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UNIDADE 1 Organizadoras: Carla Lemos da Silva | Lília Sabrina da Cunha ORGANIZACIONAL Cultura e Clima Cultura e Sociedade Prezado estudante, Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina. Objetivo Geral Reconhecer conceitos de cultura e sua dimensão social. Objetivos Específicos • Conceituar cultura; • Identificar a relação existente entre cultura e sociedade, especialmente no que tange às mudanças sociais. Questões Contextuais • O que é cultura? • O que é sociedade? • Qual a relação entre cultura e sociedade? • De onde partem as mudanças sociais? unidade 1 V.1 | 2021 CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL | Carla Lemos da Silva | Lília Sabrina da Cunha 10 1.1 Introdução Para iniciar nosso estudo sobre cultura e clima organizacional, precisamos, primeiramente, estabelecer algumas premissas: • A cultura existe independentemente da existência das organizações. • Para existir a cultura, é necessário que existam indivíduos. • Para existir indivíduos, é necessário que exista um sistema social. • Para existirem as organizações, é necessário que exista o indivíduo e o sistema social no qual ele está inserido. Para entender do que trata a disciplina Cultura e Clima Organizacional, é necessário refletir sobre o que é cultura e o que é sociedade, do que são compostas, para, então, podermos fazer a correlação dos conceitos para os estudos organizacionais. Que tal fragmentarmos todos os conceitos para depois agregá-los? A intenção é que você chegue ao final da Unidade 1 com a capacidade de compreender e associar os conceitos estudados. 1º FRAGMENTAR I ▼ 2º AGREGAR Vamos começar afirmando que existe uma relação indissociável entre indivíduo, sociedade e cultura, e a relação entre esses elementos pode ser considerada circular, como se apresenta no diagrama a seguir. Figura 1.1 – Relação entre conceitos. Fonte: Elaborado pela autora (2018). Indivíduo Sociedade Cultura 11 Cultura e Sociedade | UNIDADE 1 Você concorda? Vamos refletir um pouco mais a respeito. O indivíduo é um ser social. Cada indivíduo, ao nascer, encontra-se num sistema social. Tal sistema não foi criado pelo indivíduo, porque o antecede. Mas esse sistema é assimilado pelo indivíduo, porque o ser humano é um ser de relações sociais que incorpora as regras e normas vigentes tanto na família, como na sociedade de forma geral. O ser humano depende dessas relações com outros, por diversos motivos: pela necessidade de se comunicar, de aprender, de ensinar, para expressar seus desejos, enfim, para se manter vivo. Figura 1.2 – Relações sociais. Fonte: Elaborado pela autora (2018). A partir deste contexto, observa-se que as relações são estabelecidas entre diferentes agentes deste processo: • entre indivíduo e indivíduo; • entre indivíduo e grupo; • entre grupo e grupo; • entre indivíduo e organização; • entre organização e organização. E por qual motivo essas relações ocorrem? São decorrentes de necessidades específicas de cada um, levando em consideração seus interesses. ORGANIZAÇÃO INDIVÍDUO GRUPO CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL | Carla Lemos da Silva | Lília Sabrina da Cunha 12 Figura 1.3 – Sistema social. Fonte: Elaborado pela autora (2018). Então, se nós, seres humanos, nos encontramos em um sistema social de interação, podemos afirmar também que vivemos em grupos de todos os tipos — grupos familiares, de trabalho, de vizinhos, de colegas de aula, de ex-colegas de colégio, de formandos, de atletas amadores de vôlei, entre outros. E você, enquanto indivíduo, já refletiu sobre o que o diferencia dos demais indivíduos? Na psicologia social, o conceito de indivíduo pressupõe que a própria consciência da individualidade de cada um é adquirida como membro de um grupo social e determinada pelas relações decorrentes entre o “eu” e os “outros”. Então, é necessário estudar não só o indivíduo como ser social, mas também o indivíduo influenciado por padrões culturais da sociedade em que vive, levando em consideração que cada cultura fornece regras específicas. IndivíduoAmigos Igreja Família Trabalho Questões físicas: o sexo, tipo de corpo, tipo de cabelo etc. Questões psíquicas: emoções, sentimentos, temperamentos etc. Como podemos perceber isso no cotidiano? Há uma ampla variação nas culturas com relação às normas de gênero em diferentes partes do mundo. Por exemplo, em alguns países, as mulheres têm apenas funções domésticas, ficam restritas ao cuidado do lar e dos filhos, sem permissão para trabalhar fora de