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RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 1 APRESENTAÇÃO Olá, meu nome é Carlos Lisboa, dono do perfil @donodavaga, criado com o intuito de compartilhar experiências e dicas relacionadas ao estudo para concursos públicos, mais especificamente aqueles destinados às carreiras de procuradorias, sejam elas federais, estaduais ou municipais. Exerço o cargo de advogado da União, tendo sido aprovado também nos concursos da Procuradoria da Fazenda Nacional (PFN) e da PGM-Salvador. DO MATERIAL Com o anúncio do novo concurso para as carreiras da AGU (AU, PFN e PF), resolvi disponibilizar para venda meus materiais de estudo, os quais me acompanham desde os tempos da preparação e estão devidamente atualizados e aprimorados. Os materiais foram elaborados tendo como base a melhor doutrina de cada matéria, juntamente com a legislação correlata e a jurisprudência dos tribunais superiores (TCU, STJ e STF). Trata-se de um material completo, que serve de base para a preparação de qualquer concurso de procuradoria do Brasil, mais que suficiente para te acompanhar em todas as fases, da prova objetiva à oral. Com certeza ele irá te ajudar no caminho rumo à aprovação, para que você possa se tornar o dono da vaga. O material foi elaborado contando com o feeling de quem já passou pela fase de preparação e conhece os pontos mais importantes e o nível de aprofundamento necessário em cada tópico do edital. CONTATO Qualquer dúvida, crítica ou sugestão, entre em contato comigo! carloslisboacordeiro@hotmail.com mailto:carloslisboacordeiro@hotmail.com RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 2 ORIENTAÇÕES Meu consagrado, finalmente ficou pronto esse bendito resumo. Esse material foi feito com muito carinho, suor, café e umas pitadas de burnout. Se você não conseguia aprender direito previdenciário, chegou a hora. Se, mesmo depois do resumo compilado, continuar sem saber, tenho péssimas notícias. Sempre estude com a legislação correlata aberta, para que possa conferir se houve alguma alteração (TODO DIA sai uma lei nova). Na primeira leitura do resumo, não adentre tanto nas regras de transição. Boa parte dos editais não exigem seu conhecimento (GRAÇAS A DEUS). Deixe para estudá-las mais a fundo quando tiver certeza de que serão cobradas. Portanto, foco maior nas regras permanentes. Caso seu foco seja AGU ou PFN, estude com atenção a parte de custeio e de previdência complementar. Caso queira ser procurador federal, meus pêsames, cê tem que saber tudo, mas, principalmente, a parte dos benefícios. Para PGE e PGM, muita atenção nas regras específicas que divergem do regramento aplicável à União. No mais, qualquer dúvida, só entrar em contato. Bons estudos! RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 3 SUMÁRIO A Seguridade Social ............................................................................................................. 4 Financiamento da Seguridade Social .................................................................................. 20 Direito à Saúde .................................................................................................................. 69 Assistência Social ............................................................................................................... 91 Regimes Previdenciários .................................................................................................. 114 Benefícios dos Segurados Trabalhadores Urbanos ............................................................ 187 Benefícios dos Dependentes dos Trabalhadores Urbanos ................................................. 252 Serviços devidos ao Segurado e ao Dependente ............................................................... 270 Contagem Recíproca de Tempo de Serviço/Contribuição .................................................. 272 Decadência e Prescrição................................................................................................... 277 Cumulação de Benefícios ................................................................................................. 281 Desaposentação .............................................................................................................. 283 Regime Previdenciário dos Trabalhadores Rurais .............................................................. 287 Regime Previdenciário dos Servidores Públicos Civis ......................................................... 310 Aposentadoria dos Segurados do RPPS............................................................................. 331 Abono de Permanência em Serviço .................................................................................. 354 Pensão por Morte dos Dependentes dos Segurados do RPPS ............................................ 