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RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 1 APG 14 – ABDOME AGUDO Objetivo 1 – Entender a etiologia, epidemiologia, fisiopatologia, quadro clínico diagnóstico do Abdome Agudo: INTRODUÇÃO: ▪ Abdome agudo é definido como toda condição dolorosa de início súbito ou de evolução progressiva, localizada no abdome, que requer decisão terapêutica rápida (cirúrgica ou não), preferencialmente após definição diagnóstica. ▪ A cavidade abdominal comporta vários órgãos de diferentes sistemas e a sintomatologia do abdome agudo pode decorrer de alguma doença em qualquer uma de suas vísceras. Tamanha diversidade transforma o abdome em uma autêntica “caixa de surpresas”. ▪ Na abordagem inicial, o médico deve dispensar algum tempo na identificação do paciente, pois essa conduta pode encaminhar o raciocínio para determinadas doenças. Elementos como idade, sexo, raça, profissão, naturalidade, procedência e condição social podem nos dar muitas informações. A neoplasia do cólon e a doença diverticular, por exemplo, aumentam de frequência com a idade, já a apendicite predomina na adolescência e no adulto jovem, sendo mais comum em brancos que em negros. Gestação tubária e doença inflamatória pélvica (DIP) são específicas do sexo feminino e a úlcera perfurada é bem mais frequente no sexo masculino. A cólica saturnina é característica do profissional que trabalha com chumbo, e algumas doenças têm distribuição geográfica própria como a doença de Chagas e a hidatidose. Condições precárias de vida são responsáveis por altos índices de parasitoses, promiscui- dade sexual e criminalidade, fatores diretamente responsáveis pelos mais variados tipos de abdome agudo. ▪ A avaliação da atitude e da fácies do paciente pode oferecer importantes informações: o indivíduo com cólica encontra-se agitado, impaciente, contorcendo-se no leito; por outro lado, os portadores de irritação peritoneal apresentam-se imóveis, assumindo posições antálgicas, procurando proteger o abdome. Palidez cutânea e sudorese se relacionam com hemorragia aguda, e rubor facial pode estar presente em indivíduos com síndrome inflamatória. ▪ Os sintomas gerais são: → DOR ABDOMINAL (sempre): Percebida em local diferente do estímulo que a gerou e relacionada com os nociceptores que recebem estímulos dolorosos das fibras nervosas. O peritônio visceral e os órgão abdominais revestidos por eles são inervados por fibras nervosas tipo C, não mielinizadas, que são sensíveis à distensão, isquemia, tração, compressão e torção e conduzem uma dor difusa, de início lento e duração longa, com um componente emocional marcante e capaz de produzir manifestações sistêmicas, tais como náuseas, sudorese, diminuição da pressão arterial e da frequência cardíaca. Esta dor é percebida na projeção da linha mediana e recebe o nome de dor visceral. Já o peritônio parietal e a raiz do mesentério apresentam maior quantidade de nociceptores e são inervados por fibras tipo A delta, mielinizadas, que conduzem o estímulo doloroso a uma velocidade de 12 a 30 m/s (via da dor rápida-aguda). Essas terminações nervosas são estimuladas por diversos agentes irritantes (conteúdo gastrintestinal, urina, bile, suco pancreático, sangue, pus) e por substâncias (bradicinina, serotonina, histamina, prostaglandina e enzimas proteolíticas) e conduzem a uma dor aguda, bem localizada, de curta duração e com componente emocional fraco. Essa dor piora com movimento de tosse e pode acarretar contratura muscular, que é reflexa à RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 2 inervação comum do peritônio parietal e da musculatura abdominal. Essa dor recebe o nome de dor somática; seu exemplo clássico é a evolução da apendicite aguda, que se inicia com uma dor difusa pelo abdome e evolui para uma dor localizada no ponto de McBurney, isso quando o processo inflamatório atinge o peritônio parietal. → NÁUSEAS E VÔMITOS: Causados principalmente por obstrução dos órgãos de musculatura lisa, irritação intensa dos nervos do peritônio e a toxemia. Na apendicite e na colecistite agudas típicas, o vômito surge após o início da dor. Na pancreatite aguda, o vômito é frequente, intenso e persistente, surgindo com o início da dor. Na obstrução aguda do ureter e do colédoco, o vômito surge simultaneamente à dor e também é frequente. Na obstrução intestinal, ele está́ presente e será tão mais tardio quanto mais distal for o local da obstrução. → FEBRE: Uma temperatura axilar superior a 37,5°C pode estar pre- sente em quase todos os quadros abdominais agudos. O relato de calafrio pode significar bacteriemia, achado comum nos quadros de colangite e de peritonite. → ANOREXIA: Quando precede o início da dor é comum em casos de abdome agudo inflamatório. Todavia anorexia precedendo o início do quadro em dias ou meses sugere doença maligna → FUNÇÃO INTESTINAL ALTERADA: Presença de constipação intestinal, diarreia, melena e enterorragia. Um longo período de constipação intestinal é achado frequente na obstrução por fecaloma ou vólvulo do sigmoide. A constipação intestinal com parada completa da eliminação de gases e fezes associada à dor abdominal em cólica e vômito caracteriza a tríade da obstrução intestinal. A diarreia é frequente em vários tipos de abdome agudo inflamatório, como: apendicite (principalmente em crianças), abscessos paracecais e DIP. Eliminação de sangue, misturado ou não nas fezes, pode estar presente em quadros de invagina- ção intestinal (crianças) e na neoplasia de cólon. → CICLO MENSTRUAL ALTERADO: A dor abdominal deve ser correlacionada com o ciclo menstrual. Deve-se interrogar sobre irregularidades nos três últimos ciclos, data da última menstruação, presença de dispareunia, características do corrimento vaginal, contato sexual e sangramentos, diferenciando se o sangue é coagulável, ou não. Várias doenças, como gravidez ectópica, ovulação dolorosa, endometriose e as anexites agudas, frequentemente são causa de abdome agudo. A peri-hepatite gonocócica (síndrome de Fitz-Hugh-Curtis) pode confundir o raciocínio médico, mimetizando um quadro de colecistite aguda. → MICCÇÃO ALTERADA: É importante investigar a presença de transtorno da micção, como algúria, disúria, polaciúria e retenção urinária, bem como alteração no aspecto da urina. Várias afecções primitivas dos órgãos urogenitais, entre elas, cólica nefrética, pielonefrite aguda, cistite e retenção urinária aguda, podem ser causa de abdome agudo. Não podemos nos esquecer de que esses mesmos sintomas podem, também, estar presentes em outras doenças inflamatórias que acometem a pelve, por ex: apendicite aguda, diverticulite sigmoideana e as anexites. ▪ O diagnóstico pode ser feito com: → Exames laboratoriais: Podem ser inespecíficos, sendo mais comuns o hemograma (pode evidenciar leucocitose, granulações tóxicas em neutrófilos e sangramento por avaliação do hematócrito) e a urina de rotina, que pode revelar hematúria, piúria e cilindros, sugerindo afecções urogenitais. A dosagem de eletrólitos, principalmente do potássio, é importante nos casos de diarreia e de abdome agudo obstrutivo, assim como o cálcio em casos de pancreatite aguda. As escórias nitrogenadas são importantes para avaliar o estado de desidratação e nos casos de doença renal preexistente. A glicemia pode estar elevada em casos inflamatórios agudos, como na pancreatite, e ser um complicador na presença de dia- betes. A velocidade de hemossedimentação (VHS) e a proteína C reativa (PCR) são marcadores de processo inflamatório, mas não devem ser supervalorizados como dado isolado. A PCR tem sido muito utilizada na avaliação evolutiva e na previsão de gravidade da pancreatite aguda, especialmente após as primeiras 48 h da doença. As enzimas hepatobiliares RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 3 e as bilirrubinas devem ser solicitadas nos casos de icterícia e de dor no hipocôndrio direito, paradiferenciar colestase e hepatopatias agudas. A gasometria arterial e a acidose láctica orientam para a gravidade do quadro nos casos de pancreatite aguda e isquemia mesentérica. Entre os exames específicos os mais comuns são a dosagem da amilase, da lipase e da gonadotrofina coriônica humana beta (β-hCG). → Radiografia simples e contrastada. → Ultrassonografia. → Tomografia. → Ressonância Nuclear Magnética. → Arteriografia. → Laparoscopia diagnóstica. ETIOLOGIA / CLASSIFICAÇÃO: As dores abdominais podem ser classificadas segundo: Anatomia: pela localização da dor se pode indicar as possíveis causas ou órgãos acometidos. Causas abdominais e extra-abdominais. Processo desencadeante: geralmente utilizada pela cirurgia de urgência. ▪ Excluindo-se o abdome agudo traumático, divide-se o abdome agudo em cinco grandes síndromes (Síndromes Abdominais Agudas), na expectativa de orientar o raciocínio clínico e facilitar o diagnóstico. Muitas vezes, as características de mais de uma síndrome se sobrepõem durante a evolução de uma doença, à medida que ela progride e se complica, mas o quadro inicial predominante em geral permite a classificação etiológica. RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 4 1) ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO: ▪ É o tipo mais comum de abdome agudo. Habitualmente, o processo se inicia com a obstrução mecânica de vísceras ocas normais, ou anatomicamente alteradas (divertículos, por exemplo), originando diversos fenômenos inflamatórios na parede da víscera, com tendência à progressão para infecção franca e comprometimento da vascularização do órgão. ▪ Baseia-se na extensão do processo inflamatório nfeccioso ao peritônio e às modificações do funcionamento do trânsito intestinal. Após instalada a peritonite, a deterioração clínica do indivíduo pode ser rápida, constituindo sinal de gravidade e mau prognóstico. Nas fases iniciais há ainda pouca atividade inflamatória com aumento da efusão peritoneal e quimiotaxia de células inflamatórias. Já nas fases tardias existe uma exuberante resposta inflamatória com formação de fibrina, aderências, pus, e, por fim, fibrose. ▪ O início do quadro geralmente é insidioso, com sintomas a princípio vagos (dor abdominal incaracterística, náuseas, anorexia, vômito, alteração do trânsito intestinal). A dor abdominal pode levar de uma a várias horas para atingir seu pico, ocasionalmente até́ dias, sendo inicialmente mal definida. Com o evoluir da doença, e com o acometimento do peritônio parietal adjacente ao órgão afetado, a dor torna-se bem localizada e piora progressivamente. É comum a presença de massas à palpação do abdome, resultantes da reação do peritônio à agressão, na tentativa de limitar o processo e preservar o restante da cavidade. Caso o peritônio não consiga bloquear o processo, e o tratamento adequado demore a ser instituído, observa-se evolução para peritonite disseminada. ▪ A apendicite constitui a causa mais comum de abdome agudo cirúrgico. A fase inicial apresenta dor epigástrica ou periumbilical, tipo visceral, seguida por anorexia, náuseas e vômito (menos comuns), e posterior localização da dor em quadrante inferior direito, tipo somática. A constipação intestinal e a parada de eliminação de flatos é comum, mas ocasionalmente pode haver diarreia. A febre é baixa e a leucocitose moderada (até́ 15.000), com desvio para a esquerda. A leucopenia não afasta a hipótese de apendicite, mas geralmente orienta para outro diagnósticos, como adenite mesentérica. Há mesmo casos de apendicite com leucograma normal. A localização retrocecal do apêndice modifica a apresentação clínica da apendicite, sendo a dor menos intensa, podendo estar localizada em hipocôndrio direito, especialmente quando o apêndice é ascendente, e com exame de urina revelando hematúria e piúria. De fato, o apêndice retrocecal e ascendente, quando inflamado, pode mimetizar uma colecistite aguda. Um dos sinais da apendicite é o SINAL DE BLUMBERG que se caracteriza em o paciente sentir dor a descompressão brusca em fossa iliaca direita por palpação profunda. Tem-se tambem o SINAL DE ROSING, no qual consiste dor em fossa iliaca direita por palpação na fossa iliaca esquerda. Os raios X simples mostram achados inespecíficos, mas recentemente descreveu-se um novo sinal radiológico, constituído por imagem de acúmulo de fezes no ceco, identificado em cerca de 90% dos casos de apendicite. A ultrassonografia apresenta uma sensibilidade de 94%, confirmando o diagnóstico clínico, especialmente ao demonstrar o apêndice inflamado, visto como uma estrutura tubular aperistáltica, não compressível, com paredes espessadas, ou a imagem “em alvo” no corte transversal. Em alguns casos, quando a ultrassonografia não é conclusiva, a tomografia pode ser necessária, avaliando diretamente o apêndice inflamado, e, principalmente, dando informações sobre diagnósticos alternativos naqueles casos atípicos, o que pode reduzir o número de cirurgias não terapêuticas. O tratamento é cirúrgico, recomendando-se antibioticoterapia profilática até́ a cirurgia, com manutenção do antibiótico de amplo espectro caso haja perfuração, abscesso ou peritonite. RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 5 ▪ A colecistite (inflamação da vesícula biliar, geralmente decorrente da obstrução do duto cístico) está́ associada à litíase (pedras/cálculos) biliar em 95% dos casos. Há controvérsias se a lama biliar pode causar colecistite aguda. A diferença em relação à cólica biliar simples é a presença de resposta inflamatória na parede da vesícula. A dor inicialmente é epigástrica, visceral, acompanhada de náuseas e vômito, e posteriormente mais intensa e localizada no quadrante superior direito, podendo irradiar-se para as regiões lombar direita e escapular direita. A febre geralmente é baixa, e a leucocitose, moderada (até́ 15.000). Alterações das enzimas hepatobiliares são discretas. A estase desse conteúdo gera fenômenos vasculares e inflamatórios.A presença de icterícia intensa no início do quadro faz pensar em colangite (obstrução e inflamação das vias biliares). O estado geral costuma estar preservado, podendo apresentar co prometimento na dependência da intensidade do processo inflamatório. Pode haver irritação peritoneal e icterícia por impactação de cálculo no infundíbulo – essa impactação ocasiona edema e obstrução do ducto hepático comum, a chamada Síndrome de Mirizzi, e consequentemente, colestase. O método de imagem de escolha para o diagnóstico é a ultrassonografia abdominal. Sinal de Murphy ecográfico associado à litíase biliar e ao espessamento da parede vesicular indica colecistite em 95% dos casos. Na ausência de cálculos, o espessamento da parede da vesícula acima de 3,5 mm, associado a sintomas, faz o diagnóstico de colecistite alitiásica. O tratamento da colecistite é cirúrgico, com realização de colecistectomia precoce. Segundo o Consenso de Tóquio, deve-se iniciar o uso de antibiótico no momento do diagnóstico, e ele deve ser suspenso após a cirurgia, nos casos leves. A manutenção da antibioticoterapia é necessária nos casos graves (empiema, gangrena, perfuração, sepse, disfunção de órgãos associada), nos casos diagnosticados tardiamente, nos pacientes diabéticos e naqueles com risco cirúrgico RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 6 aumentado, sendo, neste caso, às vezes, a única terapia indicada. A colecistectomia, preferencialmente, deve ser realizada nos primeiros 3 dias de evolução da doença, por ser tecnicamente mais fácil, ou, então, depois de 4 semanas, ou mais, da crise, após regressão do processo inflamatório. Um bom cirurgião, entretanto, com