casa. Por outro lado, em sociedades mais igualitárias, as mulheres possuem os mesmos direitos que os homens. DESTAQUE 13 Cultura e Sociedade | UNIDADE 1 1.2 As Transformações Culturais Primeiramente, a cultura não é estática, está sempre em transformação, e a sociedade implica interações humanas culturalmente padronizadas, sendo, portanto, uma rede de relacionamentos sociais. Pensando assim, a sociedade também está sempre em transformação. Essa transformação está relacionada aos valores que se modificam ao longo dos anos – o que era considerado moral e culturalmente inadequado no início do século pode ser perfeitamente aceitável nos dias de hoje. Um exemplo sólido de transformação cultural no Brasil é o divórcio: até o ano de 1977, quem casava permanecia com um vínculo jurídico para o resto da vida. Até era possível fazer o pedido de “desquite”, que interrompia a sociedade conjugal, mas não se admitia que os desquitados formassem outros casais juridicamente. Também não existiam leis que protegiam ou regulamentavam a união estável. No dia 28 de junho de 1977, foi promulgada a Emenda Constitucional n.º 9, que criou a figura do divórcio no Brasil. Porém, foi somente em 1988 que a união estável foi reconhecida legalmente como forma de casamento. As leis se alteraram e se adaptaram. Ou foi a sociedade que se alterou, instigando a legislação a deliberar sobre o assunto? Da mesma forma, as mulheres “desquitadas” eram mal vistas na sociedade antes de 1977. Hoje, as mulheres estabelecem união estável com um homem ou com uma mulher e a sociedade aceita essa mudança cultural com naturalidade. 1.2.1 Cultura sob Diferentes Perspectivas A palavra “cultura” tem origem no latim, e deriva do termo colere, que significa cultivar. Nós conhecemos a cultura da soja, a cultura do trigo, a cultura do arroz, certo? Quando falamos, por exemplo, sobre a cultura da soja, estamos nos referindo ao cultivo da soja – cultura e cultivo como sinônimos. Mas o que as plantações de soja, trigo e arroz têm a ver com essa disciplina? Nada. Apenas estamos contextualizando e apresentando a etimologia (estudo da origem e da evolução das palavras) do termo. Para a disciplina, utilizaremos o conceito de cultura como sinônimo de um sistema de valores e costumes que trazem identidade a um grupo. DESTAQUE CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL | Carla Lemos da Silva | Lília Sabrina da Cunha 14 Partindo dessa introdução, cabe a pergunta: você já parou para pensar o que é cultura? Nós falamos frases do tipo: “Fulano não tem cultura”, mas não pensamos no que isso significa. No senso comum, a frase “Fulano não tem cultura” geralmente está associada ao pensamento de que Fulano não tem estudo. O senso comum costuma associar cultura ao estudo formal (aquele realizado em escolas e faculdades) e, também, aos povos oriundos de países considerados mais desenvolvidos. É importante pontuar, contudo, que não é somente com estudo formal que se “adquire” cultura. Também não podemos afirmar que uma pessoa tem cultura porque terminou o ensino básico, o ensino médio ou porque se formou em alguma universidade. Se pensarmos assim, estamos pensando pelosenso comum. CULTURA = CONHECIMENTO Então quer dizer que o senso comum é errado? Não. Por quê? Porque, muitas vezes, o senso comum leva ao conhecimento científico – que resulta de pesquisas e investigações que usam um método para comprovar alguma teoria. Exemplo: Chá de boldo cura problemas no fígado. ▼ SENSO COMUM OU CONHECIMENTO POPULAR CONHECIMENTO ESPECÍFICO As avós sempre dizem isso, é medicina popular. Já foi comprovado que existe uma substância, a boldina, presente nas folhas de boldo, que estimula o fluxo de bile pelo fígado. Se as avós não persistissem em afirmar que o boldo faz bem para o fígado – e elas afirmavam porque verificavam na prática –, talvez os cientistas, estudiosos de plantas e de seus benefícios, nunca tivessem se interessado por estudar a folha de boldo, de modo que não conheceriam a propriedade contida nela. Então, agora que sabemos a diferença entre senso comum e conhecimento científico, vamos falar sobre as definições do termo cultura? Senso comum: conjunto de ideias e opiniões que são aceitas pela maioria das pessoas de um grupo ou sociedade, geralmente impostas e desprovidas de valor crítico; consenso, senso habitual. Disponível em: http://gg.gg/atu56. GLOSSÁRIO 15 Cultura e Sociedade | UNIDADE 1 Existem diversas compreensões que abrangem o termo cultura. Serão apresentadas algumas das definições possíveis a respeito de