Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tópicos Avançados em Economia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Andreia Marques Duarte Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento Economia Criativa • A Economia Criativa; • Indústria Cultural e Criativa; • Economia Criativa em Números; • Criatividade e Inovação; • Cidades Criativas. · Apresentar o conceito de Economia Criativa incorporando a influên- cia da criatividade, da produção cultural e da produção ‘simbólica’ ao campo da economia, tema relativamente recente cuja realidade compreende formas originais de pensamento, produção, gestão e compartilhamento dos bens materiais e simbólicos. Com abordagem interdisciplinar, faz parte, atualmente, do vocabulário de quem se dedica aos temas relacionados à Economia da Cultura e à Economia do Conhecimento. OBJETIVO DE APRENDIZADO Economia Criativa Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Economia Criativa A Economia Criativa O conceito de economia criativa foi cunhado no final da década de 1990 pelo Departamento de Cultura, Mídia e Esporte (DCMS) do Reino Unido. Ga- nhou expressão e relevância a partir dos anos 2000 quando foi apresentado ao mundo pela primeira vez pelo autor e pesquisador inglês John Howkins através do livro ‘The Creative Economy: How People Make Money From Ideas’ (2001), onde ele definiu a economia criativa como o processo que en- volve a criação, produção e distribuição de produtos e serviços que possuem valor econômico, utilizando o conhecimento, a criatividade e o capital social como principais recursos. Apesar de ser um conceito relativamente novo e com diferentes definições, ca- racterizações e formas de mensuração ao redor do globo, há o consenso de que se trata do conjunto de atividades econômicas que dependem da produção de conteúdo simbólico – ou seja, o conhecimento, o capital social e intelectual e, principalmente, a criatividade, que são as “matérias-primas” mais importantes para a criação, produ- ção e distribuição desses tipos de bens. A ascensão da economia criativa é reflexo da profunda mudança que ocorre nos mercados globais hoje. À medida que atravessamos de uma economia industrial para uma economia do conhecimento ou “pós-industrial” os países desenvolvidos e em desenvolvimento começam a adotar políticas de fomento às atividades culturais e cria- tivas, alimentadas significativamente pelas novas tecnologias e pela inovação, dentro de um contexto em que o conhecimento e a informação são os mais importantes impulsionadores do crescimento. Aquela em que a importância da manufatura diminui ocasionando um processo de des- industrialização ao passo que a economia de serviços e de tecnologia da informação se desenvolvem amplamente. Ex pl or A economia criativa está revitalizando as indústrias de manufatura, serviços, varejo e entretenimento em todo o mundo, impactadas pelo surgimento de novas tecnologias computacionais e de comunicação. Esse conceito vem despontando juntamente com a proliferação de novos processos produtivos que requerem, cada vez mais, capital humano intensivo em conhecimento e criatividade, bem como, novos modelos de gestão produtiva, padrões de consumo e organização do trabalho. Propagada mundialmente por intelectuais de diversas áreas, a economia cria- tiva abrange uma ampla gama de campos como a música, arte, literatura, moda, design, indústrias de mídia como rádio, publicação, produção cinematográfica e televisão. Inclui tanto o desenvolvimento de softwares que dependem de pro- dução intensiva em tecnologia que gera valor econômico significativo, quanto o artesanato e as produções culturais mais tradicionais devido aos seus significados sociais e culturais profundos. 