um bom anestesista e uma equipe bem treinada, pode contornar as dificuldades eventuais de uma operação para colecistite com 1 semana de evolução.Na vigência de complicações, ou na ausência de melhora com o tratamento clínico, realiza-se a cirurgia a qualquer momento. A principal causa de pancreatite aguda é a litíase biliar. O quadro clínico é polimorfo (variável), sendo a dor de início súbito, contínua, localizada em epigástrio, hipocôndrios ou região umbilical. A dor tipicamente é em faixa, com irradiação dorsal, acompanhada de náuseas e vômito frequentes, além de distensão abdominal. A repercussão clínica pode ser catastrófica, especialmente nos casos que evoluem com necrose pancreática. Na avaliação laboratorial, observa-se elevação da amilase e da lipase; essas enzimas podem elevar-se em outras situações de abdome agudo, mas uma elevação superior a 4 vezes o valor de referência máximo será indicativa de pancreatite aguda. Leucograma, hematócrito, ionograma, glicemia, cálcio, gasometria arterial e principalmente a PCR são exames importantes para avaliação do quadro e indicação prognóstica. Existem vários escores de gravidade, mas nenhum deles mostrou-se ideal para uso diário na prática clínica. O papel da ultrassonografia na pancreatite aguda é, sobretudo, identificar colelitíase (pedra na vesícula biliar). A tomografia é o método ideal para avaliação do parênquima pancreático, determinando a gravidade da doença e fornecendo critérios prognósticos (critérios de Balthazar). A ressonância magnética fornece informações semelhantes às da tomografia. O tratamento é essencialmente clínico, com hidratação venosa vigorosa, jejum e analgesia, sendo a cirurgia reservada aos casos complicados (necrose infectada, abscesso). Após a regressão da sintomatologia da pancreatite biliar, o que ocorre em média após 5 dias, indica-se a colecistectomia, preferencialmente na mesma internação, especialmente se houver colecistite associada. Nos casos de pancreatite biliar grave, com coledocolitíase, dilatação do colédoco e/ou colangite, indica-se a papilotomia endoscópica com remoção do cálculo coledociano e drenagem da via biliar, nas primeiras 72 h de evolução do quadro. RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 7 ▪ A localização mais comum da diverticulite é no sigmoide, onde, associados ao cólon descendente, encontram-se 90% dos divertículos do cólon. Doença comum em idosos manifesta-se clinicamente por dor em quadrante inferior esquerdo, febre e constipação intestinal, taquicardia discreta, distensão abdominal e sinais de peritonite – dor à descompressão brusca e à percussão. Pode haver massas palpáveis, habitualmente dolorosas, em FIE. O toque retal costma ser doloroso.Náuseas e vômito não são proeminentes, mas há́ distensão abdominal leve. Pode haver disúria e polaciúria devido à proximidade com a bexiga. Leucocitose é comum. O método de imagem de escolha na fase aguda é a tomografia, sendo um exame seguro, com risco de perfuração negligenciável, além de causar menos desconforto. Deve-se evitar a realização da colonoscopia na fase aguda, devido ao risco de perfuração. O tratamento é clínico, observando-se melhora após 48 a 72 h de antibiótico, com cobertura para flora anaeróbica e aeróbica gram-negativa, reservando-se a cirurgia para os casos de complicação (peritonite, perfuração, obstrução). Após 6 a 8 semanas de resolução do processo inflamatório, completa-se o estudo com colonoscopia para descartar neoplasia. TRATAMENTO RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 8 Analgesia Reposição volêmica; Correção de distúrbios eletrolíticos; Tratamento do íleo adinâmico → jejum, sonda nasogástrica nos casos de distensão gástrica e intestino delgado considerável ou vômitos incoercíveis; Antibioticoterapia ou antibiotico profilaxia; Tratamento de falência orgânica se houver → internamento em UTI (mais comumente observado na pancreatite aguda grave) APENDICITE AGUDA A apendicectomia é o tratamento padrão da apendicite complicada e não complicada; Estudos recentes analisaram o manejo com antibioticoterapia isolada em indivíduos com apendicite aguda não complicada, sugerindo que essa pode ser uma estratégia viável na possibilidade de seguimento dos pacientes, entretanto não existem evidências suficientes que indiquem seu uso rotineiro, uma vez que muitos desses pacientes necessitarão de abordagem cirúrgica na evolução do quadro. COLECISTITE AGUDA Antibioticoterapia empírica: cefazolina, cefuroxima ou ceftriaxona nos casos leves a moderado. Nos casos mais graves podem ser usados carbapenêmicos, betalactâmicos com inibidores de betalactamase, fluoroquinolonas com metronidazol. Colecistectomia de emergência em pacientes com instabilidade hemodinâmica ou dor intratável e para aqueles com complicações; Para os indivíduos estáveis, a colecistectomia deve ser realizada no mesmo internamento, dentro de três dias após o início dos sintomas – pacientes ASA I ou II. Pacientes ASA III, IV ou V, sem indicação de colecistectomia de emergência, pode ser feito tratamento não cirúrgico inicialmente → antibioticoterapia e drenagem da vesícula biliar. Caso não respondam, tratamento cirúrgico deve ser instituído. Prefere-se cirurgia laparoscópica à laparotomia. PANCREATITE AGUDA RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 9 Ressucitação volêmica agressiva nas primeiras 24 horas; • Nutrição enteral após o quinto dia caso não tolere dieta oral; • Antibioticoterapia em caso de infecção documentada a partir da segunda semana de suporte clínico; • Estão indicadas terapias minimamente invasivas nos casos de complicações a partir da quarta semana, como a ultrassonografia endoscópica em vigência de pseudocisto pancreático; • CPRE nos casos de pancreatite secundária a colelitíase com evidência de colangite sobreposta. DIVERTICULITE AGUDA Tratamento hospitalar da diverticulite não complicada: • Antibioticoterapia venosa contra gram-negativos e anaeróbios; • Analgesia; • Reposição volêmica; • Dieta zero para repouso intestinal, com retorno em 2 a 3 dias Nos casos leves → continuação ou início do tratamento em caráter ambulatorial com antibioticoterapia oral por 7 a 10 dias, evolução gradual da dieta, com reavaliações a cada 2 a 3 dias inicialmente e semanalmente até resolução completa do quadro; Pacientes estáveis hemodinamicamente devem ser submetidos à ressecção definitiva do segmento colônico acometido → Em pacientes classificados como Hinchey I ou II pode-se proceder à anastomose primária com ou sem ostomia protetora; • Pacientes instáveis necessitam de abordagem menos invasiva, como ressecção limitada ou drenagem percutânea de coleções → procedimento à Hartmann é preferido à anastomose primária em pacientes com apresentações mais graves (Hinchey III ou IV); • Orientar dieta rica em fibra; Nos casos de primeiro episódio de diverticulite aguda, com apresentação leve, não é mandatória a indicação de colectomia. 