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LT1_Direito_Negociação_Internacional_12jun19.RPaula_12jun19.FKarina

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Direito e Negociação Internacional 
 
Unidade I 
 
 
Profa. Maísa E. Raele Rodrigues 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 RODRIGUES, Maisa Emilia Raele 
 Direito e Negociação Internacional/Maisa E. Raele 
Rodrigues, 
 São Paulo, 2019. 
 
 Total de fls.: 54 
 
Mestre em Direito das Relações Sociais – PUC-SP, professora 
dos cursos de pós-graduação Unip, FEI, Anhembi Morumbi, 
BSP, OABSP. Advogada, ex-juíza classista do trabalho. 
 
1. Direito Internacional Público. 2. Direito Internacional 
Privado. 3. Sujeitos de Direito Internacional. 4. Atos 
Internacionais. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP.III. Título. 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Nossa proposta no presente estudo é apresentar ao aluno o direito 
internacional como ramo da ciência jurídica e o modo pelo qual ele permeia nossa 
vida, em especial os impactos diretos que exerce sobre o marketing internacional e a 
formação de traders. Há intrínsecas e complementares relações entre o ambiente 
político dos estados, fundamental para questões relativas ao marketing internacional 
e o direito internacional, a começar pelo reconhecimento do direito de soberania aos 
países. 
Não é incomum incorrer-se na desenganada ilação de que o direito 
internacional é algo distante de nosso dia a dia e nenhum reflexo tem em nossas vidas; 
ao revés, esse ramo do direito atua em nosso cotidiano de maneira contínua, 
silenciosa e, no mais das vezes, imperceptível, indo muito além do ofício de 
normatizar as relações entre estados e organizações internacionais. 
Na primeira década do século XXI, a Sociedade Americana de Direito 
Internacional (American Society of International Law) elaborou um estudo no qual 
procurou identificar dezenas de possibilidades de ação do direito internacional em 
nossa vida diária. Foram estudadas as influências deste ramo do direito em diversos 
âmbitos sociais, dos quais destacamos nesta apresentação as atividades comerciais. 
No que se refere às atividades comerciais, muitas são as injunções do direito 
internacional nesta área. Tome-se como paradigmas: a padronização e definição de 
termos do comércio, que facilitam sobremaneira as respectivas transações, dos quais 
os incoterms são modelos; a segurança e eficiência nas transações internacionais, 
favorecidas, por exemplo, pela Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de 
Compra e Venda Internacional de Mercadoria - CISG; a proteção a todos os trabalhos 
decorrentes da expressão criativa por meio do direito internacional da propriedade 
intelectual; a possibilidade de o transporte de bens pelo mar ocorrer em melhores 
condições em razão da observância de vários acordos internacionais (Convenção das 
Nações Unidas sobre o Direito do Mar) etc. 
Nossa finalidade é dar conhecimento ao profissional de marketing internacional 
de técnicas jurídicas internacionais que proporcionem capacitação ideal para atuação 
nesse ambiente, assim como desenvolver com segurança relações negociais. O 
presente trabalho está alicerçado em embasamento teórico de renomados autores no 
assunto, além de possuir caráter propedêutico, isto é, objetiva a introdução e 
desenvolvimento de noções preliminares de modo a possibilitar ao aluno um 
pensamento crítico e analítico sobre o direito internacional. 
Os conteúdos são apresentados em ordem evolutiva, de forma a permitir ao 
aluno o conhecimento preliminar de questões elementares para a seguir enfrentar 
temas de mais complexidade. Este estudo divide-se em dois livros-texto, sendo que a 
primeira trata de lineamentos básicos do direito internacional público e privado, e a 
segunda dispõe sobre questões de mais especificidade. No final das unidades 
encontra-se à disposição para consulta um rol de referências bibliográficas disposto a 
elastecer e auxiliar o conhecimento dos alunos. 
 
 
 
 
 
Estrutura dos livros-texto de Direito e Negociação Internacional 
 
Livro-texto 1 Livro-texto 2 
 Introdução 
 Direito internacional: conceito, 
objeto, formação, pluralidade de 
estados soberanos, comércio 
internacional, princípios jurídicos 
coincidentes, divisões do direito 
internacional 
 Sociedade internacional: 
conceito, pressupostos para a 
existência do direito internacional, 
formação e existência, 
características 
 Gênese e edificação do direito 
internacional 
 Fundamentos do direito 
internacional 
 Ordem jurídica internacional 
 Fontes do direito internacional 
 Direito internacional privado: 
denominação, conceito, objeto, 
natureza de suas normas, fontes, 
elementos de conexão 
 Aplicabilidade do direito 
estrangeiro 
 Direito internacional X norma 
interna 
 Sujeitos de direito internacional: 
definição, requisitos, classificação, 
sujeitos hodiernamente 
considerados, questões polêmicas 
 Atos internacionais: conceito e 
instrumentalização 
Tratados: regulamentação, 
classificação e desenvolvimento, 
efeitos jurídicos, tratado e lei interna, 
capacidade para celebrar tratados 
 
 Direito do comércio internacional 
 Comércio internacional: 
integração econômica, negociações 
multilaterais de comércio 
 UNCITRAL, Lex Mercatoria 
 Contratos internacionais sob a 
ótica jurídica: conceito, 
internacionalidade do contrato 
 Contratos internacionais X 
contratos nacionais 
 Lei de regência: princípio da 
autonomia, norma de regência, 
uniformização das legislações 
 Foro competente 
 Cláusula hardship: essencialidade 
 Direito internacional da 
propriedade intelectual 
 Direito internacional marítimo: 
conceito, gênese e desenvolvimento 
 Normas sobre direito marítimo ao 
longo da história 
 Fontes jurídicas hodiernas 
 Direito marítimo X direito de 
navegação 
 Espaços marítimos 
 Organismos marítimos 
 Embarcação: definição, 
especificidades, proprietário da 
embarcação, armador 
 Contrato de transporte marítimo: 
especificidades e responsabilidade 
civil 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO 10 
 
1. DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 12 
1.1 Um conceito 12 
1.2 Objeto do direito internacional público 13 
1.3 Formação do direito internacional público 14 
1.3.1 Pluralidade de Estados Soberanos 14 
1.3.2 Comércio internacional 16 
1.3.3 Princípios jurídicos coincidentes 17 
1.4 Divisões do direito internacional 17 
1.5 Sociedade internacional 17 
1.5.1 Um conceito 18 
1.5.2 Pressupostos para a existência do direito internacional 18 
1.5.3 Formação e existência 18 
1.5.4 Características 19 
1.6 Gênese e edificação do direito internacional 20 
1.7 Fundamento do direito internacional público 23 
1.8 Ordem jurídica internacional 24 
1.9 Fontes do direito internacional público 25 
 
2. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 28 
2.1 Denominação 28 
2.1.1 Um conceito 28 
2.2 Objeto/função 29 
2.3 Natureza das normas de direito internacional privado 30 
2.4 Fontes de direito internacional privado 30 
2.5 Elementos de conexão 31 
2.6 Aplicabilidade do direito estrangeiro 33 
2.7 Direito internacional X norma interna 33 
 
3. SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL 35 
3.1 Definição 35 
3.2 Requisitos 35 
 
 
3.3 Classificação 36 
3.3.1 Sujeitos de direito internacional hodiernamente considerados 36 
3.3.2 Questões polêmicas 39 
 
4. ATOS INTERNACIONAIS 41 
4.1 Um Conceito 41 
4.2 Instrumentalização 41 
4.2.1 Tratados 41 
4.2.1.1 Regulamentação/classificação/desenvolvimento 42 
4.2.1.2 Síntese da elaboração dos tratados 44 
4.2.1.3 Efeito jurídicos dos tratados 46 
4.2.1.4 O tratado e a lei interna 46 
4.2.1.5 Capacidade para celebrar tratados 46 
4.2.1.6 Tratados sobre direitoshumanos 47 
4.2.1.7 Tratados comerciais 47 
4.2.2 Conferência 48 
4.2.3 Convenção 48 
4.2.4 Protocolo 49 
4.2.5 Pacto 49 
4.2.6 Declaração 49 
Considerações finais 50 
Referências 52 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
INTRODUÇÃO 
 
Nenhuma sociedade subsiste sem lineamentos mínimos de ordem, segurança, 
justiça e solidariedade, uma vez que o conflito de interesses sempre estará presente. 
Na sociedade internacional não é diferente, haja vista as inúmeras disputas entre os 
atores sociais que, em regra, possuem interesses distintos. 
Desta forma surge o direito internacional, que se manifesta por meio da 
sociedade internacional com a finalidade de estabelecer uma norma jurídica 
internacional impregnada de princípios éticos, que regule as relações mútuas entre os 
estados soberanos e as demais pessoas internacionais, além de promover a 
coordenação entre as pretensões dos estados de modo que os interesses de um não 
prevaleçam sobre os interesses dos outros. 
De outra parte, o direito internacional privado tem por objetivo indicar as leis 
que orientam as relações jurídicas firmadas entre indivíduos de países diferentes, bem 
como normatizar conflitos entre Estados e particulares indicando, no mais das vezes, 
a lei a ser utilizada, seja interna ou externa. 
Os fenômenos da globalização e mundialização no século XX implementaram 
uma nova ordem geopolítica mundial, impondo a necessidade da criação de um ramo 
jurídico que opere de forma extraterritorial, apto a regular direitos e deveres dos atores 
internacionais. O direito internacional público e o direito internacional privado estão 
cada vez mais presentes em nosso cotidiano, sobretudo nas relações comerciais, mas 
ainda são desconhecidos e pouco estudados, demandando assim análise mais 
apurada, de modo a conferir efetividade a tais relações. 
O direito do comércio internacional também assume grande destaque no direito 
internacional, motivo pelo qual elegemos tratar de temas introdutórios a ele relativos, 
tais como os movimentos de codificação internacional e unificação jurídica, além do 
novo direito surgido na comunidade dos comerciantes, conhecido como Lex 
Mercatoria. 
No presente estudo, procuramos oferecer uma visão básica e geral do direito 
internacional público e do direito internacional privado, bem como seus institutos e 
desdobramentos, abrangendo conceitos e diferenças entre os dois ramos do direito, 
suas fontes, atos internacionais, sujeitos de direito internacional, direito do comércio 
internacional, contratos internacionais sob a ótica jurídica e direito internacional 
marítimo, de maneira a propiciar uma ferramenta capaz de auxiliar na compreensão e 
solução de intricadas questões com conexões internacionais, que refletem 
inexoravelmente em nossa vida diária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
10 
1. DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 
 
O direito internacional, assim compreendido como o conjunto de normas 
produzido pelos participantes de vários grupos nacionais que refletem a 
representatividade das nações, destina-se a ajustar as relações externas e garantir a 
convivência pacífica entre os povos. 
 
