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MATERIAL DIDÁTICO 
 
 
TÓPICOS ESPECIAIS EM TEOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA 
PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 
 
0800 283 8380 
www.ucamprominas.com.br 
 
Impressão 
e 
Editoração 
 
 2 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3 
UNIDADE 2 – DIREITO CANÔNICO .......................................................................... 5 
2.1 NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO ................................................................................ 5 
2.2 O DIREITO CANÔNICO ........................................................................................... 6 
2.3 A EVOLUÇÃO DO CÓDIGO CANÔNICO .................................................................... 11 
2.4 O CÓDIGO DE 1917 ............................................................................................ 16 
2.5 O CONCÍLIO VATICANO II E O CÓDIGO DE 1983 ..................................................... 18 
UNIDADE 3 – ECUMENISMO / PLURALISMO RELIGIOSO ................................... 22 
3.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES ................................................................................... 22 
3.2 CONCÍLIOS ECUMÊNICOS .................................................................................... 27 
3.3 O ECUMENISMO NO CONCÍLIO VATICANO II ........................................................... 31 
3.4 AS IGREJAS E O MOVIMENTO ECUMÊNICO .............................................................. 33 
3.5 O ECUMENISMO COMO FENÔMENO SOCIAL ............................................................ 35 
3.6 O ECUMENISMO NA AMÉRICA LATINA ................................................................... 38 
3.7 OS DESAFIOS ATUAIS .......................................................................................... 39 
UNIDADE 4 – TEOLOGIA ECUMÊNICA .................................................................. 43 
UNIDADE 5 – ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA ........................................................ 47 
UNIDADE 6 – TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO .......................................................... 51 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57 
ANEXOS ................................................................................................................... 62 
 
 3 
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO 
 
A Teologia trata do mistério dos mistérios: Deus! E assim, o pressuposto dos 
pressupostos é a fé no mistério. E voltamos à teologia que tem como principal 
fundamento: Deus. 
Como diz Zampieri (2004), quem se propõe fazer Teologia tem que saber 
que se está pisando em terreno misterioso e para isso é bom que soe aos ouvidos 
aquela voz de Deus dirigida a MOISÉS: “Tire as sandálias dos teus pés, porque este 
lugar em que está é uma terra santa” (Êx1, 3,5). Só com essa atitude de reverência 
religiosa consegue-se penetrar e avançar no mundo da Teologia. Sem essa atitude 
básica, corre-se sério risco de praticar uma Teologia secularizada. 
Mais uma vez vamos afirmar, não temos a pretensão de desvendar tudo. 
Seria impossível, é verdade, mas trazemos mais alguns conteúdos/contribuições 
para que conheçam das “coisas de Deus”, agora num viés mais prático, terreno, 
como por exemplo, a seara do Direito Canônico e as questões que envolvem o 
Ecumenismo e o Pluralismo religioso. 
Discutiremos também um pouco sobre a Teologia Ecumênica, a 
Antropologia teológica e a Teologia da libertação. 
Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se 
fazem necessárias: 
1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas 
efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da 
World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao 
acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira 
para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo 
da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 
2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo 
original2, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que 
têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também 
reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser 
deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos 
 
1
 Êxodo – Capítulo 3, versículo 5. 
2
 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou 
similares. 
 4 
estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de 
comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado 
pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 
3) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições 
ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento 
crítico. 
4) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou 
seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para 
fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que 
os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos 
científicos. 
Por fim: 
5) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para 
consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última 
está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl + 
clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis 
complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material 
impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 
 5 
UNIDADE 2 – DIREITO CANÔNICO 
 
2.1 Noções básicas de direito 
Verdade seja dita, quantas pessoas perguntássemos seu entendimento 
acerca da palavra “Direito”, igual número de respostas variadas teríamos. Isso quer 
dizer exatamente que, embora seja uma pergunta simples, a resposta é bem 
complexa e vários seriam os motivos para tal complexidade, como, por exemplo, o 
conceito de direito varia de pessoa para pessoa, de época para época, e ainda 
conforme ideais políticos e filosóficos. 
Portanto, apesar de existirem várias definições para “Direito”, a que nos 
interessa mais de perto seria “o conjunto de normas jurídicas vigentes em um país 
ou sociedade”, tanto que costumamos ouvir muito: “Onde há sociedade, ali está o 
direito”. 
De todo modo, não há como falar em direito sem citar Platão e Aristóteles, 
pelo menos. 
Para Platão, “Direito consistia (e ainda consiste) na busca de justiça, ou seja, 
é definido como regra que indica o justo”. O princípio fundamental é dar a cada um 
aquilo que ele merece. Esse princípio deve ser garantido pelo Estado. Platão 
considerava que o Estado deveria se estruturar conforme os três tipos da natureza 
humana: “há pessoas movidas pelo desejo, outras movidas pela coragem e outras 
movida pela razão”. 
Dimoulis (2011) explica que as pessoas movidas pelo desejo são o povo, as 
movidas pela coragem são os militares e os filósofos seriam os movidos pela razão, 
intelectualidade, estes deveriam concentrar o poder de decisão do Estado, e é por 
isso que, para Platão, “direito significava, então, dar a cada um aquilo que 
corresponde a sua natureza e função na sociedade”. 
Segundo Aristóteles, o direito só pode ser definido pelo Estado e deve ser 
empregado o critério de Justiça. 
Para Dimoulis (2011, p. 24), “O Direito é justo quando protege os interesses 
gerais da sociedade e, em particular, quando trata de maneira igual as pessoas que 
se encontram em situação igual”. 
Para Aristóteles, há duas formas de igualdade: aritmética, que exprime a 
justiça comutativa (sinalagmática), e a geométrica, que representaa justiça 
distributiva (ou atributiva). 
 6 
A Justiça comutativa deve ser aplicada em caso de contratos ou danos. 
Segundo o princípio da igualdade aritmética, “um por um” (DIMOULIS, 2011, p. 24), 
todos devem cumprir suas promessas e indenizarem pelos danos causados na 
proporção de suas promessas ou danos causados a terceiros. 
A justiça distributiva é uma forma elevada de justiça, fundamentada na 
proporcionalidade e se aplica na distribuição de ofícios e das honrarias, a fim de 
determinar a posição social das pessoas. “O resultado da justiça distributiva é a 
desigualdade social. Cada um deve ter uma posição correspondente ao seu mérito e 
valor” (DIMOULIS, 2011, p. 24). 
Na ótica de Aristóteles, o direito se confunde com a justiça. Mas, por haver 
duas formas, deve ser decidido em cada caso se é aplicada a justiça comutativa ou 
a distributiva, sendo os resultados muito diferentes, ou seja, ora a justiça será 
comutativa, ora distributiva. 
Apesar de existirem muitos estudiosos que mereciam ser citados por seus 
ensinamentos acerca da justiça e do direito, vamos partir para o que nos interessa: o 
Direito Canônico! 
 
2.2 O Direito Canônico 
De acordo com Lourencini (2013), o Direito apresenta-se onde existe vida 
em sociedade e, sendo a Igreja uma organização através da qual as relações sociais 
entre seus seguidores são manifestadas veementemente das mais variadas 
maneiras, necessário fez-se o nascimento de um ordenamento jurídico específico 
para atender aos anseios humanos e divinos, nos moldes essenciais da própria 
criação daquela instituição. 
Chama-se Direito Canônico ao ordenamento jurídico da Igreja católica, vale 
dizer, ao conjunto de fatores que estruturam a Igreja como uma sociedade 
juridicamente organizada. Utiliza-se também a expressão Direito Canônico para 
fazer alusão à ciência que estuda o ordenamento canônico, como também à 
disciplina que o ministra nos cursos universitários (LOMBARDÍA, 2008). 
Para uma adequada compreensão da função que compete ao Direito 
Canônico na formação, na qualidade de disciplina universitária, e dos problemas 
mais significativos propostos pela ciência canônica em nossos dias, Lombardía 
considera útil, como ponto de partida, tratar três temas fundamentais: 
 7 
a) Todo ordenamento jurídico responde a determinados pressupostos 
ideológicos e culturais que justificam, com maior ou menor coerência, o sentido das 
estruturas por ele delineadas e as respostas que oferece para a solução dos 
conflitos entre os sujeitos que integram o grupo social em que se encontra vigente 
cada sistema de direito. Tornar-se-ia de todo impossível que um jurista pretendesse 
compreender determinado ordenamento sem tomar consciência de tais 
pressupostos, independentemente de que, pessoalmente – no exercício de sua 
liberdade intelectual e religiosa – concorde com eles ou os rejeite. Seria inútil, por 
exemplo, tentar entender o direito de obrigações da Rússia sem ter presente como 
se concebe o desfrute dos bens pelo homem no pensamento marxista, ou então, o 
direito administrativo espanhol ou italiano prescindindo do sentido ideológico e 
cultural da ideia de Estado de Direito na área democrática ocidental. 
Por razões análogas, é impossível aproximar-se do estudo do direito 
canônico, que é o sistema de direito da Igreja católica, sem tomar em consideração 
como se concebe a Igreja, como grupo social, à luz de sua fé e que sentido tem o 
direito tomando-se como ponto de partida a perspectiva da autocompreensão da 
Igreja como comunidade de crentes. 
Quanto à sua posição em relação aos demais grupos religiosos, é preciso 
considerar que a Igreja católica crê na veracidade de sua doutrina e tem em conta 
que a verdade, em qualquer tempo, é única e não pode ser fracionada. Esta 
conclusão evidente é compatível com o fato de que a Igreja – conforme ensina o 
Concílio Vaticano II quando trata das relações da Igreja com as religiões não cristãs: 
 
nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. Olha com 
sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas 
que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue 
e propõe, todavia refletem não raramente um raio da verdade que ilumina 
todos os homens (Declaração Nostra Aetate, nº 21
3
). 
 