2) ABDOME AGUDO PERFURATIVO: ▪ Trata-se de uma das causas mais frequentes de cirurgia abdominal de urgência. A dor tem início súbito, geralmente dramático, já começando de forma intensa, rapidamente atingindo seu pico. Os pacientes costumam ser precisos a hora exata do início do sintoma. O problema advém do extravasamento de secreção contida no trato gastrintestinal para a cavidade peritoneal, o que é traduzido por peritonite. A dor tipo somática vem da irritação química do peritônio, e, quanto menor o pH, maior a irritação. O exame clínico demonstra silêncio abdominal e rigidez muscular, detectada como “abdome em tábua”. A temperatura é normal, e náuseas e vômito podem estar presentes. A radiografia simples revela pneumoperitônio, sendo o exame de imagem de escolha RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 10 para o diagnóstico.Em 12 h de evolução do quadro, a peritonite química torna-se bacteriana, aparecendo os sinais de infecção. ▪ As perfurações costumam ser divididas em altas (gastroduodenal e delgado proximal) e baixas (delgado distal e cólon). Nas perfurações mais baixas de delgado, a dor abdominal é mais discreta, e os sinais de irritação peritoneal são menos exuberantes, mas originam quadros sépticos mais precoces, em função da flora bacteriana local. Perfurações do delgado proximal comportam-se como as gastroduodenais, com dor abdominal intensa e grande irritação peritoneal. Perfurações do intestino grosso traduzem manifestações clínicas e peritoneais intensas, com evolução rápida para peritonite fecal, devido ao conteúdo altamente infectado desse segmento. O tratamento é sempre cirúrgico, sendo o prognóstico pior quanto maior o tempo de perfuração. Devem-se sempre associar antibióticos de largo espectro ao tratamento cirúrgico. ▪ A causa mais comum de perfuração é a úlcera péptica, e a perfuração é a primeira manifestação da doença ulcerosa em 30 a 40% dos casos. O uso de drogas antissecretoras não afetou as taxas de perfuração, apesar de ter reduzido a frequência de cirurgia eletiva para tratamento da úlcera. Os pacientes idosos são os mais afetados, devido ao uso crônico de anti-inflamatórios e ácido acetilsalicílico. Inicialmente, a dor se localiza no epigástrio, seguida de dor abdominal difusa. A dor pode simular apendicite aguda à medida que migra para o quadrante inferior direito, refletindo o escoamento do líquido extravasado pela goteira parietocólica. O paciente procura manter-se imóvel, com restrição respiratória, devido à irritação peritoneal. Os exames laboratoriais revelam leucocitose e possível hiperamilasemia. O pneumoperitônio está presente em 80% dos casos. Quando a suspeita de perfuração é forte e não se observa pneumoperitônio, pode-se insuflar ar através de sonda nasogástrica. Endoscopia digestiva não deve ser realizada na suspeita de perfuração. ▪ As demais manifestações variam de acordo com local em que ocorreu a perfuração, o tempo decorrido entre o início do quadro e intervenção médica e o grau de distribuição dos líquidos extravasados. Lembrando que alguns pacientes, como idosos e imunosupressos podem ter o quadro mascarado. De um modo geral, tem-se DOR SÚBITA, INTENSA E DIFUSA, ABDOME EM TABUA, HÁ UMA EVOLUÇÃO RAPIDA, COMO TAMBEM SINAIS DE PERITONITE. ▪ A clínica pode ser acompanhada de sinais de sepse, hipotensão ou choque a depender da gravidade do caso. O acúmulo de gás pode comprometer a musculatura diafragmatica resultando em desconforto respiratório. ▪ A dor pode ser lombar, nos casos de perfurações retroperitoneais, ou irradiarem para os ombros nos casos de perfuração em abdome superior que irritam o diafragma. Abdome em tábua é uma contratura involuntária generalizada da parede abdominal por peritonte difusa. No exame físico podem encontrar também distensão abdominal e ausência de ruídos hidroaéreos. ▪ Há o SINAL DE JOBERT: que há perda da macicez hepatica à percussão do hipocôndrio direito. ▪ Sempre que os sinais e sintomas típicos ocorrem quando há peritônio livre – acometimento de toda cavidade abdominal com dor e peritonite generalizada. Avaliar SEMPRE: se a peritonite é química ou bacteriana, nível da perfuração e presença de comprometimento sistêmico. ▪ Nas perfurações de intestino delgado, as causas mais frequentes são as doenças inflamatórias e infecciosas, os corpos estranhos deglutidos e os tumores. ▪ No intestino grosso, os quadros de perfuração ocorrem devido a processos inflamatórios (diverticulite, megacólon tóxico, colite pseudomembranosa grave) ou neoplásicos, além de RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 11 corpos estranhos. ▪ ÚLCERA PEPTÍDICA PERFURADA: São úlceras perfuradas que se estendem através da parede muscular serosa, permitindo a comunicação entre a luz da víscera e a cavidade abdominal, com extravasamento de conteúdo. As perfurações geralmente ocorrem por desequilíbrio entre secreção de ácidos e a barreira mucosa gástrica. Esse conteúdo gástrico e duodenal na cavidade abdominal resulta em peritonite química. Essas úlceras podem ser complicações da Doença úlcerosa peptídica e a prevalência de H. Pylori no desenvolvimento nessa doença faz com que essa colonização esteja relacionada ao Abdome Agudo Perfurativo. Nesse caso, há aumento da secreção gástrica e diminuição da secreção de bicarbonato da mucosa. Devemos estar atentos, pois uma possível evolução do quadro é o Choque hipovolêmico. ▪ DIVERTÍCULOS; A perfuração espontânea de um divertículo em peritônio livre com consequente peritonite é rara, porém grave, podendo levar a óbito por sepse e falência de múltiplos órgãos. Surge por atividade cólica anormal, modiciações da dieta ou fatores predisponentes constitucionais. Modificações na estrutura muscular dificultam o esvaziamento do conteúdo fecal, provocando erosões da mucosa e processos inflamatórios. Além disso, se houver comprometimento da perfusão sanguínea dos divertículos, pode haver necrose e perfuração intramural. A pressão colônica força fezes e bactérias através da perfuração para dentro da cavidade abdominal, levando à peritonite generalizada e sepse. ▪ CORPOS ESTRANHOS: Se um corpo estranho é ingerido por via oral ou retal é potencialmente capaz de causar um quadro de abdome agudo perfurativo. O esôfago costuma ser o local mais acometido por sua anatomia e localização, mas só a partir da cárdia, a perfuração começa a manifestar sintomas abdominais. Outros locais acometidos são locais de estreitamento, como piloro, angulações duodenais e flexura duodenojejunal. ▪ DIAGNÓSTICO: O diagnóstico de um Abdome Agudo Perfurativo se baseia na história clínica minunciosa, exame físico criterioso e exames de imagem. E o laboratório? Exames laboratoriais são inespecíficos, podendo nos ajudar a detectar apenas a presença de processos inflamatórios e infecciosos prévios. Assim, para confirmar a perfuração, métodos de imagem são os mais adequados. ▪ DIAGNÓSTICO POR IMAGEM: A característica principal é a presença de ar e/ou líquido na cavidade peritoneal, retroperitônio ou na parede dos órgãos. Em 75-80% dos casos há pneumoperitônio e nos demais casos é esperado bloqueio no local da perfuração e, portanto, ausência de gás no segmento perfurado. ▪ RADIOGRAFIA SIMPLES: A radiografia é o exame inicial de escolha por ser um exame simples que mostra com facilidade o melhor indicador de perfuração: pneumoperitônio. O quadrante superior direito é onde mais frequentemente vemos ar livre. A sensibilidade do exame pode ser elevada se o paciente permanecer na posição da incidência por 10-20 minutos. Pode ser solicitado em diversas incidências: ortostase, decúbito lateral e decúbito dorsal. Algumas incidências, como o decúbito horizontal possuem sensibilidade inferior, mas podem ser as únicas disponíveis no momento. A radiografia em ortostase é ideal para identificar ar entre o diafragma e o fígado ou estômago. Cerca de 50% do ar costuma se acumular abaixo do fígado ou no espaço hepatorrenal. Em decúbito lateral, temos boa visualização do ar entre o fígado e a parede abdominal lateral. - Sinal de Rigler: delineamento da parede gástrica ou intestinal pela presença de gás RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 12 na luz e na cavidade peritoneal. - Sinal do ligamento falciforme delineamento das estruturas que normalmente não são vistas (ligamento falciforme, ligamentos umbilicais) pelo gás, permitindo que o ligamento se torne radiopaco. - Sinal do úraco o úraco torna-se radiopaco. - Sinal do V invertido os ligamentos umbilicais laterais são visualizados ▪ TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA: A TC é um método excelente por sua elevada sensibilidade e especificidade. Nos permite uma localização precisa daperfuração e distribuição do gás, além de possibilitar a visualização de abscessos, sinais sugestivos de obstrução e isquemia. ▪ Com o advento de novas técnicas de terapêutica endoscópica, através das quais realizam-se, entre outras, ressecções de lesões de mucosa e até mesmo de submucosa, houve aumento do risco de perfuração, o que na maioria das vezes é tratado endoscopicamente com a colocação de clipes, podendo, no entanto, haver necessidade de tratamento cirúrgico em algumas dessas perfurações. O tratamento pode se iniciar com a abordagem inicial consiste em medidas de suporte com monitorização e manejo inicial dos casos de hipotensão e choque. A antibioticoterapia de amplo espectro pode ser feita antes do tratamento definitivo ou no intra-operatório, podendo manter-se posteriormente. O tratamento é cirúrgico com objetivo de rafia da perfuração, com ou sem epiplonplastia nos casos de úlcera péptica perfurada, ou a ressecção da área comprometida, podendo fazer ressecção com anastomose primária ou com ostomia na impossibilidade de se realizar a anastomose: imunossupressão, desnutrição, infecção. 3) ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO: OBSTRUÇÃO DO INTESTINO DELGADO DISTURBIOS HIDROELETROLÍTICOS: O intestino delgado possui função secretória e absortiva, sendo que 20% da água corporal total são provenientes desse processo, assim, obstruções nesse segmento interferem na funcionalidade, podendo resultar em depleção hidroeletrolítica significativa. Vômitos frequentes exacerbam o distúrbio hidroeletrolítico resultando em hipocalemia e hipovolemia graves, podendo levar ao óbito ou a complicações cirúrgicas. DISTENSÃO ABDOMINAL: O segmento anterior à obstrução terá absorção e eliminação de gases e fluidos pela mucosa intestinal, en quanto o ponto posterior terá distensão devido ao acúmulo desses componentes, gerando um colapso no sistema. Além disso, há influxo contínuo de secreções biliares e pancreáticas, agravando o aporte de fluidos nesse segmento. O gás responsável pela distensão intestinal nos estágios iniciais da RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 13 obstrução é composto majoritariamente pelo ar ingerido que progressivamente aumenta com os gases gerados pela fermentação das bactérias intestinais. A distensão progressiva do segmento acometido ocasiona aumento da pressão luminal comprometendo a drenagem venosa com aumento do influxo de água e eletrólitos para o lúmen, além de perda através da camada serosa para a superfície peritoneal. OLIGÚRIA: A perda de sódio e água para o lúmen intestinal aumenta progressivamente enquanto a função absortiva permanece comprometida, ocasionando depleção do volume intravascular efetivo com redução da excreção urinária de sal e água gerando oligúria e deslocamento de água do espaço extracelular para o intravascular. AUSÊNCIA DE RUÍDOS HIDROAÉREOS (RHA): Inicialmente pode haver aumento significativo da peristalse a fim de vencer o fator obstrutivo, evoluindo posteriormente para fadiga da musculatura lisa com parada dos movimentos intestinais. Na intussuscepção intestinal o segmento proximal do intestino é invaginado na porção distal adjacente. Essa condição é mais comum em crianças de três a nove meses de vida. Em adultos, geralmente tumores estão envolvidos na gênese desse evento e o acometimento ileocólico é o mais comum. OBSTRUÇÃO DO INTESTINO GROSSO VÁLVULA ILEOCECAL (VIC): Uma obstrução em “alça fechada” - entre a VIC e o ponto de obstrução – ocorre caso a válvula permaneça competente, levando à dilatação progressiva do cólon com posterior comprometimento vascular. Esse comprometimento pode gerar necrose e perfuração do segmento acometido. O ceco é o local mais vulnerável à perfuração devido à sua parede mais delgada que a do cólon esquerdo. VOLVO INTESTINAL: O volvo intestinal é uma importante causa de obstrução em alça fechada, uma vez que o segmento rotaciona sobre o mesentério, podendo levar a sofrimento vascular. Pode ser primário por má formação congênita ou secundário por rotação através de um orifício ou de uma aderência. SOFRIMENTO VASCULAR: Caso haja estrangulamento de alça intestinal por aderência ou por angulação pode haver comprometimento vascular grave secundário ao aumento da pressão na parede intestinal resultando em redução da drenagem venosa e mais tardiamente necrose por ausência do suprimento arterial. TRANSLOCAÇÃO BACTERIANA: Se houver translocação bacteriana através da parede intestinal danificada gerando peritonite localizada ou difusa. OBSTRUÇÃO FUNCIONAL DISTURBIOS METABÓLICOS: Distúrbios metabólicos e/ou hidroeletrolíticos podem ocasionar obstrução intestinal sem fator mecânico existente, a exemplo de hipocalemia, uremia ou diabetes descompensado. SÍNDROME DE OGILVIE: Outra condição descrita é a síndrome de Ogilvie na qual há pseudo- obstrução intestinal com distensão colônica por disautonomia nervosa, sem fator mecânico. Pode levar a sofrimento vascular e isquemia intestinal. ▪ O sintoma cardinal do abdome agudo obstrutivo é a cólica intestinal, demonstrando o esforço das alças para vencer o obstáculo que está impedindo o trânsito normal. A dor é visceral, localizada em região periumbilical, nas obstruções de delgado, e hipogástrica, nas obstruções de cólon, RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 14 intercalada com períodos livres de dor no início da evolução. Os episódios de vômito surgem após a crise de dor, inicialmente reflexos, e são progressivos, na tentativa de aliviar a distensão das alças obstruídas. O peristaltismo está aumentado, exacerbado, é chamado de peristaltismo de luta. Este é mais bem caracterizado quando se ausculta o abdome no momento da crise dolorosa e se manifesta por uma cascata de ruídos. Quanto mais alta a obstrução, mais precoces, frequentes e intensos serão os vômitos, menor a distensão abdominal e mais tardia a parada de eliminação de gases e fezes. Quanto mais baixa a obstrução, maior distensão abdominal, mais precoce a parada de eliminação de flatos e fezes, e, devido ao supercrescimento bacteriano no segmento obstruído, os vômitos, que são tardios, adquirem aspecto fecaloide. Febre normalmente não está presente. A desidratação é acentuada pelas perdas provocadas pelo vômito, sendo pior nas obstruções mais altas. Com o progredir da doença, ocorre o comprometimento da vascularização do segmento obstruído, surgindo irritação do peritônio parietal, manifesta por dor somática, contínua, e contratura da parede abdominal, o que geralmente indica sofrimento de alça. A presença de necrose triplica a mortalidade operatória e aumenta em 10 vezes o risco de complicações. Não existem, entretanto, sinais radiológicos, clínicos ou laboratoriais capazes de predizer com certeza a presença de sofrimento de alça no pré-operatório, apesar de dor contínua, mudança da característica da dor, febre, leucocitose, irritação peritoneal e acidose metabólica serem consideradas sugestivas. ▪ Os exames laboratoriais são inespecíficos, prestando-se mais para avaliar as condições clínicas do paciente, além de orientar a correção dos distúrbios hidreletrolíticos e metabólicos. ▪ Na abordagem inicial, mais importante do que diagnosticar a causa da obstrução, é responder a três questões: se a obstrução é parcial ou completa, se é alta ou baixa, e se há necrose ou não. Tais fatores irão nortear a decisão terapêutica. ▪ O método de imagem de eleição são raios X simples de abdome em três incidências, que revelam níveis hidroaéreos, edema e distensão das alças, além de localizar o nível e o grau de obstrução, possibilitando também a identificação de corpos estranhos. Os raios X de abdome, entretanto, não detectam sinais precoces de complicação isquêmica, e, em casos de forte suspeita