1.1 Um conceito 
 
A dualidade de interesses existentes entre os atores que compõem a sociedade 
internacional, também chamados sujeitos internacionais, amplifica os conflitos que 
dela exsurgem, impondo a necessidade de criação de regras para assegurar um 
convívio civilizatório, incumbindo ao direito internacional esta função. 
Desta forma, pode-se dizer que o direito internacional, igualmente denominado 
direito internacional público, é o conjunto de normas ou o arcabouço jurídico que rege 
as relações exteriores entre os atores internacionais. Trata-se de um ramo da ciência 
jurídica que objetiva regular as relações internacionais com vistas a possibilitar um 
trato harmônico entre os componentes da sociedade internacional, assinalado por 
incontáveis disputas entre seus membros. 
Nas palavras de Accioly (2009, p. 27), direito internacional público pode ser 
definido como: 
 
[...] o conjunto de regras ou princípios destinados a reger os direitos e deveres 
internacionais tanto dos estados e de certos organismos interestatais, quanto 
dos indivíduos. 
 
O direito internacional público tem características próprias quando cotejado 
com outros ramos do direito, espelhando a vontade coletiva dos Estados, isto é, a 
ordem internacional é baseada na coordenação e na cooperação à medida que a 
sociedade internacional se estrutura de forma descentralizada. Não existe um 
superestado, tampouco há de falar-se na adoção da teoria montesquiana de divisão 
de poderes; não há, portanto, um poder legislativo, executivo e judiciário dispostos a 
criar, aprovar, executar e julgar normas de feição geral e coercitivas a toda sociedade, 
ou seja, a descentralização e horizontalidade da sociedade internacional impedem a 
existência de um órgão central produtor de regras dirigidas e vinculativas a todos os 
sujeitos de direito internacional. As normas jurídicas internacionais, diferentemente 
das normas internas, não resultam da atividade legislativa de uma autoridade 
supranacional, assim como não são dotadas de coerção garantida por uma autoridade 
comum, o que enseja discussões cerebrinas sobre sua juridicidade. 
Parte da doutrina classifica o direito internacional sob dois aspectos: de um 
lado, como um direito racional ou objetivo, no qual estão inseridos os princípios de 
justiça que orientam as relações entre as nações, e de outro, como um direito positivo, 
isto é, aplicado ao caso concreto e proveniente de instrumentos internacionais 
firmados entre os sujeitos internacionais. 
 
11 
Na nova ordem geopolítica mundial, os estados necessitam de medidas 
conjuntas de desenvolvimento, tendo em vista a crescente dependência recíproca 
fomentada cada vez mais pelo fenômeno da globalização. A situação desse jaez 
impõe a necessidade de criação de um ramo jurídico que atue para além das fronteiras 
nacionais, capaz de regular os direitos e deveres internacionais dos Estados (sem 
interferir na soberania individual de cada um), dos organismos internacionais e demais 
sujeitos internacionais. É exatamente esse o papel do moderno direito internacional, 
que atua fundamentalmente na conciliação das relações internacionais, sobretudo, as 
de natureza comercial e territorial, buscando harmonizar as soberanias com vistas à 
integração política e econômica dos Estados. 
No âmbito internacional, um Estado soberano mantém vínculos diversos com 
outros Estados soberanos, obrigando-se mutuamente e dando origem à variadas 
relações jurídicas, as quais serão normatizadas pelo direito internacional, que obrigará 
os Estados a cumprir suas determinações sob pena de sofrerem sanções impostas 
pela comunidade internacional. 
 
1.2 Objeto do direito internacional público 
 
O mais importante objeto do direito internacional público é a convivência entre 
os sujeitos do direito internacional, que classicamente são considerados os Estados e 
as organizações internacionais, e, modernamente, para alguns autores, os indivíduos 
e as empresas; nada obstante existir ferrenha oposição a tal formulação, consoante 
se verá linhas à frente. Ressalte-se que o enquadramento na categoria de sujeitos de 
direito varia sempre em conformidade com a evolução e alteração do ordenamento. 
Não é demais afirmar que o fim desses relacionamentos centraliza-se na 
manutenção da paz entre os Estados, contudo, seus efeitos se espargem a outros 
âmbitos tais como a delimitação das competências de cada Estado, cuja soberania, 
após a declaração universal dos direitos do Homem em 1948 e a criação da ONU, 
passa a experimentar certa flexibilização em prol da proteção aos direitos humanos e 
meio ambiente; a limitação do uso da força pelos sujeitos de direito internacional, 
instrumentalizadas, por exemplo, pelo jus in bello, que é o direito de como uma guerra 
pode ser conduzida,armas que podem ou não ser utilizadas, e o jus ad bello, ou seja, 
o direito de poder fazer guerra, o direito de ir à guerra, desde que considerada justa; 
a proteção de interesses universais como os direitos humanos e o meio ambiente, 
garantida por norma de força cogente (jus cogens), isto é, obrigatória desde a sua 
origem, valendo ressaltar que entre nós a Emenda Constitucional 45/2004 deu status 
de emenda constitucional aos tratados e convenções internacionais que versem sobre 
direito humanos, desde que aprovados em cada casa do Congresso Nacional, em dois 
turnos e por três quintos dos votos dos respectivos membros; a implantação de 
mecanismos internacionais de apuração de responsabilidade internacional dos 
sujeitos de direito internacional, sendo farto os exemplos concretos, como a 
condenação do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos pelo combate 
ineficaz do trabalho escravo. 
 
 
1.3 Formação do direito internacional público 
 
12 
 
O direito internacional foi classificado como ciência autônoma e sistematizado 
a partir do século XVII, quando se formaram os Estados com as peculiaridades que 
hodiernamente conhecemos, motivo pelo qual sua origem coincide com nascimento 
dos Estados. 
Por outro lado, a existência do direito internacional exige a ocorrência de 
determinados fatores que a doutrina convencionou chamar de base sociológicas, 
comumente descritas como: a) pluralidade de Estados soberanos; b) comércio 
internacional; e c) princípios jurídicos coincidentes. Veja-se a seguir cada uma delas. 
 
1.3.1 Pluralidade de Estados soberanos 
 
 No que se refere à pluralidade de Estados soberanos, sendo o direito 
internacional destinado a regular as relações entre eles, sua multiplicidade é medida 
que se impõe, caso contrário, não haveria o que regular. 
Tarefa árdua, contudo, é procurar estabelecer uma definição para Estado, 
dificuldade já apontada por Norberto Bobbio (1977, p. 425-426), para quem o conceito 
de Estado está muito longe de ser universal. A Convenção Pan-Americana sobre 
Direitos e Deveres dos Estados (Montevidéu, 1993) considera o Estado pessoa 
internacional com os seguintes requisitos: a) povoação permanente; b) território 
determinado; c) governo; d) capacidade de entrar em relações com os demais 
Estados. Desta forma, o Estado pode ser compreendido como um agrupamento 
humano, alojado em um território específico e sob um governo soberano. 
Em tempos remotos, a formação do Estado ocorria a partir do estabelecimento 
de uma população em um território não ocupado; hoje pode ocorrer de três modos 
diferentes, a saber, no caso de separação da população e território de um Estado, que 
continua a existir, situação ocorrida com a maior parte dos Estados da América do 
Sul; na dissolução total de um Estado que deixa de existir, tendo como exemplo 
emblemático o desmembramento da antiga União Soviética, que deu origem aos 
Estados da Rússia, Geórgia etc.; e na fusão de dois ou mais Estados em um Estado 
novo, tome-se como exemplo a Itália, com a fusão de Modena, Parma, Toscana e 
Nápoles. 
Para a integração de um Estado na comunidade internacional é necessário 
ainda o seu reconhecimento, o que se dá pela aceitação de outros Estados ou 
organizações internacionais, que pode ser tácita ou expressa, podendo também 
ocorrer por mútuo reconhecimento, por meio de tratado individual, ou por meio de um 
tratado bilateral, quando dois Estados convencionam o reconhecimento de um terceiro 
Estado, estando presentes seus elementos constitutivos, quais sejam, população, 
território e governo soberano, sendo que a ausência de qualquer destes três requisitos 
obstaculizará o reconhecimento de uma organização política como um Estado perante 
a comunidade internacional. 
Por população pode-se entender o conjunto de todos os indivíduos, nacionais 
e estrangeiros, submetidos a uma ordem jurídica (poder central), que habitam 
determinado território em caráter permanente, sob o qual o Estado tem jurisdição 
territorial, incluídos todos os indivíduos de uma maneira geral. População e povo não 
se confundem: este é formado pelos cidadãos, natos ou naturalizados, que habitam 
 