cultura, assumindo-se, no entanto, que não são as únicas possíveis. É importante ressaltar que a cultura é um fenômeno necessariamente social, partilhado pelas pessoas que, em determinado grupo, assumem valores, regras de vida, modos de falar, de agir, de se vestir etc. Portanto, há diferenças e similaridades entre um grupo e outro. O homem, enquanto ser social, sempre fez comparações entre a sua cultura e a de outras sociedades, no intuito de entender as diferenças e as semelhanças, o que, por vezes, originou, e ainda origina conflitos, confrontos e guerras entre os povos. A cultura pode ser interpretada através do ponto de vista sociológico, partindo da afirmação de que só o homem possui cultura, é necessário comentar que todo homem possui cultura, pois, vivendo em sociedade, socializa costumes, crenças e algum tipo de conhecimento da sociedade da qual faz parte, resultando na sua participação em alguma cultura. Assim, o sentido sociológico da palavra cultura não é o mesmo do senso comum, como já falado anteriormente, pois, na linguagem cotidiana, o uso dessa palavra pode ter significados diversos, algumas vezes significando erudição, por exemplo. No sentido sociológico, a palavra cultura não se limita a essas acepções, mas é tão amplo que não exclui nenhum significado. Na linguagem sociológica, cultura é tudo o que resulta da criação humana, não existindo cultura melhor ou pior, superior ou inferior, mas culturas diferentes. São ideias, artefatos, leis, costumes, crenças morais e conhecimentos adquiridos a partir do convívio social. É o modo de vida de cada povo. A cultura possui duas divisões: cultura não material, que inclui o domínio das ideias, que seria a ética, os conhecimentos, as técnicas, os valores e as normas, entre outros; e cultura material, que pode ser representada por um carro, por exemplo. Cultura também pode ser melhor entendida pelo ponto de vista da Antropologia, que surge no século XVIII como a ciência que se dedica ao estudo aprofundado do ser humano. A Antropologia se dedicou a estudar o comportamento e as complexidades humanas que não poderiam ser explicadas pela Biologia e passou a examinar o homem pela cultura. Erudição: vastos conhecimentos científicos e literários. Disponível em: http://gg.gg/lm2qk. GLOSSÁRIO CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL | Carla Lemos da Silva | Lília Sabrina da Cunha 16 A primeira definição do termo cultura, no contexto antropológico, é atribuída a Edward Burnett Tylor, em 1871. O autor estabeleceu cultura como sendo todo o comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética, como diríamos hoje. Em 1927, Alfred Kroeber ampliou o conceito, afirmando que a cultura é mais do que a herança genética, ela determina o comportamento do homem e justifica as suas realizações. Para ele, o homem age de acordo com os seus padrões culturais, pois seus instintos foram parcialmente anulados pelo seu longo processo evolutivo. Em 1952, Claude Lévi-Strauss, destacado antropólogo francês, afirma que a cultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra, a primeira norma. Em 1975, Leslie White, antropólogo norte-americano contemporâneo, sustenta que a passagem do estado animal para o humano ocorreu quando o cérebro do homem foi capaz de gerar símbolos, pois, para ele, a cultura depende de símbolos. É o exercício da faculdade de simbolização que cria a cultura e o uso de símbolos que torna possível a sua perpetuação. Sem o símbolo, não haveria cultura, e o homem seria apenas animal, não um ser humano. Exemplo: a cor preta significa luto entre os ocidentais, mas, entre os chineses, é o branco que significa o luto - nesse contexto, a cor da roupa é o símbolo. Além destes entendimentos, existem conceitos modernos que explicam a cultura. Para Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) defendem que o vocábulo cultura está Para complementar seus conhecimentos sobre a cultura, confira o documentário experimental “Baraka” (1992), produzido por Ron Fricke, com imagens de 23 países que expressam a diversidade humana através das diferentes culturas. Assista em: http://gg.gg/lm2vf VÍDEO 17 Cultura e Sociedade | UNIDADE 1 relacionado a tudo na vida do indivíduo, desde o modo como este se veste, passando pela maneira como se comunica, pela forma como se expressa, até as bebidas que toma e as músicas que ouve. Segundo Kotter e Heskett (1992), a cultura está associada aos valores compartilhados por membros pertencentes a um mesmo grupo cultural e tem como característica durar um longo período de