355 Financiamento do RPPS ................................................................................................... 365 Previdência Complementar dos Servidores Públicos ......................................................... 371 Regime Privado de Previdência Complementar ................................................................ 380 RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 4 A SEGURIDADE SOCIAL 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SEGURIDADE SOCIAL » A seguridade social origina-se da preocupação do homem em garantir seu sustento e o de sua família em situações de carência econômica, enfermidades, diminuição da capacidade de trabalho, redução ou perda de renda. –Por não conseguir apenas com o seu esforço individual, necessita do amparo do Estado. » A evolução histórica da proteção social divide-se em três etapas: a) assistência pública; b) seguro social; e c) seguridade social. 1.1. A assistência pública » Primeira etapa da proteção social foi a da assistência pública. –Fundada na caridade, inicialmente, conduzida pela Igreja e, mais tarde, por instituições públicas. » Não havia direito subjetivo do necessitado à proteção social, mas mera expectativa de direito. –Auxílio da comunidade ficava condicionado à existência de recursos destinados à caridade. » Desvinculação entre auxílio ao necessitado e caridade começou na Inglaterra (1601). –Editada a Lei dos Pobres (Act of Relief of the Poor), que reconheceu que cabia ao Estado amparar os comprovadamente necessitados. –Surgimento da assistência ou assistência social. –Cabia à Igreja a administração de um fundo, formado com a arrecadação de uma taxa obrigatória. » No Brasil, a assistência pública foi prevista pela Constituição de 1824. 1.2. O seguro social » Caridade já não era suficiente para o socorro dos necessitados. –Necessidade de outros mecanismos de proteção. » Surgimento das empresas seguradoras, com fins lucrativos e administração baseada em critérios econômicos, com saneamento financeiro. –Seguro era contratual e de natureza facultativa. Ex.: seguro de vida, seguros contra invalidez, danos, doenças, acidentes etc. –Era privilégio dos que podiam pagar, deixando fora da proteção a grande massa assalariada. » Nascimento do seguro social, na Prússia (1883) – Lei do Seguro Doença (Bismarck). –Criou o Seguro de Enfermidade, tido como o primeiro plano de Previdência Social. –Era obrigatório, conferindo direito subjetivo ao trabalhador. –Organizado e administrado pelo Estado, com custeio pelos empregadores, empregados e o próprio Estado. » Seguro social funcionava como instrumento de redistribuição de renda, que permitia o consumo. –Solidariedade ganhou contornos jurídicos – Proteção social. RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 5 » Seguro social bismarckiano não resistiu às consequências da 1ª Guerra Mundial (milhares de órfãos, viúvas e feridos, além de inflação galopante). » Tratado de Versalhes (1919) originou o primeiro compromisso de implantaçãode um regime universal de justiça social. –Fundação do Bureau International Du Travail (BIT), de suma importância na expansão da previdência social pelo mundo, tendo realizado diversas Conferências Internacionais do Trabalho: a) 1ª Conferência: desenvolvimento da previdência social e sua implantação em todas as nações do mundo civilizado; –Resultou na primeira recomendação para o seguro-desemprego. b) 3ª Conferência: extensão do seguro social aos trabalhadores da agricultura. c) 10ª Conferência: seguro-doença aos trabalhadores da indústria, do comércio e da agricultura. d) 17ª Conferência: seguros por velhice, invalidez e morte. e) 18ª Conferência: seguro-desemprego. –BIT teve papel importante na expansão da previdência social pelo mundo. » O seguro social é espécie do gênero seguro. –Embora com características próprias, tinha muito do seguro privado. –Tal qual o seguro privado, o seguro social seleciona os riscos que terão cobertura pelo fundo. –A álea (incerteza da ocorrência do sinistro) e a formação de um fundo comum, administrado de forma a garantir econômica e financeiramente o pagamento das indenizações, são características do seguro social e do seguro privado. –A amplitude e a natureza obrigatória do seguro social o diferenciam do seguro privado (facultativo). 