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APG 30 – O último zumbi Objetivos: Elucidar sobre o ciclo de vida do protozoário da leishmaniose tegumentar. Descrever a etiologia, epidemiologia, fisiopatologia, fatores de risco e manifestações clínicas da leishmaniose tegumentar. Explicar o diagnóstico, tratamento, prevenção e complicações da leishmaniose tegumentar. Diferenciar a leishmaniose tegumentar da visceral. Leishmaniose Definição A leishmaniose é causada por protozoários parasitas do gênero Leishmania que são transmitidos entre hospedeiros mamíferos de mosquitos flebotomíneos do sexo feminino. A doença tem uma série de manifestações clínicas que variam em gravidade até a cura espontânea são exemplos dessas manifestações as lesões cutâneas limitadas a disseminadas e a, doença visceral potencialmente fatal. A Leishmaniose Tegumentar Americana é um grupo de enfermidades de evolução crônica, que acomete a pele, mucosas e estruturas cartilaginosas da nasofaringe, de forma localizada ou difusa, provocada pela infecção das células do sistema fagocítico mononuclear parasitado por amastigotas. Ciclo de vida 1. Quando os flebotomíneos picam humanos ou animais infectados, os macrófagos contendo os amastigotas são ingeridos. Os amastigotas diferenciam-se em promastigotas, multiplicam- se no interior do trato digestivo dos flebotomíneos e migram para a glândula salivar, onde eles estão prontos para transmissão através da picada do inseto 2. Ao se alimentarem de sangue, as flebotomíneas injetam promastigotas metacíclicos (o estágio infeccioso) na derme do hospedeiro junto com a saliva do flebotomíneo, a qual potencializa a infectividade do parasita. 3. Os promastigotas são fagocitados pelos macrófagos e outras células mononucleares fagocíticas. 4. Nessas células, os promastigotas se transformam em amastigotas (o estágio tecidual). 5. Os amastigotas proliferam no interior dos macrófagos, e os macrófagos que morrem liberam novas progênies de amastigotas, que podem infectar outros macrófagos. 6. O quão distante os amastigotas se disseminam pelo corpo depende da espécie de Leishmania e do hospedeiro, e determina a extensão da doença. Adoença possui diversas formas e são causadas por diferentes espécies de Leishmania. Forma extracelular flagelada: o promastigota, no intestino flebotomíneo Forma intracelular: o amastigota, que sobrevive e multiplica-se em um compartimento fagolisossomal de macrófagos no hospedeiro mamífero. Etiologia No Brasil, sete espécies de Leishmania causadoras da doença foram identificadas, sendo seis do subgênero Viannia e uma do subgênero Leishmania. As principais espécies são: Leishmania (Viannia) braziliensis: é a espécie mais prevalente no homem e pode causar lesões cutâneas e mucosas. É encontrada em todas as zonas endêmicas do País, desde o Norte até o Sul, tanto em áreas de colonizações antigas ou recentes, estando geralmente associada à presença de animais domésticos. Leishmania (V.) guyanensis: causa sobretudo lesões cutâneas. Ocorre na margem norte do Rio Amazonas em áreas de colonização recente, estando associada com desdentados e marsupiais como reservatórios primários. Leishmania (Leishmania) amazonensis: agente etiológico de LTA, incluindo a forma anérgica ou leishmaniose cutânea difusa. Seus reservatórios são principalmente roedores e marsupiais. Leishmania (V.) naiffi: ocorre na Amazônia, nos Estados do Pará e Amazonas, tendo o tatu como reservatório natural. O parasita causa LTA de evolução benigna. Leishmania (V.) shawi: responsável por casos esporádicos no Amazonas e Pará tem como reservatórios vários animais silvestres como macacos, preguiças e procionídeos. Leishmania (V.) lainsoni: registrada apenas na Amazônia, tem a paca como animal suspeito de ser o reservatório natural. HOSPEDEIROS Reservatórios: animais silvestres (gambás, roedores, tamanduás), animais domésticos (cães, equinos) e o próprio ser humano. O período de incubação é de 2 semanas a 12 meses, em média 60 dias. Na leishmaniose cutânea os animais silvestres que atuam como reservatórios são os roedores silvestres, tamanduás e preguiças. Epidemiologia A doença é causado por 17 espécies de Leishmania, que são distribuídas amplamente na Europa, Ásia, África, América do Sul e América Central. A LTA é uma zoonose amplamente distribuída no território brasileiro, ocorrendo em todas as regiões do país. Surtos epidêmicos têm ocorrido nas regiões Sudeste, Centro Oeste, Nordeste, Norte e, mais recentemente, na região Sul. Está presente em todos os estados brasileiros, com dois padrões epidemiológicos: um relacionado com a derrubada de matas; outro, com a migração e ocupação de áreas urbanas. A doença afeta mais de 3.500 pessoas anualmente no Brasil, sendo os cães o principal reservatório da doença, a região mais acometida vai ser o nordeste onde principalmente crianças são afetadas. Fatores de risco Fatores biológicos (gênero), sociais (renda per capita), econômicos (atividade laboral, horas passadas fora de casa e abastecimento de água) e relacionados ao peridomicílio (presença