tempo, porque está fortemente inserida no cotidiano desse conjunto de pessoas. Vian e Costa (1978) analisam a relação entre cultura e comportamento, afirmando que existem comportamentos determinados por processos biológicos, como, por exemplo, comer; assim como existem comportamentos que são determinados por processos psicossociais, que têm como origem a aprendizagem, por meio da interação dos indivíduos e dos grupos. Dressler e Carns (1980) identificam que diferentes culturas tanto podem ter aspectos semelhantes como diferentes e, a partir do momento que uma cultura é internacionalizada, ela pode persistir por mais tempo, ou, ao longo dos anos, pode ser modificada devido a esse fato. Hofstede (2010) comenta que a cultura está conectada com os sentimentos, pensamentos e modos de agir dos membros de uma categoria de pessoas que os distingue de outra categoria de pessoas. Faz isso afirmando que a cultura é aprendida, e não herdada, porque ela é constituída pelo entorno social e não pelos genes que cada indivíduo carrega. Outros dois autores, Kotabe e Helsen (1998), estudando várias definições do termo cultura, chegam a algumas constatações sobre o significado do termo, que são: a cultura é aprendida pelas pessoas, então a cultura de determinada sociedade é transmitida por vários grupos iguais – a família, a escola, entre outros – e passada de uma geração a outra; 2) a cultura consiste em muitas partes diferentes que estão interrelacionadas, de modo que o status social de cada indivíduo tem impacto sobre a linguagem utilizada por cada indivíduo; 3) a cultura é compartilhada pelos indivíduos como membros da sociedade. Os autores deixam claro que são esses elementos da cultura que representam sua essência. Cada autor analisa o termo cultura por um viés diferente. Inclusive, alguns conceitos se complementam, o que não exclui nenhum conceito, nem do viés sociológico nem do viés antropológico, muito menos do viés da modernidade e de autores que estudam a cultura da perspectivadas organizações. É importante ressaltar que a cultura é organizada e se compõe de alguns componentes, como estudaremos a seguir. CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL | Carla Lemos da Silva | Lília Sabrina da Cunha 18 1.2.2.1 Elementos Fundamentais da Cultura Refletir sobre a cultura implica compreender os elementos que lhe servem de base. Para conhecer tais componentes, é preciso nos voltarmos aos estudos culturais sociológicos, que são base para as pesquisas da Administração quando falamos de cultura organizacional. O estudo nos fornecerá subsídios para reafirmar o quanto a criação e a formalização da cultura organizacional é atividade primordial à área de recursos humanos das organizações. É importante reafirmar que cada sociedade transmite a cultura de geração para geração e que é formada por um conjunto de elementos ligados estreitamente uns aos outros. E quais são esses elementos? Figura 1.4 – Elementos da cultura. Fonte: Elaborado pela autora (2018). Mas do que trata cada um deles? 1. Traços culturais: são os menores componentes que representam determinada cultura e podem ser materiais ou não materiais, tendo um significado representativo dentro da cultura e fornecendo uma identidade ao grupo. Exemplo: um traço cultural material é o cocar utilizado pelos índios e que os representa enquanto grupo; um traço cultural não material são as gírias utilizadas por determinadas pessoas que as representa e as diferencia como grupo social. Cultura Traços Culturais Cultura de Massa Símbolos e Normas Relativismo Cultural Cultura Popular Estereótipo Aculturação Subcultura Contracultura Complexo Cultural Etnocentrismo Área Cultural 19 Cultura e Sociedade | UNIDADE 1 2. Complexo cultural: é a combinação dos traços culturais em torno de uma atividade. Exemplo: o carnaval brasileiro. 3. Estereótipo: é a imagem preconcebida de determinadas pessoas, coisas ou situações. É um padrão estabelecido pelo senso comum fundamentado em ausência de conhecimento sobre o assunto em questão. Exemplo: diz-se que os franceses não têm como prática tomar banho, mas apenas 20% dos franceses dispensa o banho diário. 4. Área cultural: é a região, o espaço geográfico em que predominam determinados complexos culturais. São áreas em que se encontram culturas similares. Exemplo: a feirinha de artesanato da beira-mar de Fortaleza. 