8 9 No Brasil, a definição adotada engloba setores “cujas atividades produtivas têm como processo principal um ato criativo gerador de um produto, bem ou serviço, cuja dimensão simbólica é determinante do seu valor, resultando em produção de riqueza cultural, econômica e social”, ou seja, participam das dinâmicas sociais, culturais e econômicas, as atividades caracterizadas pela prevalência da dimensão simbólica construída a partir do ciclo de criação, produção, distribuição/circula- ção/difusão /consumo/ fruição de bens e serviços oriundos dos setores criativos. (SEC-MinC, 2012, p. 22-23). Setores Criativos Economia Criativa Consumo/ Fruição Criação Difusão/ Distribuição Produção Figura 1 Fonte: Adaptado de MINC, 2012 No Brasil, são consideradas atividades de Economia Criativa as artes cênicas, músi- ca, artes visuais, literatura e mercado editorial, audiovisual, animação, games, desen- volvimento de softwares, publicidade, rádio, TV, moda, arquitetura, design, gastrono- mia, cultura popular, artesanato, entretenimento, eventos e turismo cultural. Abrange também atividades que interagem com a tecnologia e propriedade intelectual em uma mesma dimensão e tem relação de transbordamento com áreas como o esporte. Os princípios que norteiam a Economia Criativa estão associados à promoção da inclusão social, da diversidade cultural e do desenvolvimento humano. Além disso, os setores criativos que a compõe são potencialmente geradoras de crescimento e de- senvolvimento devido aos ganhos advindos do aumento da comercialização e expor- tação desses produtos e serviços, consequentemente à geração de emprego e renda para os profissionais diretamente envolvidos e para toda a cadeia de distribuição in- corporada a estes, ou seja, os resultados positivos se espraiam por toda a economia. 9 UNIDADE Economia Criativa Diversidade Cultural Sustentabilidade Inclusão Social Inovação Economia Criativa Brasileira Figura 2 Fonte: Adaptado de MINC, 2012 A importância crescente do conceito estabelecido e evoluído nas últimas déca- das reside principalmente no reconhecimento da dimensão das indústrias criativas e, portanto, do potencial que a economia criativa conduz. Indústria Cultural e Criativa As indústrias criativas começaram a fazer parte da formulação de políticas cultu- rais e nacionais em países como a Austrália já no início dos anos 1990, em seguida os influentes Departamentos de Cultura, Mídia e Esporte dos Estados Unidos e do Reino Unidoimplementaram iniciativas de estímulo à consolidação dessas indús- trias no final da década. O conceito de indústria criativa, contudo, só tomou corpo e ganhou fama a partir de 1998, quando o governo trabalhista inglês passou a incorporar em sua estratégia de política econômica o apoio a um conjunto de setores considerados de especial ca- pacidade para geração de emprego e renda. Foi então lançado o documento oficial in- titulado ‘Mapeamento das Indústrias Criativas’, que definia as indústrias criativas como sendo “aquelas que têm sua origem na criatividade individual, habilidade e talento e que têm potencial para geração de empregos e riqueza, através da exploração da proprie- dade intelectual”. Compreendidas como um ecossistema dinâmico, a essência das indústrias criati- vas está ligada à sua capacidade de estabelecer conexões entre os setores clássicos de arte e cultura aos setores de mídia e informação, construindo pontes entre domínios tradicionais do trabalho criativo (música, pintura, artesanato etc.) e as novas tecnolo- gias de mídia digital (games, desenvolvimento de softwares, audiovisual etc.). 10 11 A Economia “laranja“, como defi ni-la. Disponível em: https://goo.gl/jqM87S. Ex pl or [...]Independentemente da forma como as indústrias criativas são definidas e classificadas, não há controvérsia quanto ao fato de que elas se localizam no centro do que pode ser classificado em termos mais amplos como “eco- nomia criativa”[...]