009) afirma que além da religião, o apoio da família, o envolvimento na comunidade, uma vida social satisfatória, o acesso a serviços de saúde e a integração social por meio do trabalho e do uso construtivo do tempo de lazer são aspectos que protegem o indivíduo. Em contrapartida, os principais fatores de risco para o comportamento suicida são: quadros psicopatológicos, variáveis sociodemográficas e, também, fatores econômicos e culturais (BOTEGA et. al 2010). Em relação as psicopatologias, estão frequentemente associadas a tentativas de suicídio: os transtornos depressivos, o transtorno de personalidade borderline, transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool e esquizofrenia (OMS, 2000). Bertolote e Fleischmann (2002) acreditam que aproximadamente 90% das pessoas que tentaram suicídio sofrem de algum tipo de transtorno mental. Sobre as variáveis sociodemográficas, em referência a idade, a taxa de suicídio apresenta dois picos, em jovens de 15 a 35 anos de idade e em idosos acima de 65 anos (OMS, 2000). “Em termos globais, as taxas de suicídio na faixa etária acima de sessenta e cinco anos são de duas a três vezes maiores do que abaixo de vinte e cinco anos. Contudo, na maioria dos países altamente industrializados observa-se atualmente o pico das taxas de suicídio nas idades compreendidas entre quarenta e cinco e sessenta anos, principalmente entre os homens.” (BOTEGA et al., 2010, p.16). Acredita-se que a taxa de suicídio seja tão alta na faixa etária acima de 65 anos, devido as mudanças significativas que ocorrem nessa idade. De acordo com Durkheim (2003, apud GONÇALVES, GONÇALVES, OLIVEIRA-JUNIOR, 2011), situações como desemprego, perdas de entes queridos, isolamento social, aflições econômicas são alguns dos aspectos que acontecem com mais frequência nessa idade e que contribuem para aumentar o risco de suicídio. Considerando a questão de gênero, Christante (2010) afirma que, independentemente da idade, o suicídio é mais comum no sexo masculino. Schnitman et al. (2010) também confirmam este fato ao afirmar que, no Brasil, o suicídio acomete os homens numa taxa que 9 fica em torno de 6,6 por 100 mil habitantes, o que está muito acima do gênero feminino que fica em 1,8 por 100 mil habitantes. Como se pode perceber, a diferença entre os gêneros são significativas, o que é corroborado em relação aos dados apresentados sobre outros países que indicam que a propensão ao suicídio homens são três vezes maiores do que para as mulheres. Poucos estudos atentam-se a explorar os motivo pelos quais essa diferença é tão grande. Uma possível explicação, de acordo com Crocetta (2013), dá-se pelos métodos que os homens usam, ou seja, os homens têm mais êxito no ato suicida, enquanto as mulheres tentam mais. Com relação aos métodos utilizados, Crocetta (2013) afirma que a escolha de métodos mais agressivos por parte dos homens é devido a sua necessidade de evidenciar a virilidade. Por isso, eles utilizam métodos mais letais como armas de fogo e enforcamento. Já as mulheres usam métodos menos invasivos como envenenamento e overdose de medicamentos. Outros métodos utilizados tanto por mulheres quanto por homens, incluem: atirar-se de lugares altos, atear-se fogo e intoxicar-se com gases de escapamento de veículos. É possível notar também que a escolha do método varia muito em cada país, e isso acaba sendo correlacionado ao fator cultural. Segundo Ferreira (2008), a percepção sobre o suicídio muda de cultura para cultura, sendo um ato que pode ser visto como uma libertação ou como um erro grave. Kayoko (2005, apud SHIKIDA, ARAÚJO-JUNIOR, GAZZI, 2007, p.126) refere que, “atualmente, em algumas culturas, o ato suicida é visto como um caráter clandestino ou patológico, e que tem sido muito usado como métodos nos atentados terroristas, principalmente, fanáticos islâmicos.” O Japão, por exemplo, é conhecido historicamente por seus métodos suicidas ao longo da história, como por exemplo os kamikazes, que eram soldados da Segunda Guerra Mundial que pilotavam aviões e se atiravam contra os inimigos. Além dos kamikazes, existiu também os haraquiri, que eram samurais que cometiam suicídio ao terem sua honra ferida (SHIKIDA, ARAÚJO JUNIOR, GAZZI, 2007). Em relação as questões econômicas, os homens são os mais suscetíveis a serem influenciados por esse fator, uma vez que ele está associado ao estresse. De acordo com Schnitman et al. (2010), o desemprego afeta diretamente ao homem, que na cultura patriarcal, acredita que fracassou no seu papel de provedor. 10 1.2 Atenção à saúde: a doença crônica associada ao suicídio Ainda pensando sobre os fatores de risco, devemos destacar, entre eles, a devida atenção aos casos que envolvem pessoas com doenças crônicas, sejam elas orgânicas ou mentais. Segundo Botega (2012), quando o indivíduo está no início de um adoecimento, a doença muitas vezes passa despercebida ou até mesmo é ignorada, como uma negação da própria enfermidade, pois temos a tendência de pensar e, até mesmo fantasiar, que somos imortais e que nosso corpo nada fará além de obedecer as nossas ordens. É neste momento que ela aparece para nos mostrar que, podemos sim morrer e que nosso corpo pode adoecer e nos levar à morte, esse pensamento pode trazer toda a culpabilidade para o corpo, que poderá ser visto como nosso maior inimigo por estar fraco e adoecido. Quando os sinais da doença, física ou mental, começam a surgir, os cuidados iniciais a serem disponibilizados são a promoção e prevenção afim de evitar uma piora ou um novo adoecimento. O tratamento e recuperação são os níveis de atenção que precisam ser mais acessíveis, até mesmo, mais divulgados, quebrando barreiras de preconceitos e falta de informações sobre os cuidados psicológicos (BOTEGA, WERLANG, CAIS & MACEDO, 2006). Botega, Cais, Macedo e Werlang (2006) também apontam para a relevância de trabalhar com o âmbito social, familiar e profissional de cada indivíduo, afim de trazer a importância da saúde mental, buscar atitudes acolhedoras que proporcionem atenção e preocupação em relação aos sentimentos, e as esperanças de cada um. Além disso, os autores pontuam como um cuidado, o fato do profissional da saúde poder orientar e servir como um canal de comunicação entre esses indivíduos e os fatores que os rodeiam. Esse tipo de cuidado pode trazer uma melhor qualidade de vida para uma população que sofre de algum transtorno mental ou pode vir a passar por algo semelhante futuramente, podendo prevenir uma piora que iria levar essa população ao risco da ideação suicida. Então, a prevenção do comportamento suicida deve ter como foco, não só o suicídio em si, mas também o que esse o comportamento pode causar no ambiente e nas pessoas ao redor. Sendo assim, quando se pensa em prevenção, é preciso oferecer repertórios de enfrentamento das dificuldades que levam cada indivíduo à uma ideação suicida. Ainda assim, as melhores formas de tentar prevenir uma tentativa de suicido, traz consigo todo o cuidado que foi dito anteriormente em relação a esses indivíduos, que é reforçar a comunicação e a informação, trazer o conhecimento das práticas psicológicas e o quanto elas podem ajudar com a reflexão, 11 a escuta, o acolhimento, a qualidade de vida e outros fatores que trazem uma realidade para esses pacientes de que nada está perdido (Botega, Cais, Macedo & Werlang, 2006). 