5. Aculturação: é o processo de transformação de uma cultura pelo fato de entrar em contato com outra. Acontece por contato direto entre culturas. Também pode ocorrer a absorção de uma cultura pela outra. É importante ressaltar que, quando isso ocorre, a nova cultura terá aspectos da cultura absorvida, mas também da cultura inicial. Exemplo: a cultura romana e a cultura grega são muito similares, motivo pelo qual as duas são denominadas como cultura greco-romana, como sendo uma única para os dois povos. 6. Subcultura: é uma subdivisão de um grupo com um conjunto de características próprias, padrões de comportamento, crenças e interesses próprios, mas ligada à cultura ampla. Exemplo: a subcultura gótica presente em muitos países, que teve início no Reino Unido. CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL | Carla Lemos da Silva | Lília Sabrina da Cunha 20 7. Cultura de massa: se refere a aspectos da cultura comuns a toda a sociedade. São as ideologias, as perspectivas, as atitudes e outros fenômenos que surgem de um contexto informal. São todos os tipos de expressões culturais que são produzidos com o objetivo de atingir a maioria da população. Levando em consideração a lógica do capitalismo, o objetivo maioral da cultura de massa é o de padronizar produtos a fim de que possam ser consumidos pela maioria da população. Exemplos: músicas, filmes, séries de televisão e a moda, são alguns dos elementos dos quais a indústria cultural se apropria para, então, transformá-los em cultura de massa. 8. Cultura popular: é um conjunto de elementos culturais que são específicos de uma sociedade, de uma nação ou de uma região, uma manifestação que o povo produz e participa ativamente. Exemplos: frevo, música sertaneja, festa junina, literatura, folclore, arte etc. 9. Contracultura: são todas as práticas e manifestações que objetivam criar o debate, a crítica e o questionamento de questões relativas à dominância da cultura total em um determinado contexto histórico. Exemplos: o hip hop brasileiro, com letras que retratam a realidade de vários grupos de jovens, que iniciou com a ideia de retratar a miséria e a violência existente em várias cidades do país. 10. Etnocentrismo: é um conceito antropológico que está relacionado ao fato de um indivíduo ou um grupo de indivíduos acreditarem que seu grupo étnico, nação ou nacionalidade e valores são mais importantes que os demais, considerando seu modo de vida o mais correto dentre os demais. Não é possível falar de cultura de massa sem falar em indústria cultural, justamente porque a cultura de massa é o produto dessa indústria cultural. Por definição dos filósofos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), a indústria cultural representava os grandes grupos midiáticos que controlavam os meios de comunicação de massa, de forma a determinar o padrão de consumo dos indivíduos. A fim de disseminar a cultura de massa, a indústria cultural tem como aliados os meios de comunicação de massa, como rádio, televisão, jornais, internet. DESTAQUE 21 Cultura e Sociedade | UNIDADE 1 Exemplo: na Índia, a vaca é cultuada como animal sagrado, não sendo utilizada na alimentação, ao contrário do que ocorre no Brasil, que tem a carne como principal fonte de proteínas na alimentação. 11. Relativismo cultural: é a ideia de que não se pode julgar outras sociedades com base apenas em nossos próprios valores. A ideia é que o indivíduo tenha a capacidade de se afastar de sua própria cultura com o objetivo de compreender o outro de maneira mais eficaz. Exemplo: a comunidade hippie é respeitada pela sociedade e a respeita, mas sem seguir as tendências da sociedade. 12. Símbolos e normas: símbolos estão relacionados a uma linguagem das aspirações e dos ideais humanos, sempre existiram. Para entendimento dos significados dos símbolos em determinado contexto histórico e cultural, existe a disciplina semiótica, ciência que estuda os significados da linguagem e dos símbolos. Exemplo: os símbolos religiosos, como a cruz, a bíblia, os santos etc. Normas, ou regras, são direta ou indiretamente criadas pelos seres humanos a fim de obter a cooperação entre os entes da sociedade, com o propósito de atenuar os conflitos. Elas estabelecem os limites socialmente toleráveis do comportamento humano. Caso haja transgressão da norma, os indivíduos podem receber sanções com diversos graus de importância. Autores advertem que devido ao etnocentrismo, os preconceitos culturais, religiosos, étnicos e políticos ainda ocorrem na história da humanidade. DESTAQUE O relativismo cultural é o oposto do que ocorre quando existe o etnocentrismo. DESTAQUE CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL | Carla Lemos da Silva | Lília Sabrina da