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Relações Éticas e Políticas na Formação Profissional do Assistente Social

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1 
 
 
 
 
 
 
As Relações Éticas e Políticas Entre Formação Profissional, Organização Política da 
Categoria, Legislação Profissional e Código de Ética dos Assistentes Sociais 
 
 
 
Fabiana Esteves Boaventura1 
 
 
 
 
 
Eje temático: Teorías Críticas y Trabajo Social. Sus aportes para la comprensión e 
intervención en el contexto latinoamericano 
 
Sub eje b: Ciencias Sociales y Trabajo Social: diálogos, relaciones y tensiones. 
 
Resumen: Este trabalho reflete sobre as relações éticas e políticas entre formação 
profissional, organização política da categoria,legislação profissional e código de ética dos 
assistentes sociais.Com vistas a facilitar a dinâmica da exposição,buscou-se subdividi-lo 
em tópicos. Esta divisão não reflete uma fragmentação dos conteúdos,que antes de tudo 
são indissociáveis entre si,articulando-se diretamente. 
 
 
Palabras claves: Assistente Social, Serviço Social, Formação Profissional, Organização 
Política, Legislação Profissional, Código de Ética. 
 
 
 
 
 
 
 
1 Docente no curso de graduação de Serviço Social – Instituto de Ensino Superior de Brasília [IESB] 
Pesquisadora integrante do Grupo de Estudos em Seguridade Social e Trabalho [GESST] da Universidade de 
Brasília [UNB] 
Doutoranda em Política Social -UNB 
Mestre em Política Social – UNB 
Assistente Social graduada pela Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro [UFRJ] 
PAÍS: BRASIL 
Dirección de correo electrónico: fabi.boaventura@gmail.com 
Este artigo resulta de processos de investigação e docência no tema acerca dos Fundamentos Históricos 
Teóricos e Metodológicos do Serviço Social no Brasil. Ponencia presentada en el XXI Seminario 
Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. La formación profesional en Trabajo Social: avances y 
tensiones en el contexto de América Latina y el Caribe. Universidad Autónoma de Sinaloa. Mazatlán, 
México. 28-30 de setiembre y 1 de octubre 2015. 
 
mailto:fabi.boaventura@gmail.com
2 
 
Introdução 
 
 
 
 Este trabalho buscou refletir sobre as relações éticas e políticas entre formação 
profissional, organização política da categoria, legislação profissional e código de ética 
dos assistentes sociais no Brasil. Com vistas a facilitar a dinâmica da exposição, buscou-
se subdividi-lo em tópicos, quais sejam: 1) Contexto sócio-histórico do Serviço Social e 
Formação Profissional no Brasil; 2) Organização Política da Categoria; 3) Legislação 
Profissional; 4) Código de Ética dos Assistentes Sociais. Destaca-se que esta divisão não 
reflete uma fragmentação dos conteúdos, que antes de tudo são indissociáveis entre si, 
articulando-se diretamente. Para cumprir com os objetivos propostos realizou-se uma 
revisão da bibliografia acadêmica e da legislação profissional pertinentes ao Serviço 
Social no contexto brasileiro. 
 
 
1. Contexto sócio-histórico do Serviço Social e Formação Profissional 
 
 
1.1. Surgimento do Serviço Social 
 
 
 O Serviço Social na América Latina tem seu surgimento marcado pelo dogmatismo 
cristão, com influências tomistas e neotomistas. Sua incidência na divisão sóciotécnica do 
trabalho foi interpretada como a institucionalização da caridade, conhecido como 
protoformas do Serviço Social, até que se deu o movimento de reconceituação a partir da 
década de 1960, que incorporou a perspectiva crítico-dialética e passou a considerar as 
múltiplas determinações decorrentes das relações sociais de produção. Essas 
características se difundiram por toda a América Latina no contexto do surgimento da 
categoria, apesar das particularidades de cada país e seus processos histórico-políticos 
particulares, como a Argentina e o Chile, onde a doutrina da Ação Social da Igreja 
Católica se fundiu ao ideário higienista proveniente da medicina sanitária (Yazbek, 2009). 
Este momento marcado pelos dogmas católicos entendia a sociedade como a 
união dos homens para o bem comum, onde seriam capazes de desenvolver suas 
potencialidades e defendendo a necessidade de uma autoridade capaz de exercer o 
controle social2. A questão social foi tratada sob um viés moralizador, buscando a 
recristianização e a moralização da sociedade por meio da Ação Social da Igreja Católica. 
Destaca-se que esta perspectiva apesar de apoiar e trabalhar pela manutenção do status 
quo da sociedade capitalista, se organizava junto às forças conservadoras da sociedade 
brasileira e se posicionava contra o liberalismo, que alimentava a individualidade e a 
satisfação através dos prazeres materiais, e ainda contrariamente ao marxismo, expresso 
pelo socialismo e comunismo, entendidos como inimigos subversivos à manutenção da 
ordem social capitalista (Iamamoto, Carvalho, 1982). 
 Desta forma, a formação profissional do assistente social refletia o contexto 
supracitado, tendo como pressupostos a institucionalização das práticas exercidas no 
 