Essa afirmação do Magistério eclesiástico adquire força ainda maior quando 
se considera a visão da Igreja católica acerca dos grupos religiosos dela separados 
por razões dogmáticas e disciplinares, mas que tem em comum com os católicos a 
fé em Cristo. Referindo-se a estes cristãos separados, o Concílio Vaticano II ensina 
que “aqueles que creem em Cristo e foram devidamente batizados estão numa certa 
 
3
 Nostra Aetate (traduzido como Nosso Tempo) é uma Declaração sobre as Relações da Igreja com 
as Religiões Não Cristãs que foi solenemente votada e aprovada pelos Bispos do Concílio Vaticano II, 
em 28 de Outubro de l965. 
 8 
comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica” (Decreto Unitatis 
redintegratio4, nº 3). 
Este marco doutrinal pressupõe antes de tudo a consciência que a Igreja 
católica possui do fato do pluralismo de grupos religiosos, dado que também tem 
inegável incidência no ordenamento canônico, especialmente em sua relação com o 
movimento ecumênico; isto é, “as atividades e iniciativas que são suscitadas e 
ordenadas, segundo as várias necessidades da Igreja e oportunidades dos tempos, 
no sentido de favorecer a unidade dos cristãos” (Decreto Unitatis redintegratio, nº 4). 
b) O direito canônico atualmente em vigor foi se decantando ao longo de 
dois milênios, durante os quais a Igreja – utilizando a técnica jurídica de cada 
momento histórico e forjando, no campo do direito, soluções originais que influíram 
decisivamente em outros ordenamentos jurídicos – foi remodelando suas instituições 
em uma trabalhosa busca da congruência entre sua fé e suas estruturas visíveis. Por 
isso, como qualquer outro ordenamento jurídico, o atual direito canônico não pode 
ser compreendido sem levar em conta sua evolução histórica. 
c) Além disso, é preciso ter presente que o direito canônico se desenvolve 
paralelamente ao direito da sociedade civil. O cristianismo trouxe, como uma de 
suas derivações teológico-políticas mais originais, uma visão dualista da ordem 
jurídica e social que implica não só uma aspiração de independência da Igreja em 
relação ao poder civil, mas também a afirmação da autonomia do temporal, sendo 
uma de suas consequências a independência do poder civil diante de eventuais 
extralimitações do poder eclesiástico. As vicissitudes da aplicação dessa doutrina 
dualista e das descompensações que ocorreram em diferentes épocas, como 
consequência de ingerências do poder civil no âmbito religioso, ou dos hierarcas da 
Igreja em questões temporais, constituem um dos temas mais apaixonantes da 
história do Ocidente cristão. 
Não obstante, Lombardía (2008) salienta duas facetas do problema: 
 em primeiro lugar, é preciso ter em conta que os princípios religiosos que 
fundamentam o direito canônico afirmam ao mesmo tempo a necessidade de 
um direito profano – em termos atuais, o direito internacional e os 
 
4
 Significa o Decreto sobre o Ecumenismo. É um Decreto do Concílio Vaticano II que foi promulgado 
solenemente no dia 20 de novembro de 1964 por Sua Santidade, o Papa Paulo VI. Nº 3 significa item 
3 do capítulo do Decreto e assim, sucessivamente. 
 9 
ordenamentos jurídicos dos diferentes Estados – e um modo de entender as 
relações do direito canônico com os direitos estatais; 
 em segundo lugar, deve-se considerar que a Igreja, enquanto entidade visível 
e presente na vida social, pode ser favorecida ou obstaculizada na aplicação 
do direito canônico a seu próprio âmbito, pelos ordenamentos dos Estados, 
que na sociedade secularizadade nossos dias, raras vezes se identificam 
com o modo que a Igreja tem de conceber as relações entre Direito Canônico 
e Direito Estatal. Este dado influi não só nos problemas da interconexão entre 
sociedade civil e sociedade religiosa, mas também em não poucas soluções 
de estrito Direito Canônico, as quais – em que pese o fato de se projetarem 
de maneira direta sobre assuntos intraeclesiais – estão inevitavelmente 
condicionadas, para efeitos de sua aplicação, pelo ato da normativa dos 
Estados vigente em cada um dos âmbitos geográficos nos quais o direito 
canônico – universal por sua própria natureza – tem de cumprir sua função 
ordenadora da sociedade religiosa. 
Voltemos a elucubrações menos complicadas e mais práticas! 
O Direito Canônico surge pela necessidade e com o propósito de organizar e 
manter a ordem de acordo com os anseios da vida em comunidade e dos preceitos 
divinos estabelecidos e divulgados pela Igreja Católica. Muitos dos institutos 
existentes no direito ocidental moderno foram inspirados ou copiados do Direito 
Canônico pela funcionalidade que este revela para com os fins a que foi criado. 
A Igreja, instituição de grande prestígio em todo o mundo, intitula-se como 
soberana dentro do seu âmbito de atuação, assim como o Estado o faz, o que gera 
uma preocupação de ambos em manter um ordenamento jurídico eficaz aos seus 
propósitos e às necessidades nascidas das relações sociais manifestadas entre 
seus seguidores (no caso da Igreja) ou governados (no Estado). Por isso, o direito 
estatal e o eclesiástico colaboram-se mutuamente, haja vista que muitas das 
manifestações sociais reveladas no Estado são de interesse religioso e vice-versa, 
como exemplo, o casamento e a instituição da família (LOURENCINI, 2013). 
Lembremos que o Direito Canônico difere do Direito Eclesiástico, pois este 
último tem por objetivo reger o relacionamento da Igreja considerada como um 
“Estado”, tanto em seus assuntos externos, com entes dotados de personalidade 
internacional, seja a Santa Sé, seja outros Estados (direito público externo), quanto 
 10 
em suas relações jurídicas com os habitantes do Vaticano (direito público interno) 
(CUNHA LOBO, 2006). 
A finalidade e o princípio norteador do Direito Canônico é a salus animarum5, 
a salvação das almas, baseado na fraternidade e na harmonia visando o “bem 
comum” de toda a sociedade em conjunto com o direito do Estado (direito laico) 
(SAMPEL, 1999, p. 119). 
Sob o aspecto histórico, o Direito Canônico teve na Idade Média uma 
relação de dependência recíproca com o Direito Romano, formando 
progressivamente o denominado “Direito Comum”. Tal influência não se revelou 
apenas pelo valor ético e moral do Cristianismo sobre as legislações dos povos 
europeus, mas caracterizou-se como verdadeira técnica promovida pelo Direito da 
Igreja no desenvolvimento e consolidação de inúmeros institutos do Direito Civil, do 
Processo Civil e do Processo Penal (CAVIGIOLLI, 1946 apud STEINWASCHER 
NETO, 2010). 
Como observação final, alguns autores como Cruz e Tucci e Azevedo (2007) 
e Lima Filho (1996) adotam a divisão da História do Direito Canônico de acordo com 
a evolução de suas fontes. Vejamos: 
1) Período de Formação, do século I ao IX. 
2) Período de Estabilização, entre os séculos XI e XII. 
3) Período de Consolidação do ordenamento jurídico canônico, do século 
XIII ao XV. 
4) Período de Renovação, do século XVI até os dias atuais. 
 
Cunha Lobo (2006, p. 522) divide a evolução do Direito Canônico em três 
fases: 
1) Ius antiquum, do nascimento de Cristo até o Decreto de Graciano (1150). 
2) Ius novum, do Decreto de Graciano até o Concílio de Trento (1563). 
3) Ius novissimum, do Concílio de Trento até nossos dias. 
 
 
5 Código de Direito Canônico – Codex Iuris Canonici, trad. port. Conferência Nacional dos Bispos do 
Brasil, 11 ed., São Paulo, Loyola, 1998. Cân. 1752 do Código de Direito Canônico: “Nas causas de 
transferência, apliquem-se as prescrições do cân.1747, respeitando-se a equidade canônica e tendo 
diante dos olhos a salvação das almas que, na Igreja, deve ser sempre a lei suprema”; Cân.747, §2: 
“Compete à Igreja anunciar sempre e por toda a parte os princípios morais, mesmo referentes à 
ordem social, e pronunciar-se a respeito de qualquer questão humana, enquanto o exigirem os 
direitos fundamentais da pessoa humana ou a salvação das almas.”. 
 11 
2.3 A evolução do Código Canônico 
Em artigo elaborado por Barreto (2006), a definição para Código, segundo o 
dicionário jurídico de Paulo Roberto Benasse, é um “conjunto de dispositivos que 
regulam uma matéria jurídica” (BENASSE, 2000, p. 95). 
O primeiro código de que se tem notícia é o famoso “Código de Hamurabi”, 
rei da Babilônia nos anos 1728 a 1686 antes de Cristo. Este código foi escrito em um 
bloco de pedra, conservado até hoje no Museu de Paris, e seu objetivo era o de 
homogeneizar juridicamente o reino babilônico garantindo-lhe uma cultura comum. 
Apesar de poucas serem as pessoas que sabiam ler à época, apenas os escribas, o 
Código de Hamurabi expunha leis e as punições caso estas não fossem respeitadas, 
fixando assim, as diferentes regras da vida quotidiana. Em seu conteúdo, a ênfase 
foi dada ao roubo, à agricultura, à criação de gado, aos danos à propriedade, aos 
direitos da mulher, aos direitos da criança, ao direito do escravo, assim como o 
assassinato, à morte e à injúria. Sendo a punição ou pena diferente para as 
diferentes classes de ofensores e vítimas. Suas leis não toleravam desculpas ou 
explicações para erros ou falhas: o código era exposto livremente à vista de todos, 
de modo que ninguém pudesse alegar desconhecimento da lei como desculpa para 
cometer um delito. 
Com o passar dos tempos, mais precisamente com a formação dos Estados 
contemporâneos, surgiram, também, os códigos modernos, que diz que o Estado 
detém o direito de criar normas jurídicas, fazendo do código um conjunto de regras 
de aplicação igual e generalizada dentro dos liames do Estado. Foi assim que 
nasceram na Europa o código civil, em 1806, o de comércio, em 1807, o código de 
instrução criminal, em 1808, e o código penal, em 1810. 
Diferenciando-se um pouco deste conceito, há outro tipo de código, o Código 
de Direito Canônico – CDC. Segundo o dicionário de Antônio Houaiss, canônico 
“está de acordo com os cânones, com as regras eclesiásticas, os dogmas da Igreja” 
(HOUAISS, 2001, p. 601). Pode-se dizer então que o CDC é a lei criada pela Igreja 
visando a sua própria administração. Como documento legislativo principal da Igreja, 
fundado na herança jurídico-legislativa da Revelação e da tradição, o CDC serve 
como guia que assegura a ordem da vida individual, social e das próprias atividades 
da Igreja, como também define certas regras e normas de ação (BARRETO, 2006). 
Lombardía (2008) conta que as primeiras gerações cristãs regeram a vida 
coletiva das comunidades aplicando os textos do Novo Testamento, a tradição 
 12 
apostólica, os costumes e as decisões adotadas pelos bispos em sua qualidade de 
sucessores dos Apóstolos. O perfil da organização jurídica da Igreja primitiva, nós o 
conhecemos pelas obras dos mais antigos escritores cristãos, denominados Padres 
Apostólicos: Inácio de Antioquia, Clemente Romano, Policarpo de Esmirna, entre 
outros. 
Algumas fontes de venerável antiguidade e autores desconhecidos nos 
informam da liturgia e da disciplina, a saber: 
 doutrina do doze Apóstolos, ou Didaquê, composta na Síria, provavelmente 
durante o século I; 
 didascália dos doze Apóstolos, redigida no século III, na Palestina ou na Síria; 
 constituições apostólicas, procedentes também da Síria ou da Palestina e 
escritas por volta do ano 380; 
 tradição apostólica de S. Hipólito, escrita provavelmente por Hipólito de Roma 
por volta do ano 218. 
A tradição apostólica e a interpretação da Sagrada Escritura,nós as 
encontramos — sem solução de continuidade com os Padres Apostólicos — na 
Patrística, série numerosíssima de escritores, cujos limites cronológicos costumam 
ser fixados entre fins do século II e o século VIII. Entre os Padres e escritores 
orientais, destacam-se Orígenes, Basílio, Gregório de Nissa, Gregório de Nazianzo, 
João Crisóstomo e João Damasceno. Entre os ocidentais. Tertuliano, Cipriano, 
Jerônimo. Ambrósio de Milão e, muito especialmente, Agostinho de Hipona. 
Os primeiros textos cristãos que mostram um estilo legislativo – a saber, 
fórmulas breves com tom imperativo – são os cânones ditados pelos concílios, ou 
seja, assembleias de bispos que se reúnem para deliberar e decidir sobre assuntos 
relativos à doutrina e à disciplina eclesiástica. Desde o século III, existem dados de 
atividade conciliar. Os concílios reuniam com frequência os bispos de áreas 
geográficas mais ou menos amplas; entretanto, às vezes acorriam a eles bispos das 
mais longínquas regiões. Alguns destes últimos foram reconhecidos pelos Papas 
como ecumênicos ou universais e se lhes reconhecia a autoridade de fixar 
autenticamente os conteúdos da fé e do poder supremo em questões disciplinares. 
 