1.3 Atendimento ao paciente após a tentativa de suicídio Em casos nos quais o indivíduo é internado devido a uma tentativa de suicídio, a equipe hospitalar deverá oferecer um atendimento multidisciplinar,que tratará o indivíduo de forma humanizada. Knobel (1999, apud GUTIERREZ, 2014), afirma que tratar de forma humanizada é cuidar do paciente em sua totalidade, o respeitando em suas crenças, cultura e valores. Segundo Ionita, Flórea e Courtet, (2009 apud GUTIERREZ, 2014) na prática, a equipe de profissionais responsáveis pelo paciente com ideação suicida, deve atentar-se e tomar consciência prévia de uma suposta crise, ou seja, o fato de que o paciente pode tentar se suicidar a qualquer momento, assim, a intervenção deve ser intensiva, rápida e precoce. É importante salientar que se o paciente em questão apresentar tentativas anteriores em seu histórico de vida, isso deve ser considerado na avaliação e conduta na hora do atendimento. Além disso, é essencial ter em mente a necessidade de aprimorar a comunicação entre o psicólogo e o paciente, pois em alguns casos, a comunicação acaba sendo muito difícil para toda a equipe e por isso devemos entender os aspectos relacionados à autopreservação desse indivíduo, ou seja, às vezes, pacientes que tem ideação suicida não aceitam ajuda e recusam todo ou qualquer tipo de atendimento, incluindo o atendimento psicológico e apesar de concordarem que precisam destes atendimentos, tendem a resistirem, pois se sentem sem esperança de que vão melhorar (QUINNET, 2008 apud FUKUMITSU & SCAVACINI, 2013). Meleiro (2013), também fala da necessidade da equipe em dar mais espaço e tempo para um paciente com ideações suicidas, pois em alguns casos, existe a dificuldade do pensamento de que eles mesmos são um fardo e que o atendimento será inútil. Outra forma de intervenção, em relação às tentativas de suicídio, diz respeito a criação de uma prática em que a equipe profissional, principalmente o psicólogo hospitalar, tenha acesso direto aos pacientes de risco, que apresentam pensamentos relacionados ao suicídio, ou seja, que esses pacientes sejam encaminhados aos hospitais gerais para um atendimento aos possíveis danos físicos e mentais, causados pela tentativa de suicídio. Pacientes que apresentem quadros de depressão, ansiedade, agitação, desanimo, despersonalização, etc., serão os que 12 possivelmente poderão apresentar um novo quadro de ideação ou ação suicida (BALLARD et al., 2008 apud GUTIERREZ, 2014). Após a tentativa de suicídio, os pacientes encontram-se muito fragilizados e, por isso, é essencial que os profissionais que o atenderão, nesse momento, sejam empáticos, apresentando uma postura de acolhimento e o cuidado tanto com o indivíduo quanto com seus familiares (SANTIAGO & RIBEIRO, 2008). Para Calvett, Silva e Gauer (2008, apud TORO et al. 2013), o psicólogo hospitalar é um profissional que deve ser facilitador do fluxo de emoções, reflexões, e o verdadeiro trabalho terapêutico visa a zelar pela atenção global ao paciente. Para isso, segundo Gondim (2015), o psicólogo deverá: acolher esse paciente oferecendo-lhe um espaço para que ele do seu sofrimento, garantindo-lhe uma escuta sem críticas ou julgamentos; aceitar os sentimentos ambivalentes desse paciente; suportar os recursos que o paciente dispõe para dar lidar com os seus sentimentos; ampliar o cuidado para a família e redes de apoio social na qual o paciente está inserido, entre outros cuidados. A escuta realizada durante o atendimento é importante, pois irá possibilitar ao psicólogo compreender as angústias e as razões que levaram à tentativa do suicídio e, consequentemente, auxilia o psicólogo a pensar em meios de ajudar o paciente. O atendimento familiar também se mostra relevante, pois os familiares irão ter o papel de apoio e suporte, exercendo assim um fator de proteção em relação a possibilidade de uma nova tentativa por parte do paciente. Para tanto, esses familiares precisam também ter um apoio emocional e uma orientação sobre como deverão agir com o ente querido que se encontra em situação de risco (BAHLS, 2002 apud BENINCASA & REZENDE, 2006). Silva e Boemer (2004, apud TORO, 2013) destacam que a assistência ao paciente que realizou tentativa de suicídio pode despertar diversos sentimentos nos profissionais de saúde, tais como: impotência, fragilidade, culpa, frustração, desespero. É preciso que o psicólogo saiba manejar esses sentimentos e trabalhar esses aspectos para que haja uma maior compreensão e empatia por parte desses profissionais que compõe a equipe de atendimento. Pensando sobre isso, a importância do trabalho do psicólogo no contexto hospitalar deve-se as consequências psicológicas causadas pela tentativa do suicídio tanto no paciente quanto em seus familiares. Por este motivo, é importante que haja estudos sobre o manejo terapêutico necessário dentro desta problemática (SILVA & BOEMER, 2004 apud TORO, 2013). 13 O psicólogo deve utilizar a escuta e a empatia durante seu atendimento, pois somente assim conseguirá compreender o sofrimento do paciente. Com isso, poderá compreende-lo melhor, respeitando a individualidade, e intervindo de forma mais eficaz (TAVARES, 2013). Segundo Ferreira e Gabarra (2013), após uma tentativa de suicídio, o psicólogo hospitalar deverá trabalhar diminuindo a ansiedade, restabelecendo o equilíbrio e atenuando os sintomas, realizando uma psicoterapia afim de reforçar as defesas e a resiliência do paciente, trazendo uma melhor adaptação para sua vida, não só em relação aos problemas e ao sofrimento psíquico, mas a saúde como um todo, ligando e reforçando os laços com a equipe e rede de saúde pública ou privada, estimulando os cuidados à saúde e também ao tratamento psicoterápico e/ou psiquiátrico se necessário ao paciente. De acordo com o Conselho Regional de Psicologia (2005, apud ZANA & KOVÁCS, 2013) por meio do Código de Ética, o sigilo profissional tem por como objetivo proteger a pessoa atendida, se caso haja necessidade de informar algo sobre o atendimento, o psicólogo deverá ser fornecer apenas as informações necessárias para a tomada de decisão (ZANA & KOVÁCS, 2013). Entretanto as autoras acreditam que, quando o assunto é suicídio o atendimento psicológicos levanta dúvidas em relação a aspectos éticos, principalmente com relação ao sigilo. Sabe-se que em casos excepcionais, o Código de Ética permite ao psicólogo quebrar o sigilo, sendo criterioso tendo como base na busca pelo o menor prejuízo. Fukumitsu (2005 apud ZANA & KOVÁCS, 2013) afirma que o sigilo só deve ser totalmente preservado quando não haja risco à vida, entretanto poderá informar a família caso esse risco esteja presente. A autora também afirma que a quebra de sigilo no caso de tentativa/ideação é um direito do psicólogo, não um dever. Além disso, é essencial que o psicólogo faça um contrato terapêutico em que fique claro para o paciente que tentou suicídio, que poderá haver a necessidade de compartilhar algumas informações com outros profissionais de saúde e com os familiares, verificando também se o mesmo está de acordo (ZANA & KOVÁCS, 2013) Então, por não estar especificado no Código de Ética se deve haver ou não a quebra de sigilo em casos de suicídio, muitos psicólogos não sabem qual a melhor conduta a ser tomada. Com base nisso, Zana e Kovács (2013) acreditam que o psicólogo não deve se limitar apenas ao Código de Ética, pois ele serve apenas como norteador dos direitos, deveres e 14 responsabilidades; e em situações como a do suicídio cabe ao psicólogo agir de forma ética, visando o bem estar do ser humano. 