Cunha 22 Exemplo: o motorista, quando está dirigindo, deve respeitar os limites de velocidade – norma para não receber uma multa de trânsito. Delinear os componentes da cultura torna-se essencial para podermos fazer a correlação entre cultura e sociedade, bem como para, com a aplicação de conceitos, entendermos o significado da cultura organizacional. Retomando a afirmativa feita no início do capítulo – o indivíduo, a sociedade e a cultura possuem uma relação indissociável –, vamos partir para o estudo da sociedade. Você pensa que é possível aplicar tais conceitos acerca da cultura para os estudos da cultura organizacional? Fique com essa questão para pensar. REFLETINDO Você sabe o que foi o movimento chamado “Lobby do Batom”? Processo de inserção das mulheres no espaço público, por meio do movimento político “Mulher e Constituinte”,iniciado pelo Conselho Nacional pelos Direitos da Mulher na luta pelo reconhecimento e inclusão de seus direitos na Constituição de 1988. Figura 1.5 – Lobby do Batom. Fonte: http://gg.gg/lm2zl. Leia a matéria “Lobby do Batom faz vigília por direitos”, do Correio Braziliense, para saber mais sobre o assunto: http://gg.gg/lm2zl. SAIBA MAIS 23 Cultura e Sociedade | UNIDADE 1 1.3 Sociedade e seus Conceitos Você já parou para pensar sobre o que é a sociedade? • Um sistema de interações humanas culturalmente padronizadas. • Um sistema de símbolos, valores e normas. • Um sistema de posições e papéis. • Uma rede de relacionamentos sociais. • Um coletivo de cidadãos de um país. • Um sistema institucional – sociedade anônima, sociedade civil, sociedade artística etc. Não é possível pensar na sociedade simplesmente como um conjunto de indivíduos vivendo juntos em um determinado lugar, porque também é necessária a existência de uma organização social, de instituições e leis que conduzam a vida dos indivíduos e suas relações mútuas. E o que dizem os teóricos? Quando falamos “sociedade”, todos sabem do que se trata, certo? A sociedade é, basicamente, uma porção de pessoas juntas. Nós somos a sociedade. Mas uma porção de pessoas juntas é sempre igual, independente do local em que essa reunião de pessoas se encontra? Não. Cada sociedade possui características próprias. Em sentido geral, a sociedade é uma condição universal da vida humana. Alguns sociólogos estudam o termo sociedade há muito tempo. Émile Durkhein, Karl Marx e Max Weber, você já ouviu falar sobre eles? São autores essenciais para o entendimento do significado do termo sociedade. Cada um definiu a constituição da sociedade a partir do papel político, social ou econômico do indivíduo. Assim, percebe- se que o indivíduo é parte essencial para a construção de uma sociedade. Karl Marx (1818-1883) cria seu conceito de sociedade utilizando algumas expressões-chave: heterogeneidade, classes sociais, ideologias, controle dos meios de produção, sociedade capitalista, socialismo. CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL | Carla Lemos da Silva | Lília Sabrina da Cunha 24 E como reunir esses termos em um conceito? O autor afirma que a sociedade é heterogênea e constituída por classes sociais que se mantêm por meio de ideologias dos que possuem o controle dos meios de produção – as elites. Numa sociedade capitalista, o acúmulo de bens materiais é valorizado, enquanto o bem-estar coletivo é secundário. Em toda sociedade capitalista: • há divisão em classes sociais; • a força de trabalho é trocada pelo salário – relação patrão x empregado; • o trabalhador recebe apenas o suficiente para ele e sua família se manterem vivos; • o capitalista (dono dos meios de produção) acumula o capital (lucro); • a produção do trabalhador se dá pela mais-valia, ou seja, a produção é superior ao que recebe de salário, assim o capitalista consegue acumular capital (lucrar); • aquele que detém o capital possui poder, prestígio e status social; • a ideologia dominante é a dominação e a exploração do trabalhador para obtenção de lucro; • falta a consciência de classe para superar tal ideologia, realizar a revolução e chegar ao socialismo. Émile Durkhein (1858-1917) cria seu conceito de sociedade considerando os seguintes termos-chave: coerção, regras, fatos sociais, ideologias, controle dos meios de produção. Para Émile Durkheim (2001), o homem é coagido a seguir determinadas regras em cada sociedade, o que chamou de fatos sociais, que são regras exteriores e anteriores ao indivíduo e que controlam sua ação perante os outros membros da sociedade. Portanto, fato social é a coerção do indivíduo, constrangido