. (UNCTAD, 2010) Industrias Criativas Patrimônio Artes Mídia Criatividade Funcional Publicações e Mídia Impressa Artes Visuais Expressões Culturais Tradicionais Sítios Culturais Design Audiovisual Artes Performaticas New Media Serviços Criativos Figura 3 - Modelo de indústrias criativas Fonte: Adaptado de UNCTAD, 2010 Nesta perspectiva, reunindo uma “classe criativa” - agrupamento amplo de muitos tipos diferentes de profissionais, trabalhadores criativos, administrativos e técnicos (ou seja, não apenas os trabalhadores criativos) que produzem inovação de vários tipos -, formaram uma “classe” que Flórida (2011) destacou como fonte de energia inovadora de dinamismo cultural nas sociedades urbanas atuais. Richard Florida é um dos intelectuais de maior destaque mundial no que se refere a indústrias criativas aliadas a planejamento urbano, desenvolvimento econômico e tendências socioculturais. É professor de business e criatividade na Universidade de Toronto e autor de, entre outros, Who’s your city (2008) e The Great Reset (2010). Comentarista da CNN, escreve regularmente para veículos da imprensa de língua inglesa, como The New York Times, The Wall Street Journal e The Economist. Ex pl or 11 UNIDADE Economia Criativa As categorias significativas de trabalhadores criativos são identificadas: • Arquitetura & Engenharia: Fornecem as ideias e a criatividade para a indústria da Construção Civil e, por isso, a cadeia desse segmento é a mais expressiva sob a ótica da Indústria Criativa. Considera os serviços de Arquitetura, Atividades Paisa- gística & Engenharia que elaboram projetos de topografia, urbanismo, cartografia e edificações, serviços técnicos que demandam alto grau de especialização; • Artes: Atividade ligada diretamente à cultura como dança, artes cênicas, ar- tes plásticas etc., agrega também os Clubes Literários, Cinema, Fotografia e o Comércio Varejista de Objetos de Arte. Destacam-se também as Artes culinárias como Chefes de cozinha, de confeitaria, bar e produtores e dire- tores de serviços culturais; • Artes Cênicas: Apresenta atividades de produção de espetáculos de teatro e dança. Os profissionais mais representativos são os Professores de dança, Apresentadores de Eventos, Dançarinos e Atores; • Biotecnologia: Nos últimos anos, os grandes laboratórios têm gradualmente mudado o foco de suas pesquisas das tradicionais drogas químicas para célu- las e demais organismos vivos, o que faz da Biotecnologia um segmento com grande potencial, sobretudo em um país com enorme biodiversidade como o Brasil. A cadeia de Biotecnologia é composta por Laboratórios, Biólogos e os Biotecnologistas; • Design: Em mercados cada vez mais competitivos, o design se torna um instrumen- to primordial para conquistar novos clientes e diferenciar os produtos. No Brasil, a cadeia de Design engloba o Comércio varejista de móveis, a atividade de Decoração de interiores, Designers gráficos e os Desenhistas técnicos aeronáuticos; • Filme & Vídeo: O setor de Filme & Vídeo inclui os fotógrafos, a produção fo- tográfica, os Montadores de filmes, autores e roteiristas; • Mercado Editorial: Atua diretamente na edição de livros, jornais e revistas. Quando consideradas as atividades da cadeia criativa, inclui a impressão gráfica e o comércio de livros. O setor está entre os cinco maiores da In- dústria Criativa e entre as profissões do núcleo estão os Editores de texto e Imagem, os Jornalistas, os Diretores de redação e Editores de revista; • Moda: Segundo Howkins (2001), o mercado da Moda pode ser definido como uma volátil mistura de arte, expressões culturais, design, manufatura, comér- cio e publicidade. Mobiliza desde os designers de moda até as costureiras e vendedores que levam o produto final ao grande público fazendo do setor o segundo maior empregador entre os quatorze segmentos criativos. Entre os profissionais estão os Designers de Sapatos, os Modelistas de calçados, Esti- listas e Designers de moda; • Música: A música é o mais intangível dos produtos criativos (Howkins, 2001) e por isso é difícil mensurar com precisão seu tamanho na economia. Enquanto o núcleo criativo se refere às empresas de gravação de som e de edição de mú- sica, a cadeia abrange também o comércio de mídias e instrumentos musicais. Compreende os Músicos, Intérpretes, Instrumentistas, Projetistas de Sistemas de Áudio, Compositores e Músicos Arranjadores; 12 13 • Pesquisa & Desenvolvimento: Setor onde a inovação tecnológica é o pro- duto final e todos os estabelecimentos estão concentrados no núcleo criati- vo. São