13 
ou não o Estado do qual são nacionais, podendo votar e serem votados; já a ideia de 
população prende-se a um caráter demográfico, nela compreendido o povo, os 
estrangeiros e apátridas, isto é, a totalidade dos indivíduos, nacionais e estrangeiros, 
que ocupam o território. Do mesmo modo, há que se distinguir Estado e Nação, esta 
representada por uma comunidade forjada pela soma de um ou mais vínculos e 
identidades comuns, dos mais diferentes caráteres, ainda não organizada na forma 
de Estado, que a seu turno é órgão controlador criado pela Nação. A população de 
um Estado movida por interesses morais, econômicos e políticos divergentes, não 
dotada de aspirações comuns, será um povo, e não uma nação. 
O território é o espaço geográfico no qual habita determinada população. 
Trata-se do elemento espacial, onde o Estado soberano exerce exclusivamente sua 
jurisdição, de modo que o território reveste-se no limite material da jurisdição do 
Estado, que, se não for capaz de exercê-la, comprometerá sua soberania, o que leva 
a concluir que a ideia de território está absolutamente vinculada à noção de soberania 
territorial. Nenhum Estado poderá exercer sua jurisdição em território alheio, exceto 
em situações especialíssimas reguladas pelo direito internacional. O território 
compreende o domínio terrestre, o espaço aéreo, espaços hídricos internos (rios e 
lagos) e o mar territorial, incluindo-se ainda a plataforma submarina, o subsolo do mar 
e a coluna do ar. 
Soberania é o exercício do poder do Estado, que lhe permite agir com ampla 
liberdade, decidindo seus destinos políticos, econômicos e sociais sem qualquer 
ingerência de outro Estado ou órgão internacional. Substancia-se em um poder 
adornado pelos atributos da unidade porque não se admite a convivência de duas 
soberanias dentro de um mesmo Estado; da indivisibilidade, uma vez que os fatos 
ocorridos no Estado são considerados universais, não se aceitando a existência de 
partes separadas de uma mesma soberania; da inalienabilidade, posto que, sem 
soberania, desaparece aquele que a detém; e da imprescritibilidade, já que não há 
falar-se em poder supremo de um Estado se houver prazo de validade. A soberania é 
estável, deixando de existir tão somente quando impingida por algo superior. A ideia 
de soberania surge com o Estado moderno, a partir do ápice da Revolução Francesa, 
e desenvolve-se sob a influência das teorias absolutistas marcadas pela concentração 
de poder. Ao longo do tempo, seu conceito foi sofrendo adaptações resultantes das 
acirradas discussões em torno do tema. 
Segundo Husek (2015, p. 196), a soberania caracteriza-se pela supremacia 
interna, que se manifesta pelo monopólio da coerção legítima em dado território e a 
independência da origem externa, onde encontra Estados de igual poder. Deste modo, 
boa parte da doutrina analisa a soberania sob dois aspectos: a) aspecto interno, no 
qual elaa tem contornos de supremacia, conferindo ao Estado o “poder de organizar-
se juridicamente e de fazer valer, dentro de seu território, a universalidade de suas 
decisões” (Reale, 1960, 127); e o b) aspecto externo, que se traduz no direito do 
Estado de determinar livremente suas relações com outros Estados ou entidades 
internacionais, independentemente de qualquer controle ou limitação por parte de 
outros Estados. 
Assim sendo, sob a ótica interna, a soberania dos Estados possibilita o domínio 
sobre seu território, a criação de normas internas, a atribuição de nacionalidade, o 
julgamento de atos cometidos em seu território etc; e, sob a ótica internacional, o 
Estado pode produzir normas jurídicas internacionais, ser sujeito passivo de ilícitos 
internacionais, requerer indenizações por danos ilícitos cometidos por outros Estados, 
 
14 
ter acesso ao sistema internacional de solução de controvérsias,tornar-se membro 
de organizações internacionais e estabelecer relações diplomáticas e consulares com 
outros Estados. 
Releva considerar que a soberania se vincula à ordem internacional, corolário 
lógico, haverá situações em que o Estado será obrigado a acatar decisões de outros 
países ou da comunidade internacional para preservar sua existência (Husek, 2015, 
p. 196 e s.). Assim sendo, o caráter histórico absoluto da soberania tem sido 
paulatinamente adaptado, emergindo a ideia de independência relativa do Estado 
justamente para possibilitar o relacionamento com outros Estados. Nem a Carta das 
Nações, nem a lei internacional reconhecem a soberania absoluta de um Estado. O 
moderno direito internacional busca a harmonização da soberania com vistas à 
integração política e econômica dos Estados. 
O fenômeno da globalização desencadeou a formação de blocos econômicos, 
cujas exigências de cooperação econômica internacional tornam-se incompatíveis 
com o conceito absoluto de soberania. Demais disso, a mundialização vem impondo 
um novo paradigma ao Direito Internacional Público, que vem sendo submetido a uma 
leitura mais rígida do cumprimento das normas internacionais. Hodiernamente, já se 
constata mecanismos jurídicos de sanções antes não cogitáveis em razão da pretensa 
soberania absoluta. 
 
1.3.2 Comércio internacional 
 
Os primórdios das relações comerciais entre os homens confundem-se com 
sua própria existência em sociedade; infelizmente, pouco se sabe sobre elas, menos 
ainda a forma como eram tuteladas. Certo é que as grandes navegações e os 
descobrimentos marítimos não foram responsáveis unicamente pela posse de terras, 
mas, também, pela aquisição e revenda de produtos de diferentes pontos da terra, 
inaugurando assim o comércio à distância, que muito contribuiu para a evolução das 
relações humanas. Nas relações internacionais ganha relevo o aspecto comercial, 
sobrepondo-se inclusive ao aspecto político dessas relações. A própria configuração 
geopolítica do mundo atual tem seus contornos influenciados pelas rotas de comércio 
na antiguidade, sem deslembrar de sua influência no desenvolvimento progressivo da 
cultura humana. 
O fundamento do comércio concentra-se na livre circulação de bens, aspecto 
essencial na formação da sociedade. Na atualidade, o comércio internacional é 
apresentado pela ONU como elemento propulsor da paz mundial, uma vez que o livre 
comércio rende ensejo ao crescimento e à riqueza, gerando prosperidade e bem-estar 
a todos, desestimulando, assim, o conflito. 
O convívio social e o intercâmbio de bens são variáveis constantes no cotidiano 
dos homens desde os mais remotos tempos, anteriores mesmo a qualquer forma de 
normatização. Historicamente, os conflitos decorrentes das relações comerciais, em 
regra, eram superados pelo uso da força, cabendo à sociedade, ao longo de sua 
evolução, criar mecanismos de tutela social. Desta forma, a existência de relações de 
comércio entre diversos Estados e o aumento delas impõem a necessidade de criação 
de regras para regê-las, ou seja, a participação efetiva do Estado em processo 
interativo no mercado mundial exige que se desenvolva um direito global capaz de 
regular os conflitos dele decorrentes. 
 
15 
 
1.3.3 Princípios jurídicos coincidentes 
 
A formulação de uma ordem normativa, disposta a reger as relações que se 
originam de uma comunidade universal de Estados, exige que o direito seja pensado 
de modo uniforme, com vistas a garantir a paz internacional. Portanto, o surgimento 
de normas jurídicas impõe a necessidade da existência das chamadas “convicções 
jurídicas coincidentes”, que nada mais são do que diretrizes jurídicas apoiadas em 
valores comuns aos atores internacionais, caso contrário, sequer haveria o direito 
internacional público. A manifestação volitiva das partes, portanto, ocorre no âmbito 
das convicções jurídicas coincidentes, ou seja, na uniformidade de pensamento entre 
os Estados. 
Segundo Reale (2005, p.59), o direito é ordenação bilateral atributiva das 
relações sociais, na medida do bem comum, nesta ordem de ideias, a persuasão de 
haver valores comuns a todos os seres humanos permitiu que os indivíduos se 
aproximassem e dessem origem à sociedade internacional, meio no qual se origina a 
ordem jurídica internacional. O direito internacional floresce e se expande a partir da 
formação de concepções universalistas, intensamente inspiradas pela proposta cristã 
no sentido de que, mais do que iguais, os homens são todos irmãos. 
 
1.4 Divisões do direito internacional 
 
No âmbito da ciência do direito, a primeira divisão que encontramos é a 
elaborada pelos romanos entre direito público e direito privado. Posteriormente, 
entendeu-se que o direito se subdivide em direito interno e direito internacional, este 
regulando as relações entre os diferentes sistemas internacionais, aquele tratando das 
relações jurídicas no interior do sistema jurídico nacional. O direito internacional, sob 
a ótica da abrangência, divide-se em direito internacional público e direito internacional 
privado. 
O direito internacional apresenta ainda alguns subramos, dos quais podemos 
destacar: direito do mar, direito aéreo, direito dos tratados, direito diplomático e 
consular; direito internacional da economia e do desenvolvimento, direito internacional 
da proteção dos direitos do homem, direito das organizações internacionais, direito 
internacional do meio ambiente, direito do comércio internacional etc. 
 
1.5 Sociedade internacional 
 
Ao contrário das sociedades internas, que se caracterizam por comporem 
um único Estado, a sociedade internacional é formada pela coletividade de Estados. 
1.5.1 Um conceito 
 
A sociedade internacional pode ser compreendida como sociedade global, na 
qual estão inseridos todos os grupos com poderes sociais autônomos, revestindo-se 
 
16 
em um marco social de referência, sendo por isso conhecida como a “sociedade das 
sociedades”, em cujo âmbito se manifestam grupos humanos, tais como a família, as 
organizações internacionais e os Estados. As relações entre seus membros hão de 
ser intensas e duráveis; ações dispersas e eventuais não são aptas para caracterizar 
a sociedade internacional. 
 