Durante o primeiro milênio, houve numerosíssimos concílios particulares e 
oito concílios ecumênicos, a saber: Concílio I de Nicéia (325), I de 
Constantinopla (381), de Éfeso (431), de Calcedônia (45 I). II de 
 13 
Constantinopla (553), III de Constantinopla (680), II de Nicéia (787) e IV de 
Constantinopla (869-870) (LOMBARDÍA, 2008, p. 33). 
 
Os bispos de Roma, por sua vez, em virtude de seu primado sobre toda a 
Igreja, enviavam às diversas comunidades cristãs epístolas decretais ou, 
abreviadamente, decretais, em que exerciam seu poder supremo em matéria 
dogmática e disciplinar. Às vezes as decretais eram ditadas pelos papas por 
iniciativa própria; outras vezes, faziam-no para dar resposta a consultas ou para 
dirimir controvérsias. 
A necessidade de ter à mão, para consultá-los, os cânones dos concílios e 
as decretais dos Papas deu origem às Coleções canônicas, em uso nas diferentes 
Igrejas locais, que inicialmente recolhiam cânones dos concílios ecumênicos e dos 
concílios particulares de maior autoridade, em razão do prestígio das sedes 
episcopais em que se haviam reunido os concílios ou se estavam aplicando seus 
cânones. Não obstante, muito rapidamente, tornou-se habitual incluir também nas 
coleções canônicas uma série mais ou menos ampla de decretais dos Papas. As 
primeiras coleções eram cronológicas, mas a partir do século VII aparecem coleções 
ordenadas sistematicamente. A pesquisa descobriu uma infinidade de coleções 
canônicas do primeiro milênio. Aqui só é possível aludir a algumas das que são 
fundamentais na Igreja do Ocidente. 
Embora existam precedentes mais antigos, o primeiro grande movimento 
recopilador ocidental é o denominado Renascimento gelasiano, em fins do século V 
e princípios do VI. Nesse clima, surgem coleções canônicas na África, na Península 
Ibérica, na França e na Itália. 
Destaca-se o trabalho realizado em Roma por Dionísio, o Pequeno. Esse 
famoso monge cita que recopilou cânones de concílios orientais (traduzidos para o 
latim) e africanos e decretais pontifícias. O fruto mais importante de seu trabalho é a 
Coleção Dionisiana, que se destaca entre as de sua época por seu espírito 
universal, o esforço por recolher somente textos autênticos e dar grande importância 
às decretais dos Papas. 
A Coleção Hispânica foi o código fundamental da Igreja na Espanha até o 
século IX. Sua primeira redação é datada entre os anos 633 e 636 e foi atribuída a 
Isidoro de Sevilha. Contém textos de concílios orientais, africanos, franceses e 
espanhóis e decretais pontifícias. Redações ulteriores completam-na com textos 
 14 
posteriores, especialmente concílios toledanos. Originalmente cronológica, no século 
VIII, tornou-se uma Coleção Hispânica Sistemática. 
Diante de tendências localistas que se percebem em diversas coleções 
canônicas, especialmente as francesas anteriores a Carlos Magno, os pontífices 
romanos fomentaram uma tendência ao universalismo, impulsionando a difusão do 
único material que era aceito por todos, a saber, as coleções antigas de cunho 
universalista, concretamente, a Dionisiana e a Hispânica. Responde a este propósito 
o envio pelo Papa Adriano I a Carlos Magno (774) de uma coleção, baseada 
fundamentalmente na Dionisiana, que se denominou Coleção Adriana. Da fusão 
dessa coleção com a Hispânica, surgiu no século IX a Coleção Dacheriana. 
De cunho particularista foram, em contrapartida, os abundantes livros 
penitenciais, que proliferaram nesse mesmo período e cujo foco de elaboração mais 
importante foram as Ilhas Britânicas. Eram catálogos de pecados com indicação das 
penitências que deviam ser impostas a quem os cometesse. Os exemplos mais 
antigos são do século VII. 
O método utilizado pela Santa Sé para evitar o particularismo francês foi 
enviar a Carlos Magno, em fins do século VII, uma coleção – a Adriana – que não 
era senão uma reprodução com retoques de uma coleção de começo do século VI: a 
Dionisiana. Esse método, que tinha a vantagem de apresentar textos indiscutíveis de 
venerável antiguidade, oferecia o inconveniente de não poder resolver os novos 
problemas relacionados com a independência da Igreja com relação às estruturas do 
feudalismo. Para enfrentar esses problemas, surgiram na França falsificações em 
meados do século IX, ou seja, coleções de textos que se apoiavam no prestígio dos 
cânones antigos, mas que os apresentavam junto a textos alterados ou até mesmo 
redigidos por completo pelos recopiladores. A mais famosa de todas é a Coleção 
Pseudo-Isidoriana, houve, porém, ainda outros exemplos, como as Falsas 
Capitulares, de Benito Levita (LOMBARDÍA, 2008). 
O fato das falsificações testemunha o problema fundamental do direito 
canônico desde o século IX até o século XII: a falta de um exercício do poder 
legislativo, mediante atos de eficácia universal que, em continuidade com a tradição, 
enfrentassem os novos problemas fundamentais: fazer as necessárias reformas, 
libertar a Igreja das intromissões do poder temporal e estimular o sentido de unidade 
em torno de Roma. 
 15 
Desde o século XI, vai tomando corpo esta empresa, para a qual era 
necessário o reforço do prestígio do papado. A reforma da Igreja afrontada pelo 
Papa Gregório VII tem a esse respeito uma importância decisiva, que se reflete nas 
coleções canônicas. Pressagiam a reforma gregoriana o Decreto de Burcardo de 
Worms (Alemanha) e a Coleção dos Cinco Livros (Itália). São, ao contrário, fruto 
direto da reforma a Redação gregoriana do Decreto de Burcardo, o Dictaius Papae 
de Gregório VII, a Coleção dos 74 títulos, a Coleção de Anselmo de Luca e a 
Coleção dos cânones do Cardeal Deusdedit. 
Do primeiro milênio passamos ao dito Direito Canônico Clássico que 
corresponde ao período compreendido entre os anos 1140 e 1325. Ao longo desses 
quase dois séculos, elabora-se um sistema de Direito Canônico atual, coerente e 
completo, aplicado em todo o Ocidente cristão. Cumpriu um papel decisivo na 
história do direito por suas contribuições originais. 
Esse novo direito canônico foi possível graças ao concurso de três fatores 
fundamentais: 
a) Em primeiro lugar, uma autoridade legislativa indiscutível e decidida a 
cumprir sua função. Esse papel foi desempenhado pelos Papas desse período, 
apoiados no prestígio do pontificado, que se consolidou após a reforma gregoriana, 
e na assinatura da Concordata de Worws (1122), que pôs fim à Querela das 
Investiduras, que havia originado graves tensões entre a Santa Sé e o Império 
romano-germânico. Os Papas legislaram mediante decretais, que neste período 
eram soluções para casos concretos, elevados à decisão pontifícia por autoridades 
eclesiásticas inferiores. Essas respostas eram consideradas aplicáveistambém aos 
casos análogos que pudessem ser suscitados. Além disso, é preciso ter em conta os 
cânones de alguns concílios desse período, incluídos na série dos ecumênicos, mas 
que se denominam também Concílios gerais para destacar suas diferenças com 
relação aos oito Concílios ecumênicos celebrados no Oriente durante o primeiro 
milênio. Nos Concílios gerais, o papel dos Papas era de tal modo determinante que 
dirigiam até mesmo pessoalmente suas deliberações. Correspondem à época do 
direito clássico os Concílios I de Latrão (1123), II de Latrão (1139), III de Latrão 
(1179), IV de Latrão (1215). I de Lyon (1245), II de Lyon (1274) e o Concílio de 
Vienne, celebrado entre os anos de 1311 e 1312. 
b) Em segundo lugar, uma técnica jurídica que proporcionou ao direito 
canônico, em boa parte, a recepção do direito romano. Ainda que a recepção seja 
 16 
um fenômeno que se consolida no século XII, o influxo do direito romano sobre o 
canônico nesse período tem precedentes já no século IX, do que seria um exemplo 
a coleção chamada Lex romana canonice compta. 
c) Uma ciência jurídica que interpretou e comentou os textos, assinalou as 
coincidências e discrepâncias entre direito romano e direito canônico e elaborou um 
corpo de doutrina. Nesse sentido, o surgimento das universidades foi decisivo, e 
algumas delas — especialmente a de Bolonha — converteram-se em focos de 
estudo do direito canônico. Vários dos grandes Papas legisladores desse período 
foram antes professores de direito canônico ou discípulos, na Bolonha, de célebres 
canonistas (LOMBARDÍA, 2008). 
 