1.3. A seguridade social » 2ª Guerra Mundial causou grandes transformações no conceito de proteção social. –Territórios devastados, trabalhadores mutilados, desempregados, órfãos e viúvas. –Necessidade de esforço internacional para a reconstrução nacional, socorro desamparados e fomento ao desenvolvimento. –Seguro social nasce da necessidade de amparar o trabalhador contra os riscos do trabalho. » Surgimento do Plano Beveridge (Inglaterra), que influenciou a legislação social europeia e americana). –Para Beveridge, o seguro social já não atendia às necessidades sociais, porque era limitado aos trabalhadores vinculados por contrato de trabalho. –Ficavam sem cobertura os trabalhadores sem vínculo de emprego, parcela que mais precisava da proteção do Estado. –Seguro social não levava em conta as responsabilidades com a família e concedia benefícios diferentes em situações em que eram os mesmos os gastos necessários das pessoas doentes e das desempregadas. » Conferência da OIT (1944) originou a Declaração de Filadélfia. –Orientação para unificação dos sistemas de seguro social, estendendo-se a proteção a todos os trabalhadores e suas famílias, abrangendo rurais e autônomos. » Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948) RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 6 –Previsão do direito à segurança, consagrando o reconhecimento da necessidade de existência de um sistema de seguridade social. » A 35ª Conferência Internacional do Trabalho (1952) aprovou a Convenção n. 102 – Norma Mínima em Matéria de Seguridade Social. –Implantação de padrões mínimos de seguridade social. –Padrão mínimo ficou garantido a uma parcela da população dos países signatários. » Passagem do seguro social para a seguridade social visou libertar o indivíduo de todas as suas necessidades para fins de desfrutar de uma existência digna. 1.3.1. Do risco social à necessidade social » No seguro social, só tinham proteção aqueles que contribuíssem para o custeio. –Noção de risco social. a) Seguro privado: contrato estabelece os riscos cobertos, conforme escolha dos contratantes. b) Seguro social: riscos são previstos em lei, são o objeto da relação jurídica de proteção social. c) Seguridade social: não está fincada na noção de risco, mas de necessidade social. –Relação jurídica só se forma após a ocorrência da contingência, isto é, da situação de fato, para reparar as consequências (necessidade) dele decorrentes. –Necessidade social: tem importância para a sociedade, para que todos os seus integrantes tenham os mínimos vitais necessários à sobrevivência com dignidade. –Contingência pode não gerar danos (ex.: salário-maternidade). –Benefícios da seguridade social: 1) Não têm natureza de indenização; 2) Podem ser voluntários, não são necessariamente proporcionais à cotização; 3) Destinam-se a prover os mínimos vitais (sobrevivência digna). 2. A SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 — NORMAS GERAIS 2.1. Conceito CF, Art. 6º São DIREITOS SOCIAIS a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (...) Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. –A solidariedade é o fundamento da seguridade social. » A seguridade social compreende o direito à saúde, à assistência social e à previdência social, cada qual com disciplina constitucional e infraconstitucional específica. RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 7 –Caso o necessitado seja segurado da previdência social, a proteção social será dada pela concessão do benefício previdenciário correspondente à contingência-necessidade que o atingiu. –Caso o necessitado não seja segurado de nenhum dos regimes previdenciários disponíveis, e preencha os requisitos legais, terá direito à assistência social. –Todos, ricos ou pobres, segurados da previdência ou não, têm direito à saúde (art. 196). CF, Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. » Todos os que vivem no território nacional, de alguma forma, estão ao abrigo do “grande guarda- chuva da seguridade social”, pois é direito social, cujo atributo principal é a universalidade, –Todos têm direito a alguma forma de proteção, independentemente da condição socioeconômica. –É instrumento de bem-estar e de justiça social, e redutor das desigualdades sociais. » O direito subjetivo às prestações de seguridade social depende do preenchimento de requisitos específicos: a) Previdência social: é necessário ser segurado, ou seja, contribuir para o custeio do sistema – assemelha-se ao antigo seguro social. b) Saúde: direito de todos e independe de contribuição para o custeio. c) Assistência social: dado a quem dela necessitar, na forma da lei, também independente de contribuição para o custeio. » Prestações de seguridade social é o gênero do qual benefícios e serviços são espécies. –Os benefícios são as prestações pagas em dinheiro. 