1.5.2 Pressuposto para existência do direito internacional 
 
O direito é um fenômeno por excelência humano, disposto a atender às 
necessidades do homem socialmente considerado. Por essa razão, o direito só se 
verifica no interior da sociedade, sendo inconcebível fora dela (Reale, 2005, p. 4), em 
outras palavras, o fenômeno jurídico está condicionado ao fenômeno social, daí o 
brocardo jurídico ubi societas, ibi jus (onde está a sociedade está o direito). Sociedade 
alguma subsiste sem lineamentos mínimos de ordem, segurança, justiça e 
solidariedade. Desta forma, o ordenamento jurídico internacional surge e manifesta-
se por meio da sociedade internacional, que é pressuposto para existência do direito 
internacional. Profundas e recíprocas são as influências entre o direito e a sociedade 
no plano internacional, cujas transformações são mais céleres do que em qualquer 
outro campo do direito, sendo muito sensíveis às implicações do meio ambiente. 
 
1.5.3 Formação e existência 
 
A ideia defendida por alguns autores de que a sociedade internacional é 
interestatal, isto é, formada apenas pelos Estados, é de duvidosa constatação, desde 
que as organizações internacionais alcançaram o status de sujeitos de direito 
internacional, e como bem observa Portela (2011, p. 43) “não se sustenta diante da 
crescente participação direta de entes como empresas, ONG e indivíduos nas 
relações internacionais”. 
Reina uma certa tensão em torno da existência da sociedade internacional junto 
aos teóricos de outras disciplinas que não o direito. Os argumentos, por exemplo, 
trazidos pela Escola Inglesa de Relações Internacionais a despeito da existência de 
uma suposta sociedade internacional têm sido interpretados como insuficientes evagos, já que seus aportes vão dar em um conceito de sociedade internacional 
extremamente atrelado à natureza estatal, o que contradiz a realidade experimentada 
no plano dos fatos, em que se constata um mundo cada vez mais complexo, tanto 
pela ótica estatal como individual. Some-se a isso que a sociologia, a seu turno, nunca 
demonstrou interesse em se debruçar sobre essa suposta sociedade internacional. 
Já para o mundo do direito, a existência de um aparato normativo disposto a 
regular as relações jurídicas internacionais é a prova irrefutável da existência de uma 
sociedade de feição interestatal ou internacional. Do ponto de vista doutrinário, não 
há produção cientifica no direito internacional público que não contenha a afirmação 
de que este ramo do direito é o conjunto de normas que regulam a sociedade 
internacional, valendo observar que no âmbito jurídico o Estado não é mais visto como 
o principal ator das relações internacionais; os indivíduos, as forças sociais, os grupos 
sociais também são considerados sujeitos de direito internacional. (Accioly; 
Nascimento e Silva; Casela, 2012, p. 44 e s.) 
 
17 
 
1.5.4 Características 
 
Seguindo a classificação de Husek (2015, p. 19), a sociedade internacional 
caracteriza-se pela multilateralidade, universalidade, heterogeneidade, igualitarismo, 
ausência de uma organização rígida e existência de direito originário e derivado. 
Analisemos a seguir cada uma delas. 
A existência de vários sujeitos internacionais, portadores de interesses distintos 
e nem sempre convergentes, na composição da sociedade internacional lhe confere 
uma de suas mais proeminentes características, que é a multilateralidade, 
interpretada como a variabilidade de interesses cujas divergências daí decorrentes 
encontram no diálogo um poderoso meio de solução de embates, competindo às 
organizações internacionais como, por exemplo, a ONU o relevantíssimo papel de 
promover o mútuo entendimento, a fim de manter a paz no âmbito internacional. 
A universalidade da sociedade internacional prende-se ao fato de que ela 
compreende em si a totalidade dos atores internacionais: todos fazem parte da 
comunidade internacional e estão comprometidos com a segurança e paz coletivas. 
Já a heterogeneidade é outro atributo bastante próprio das sociedades internacionais 
e diz respeito às diferenças culturais e sociais existentes entre seus membros, tais 
como idioma, religiões, valores etc. O aspecto cultural, hodiernamente, assume 
destaque nas relações internacionais, impondo a constante necessidade de novas 
formas de intercâmbio, posto que apenas o fenômeno da globalização já não é 
suficiente para atingir esse desiderato. O igualitarismo está jungido à ideia de que 
todas as pessoas que integram a sociedade internacional devem ser consideradas 
juridicamente iguais, exigindo delas respeito ao ordenamento jurídico internacional, 
com espeque no princípio do respeito mútuo às soberanias. 
Quanto à ausência de organização rígida, não é demais afirmar tratar-se da 
característica que mais se sobressai na sociedade internacional. No plano interno, o 
poder político é materializado pelo Estado, a quem compete a produção legiferante, 
assim como sua aplicação, sendo que o descumprimento das leis permite ao Estado 
o uso de medidas coercitivas; o mesmo, porém, não ocorre no plano internacional, 
onde não existe um poder central apto a exigir o cumprimento de suas determinações, 
não havendo, portanto, um ordenamento político rígido e hierarquizado, mas sim 
vários centros de poder, como os próprios Estados e as organizações internacionais. 
Nesta ordem de ideias, a lacuna que se abre é colmatada pela atuação do direito 
internacional por meio das organizações internacionais, que são órgãos interestatais, 
isto é, criados pelos próprios Estados, mas que não configuram órgãos 
supranacionais, razão pela qual suas atuações destinam-se unicamente a coordenar 
as ações dos atores internacionais. 
Em razão da inexistência de um poder central, nenhum ente de direito 
internacional pode impor aos Estados Soberanos as suas deliberações; já há, 
contudo, órgãos centralizados como a União Europeia. A ausência de uma autoridade 
executiva central tem sido interpretada como a maior deficiência do sistema legal 
internacional. Mais grave ainda é que tais peculiaridades costumam provocar 
equivocadas ilações como, por exemplo, a de que não se trata propriamente de um 
direito, tendo em vista a dificuldade de enquadrá-lo como sistema legal. Neste ponto, 
precisa é a elucidação de Reale (2005, p. 48) para quem o que assinala o Direito não 
 
18 
é a coação efetiva, concreta, mas a possibilidade de coação, e isto está presente no 
direito internacional. Suscita-se também sua ineficácia, mormente, para evitar conflitos 
armados entre os Estados, contudo, o direito internacional não regula apenas esse 
aspecto, há um número infinito de outros campos que são igualmente regrados pelo 
direito internacional e de forma bastante satisfatória, como o âmbito das relações 
comerciais. 
Quanto à existência de um direito originário, equivale dizer que não se 
fundamenta em outro ordenamento positivo ou pré-estabelecido, mas visa criar um 
âmbito normativo novo. Por fim, acresça-se ainda que a sociedade internacional é 
aberta, ou seja, todos os que atenderem a certos requisitos tornam-se membros, 
independentemente da aprovação prévia dos demais. 
 
1.6 Gênese e edificação do direito internacional 
 
O direito inegavelmente é um fenômeno histórico, que segundo a doutrina 
culturalista, resulta da cultura humana, e por ser invenção dessa natureza, sujeita-se 
à ação do meio social. Daí a necessidade de voltarmos à historicidade das instituições 
jurídicas para melhor compreendê-las no presente. 
Se é certo que a necessidade de interlocução e interação entre nações distintas 
fez surgir o direito internacional, não menos certo é que o momento desse nascimento 
está longe de encontrar pacificação na doutrina, já que persiste uma certa cizânia em 
torno da realização do primeiro ato, formal ou não, que possa ser considerado o início 
desse ramo do direito. Boa parte dos doutrinadores fixa o marco inicial do direito 
internacional na Idade Média, com a criação do Tratado de Westfália, em 1648, fruto 
do primeiro congresso internacional que pôs fim à Guerra dos Trinta Anos e 
possibilitou o surgimento de uma sociedade internacional em que os Estados acatam 
normas e instituições balizadoras de suas ações, assim como deu lugar ao termo 
Estado – Nação. 
O desenvolvimento do direito internacional na Idade Média foi fortemente 
influenciado pela igreja: o Papa gozava de enorme prestígio entre os reis e o povo, já 
que considerado mensageiro de Deus, e mais do que isso, os conflitos gerados pelas 
relações internacionais eram resolvidos por ele, que tinha autoridade para liberar um 
chefe de Estado do cumprimento de um tratado, portanto, o Papa era considerado um 
mediador para assuntos relativos às relações internacionais e o clero, não sendo 
demais classificá-lo a uma espécie de primeira organização mundial. 
Identificar um período determinado para o aparecimento do direito internacional 
é tarefa das mais árduas, primeiro porque entendem alguns que sua criação está 
jungida à formação das primeiras coletividades organizadas, as quais precisavam 
estabelecer relações contínuas entre si; além disso, como acima apontado, há 
entendimento majoritário no sentido de que o direito internacional vem à luz com 
Tratado da Paz de Westfália; por fim, porque há ainda uma corrente, minoritária, que 
localiza seu surgimento na Antiguidade. 
Veja abaixo uma representação sintética das mais importantes fases históricas 
do direito internacional, analisadas a partir de uma perspectiva cronológica: 
 
 
19 
Quadro: gênese e desenvolvimento do direito internacional 
primeira fase segunda fase 
Antiguidade: 
 Povos antigos já mantinham 
relações exteriores 
 Acordo de Lagash dos babilônios 
 Grécia:reconhecia a 
inviolabilidade das embaixadas; 
utilização das anfictionais 
 Roma: jus fetiale, pax romana e o 
jus gentium 
 
Idade Média: 
 Influência da igreja católica no 
direito internacional – precursora 
da diplomacia moderna 
Idade Moderna: 1453 a 1789 
 Intercâmbio político e econômico 
associado à corrida pela 
hegemonia e expansão territorial, 
que propiciaram uma estrutura 
centralizada do direito 
internacional 
 Influência dos teólogos, com 
destaque para Francisco de 
Vitória 
 Paz de Westfália, tratado 
assinado em 1648 
Fonte: Rodrigues, 2019. 
 