a seguir normas sociais que lhe são impostas desde seu nascimento e que ele não tem poder para modificar. Em outras palavras, a sociedade é que controla as ações individuais. O indivíduo aprende a seguir normas que lhe são exteriores (não foram criadas por ele), apesar de ser livre em suas escolhas. Tais escolhas estão dentro dos limites que a sociedade impõe, pois, caso as normas e regras sejam infringidas, o indivíduo será punido socialmente. Max Weber (1864-1920) não tem uma teoria geral da sociedade, mas pensa o conceito partindo de: situações sociais, poder, costume, cultura. Max Weber estuda as situações sociais concretas e se detém em explicar o conceito de poder. Para o autor, o poder provém: 25 Cultura e Sociedade | UNIDADE 1 • da riqueza e prestígio do indivíduo; • da tradição; • do carisma; • do conhecimento técnico-racional em todos os níveis da sociedade em qualquer tipo de relação estabelecida entre os indivíduos da sociedade. O poder emana do costume naturalizado e legitimado em determinada cultura. 1.4 Cultura Brasileira O Brasil é um país que possui pluralidade cultural. Comunidades indígenas, populações ribeirinhas e populações urbanas convivem em grupo, ocupando o mesmo espaço e possuindo a noção de pertencimento. Os espaços não são delimitados e, mesmo assim, existem diferentes valores de identidade dos sujeitos, compartilhando os mesmos espaços. Neste mesmo sentido, podemos entender o Brasil como um país híbrido, na medida em que mistura duas ou mais culturas, gerando uma nova cultura a partir de todas as antigas. Pensar em um país híbrido é considerar uma cultura dinâmica, onde não se pode falar em uma cultura única e homogênea, visto que temos valores culturais extremamente misturados. Não há como separar os conceitos cultura e identidade, pois a cultura possui todos os elementos que já vimos anteriormente, e a identidade do indivíduo está diretamente ligada a esta cultura, que permite ao indivíduo se identificar com ela. Neste mesmo sentido, o indivíduo irá se identificar com os grupos que fazem parte desta cultura. A identidade cultural de um povo é o sentimento de pertencimento que um povo tem acerca de suas raízes. Esta identidade também sofre influência das tecnologias e da globalização, porque existem influências interagindo com as origens primárias daquele contexto. Pensemos no período de pandemia da Covid-19: de quais formas a interação com outros países interferiu ou influenciou na tomada de decisão do governo brasileiro, para adoção de estratégias para o enfrentamento da doença? E de que forma as ações brasileiras influenciaram ou interferiram nas relações de negociação dos insumos necessários para este enfrentamento? Perrusso (2020) afirma que o capitalismo praticado no Brasil apresenta baixíssima disposição ao processo de inclusão econômica e social, acumulando riqueza CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL | Carla Lemos da Silva | Lília Sabrina da Cunha 26 de forma monopolizada, em que a população vivencia claramente as fronteiras entre a pobreza e a riqueza. Isso se expressa não só na distribuição de renda, como também na conivência social e em espaços de articulação do pensamento. A exemplo disso, pode-se pensar no turismo brasileiro, onde em muitas cidades ainda há prática de exploração do trabalho informal e, em alguns contextos, até mesmo a exploração sexual de crianças. Esta é uma parte do comportamento humano mantida em processo velado, mas que expressa as raízes da submissão em algumas regiões. Outro exemplo clássico pode ser entendido a partir da política, quando candidatos decidem investir em uma determinada região brasileira, aproveitando-se da baixa escolaridade daquela população, fazendo promessas relacionadas a demandas reprimidas e antes não atendidas, para promoverem suas candidaturas. Há um abuso do privilégio do saber em detrimento da falta de condições críticas daquela população, e abre-se um campo minado para situações como compra de votos e a manipulação por troca de favores. Nestes casos, os favores vêm por promessas que talvez nunca sejam atendidas e, também, a entrega de cestas básicas, prática muito comum em diversos municípios. Diante disso, para que se pense em contextos organizacionais brasileiros,há também que se pensar em todos estes aspectos que influenciam diretamente o comportamento das pessoas e as dinâmicas organizacionais, uma vez que as organizações sempre estarão inseridas em um contexto macro e micro. Isso significa que não basta pensar apenas no contexto