1.4 A importância da formação acadêmica do psicólogo Para que seja feito um atendimento adequado, primeiramente é necessário que haja um conhecimento prévio sobre a temática de suicídio, e isso deveria ocorrer durante a formação acadêmica do psicólogo. De acordo com Angerami (1983), abordar questões relacionadas ao suicídio na formação acadêmica pode ser difícil, uma vez que, a realidade encontrada na prática acaba sendo diferente do queé encontrado na literatura. Por esse motivo e, também, pelo fato da maioria das instituições acadêmicas não abordarem o suicídio, é que os autores Lima e Buys (2008) afirmam que, os profissionais de saúde não estão sendo totalmente preparados para lidar com essa situação ou qualquer outra que envolve a temática de morte. Isso, além de dificultar o manejo, leva os profissionais ou a se envolverem emocionalmente não sabendo como lidar de maneira objetiva ou cria um mecanismo de defesa que os torna distantes e indiferentes. Pensando nas dificuldades encontradas pelos profissionais no manejo a pacientes que tentaram suicídio, o Ministério da Saúde (2004) criou a Portaria nº 1.876, de 14/08/2006, que: “Estabelece que as diretrizes nacionais para a prevenção do suicídio sejam articuladas intersetorialmente, abarcando os setores de saúde das três esferas de governo, além de instituições acadêmicas e organismos nacionais e internacionais com o desenvolvimento de estratégias que visem à promoção, prevenção e recuperação da saúde” (NASCIMENTO, 2011 p.11). De acordo com essa Portaria, a educação profissional tem como objetivo não apenas capacitar os profissionais para um manejo adequado desse fenômeno, mas também, de oferecer bases teóricas proporcionando condições que favoreçam a sensibilização e forneçam informações sobre suicídio, facilitando assim a construção de uma visão ampla e sem preconceitos (NASCIMENTO, 2011). Com isso, o autor ainda acredita que a sedimentação teórico prática acerca do suicídio precisa nortear a ótica dos profissionais da área de saúde, favorecendo o manejo adequado de um atendimento. Para Saraiva e Nunes (2007), a supervisão é um dos métodos de ensino mais antigos que unificam a teoria com a prática afim de aprimorar o conhecimento de uma profissão, sendo um 15 dos três pilares básicos para a formação de um psicólogo, pois ser considerado um elemento essencial da transmissão de ensino. A supervisão também é um método psicoterapêutico que traz o feedback sobre a atuação do supervisionando, oferecendo possiblidades de possíveis mudanças ou não, com um olhar sobre sua própria prática, pois o supervisionando em algum momento pode se sentir confuso e para isso, é necessário que ele tenha um rumo a seguir e a supervisão permite isso, o que contribui para o processo de formação da identidade terapêutica e é visto como um lugar onde o supervisionando possa pedir apoio (WATKINS JR., 1997 apud SARAIVA & NUNES, 2007). Pode-se considerar então, que o um dos objetivos da supervisão é fazer com que o supervisionado desenvolva a teoria em prática até que sua habilidade de atuação funcione da melhor forma, fornecendo um atendimento adequado. (SARAIVA & NUNES, 2007). 2 JUSTIFICATIVA Com base no descrito, destaca-se a alta taxa de mortes por suicídio por ano e o aumento do risco logo após uma tentativa não exitosa. Tendo em vista que este paciente foi encaminhado a um hospital geral, com finalidade de cuidar dos danos físicos causados pelo ato, o papel do psicólogo, torna-se criticamente indispensável, uma vez que sua atuação deverá ter o foco no acolhimento e, consequentemente na prevenção de novas tentativas. Posto isto, é importante entender como acontece o trabalho do psicólogo no atendimento de um paciente, no momento de internação em um Hospital Geral, após a tentativa de suicídio. Ao ter essa compreensão acredita-se na possibilidade de se pensar em estratégias de intervenção e de suporte ao profissional exposto a esta problemática. 3 OBJETIVO 3.1 Objetivo geral Compreender aspectos referentes aos atendimentos psicológicos a pessoas em regime de internação em hospital geral, após a tentativa de suicídio, por meio do relato de experiência de um psicólogo que recebeu uma pessoa nesta situação, verificando questões sobre o acolhimento ao paciente e as dificuldades de intervenção. 16 3.1.1 Objetivos específicos Entender a capacitação do psicólogo hospitalar em relação ao atendimento em casos de suicídio; Relatar a experiência de um psicólogo que acolheu um paciente com comportamento suicida e quais foram as dificuldades encontrada por ele durante o atendimento; Verificar qual o manejo adotado pelo psicólogo no atendimento a pacientes que realizaram a tentativa de suicídio; Relatar como é feito o acolhimento do paciente e de seus familiares. Estimular a conscientização para os profissionais da saúde sobre a incidência de casos, visando estratégias de prevenção ao comportamento suicida. 4 HIPÓTESE: Espera-se que, após as análises de todas as informações obtidas a partir da literatura e da entrevista, seja possível conhecer como um psicólogo hospitalar maneja o atendimento com um paciente que tentou o suicídio e quais as dificuldades encontradas por esse profissional em relação ao atendimento. Acredita-se que com a compreensão dessas questões seja possível entender como é feito o acolhimento e mostrar a importância desse tema para o psicólogo hospital. 5 METODOLOGIA Delineamento de pesquisa O delineamento utilizado neste estudo, baseia-se em um delineamento qualitativo, em conjunto com uma pesquisa exploratória. A escolha se deve ao fato de se buscar responder questões muito subjetivas do sujeito, que não pode ser medido e quantificado. Além disso, esse tipo de metodologia auxilia na familiarização de um assunto ainda pouco conhecido e pouco explorado. Como qualquer outra pesquisa, a pesquisa exploratória é usada em conjunto com a pesquisa bibliográfica, pois apesar de existirem poucas referências sobre o assunto, é necessário comparar o que foi pesquisado com o que existe na teoria. 