Quadro: desenvolvimento do direito internacional 
segunda Fase terceira Fase 
Idade Contemporânea: a partir 
da Revolução Francesa até os dias 
atuais 
 Obstáculos ao desenvolvimento 
do direito internacional 
 Realização da Convenção de 
Viena 
 A partir de 1850, o direito 
internacional retoma seu 
desenvolvimento 
Idade Contemporânea: da 1.ª 
Guerra Mundial até os dias atuais 
 Surgimento da Sociedade das 
Nações – Liga da Nações – ONU 
 Comissão de Direito Internacional 
das Nações Unidas 
Fonte: Rodrigues, 2019. 
Na Idade Moderna, muitos teólogos e intelectuais se debruçaram sobre o direito 
internacional, destacando-se as contribuições de Francisco de Vitória, que professou, 
entre o mais, as ideias de uma sociedade internacional solidária, de limitação das 
soberanias dos Estados, de guerra justa, de liberdade dos mares, de intervenção 
humanitária de modo a defender os direitos humanos; e Hugo Grócio, para quem a 
necessidade do homem de viver em uma sociedade pacífica e ordenada ensejou o 
surgimento de um direito de cunho internacional com a finalidade de promover a 
sociabilidade entre os Estados. 
Os Tratados Westfália, também conhecidos como Tratados de Münster e 
Osnabrük , ou ainda como Paz de Westfália, constituíram um conjunto de 11 tratados 
 
20 
assinados durante 1648, os quais puseram fim à chamada Guerra dos Trinta dos Anos 
(1618-1648), que foi uma série de conflitos sangrentos, inicialmente de viés religioso 
entre católicos e protestantes, mas que ao longo do tempo foram envolvendo também 
questões relativas a território, dinastia e comércio. 
A Paz de Westfália é um dos acontecimentos de maior importância para o 
direito internacional em sua origem, simbolizando o início da sociedade internacional 
moderna, que repercutiu na edificação da ordem internacional tal como é conhecida 
hoje. No tratado foram delineadas as noções e princípios básicos como: Estado 
nacional, soberania estatal e Estado-Nação, obrigação de não intervenção nos 
assuntos internos, igualdade jurídica etc. Por essas razões, a maioria dos autores 
concorda que a Paz de Westfália é o marco histórico do direito internacional público, 
embora muito antes já tenham sido firmados tratados entre povos distintos. 
As formulações elaboradas pelo Tratado de Westfália, no entanto, sofreram 
duro golpe com a Revolução Francesa (1789) e as Guerras Napoleônicas (1792-
1815), que enfraqueceram seu sistema e repercutiram de forma deletéria no direito 
internacional público, o qual passou a experimentar um certo recrudescimento, 
atenuado, contudo, pela realização do Congresso de Viena em 1815, que estabeleceu 
novos princípios de direito internacional. 
Releva considerar que muitas foram as iniciativas ocorridas no século XIX 
objetivando impulsionar o direito internacional, tais como a criação dos primeiros 
organismos internacionais; a formulação da chamada Doutrina Monroe, 
representando um esforço dos Estados Unidos da América, disposto a firmar sua 
liderança continental e assegurar a soberania das nações latino-americanas diante 
das potências europeias, e a primeira das Convenções de Genebra. 
Por outro lado, a Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda 
Grande Guerra Mundial (1939-1945), nada obstante a toda tragédia humana que 
nelas se contêm, contribuíram para o desenvolvimento do direito internacional. O 
Tratado de Versalhes, assinado em 1919, após seis meses de negociações, deu 
origem à Sociedade das Nações, ou Liga da Nações, cuja função seria assegurar a 
paz. Com a eclosão da Segunda Grande Guerra Mundial, no entanto, ficou exposto o 
fracasso da Liga das Nações em manter a paz no mundo e, por esta razão, foi extinta. 
Com o término dessa guerra, criou-se a Organização das Nações Unidas – ONU, que 
incorporou as responsabilidades da Sociedade das Nações. A manutenção da paz, 
assim como a segurança internacional, constituem os mandamentos nucleares da 
ONU, além de promover a cooperação internacional para a solução de problemas 
mundiais de caráter econômico, social, humanitário e cultural, estimulando o respeito 
aos direitos humanos e às liberdades fundamentais. 
Em 1947 formou-se a Comissão do Direito Internacional das Nações Unidas – 
CDI, cuja principal função está contida na promoção do desenvolvimento progressivo 
do direito internacional e sua codificação, consoante estatui a alínea “a”, do artigo 13.º 
da Carta das Nações Unidas. As atividades da CDI revelaram-se muito produtivas 
para o direito internacional, gerando incontáveis projetos que deram origem a 
importantes convenções de codificação do direito internacional, tais como a 
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas em 1961, a Convenção de Viena 
sobre Relações Consulares em 1963 e a Convenção de Viena sobre o Direito dos 
Tratados em 1969, além de ter conduzido à aprovação do Estatuto Penal 
Internacional. 
 
21 
A CDI, que inicialmente foi composta por 21 membros, conta hoje com mais de 
30 peritos independentes, eleitos pela Assembleia Geral da ONU após os Estados 
apresentarem suas candidaturas, para um mandato de cinco anos, podendo ser 
reeleitos. Na prática, a distribuição dos lugares tem sido feita em conformidade com 
os grupos regionais da ONU (Escarameia, 2017). Entre nós, hodiernamente, o 
embaixador Gilberto Vergne Saboia foi reeleito como membro da CDI para o mandato 
2017-2021 (Itamaraty, 2017). 
Observa-se assim o aprofundamento do direito internacional no século XX, 
mormente a partir da criação da ONU. Para a doutrina, o direito internacional, em 
cotejo com os demais ramos do direito, é o que mais tem evoluído, movimento 
progressivo esse que reflete inexoravelmente na vida humana. O direito internacional, 
até o início do século XX, tratava apenas das questões relacionados à terra e ao mar; 
a partir de então passou a dedicar-se também ao espaço ultraterrestre, influenciado 
pelas proezas de Santos Dumont, aos fundos oceânicos e ao meio ambiente, 
tornando-se tridimensional. A expressiva evolução do direito internacional público nas 
últimas décadas acelerou o fenômeno da internacionalização de matérias como 
desenvolvimento sustentável, autodeterminação dos povos e direitos humanos. 
 
1.7 Fundamento do direito internacional público 
 
O fundamento do direito internacional público tem por finalidade justificar as 
razões pelas quais as normas internacionais são obrigatórias, ou seja, de onde emana 
sua legitimidade e obrigatoriedade. A questão em que se funda o direito internacional 
público foi abordada desde os estudos de Francisco de Vitória e Francisco Suarez, 
sendo que mais de uma corrente doutrinária procura esclarecer a origem da 
obrigatoriedade do direito internacional, sobressaindo a doutrina voluntarista, a 
doutrina objetivista e a doutrina mista ou objetivista temperada. 
Para a doutrina voluntarista, o fundamento do direito internacional público 
assenta-se na manifestação volitiva do Estado, que se expressa por meio de tratados 
ou convenções, ou ainda, implicitamente, admitindo os costumes internacionais. 
Trata-se de uma teoria de caráter subjetivista, amparada no consentimento dos 
sujeitos de direito internacional e influenciada pelo direito positivo, pelos tratados e 
pela aceitação dos costumes e do ordenamento jurídico interno. Segundo essa 
doutrina, os Estados e organizações internacionais obrigam-se a respeitar as regras 
internacionais uma vez queexpressam livremente sua vontade nesse sentido. A 
crítica que se faz ao voluntarismo repousa na dependência única da vontade de um 
sujeito de direito internacional, que consoante à natureza da declaração poderá 
comprometer a própria existência do direito internacional. 
Já para a doutrina objetivista, nascida em oposição às ideias voluntaristas, a 
obrigatoriedade do direito internacional está centrada na existência de princípios e 
regras superiores, que prevalecem à vontade dos Estados e ao ordenamento jurídico 
estatal, indispensáveis para a duração da sociedade internacional. Segundo essa 
corrente, influenciada pelo direito natural, pelas teorias sociológicas do direito e pela 
teoria da norma base de Hans Kelsen, na qual todo ordenamento jurídico se funda em 
uma norma hipotética fundamental, o direito internacional ampara-se na existência de 
uma norma-base ou de princípios que estão em nível superior ao dos Estados, ou 
 
22 
seja, baseia-se também em uma norma hipotética fundamental, uma vez que não 
deve existir distinção entre a norma jurídica interna e a externa. 
Tanto a teoria voluntarista como a teoria objetivista receberam críticas, esta por 
subestimar o papel da vontade dos atores internacionais na elaboração das regras 
internacionais, aquela por não esclarecer o fundamento do direito internacional, uma 
vez que as normas internacionais existem sem nenhuma dependência da vontade dos 
Estados, e, não raro, à revelia dessa vontade. Releva considerar que, na atualidade, 
os tratados internacionais que dispõem sobre direitos humanos têm obstaculizado a 
adoção da teoria voluntarista à medida que impõem cada vez mais balizas à atuação 
dos Estados. 
As críticas formuladas às correntes voluntarista e objetivista conduziram à 
formulação de uma terceira corrente conhecida como mista ou objetivista temperada, 
de autoria de Dionisio Anzilotti (Portela, 2011, p. 51), que prega que o fundamento do 
direito internacional está contido no princípio do pacta sunt servanda (os pactos 
devem ser cumpridos), pelo qual as partes podem livremente manifestar sua vontade 
em se obrigar, como, por exemplo, firmar um tratado, mas uma vez consentido, se 
obrigam ao contratado, isto é, devem cumprir e respeitar o que deliberadamente 
firmaram entre si, que passa a ter natureza de norma, ou seja, regra obrigatória, um 
modelo de conduta a ser seguido. Desta forma, um Estado apenas se obriga no plano 
internacional se para tanto houver consentido vincular-se juridicamente. Essa teoria 
foi consagrada no artigo 26 da Convenção de Viena sobre Tratados, de 1969, que 
dispõe: “Todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido de boa fé”. 
 