2.4 O Código de 1917 
Barreto (2006) resume que desde os tempos imemoriais, a Igreja Católica 
teve as suas normas, as suas regras, fossem elas de ação, de reparação ou mesmo 
de comportamento. Havia, entretanto dois problemas: a desorganização e a 
ineficiência de vários cânones. De modo que mesmo aquelas leis elaboradas a partir 
do Concílio de Trento, não foram reunidas, organizadas, sistematizadas, o que 
caracterizava sua ineficácia, dado que eram leis e mais leis, às vezes contrárias 
entre si, às vezes repetidas, às vezes ultrapassadas. O que por sua vez, fazia com 
que a Igreja enfrentasse várias crises, sobretudo de ordem disciplinar. 
Por conta disso, vários membros da Igreja, quando da organização do 
Concílio Vaticano I, solicitaram que tais leis, ou cânones fossem revistos e 
organizados em uma única coletânea a fim de “atender com maior certeza e 
segurança à cura pastoral do povo de Deus” (CDC6, 1984, p. XXVI). Assim, o Papa 
Pio X, que estava assumindo o seu pontificado, adotou essa tarefa, incumbindo ao 
cardeal Pietro Gasparri a missão de coordenar a compilação e reforma de todas as 
leis eclesiásticas e assim culminamos com o primeiro CDC – 1917. 
Ao optar pelo sistema hodierno de codificação e imitar o sistema das 
instituições do direito romano, sobre as pessoas, as coisas e as ações, os 
reformadores compilaram os textos em cinco livros num período de doze anos, com 
a participação de vários peritos, consultores e bispos de toda a Igreja. Depois que 
Pio IX e Leão XIII ordenaram algumas partes do Direito Canônico à maneira de 
 
6
 CDC – Código de Direito Canônico. 
 17 
codificação e Pio X, pelo Motu Proprio7, de 19 de março de 1904, reviu toda a 
elaboração multissecular do citado Direito e selecionou o material aproveitável, 
expurgando seus elementos retrógrados, reduzindo-o a expressões claras, 
adequando-o às necessidades, este foi apresentado, através do seu sucessor, 
Bento XV, ao mundo, no dia 04 de dezembro de 1916. Entretanto, apenas no dia 27 
de maio de 1917, solenidade de Pentecostes, é que foi promulgado o Código de 
Direito Canônico pela constituição Providentissima Mater Ecclesia, passando a 
vigorar somente um ano depois, no dia 19 de maio de 1918. 
O CDC de 1917 traz em seu bojo cinco livros, cujo conteúdo assim se 
dispõe: 
 Livro primeiro – Normas Gerais – aborda as leis eclesiásticas dos costumes, a 
contagem dos tempos, os rescritos, os privilégios e as dispensas; 
 Livro segundo – Das Pessoas – trata dos clérigos, dos religiosos e dos 
seculares; 
 Livro terceiro – Das Coisas – enfoca os Sacramentos como o batismo, a 
confirmação, a santíssima eucaristia, a penitência, a extrema-unção, a 
ordenação, o matrimônio e os sacramentais, os lugares e templos sagrados, o 
culto divino, o magistério eclesiástico, os benefícios e outros benefícios 
eclesiásticos nos colegiados e os bens temporais da Igreja; 
 Livro quarto – Dos processos – trata dos juízos, das causas de beatificação 
dos servos de Deus e da canonização dos beatos, do modo de proceder na 
transmissão de alguns assuntos e na aplicação de algumas sanções penais; 
 Livro quinto – Dos delitos e das penas – versa sobre os delitos e as penas 
para cada um dos delitos. 
A formação dos padres foi, sem dúvida, a mais importante medida adotada 
para a organização e renovação da instituição. O Código teve capítulo especial para 
esse assunto. No Livro II, primeira parte, intitulado “Do povo de Deus”, no título III 
designado “Dos ministros sagrados ou clérigos” há distribuídos em 61 cânones, as 
normas para a formação, a adscrição8 ou incardinação9, as obrigações e direitos dos 
 
7
 Motu proprio é uma das espécies normativas da Igreja Católica, expedido diretamente 
pelo próprio Papa. A expressão motu proprio poderia ser traduzida como “de sua iniciativa própria” o 
que se opõe ao conceito de rescrito que é, em regra, uma norma expedida em resposta a uma dada 
situação. 
8
 Registro, inscrição, submissão. 
9
 Admitir (um clérigo) numa diocese. 
 18 
clérigos, bem como os motivos e como se dá a perda do estado clerical (BARRETO, 
2006). 
No Brasil, por exemplo, a laicização advinda da proclamação da república, e 
a implantação do código deram ao eclesiástico uma nova imagem daquela que até 
então o identificava, ou pelo menos assim se propôs. O que se queria era acabar 
com o que vinha acontecendo com o regime de padroado, em que o governante do 
poder político decidia sobre as ordenações sacerdotais, caracterizando o ofício 
eclesiástico como uma profissão como outra qualquer, com salário, inclusive. 
 
2.5 O Concílio Vaticano II e o Código de 1983 
A eleição de João XXIII (1958-1963), filho de camponeses, chamado pelo 
povo pobre italiano de Papa Buono, foi um verdadeiro marco na História da Igreja 
Contemporânea, pois foi ele que, em 25 de janeiro de 1959, anunciou a convocação 
do Concílio Ecumênico Vaticano II, que se iniciou em 11 de outubro de 1962 e se 
encerrou em 8 de dezembro de 1965 (STEINWASCHER NETO, 2010). 
O Vaticano II foi uma assembleia de todos os bispos católicos, destinado, 
em sua origem, a promover reformas internas na Igreja, especialmente em relação à 
unidade dos cristãos. À Assembleia foram convidados observadores protestantes e 
ortodoxos. Os trabalhos do Concílio se estenderam por quatro sessões, com 
duração de aproximadamente dois meses cada uma, de 1962 a 1965. 
Por maioria de dois terços, o Concílio aprovou 4 Constituições dogmáticas e 
pastorais, 9 Decretos e 3 Declarações (BANDEIRA, 2000). A estrutura hierárquica 
da Igreja, determinada pela constituição dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium10, 
é formada especialmente pelo episcopado (bispos), presbíteros, diáconos, religiosos 
e os leigos, estes últimos com maior inserção na Igreja através do sacramento da 
Crisma. Consolida-se como dogma o primado do Romano Pontífice (CONCÍLIO 
VATICANO II, 2002). 
O Novo Código de Direito Canônico, promulgado em 25 de janeiro de 1983, 
sob o pontificado do Papa João Paulo II, é um documento ecumênico, destinado a 
todos os homens de boa vontade, católicos e não católicos, especialmente, em 
relação aos últimos, àqueles que participam de alguma atividade ou rito na Igreja10
 Lumen gentium ou Luz dos Povos é um dos mais importantes textos do Concílio Vaticano II. 
 19 
Católica v.g.11, sacramentos como o casamento ou a crisma, padrinhos de batismo, 
associação católica (SAMPEL, 1999). 
 O Novo Código, elaborado por diversas comissões, foi dividido em sete 
livros que veremos mais abaixo. 
Sob o aspecto jurídico, o Código de Direito Canônico é um texto autêntico 
(aprovado e promulgado pelo Papa) e único (pois contém todos os cânones vigentes 
no âmbito da Igreja Católica do Ocidente) (AZEVEDO, 2001). 
Outra fonte importante é o Código de Cânones das Igrejas Orientais, 
promulgado pelo Papa João Paulo II mediante a Constituição Apostólica Sacri 
Canones, em 18 de outubro de 1990, com o título Codex Canonum Ecclesiarum 
Orientalium. Está dividido em 30 títulos (SANCHEZ, 1997). 
A sistemática do Direito Canônico Oriental assemelha-se àquela ditada pelo 
atual Código de Direito Canônico. Uma das poucas diferenças está na organização 
eclesiástica oriental, que apresenta a figura jurídica do Patriarca, imediatamente 
inferior ao Papa na hierarquia da jurisdição, com um poder supraepiscopal 
(SANCHEZ, 1997 apud STEINWASCHER NETO, 2010). 
Dividido em sete livros, o novo Código de Direito Canônico, de 1983, ficou 
assim disposto: 
Livro primeiro – Das Normas Gerais – aborda as Leis e Costumes 
eclesiásticos, os Decretos Gerais e Instruções, os Estatutos e Regimentos e os 
Ofícios Eclesiásticos. 
Livro segundo – Do Povo de Deus – versa sobre as obrigações e direitos de 
todos os fiéis (clérigos e leigos), as Associações de fiéis, a estrutura hierárquica da 
Igreja, a organização interna das igrejas particulares e os Institutos e Sociedades 
religiosas e seculares. 
Livro terceiro – Do Múnus de Ensinar da Igreja – trata do Ministério da 
Palavra, da Ação Missionária, da Educação escolar, dos Meios de Comunicação 
Social e dos Livros. 
Livro quarto – Do Múnus de Santificar da Igreja – aborda dos Sacramentos, 
do Culto Divino, do Culto dos Santos e das Imagens Sagradas, dos lugares e 
tempos sagrados. 
 