clínica de quadro obstrutivo, raios X normais têm baixo valor preditivo negativo. Nesses casos, outros métodos de imagem devem serrealizados. Radiografia contrastada tem valor limitado, podendo entretanto ser utilizada em casos de obstrução intestinal parcial. A ultrassonografia não é de uso rotineiro. A tomografia é útil em distinguir as obstruções simples das em alça fechada (hérnia, vólvulo), que tendem a estrangular mais facilmente e devem ser operadas precocemente. A tomografia pode identificar espessamento de paredes das alças ou do mesentério, bem como a presença de gás na parede intestinal ou líquido livre na cavidade, o que pode definir a indicação cirúrgica imediata pela suspeita de complicação vascular. RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 15 ▪ O tratamento inicialmente é clínico, com descompressão gástrica e do intestino proximal através de sonda nasogástrica, hidratação venosa vigorosa e antibiótico de largo espectro. Nos casos de obstrução parcial, ocorre melhora de 75% dos casos em 24 h apenas com o tratamento clínico, indicando-se cirurgia se não ocorrer melhora após 48 h. Nos casos de obstrução completa, o tratamento clínico prepara o paciente para a cirurgia, que deve ser imediata, principalmente se há sinais de estrangulamento de alças. ▪ A principal causa de obstrução intestinal no adulto são as bridas e aderências, sendo também a principal causa de obstrução mecânica do delgado (75% dos casos), e a laparotomia constitui a maior causa de formação das aderências peritoneais. As hérnias parietais vêm em seguida como causadoras de obstrução intestinal. O tratamento da hérnia é sempre cirúrgico, assim como nos casos de obstrução completa por bridas e nas obstruções parciais recorrentes, tomando-se os devidos cuidados para evitar formação de novas aderências, o que, muitas vezes, não será conseguido. ▪ O câncer colorretal é a causa mais comum de obstrução colônica (do colo) no adulto, seguida de diverticulite complicada e vólvulo. ▪ Nos pacientes com passado de cirurgia oncológica abdominal, mesmo naqueles sem evidências claras de metástases à época da cirurgia, deve-se pensar na possibilidade de recidiva tumoral ou de carcinomatose peritoneal, como causa da obstrução. Naqueles pacientes submetidos a radioterapia, considerar a presença de aderências e estenoses por fibrose de origem actínica causando o quadro obstrutivo. ▪ Nos pacientes com doença inflamatória intestinal, especialmente na doença de Crohn, deve-se diferenciar o quadro obstrutivo por componente inflamatório, reversível na maioria das vezes com a medicação específica, daquele quadro obstrutivo que exige tratamento cirúrgico mais precoce, com impacto na morbidade e sobrevida. ▪ Foram descritos alguns casos de impactação de cápsula endoscópica, provocando obstrução intestinal, especialmente em áreas de suboclusões não conhecidas previamente à realização do exame, mas os fabricantes da cápsula já desenvolveram uma tecnologia que permite a desintegração dela após 100 h de impactação. ▪ O íleo funcional ocorre no pós-operatório de cirurgias abdominais e extra-abdominais, assim como em associação com diversas doenças e uso de drogas. O tratamento é clínico, basea- do na correção dos distúrbios hidreletrolíticos e metabólicos. A síndrome de Olgivie (pseudo- obstrução isolada do cólon) é comum nos pacientes idosos cronicamente doentes e pode, nos casos iniciais, ser tratada com colonoscopia descompressiva. Nos casos recidivantes, indica-se a cecostomia. RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 16 4) ABDOME AGUDO VASCULAR: ▪ O abdome agudo vascular constitui doença grave, às vezes pouco lembrada no momento do exame clínico, com mortalidade atingindo 80% na maioria dos estudos. Tal fato se deve ao diagnóstico quase sempre tardio, e pelo fato de acometer principalmente pacientes idosos, que já apresentam várias doenças crônicas por si sós graves, além da frequente progressão da isquemia após as cirurgias de revascularização. ▪ A fisiopatologia envolve uma lesão isquêmica inicial, decorrente da redução do fluxo arterial ou venoso (o que leva a lesões precoces na mucosa, tornando-se posteriormente transmurais), perpetuada pelo vasospasmo reflexo da circulação mesentérica e completada pela lesão de reperfusão (principalmente pela formação e ação de radicais livres de oxigênio, que desencadeiam a síndrome da resposta inflamatória sistêmica, podendo evoluir para falência de múltiplos órgãos). As tres principais sindromes de isquemia são: Na isquemia mesentérica aguda, temos também as três principais: As regiões mais propensas à isquemia são as áreas pobres em circulação colateral, por dificuldade de compensar a perfusão em caso de obstrução na circulação principal, são áreas como a flexura esplênica e junção retossigmoide. Essa lesão intestinal pode se dar por dois mecanismos: • Hipoperfusão com hipoxia • Reperfusão Na hipoperfusão, o comprometimento da oferta de oxigênio se dá com uma redução do fluxo intestinal maior que 50%. De forma geral, o intestino consegue compensar até 75% de hipoperfusão por até 12h sem dano substancial, pelo aumento da extração de oxigênio e circulação colateral. Se houver manutenção da hipoperfusão, teremos vasoconstrição e redução do fluxo colateral. Em alguns casos, mesmo após restauração do fluxo, a vasoconstrição é mantida. Na reperfusão a lesão se dá por ação de espécies reativas de oxigênio hipoperfusão, teremos vasoconstrição e redução do fluxo colateral. Em alguns casos, mesmo após restauração do fluxo, a vasoconstrição é mantida. Na reperfusão a lesão se dá por ação de espécies reativas de oxigênio. RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 17 ISQUEMIA COLÔNICA → O cólon recebe menor suprimento sanguíneo em comparação ao resto do TGI e isso faz dele o segmento mais acometido. A maioria das oclusões por êmbolos ou trombos cursa com isquemia do intestino delgado concomitante. É mais prevalente em mulheres e deve ser suspeitada em pacientes com dor em abdome inferior e diarreia ou hematoquezia. ISQUEMIA MESENTÉRICA AGUDA → A oclusão da AMS pode ocorrer por embolos ou trombos. A oclusão por êmbolos é mais comum e costuma ter melhor prognóstico, já que a obstrução é mais distal do que na trombose, com infartos menos extensos e, geralmente, poupando o delgado. Os êmbolos são provenientes de trombos do átrio esquerdo, ventrículo esquerdo, valvas cardíacas ou aorta proximal, tendo como fator de risco IAM, fibrilação atrial ou estenose mitral. A oclusão por tombros ocorre devido à doença intrínseca da camada íntima dos vasos, sendo a aterosclerose o principal fator. Pode estar associado a doenças do tecido conectivo, trauma abdominal, sepse ou dissecção de aorta. Pode ser considerada uma isquemia mesentérica crônica que agudizou. A isquemia mesentérica pode ser não oclusiva, também conhecida como Vasoconstricção mesentérica. É decorrente de um grave e prolongado vasoespasmo associado ao uso de drogas (digitálicos, cocaína) ou doenças sistêmicas graves, como choque, insuficiência cardíaca grave, sepse, hipóxia grave. Baseia-se na associação de estados de baixo fluxo sanguíneo e uso de drogas vasoconstrictoras. A ICC é a etiologia isolada mais frequente. • A trombose da VMS é a principal causa de isquemia de delgado em pacientes jovens com doenças cardiovasculares. A obstrução aguda do fluxo venoso causa sequestro do fluido intestinal, hipovolemia e hemoconcentração, gerando vasoconstricção arteriolar e redução da perfusão intestinal. Pode ser primária ou secundária se tiver associada a algum dos fatores da Tríade de Virchow. Estados de hipercoagulabilidade: neoplasias, deficiência de proteína C e S, policitemia vera, deficiência de antitrombina III, uso de anticoncepcionais orais, síndrome antifosfolípide. → Estase