1.8 Ordem jurídica internacional 
 
A ordem jurídica no âmbito do direito internacional é descentralizada, 
inexistindo norma jurídica superior apta a impor aos Estados o cumprimento de suas 
decisões, não se pode dizer que a Carta das Nações seja uma Constituição. 
Consoante Rezek (2013, p. 23) 
 
[...] no plano internacional não existe autoridade superior nem milícia 
permanente. Os Estados se organizam horizontalmente, e prontificam-se a 
proceder de acordo com as normas jurídicas na exata medida em que estas 
tenham constituído objeto de seu consentimento. A criação de normas é, 
assim, obra direta de seus destinatários. 
 
Portanto, o direito internacional depende muito da vontade de cada de Estado, 
ou seja, do voluntarismo. O ordenamento jurídico internacional está assim disposto: 
 
a) Normas fundamentais constitucionais: regem toda a comunidade 
internacional, dando-lhe estrutura própria, flexível, em permanente estado de 
evolução; 
b) Normas gerais do direito consuetudinário: distingue-se direito 
internacional geral do direito internacional particular. O geral compreende normas de 
direito internacional consuetudinárias, que são válidas para todos os Estados do 
 
23 
mundo e só podem ser derrogadas por outras que tenham o mesmo âmbito de 
validade e que sejam de alcance universal; 
c) Normas de direito internacional particular: geralmente de origem 
convencional, compreendem as normas de direito internacional válidas somente para 
certos Estados. 
 
1.9 Fontes do direito internacional público 
 
A palavra fonte associa-se à ideia de nascente; de forma figurada, refere-se à 
origem de algo, então, no que se refere ao direito, seria “como surge a norma jurídica”. 
De um modo geral, as fontes do direito internacional classificam-se em fontes 
materiais, representadas pelo complexo de fatores sociais, históricos, políticos, 
econômicos que deflagram a produção normativa; fontes formais ou teoria do modelo 
jurídico, como prefere Reale (1999, p.162), que são as formas pelas quais o direito se 
exterioriza, representadas pelas normas de direito positivo, como, por exemplo, a lei; 
fontes primárias, que são os tratados ou convenções internacionais, os costumes 
(direito consuetudinário) e os princípios gerais do direito; e fontes secundárias, que 
são a jurisprudência e a doutrina, esta excluída por muitos autores como fonte de 
direito (Reale, 2005, p. 176). 
O artigo 38 do estatuto da corte internacional de justiça de 1945, sediada na 
cidade de Haia, dispõe in verbis: 
 
A corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as 
controvérsias que lhe forem submetidas, aplicará: 
a. as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que 
estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; 
b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como 
sendo o direito; 
c. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; 
d. sob ressalva da disposição do artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina 
dos juristas mais qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para 
a determinação das regras de direito. 
A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma 
questão ex aequo et bono. 
 
Desta forma, o Estatuto da Corte Internacional de Justiça considera como 
fontes do direito internacional público os tratados (embora seja utilizada a expressão 
convenção, porque é prática internacional empregar as palavras “tratado” e 
“convenção” como sinônimas), o costume, os princípios gerais do direito, a 
jurisprudência e a doutrina. A última parte do artigo 38 do citado estatuto inclui a 
expressão ex aequo et bono (segundo a equidade e o bem), o que possibilita a solução 
do conflito também por meio da equidade na interpretação e aplicação do direito 
internacional. 
Importante considerar ainda que a simples ordem de descrição das fontes 
elencadas no artigo 38 em comento não se traduz em hierarquia, existindo uma lacuna 
 
24 
no estatuto quanto à superioridade das fontes, conforme entendimento majoritário da 
doutrina, a qual tem buscado, mesmo sem pacificação, preencher esse vazio, 
apontando parte dela para os tratados como a fonte mais importante do direito 
internacional, isto porque se trata de norma escrita, que confere mais nitidez às suas 
normas, além da participação direta dos Estados em sua elaboração. De qualquer 
modo, prevalece na doutrina a ideia de que não existe hierarquia de fontes. 
Por “tratado” pode-se entender todo acordo formal e escrito fruto da 
convergência das vontades de dois ou mais sujeitos de direito internacional. A 
Convenção de Viena sobre direito dos tratados entre Estados e organizações 
internacionais ou entre organizações internacionais, concluída em Viena, em 21 de 
março de 1986, que é o desdobramento da Convenção de Viena sobre o Direito dos 
Tratados, de 1969, que discorria apenas sobre tratado entre os Estados, assim define 
“tratado”: 
 
a)"tratado" significa um acordo internacional regido pelo direito internacional 
e celebrado por escrito i) entre um ou mais Estados e uma ou mais 
organizações internacionais; ou ii) entre organizações internacionais, quer 
este acordo conste de um único instrumento ou de dois ou mais instrumentos 
conexos e qualquer queseja sua denominação específica. 
 
O costume, por sua vez, exige, para sua formação, a presença de dois 
elementos, quais sejam: um de ordem material, substanciado na prática social 
reiterada (ao longo do tempo), que pode ser omissiva ou comissiva, e outro de 
natureza subjetiva, representada pela vontade (animus) de se obrigar. Tendo em vista 
a descentralização da sociedade internacional e a ausência de um Poder Legislativo, 
o costume foi a principal fonte formadora de normas jurídicas do direito internacional 
público, possuindo caráter de norma jurídica obrigatória. Nada obstante o costume 
conferir ao direito internacional o viés da universalização, haja vista que os tratados 
obrigam apenas os contratantes. A evolução do direito internacional, atualmente, 
tende a apequenar sua relevância. 
“Princípios”, segundo Reale (2005, p. 303), são “certos enunciados lógicos 
admitidos como condição ou base de validade das demais asserções que compõem 
dado campo do saber”. A função dos princípios é orientar o conteúdo das normas, 
dando-lhes sentido lógico, sendo esse o papel dos princípios gerais do direito 
internacional na elaboração das regras internacionais. Os princípios gerais de direito 
internacional, aos quais se refere o artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de 
Justiça, fundamentalmente são os seguintes: a) igualdade soberana (os Estados 
equiparam-se diante da lei); b) autonomia (os Estados devem governar segundo seus 
próprios interesses); c) não ingerência nos assuntos de outros Estados (não 
intervenção de um Estado em outro); d) respeito aos direitos humanos (os direitos 
humanos devem obrigatoriamente ser tutelados pelo Estado), que trata-se de requisito 
inserto no direito internacional para reconhecimento de um Estado; e) cooperação 
internacional (atuação conjunta dos Estados em prol de idênticos objetivos). 
Há também princípios mais específicos, dos quais destacam-se: prioridade do 
direito internacional sobre a regra interna; observância à independência dos Estados; 
responsabilização internacional; patrimônio comum da humanidade, além dos 
princípios comuns à ordem interna e externa, de que são exemplos: pacta sunt 
servanda; direito adquirido, abuso do direito e prescrição liberatória. 
 
25 
Por jurisprudência entenda-se as decisões repetidas dos tribunais sobre um 
mesmo tema, formando um entendimento comum. A etimologia da palavra 
jurisprudência tem origem no latim, jus (direito) e prudência (sabedoria). 
Entendimentos jurisprudenciais não são estáticos, ao revés, modificam-se por 
influência das transformações sociais, são fontes vivas do direito. A doutrina, por sua 
vez, consubstancia-se na produção acadêmica de pesquisadores e estudiosos a 
respeito de determinado assunto, é o olhar de autores sobre certo tema que cerca o 
direito. Em regra, a doutrina, costuma ter uma postura de vanguarda sobre os 
acontecimentos, o que lhe confere enorme relevância. 
Por outro lado, o rol de fontes do artigo 38 do Estatuto em referência não é 
taxativo, mas meramente exemplificativo, existindo outras fontes do direito 
internacional público, tais como a analogia, a equidade, os atos unilaterais dos 
Estados, as decisões das organizações internacionais, o jus cogens (direito cogente), 
Portela (2011, p. 71) aponta também o soft law (quase direito), fenômeno recente que 
acolhe a formulação de regras de valor normativo limitado, que criam obrigações com 
pouca possibilidade de sanção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 
 
O direito internacional privado vai ocupar-se das relações plurilocalizadas, que 
são aquelas relativas a uma atividade que se realiza para além das fronteiras de um 
único Estado; em razão disso, entram em contato, por meio de seus elementos 
(sujeitos, objeto, fato jurídico), com diversos ordenamentos jurídicos. 
 