2 O termo controle social aqui foi empregado com o sentido utilizado no dado contexto histórico, isto é, sob 
a perspectiva conservadora, que considera o controle do Estado sobre a sociedade. Neste sentido é oposto 
ao conceito gramsciano e também sanitarista, que consideram por controle social o controle da sociedade 
sobre o Estado. 
3 
 
caritatismo, compreendendo que a ação profissional deveria se voltar ao ajustamento dos 
indivíduos e das famílias, cabendo ao assistente social o exercício do papel de um 
educador moralizante. O perfil dos discentes se vinculava ao público feminino oriundo dos 
setores sociais mais abastados, e se configurava pelas "senhoras e moças da sociedade". 
Por este traço constitutivo, a prática profissional desvelava os princípios, valores e 
objetivos de sua classe constituinte, o que resultou em práticas moralizadoras, que 
buscavam o ajustamento dos indivíduos frente suas deficiências e um sentimento de 
superioridade por parte dos profissionais em relação aos usuários, fincado em sua 
posição na hierarquia social. 
 
 
1.2. Tecnifização do Conservadorismo 
 
 
 Notadamente a partir dos anos 40, deu-se uma reorientação da profissão, 
em um contexto de novas demandas postas pelo Estado, que começava a implementar 
políticas no campo social. Exigia-se domínio sobre um instrumental técnico-operativo e a 
qualificação e sistematização de seu espaço sócio-institucional, que em um cenário de 
busca pela legitimação profissional, expressada na condição de assalariamento e 
ocupação de espaço na divisão sóciotécnica do trabalho, encontrou aporte na teoria 
social positivista e na aproximação com o Serviço Social norte americano. Esta 
configuração foi denominada por Iamamoto (1982) como "arranjo teórico-doutrinário", 
caracterizado pela junção do discurso humanista cristão ao suporte técnico-científico 
positivista, reiterando o pensamento conservador, deslocando seu locus fundado no 
cristianismo para a mediação pelas ciências sociais. 
 Em relação à formação profissional, esse período que compreendeu as décadas 
de 40 e 50 foi caracterizado por uma aproximação às ciências sociais, sem, contudo 
romper com o lastro cristão. Foi também o momento de formulação do instrumental 
técnico-operativo, sob o viés do "ajustamento social" dos indivíduos, marcado pelos 
diagnósticos de caso e de grupo, onde se expressou a particularização do positivismo. 
Deu-se também nesta ocasião a chamada "subalternização" da profissão, que diz respeito 
à mudança do perfil discente, e consequentemente profissional, em que representantes 
das camadas médias da sociedade ingressaram nas Escolas de Serviço Social, 
incentivados, sobretudo pelo Estado, que atuou fomentando a formação de mão de obra 
especializada através de bolsas de estudos, buscando a formação de seu quadro técnico. 
A demanda posta pelo Estado incidiu sobre a própria legitimação da profissão, tanto no 
mercado público quanto privado, pois as competências da categoria dos assistentes 
sociaisgenericamente se reduziam a execução de serviços sociais, fato a que se deveu 
as relações de subalternidade da categoria em relação a outras profissões com as quais 
lidava nos processos de trabalho. 
 
 
1.3. Movimento de Reconceituação 
 
 
 Na década de 1960, em um contexto de intensas mudanças políticas, econômicas, 
sociais e culturais, onde a expansão capitalista assumia novas configurações e que 
impuseram à América Latina uma inserção na ordem econômica mundial excludente e 
dependente, o Serviço Social participou deste processo questionando a própria profissão 
acerca de seu tradicionalismo, em um processo de revisão global, nos níveis teórico, 
metodológico, operativo e político. Houve um movimento de questionamentos, não 
4 
 