mais de 14 mil empresas que atuam em atividades como Pesquisa & Desenvolvimento experimental em ciências físicas, naturais, sociais e hu- manas e Testes e análises técnicas. Os profissionais que compõem o núcleo são os mais bem remunerados da Indústria Criativa brasileira, com destaque para os Petrógrafos, Geofísicos e Astrônomos; • Publicidade: A Publicidade tem conquistado cada vez mais espaço na eco- nomia brasileira, já que é vista como ferramenta imprescindível na conquista dos consumidores e de novas parcelas de mercado. Na cadeia da Publici- dade, os destaques ficam por conta da Organização de feiras, congressos, exposições e festas e das Agências de publicidade. Ainda incluem os analistas de negócios, analista de marketing e de pesquisa de mercado, Gerentes e Diretores de Marketing; • Software, Computação e Telecom: A cadeia de Software, Computação e Tele- com é o segmento com maior número de estabelecimentos. Impulsionado pela fi- gura do empresário autônomo que exerce individualmente atividades criativas como Desenvolvimento de programas de computador sob encomenda e Consultoria em TI, profissionais na cadeia de Software, Computação e Telecom. Entre as profis- sões criativas, destacam-se os Programadores de sistemas de informações, gerentes de segurança de tecnologia de informação e desenvolvimento de sistemas; • Televisão e Rádio: No segmento de Televisão e Rádio, os locutores e Repór- teres de rádio e televisão possuem a maior presença, enquanto os diretores de programas de televisão se destacam pelo elevado salário médio. Em televisão e rádio, em função do formato de criação do empreendimento, relacionado ao sistema de concessões públicas, dos custos de entrada nas redes de assinatura e do elevado grau de abrangência dos produtos do segmento, as grandes em- presas são predominantes; • Expressões Culturais: Na cadeia de Expressões culturais, a produção e a co- mercialização do produtofinal geralmente se confundem devido as característi- cas intrínsecas ao segmento. Representa o Comércio varejista de suvenires, bi- juterias e artesanatos, Artífices de couro, conservadores-restauradores de bens culturais e cenógrafos carnavalescos. (IPEA, 2013) A UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, 2010, p. 8) - defi ne indústria criativa como [...] os ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos [...]. Um primeiro problema na defi nição acima diz respeito à própria expressão “Creative Industries” que originada em países de língua inglesa é traduzida no Brasil literalmente como “Indústrias Criativas”. Entretanto, vale lembrar que na língua inglesa o termo “indús- tria” signifi ca “setor” ou o conjunto de empresas que realizam uma atividade produtiva co- mum (por exemplo, o setor automobilístico, o setor de vestuário etc.), diferente, portanto, do termo “indústria” comumente adotado no Brasil que está associado às atividades fabris de grande escala e massifi cadas. Ex pl or 13 UNIDADE Economia Criativa Insumos: O que compreende um conjunto de atividades baseadas no conhecimento e focadas, mas não limitadas, às artes e com potencial para gerar receitas a partir de sua comercialização e exploração de direitos de propriedade intelectual. Ex pl or Economia Criativa em Números Os dados sobre o crescimento da economia criativa no mundo são indiscutí- veis. Segundo estimativas da Unesco, o comércio internacional em bens e ser- viços culturais cresceu, em média, 5,2% ao ano entre 1994 (US$ 39 bilhões) e 2002 (US$ 59 bilhões). No entanto, esse crescimento continua concentrado nos países desenvolvidos, responsáveis por mais de 50% das exportações e impor- tações mundiais. Ao mesmo tempo, pesquisas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam para uma participação de 7% desses produtos no PIB mundial, com previsões de crescimento anual que giram em torno de 10% a 20%. (SEC MINC, 2012). Em particular, a ideia da economia criativa no mundo em desenvolvimento, e mais especificamente no Brasil, chama a atenção para os ativos criativos e a amplitude da riqueza cultural que