2.1 Denominação 
 
O direito internacional privado passou, ao longo de seu desenvolvimento, por 
várias denominações, tais como direito interespacial e direito interjurídico, sendo a 
 
26 
designação “conflito de leis” uma das mais abrangentes, e adotada, especialmente, 
nos países de língua inglesa, contudo, ficou consagrada a denominação “direito 
internacional privado”, a qual tem origem nas formulações de Jacques Gaspar Foelix, 
em decorrência de sua obra intitulada Traité du Droit International Privé (1843); muito 
embora não seja a denominação mais adequada, à medida que as expressões 
“privado” e “internacional” se contrapõem (se é privado não pode ser internacional), é 
a que tem prevalecido. 
 
2.1.1 Um Conceito 
 
Trata-se de um ramo do direito que tem por objeto contribuir para a solução de 
questões jurisprivatistas que envolvem a figura do elemento estrangeiro. Pode ser 
entendido como um complexo de princípios e normas dispostos a determinar a lei 
aplicável às relações jurídicas entre pessoas de diferentes Estados, incidindo na 
aplicação da lei de um Estado no território de outro; em síntese, alcança todas as 
hipóteses que digam respeito a relações jurídicas com referências internacionais. 
O direito internacional privado pode ainda ser considerado como uma 
subdivisão do direito internacional público, consubstanciada em um conjunto de 
princípios e normas jurídicas dispostos a definir qual direito deve ser aplicado a uma 
relação jurídica com conexão internacional. Suas normas, denominadas indicativas 
ou indiretas, não adentram o mérito, apenas indicam o direito a ser aplicado. 
Nas palavras de Portela (2014, p. 652): 
 
O Direito Internacional Privado é fenômeno peculiar no universo jurídico, visto 
que configura exceção ao princípio pelo qual, dentro do território de um 
Estado, se aplica às leis desse ente estatal, também conhecido como 
“princípio da territorialidade”, que decorre diretamente da soberania estatal. 
Pelas normas de direito internacional privado, o próprio legislador pátrio, no 
exercício do poder soberano do Estado, admite a aplicação do direito 
estrangeiro em território nacional. 
 
As diferenças entre o direito internacional público e o direito internacional 
privado podem ser cotejadas consoante o quadro abaixo transcrito. 
Quadro comparativo – direito internacional público e direito 
internacional privado 
 DIREITO 
INTERNACIONAL PÚBLICO 
 DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 
 
27 
 Quando envolver 
relações jurídicas 
(direitos e deveres) 
entre Estados e demais 
sujeitos de direito na 
sociedade internacional 
 
 Quando se tratar da aplicação de leis 
civis, comerciais ou penais de um Estado 
sobre particulares (pessoas físicas ou 
jurídicas de outro Estado), e quando mais 
de um sistema jurídico considerar-se 
competente para decidir sobre 
determinado assunto (conflito de normas 
no espaço) 
 
 Relações exteriores 
entre os atores 
internacionais 
 Relações jurídicas entre sujeitos privados 
 Regras: aplicação direta 
– recaem sobre 
relações internacionais 
ou internas de âmbito 
internacional 
 Regras: normas indicativas de qual direito 
aplicável nas relações entre os sujeitos 
 Fontes: Tratados e 
demais fontes 
 Fonte: Lei Interna dos Estados (Brasil: Lei 
de Introdução às Normas do Direito 
Brasileiro) 
Fonte: Rodrigues, 2019. 
 
2.2 Objeto/função 
 
 O direito internacional privado dedica-se a tratar, por exemplo, de questões 
relativas à nacionalidade, direitos de estrangeiros, conflitos de leis, conflito de 
jurisdições etc. 
Desta forma, o direito internacional privado buscará harmonizar as decisões 
judiciais emitidas pela justiça interna com o direito dos países com os quais exista uma 
relação jurídica com conexão internacional, assim como procurará solucionar os 
conflitos de leis no espaço decorrentes do direito privado, em regra, indicando o direito 
que deve ser aplicado dentre aqueles que mantenham liames com a lide. 
Para melhor elucidar as informações acima, tome-se como exemplo um 
comerciante brasileiro que firma um contrato com um inglês, na Argentina,para ser 
executado no Chile. Trata-se de hipótese “absolutamente internacional”, a qual deve 
ser solucionada a partir da delimitação dos ordenamentos jurídicos estaduais 
potencialmente aplicáveis para, em seguida, fazer uso de regras de conflitos, levando 
em consideração o ponto de conexão entre os fatos e os ordenamentos jurídicos, 
sopesando-se elementos de conexão, tais como “lugar dos fatos”, “lugar onde a 
obrigação deverá ser cumprida” e a “sede das pessoas”. 
2.3 Natureza das ormas de direito internancional privado 
 
 
28 
Ordinariamente, as normas de direito internacional privado caracterizam-se 
como indiretas ou conflituais à medida que não solucionam o conflito, mas indicam o 
sistema jurídico a ser aplicado, apresentando-se como normas instrumentais, 
contudo, também são encontradas normas diretas, as quais não possuem conteúdo 
conflitual e decidem definitivamente a questão legal; e há também as normas 
qualificadoras, que são acessórias às normas indiretas e imprescindíveis para sua 
aplicação. 
 
2.4 Fontes do direito internacional privado 
 
Fundamentalmente são fontes internas do direito internacional privado a lei, a 
doutrina e a jurisprudência; além delas, também os princípios gerais do direito, os 
costumes, e, como fontes internacionais, os tratados e convenções internacionais. 
No que se refere à lei, o Código Napoleônico, datado de 1804, representa o 
início da codificação das regras do direito internacional privado. Contemporaneamente 
no Brasil, as normas de direito internacional privado encontram-se, substancialmente, 
na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiras e também no Regimento Interno 
do STF e no Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/80). A lei de Introdução às Normas 
do Direito Brasileiro, principal corpo de normas do direito internacional privado em 
nosso ordenamento, foi editada pelo Decreto-lei n.º 4.657, de 04 de setembro de 1942, 
cuja ementa foi alterada pela Lei n.º 12.376, de 30 de dezembro de 2010, diploma 
legal que veio à luz após oito anos da entrada em vigor do atual Código Civil brasileiro, 
e, para espanto da comunidade jurídica, o legislador preocupou-se tão somente em 
redenominar a Lei Introdutória, mas não deu um único passo em direção à necessária 
modernização das regras de direito internacional privado. 
Quanto aos tratados e convenções internacionais, é preciso ressaltar que o 
desenvolvimento da sociedade internacional e a ampliação das relações entre os 
Estados deram a esses instrumentos a condição de fonte essencial do direito 
internacional, impondo-lhes um novo paradigma próximo à função exercida pela lei e 
pelo contrato no direito interno dos Estados. A incorporação e hierarquia de um tratado 
ou convenção internacional ao sistema jurídico interno obedece ao regulamento 
individual de cada país. O Brasil tem sido bastante comedido em aderir a tais 
instrumentos, não ratificando mais que cinco convenções formuladas pela 
Conferência Especializada de Direito Internacional Privado, das quais a Convenção 
de Direito Internacional Privado, também conhecida como Código Bustamante, é, sem 
favor algum, a mais relevante, tendo sido adotada na Sexta Conferência Internacional 
Americana, reunida em Havana, Cuba, e assinada em 20 de fevereiro de 1928. No 
Brasil foi aprovada pelo Decreto n.º 5.647, de 8 de janeiro de 1929 e promulgada pelo 
Decreto n.º 18.871, de 13 de agosto de 1929. 
Após intensos debates e negociações, nas quais o princípio da autonomia da 
vontade revelou-se o mais polêmico, o Código Bustamante veio à luz com a finalidade 
de regular as relações privadas ou subjetivas realizadas no âmbito internacional, 
mormente, regular, impulsionar as relações comerciais internacionais e pacificar as 
relações entre os Estados. Com reservas por parte de alguns países, o referido 
diploma legal foi ratificado por quinze Estados sul-americanos, a saber: Brasil, Cuba, 
República Dominicana, Haiti, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, Salvador, 
Guatemala, Chile, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela; tratou sobre matérias 
 
29 
respeitantes ao direito civil internacional, direito comercial internacional, direito penal 
internacional e direito processual internacional. Nada obstante os esforços 
despendidos, o Código Bustamante entrou em desuso e hoje mostra-se obsoleto para 
atender aos desafios impostos pela mundialização da economia. 
 
2.5 Elementos de conexão 
 
Elementos de conexão são vínculos que estabelecem uma ligação recíproca 
entre determinado fato e um ordenamento jurídico. São ainda considerados como a 
base de apoio ao direito internacional privado para estabelecer o cumprimento de 
normas ao caso concreto. Pode-se ainda classificá-los como as condições técnico-
jurídicas aptas a indicar a lei aplicável em uma determinada situação jusprivatista a 
qual envolve um elemento estrangeiro; em suma, são regras de conexão. Trata-se de 
aspectos técnicos previamente definidos e destinados a auxiliar a norma indireta na 
solução dos conflitos, em que há conexão de mais de um sistema legal. 
No direito privado, muitos são os elementos organizados para estabelecer qual 
norma será aplicada em uma situação concreta, dos quais selecionamos, pela 
importância e aplicabilidade, os seguintes: 
 