2.2. A relação jurídica de seguridade social » A seguridade social engloba três tipos diferentes de relações jurídicas: relação jurídica de previdência social, relação jurídica de assistência social e relação jurídica de assistência à saúde. –São sujeitos da relação jurídica de seguridade social: a) Sujeito ativo: quem dela necessitar; RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 8 b) Sujeito passivo: os poderes públicos (União, Estados e Municípios) e a sociedade. Do tripé que compõe a seguridade, apenas, a relação jurídica previdenciária se aproxima da noção civilista de seguro, porque sempre dependerá do pagamento de contribuições do segurado. Porém, não há contrato, mas, sim, situações cuja cobertura sempre é definida, taxativamente, pela Constituição e pela legislação infraconstitucional. » O objeto da relação jurídica de seguridade social não é o risco (ao contrário do seguro civil), mas a contingência que gera a consequência-necessidade, objeto da proteção. –A relação jurídica de seguridade social nasce após a ocorrência da contingência, para, então, reparar a consequência-necessidade decorrente. –Ascontingências estão enumeradas na CF (são as prestações de seguridade social). –As prestações são gênero, das quais são espécies os benefícios e os serviços. 2.3. Princípios CF, Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos (princípios): Objetivos (princípios) são aplicáveis apenas à seguridade social. –Caracterizam-se pela generalidade e veiculam os valores que devem ser protegidos. –São fundamentos da ordem jurídica que orientam os métodos de interpretação das normas e, na omissão, são autênticas fontes do direito. I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - equidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis específicas para cada área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social, preservado o caráter contributivo da previdência social; RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 9 VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. 2.3.1. Universalidade da cobertura e do atendimento CF, Art. 194. (...) Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos (princípios): I - universalidade da cobertura e do atendimento; » Todos os que vivem no território nacional têm direito ao mínimo indispensável à sobrevivência com dignidade, não podendo haver excluídos da proteção social. –Princípio tem dois aspectos: a) Universalidade da cobertura; e b) Universalidade do atendimento. 2.3.1.1. Universalidade da cobertura » Seguridade social deve cobrir todos os riscos ou contingências sociais possíveis (doença, invalidez, velhice, morte etc.). –Cobertura envolve prevenção, proteção propriamente dita e recuperação. » Princípio não garante que todos têm direito a reclamar prestações por qualquer estado de necessidade, mas, sim, que poderá gozar desse direito quando cumprir certos requisitos previstos pelo ordenamento jurídico e em determinada circunstância. 2.3.1.2. Universalidade do atendimento » Universalidade do atendimento refere-se aos sujeitos de direito à proteção social. –Todos os que vivem no território nacional têm direito subjetivo a alguma das formas de proteção do tripé da seguridade social (assistência, previdência e saúde). » A seguridade social, diferentemente do seguro social, deixa de fornecer proteção apenas para algumas categorias de pessoas para amparar toda a comunidade. –Desborda da restrição classista. 2.3.2. Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais CF, Art. 194. (...) Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos (princípios): (...) RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 10 II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; » CF/88 consagra o princípio da isonomia, garantindo uniformidade e equivalência de tratamento, entre urbanos e rurais, em termos de seguridade social. CF, Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) » Uniformidade significa que o plano de proteção social será o mesmo para trabalhadores urbanos e rurais. –Valor das prestações pagas a urbanos e rurais deve ser proporcionalmente igual (equivalência). –Benefícios devem ser os mesmos (uniformidade), mas o valor da renda mensal é equivalente, não igual, pois o cálculo dos benefícios se relaciona diretamente com o custeio da seguridade. –Urbanos e rurais têm formas diferenciadas de contribuição para o custeio. 2.3.3. Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços CF, Art. 194. (...) Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos (princípios): (...) III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; » Aplicação do princípio ocorre no momento da elaboração da lei. –Desdobra-se em duas fases: a) Seleção de contingências; e –Legislador selecionará contingências geradoras das necessidades que a seguridade deve cobrir. –Deve considerar a prestação que garanta maior proteção social, maior bem-estar. –Escolha deve recair sobre as prestações que tenham maior potencial para reduzir a desigualdade, concretizando a justiça social. b) Distribuição de proteção social. –A distributividade propicia que se escolha o universo dos que mais necessitam de proteção. » Sistema de proteção social visa a justiça social, a redução das desigualdades sociais (e não a sua eliminação). –Garantia dos mínimos vitais à sobrevivência com dignidade. 