11
 V.g. verbi gratia do latim = por exemplo. 
 20 
Livro quinto – Dos Bens Temporais da Igreja – trata da aquisição, 
administração, alienação dos bens eclesiásticos em geral. 
Livro sexto – Das Sanções na Igreja – debate acerca dos delitos e das 
penas em geral, do processo penal, da aplicação e cessação das penas, dos 
diversos tipos de delitos. 
Livro sétimo – Dos Processos – trata dos diversos foros e tribunais, das 
partes no processo, das ações e exceções, do julgamento das causas e dos 
recursos, dos processos para as declarações de nulidade do matrimônio e das 
ordenações. Trata ainda dos processos administrativos e dos recursos nestes 
processos. 
Nas anotações de Barreto (2006), com relação mais especificamente à 
formação sacerdotal, pouco se mudou da estrutura admissível do código anterior, 
entretanto, no que diz respeito à doutrina e à vida eclesiástica, um novo modelo 
escolar foi edificado. O CDC aborda três aspectos cruciais para o desenvolvimento 
do seu modelo escolar; o primeiro deles está relacionado à criação dos seminários e 
o segundo foca a admissão dos candidatos ao sacerdócio e o terceiro e tão, ou mais 
importante quanto, é a formação dada aos seminaristas. 
Levando em consideração que 
 
os modelos escolares têm uma lógica generalista e, principalmente, uma 
fisionomia bem específica que incorporam, continuamente, um leque de 
ideias, experiências e práticas educacionais renovadoras (ARAÚJO; 
BARROS, 2004, p. 01). 
 
E que, com a modernidade, e mediante os progressivos avanços das 
teorizações referentes à educação escolar, os modelos educativos em supremacia, 
basicamente, estavam referenciados por um tempo, horário, edifícios, classes, 
espaços, método, saberes e regulamentos, “donde a dimensão cognitiva da 
formação da pessoa humana tendia a sobrepor-se, reforçando a aprendizagem 
como processo formativo principal [...]” (ARAÚJO; BARROS, 2004, p. 02). 
O que se vê, diante dos cânones propostos pelo CDC de 1983 é não só uma 
continuação do CDC de 1917 no tocante ao pressuposto de uma melhor formação 
sacerdotal, mas uma versão melhorada, pois além de evoluir naturalmente, 
acompanhando a modernidade, desconstrói a imagem de imparcialidade e 
 21 
radicalidade, característica do modelo adotado pela Igreja até o Concílio Vaticano II 
(BARRETO, 2006). 
De acordo com Nascimento (2005, p. 140), foi com o “Vaticano II” e as 
conferências episcopais de Medellín, Puebla e Santo Domingo que, dentre outras 
coisas, iniciou-se: 
a) a reforma litúrgica; 
b) a valorização de formas de piedade mais articuladas com a liturgia e a 
piedade popular, a difusão da Bíblia e a multiplicação dos círculos bíblicos, 
sementes da multiplicação das comunidades eclesiais de base; 
c) a criação de novos ministérios e a multiplicação dos agentes de pastoral, 
especialmente na área catequética e pastoral, a dinamização da pastoral 
vocacional; 
d) a extensão da ação pastoral a categorias e ambientes até então pouco 
assistidos (índios, negros, posseiros, pescadores, menores abandonados, 
mulheres marginalizadas, famílias incompletas, entre outros); 
e) a articulação da pastoral de conjunto e o planejamento pastoral; 
f) a defesa dos direitos humanos, mesmo a preço de grandes sacrifícios e do 
risco da vida; 
g) a promoção de muitos organismos de participação e corresponsabilidade; 
h) a solidariedade entre Igrejas irmãs; 
i) os novos empreendimentos missionários; 
j) o ensinamento episcopal, com pronunciamentos oportunos sobre os grandes 
temas nacionais. 
 22 
UNIDADE 3 – ECUMENISMO / PLURALISMO RELIGIOSO 
 
3.1 Conceitos e definições 
Ecumenismo é a busca da unidade; tendência à universalidade da união ou, 
como encontrado no dicionário de significados: 
 
Ecumenismo é a busca da unidade entre todas as igrejas cristãs. É um 
processo de entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre as 
igrejas. A ideia de ecumenismo é exatamente reunir o mundo cristão. Na 
prática, porém, o movimento compreende diversas religiões inclusive aquela 
não cristã. 
 
O termo “ecumenismo”, tradução portuguesa do conceito grego oikoumene, 
é encontrado pela primeira vez em Heródoto (séc. V). Designa a “terra habitada”, no 
sentido geográfico. Desse sentido, passa-se ao de “habitantes da terra”, indicando 
toda a humanidade. Para os gregos, o elemento que unifica a oikoumene é a cultura 
helênica. Os romanos traduzem esse termo como ecumene, colocando como 
elemento unitivo a ordem jurídica, a organização política da orbis romanus. 
É neste sentido profano que se encontra o termo “ecumenismo” na bíblia. Na 
tradução da Septuaginta12, abreviada como “LXX”, ele está, sobretudo, nos salmos e 
no livro de Isaías. No segundo testamento, oikoumene aparece 15 vezes com o 
sentido de: 
 “a terra habitada” (Mt 24,14; Lc 4,5; 21,26; Rm 10,18; Hb 1,6); 
 “os habitantes da terra” (At 17,31; 19,27; Ap 12,9); e, 
 em relação com a orbis romanus (Lc 2,1; At 24,5). 
Na bíblia, “ecumenismo” ganha também um sentido religioso, indicando o 
mundo inteiro e que tudo o que esse possui recebeu de Deus criador e a Deus 
pertence: “a mim pertence o mundo e o que ele contém” (Sl 49,12; também Is 
10,14). 
A oikoumene/mundo é onde se realiza a história da salvação, onde acontece 
o pecado, a ação dos profetas, a encarnação. Deus julgará o mundo (Is 10,14-23; Lc 
21,6; Ap 3,10; At 17,31); envia os profetas e os apóstolos para mostrar o caminho da 
salvação (Sl 48,2; Mt 24,14); o mundo será salvo, enfim, por Cristo que o glorificará 
(Hb 2,5). 
 
12
 A Septuaginta é uma tradução em língua grega da Bíblia Hebraica, o Antigo Testamento, que a 
tradição diz ter sido feita no Egito por 70 sábios, cerca de dois séculos antes de Cristo, exatamente 
em Alexandria, onde existia uma significativacomunidade hebraica. 
 23 
Na patrística, ecumenismo ganha sentido eclesiológico, associado com 
frequência à Igreja católica espalhada por toda a terra. Os termos “católico” e 
ecumene se justapõe: a Igreja é católica, isto é, espalhada por toda a terra 
(oikoumene). Orígenes13 (185-256 d.C) e Eusébio de Cesaréia (263-339 d.C.) 
entendem que a doutrina e a piedade cristãs encheram a terra (De principiis, LIV, nº 
514) e trata dos que habitam a oikoumene da Igreja de Deus (Ps15., XXXII, 8). Em 
suas diversas homilias (post scriptum), Basílio entendia que a Igreja deveria ser 
difundida por toda a terra e chegar a todas as pessoas, agrupando nela a 
diversidade das condições humanas. 
Ao longo da história do cristianismo, o termo ecumenismo foi considerado 
como expressão de comunhão na fé pela adesão às doutrinas definidas nos 
“concílios ecumênicos”. Com a divisão dos cristãos, sobretudo a partir do século XVI, 
o ecumenismo vai ganhando o sentido de esforço para restabelecer a unidade 
rompida. É nesse sentido que, a partir do século XIX, surgem iniciativas de diálogo 
entre Igrejas separadas, dando origem ao atual “movimento ecumênico” (WOLFF, 
2014). 
Vejamos algumas definições propostas por Congar (1967) com livre 
tradução: 
 
É um movimento constituído por um conjunto de sentimentos, de ideias, de 
obras e instituições, de reuniões ou de conferências, de cerimônias, de 
manifestações e de publicações que tendem a preparar a reunião, não 
apenas dos cristãos, mas das diversas Igrejas hoje existentes, numa nova 
unidade. 
 
O ecumenismo começa quando se admite que os outros – não apenas os 
indivíduos, mas também os grupos eclesiásticos como tais – tem também razão, 
ainda que afirmem coisas diferentes de nós; que possuem também verdade, 
santidade, dons de Deus, embora não pertençam a nossa cristandade. Há 
 
13
 Detalhes e aprofundamentos podem ser vistos na obra “História Eclesiástica” de Eusébio de 
Cesaréia, tradução de Wolfgang Fischer. São Paulo: Novo Século, 2002. Disponível em: 
http://www.faberj.edu.br/downloads/biblioteca/teologia/Eusebio_de_Cesareia.pdf 
14 Orígenes é um dos maiores teólogos e escritores do começo do cristianismo. Com ele iniciou-se o 
posterior constante diálogo entre a Filosofia e a fé cristã e uma tentativa de fusão das duas. O livro 
das Escrituras Sagradas, De Principiis, quer dizer LIVRO IV 
- Caps. 1-16, 19-27 – 1ª Parte, nº 5). 
 