17 Amostra Foi realizada uma entrevista com a psicóloga Sophia1 e sua colega também psicóloga, Natália2. Ambas trabalham em um Hospital Geral na cidade de São Paulo. A entrevistada principal Sophia já realizou o atendimento à um paciente que foi hospitalizado por causa da tentativa de suicídio, enquanto Natália, pode acompanhar o caso em grupo de supervisão. Instrumento de coleta de dados Foi utilizada uma entrevista semiestruturada, a qual foi desenvolvida exclusivamente para esta pesquisa. Ela abordou questões referentes ao nível de conhecimento do profissional sobre o tema, sua formação acadêmica e, também, sobre as dificuldades enfrentadas pelo profissional em relação a este tipo de atendimento (APÊNDICE A). Para Minayo et. al (2002), a entrevista semiestruturada pode ser compreendida como aquela que se utiliza de perguntas previamente elaboradas, com base em teorias e hipóteses que dão suporte para a pesquisa, porém permitindo ao sujeito falar abertamente sobre suas experiências acerca da questão, sendo, portanto, uma junção entre as modalidades estruturada e não estruturada. Procedimentos éticos Como a pesquisa envolve a participação de seres humanos, de acordo com a Resolução 196/96, este trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Anhembi Morumbi (Protocolo: 1.621.011) e pode ser encontrado no Anexo I. A participação das profissionais na pesquisa foi voluntária e apenas ocorreu após o preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B), para tanto, as participantes foram informadas com clareza sobre os objetivos, usos e procedimentos da pesquisa. Além disso, garantimos o sigilo e confidencialidade e o acesso as pessoas aos resultados da pesquisa, após o encerramento, se assim o desejar. Procedimento de coleta de dados: A entrevista foi realizada pessoalmente em um Hospital Geral de São Paulo, que é o local de trabalho das entrevistadas. Ao chegarmos no local, Sophia nos conduziu até uma sala que havia sido reservada previamente pela mesma. Já na sala, Sophia comunicouque sua colega Natália iria participar da entrevista, então sentamos em cadeiras de frente para ambas. A 1 Nomes fictícios 2 Nomes fictícios 18 entrevista teve uma duração de, aproximadamente, 40 minutos, foi áudio gravada e, posteriormente transcrita com a autorização prévia das participantes (APÊNDICE C). Procedimento de análise dos dados: Os dados foram analisados por meio da proposta operativa de Minayo et. al (2002), a qual recomenda uma análise pautada basicamente em três etapas: pré-análise, exploração do material e análise com embasamento teórico. Assim que os dados foram coletados, iniciou-se então a etapa de pré-análise (audição da gravação, transcrição e leitura das transcrições). Posteriormente, foi feita a exploração do material, por meio da classificação dos dados que consistiu na organização da entrevista por categorias. Por fim, procedeu-se a análise dos dados, considerando suas relações com o referencial teórico a fim de responder às questões da pesquisa, com base nos objetivos propostos. Com essa técnica espera-se compreender o pensamento do entrevistador e o significado do conteúdo apresentado. 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO Obtivemos o contato da psicóloga Sophia, por conveniência, devido a rede de relacionamento profissional. Dessa forma, entramos em contato com ela por e-mail, a fim de verificar sua disponibilidade em participar de uma entrevista sobre a atuação do psicólogo hospitalar no atendimento para pacientes hospitalizados na sequência de uma tentativa de suicídio. Após sua concordância, foi decidido que a entrevista seria realizada em seu ambiente de trabalho, ou seja, em uma sala reservada em um Hospital Geral da cidade de São Paulo. No dia agendado para a entrevista, Sophia nos conduziu até uma sala de atendimento e nos apresentou para Natalia, informando que a mesma acompanharia a entrevista. Ao iniciarmos, Sophia nos informou sobre sua formação acadêmica, dizendo que atualmente está realizando o curso de pós graduação com alta carga horária prática e isso permitiu que experienciasse uma situação na qual tivesse que prestar atendimento a um paciente hospitalizado devido a tentativa de suicídio. Então, com base nas informações obtidas na entrevista, foi possível conhecer qual é o manejo do psicólogo hospitalar. Para termos uma melhor compreensão dos dados obtidos, optou-se pela realização da análise de conteúdo temático, tal qual preconizada por Minayo (2012). Foi escolhido este tipo 19 de análise, pois possibilita a compreensão do conteúdo apresentado. Dessa forma, foi possível desvelar três categorias de conteúdo, tal como pode ser visto no APÊNDICE D. A primeira categoria estabelecida foi nomeada como “formação acadêmica”. A entrevistada apontou que durante sua formação do curso de Psicologia, a temática de suicídio não foi abordada em nenhuma disciplina, segue sua fala: “Não, na matéria eles falaram assim de forma geral, como atuar, como atender no hospital. Não falaram nada especifico dos casos. Tipo caso de suicídio, eles não falavam.” A entrevistada ainda pontua que a preparação teórica poderia ser um facilitador na conduta de casos delicados como os que envolvem risco de suicídio. “Sim, eu acho que se fosse abordado na faculdade, acho que a gente estaria mais preparada.” De acordo com os autores Angerami (1983), Lima e Buys (2008) e Nascimento (2011), é possível afirmar que existem poucos estudos que abordam sobre a formação acadêmica do psicólogo em relação ao suicídio. Em contrapartida, os estudos destacam importância de existir uma grade curricular que aborde a morte, e principalmente o suicídio (LIMA & BUYS, 2008). Segundo Angerami (1983), o suicídio é um tema que, quando abordado no contexto acadêmico acontece de forma rasa, pois não existem muitos artigos que se aprofundem nessa temática. Dutra (2000 apud VIEIRA & COUTINHO, 2008) afirma também que os estudantes de Psicologia dificilmente têm algum tipo de contato com essa temática, o que acarreta em inabilidades para lidar com pacientes que tentam o suicídio. Já, Junqueira e Kovács (2008), ressaltam que ao não possuir conteúdo na grade curricular, do curso de Psicologia, relacionado com a morte, o estudante fica despreparado para lidar com as questões profissionais e pessoais que envolvem o tema. As autoras ainda relembram que a formação específica contribui para com que os profissionais consigam ter o manejo adequado e acolher o paciente que tentou suicido e sua família que também está em sofrimento. E para isso, é necessário que haja uma “proposta pedagógica que considere o tripé 20 teoria, prática e desenvolvimento pessoal, num processo de aprendizagem significativa” (JUNQUEIRA & KOVÁCS, 2008 p. 517). O Conselho Federal de Psicologia (2013), em seu livro que disserta sobre o tema suicídio fala da possibilidade dos estudantes se organizarem e reivindicarem a discussão sobre essa temática, para que se possa inserir o conteúdo em sua formação acadêmica. Faz-se importante enfatizar que, a inclusão na grade curricular desse tema não seja apenas para que o estudante de Psicologia tenha uma base teórica, mas sim, problematize esse assunto de forma a pensar em meios de lidar com a situação para que, no momento do atendimento a um paciente que tentou suicídio, o psicólogo não deixe que seus anseios e preconceitos atrapalhem no seu manejo. Já em relação a importância da supervisão, a entrevistada Natália relata: “(...)eu acho que o que ajuda muito na condução do caso que acho que você não falou foi a supervisão. Então assim, a todo momento a supervisora com um outro olhar, com outra perspectiva do caso, acho que isso também facilita muito na condução.” De acordo com Reis e Hortale (2004, p. 495 apud HENK, 2010) “a