venosa: hipertensão portal e ICC. → Lesão endotelial: pós-operatório de esplenectomia, após trauma abdominal, sepse. ISQUEMIA MESENTÉTICA CRÔNICA → É decorrente de episódiosconstantes de hipoperfusão, típico de pacientes com oclusões e estenoses de vasos mesentéricos causados por aterosclerose. É caracterizada pela angina mesentérica ou intestinal nas primeiras horas após alimentar-se. A hipoperfusão intestinal se dá pelo desvio do sangue para o estômago. Essa teoria é a mais consistente devido a correlação temporal da dor. Outras causas raras são: compressão do tronco celíaco pelo ligamento mediano arqueado (síndrome da compressão do tronco celíaco), displasia fibromuscular, dissecção de aorta ou artéria mesentérica, vasculites e fibrose retroperitoneal. Por ser uma doença crônica, o curso insidioso permite a formação de vasos colaterais Na maioria das vezes, os sintomas ocorrem quando duas ou mais arté rias estão comprometidas, uma porção muito pequena surge por obstrução de uma única artéria. ▪ A dor abdominal é o sintoma inicial, geralmente muito intensa, fora de proporções com os achados clínicos, que são inespecíficos. A chave para o diagnóstico precoce é valorizar os sinais, ainda que inespecíficos, em pacientes com fatores de risco para isquemia mesentérica aguda (maiores de 60 anos, portadores de doença aterosclerótica, infarto agudo do miocárdio recente, arritmias cardíacas, em especial a fibrilação atrial, passado de eventos tromboembólicos em outros segmentos do organismo, situações de baixo débito cardíaco como insuficiência cardíaca congestiva, estados hiperdinâmicos com má perfusão periférica, como na sepse, uso de vasoconstritores, e uso de nutrição enteral, pelo aumento não regulável do consumo de oxigênio no intestino). Passada a fase inicial de dor abdominal, vem a fase intermediária, caracterizada por peritonite, que frequentemente confunde o quadro clínico com outras causas de abdome agudo inflamatório. Na terceira fase, acentuam-se os sinais abdominais, surgindo a instabilidade hemodinâmica, o choque refratário e o óbito. RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 18 ▪ Os exames laboratoriais também são inespecíficos, não existindo marcadores de isquemia ou necrose intestinal, mas hemoconcentração, leucocitose e acidose metabólica, associados aos achados clínicos de distensão, defesa e ausência de peristaltismo sugerem doença avançada. Se houver necrose há elevação de LDH, CPK, Fosfatase Alcalina (fração intestinal). ▪ A radiologia convencional afasta outras causas de abdome agudo e pode mostrar espessamento da parede das alças intestinais, alças tubuliformes, fixas e imutáveis, e pneumoperitônio, o que indica lesões em fase bem avançada. A ultrassonografia, principalmente associada ao recurso Doppler, pode identificar a obstrução vascular e estudar o fluxo dos vasos mesentéricos, especialmente dos segmentos proximais. Nos casos de trombose da VMS, podemos ver: ▪ A angiotomografia e a angiorressonância podem ser muito úteis, ao mostrar as alterações isquêmicas nas paredes intestinais e demonstrar o local da obstrução mesentérica, mas um exame normal não exclui o diagnóstico de isquemia mesentérica. O diagnóstico de certeza é dado pela arteriografia, que é considerada o padrão-ouro no estudo da isquemia mesentérica, por suas possibilidades diagnósticas e terapêuticas. A arteriografia só deve ser realizada no paciente hemodinamicamente estável. Se o paciente já apresenta sinais de irritação peritoneal no momento do diagnóstico, a arteriografia está contraindicada, devendo o paciente ser encaminhado imediatamente à cirurgia. Se a arteriografia é normal, mas existem sinais de irritação peritoneal, está indicada a laparotomia, pois a causa do abdome agudo pode ser outra que não a vascular. RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 19 ▪ O tratamento visa à reanimação agressiva (com correção da volemia, dos distúrbios eletrolíticos e suporte ventilatório), revascularização do intestino (com reversão da isquemia, se possível), além da ressecção dos segmentos inviáveis, quando o infarto já foi estabelecido. Recomenda-se antibiótico de largo espectro, prevenindo as complicações sépticas, já que as lesões isquêmicas facilitam a translocação bacteriana, e considerando que a diminuição da população bacteriana aumenta a tolerância da alça à isquemia. ▪ Vasodilatador (papaverina) deve ser usado em todos os casos de isquemia mesentérica aguda, podendo ser o único tratamento necessário nos casos de isquemia mesentérica não oclusiva, sendo usado como adjuvante no per e pós-operatório nos demais casos, prevenindo e tratando a vasoconstrição reflexa. A droga é diluída em solução salina e infundida seletivamente na artéria mesentérica superior. Pode ser utilizada por 5 dias, e sua suspensão deve ser orientada pelos aspectos arteriográficos observados após a sua substituição por solução salina, durante 30 min. No caso de retorno do espasmo arterial, reinicia-se a administração de papaverina por mais 24 h. ▪ A abordagem cirúrgica é feita por laparotomia, e visa a restabelecer o fluxo sanguíneo, avaliar a viabilidade do intestino (antes e depois da revascularização) e ressecar segmentos intestinais inviáveis, procurando sempre evitar a síndrome do intestino curto. A decisão por relaparotomia deve ser tomada na primeira intervenção. ▪ A embolia da artéria mesentérica superior é o tipo mais frequente, correspondendo a 50% dos casos. A maioria dos êmbolos tem origem cardíaca, derivados de trombo mural associado a fibrilação atrial ou infarto agudo do miocárdio. Os êmbolos normalmente se instalam nos ramos distais da artéria mesentérica superior, após a origem da artéria cólica média. A dor abdominal é súbita, intensa, inicialmente periumbilical, associada a vômito e diarreia sanguinolenta. O tratamento é a embolectomia, sendo possível o uso de agentes fibrinolíticos (estreptoquinase) em casos selecionados (dor com menos de 12 h de evolução, oclusões parciais da artéria mesentérica, ausência de peritonite, ausência de acidose metabólica grave, ausência de insuficiência orgânica grave). A estreptoquinase, nas doses de 5.000 a 10.000 U/h, tende a restabelecer o fluxo sanguíneo cerca de 30 a 80 h depois do início da infusão. ▪ Na trombose da artéria mesentérica superior, que corresponde de 10 a 25% dos casos, o quadro clínico tem início mais insidioso, podendo durar dias. Habitualmente, o paciente apresenta angina intestinal crônica, com dor pós-alimentar, perda de peso e alteração do hábito intestinal. Tende a ocorrer na origem da artéria mesentérica superior e está associada à aterosclerose difusa avançada. O tratamento é a tromboendarterectomia ou by-pass. ▪ A isquemia mesentérica aguda não oclusiva habitualmente ocorre em situações de baixo fluxo, que cursam com vasoconstrição. Corresponde a 20-30% dos casos. É comum nos estados de choque, hipovolemia, redução do débito cardíaco, uso de vasoconstritores ou agentes inotrópicos, e pelo uso de cocaína. O paciente típico é aquele portador de insuficiência cardíaca congestiva hospitalizado que evoluiu com hipotensão prolongada. O quadro clínico pode cursar sem dor em até 25% dos casos, mas há distensão abdominal importante e sangramento intestinal. É comum a cianose periférica conhecida como “síndrome dos pés azuis”. A arteriografia mostra RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 20 estenoses sequenciais segmentares, decorrentes de vasospasmos de múltiplos ramos dos vasos mesentéricos, sendo indicado o uso de papaverina. O tratamento é essencialmente clínico visando a restabelecer o fluxo esplâncnico, além da suspensão das drogas envolvidas. ▪ A trombose da veia mesentérica superior pode ser primária (onde não se identifica situação de risco associado) ou secundaria a estados de hipercoagulabilidade, doenças hematológicas, uso de contraceptivos orais, sepse abdominal, doença maligna, hipertensão portal. A dor tem inícioinsidioso, e o quadro pode ser marcado por grande distensão abdominal, desidratação precoce, náuseas e vômito (50% dos casos), com pouca alteração do hábito intestinal. O paciente normalmente tem história prévia de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar. Normalmente, acomete o segmento ileal ou jejunal da veia mesentérica superior. Arteriografia pode ser normal. O tratamento é feito com anticoagulação (quando não existem causas tratáveis) e trombólise (estreptoquinase). 