15 Ps, sigla em latim para post scriptum e que significa “escrito depois”. 
 24 
ecumenismo quando se admite que outro é cristão não apesar de sua confissão, 
mas nela e por ela. 
O ecumenismo não é, de modo algum, o resultado sincretista de uma soma 
de Lutero ou de Calvino e de Santo Tomás do Aquino, ou do Gregório Palamas e 
Santo Agostinho. Mas enfocado a partir da vertente teológica que nos interessa, 
implica um esforço na direção de duas qualidades da vida crista que às vezes 
parecem opostas uma a outra, mas que devem ser alcançadas e conservadas 
conjuntamente: a plenitude e a pureza (NAVARRO, 1995). 
Movimento suscitado pelo Espírito Santo com vistas a restabelecer a 
unidade de todos os cristãos, a fim de que o mundo creia em Jesus Cristo. Desse 
movimento participam aqueles que invocam o Deus Trino e confessam Jesus Cristo 
como Senhor e Salvador a que, nas comunidades onde ouviram o evangelho, 
aspiram a uma Igreja de Deus, una e visível, verdadeiramente universal, enviada a 
todo o mundo para que este se converta ao evangelho e se salve para glória de 
Deus. 
Para Navarro (1995), de um ponto de vista estritamente religioso, e segundo 
as descrições expostas, parece que três elementos essenciais devem ser 
ressaltados no ecumenismo: originalidade, atitude e desejo de diálogo, 
espiritualidade. 
a) Originalidade: o ecumenismo é uma experiência inédita, original, sem 
precedentes na história do cristianismo. Sua novidade radical funda-se no fato do 
que as Igrejas, confrontadas em diálogo – superadas já a etapa da polêmica –, 
mantêm viva a convicção de que não se esgotaram as possibilidades na intelecção 
do mistério que pressupõe a realidade eclesial das outras comunidades cristãs. Por 
esse motivo, ele contradiz de maneira frontal à teoria de que tudo está dito e 
experimentado na Igreja e na teologia. 
A dimensão utópica do projeto ecumênico afasta, por um lado, o perigo de 
cair no ceticismo ou no relativismo diante da verdade que possa emanar das outras 
Igrejas, e, por outro, supera a dificuldade que se afigurava intransponível de chegar 
a ver um dia a comunhão de Igrejas separadas secularmente não apenas por uma 
leitura distinta da boa nova de Jesus, mas também por alguns condicionamentos 
sociais, geográficos e culturais que as moldaram de maneiras tão radicalmente 
diversas. 
 25 
b) Atitude e desejo de diálogo: nas descrições anteriores do ecumenismo, e 
apesar de sua notável variedade, aparece sempre como pano de fundo a atitude 
dialogar. Cabe dizer que o ecumenismo é fundamentalmente uma atitude. É também 
muitas outras coisas - organização, estrutura, estudo sistemático, entre outras, mas 
no fundo uma atitude do espírito que se define como dialogar. 
A história das relações entre os cristãos e as Igrejas separadas é a história 
do eterno monólogo. Foi a longa noite da polêmica. Cada Igreja dava sua opinião 
sobre si mesma, mas também sobre as outras. Por isso, a condenação era a forma 
habitual das relações interconfessionais. Apenas um era o agente que se 
interpretava a si mesmo e dava, além disso, a interpretação dos demais. Na atitude 
dialogar, pelo contrário, existem dois agentes. Cada um dá a própria interpretação 
de si mesmo, mas escuta a do outro. Isso porque existe vontade de escutar. Leva-se 
a sério o que os outros dizem de si mesmos. 
A atitude e desejo de diálogo, entretanto, chega cedo ou tarde à convicção 
das dificuldades que pressupõe a transposição dos limites da compreensão das 
outras Igrejas. Dificuldades devidas ao peso da própria tradição, dos próprios 
costumes, da maneira característica de apresentar e viver a fé cristã. Mas a atitude 
de diálogo, precisamente por sua consciência das limitações, produz uma incessante 
mobilidade nas formulações da problemática da desunião cristã. Por isso, é uma 
atitude criativa. Trata-se da tentativa contínua de novos enfoques, já que partir de 
um único gera oposições quase sempre irredutíveis. Ela rastreia novas pistas, forja 
utopias. Incomoda, sem dúvida, para aqueles que se conformam com a situação, 
anômala, mas segura, da desunião cristã. 
c) Movimento espiritual. Os cristãos sabem que no fundo da problemática 
ecumênica – depois dos anos belamente ingênuos das origens – existem uma 
espécie de acordo implícito e uma consciência muito viva de que as divisões são 
humanamente insuperáveis e de que a unidade terá do ser obra de Deus. A partir 
dessa convicção fundamental surge espontaneamente uma atitude orante 
(NAVARRO, 1995, p. 13-4). 
À medida que se passaram os anos, foi-se comprovando que a questão 
ecumênica não consiste apenas em resolver problemas doutrinais isolados – o tema 
da intercomunhão, ou o do reconhecimento mútuo dos ministérios, ou ainda o da 
aceitação de uma autoridade comum, entre outros. A fé cristã é um corpo total – 
 26 
uma cosmovisão – que implica também determinado comportamento ético e uma 
maneira de ver e enfrentar a vida. 
Contudo, as Igrejas cristãs se desuniram também nessas cosmovisões que 
transcendem os problemas meramente doutrinais. E, assim, cada comunhão cristã 
foi encarnando-se de tal maneira numa particularidade que a universalidade do 
evangelho sofreu deteriorações irreparáveis e foram gerados novos fatores de 
divisão. 
Pense-se, por exemplo, na apresentação latina do catolicismo romano, ou 
no caráter germânico do luteranismo, ou na britanização do anglicanismo. O 
problema se agravou quando essas visões – marcadamente eurocêntricas– foram 
apresentadas aos povos do Terceiro Mundo como inseparavelmente unidas à 
essência do evangelho. A incapacidade humana para enfrentar a questão 
ecumênica aparece assim em todo o seu realismo. A separação não provém só de 
pontos doutrinais diferentes. A divisão atinge a própria visão da vida, a leitura 
profunda do evangelho, a concepção do homem e suas relações com Deus. Por 
isso, praticamente desde o início do movimento ecumênico, as assembleias e 
reuniões ecumênicas foram quase sempre precedidas por “cultos de abertura” e se 
enclausuraram em preces interconfessionais. O Concílio Vaticano II chegará a 
afirmar que a “prece” é a alma do ecumenismo (UR 816) (NAVARRO, 1995). 
O chamado ecumenismo espiritual, que tem em Paul Couturier um de seus 
grandes inspiradores e na Semana de Oração pela Unidade (18-25 de janeiro) sua 
mais vigorosa expressão, é reflexo da consciência que existe com relação à eficácia 
da prece para obter a reconciliação cristã. A unidade – dessa perspectiva – revela-se 
então mais como “mistério” que como “problema”, e chegar a ela requer uma atitude 
orante, humilde, de súplica e oração. Não é de estranhar que o próprio padre 
Congar tenha declarado, certa ocasião, que se aproximara mais do anglicanismo 
participando dos ofícios vespertinos da “Igreja da Inglaterra” do que lendo grandes 
livros escritos por autores anglicanos (NAVARRO, 1995). 
O ecumenismo, portanto, implica uma vida teologal. Dentro do “mosteiro 
invisível” em favor da unidade – a expressão é de Paul Couturier, que com ela 
designa a oração silenciosa através do mundo que se eleva ao Pai por intermédio de 
Jesus – há algumas vivências na fé e na caridade que fazem o cristão viver num 
 
16
 Do Concílio Vaticano II, temos o Decreto Unitatis Redintegratio que dá origem à sigla UR e UR 8 
refere-se ao Ecumenismo/oração pela unidade. 
 27 
clima espiritual como se já se houvesse adiantado o tempo definitivo do reino, 
embora na realidade ele ainda não tenha chegado à sua plenitude. Viver nessa 
dialética é o que dá sentido teologal à experiência ecumênica (NAVARRO, 1995). 
Pensando pelo viés sociológico, o ecumenismo tem encontrado terreno fértil 
para reflexões e debates, principalmente a partir do século XX. 
Vamos analisar um pouco o ecumenismo como movimento social e indo 
mais longe, de renovação?! 
 
3.2 Concílios Ecumênicos 
A realização de grandes assembleias de bispos é uma prática que atravessa 
a milenar história da Igreja, animando-a constantemente. Os concílios nasceram 
espontaneamente, influenciados pelos modelos do sinédrio hebraico e do senado 
romano. Tudo indica que os encontros de bispos de uma mesma região, 
sancionando a designação de um novo bispo feita pela comunidade local através da 
consagração, estão no núcleo desta práxis que já germinava desde o século II. 
A periodicidade dos concílios não é regular, e pode dar a impressão de algo 
aleatório. A razão de sua convocação é a resolução de problemas doutrinários, 
como o enfrentamento das heresias, a necessidade urgente de reformas, os 
desafios à autoridade da igreja ou a reflexão e deliberação sobre outros temas 
significativos em determinados períodos históricos. 
 
É nos concílios que a Igreja reflete sobre si, ao se voltar para as questões 
que afetam a sua vida. Em geral, eles marcam os seus momentos mais 
significativos de vida eclesial. Também, deve-se levar em consideração seu 
longo tempo de preparação e, principalmente, o de sua aplicação e 
recepção (ALBERIGO, 1997, p. 5). 
 
Em todo concílio, a Igreja estuda como resolver os seus problemas, 
estabelece princípios ou normas, e organiza a sua implementação. 
Com base nesta história da práxis conciliar, o Papa Paulo VI se dirigiu aos 
participantes do Concílio Vaticano II dizendo: 
 
A vós, Veneráveis Irmãos, pertencerá indicar-nos as medidas para purificar 
e rejuvenescer a face da santa Igreja. Mas novamente vos manifestamos o 
nosso propósito de favorecer tal reforma: quantas vezes nos séculos 
passados este intento aparece associado à história dos Concílios! Pois seja-
o uma vez mais, e desta não já para extirpar na Igreja determinadas 
heresias e desordens gerais que, graças a Deus, agora não existem, mas 
para infundir novo vigor espiritual ao Corpo Místico de Cristo, como 
 28 
organização visível, purificando-o dos defeitos de muitos dos seus membros 
e estimulando-o a novas virtudes (PAULO VI, 1964, nº 22). 
 
Tecnicamente, um concílio ecumênico é aquele que reúne representantes da 
Igreja do mundo inteiro. Baseados nessa definição, os sete primeiros concílios 
principais são considerados ecumênicos, conforme se autonomeou o Concílio de 
Calcedônia no ano de 451. Aos sete primeiros concílios, de Niceia, em 325, ao de 
Niceia II, em 787, quase sempre compareceram bispos das partes oriental e 
ocidental do Império Romano, na época considerado o mundo inteiro, de onde vem 
o nome “ecumênico”. Mas apenas poucos bispos ocidentais participaram. O concílio 
de Niceia I, por exemplo, contou com a participação de 220 bispos, mas apenas 
alguns dentre eles eram do Ocidente. O Concílio de Constantinopla I (ano 381) teve 
apenas bispos orientais. Esses foram majoritários nos Concílios de Éfeso (ano 431), 
Calcedônia (ano 451), Constantinopla II (ano 553) e Constantinopla III (ano 680-
681). 
 