supervisão deve ser entendida como um processo amplo, complexo, educativo e contínuo.” Para Baraldi e Car (2006 apud HENK, 2010) a supervisão é um instrumento que auxilia na identificação, avaliação e soluções de problemas que podem ocorrer durante um atendimento. Então, a supervisão é um processo importante, principalmente em casos delicados como a de tentativa de suicídio. Ao compartilhar com o supervisor e com os colegas sua experiência e suas a ansiedades em relação a um caso, o psicólogo poderá se sentir mais reconfortado, tendo suas dúvidas esclarecidas. O supervisor procura ajudar cada qual a encontrar e manter o nível construtivo de ansiedade durante as várias etapas do trabalho, com o auxílio dos outros elementos do grupo (SARAIVA & NUNES, 2007). Na categoria “atendimento”, a entrevistada comenta sobre a recusa da paciente de receber atendimento psicológico, o que dificultou a obtenção de informações sobre a história de vida da mesma. Caso a psicóloga conseguisse falar com a paciente, teria sido possível pensar em outras estratégias de intervenção. Em consequência disso, a entrevistada conta que realizava atendimento com a mãe da paciente internada toda vez que a mesma recusava atendimento. 21 Vieira (2010) afirma que o psicólogo hospitalar deve entender seus limites no seu atendimento para não ser invasivo. É uma opção do paciente aceitar ou não uma intervenção terapêutica, e isso deve ser respeitado; uma vez que o mesmo se encontra em um momento em que seus desejos estão sendo reprimidos; sua intimidade invadida, deixando de ter sua individualidade. Além disso, ao recusar o atendimento, o paciente está se silenciando. Para Nasio (2010, apud DUARTE & LEITÃO, 2014 p. 61), isso demonstra o quanto “é difícil entregar a um estranho os fatos mais íntimos de uma vida e ainda mais difícil confiar-lhe os pensamentos e as emoções que não se ousa admitir nem para si mesmo”. O autor ainda acredita que nessa situação, o psicólogo deve escutar também “o que não é dito”, entendendoesse silêncio não apenas como uma resistência. Para Fukumitsu e Scavacini (2013), o psicoterapeuta deve aprimorar a comunicação, mesmo que esta, seja muito difícil para toda a equipe, pois devemos entender os aspectos relacionados à autopreservação desse indivíduo. Às vezes, pacientes que tem ideação suicida não aceitam ajuda, mesmo quando concordam que precisam desta e, tendem a resistir a um atendimento, pois se sentem sem esperança nenhuma e sem saída (QUINNET, 2008 apud FUKUMITSU & SCAVACINI, 2013). Meleiro (2013) acredita que na necessidade da equipe em oferecer mais espaço e tempo para um paciente que tentou suicídio, pois nesse momento de fragilidade o paciente pode achar que é um “fardo” e que o atendimento naquele instante será inútil para ele. O atendimento com a família do paciente é tão necessário quanto com o próprio paciente. Sendo a conduta que a entrevistada tomou: “(...) todas as vezes que eu ia que o paciente recusava, eu atendia a mãe. Essa mãe demonstrou... foi muito colaborativa, ela demonstrou muita preocupação com a recuperação do filho.” Segundo Ferreira e Gabarra (2013), a família pode ser um fator de proteção, criando assim uma rede de apoio e de segurança para o paciente. Além disso, ao atender a família, o psicólogo também irá ouvir e oferecer apoio ao sofrimento deles. Outro aspecto importante no atendimento a família, relaciona-se ao fato de que por meio desse atendimento, o psicólogo poderá colher mais informações sobre o histórico familiar do 22 paciente e realizará orientações sobre o tipo de cuidado que se deverá ter com o paciente, enfatizando a importância de restringir o acesso do paciente a medicamento ou meios letais impedindo assim que haja o risco de uma nova tentativa (FERREIRA & GABARRA, 2013). O psicólogo também tem que estar atento ao lidar com a família do paciente, pois, muitas vezes, essas famílias são surpreendidas por esse acontecimento e se sentem culpadas por não terem percebido a tempo o risco de suicídio. Então, segundo o Conselho Federal de Psicologia (2013), faz parte do papel do psicólogo ajudar os familiares a elaborar esses sentimentos de impotência, raiva ou culpa, além de auxilia-los a identificar os próximos sinais que poderão haver de uma nova tentativa. O atendimento do psicólogo hospitalar, seja com o paciente ou com a família, deverá ser sigiloso. De acordo com o Código de Ética Profissional do Psicólogo (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005 apud ZANA & KOVÁCS, 2013 p. 902) “o psicólogo deve pautar sua conduta com base em princípios fundamentais, que versam sobre respeito, liberdade, dignidade, igualdade e integridade do ser humano.” Em casos de ideação/tentativa de suicídio, o paciente necessita criar um vínculo de confiança com o terapeuta. Pensando nisso e para evitar futuramente que seja acusado de negligência, é importante que, o psicólogo anote em prontuário todas as sessões, contatos telefônicos, e principalmente realize um contrato terapêutico claro, informando o paciente que o sigilo poderá ser quebrado em casos de risco de vida (FUKUMITSU, 2005 apud ZANA & KOVÁCS, 2013.) Já em relação a categoria “equipe multidisciplinar”, a entrevistada relata que: "(...) outros já não souberam manejar essa transferência negativa e alguns manifestaram até o desejo de parar o atendimento". De acordo com Silva e Boemer (2004), alguns profissionais de saúde nesse contexto se sentem muito fragilizados, impacientes, indiferentes, frustrados ou impotentes, podendo até realizar julgamentos com base nos próprios valores. Essas dificuldades, por parte dos profissionais, se devem tanto pelo despreparo para lidar com essas situações, como também, por terem que trabalhar com um paciente cujo desejo vai em contrapartida do seu objetivo profissional que é o de cuidar e preservar vidas. 23 Santos (2007, apud ZANA & KOVÁCS, 2013) realizou um estudo referente ao desejo de morte do paciente como provocador de sentimento de impotência no profissional de saúde. Esses sentimentos que foram citados pela entrevistada como sendo recorrentes durante as tentativas de atendimento ao paciente suicida. Segundo o relato da entrevistada: “Alguns profissionais.... Eles se sensibilizaram, eles reconheceram que a paciente estava em sofrimento, eles perceberam que aquela agressividade era dela e eles continuaram tentando ajudar a paciente, outros já não souberam manejar essa transferência negativa e alguns manifestaram até o desejo de parar o atendimento.” Pode acontecer também dos profissionais já estarem distantes emocionalmente de seus pacientes, dificultando assim a criação de um vínculo. Já, em outras situações, segundo Gondim (2015), o profissional de saúde pode não considerar a tentativa de suicídio como um sinal de um sofrimento maior. O autor também diz que muitas vezes os profissionais estão mais interessados em questionar os motivos pelos quais levaram o paciente a tentar suicídio do que escuta-lo. A maior dificuldade para os profissionais da saúde é destituir o tabu do suicídio, que impede muitos de discutir sobre o assunto e pensar no sofrimento do paciente, antes da ideia de suicídio como um ponto aterrorizante para