brasileiro sem considerar as especificidades regionais e, principalmente, municipais. Vale lembrar que, muitas vezes, até mesmo as características de uma determinada comunidade local geram um recorte relevante para que se entenda aspectos que influenciarão um ambiente organizacional. Conheça mais sobre a cultura brasileira e a identidade nacional, assista ao vídeo realizado pelo professor Lucas Inácio e descubra mais sobre a linha do tempo cultural em nosso país. O link está aqui: http://gg.gg/ov0rr VÍDEO 27 Cultura e Sociedade | UNIDADE 1 Este assunto rende diferentes reflexos em outras disciplinas da sua formação, e são importantes para que você os considere sempre que for pensar, por exemplo, em estratégias para captar candidatos para uma nova unidade de uma empresa em determinada região. Vale, também, para considerar estratégias de remuneração adotadas em uma filial da empresa em relação a outra, porque a remuneração depende da economia local (um exemplo disso é termos salários mínimos regionais que, por vezes, se sobrepõem ao nacional). Em outros casos pode haver um custo de vida mais elevado, resultando na necessidade de salários que sejam condizentes com esta realidade. Vale estender o assunto para novas possibilidades e lembrar de que tanto indivíduos quanto empresas sempre farão parte de um contexto, que determinará as práticas e os comportamentos adotados. CULTURA E CLIMA ORGANIZACIONAL | Carla Lemos da Silva | Lília Sabrina da Cunha 28 Síntese da Unidade • Existe uma relação indissociável entre indivíduo, sociedade e cultura. • Cada indivíduo, ao nascer, encontra-se num sistema social. Por esse motivo, existe a necessidade de entender o indivíduo enquanto ser individual e enquanto ser social, que é influenciado por padrões culturais, normas e regras da sociedade em que está inserido. • A cultura está relacionada a tudo na vida do indivíduo, está nas vestimentas, na alimentação, nas músicas que ouve, é o que diferencia um grupo social de outro grupo social, é compartilhada pelos indivíduos nos grupos e é repassada de geração em geração, tanto pela família, quanto pela própria sociedade. • A cultura é formada por alguns componentes, que são: traços culturais, complexo cultural, área cultural, aculturação, subcultura, cultura de massa, cultura popular, contracultura, etnocentrismo, relativismo cultural, estereótipo, símbolos e normas – cada elemento com suas particularidades. • A sociedade é um sistema de símbolos, interações humanas, valores, papéis, posições que cada indivíduo possui. Apesar de ser considerada um agrupamento de pessoas, não é isso que determina uma sociedade. As pessoas em um show de rock não são uma sociedade. Assim como uma reunião de pessoas em Porto Alegre não é igual a uma reunião de pessoas em Taiwan. Aí entram a cultura e os componentes que auxiliam a diferenciar uma cultura de outra. • Por isso, o indivíduo, a sociedade e a cultura são conceitos imanentes. • O entendimento desses conceitos e da articulação entre eles irá auxiliar no desenvolvimento das próximas Unidades, que são a cultura organizacional e o clima organizacional. Imanente: que faz parte de maneira inseparável da essência de um ser ou de um objeto; inerente. Que está contido na parte da experiência possível, fazendo com que a realidade seja percebida através da utilização dos sentidos; segundo o Kantismo, diz respeito aos conceitos e/ou preceitos de teor cognitivo. Que se refere à comprovação empírica da realidade. Disponível em: http://gg.gg/atvf3. GLOSSÁRIO 29 Cultura e Sociedade | UNIDADE 1 Bibliografia BARBOSA, L. Cultura e empresas. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. DRESSLER, D.; CARNS, D. Sociologia: o estudo da interação humana. Rio de Janeiro: Interciência, 1980. DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2001. HOFSTEDE, G. Cultures and Organizations: Software of the Mind. 3. ed. New York, NY: McGraw-Hill, 2010. KOTABE, M.; HELSEN, C. Global Marketing Management. New York: John Wiley & Sons Inc., 1998. KOTTER, J. P.; HESKETT, J. L. Corporate Culture and Performance. New York: Free Press. Kozlowski, 1992. MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2000. PEREZ, F. C.; COBRA, M. Cultura organizacional e gestão estratégica. 2. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2016. PERRUSO, M. A. Classificações do pensamento brasileiro em perspectiva sociológica. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n.° 111, p. 211-248, 2020. VIAN, N.; COSTA, R. 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