2.3.4. Irredutibilidade do valor dos benefícios CF, Art. 194. (...) Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos (princípios): (...) IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; » Os benefícios (prestações pecuniárias) não podem ter o valor inicial reduzido. –Benefício deve suprir os mínimos necessários à sobrevivência com dignidade, não podendo sofrer redução no seu valor mensal. RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 11 » Brasil passou por crise inflacionária grave (década de 1980) que corroeu os salários e benefícios previdenciários. –A CF/88 previu revisão geral para os benefícios de prestação continuada em manutenção, na tentativa de preservação de seu valor originário. ADCT, Art. 58. Os benefícios de prestação continuada, mantidos pela previdência social na data da promulgação da Constituição, terão seus valores revistos, a fim de que seja restabelecido o poder aquisitivo, expresso em número de salários-mínimos, que tinham na data de sua concessão, obedecendo-se a esse critério de atualização até a implantação do plano de custeio e benefícios referidos no artigo seguinte. Parágrafo único. As prestações mensais dos benefícios atualizadas de acordo com este artigo serão devidas e pagas a partir do sétimo mês a contar da promulgação da Constituição. –Regra durou até a implantação do plano de custeio e benefício (Lei 8.213/91). » Princípio da irredutibilidade é reafirmado no art. 201, § 4º da CF: CF, Art. 201. (...) § 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei. 2.3.5. Equidade na forma de participação no custeio CF, Art. 194. (...) Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos (princípios): (...) V - equidade na forma de participação no custeio; » A equidade na forma de participação no custeio não corresponde ao princípio da capacidade contributiva. –Conceito de “equidade” está ligado à ideia de “justiça”, mas não à justiça em relação às possibilidades de contribuir, e sim à capacidade de gerar contingências que terão cobertura pela seguridade social. » Equidade na participação nocusteio deve considerar a atividade exercida pelo sujeito passivo e sua capacidade econômico-financeira. –Quanto maior a probabilidade de a atividade exercida gerar contingências com cobertura, maior deverá ser a contribuição. 2.3.6. Diversidade da base de financiamento CF, Art. 194. (...) Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos (princípios): (...) VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis específicas para cada área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência social, preservado o caráter contributivo da previdência social; A EC 103/19 alterou o inciso VI, passando a determinar que cada setor da Seguridade Social (previdência, saúde e assistência) tenha rubricas contábeis específicas, com identificação das receitas e despesas vinculadas, preservado o caráter contributivo da previdência social, o que tem como objetivo dar transparência e confiabilidade à arrecadação e aplicação dessas verbas. . RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 12 » O financiamento da seguridade social é responsabilidade de toda a sociedade. CF, Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social; III - sobre a receita de concursos de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. –Aplicação do princípio da solidariedade, que impõe a todos os segmentos sociais (Poder Público, empresas e trabalhadores) a contribuição na medida de suas possibilidades. » Outras fontes de custeio podem ser instituídas para garantir a expansão da seguridade social. CF, Art. 195. (...) § 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I. –Novas fontes de custeio só podem ser criadas por meio de LC, desde que não cumulativas e que não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos já discriminados na CF. CF, Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não- cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição; 2.3.7. Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa. Participação da comunidade CF, Art. 194. (...) Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos (princípios): (...) VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. » Caráter democrático é destacado pela gestão quadripartite, com a participação, em seus órgãos colegiados, de representantes dos: a) Trabalhadores; b) Empregadores; c) Aposentados; e do RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 13 d) Poder Público. » Atuam junto aos conselhos de órgãos colegiados de deliberação cujas atribuições estão restritas ao campo da formulação de políticas públicas de seguridade e controle das ações de execução. Ex.: Conselho Nacional de Assistência Social (art. 17 da Lei n. 8.742/93); Conselho Nacional de Saúde (art. 1º da Lei n. 8.142/90); e Conselho Nacional de Previdência Social (art. 3º da Lei n. 8.213/91). » Descentralização significa que a seguridade social tem um corpo distinto da estrutura institucional do Estado. –No campo previdenciário, destaca-se o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), autarquia federal encarregada da execução da legislação previdenciária. 