o profissional, que na maioria das vezes, não pensa na possibilidade de que o acolhimento é a melhor opção para esses casos (FUKUMITSU & SCAVACINI, 2013). Com base no tema discutido, pudemos observar com o relato da experiência de Sophia, algumas dificuldades durante o atendimento. Isso pode estar ligado à uma lacuna na formação acadêmica, que dificultou que a entrevistada possuísse mais conhecimentos que pudessem lhe ajudar durante o manejo do atendimento. Outro ponto observado na entrevista, foi sobre a dificuldade no atendimento ao paciente que deu abertura a intervenções realizadas junto a família. Essa dificuldade frente ao atendimento, pode surgir devido a fragilidade do paciente que por vezes não se sente preparado para compartilhar seus pensamentos e sentimentos. Já em relação experiência dos demais membros da equipe, foi possível notar uma dificuldade nos atendimentos com o paciente, o que gerou, segundo Sofia, uma frustração que 24 pode estar ligada ao fato dos profissionais não estarem preparados para lidar com uma situação contrária à sua formação, que é a de salvar vidas. Por fim, ao abordar a temática da Supervisão, a segunda entrevistada mostrou a importância desse processo após os atendimentos, pois nesse momentos é possível refletir sobre as questões trazidas pelo paciente com a intenção de encontrar com a melhor intervenção terapêutica para aquele caso. Além disso, é durante a supervisão que se é compartilhada experiências, que poderão auxiliar os demais quando se depararem com a mesma situação. CONCLUSÃO O presente trabalho buscou compreender quais são as intervenções realizadas pelo psicólogo hospitalar frente ao atendimento em regime de internação, sendo esta decorrente de uma tentativa de suicídio e quais as dificuldades encontradas durante sua atuação. Para entender como é ocorre o manejo, foi feita uma entrevista semiestruturada com duas psicólogas. A partir desta entrevista, percebeu-se que a ausência de experiências prévias e as lacunas apresentadas na formação acadêmicas de profissionais de saúde, no que tange questões referentes a morte, agem como fatores que dificultam a atuação em casos que envolvem tentativas de suicídio. Além disso, foi possível perceber que, em alguns casos, o paciente pode se recusar a receber atendimento psicológico, sendo necessário também atender a família que precisa de orientação e apoio. Com isso, conseguimos verificar que a entrevista está em consonância com a literatura, que mostra a complexidade de se atender um paciente que tentou suicídio, consequentemente mostrando a necessidade de se aprofundar nessa temática. Entretanto,este trabalho também mostrou que o atendimento nem sempre acontecerá da forma que encontramos explicitado na literatura, como é o caso da recusa do paciente em receber atendimento. Além disso, por ter sido uma pesquisa que visou o conhecimento do assunto, não podemos generalizar os achados. Por tanto, dada a importância desse assunto e a limitação dessa pesquisa à um único atendimento, é essencial que haja outras pesquisas que busquem compreender as dificuldades que podem ocorrer durante o atendimento, pois o suicídio está presente na rotina no psicólogo hospitalar e esse profissional precisa estar mais preparado para acolher e realizar intervenções terapêuticas. 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, T. A. 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Onde se formou? - Durante a sua graduação ou pós-graduação, houve alguma disciplina referente a psicologia hospitalar? - Fez algum estágio nesta área? - Como foi abordada a questão da atuação do psicólogo junto a pacientes com ideação suicida? ÁREA DE ATUAÇÃO - Atualmente, trabalha em hospital geral? - Atua ou já atuou nesta área? Por quanto tempo? - Trabalha em alguma unidade específica? - Já atendeu algum paciente imediatamente após uma tentativa de suicídio? O ATENDIMENTO AO PACIENTE COM RISCO DE SUICÍDIO - Como foi o seu primeiro contato com o paciente? - Quais foram os procedimentos adotados no primeiro encontro com o paciente? 32 - Como o paciente lidou com a sua abordagem? - Algum paciente chegou a tentar o suicídio novamente enquanto estava internado? Se sim, como você lidou com isso? - Em algum momento, você achou que deveria ter agido de outra forma depois de ter atendido algum paciente? Por que? - Como foi a abordagem dos outros profissionais que faziam parte da equipe de atendimento? Eles se sensibilizaram com o caso? - Você fez algum tipo de atendimento com a família? Se sim, como foi? E quais orientações foram dadas? - Houve algum encaminhamento médico? - Como foi o desfecho do caso? (Alta hospitalar, encaminhamento para instituição de saúde mental, acompanhamento ambulatorial) - Houve alguma dificuldade ou fator facilitador para a realização deste tipo de atendimento? - Quais as sugestões você daria para um psicólogo que necessita realizar uma intervenção nestas condições? ENCERRAMENTO - Como foi para você participar desta pesquisa? - Tem algo que você gostaria de nos dizer e que não foi perguntado? AGRADECIMENTO Muito obrigado pela sua participação, iremos deixar um telefone caso seja necessário um segundo contato. 33 ANEXO I 34 APÊNDICE B Projeto de pesquisa: Atendimento psicológico ao paciente hospitalizado após a tentativa de suicídio. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido O (a) Sr. (Sra.) está sendo convidado a participar voluntariamente desta pesquisa que tem como finalidade compreender aspectos referentes aos atendimentos psicológicos a pessoas em regime de internação em hospital geral, após a tentativa de suicídio, através do relato de experiência. Essa pesquisa visa entender as questões relacionadas ao acolhimento e as dificuldades de intervenção do psicólogo. Caso aceite participar, o (a) Sr. (Sra.) responderá a uma entrevista elaborada exclusivamente para esta pesquisa, com perguntas sobre aspectos demográficos, formação acadêmica, área de atuação e experiência no atendimento de pessoas após tentativa de suicídio. A entrevista será realizada individualmente, com a sua presença de duas pesquisadoras, terá duração aproximada de uma hora e, solicitamos autorização para que seja áudio gravada. A participação nesta pesquisa não traz complicações legais, nenhum tipo de prejuízo, custo, risco ou dano para você ou para a sua saúde. Entretanto, poderá provocar desconfortos como ansiedade, angústia e tristeza. Ressaltamos que nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade. O (a) Sr. (Sra.) tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para o Sr. (Sra.). Sempre que quiserpoderá pedir mais informações sobre a pesquisa. Ao participar desta pesquisa o (a) Sr. (Sra.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo traga informações importantes sobre o manejo de situações críticas da prática do psicólogo, tal como, o contato com o paciente com risco de suicídio, de forma que o conhecimento que será construído a partir desta pesquisa possa contribuir no suporte ao profissional exposto a esta problemática. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. 