 Lex Fori (lei do lugar do Foro): na hipótese de incompatibilidade espacial de 
normas judiciais entre as partes, utiliza-se a lei do tribunal em que é proposta 
a ação, ou seja, o juiz deve utilizar a qualificação dada pelo direito de seu 
próprio país; 
 Lex Causae (lei do caso): o juiz do foro remete a qualificação ao direito 
estrangeiro potencialmente aplicável à causa; 
 Lex Loci Domicilli (lei do domicílio): aplica-se a lei do lugar onde as partes estão 
domiciliadas (pode ser entendido como o lugar onde o indivíduo possui maior 
ocupação); esta regra é acolhida pelo artigo 7.º da Lei de Introdução às Normas 
do Direito Brasileiro; 
 Lex loci actus (lei do lugar do ato): lugar onde se constituiu e concluiu o ato: a 
lei aplicável será onde foi instituído o ato jurídico; 
 Lex loci contractus ou Locus regit actum (lei do lugar onde foi celebrado o 
contrato ou lugar de constituição da obrigação): aplica-se as normas do país 
de constituição do ato negocial. Trata-se de um dos critérios de conexão mais 
populares e disseminados, sendo previsto entre nós no artigo 9.º, caput, da Lei 
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro; 
 Lex Loci Executionis (lei do local da execução do contrato): a norma a ser 
empregada deverá ser a da jurisdição da execução de um contratado ou do 
local onde uma determinada obrigação deve ser cumprida; 
 Lex loci celebrationis (lei do lugar da celebração): será aplicada a lei do local 
onde a obrigação foi contraída (tome-se como exemplo o casamento); 
 Lex rei sitae (lei do lugar onde a coisa se encontra): será aplicado o 
regulamento do país em que se encontram situados os bens imóveis; 
 Lex Sucessionis (lei do domicílio habitual do falecido): aplica-se a lei vigente ao 
tempo da abertura da sucessão, disciplinando a capacidade para suceder. 
 Lex Patriae (lei da nacionalidade): 
 
30 
 
Por outro lado, o critério de seleção da lei aplicável contido na Lei de Introdução 
àsNnormas do Direito Brasileiro, que é um decreto elaborado na Era Vargas, gira 
fundamentalmente em torno do local onde foi constituída a obrigação (lex loci 
contractus), o da residência do proponente (lex domicilli) e, em suas dobras, o da 
execução (lex loci executionis), uma vez que na interpretação da lei do local do 
contrato leva-se também em consideração as exigências da norma de sua execução. 
A lei do local do domicílio é um dos mais relevantes elementos de conexão do 
sistema de direito internacional privado brasileiro, expressa no artigo 7.º, da Lei de 
Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Mas nem sempre foi assim: até o advento 
desse diploma legal, o Código Civil de 1916 estabelecia a lex patriae (lei da 
nacionalidade) como critério de conexãopara identificar o direito aplicável ao estatuto 
pessoal, contudo essa regra foi sendo afastada por diversos países como a Suíça, 
Reino Unido, países latino-americanos etc. No Brasil ocorreu o mesmo com a edição 
do Decreto-Lei n.º 4.657/42 – LINDB, que substituiu o critério da nacionalidade pelo 
domiciliar como regra de conexão. Segundo Basso (2011, p. 175), as razões que 
levaram a essa modificação estão centradas na acentuada e constante mobilidade de 
pessoas entre territórios estrangeiros, na formação de famílias plurinacionais nos 
Estados e na exacerbação do comércio internacional. 
A seu turno, a lex voluntatis diz respeito à possibilidade de as partes 
escolherem qual direito será aplicado em uma relação obrigacional com conexão 
internacional. No direito internacional privado, o princípio da autonomia privada, 
aplicado essencialmente no âmbito das obrigações contratuais, tem por função 
essencialmente conferir às partes a faculdade de escolherem qual o direito deverá 
regular a avença firmada entre elas. Destaque-se que a aplicação da lei escolhida 
dependerá da admissão da autonomia privada por parte de um Estado. O artigo 9.º 
da LINDB não deixa margem alguma para as partes escolherem a lei aplicável à 
substância de um contrato. Ipso facto, sob o prisma legal, prevalece o entendimento 
de que o Brasil não considera válido o princípio da autonomia da vontade no que se 
refere à escolha do direito material aplicável, o que representa enorme retrocesso à 
medida que a tendência mundial converge para a aceitação da autonomia das partes 
como elemento de conexão, mormente por facilitar o desenvolvimento do comércio 
internacional. 
 
 
 
2.6 Aplicabilidade do direito estrangeiro 
 
Releva considerar que a aplicação do direito estrangeiro, que é dotado da 
mesma força coativa do direito nacional, independe de qualquer ato discricionário do 
juiz, mas se dá em razão de estrita previsão legal do ordenamento interno. O poder 
de coação do direito estrangeiro é de tal ordem que as partes não podem renunciar 
ao seu comando, e o juiz deve aplicá-lo ainda que as partes não aleguem. 
Compete àquele que alegar direito estrangeiro fazer prova de seu teor e 
vigência, exceto quando o juiz dispensá-lo. Observe-se, contudo, que os tratados e 
convenções internacionais assinados e ratificados pelo Brasil dispensam referida 
 
31 
prova, uma vez que ingressam em nosso ordenamento jurídico como lei federal, ou 
mesmo como emendas constitucionais, se dispuserem sobre direitos humanos. Uma 
das formas mais apropriadas para a prova do direito estrangeiro é uma certidão da 
autoridade estrangeira autenticada pelo consulado. 
A aplicação do direito estrangeiro no Brasil encontra limites quando ofender a 
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, consoante dispõe o artigo 
17, da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, in verbis: 
 
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer 
declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil quando ofenderem a 
soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. 
 
Tais limites são denominados de salvaguarda imunológica, dos quais a ordem 
pública é um dos mais utilizados para obstaculizar a aplicação da lei estrangeira. 
 
2.7 Direito internacional x norma interna 
 
O conflito entre normas de direito internacional e de direito interno tem se 
mostrado uma das questões mais tormentosas, exigindo tratamento capaz de 
corresponder à altura da importância que o direito internacional vem adquirindo como 
marco regulador das relações internacionais, de modo a permitir seu desenvolvimento 
em ambiente estável e pacífico. 
O relacionamento entre o direito interno de um país e o direito internacional tem 
sido tratado a partir de duas doutrinas: teoria monista e teoria dualista. Para a teoria 
dualista não há possibilidade de conflito entre as duas ordens jurídicas já que são 
completamente independentes, pois para que uma norma internacional seja aplicada 
na ordem interna de um Estado, este terá inicialmente que transformá-la em norma 
de direito interno, incorporando-a ao seu ordenamento jurídico. A teoria monista 
apresenta-se sob duas vertentes: a) o monismo com supremacia do direito 
internacional, que não aceita a ideia de duas ordens jurídicas independentes, 
entendendo que o direito internacional é superior ao direito interno; e b) o monismo 
com supremacia do direito interno, por entender que o Estado possui soberania 
absoluta, sujeitando-se, portanto, somente ao seu sistema jurídico. O direito 
internacional seria a continuação do direito interno. 
No âmbito internacional, a jurisprudência acolhe pacificamente a primazia do 
direito internacional sobre o direito interno dos Estados, já o mesmo não ocorre 
internamente nos Estados, inexistindo uma prática uniforme em seus respectivos 
ordenamentos jurídicos estatais, adotando cada Estado uma regra diferente, que pode 
variar desde a adoção de regras que conferem superioridade às normas de direito 
internacional até outras que consagram o primado do direito interno. 
Alguns países, como os Estados Unidos, por exemplo, dispõem, em suas 
constituições regras específicas sobre a adoção das normas de direito internacional; 
outros nada preveem, sendo este o caso do Brasil, cuja Constituição Federal de 1988 
não contém um único artigo para esclarecer se consagra a primazia do direito interno 
ou o primado do direito internacional, competindo à jurisprudência do Supremo 
 
32 
Tribunal Federal e à doutrina nacional a edificação complementar de regras para 
solução do conflito entre o direito internacional e a norma interna. 
Vale ressaltar que o direito internacional vem à luz como um instrumento apto 
a propiciar o consenso entre os diferentes ordenamentos internos, e os Estados, 
hodiernamente menos homogêneos, aceitam renunciar sua soberania absoluta em 
prol da extinção dos conflitos de interesses; por tais razões também se afirma que o 
direito internacional substancia-se em uma ordem jurídica hierárquica disposta a 
balizar o poder soberanos dos Estados. 
Finalmente, ressalte-se que o sistema adotado pelo Brasil não é dualismo puro 
tampouco monismo puro, fala-se em “falso monismo” na medida que aceita sua 
obrigação (pacta sunt servanda), embora a prática o sistema seja dualista. O item VIII 
do art. 84 da CF/88 dispõe que cabe ao Presidente da República, privativamente, 
celebrar tratados, convenções e atos internacionais sujeitos a referendo do Congresso 
Nacional. 
 
 
 
 
33 
3. SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL 
 
Antes de discorrermos sobre o tema em epígrafe, é relevante destacar que os 
sujeitos do direito internacional privado são pessoas físicas ou jurídicas uma vez que 
neste ramo do direito temos relações entre particulares, diferentemente do direito 
internacional, em que os sujeitos envolvidos classicamente são os Estados e as 
organizações internacionais. 
 
3.1 Definição 
 
Segundo Accioly (2009, p. 140), “sujeito do direito das gentes é toda entidade, 
natural ou jurídica a quem, na ordem internacional, são reconhecidos direitos e 
impostas obrigações”. Desta forma, é possível compreender por sujeito de direito 
internacional o ente jurídico dotado de prerrogativa no que se refere aos seus direitos 
e deveres no plano internacional. Por pessoa de direito internacional pode-se entender 
os destinatários das normas jurídicas internacionais. 
Personalidade jurídica, no dizer de Maria Helena Diniz (1997, p. 4), é a aptidão 
genérica para adquirir direitos e contrair obrigações; vincula-se à titularidade de direito 
e deveres. No ambiente internacional, a personalidade jurídica prende-se à 
capacidade para agir neste plano, podendo adquirir direitos, contrair obrigações, 
reivindicar direitos, participar da elaboração de normas internacionais, ter privilégios e 
imunidades de jurisdição estatal, ajuizar ações perante tribunais internacionais etc. 
Os Estados são considerados os primeiros sujeitos

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