As igrejas ortodoxas consideram apenas os primeiros sete concílios como 
ecumênicos, ao contrário dos 21 reconhecidos pela Igreja Católica como 
gerais ou ecumênicos. O Concílio de Latrão I (ano 1123), o primeiro após o 
cisma do Oriente, se autonomeou geral, pois nenhum bispo oriental dele 
participou. Já o Concílio de Basileia-Ferrara-Florença-Roma (ano 1431-
1445) se autonomeou ecumênico, pois nessa ocasião os bispos ocidentais 
e orientais trataram da reunificação da Igreja (BELLITTO, 2010, p.22-3). 
 
Os leigos participaram nos atos oficiais de numerosos concílios ecumênicos. 
O imperador Constantino abriu o Concílio de Niceia com um discurso em latim. Os 
comissários imperiais vigiaram sobre a ordem externa. Na Idade Média e no Concílio 
de Trento, estiveram presentes príncipes seculares ou foram representados pelos 
seus embaixadores. A função do imperador romano nos antigos concílios foi externa, 
de tutela da ordem. Na Idade Média e no Concílio Tridentino, os leigos são os 
representantes das potências seculares, cuja colaboração aparece necessária para 
os trabalhos que se referem à ordem pública e às matérias mistas. No Vaticano I, 
não foram feitos convites aos governos. 
Algumas questões vêm à tona: os leigos, com base no sacerdócio universal 
e na sua colaboração no apostolado, poderiam ou deveriam ser ao menos ouvidos 
sobre temas que lhes dizem respeito, como apostolado dos leigos ou matrimônio? 
Os leigos, uma vez convidados, deveriam ser admitidos como peritos ou como 
membros com direito a voto? Não há fundamento para que os leigos não possam ser 
 29 
ouvidos nos temas que lhes dizem respeito, como são ouvidos sacerdotes 
especialistas em Teologia ou Direito Canônico, mesmo não sendo membros do 
concílio com direito a voto. Um passo para a solução foi dado por Paulo VI, ao 
admitir leigos qualificados como auditores nas Congregações Gerais a partir da II 
Sessão do Concílio Vaticano II. 
 
Os concílios sempre zelaram pela unidade da Igreja, mas nem sempre a 
puderam realizar. Após o primeiro e quarto concílios ecumênicos, seguiram 
longas disputas. Tanto o cisma do Oriente quanto a divisão da Igreja no 
século XVI ocorreram sem que os concílios pudessem impedir. No Concílio 
de Lyon II e no de Ferrara-Florença, a união com os orientais foi 
oficialmente restaurada, mas não se efetivou porque em ambos os casos se 
baseava em motivos políticos, sem que fossem vencidas as resistências 
internas na Igreja grega. O Concílio de Trento não pôde ser um concílio de 
união, pois quando se reuniu a ruptura eclesial jáera uma realidade. As 
negociações com os protestantes alemães (1551-1552) mostraram que as 
concepções sobre autoridade e estrutura dos concílios ecumênicos eram 
muito divergentes. Na véspera do Concílio Vaticano I, o apelo de Pio IX aos 
protestantes para retornarem à Igreja Católica foi rejeitado. Ao se preparar o 
Concílio Vaticano II, foi fundado um secretariado para a união dos cristãos, 
com resultados positivos no próprio Concílio e nos passos para 
reaproximação das igrejas (JEDIN, 1970, p. 249-50). 
 
Como anda a doutrina atual? 
Lima (2014) explica que as principais tradições do cristianismo têm 
concepções diferentes sobre a autoridade conciliar, a organização interna do 
concílio e o efeito de suas decisões. Uma vez que os cristãos ortodoxos só 
reconhecem os primeiros sete concílios e têm dificuldade em admitir um novo sínodo 
pan-ortodoxo, a tradição reformada ocidental acaba tendo posições oscilantes, tanto 
sobre os concílios passados, quanto sobre um futuro concílio ecumênico. 
A tradição católico-romana acentuou a referência ao Papa, sobretudo a partir 
da alta Idade Média, a quem cabe a direção do concílio, incluindo convocação, 
determinação do regulamento, funcionamento diário, transferência e encerramento. 
O caminhar da história parece mostrar uma progressiva redução da ecumenicidade 
dos concílios: 
 de universais a ocidentais, do primeiro para o segundo milênio; 
 de ocidentais a romanos, da primeira para a segunda metade do segundo 
milênio (ALBERIGO, 1997). 
A reaproximação e o diálogo ecumênico a partir do Vaticano II podem 
resultar, futuramente, em uma reversão desta tendência (LIMA, 2014). 
 30 
Na Igreja Católica, o papel dos concílios ecumênicos está relacionado ao 
colégio dos bispos e sua cabeça, isso é, ao grupo estável e permanente formado 
pelos bispos e seu chefe, o bispo de Roma. Segundo o Concílio Vaticano II: 
 
A natureza colegial da ordem episcopal, claramente comprovada pelos 
Concílios ecumênicos celebrados no decurso dos séculos, manifesta-se já 
na disciplina primitiva, segundo a qual os Bispos de todo o orbe 
comunicavam entre si e com o Bispo de Roma no vínculo da unidade, da 
caridade e da paz; e também na reunião de Concílios, nos quais se 
decidiram em comum, coisas importantes, depois de ponderada a decisão 
pelo parecer de muitos; o mesmo é claramente demonstrado pelos 
Concílios Ecumênicos, celebrados no decurso dos séculos. [...] O supremo 
poder sobre a Igreja universal, que este colégio tem, exerce-se solenemente 
no Concílio Ecumênico. Nunca se dá um Concílio Ecumênico sem que seja 
como tal confirmado ou pelo menos aceito pelo sucessor de Pedro; e é 
prerrogativa do Romano Pontífice convocar estes Concílios, presidi-los e 
confirmá-los (LG
17
 nº 22). 
 
Os concílios ecumênicos guardam e desenvolvem o depositum fidei. Este 
“precioso depósito” da doutrina da fé que foi confiado (1 Tm 6,20; 2 Tm 1,14), não é 
um simples catálogo de artigos ou um inventário de coisas justapostas. Mas, dada a 
natureza da mensagem da revelação e do acontecimento salvífico de Cristo, trata-se 
da totalidade das riquezas e dos bens da salvação entregues à Igreja. Ela os 
comunica aos crentes, atualizando seus conteúdos com notável prudência, a fim de 
tornar inteligível, crível e fecundo o patrimônio imutável desta verdade, ao mesmo 
tempo em que vai ao encontro das exigências e das interrogações dos homens e 
dos tempos (POZZO, 2014). 
Os concílios ecumênicos também adaptam o exercício do oficio sacerdotal e 
pastoral, bem como a legislação da Igreja, às diversas exigências dos tempos. 
Quanto maior for esta adaptação tanto mais será a sua eficácia e a sua importância 
na história. 
 
Com relação à sua interpretação, a perda dos protocolos dos trabalhos 
conciliares, no caso de Niceia, a precariedade dos mesmos nos concílios 
medievais, e mesmo a sua longa indisponibilidade, no caso do Concílio de 
Trento, fortaleceram uma hermenêutica que prescindiu do contexto histórico 
das decisões e também da natureza do evento conciliar que as expressou. 
Houve um encastelamento em uma interpretação jurídico-formal, por longo 
tempo patrocinado pela congregação romana responsável pelos concílios 
(ALBERIGO, 1997, p.10). 
 
 
17
 LG Lumem Gentium, um dos textos mais importantes do Concílio Vaticano II. 
 31 
A assistência do Espírito Santo, sobre a qual se apoia a inerrância 
(qualidade do que não pode errar, infalível) do concílio ecumênico em questão de fé 
e de costumes, não deve ser confundida com a inspiração da Sagrada Escritura. 
“Entre os teólogos se discute se essa assistência deve ser entendida só de modo 
negativo, como preservação do erro, ou como positiva cooperação. Esta última 
posição corresponde melhor ao pensamento dos antigos concílios” (JEDIN, 1970, 
p.248-50). 
 
3.3 O ecumenismo no Concílio Vaticano II 
O Concílio Vaticano II (1962-1965) teve como um dos seus principais 
objetivos promover a unidade dos cristãos (Unitatis redintegratio, nº 1). Na intenção 
do Papa João XXIII, o ecumenismo não era um tema de segunda importância, mas 
um dos elementos que configuram a Igreja conciliar, em seu ser e em seu agir. E 
para se fortalecer como um objetivo do Vaticano II, o ecumenismo perpassa a 
teologia, a espiritualidade, a eclesiologia, a missiologia do concílio. Tornou-se uma 
perspectiva da discussão dos padres conciliares em praticamente todos os 16 
documentos conclusivos do concílio, tendo como passagens mais significativas18: 
LG 8.13.15; CD 16; OT 16; DV 22; AA 27; GS 92; PO 9; AG 6.15.29.36.39. 
O Vaticano II foi um fato ecumênico. Mostram isso o seu objetivo, a 
explicitação da dimensão ecumênica das diferentes temáticas do concílio, a 
presença dos observadores cristãos não católicos romanos na Assembleia dos 
padres conciliares. A publicação do Decreto sobre o Ecumenismo, Unitatis 
Redintegratio, em 21 de novembro de 1964, foi a expressão maior da convicção 
ecumênica da Igreja conciliar. 
Vejamos um pouco sobre o Decreto Unitatis Redintegratio (UR): 
O Decreto sobre o ecumenismo foi tratado nos três períodos do concílio. 
Isso serviu como atualização ecumênica aos padres conciliares, o que possibilitou o 
documento final, em três capítulos: princípios do ecumenismo (cap. I), a prática do 
 