35 Agradecemos a sua participação e, sem qualquer identificação dos participantes, nos comprometemos com a divulgação científica das informações colhidas e assumimos a responsabilidade por qualquer prejuízo que a participação no estudo possa acarretar. Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, autorizo a realização da pesquisa, e a divulgação dos resultados obtidos neste estudo, obedecendo o sigilo dos dados. ______________________ __________________ _____________________ Ana Paula Azevedo C. Oliveira Talita Abarca Larissa Forni dos Santos Pesquisadora Pesquisadora Pesquisadora responsável Estudante de Psicologia Estudante de Psicologia Psicóloga (CRP 06/88900) Contato: (11) 99365-2736 E-mail: psic.larissafs@gmail.com Eu,..................................................................................................................................., RG .........................................................., tendo lido as informações acima, voluntariamente concordo em participar do referido projeto de pesquisa, estando ciente dos meus direitos e da possibilidade de desistência sem quaisquer ônus ou prejuízo. ___________________________________________________ Assinatura São Paulo, de de 2016. 36 APÊNDICE C TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA Data: 18/08/2016 Local: Hospital Geral em São Paulo3 Participantes: Sophia e Natália Entrevistadoras: Ana Paula e Talita Duração: 1 hora E: Você quer que eu vá lendo e você vai respondendo ou você quer que a gente pergunte de acordo com o que está no roteiro? O que é que você acha melhor? S: Ah, tanto faz. Você não quer que eu já leia e responda a pergunta? E: Você quem sabe, eu posso ler também. S: A gravação é só pra vocês transcreverem depois? E: Isso. S: Tá. Então acho melhor você fazer a pergunta, e eu respondo. E: Tudo bem. Então... A idade? S: É.... 26. E: 26, tá. Me fala então um pouquinho sobre a sua formação acadêmica. S: É.... eu me formei em agosto de 2015, na [nome da universidade]. E: Tá. Você é formada em quê? S: Psicologia. E: Psicologia mesmo né? S: Isso. E: E durante a sua graduação, houve alguma disciplina sobre psicologia hospitalar? S: Sim, no 9º semestre eu tive uma disciplina chamada Psicologia Hospitalar. E: E foi só uma matéria que você teve? S: Isso, só uma no nono semestre. E: E você chegou a fazer algum estágio na área? 3 Hospital Público de grande porte, seu nome foi omitido para proteção da identidade das participantes. 37 S: Não, estágio não é permitido, só matéria mesmo. E: E como foi abordada sobre a atuação do psicólogo junto ao paciente que poderiam ter ideação suicida? Você teve alguma... algum professor falou alguma coisa que isso poderia acontecer em hospital ou não, você nunca imaginou? S: Não, na matéria eles falaram assim de forma geral, como atuar, como atender no hospital. Não falaram nada especifico dos casos. Tipo caso de suicídio, eles não falavam. Falavam mais no geral de como se portar, fazer entrevista inicial, de olhar prontuário antes e de conversar com alguém da equipe pra entender um pouco o caso. Essas coisas, nunca vi nada de caso específico. E: Tá. E agora você está atuando nesse Hospital Geral né? E como está sendo pra você, essa experiência? S: É, eu estou fazendo aprimoramento. Comecei esse aprimoramento em março, e está certo muito interessante, porque assim quando a gente sai da faculdade, a gente não tem muita prática, e aqui tem muita diversidade de casos e a gente aprende muito. E: E você falou que está desde março nessa área né? Você trabalha em alguma unidade especifica ou não? S: Sim, desde março. Não. O setor de psicologia fica aqui no ambulatório de psiquiatria. A gente atende paciente de ambulatório e no Hospital quando eles precisam de algum psicólogo, eles solicitam interconsulta e alguém daqui vai atender. A gente atende toda a demanda do hospital, através desses pedidos de interconsulta. E: Mas eles entram bastante em contato com você ou nem tanto assim.... a frequência que você é chamada? S: Tem semana que tem bastante caso, tem semana que é mais tranquilo. E: Depende? S: É, depende. E: E você já atendeu algum paciente imediatamente após a tentativa de suicídio? S: Sim, teve um que eu atendi, que foi uma tentativa de suicídio mal sucedida e houve a hospitalização do paciente. E: E como foi esse primeiro contato com ele? S: O paciente recusou atendimento, ele se negou a falar. Então eu atendi a recusa dele, respeitei e não forcei, até porque quando algum profissional insistia, ele cobria o rosto com o cobertor e agia de forma agressiva. 38 E: E qual que foi seus primeiros procedimentos, que foram adotados no primeiro encontro com o paciente? S: Quando cheguei no Hospital, eu fui conversar com a equipe pra saber um pouco do caso, o que estava acontecendo e foi aí que eu soube que era uma tentativa de suicídio, ai eu fui tentar falar com o paciente e houve a recusa. E: Você só foi tentar uma vez ou não? S: Não. Enquanto o paciente estava internado eu ia toda a semana, duas ou três vezes por semana. E: E mesmo assim ele não queria contato? S: Não, todas as vezes ele recusou o atendimento. E: E ele falou alguma coisa, como é que foi essa abordagem dele como você ou ele só ficou quieto? S: Assim, quando eu chegava me apresentava, falava que era psicóloga, ai ele já falava que não queria falar e se eu tentasse insistir ele cobria o rosto, então não adiantava insistir. E: Entendi. E teve algum outro paciente que você chegou a lidar além desse? S: Imediatamente após a tentativa, não. Só esse. E: E ele chegou a tentar suicídio novamente, ou você ficou sabendo? S: Não. E: E algum outro paciente que você já atendeu, sem ser após a tentativa, chegaram a tentar de novo? S: Não, até porque no hospital, uma das coisas que eu fiz também quando eu fui no primeiro contato, fui verificar se a psiquiatria foi chamada e a psiquiatria já tinha passado, o paciente já estava medicado e a psiquiatra já tinha passado todas as orientações; que o quarto do paciente tem que ficar de frente pra enfermaria, para as enfermeiras terem mais... poder observar mais; precisa de acompanhante 24 horas, principalmente à noite e retirar objetos que fossem perigosos de perto, então a psiquiatra já tinha passado e já tinha dado essas orientações. E: Entendi. E você acha que em algum momento você devia ter agido de alguma forma diferente, ou com esse paciente ou com outros que tentaram suicídio? S: Assim, na nossa atuação no dia a dia, a gente está sempre repensando, as nossas atitudes, o que que a gente faz e cada paciente a gente atende de uma forma diferente, até porque cada paciente é um caso especifico. Entãoa gente está sempre repensando, o que pode fazer de melhor. 