2.3.8. A regra da contrapartida » Regra não prevista expressamente como princípio, mas disposta no art. 195, § 5º da CF: CF, Art. 195. (...) § 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. –Seguridade social só pode ser efetivada com o equilíbrio de suas contas, com a sustentação econômica e financeira do sistema. Por isso, opera com conceitos atuariais. –A CF quer o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema, de forma que a criação, instituição, majoração ou extensão de benefícios e serviços devem estar calcadas em verbas já previstas no orçamento. Na área da previdência social, há disposição específica no caput do art. 201 da CF: a previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e filiação obrigatória, observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema. CF, Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: 3. FONTES DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO » Direito Previdenciário tem suas bases assentadas na Constituição Federal. RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 14 –Há extenso rol de normas jurídicas infraconstitucionais sobre a matéria. » Observância aos princípios da supremacia da Constituição e da hierarquia das leis. –Espécies normativas não podem exceder os limites traçados pela CF. » São fontes do Direito Previdenciário: a) Constituição Federal; b) Emenda Constitucional; c) Lei Complementar; d) Lei Ordinária; e) Lei Delegada; –Até o momento nunca utilizada em matéria previdenciária. f) Medida Provisória; g) Decreto Legislativo; h) Resolução do Senado Federal; i) Atos Administrativos Normativos; Ex.: Instrução Normativa, Ordem de Serviço, Circular, Orientação Normativa, Portaria etc. j) Jurisprudência dos Tribunais Superiores e da Turma Nacional de Uniformização dos JEF’s. 4. INTERPRETAÇÃO DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO » A interpretação da norma jurídica impõe a localização topográfica da matéria na Constituição. –A seguridade social está situada no Título VIII – Da Ordem Social. » É direito social, um dos instrumentos de preservação da dignidade da pessoa humana e de redução das desigualdades sociais e regionais, que são respectivamente fundamento e objetivo do Estado Democrático de Direito. CF, Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como FUNDAMENTOS: (...) III - a dignidade da pessoa humana; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 3º Constituem OBJETIVOS fundamentais da República Federativa do Brasil: III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; É com o trabalho que o homem sustenta a si e à sua família, do que resulta que só há dignidade humana quando houver trabalho. . –O art. 6º da CF relaciona os direitos sociais: RESUMO COMPILADODireito Previdenciário 15 CF, Art. 6º São DIREITOS SOCIAIS a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. » Também são direitos sociais os voltados ao trabalhador com relação de emprego. CF, Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) » Atenção para o art. XXV da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1948), subscrita pelo Brasil: 1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, o direito à segurança, em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social. » Os fundamentos do Estado Democrático de Direito e os objetivos fundamentais da República apontam para o conceito de justiça social. –A dignidade da pessoa humana, o valor social do trabalho, a solidariedade social, o desenvolvimento, a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das desigualdades sociais e regionais e a promoção do bem de todos são os alicerces, os princípios e diretrizes norteadores da elaboração, da interpretação e da aplicação do direito. –A interpretação da legislação previdenciária nunca pode acentuar desigualdades nem contrariar o princípio da dignidade da pessoa humana. 5. APLICAÇÃO DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO 5.1. Aplicação no tempo » A LINDB disciplina a vigência da lei no tempo e no espaço. LINDB, Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficialmente publicada. Vacatio legis. LC 95/98, Art. 8o A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. § 1o A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. Princípio da vigência sincrônica: a lei começa a vigorar em todo país ao mesmo tempo, sem prazos de vigência diferenciados em relação a suas regiões. Exceção: lei orçamentária, que entra em vigor no dia 1º de janeiro do ano seguinte ao de sua aprovação. RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 16 § 1o Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 meses depois de oficialmente publicada. Vacatio legis para os Estados estrangeiros é de 3 meses. § 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação. Recomeça a correr a vacatio legis se, antes da lei entrar em vigor (enquanto ainda corria a vacatio legis), ocorrer correção em seu texto. § 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova. Correção do texto da lei: –Antes da entrada em vigor: recomeça a correr a vacatio legis; –Lei já em vigor: considera-se lei nova. Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. Princípio da continuidade das leis. –Leis, em regra, têm vigor até que outra a modifique ou revogue, salvo se possuir vigência temporária. § 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. Lei posterior revoga a anterior: a) declaração expressa; b) incompatibilidade; ou c) regule inteiramente a matéria da anterior (revogação por norma geral). § 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. Lei geral ou especial não revoga nem modifica a anterior. 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Vedação à repristinação automática. (...) Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. CF, Art. 5º. (...) XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 17 Ex.: um contrato anterior já celebrado e que esteja gerando efeitos. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré- estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. Direito adquirido é o direito material ou imaterial incorporado no patrimônio jurídico de uma pessoa natural, jurídica ou ente despersonalizado. Ex.: benefício previdenciário desfrutado por alguém. Embora a condição suspensiva gere expectativa de direito, quando há uma lei nova, o ordenamento jurídico protege o direito adquirido por condição pré-estabelecida (direito ao cumprimento do contrato caso a condição venha a se realizar). –A lei nova respeita o direito condicionado, verificada (ocorrida) a condição. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. .. » Regras são importantes em razão das constantes modificações legislativas. –Em matéria previdenciária, aplica-se o princípio tempus regit actum: aplica-se a lei vigente na data da ocorrência do fato, da contingência geradora da necessidade com cobertura pela seguridade social. Ex.: a pensão é concedida de acordo com as normas vigentes na data do óbito do segurado, porque o óbito é a contingência geradora de necessidade com cobertura previdenciária. Pode ocorrer que as normas relativas à pensão por morte sejam modificadas após o óbito, trazendo benefícios para os pensionistas. Os pensionistas, então, pedem a revisão do valor do benefício ao fundamento de que a lei nova é mais vantajosa. A jurisprudência, entretanto, tem sucessivamente reafirmado que, nesse caso, se aplica a lei vigente na data do óbito, impossibilitando a aplicação das novas regras à pensão anteriormente concedida. –Foi o que ocorreu com a Lei n. 9.032/95, que alterou o coeficiente da pensão por morte para 100% do salário de benefício (a legislação anterior previa percentual inferior). –Muitos pensionistas pleitearam a majoração do coeficiente. –STF decidiu que, nessa situação, aplica-se a lei vigente na data do óbito do segurado (tempus regit actum). STF/RE 415.454. Concessão do referido benefício ocorrida em momento anterior à edição da Lei no 9.032/1995. No caso concreto, ao momento da concessão, incidia a Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991 (...) Levantamento da jurisprudência do STF quanto à aplicação da lei previdenciária no tempo. Consagração da aplicação do princípio tempus regit actum quanto ao momento de referência para a concessão de benefícios nas relações previdenciárias. (...) De igual modo, ao estender a aplicação dos novos critérios de cálculo a todos os beneficiários sob o regime das leis anteriores, o acórdão recorrido negligenciou a imposição constitucional de RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 18 que lei que majora benefício previdenciário deve, necessariamente e de modo expresso, indicar a fonte de custeio total(CF, art. 195, § 5º). (...) Ausência de violação ao princípio da isonomia (CF, art. 5º, caput) porque, na espécie, a exigência constitucional de prévia estipulação da fonte de custeio total consiste em exigência operacional do sistema previdenciário que, dada a realidade atuarial disponível, não pode ser simplesmente ignorada. O cumprimento das políticas públicas previdenciárias, exatamente por estar calcado no princípio da solidariedade (CF, art. 3º, I), deve ter como fundamento o fato de que não é possível dissociar as bases contributivas de arrecadação da prévia indicação legislativa da dotação orçamentária exigida (CF, art. 195, § 5º). Salvo disposição legislativa expressa e que atenda à prévia indicação