de animais). A associação dessas variáveis com a leishmaniose está intimamente ligada à condição precária de moradia e a pobreza. Fisiopatologia A infecção é inicialmente estabelecida na pele após a inoculação de promastigotas metacíclicos infectantes pelos flebótomos. Essas formas infectantes têm um revestimento de glicoproteína (o lipofosfoglican) que lhes permite que o complemento resista, ligando e invadindo as células hospedeiras. Os peptídios na saliva de flebotomíneos (p. ex., maxadilana) causam vasodilatação e eritema e ajudam a estabelecer a infecção na camada dérmica da pele. As respostas iniciais à infecção envolvem a infiltração de neutrófilos e invasão de macrófagos residentes. O progresso da doença depende das espécies de parasitas e respostas do hospedeiro. Para ambos, LV e LC, a progressão da doença depende da manutenção de um estado imunossupressor específico do parasita. Macrófagos de células hospedeiras ficam em um estado desativado, mas a cura segue quando os macrófagos são ativados e matam os parasitas, que são sensíveis ao óxido nítrico e radicais de oxigênio no compartimento fagolisossomal. A resolução da doença após a ativação de macrófagos é mediada pela resposta da célula T-helper T1 após a interação entre as células apresentadoras de antígenos (p. ex., células dendríticas) com células T CD4 + e CD8 + e secreção subsequente de citocinas pró-inflamatórias [p. ex., a interleucina-1 (IL-12), o interferon-γ, fator-α de necrose tumoral]. No entanto, em formas clínicas, tais como LV ativa ou LC difusa, uma resposta da célula T2 predomina na qual a redução da atividade de macrófagos acompanha a produção de citocinas, tais como IL4, IL-10, IL-13, e fator- β de crescimento transformador. Em pacientes com LV, a ausência de uma resposta de células- T-imune específica para antígenos de Leishmania está associada à progressão da infecção não controlada. Isso está relacionado com os elevados níveis de IL-10 e a diminuição da produção de interferon-γ. Na LC simples localizada, os pacientes mostram uma resposta tipo T1 e uma resposta de hipersensibilidade retardada (DTH). DTH é frequentemente medida pelo teste de pele de Montenegro, que também pode ser utilizado em estudos de prevalência epidemiológica. Infecções crônicas mostram uma resposta do tipo T2, mais predominantemente em doentes com LC difusa, na qual há a energia completa para o antígeno de Leishmania e nenhuma resposta DTH. Pacientes com leishmaniose mucosa (LM) têm repostas das células T1 e T2 e umasólida resposta de DTH. Resumo: Após a picada do mosquito vetor infectado, o parasita é inoculado na pele, estimulando resposta imune celular específica no local, com recrutamento e atuação de células de defesa, como macrófagos, células NK e linfóticos T helper. Normalmente, há predomínio de resposta imune Th1, mais efetiva na eliminação de patógenos intracelulares, sendo responsável por infecção localizada ou subclínica, com boa resposta terapêutica e prognóstico favorável. O parasita invade as células do sistema fagocítico- mononuclear (macrófagos), dando origem às amastigotas, que sofrem multiplicação intracelular, propagando a infecção. O parasitismo associado à ativação imune local, com liberação de mediadores inflamatórios, como IL-12 e IFN-γ, levam à destruição tecidual e surgimento das lesões características da doença. Sendo assim, o quadro clínico depende da espécie envolvida e do estado imunológico do indivíduo. A resposta imune predominante influencia significativamente a evolução da doença para cura espontânea, formas localizadas ou formas progressivas, sendo a resposta Th1 mais favorável na LTA. Em alguns casos, pode ocorrer predomínio de resposta imune do tipo 2 (humoral), mediada por anticorpos anti- Leishmania, pouco efetiva na LTA, com maior sobrevivência do protozoário, evolução desfavorável com disseminação das lesões e má resposta terapêutica. Manifestações clínicas As lesões de LTA possuem formas ulceradas, indolores, normalmente localizadas em áreas expostas da pele; com formato arredondado ou ovalado; base eritematosa; infiltrada e de consistência firme; bordas bem-delimitadas e elevadas; fundo avermelhado e com granulações grosseiras. Infecções bacterianas ou fúngicas secundárias podem estar presentes, cursando com dor e exsudato seropurulento. Forma cutânea: geralmente úlceras de bordas elevadas e fundo granuloso, mas podem ocorrer lesões impetigoides, ectimatoides, vegetantes, verrucosas, tuberosas, liquenoides, localizadas na pele. É frequente a presença de linfangite e/ou adenopatia satélite. Forma cutânea disseminada: lesões ulceradas em todo o corpo. Forma cutânea difusa: máculas, pápulas, nódulos e áreas de infiltração (forma rara de difícil tratamento). Com formação de placas infiltradas, múltiplas nodulações não ulceradas, disseminadas, principalmente em face, tronco e membros, deformidades nas extremidades. Forma mucosa (cavidades nasais, faringe, laringe e boca): lesões infiltrativas, polipoides, ulceradas e destrutivas, inclusive perfuração de septo nasal e/ou palato, atrofia