homogêneos, e em conformidade com as realidades particulares dos diversos países 
latino americanos. Este movimento de reconceituação impôs aos assistentes sociais a 
necessidade de construção de um novo projeto profissional, articulado com as demandas 
das classes subalternas, expressadas em suas mobilizações. Neste contexto houve uma 
aproximação a outras teorias sociais, em especial à marxista, ainda que esta aproximação 
tenha se dado em um processo tortuoso (Yazbek, 2009). Este momento ficou 
notadamente conhecido como “movimento de reconceituação”. 
 Durante este período, compreendido entre as décadas de 60 e 70, diversas 
tendências e projetos de modernização da profissão se particularizaram de acordo com as 
conjunturas de cada país. No caso brasileiro, por exemplo, optou-se por um projeto 
modernizador tecnocrático, diante de um cenário de ditadura militar onde projetos que 
confrontavam a ordem autocrática burguesa não podiam adentrar o debate (Netto, 1991). 
 
 
1.3.1. Modernização Conservadora: a influência do Funcionalismo-
Estruturalista 
 
 
 A modernização conservadora foi a vertente inserida no movimento de 
reconceituação que buscou a via da tecnocratização e da racionalidade dos processos de 
trabalho, tendo por objetivo a eficácia e a eficiência na prática profissional, e que no plano 
ideológico incorporou a teoria social funcionalista, radicada no positivismo. A realidade era 
entendida em relação ao ideal de equilíbrio social, onde se deveria buscar corrigir as 
disfuncionalidades que se apresentavam, de modo a integrá-las de forma harmônica, 
considerando que as sequelas do desenvolvimento poderiam ser sanadas dentro da 
própria ordem capitalista. O aparato estatal passou a incorporar um contingente ainda 
maior de profissionais, já que necessitava criar uma situação mínima de consenso social, 
viabilizada através das legislações e políticas sociais. Neste contexto, a prática 
profissional se fundava na racionalização dos processos de trabalho, ancorando a 
atuação profissional nos pressupostos do diagnóstico social e do projeto de intervenção. 
Essas novas requisições foram colocadas ao projeto de formação profissional, que 
passou a incorporar cada vez mais o discurso funcionalista-positivista e também o viés 
psicologizante do qual se imbui tal perspectiva (Iamamoto, 1982; Netto, 1992). 
 Os documentos de Araxá (1967) e Teresópolis (1970), resultantes dos congressos 
profissionais realizados nas respectivas cidades, são marcos desta perspectiva e 
materializaram um consenso sobre o olhar da profissão, entendendo que esta deveria ser 
um instrumento de apoio às políticas de desenvolvimento (Netto, 1991). 
 
 
1.3.2. Reatualização do Conservadorismo: a presença da Fenomenologia 
 
 
 Esta vertente possui raiz na fenomenologia e se apropriou da visão de pessoa e 
comunidade, se dirigindo aos sujeitos em suas vivências, entendendo que o Serviço 
Social deveria assumir a tarefa de auxiliar na abertura do sujeito em relação aos outros, 
priorizando as concepções de pessoa, diálogo e transformação social dos sujeitos. É 
entendida por Netto (1994) como uma forma de reatualização do pensamento 
conservador que marcou o início da profissão, em tudo aquilo que o integra de mais 
tradicional, como uma reprodução dos valores cristãos e princípios classistas, ainda que 
diluídos no discurso. Criticou as concepções positivista e marxista, e refutou ainda as 
inovações tecnocráticas trazidas pela perspectiva modernizadora. Retornou à esfera 
5 
 
psicologizante, deslocando o público ao privado (Netto, 1996), isto é, voltando à 
responsabilização do indivíduo por sua condição social, centrando a ação profissional na 
intervenção sobre os sujeitos. 
 