existe. Segundo o estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN, 2016), intitulado Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, entre 2013 e 2015, por exemplo, a participação do PIB Criativo estimado em relação ao PIB Brasileiro cresceu de 2,56% para 2,64%. A economia criativa gerou uma riqueza de aproximadamente R$ 155,6 bilhões para a economia brasileira no último ano avaliado, “valor equivalente à soma dos valores de mercado das marcas Facebook, Zara e L’ Oréal reunidas”. Figura 4 – Participação do PIB criativo no PIB total brasileiro (2004 a 2015) Fonte: FIRJAN, 2016 Sob a ótica do mercado formal de trabalho, a Indústria Criativa era composta por 851,2 mil profissionais formais em 2015. Na comparação com 2013, os cria- tivos cresceram 0,1%, variação relevante diante do encerramento de quase 900 mil postos de trabalho no total do mercado de trabalho (-1,8%). Como consequên- cia, no período adverso, os profissionais criativos aumentaram sua participação no mercado de trabalho (1,8% em 2015 ante 1,7% em 2013), o que reforça o papel estratégico da classe criativa na atividade produtiva. 14 15 Para avaliar a relevância econômica dos segmentos da indústria criativa brasileira, foram consideradas, além do núcleo criativos caracterizadas como as atividades de provisão direta de bens e serviços, as chamadas atividades relacionadas e de apoio. Ex pl or Em relação à remuneração, os trabalhadores criativos apresentam salários supe- riores à média da economia – fato constatado, inclusive, nas quatro áreas criativas. A classe criativa tem salário médio de R$ 6.270, mais de duas vezes e meia a remu- neração média dos empregados formais brasileiros (R$ 2.451), isso por conta do nível de qualificação e a especificidade do trabalho, já que a área demanda profissio- nais com grau de formação e especialização cada vez mais elevado. Entre as áreas criativas, Consumo (44,2%) e Tecnologia (36,8%) responderam por mais de 80% dos trabalhadores criativos no Brasil – destaque para P&D (Pes- quisa & Desenvolvimento), TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) e Pu- blicidade & Arquitetura. Consumo, Cultura e Tecnologia que apresentaram evolu- ção superior ao total da economia em comparação com anos anteriores. Entre os estados, estima-se que as maiores participações da Indústria Criativa nos PIBs estaduais foram em São Paulo (3,9%), Rio de Janeiro (3,7%) e Distrito Federal (3,1%), todos os três com participação acima da média nacional (2,64%) e apresentando manutenção ou expansão de participação no período. Dentre as 27 unidades da Federação, 18 mantiveram ou aumentaram a participação do PIB Criativo no período 2013-2015, o que consolida a Indústria Criativa como área estratégica, com visão disseminada por todo o país. Por fim, no que tange ao volume de empresas cujo principal insumo de produ- ção são as ideias, a Indústria Criativa é composta por 239 mil estabelecimentos (dados de 2015 – FIRJAN, 2016). A economia criativa hoje se estende a uma ampla gama de áreas de responsa- bilidade política e para lidar com as indústrias criativas o Brasil conta atualmente com a Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura, criada em 2011, além de linhas de incentivo às cadeias produtivas por meio do BNDES, a fim de conciliar objetivos nacionais no plano cultural com as políticas comerciais, tecno- lógicas e internacionais, analisar e lidar com as assimetrias que inibem o cresci- mento das indústrias criativas, principalmente nos países em desenvolvimento. O chamado “nexo criativo” entre investimento, tecnologia, empreendedoris- mo e comércio requer respostas políticas inovadoras para estimular a economia criativa, visto que o comércio mundial desses bens e serviços cresce a taxas mais elevadas do que setores tradicionais da economia. Independentemente da forma de mensuração, o segmento é potencialmente gerador de crescimento e desenvol- vimento econômico e promotor de inclusão social, diversidade cultural e desenvol- vimento humano. 