18
 Os números correspondem às passagens dos documentos. 
LG – Lumem Gentium. 
CD – Christus Dominus – sobre a missão dos bispos na Igreja. 
OT - Optatam Totius – sobre a formação sacerdotal. 
DV – Dei Verbum – sobre a Revelação. 
AA - Apostolicam Actuositatem – sobre o apostolado leigo. 
GS - Gaudium et Spes – Constituição Pastoral. 
PO – Presbyterorum Ordinis – sobre o ministério e a vida dos presbíteros (padres). 
AG – Ad Gentes – sobre a missão missionária da Igreja. 
 32 
ecumenismo (cap. II) e a relação com as tradições eclesiais do Oriente e do 
Ocidente, considerando as especificidades de cada uma (cap. III). 
O Decreto entende que a divisão dos cristãos “contradiz abertamente a 
vontade de Cristo”, é “escândalo” e prejudica a pregação do Evangelho (UR nº 1). 
Para mudar essa realidade surge o movimento ecumênico, por moção do Espírito 
Santo, como uma “divina vocação” e “graça” a todos os cristãos. 
Dentre os princípios que orientam a ação ecumênica, o concílio destaca: 
 o entendimento que a Igreja de Cristo é una e única, pois sendo Cristo um só, 
uma só é a comunidade que Ele quer para todos seus discípulos (Jo 17,21); 
 a unidade cristã é significada e realizada na Eucaristia; 
 tem como princípio o Espírito Santo e como modelo a Trindade; 
 é vivida em uma só fé, num mesmo culto e na fraterna concórdia; e, 
 se organiza na história em fidelidade aos Doze, tendo Pedro à sua frente (UR 
nº 2). 
É reconhecida a eclesialidade das Igrejas oriundas das reformas dos séculos 
XVI-XVIII, conferida pelos elementos ou bens da Igreja de Cristo nelaspresente, 
como a Palavra de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança e a caridade (UR nº 3; 
LG nº 15). Por esses elementos, “o Espírito de Cristo não recusa a servir-se delas 
como meios de salvação” (UR nº 3). 
Nas orientações práticas para a ação ecumênica, o Decreto destaca: 
 os esforços por eliminar palavras, juízos e ações que separam os cristãos 
(UR nº 4). 
Enfatiza: 
 o ecumenismo deve interessar a todos, fiéis e pastores (UR nº 5); 
 ele possibilita a renovação da Igreja e a fidelidade à sua própria vocação (UR 
nº 6); 
 exige a conversão do coração e da mente, a humildade e a generosidade 
para com os outros (UR nº 7); 
 fortalece na oração comum, “alma de todo o movimento ecumênico” (UR nº 
8); 
 é fundamental o conhecimento mútuo, pelo estudo das doutrinas, 
espiritualidades e costumes das tradições eclesiais (UR nº 9), bem como a 
formação ecumênica (UR nº 10); 
 33 
 propõe um método na exposição da doutrina que considere a hierarquia das 
verdades (UR nº 11); 
 incentiva a cooperação das Igrejas na ação social (UR nº 12). 
 
3.4 As Igrejas e o movimento ecumênico 
As diferentes tradições cristãs logo se integraram no movimento ecumênico, 
desde suas origens. Nas associações e no movimento missionário, havia 
representantes de praticamente todas as Igrejas do protestantismo, do anglicanismo 
e das tradições ortodoxas. Os cristãos protestantes são pioneiros das iniciativas 
ecumênicas. Dentre eles, destacam-se o metodista John Mott (1865-1955), o 
luterano Nathan Soderblon (1866-1931), o reformado holandês Willem Adolf Visser’t 
Hooft (1901-1985), os metodistas Philip Potter (1921) e Emílio Castro (1927-2013). 
Esses, entre muitos outros, contribuíram significativamente para que as Igrejas 
luteranas, reformadas e metodistas aderissem ao movimento ecumênico desde suas 
origens. 
Os anglicanos foram impulsionados ao diálogo ecumênico pelo Movimento 
de Oxford (1833-1845), que buscava recuperar as tradições primitivas do 
cristianismo, que muito favoreceu para o diálogo com a Igreja católica, sobretudo 
pelos esforços de Henry Newmann (1801-1890). Esse diálogo foi fortalecido pelas 
Conversações de Malinas (1921-1926), junto com o padre Portal e o cardeal Mercier. 
A Conferência de Lambeth, em 1920, apresentou quatro elementos fundamentais 
para a reconstituição da unidade da Igreja: as Escrituras, o Símbolo de Niceia e dos 
Apóstolos, os sacramentos e os ministérios. 
Com relação aos ortodoxos, ainda em 1902, o patriarca Joaquim III de 
Constantinopla publicou uma encíclica que muito incentivava o ecumenismo. Em 
1920, os doze metropolitas do Sínodo de Constantinopla também publicaram uma 
carta encíclica propondo a criação de uma liga das igrejas e apresentando 
elementos pastorais para isso. 
A Igreja católica teve duas posições frente ao movimento ecumênico. 
a) Resistência ao diálogo – reiteradas vezes as autoridades católicas 
recusaram o convite para participarem das iniciativas ecumênicas. Entre outras, em 
1910, pela ocasião da Conferência de Edimburgo; em 1925, na criação do 
Movimento Vida e Ação; em 1927, na criação do Movimento Fé e Constituição; em 
1948, na assembleia de fundação do Conselho Mundial de Igrejas. A primeira vez 
 34 
que a Igreja romana enviou delegados oficiais em um encontro ecumênico foi em 
1961, na assembleia do Conselho Mundial de Igrejas, em Nova Delhi. 
b) Integração na caminhada ecumênica – a abertura para o ecumenismo na 
Igreja católica surge apenas em meados do século XX, com a instrução do Santo 
Ofício Ecclesia Catholica (conhecida como De motione oecumenica), de 20 de 
dezembro de 1949, reconhecendo a importância do movimento ecumênico e 
apresentando os critérios para os católicos dele participarem. Trata-se do primeiro 
pronunciamento oficial da Igreja Católica Romana que valoriza o movimento 
ecumênico, entendendo-o como uma “inspiração da graça do Espírito Santo”. 
O caminho da Igreja católica para o ecumenismo foi aberto em cinco 
direções: 
1) Na teologia – as primeiras intuições ecumênicas no meio católico são 
encontradas em teólogos do século XIX, sobretudo Johann Adam Möhler (1796-
1838) e John Henry Newmann (1801-1890), que propunham uma concepção de 
unidade eclesial que supera a perspectiva institucionalista, juridicista e visibilista, 
própria da eclesiologia da “sociedade perfeita” de então. Mas os esforços mais 
consequentes surgem mesmo no século XX, tendo como marco a obra de Y. M. J. 
Congar, Chrétiens Désunis. Principes d´um oecuménisme catholique (1937). Na 
mesma direção estão K. Rahner, H. Urs Von Balthasar e J. Danielou, apenas para 
citar os que mais influências tiveram no Concílio Vaticano II (WOLFF, 2014). 
2) Na espiritualidade – o Papa Leão XIII, no seu Breve Providae Matris 
(1865), recomendou uma Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos na primeira 
semana de Pentecostes. Em 1867, escreve, na Carta Encíclica Divinum illud múnus, 
sobre o valor da oração em que se pede que o bem da unidade dos cristãos possa 
amadurecer. A Semana de Oração ganha força originalmente no meio protestante e 
anglicano, a partir de 1908. Quando a Society of the Atonement se tornou 
corporativamente membro da Igreja católica, o Papa Pio X concedeu, em 1909, a 
sua bênção oficial à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos no mês de 
janeiro. Mas foi Bento XV que a introduziu de maneira definitiva na Igreja católica. 
Em 1937, os padres Paul Couturier (1881-1953) e Paul Wattson (1863-1940) 
fortaleceram ainda mais a Semana de Oração pela Unidade, integrando 
decididamente as comunidades católicas. É significativo o fato de o Papa João XXIII 
ter anunciado a realização do Concílio Vaticano II no dia 25 de janeiro de 1959, 
encerramento da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. 
 35 
3) Na criação de organismos ecumênicos – o monge beneditino Lambert 
Beauduin (1873-1960) fundou, em 1925, os “monges da união”, na Bélgica, e, em 
1939, a revista Irenikon, ainda hoje uma das principais nos meios ecumênicos. Uma 
série de outros organismos ecumênicos vai surgindo pela iniciativa de católicos 
romanos, como o CentroIstina (Paris), o movimento Una Sancta (Alemanha), 
o Centro Pro Unione (Roma). 
4) Na busca do diálogo estável – entre os anos 1921 e 1925, um grupo de 
teólogos anglicanos e católicos romanos desenvolveram conversações doutrinais 
(Malines) de fundamental importância para a unidade das duas Igrejas. 
5) Na ação social – cristãos de diferentes igrejas solidarizaram-se nos 
esforços pela promoção humana, sobretudo durante os dois grandes conflitos 
mundiais (WOLFF, 2014). 
 
3.5 O ecumenismo como fenômeno social 
Navarro (1995) citando Willaime (1989) lembra que o ecumenismo como 
fenômeno social tem um primeiro impulso num contexto em que se valorizam ao 
extremo os intercâmbios ideológicos e culturais. Sem dúvida, ajudam a agilizar e 
potencializar esses espaços fluidos de circulação interideológica os “mass media”, 
que se transformam em verdadeiras mediações para o movimento ecumênico. 
A evolução do sentimento religioso contemporâneo influi também – do ponto 
de vista sociológico – no desenvolvimento do ecumenismo. Willaime fala da 
elevação do nível cultural da população e do questionamento dos esquemas de 
“autoridade”, o que leva diretamente à individualização do sentimento religioso e, às 
vezes, a uma religiosidade preferencialmente vivida, experimentada, em definitivo 
emocional. Mas ambos os fenômenos se traduzem numa relativização das 
diferenças confessionais, ou pelo menos num aparar das arestas claramente 
antagônicas entre as diversas cristandades. 
Porém, a abertura ecumênica – apesar de sua especificidade – é parte de 
um capítulo muito mais amplo no qual as Igrejas procuram (re)situar-se de maneira 
nova na sociedade. Nessa busca de um novo protagonismo social, as Igrejas se 
veem destinadas a se encontrarem diante das outras Igrejas numa relação que não 
pode estimular

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