da fonte de custeio total, o benefício previdenciário deve ser calculado na forma prevista na legislação vigente à data da sua concessão. A Lei no 9.032/1995 somente pode ser aplicada às concessões ocorridas a partir de sua entrada em vigor. –O julgado assenta que a retroatividade pode ocorrer quando a lei expressamente a ressalvar, desde que atendida a prévia indicação da fonte de custeio total. CF, Art. 195. (...) § 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total. » Em alguns casos a alteração da legislação previdenciária produz grandes discussões. Ex.: alteração do regime jurídico das aposentadorias dos servidores públicos e das aposentadorias do RGPS, introduzida pela EC n. 20/98 e, posteriormente, pelas EC’s 41/03, 47/05 e 103/19. –As EC’s e a legislação que se seguiu atingiram segurados de ambos os regimes que ainda não haviam cumprido todos os requisitos para a aposentadoria. –Surgiu discussão sobre eventual direito adquirido à aposentadoria pelas normas vigentes antes das alterações constitucionais. –O direito aos benefícios previdenciários impõe o cumprimento de diversos requisitos, dentre eles o cumprimento de carências. Ex.: nas aposentadorias por tempo de contribuição, comprovação de períodos de, no mínimo, 30 anos. –No Brasil não existe legislação previdenciária que tenha vigorado por tanto tempo, sendo comum que se modifique antes que os requisitos tenham sido cumpridos. » Para a doutrina, a interpretação mais consentânea com os fins da Seguridade Social é a de que se adquire o direito ao benefício na conformidade das normas vigentes quando do ingresso no sistema – Princípio da segurança jurídica. –Entretanto, tal posição não é encampada pelo STF, que vem decidindo que não há direito adquirido a regime jurídico. –Para a Corte, os benefícios previdenciários são concedidos e calculados de acordo com as normas vigentes na data em que foram cumpridos todos os requisitos para a sua concessão. STF/MS 26.646. A aposentadoria rege-se pela lei vigente à época do preenchimento de todos os requisitos conducentes à inatividade (...) É o momento em que preenchidos os requisitos para aposentadoria que define a legislação que será aplicada ao caso, não cabendo falar-se em direito adquirido a regime jurídico anterior ao tempo em que preenchidos tais requisitos (...) Outrossim, é cediço na Corte que não há direito adquirido a regime jurídico, aplicando-se à aposentadoria a norma vigente à época do preenchimento dos requisitos para sua concessão. 5.2. Aplicação no espaço RESUMO COMPILADO Direito Previdenciário 19 » As normas previdenciárias se aplicam a todos que vivem no território nacional, conforme o princípio da territorialidade. –Há situações em que a lei prevê proteção previdenciária no Brasil para pessoas que estão fora do território nacional. Lei n. 8.213/91, Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: I - como empregado: (...) c) o brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior; (...) d) aquele que presta serviço no Brasil a missão diplomática ou a repartição consular de carreira estrangeira e a órgãos a elas subordinados, ou a membros dessas missões e repartições, excluídos o não-brasileiro sem residência permanente no Brasil e o brasileiro amparado pela legislação previdenciária do país da respectiva missão diplomática ou repartição consular; Situação dos diplomatas estrangeiros que prestam serviços no Brasil. –Em regra, estão protegidos pela legislação previdenciária do país de origem. –Porém, se estão no Brasil prestando serviços à missão diplomática ou à repartição consular de carreira estrangeira e a órgãos a ela subordinados, são segurados empregados. Se o estrangeiro não tiver residência permanente no Brasil, não será segurado obrigatório do RGPS. e) o brasileiro civil que trabalha para a União, no exterior, em organismos oficiais brasileiros ou internacionais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo se segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio; Não será segurado obrigatório do RGPS se estiver segurado na forma da legislação vigente do país do domicílio. . » Brasil tem assinado tratados internacionais em matéria previdenciária (Portugal, Cabo Verde, Itália, Espanha, Argentina, Chile, Uruguai, Japão, Estados Unidos etc.). –Havendo reciprocidade previdenciária entre os países, os segurados neles poderão obter benefícios previdenciários. –A aplicação dos Acordos Internacionais está prevista no Regulamento da Previdência Social. Decreto 3.048/99, Art. 32. (...) § 18. Para fins de cálculo da renda mensal inicial teórica dos benefícios por totalização, no âmbito dos acordos internacionais, serão considerados os tempos de contribuição para a previdência social brasileira e para a do país acordante, observado o disposto no § 9º.
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