39 E: Mas no momento que você achou que poderia ter falado alguma coisa diferente ou não? S: Não, até porque eu não cheguei a ter uma conversa com o paciente, ele (ela) se negava totalmente de falar. E: E você fez algum atendimento com a família dele? S: Sim, todas as vezes que eu ia que o paciente recusava, eu atendia a mãe. Essa mãe demonstrou... foi muito colaborativa, ela demonstrou muita preocupação com a recuperação do filho e foi isso. E: Ela falou alguma coisa especifica do caso ou ela não queria entrar em detalhes? S: Então na verdade, nem ela sabia muito o que tinha acontecido, o porquê. E: Ai ela não tinha como ajudar muito nesse caso? S: Isso. E: E você deu algum tipo de orientação pra ela sobre o cuidado que teria que ter com ele ou não? S: As orientações foram essas que a psiquiatra tinha passado e eu falei muito da importância da paciente continuar em acompanhamento, em aderir aos tratamentos que eram propostos pela equipe e foi isso. E: Você lembra se teve algum encaminhamento ou interno ou externo para o paciente? S: A paciente foi encaminhada para o ambulatório de psiquiatria, psicologia, fisioterapia e neurologia que já era o que estava acompanhando no hospital. E: E você sabe como foi o desfecho do caso, se teve alta ou se ele foi encaminhado para algum CAPS? S: Após a alta, o paciente continuou esses acompanhamentos que eu te falei no ambulatório, e depois foi interrompido pelo paciente. E: Mas vocês não chegaram a encaminhar a algum CAPS? Ou algum lugar especifico, porque não se sei CAPS aceita paciente com ideação suicida. S: Também não sei. Na psicologia, o paciente encerrou o atendimento e foi orientado que ela continuasse o tratamento e procurasse um outro profissional, que tivesse uma maior disponibilidade, que os horários batessem com o do paciente e o da psiquiatria não sei te informar. E: E você acha que teve alguma dificuldade ou alguma coisa que te facilitou a realizar esse tipo de atendimento? 40 S: O que facilitou foi a mãe, que ela se mostrou muito colaborativa e ela atuava como mediadora entre a equipe e a paciente, porque a equipe teve dificuldade de trabalhar com o paciente também. E o que dificultou foi a hostilidade da paciente, e a agressividade, ela não permitia que os profissionais a ajudassem. E: E você acha que foi que tipo de dificuldade que a equipe teve, de lidar? S: De contato mesmo, e o fato do paciente recusar o tratamento. E: E você tem alguma sugestão que você daria para um psicólogo que precisasse realizar alguma intervenção desse tipo, com algum paciente que já tentou ou por exemplo que está recusando? S: Dentro do viés psicanalítico que é o que a gente trabalha aqui, a orientação é essa.... Se atentar com a transferência e contratransferência que ocorre muito e saber manejar a equipe, porque a gente tem que saber trabalhar com a equipe também. E: Mas você acha que teria sido diferente se você tivesse tido alguma coisa na faculdade, ou alguém tivesse falado como lidar com esse paciente suicida, na época que você estava aprendendo? Você acha que estaria mais preparada ou não? S: Talvez sim, mas diante da recusa da paciente, ela não permitiu nem que eu entrasse em contato, ela não permitiu que eu ajudasse. Então eu não tive muito o que fazer, diante da recusa. E: Mas se fosse pra acontecer em outros casos, em que você conseguisse conversar com o paciente, você acha que a formação ajuda? Alguma formação especifica nessa área ou não? S: Sim, eu acho que se fosse abordado na faculdade, acho que a gente estaria mais preparada. E: Tem alguma coisa que você queira comentar ou algum comentário que você queira fazer? S: Eu acho que não. E: Algo que a gente não perguntou? N: Posso aproveitar que também estou aqui e fazer um parêntese? Acho que eu concordo com a Sophia nessa questão, se a gente tivesse alguma coisa a mais... um estudo aprofundado na faculdade, teria sido importante, mas eu acho que o que ajuda muito na condução do caso que acho que você não falou foi a supervisão. Então assim, a todo momento a supervisora com um outro olhar, com outra perspectiva do caso, acho que isso também facilita muito na condução. Acho que talvez, não sei... fico pensando que é mais importante a supervisão do que o próprio conhecimento tão especifico assim, não sei o que que você pensa? S: É, eu concordo com ela. Como eu disse, nós somos aprimorandas e todo o atendimento que a gente realiza é supervisionado, então isso ajuda muito. É um outro olhar né, de alguém com mais experiência. 41 E: E você se frustrou com a situação de ela não querer um atendimento? S: Sim, a gente se sente impotente né, acho que não só eu, toda a equipe. E: Mas você acha que a equipe se sensibilizou com o caso ou eles estão muito acostumados com essa situação? S: Alguns profissionais.... Eles se sensibilizaram, eles reconheceram que a paciente estava em sofrimento, eles perceberam que aquela agressividade era dela e eles continuaram tentando ajudar a paciente, outros já não souberam manejar essa transferência negativa e alguns manifestaram até o desejo de parar o atendimento. E: Por ela estar recusando o atendimento? S: Isso, e mais pelo cansaço né, ia todo dia, oferecia um atendimento e a paciente recusava, falava que não queria... Ai eles entendiam que a paciente realmente não estava querendo. E: Entendi. E como foi para você participar desta pesquisa? S: Ah, eu acho importante né, ter profissionais estudando e interessados nesse assunto, é um assunto delicado e, é muito difícil de manejar, então é interessante ter estudos, pesquisas nessa área E: Bom, você falou que não tem mais nada, mas você acha que você se sentiu.... Sei lá, foi ruim lembrar desse caso para você? Você já conseguiu lidar bem com a situação? S: Para mim tá tranquilo agora porque nós já tivemos supervisão então discutimos muito na supervisão, então pra mim já tá tranquilo. Mas após os atendimentos, toda vez que eu ia, diante do recuso da paciente, é.... A gente se frustra, se sente impotente. E: E não teve nenhum outro caso depois? S: Não E: Aparece muitos casos de tentativa de suicídio aqui ou não? S: Acho que esse foi o único. Nós somos em oito aprimorandas e a supervisão, ela é em grupo né, então todo mundo sabe os casos, então... atendimento assim, após a tentativa de suicídio foi só esse mesmo. E: Mas teve algum sem ser após? Ou não? S: Sim, aparecem alguns. Mas não que vem por causa disso. Vem por algum outro motivo e acaba relatando que já tentou suicídio ou que já teve vontade... Mas não exatamente por este motivo. E: Mas quando eles vêm, eles vêm procurando mais ajuda.... Física no caso, aqui no hospital? No caso dessa “moça”, ela veio procurando ajuda porque ela se machucou e ela veio se tratar? 42 S: Isso. E: Em nenhum momento ela veio por causa da tentativa mesmo? Um assunto, digamos assim, mais psicológico? S: Não. É mais dano físico mesmo. E: Nenhum deles teve vontade, é.... a ideação depois de estar no hospital né? S: Não.... Mesmo paciente que eu atendi, não. E: Você sentiu se ela ficou frustrada por não ter conseguido se suicidar ou não? S: Eu acho que eu nem saberia responder, porque eu não tive contato com ela, então... E: Ela não chegou a comentar com nenhum outro profissional? S: Não, é que todo mundo era a mesma coisa. Ela se recusava a qualquer contato. E: Entendi. Então eu agradeço pela sua participação, acho que foi bem curto assim.... A gente planejou mais ou menos uma hora, mas foi bem bacana, você respondeu tudo o que a gente queria. Daí no final, em dezembro, quando a gente já estiver com o trabalho pronto, ai eu te mando e você vê como ficou. S: Está bom, pode ser. N: Vocês tiveram mais entrevistas? E: Não, só essa. N: Só essa? E: É
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