15 UNIDADE Economia Criativa Criatividade e Inovação “A criatividade não é uma coisa nova e nem a economia o é, o que é nova é a natureza e a extensão da relação entre elas e a forma como combinam para criar extraordinário valor e riqueza”. (HOWKINS, 2001) Para Howkins (2001), existem dois tipos de criatividade: o tipo que se relaciona com a realização das pessoas enquanto indivíduos e o tipo que gera um produto. O primeiro é uma característica universal da humanidade e é encontrado em todas as sociedades e culturas. O segundo é mais intenso em sociedades industriais, que atribuem um valor maior à novidade, à ciência e à inovação tecnológica e aos direitos de propriedade intelectual, sobre o qual tratamos aqui. (UNCTAD, 2010). A economia é movida então pela própria criatividade humana, criatividade que compreende a capacidade de inovar, fator determinante da vantagem competitiva nos dias atuais. Em praticamente todos os setores da economia, aqueles que con- seguem criar e inovar são os que logram sucesso com o passar dos anos. Na eco- nomia de hoje, a criatividade é generalizada e contínua. Segundo Florida (2011), “estamos sempre revendo e aprimorando cada produto, cada processo e cada ati- vidade imaginável, e integrando-os de novas maneiras” [...]. Não é surpreendente que a criatividade tenha se tornado o bem mais estimado de nossa economia e, ainda assim, ela não é exatamente um ‘bem’, mas fruto da atividade humana”. A criatividade econômica é, portanto, um processo dinâmico que leva à inovação em tecnologia, práticas de negócio, marketing etc., sendo intensamente relaciona- da à aquisição de vantagem competitiva na economia. (UNCTAD, 2010, p. 3). A própriacapacidade de se reinventar tem se consolidado como um dos fatores de vantagem competitiva no meio empresarial. Além dos insumos tradicionais de produ- ção – capital, matéria-prima e mão de obra – as ideias e a criatividade passaram a ser o “input” relevante e necessário para a diferenciação dos produtos e para a geração de valor. O aumento da importância da geração de ideias e da criatividade não é um fenômeno recente, mas ganha renovado impulso na atual conjuntura econômica. Ao longo da última década, o tema da criatividade e sua materialização em bens e serviços de consumo estiveram no foco das discussões em empresas, governos e organismos multilaterais no mundo todo. Seu significado decorre não apenas da contribuição da criatividade ao valor econômico nas indústrias, como também na maneira em que estimula o surgimento de novas ideias, tecnologias e processos dentro e fora das empresas. A economia criativa deve ser vista, portanto, “como um sistema complexo que deriva o seu “valor econômico” da facilitação da evolução econômica, ou seja, um sistema que fabrica atenção, complexidade, identidade e adaptação embora o principal recurso seja a criatividade.” (FIRJAN, 2016). 16 17 As economias mundiais avançadas já perceberam a enorme relevância da criatividade como diferencial competitivo, tanto que investem em escala geomé- trica na capacitação e no estímulo ao desenvolvimento da inteligência criativa dos indivíduos e também de suas empresas. Muitos países adotaram estratégias de política econômica a partir desse conceito, o que incluiu “uma análise acu- rada a respeito das mudanças profundas pelas quais o capitalismo internacional vinha passando”, como, por exemplo, o uso das novas tecnologias digitais que se configurou como a Terceira Revolução Industrial, moldando novas formas de produção, distribuição e principalmente de geração de valor, acarretando mudanças radicais na geografia econômica internacional e na intensificação do processo de globalização (FIRJAN, 2016). A Terceira Revolução Industrial: Uma nova e radical economia de partilha. Disponível em: https://youtu.be/QX3M8Ka9vUA.Ex pl or [...] vemos despontar modelos totalmente novos de infraestrutura econô- mica para dar suporte à criatividade e estimular pessoas criativas a desen- volver novas ideias e produtos – exemplos disso são os gastos sistemáticos com pesquisa e desenvolvimento, o crescente número de empresas de alta tecnologia