5) ABDOME AGUDO HEMORRÁGICO: ▪ Ruptura de aneurisma das artérias viscerais abdominais Aneurisma da artéria esplênica: é mais comum no sexo feminino e é o aneurisma mais comum entre os vasos viscerais abdominais, correspondendo a cerca de 60% de todos os aneurismas de artérias viscerais. Tem como fatores de risco para ruptura desse aneurisma a hipertensão venosa portal, fibrodisplasia arterial e gravidez. O tratamento do paciente que é admitido no hospital com choque hipovolêmico em decorrência de sangramento por ruptura do aneurisma é a laparotomia exploradora imediata associada à reposição agressiva da volemia com soluções cristalóides e, quando necessário, com hemoderivados. Quando o aneurisma se situa distalmente, nas proximidades do baço, o tratamento consiste na ligadura proximal de esplenectomia. ▪ Aneurisma da artéria hepática: é predominante em homens acima de 60 anos de idade e corresponde ao segundo aneurisma de arterinal visceral mais comum. Atualmente, cerca de 38% ocorrem em decorrência de arteriosclerose, 21%, de degeneração da camada média, 18%, de traumatismo e apenas 16% são de origem micótica. Habitualmente é assintomático. Ao romper- se, manifesta dor no quadrante superior direito ou no epigástrio e mimetiza a colecistite e a pancreatite agudas. Dependendo da localização, o sangramento pode exteriorizar-se por hematêmese ou melena, por erosão dos ductos biliares ou do tubo digestivo. A ressecção, ou a obliteração, dos aneurismas da artéria hepática está indicada em todos os pacientes. ▪ Aneurisma da artéria mesentérica superior: é o terceiro mais comum. Ocorre em indivíduos abaixo de 50 anos e distribui-se igualmente entre os homens e as mulheres. Os fatores de risco são a endocardite, os traumatismos e a arteriosclerose. A maioria dos aneurismas da artéria mesentérica superior ocorrem em consequência de endocardite bacteriana. Os sintomas variam muito. Quando o aneurisma compromete a irrigação das alças intestinais, podem ocorrer cólicas abdominais após as refeições, sugestivas de claudicação intestinal. Quando há ruptura, a dor é intensa, dinfundida para todo o abdome e os sinais de choque tornam-se mais evidentes. Pode ser acompanhada de náuseas. O tratamento dessas lesões é muito variável, dependendo da localização do aneurisma, da condição de irrigação e de vitalidade das alças intestinais e da condição clinica do doente. ▪ Nos quadros de abdome agudo hemorrágico, além da dor súbita, chama a atenção o rápido comprometimento hemodinâmico, com palidez intensa e hipovolemia acentuada. Apesar da forte dor, não se encontra contratura muscular no hemoperitônio, visto que o sangue não é tão irritante para a serosa peritoneal. Os exames mostram queda progressiva dos níveis hematimétricos. ▪ A ruptura espontânea de vísceras parenquimatosas e a ruptura vascular não são situações comuns, e o abdome agudo hemorrágico é mais frequentemente associado ao trauma, ao pós- operatório e a complicações pós-procedimentos (biopsias hepáticas, por exemplo). Na mulher em idade fértil, sempre ponderar a possibilidade de gravidez ectópica rota. O tratamento é a cirurgia RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 21 imediata, mas a arteriografia pode ser terapêutica em alguns casos. Nos casos de hematomas pós-operatórios estáveis, a conduta é expectante. Nos pacientes em uso de anticoagulantes, com formação de hematomas abdominais, a conduta também é expectante a princípio, com suspensão da anticoagulação. ▪ A ruptura de aneurisma de aorta abdominal acomete geralmente pacientes idosos do sexo masculino, população na qual a incidência de aneurisma é maior. A aterosclerose é a causa principal, mas trauma, infecção (sífilis) e arterites são causas possíveis. A sede mais comum do aneurisma é a aorta abdominal, estando quase todos localizados abaixo das artérias renais. O risco de ruptura aumenta com o tamanho do aneurisma, sendo baixo nos menores de 5 cm. 50% dos aneurismas que atingem 6 cm se rompem em 1 ano. A apresentação clássica é dor abdominal difusa, intensa, associada a hipotensão e massa abdominal pulsátil. Antes da ruptura, o aneurisma passa por um processo de distensão aguda (dito expansão), o que leva ao estiramento do plexo nervoso perivascular, gerando dor intensa nos flancos ou no dorso. O local mais comum de ruptura é no retroperitônio, e o hematoma que se forma contém a hemorragia por algumas horas. O diagnóstico é confirmado por ultrassonografia. Na suspeita clínica, não é necessário realizar exames, indicando-se laparotomia imediata, sendo a reanimação feita no bloco cirúrgico. “Nenhum paciente com aneurisma roto pode sobreviver se não for operado.” A mortalidade pós-operatória atinge 50%, e complicações pós- operatórias comuns são insuficiência renal aguda, isquemia colônica e isquemia de membros inferiores. DIAGNOSTICO Diante da diversidade etiológica da dor abdominal e do abdômen agudo, é fundamental termos uma metodologia investigativa adequada, para obtermos, do paciente, as informações necessárias para o diagnóstico correto. Todo processo semiótico é indispensável nesta avaliação. Os exames laboratoriais que auxiliam no diagnóstico do abdômen agudo em geral são simples, rápidos e de fácil obtenção. A avaliação inicial deve começar istir de hematológico completo, exame qualitativo de urina (urina rotina), amilase e teste de gravidez (mulheres em idade fértil). Após esta primeira avaliação, se não foi possível a confirmação diagnóstica, devemos iniciar uma avaliação radiológica, partindo da radiografia abdominal em decúbito dorsal e ortostático. Avançando-se para a ultra-sonografia de abdômen, tomografia computadorizada (TC), e em alguns casos arteriografia e ressonância magnética. A videolaparoscopia e a laparotomia exploradora constituem-se nos meios diagnósticos definitivos, para aqueles casos onde toda a seqüência de exames anteriores não foi suficiente, ou como meio terapêutico, para os casos onde os exames definiram uma patologia cirúrgica como causa da dor abdominal. Outro aspecto importante sobre a videolaparoscopia em situações de emergência é a necessidade de equipes treinadas e cirurgiões experimentados, habituados com esta técnica. Caso não exista esta disponibilidade, devemos optar pela laparotomia exploradora como técnica mais segura, tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento. Exame radiológico: indispensável para a confirmação diagnóstica, pela constatação do retardo no esvaziamento; da incoordenação motora (revelada pela presença de ondas terciárias - “síncronas”); e da dilatação do órgão. Também irá auxiliar a classificação do estádio da esofagopatia chagásica, útil para indicações de terapêutica e para a avaliação da evolução da doença: ▪ Grau l: incipiente ▪ Grau II e III: não avançado ▪ Grau IV: avançado Exame endoscópico: é indispensável na complementação diagnóstica da esofagopatia chagásica, ao avaliar o estado da mucosa do esôfago e para auxiliar no diagnóstico diferencial de neoplasias e esofagopatias de caráter estrutural. RAYNARA ALMEIDA CARVALHO – TURMA 4 22
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