da mucosa nasal. Forma cutaneomucosa: lesões cutâneas múltiplas e em diferentes estágios evolutivos, predominantemente na face e nos membros superiores. Na maioria dos casos, as lesões da mucosa são consequência de lesões cutâneas. Diagnóstico Parasitologia: A raspagem, aspiração por agulha fina ou biópsia das lesões fornece amostras adequadas em que amastigotas podem ser identificadas. A raspagem deve ser realizada no centro e bordas da lesão com uma lâmina curva de bisturi. O fragmento de pele de 2 a 4 mm obtido por biópsia fornece material abundante, que facilita a busca de parasitas escassos e um diagnóstico alternativo por cultura (p. ex., micobactérias, fungos), bem como exame histopatológico. O material obtido por qualquer um destes métodos pode ser utilizado para exame microscópico, cultura e PCR. O exame microscópico do material por coloração de Giemsa é o método mais amplamente disponível. Exames imunológicos: Teste intradérmico ou Intradermoreação de Montenegro (IDRM) é baseada na visualização da resposta de hipersensibilidade celular retardada. É segura e especialmente valiosa nas áreas de prevalência da L. braziliensis. A IDRM pode ser negativa nos primeiros meses após o surgimento da lesão cutânea e em geral é mais exacerbada na Leishmaniose Mucosa. É de fácil execução em humanos em que o hospedeiro retorna ao serviço de saúde em 48 ou 72 horas para leitura do resultado. Em animais este procedimento é mais difícil por exigir retorno do paciente, o que nem sempre é fácil. Testes sorológicos: Os testes de imunofluorescência indireta (IFI) e imunoenzimático (ELISA) são utilizados para detectar anticorpos anti- -Leishmania. As reações sorológicas não devem ser utilizadas como critério isolado para diagnóstico de LTA, pois podem apresentar reação cruzada com outros Tripanosomatídeos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Forma cutânea: úlcera traumática, úlcera de estase, úlcera tropical, piodermites, paracoccidioidomicose, esporotricose, cromomicose, tuberculose cutânea, sífilis, hanseníase, neoplasias cutâneas. Forma mucosa: paracoccidioidomicose, sífilis terciária, granuloma de linha média, hanseníase, rinoscleroma, neoplasias. Tratamento A droga de primeira escolha no Brasil e no Mundo para o tratamento humano é o antimonial pentavalente, na forma de antimoniato de N- metilglucamina. Este antimonial é indicado para tratamento de todas as formas de leishmaniose tegumentar, embora as formas mucosas exijam maior cuidado, podendo apresentar respostas mais lentas e maior possibilidade de recidivas. Anfotericina B, antibiótico poliênico de reconhecida ação leishmanicida, é a droga de segunda escolha, empregada quando não se obtém resposta ao tratamento com antimonial ou na impossibilidade de seu uso. Leishmaniose visceral EVOLUÇÃO DA DOENÇA O período de incubação é bem variável tanto no homem como no cão. No homem é de 10 a 24 meses com um período médio de 2 a 6 meses. No cão varia de 3 meses a vários anos, com média de 3 a 7 meses. No homem a doença se desenvolve progressivamente e conforme a fase de evolução, pode ser divida em: • Período inicial: também chamada de fase “aguda” caracterizada pelo inicio do aparecimento dos sintomas que pode variar de paciente para paciente, mas na maioria dos casos inclui febre com duração inferior a quatro semanas, palidez cutâneo-mucosa e hepatoesplenomegalia. • Período de estado: Caracteriza- -se por febre irregular, geralmente associada a emagrecimento progressivo, palidez cutâneo-mucosa e aumento da hepatoesplenomegalia. Apresenta um quadro clínico arrastado geralmente com mais de dois meses de evolução, na maioria das vezes associado ao comprometimento do estado geral • Período final: Caso não seja feito o diagnóstico e tratamento adequado, a doença evolui progressivamente, com febre contínua e comprometimento mais intenso do estado geral. Instala-se a desnutrição (cabelos quebradiços, cílios alongados e pele seca), edema dos membros inferiores que pode evoluir para anasarca. Outras manifestações importantes incluem hemorragias (epistaxe, gengivorragia e petéquias), icterícia e ascite. Nestes pacientes o óbito é determinado por infecções bacterianas e/ou sangramentos. Conforme as características de transmissão ela pode ser considerada como: • Leishmaniose Zoonótica com transmissão animal - vetor - homem, ocorre em regiões da L.chagasi/infantum. • Leishmaniose Antroponótica onde a transmissão é homem - vetor - homem, encontrada nas áreas L. donovani. Tratamento: Os antimoniais pentavalentes, por via endovenosa, são as drogas mais indicadas para o tratamento da leishmaniose, apesar dos efeitos colaterais adversos. Em segundo lugar, está a anfotericina B, cujo inconveniente maior é o alto preço do medicamento. Uma nova droga, a miltefosina, por via oral, tem-se mostrado eficaz no tratamento dessa moléstia. A regressão dos sintomas é sinal de que a doença foi pelo menos controlada, uma vez que pode recidivar até seis meses depois de terminado o tratamento.
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