e os investimentos de risco. (FLORIDA, 2011, p. 5) Em um momento de reorganização e busca pela diferenciação, as áreas estraté- gicas das empresas passam a olhar com atenção para a economia criativa. Como observado por Florida (2011), em praticamente todos os segmentos da economia, aqueles que conseguem criar e continuar se transformando são os que obtêm su- cesso no longo prazo. Espraia-se então uma economia baseada no conhecimento, no qual o papel da inovação se torna muito importante. Desse ponto, desdobra-se então uma questão central: em certa medida não so- mos todos criativos? Não seriam os demais setores econômicos também criativos quando apresentam soluções inovadoras dentro do seu próprio negócio? Sim. Inclusive a criação de novos processos produtivos dentro das fábricas, o de- senvolvimento de novos processos, métodos de produção e comercialização, novas formas de sistemas logísticos de escoamento da produção e a implantação de novos modelos de gestão dos negócios que incorporam o pensamento criativo e inovador constituem exemplos saudáveis de inovação criativa. Além disso, a inovação em determinados segmentos criativos (como o design, as tecnologias da informação, os games, etc.) tem relação direta com a identificação de soluções viáveis e pode se dar tanto na melhoria e/ou na criação de um novo pro- duto (bem ou serviço) como no aperfeiçoamento e redesenho total de um processo. A inovação exige conhecimento, identificação e reconhecimento de oportunidades, escolha por melhores opções, capacidade de empreender e assumir riscos, olhar crítico e pensamento estratégico que permitem a realização de objetivos. 17 UNIDADE Economia Criativa Por esse motivo, o termo “Economia Criativa” é usado para privilegiar as ativi- dades envolvendo criatividade cultural e inovação e a participação desses setores em termos puramente econômicos. Por isso, o conceito de inovação está essencial- mente ligado ao conceito de economia criativa, pois o processo de inovar envolve elementos importantes para o seu desenvolvimento. Nessa visão, as indústrias cul- turais e criativas são pioneiras, alimentando dispositivos que estimulam a criativida- de e a inovação em benefício de todos. As indústrias criativas que utilizam esses recursos não só permitem que os países realizem suas próprias histórias e projetem as suas identidades culturais para si e para o mundo como também proporcionam a esses países uma fonte de cresci- mento econômico, geração de emprego e renda e aumento da participação na eco- nomia global. As indústrias culturais e criativas não só impulsionam o crescimento econômico através da criação de valor como também se tornaram elementos-chave do sistema de inovação de toda a economia. A inovação possui outro significado que não se refere apenas aos segmentos cria- tivos citados. No campo da cultura, por exemplo, a inovação pressupõe muitas vezes uma ruptura com o status quo. Por isso, a inovação artística deve ser apoiada pelo Estado o qual deve gerir e garantir, através de políticas públicas, os produtos e serviços culturais que não se submetem apenas às leis de mercado como também apresentam novas ideias e novas formas de pensar frente aos desafios de nossa época. [...] Assumir a economia criativa como vetor de desenvolvimento, como processo cultural gerador de inovação, é assumi-la em sua dimensão dia- lógica, ou seja, de um lado, como resposta a demandas de mercado, de outro, como rompimento às mesmas. (SEC MinC, 2012). Cidades Criativas A ideia de uma economia criativa também tem sido aplicada especificamente à economia das cidades, o que levou ao surgimento do conceito de “cidade criativa”. Esse termo descreve um complexo urbano em que os vários tipos de atividades cul- turais constituem um componente importante do funcionamento econômico e social da cidade. Um primeiro impulso significativo pelo importante trabalho realizado pelo consultor britânico Charles Landry na “cidade criativa”. Um segundo e altamente influente força internacional foi o trabalho de Richard Florida, um Teórico dos estudos urbanos america- nos, sobre a “classe criativa”. Ex pl or 18 19 Tais cidades tendem a ser construídas sobre uma sólida infraestrutura social e cultural, a ter concentrações de emprego criativo e a ser atrativas ao investimento estrangeiro devido à acessibilidade dos seus bens culturais. A criatividade se tornou fator essencial ao dinamismo urbano, as antigas indústrias desapareceram enquan- to as cidades estão crescendo e o valor agregado das cidades é criado menos pelo que é fabricado do que pelo capital intelectual aplicado aos produtos, processos e serviços e por seus atributos turísticos, segundo Charles Landry. Cidades criativas utilizam seu potencial criativo de várias formas. Algumas delas funcionam para a geração de experiências culturais aos habitantes e visitantes, por meio da apresentação de seu patrimônio cultural ou por meio de suas atividades culturais nas artes cênicas ou visuais. Outras utilizam festivais que moldam a identi- dade de toda a cidade. Em particular o Brasil, chama a atenção pela amplitude da riqueza cultural que existe no país. Em outros casos, uma função mais generalizada para a cultura na cidade criativa se encontra na capacidade das artes e da cultura de estimular a ocupação urbana, a coesão social e a identidade cultural. A contribuição do setor criativo para a vita- lidade econômica das cidades pode ser medida em termos da contribuição direta do setor por meio dos rendimentos e empregosgerados e ainda através dos efeitos indiretos e induzidos causados pelos gastos dos turistas que visitam as cidades para conhecer suas atrações culturais. Cidades Criativas. Disponível em: https://youtu.be/OCbxGQ5c4t0. Ex pl or 19 UNIDADE Economia Criativa Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros The Flight of the Creative Class: The new global competition for Talent FLORIDA, Richard. The Flight of the Creative Class: The new global competi- tion for Talent. HarperBusiness. 2005. The Creative City: A Toolkit for Urban Innovators LANDRY, Charles. The Creative City: A Toolkit for Urban Innovators, 2000. Plano da Secretaria da Economia Criativa Políticas, diretrizes e ações 2011 a 2014 NEWBIGIN, John. A Economia Criativa: Um Guia Introdutório. Série Economia Criativa e Cultural. BRITISH COUNCIL. 2010. https://goo.gl/z2SVdV Por um Brasil Criativo: Significado, Desafios e Perspectivas da Economia Criativa Brasileira POR UM BRASIL CRIATIVO: Significado, Desafios e Perspectivas da Economia Criativa Brasileira. 1. ed. Belo Horizonte. Editora Código. 2016. Leitura Unesco world report: investing in cultural diversity and intercultural dialogue UNESCO – UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION. Unesco world report: investing in cultural diversity and intercultural dialogue. Unesco, 2009. https://goo.gl/SpZo4d 20 21 Referências FIRJAN, Sistema. Mapeamento da Industria Criativa no Brasil. Dezembro/2016. Disponível em: <http://www.firjan.com.br/economiacriativa/download/mapeamen- to-industria-criativa-sistema-firjan-2016.pdf>. Acesso em: 01/06/2018. FLORIDA, Richard. A Ascensão da Classe Criativa – e seu papel na transforma- ção do trabalho, do lazer, da comunidade do cotidiano. Porto Alegre: L&PM Edito- res, 2011. HOWKINS, John. The Creative Economy: How people make money from Ideas. Penguin. UK, 2001. (versão em português: Economia Criativa. Como Ganhar Di- nheiro Com Ideias Criativas: São Paulo. M Books. 2012). PANORAMA DA ECONOMIA CRIATIVA NO BRASIL. Texto para discussão. Cadernos do IPEA 1880. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: <http://www.ipea. gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1880.pdf>. Acesso em: 01/06/2018. PLANO DA SECRETARIA DA ECONOMIA CRIATIVA Políticas, diretrizes e ações 2011 a 2014, Brasília. SEC, Ministério da Cultura. 2012. RELATÓRIO DE ECONOMIA CRIATIVA 2010. Economia Criativa uma op- ção de desenvolvimento. Brasília: Secretaria da Economia Criativa/Minc. São Paulo. Itaú Cultural, 2012. 424 p. Disponível em: <http://unctad.org/pt/docs/ ditctab20103_pt.pdf>. Acesso em: 01/06/2018. 21
Compartilhar