 
1.3.3. Intenção de Ruptura: a importância do marxismo 
 
 
 Foi a perspectiva que incorporou a teoria social marxista, remetendo a categoria à 
consciência de sua inserção na sociedade de classes. Denominou-se intenção de ruptura 
por haver um hiato entre a intenção de romper com os pressupostos tradicionais e 
conservadores da profissão e as práticas que os reproduzem no seio da categoria, 
configurando um discurso que veio a ser reproduzido até a atualidade, manifestado na 
dicotomia entre a teoria e a prática (Yazbek, 2009). Essa dimensão do processo de 
modernização da profissão teve influência inequívoca da inserção do Serviço Social no 
universo acadêmico. É também resultante do processo de agitação social pela busca à 
reabertura democrática, onde se destacou o protagonismo do movimento operário e 
sindical, em um contexto onde o achatamento salarial aproximou as condições de vida do 
assistente social as dos usuários dos serviços sociais. Destaca-se que esta perspectiva 
representou uma forma de resistência social diante do processo de ausência das 
liberdades individuais e de regulação autocrática impostas pelo regime ditatorial (Netto, 
1991). 
 Esta concepção passou por dois momentos proeminentes. No primeiro houve um 
deslocamento do chamamento messiânico da esfera cristã para a militância político-crítica 
junto a massa de trabalhadores, entendendo que o assistente social desempenha a 
função de despertar a consciência de classe, num claro hiperdimensionamento do 
alcance da atuação profissional. Neste momento houve também a negação das raízes 
sócio-históricas da profissão e o instrumental teórico-operativo desenvolvido até então. No 
plano teórico se deu o que ficou chamado como vulgarização do marxismo, resultado de 
leituras equivocadas e incompletas de autores marxistas, sem, contudo se recorrer à base 
dessa matriz teórica, a obra marxiana. 
 
 
2. Organização Política da Categoria 
 
 
 Em relação à organização da categoria, em 1930, durante o Estado Novo 
Varguista houve a criação do Conselho Nacional de Serviço Social [CNSS], com funções 
de órgão consultivo do governo e das entidades privadas, e de estudo dos problemas 
pertinentes ao Serviço Social. Iamamoto (1982) ao contextualizar o início da organização 
da categoria destacou que, no caso desta instituição, sua ação se caracterizou em muito 
pela manipulação de verbas e subvenções, como instrumento para efetivação do 
clientelismo político. Nesta conjuntura se deu um aumento quantitativo de instituições de 
atuação do Serviço Social, a exemplo da Legião Brasileira de Assistência [LBA] e do 
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial [SENAI], ambos em 1942. Essas instituições 
surgiram em um novo marco da expansão capitalista, com funções de adequação da 
força de trabalho às necessidades do sistema industrial sob os aspectos de preparação e 
controle da força de trabalho (Iamamoto, 1982). 
 Os conselhos de fiscalização das profissões surgiram no país a partir de 1950, 
quando o Estado passou a regulamentar as profissões liberais, sob uma perspectiva 
corporativista e com funções burocráticas e de controle da força de trabalho, constituindo 
6 
 
entidades sem autonomia, concebidas com o objetivo de exercer o controle político do 
Estado sobre as categorias profissionais, em um contexto de regulação estatal 
impenitente. O Serviço Social foi uma das primeiras categorias a obter a aprovação de 
sua lei de regulamentação profissional, em 1957, sendo regulamentada posteriormente 
em 1962, instituindo o ConselhoFederal de Assistentes Sociais [CFAS] e os Conselhos 
Regionais de Assistentes Sociais [CRAS], hoje denominados Conselho Federal de 
Serviço Social [CFESS] e Conselho Regional de Serviço Social [CRESS], com funções de 
fiscalização do exercício profissional. Este traço particular revelou a importância da 
categoria na agenda estatal da época para os fins de controle e ajustamento da força de 
trabalho (CFESS,1996). 
 Em 1946 foi criada a Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social [ABESS], 
uma década após a instalação do primeiro curso de Serviço Social no Brasil, na Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo [PUC-SP]. A ABESS exerceu papel fundamental no 
processo de organização da categoria e completou 66 anos em 2012. O ano de 1979, que 
configurou um marco na organização da categoria também foi de grande importância para 
a instituição, pois esta assumiu a tarefa de coordenar e articular o projeto de formação 
profissional, transformando-se em Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social 
(CFESS, 1996). 
 A partir de 1972 surgiram os primeiros Programas de Pós-Graduação, visando 
atender as novas demandas por especialização. Em 1980 foi criado o Centro de 
Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais [CEDEPSS]. Outro momento importante 
tanto para a ABESS, quanto para a categoria em sua totalidade, foi em 1990, quando a 
ABESS passou a incorporar a defesa dos princípios de indissociabilidade entre pesquisa, 
ensino e extensão e da articulação entre graduação e pós-graduação, aliada à 
necessidade da explicitação da natureza científica da entidade, bem como da urgência da 
promoção da organicidade da pesquisa em seu interior, efetivados pelos Grupos 
Temáticos de Pesquisa e do periódico Temporalis. Essa nova configuração culminou e se 
legitimou com uma nova mudança do nome para Associação Brasileira de Ensino e 
Pesquisa em Serviço Social [ABEPSS] (CFESS, 1996). 
 O movimento de reconceituação além de buscar a transformação da práxis 
político-profissional do Serviço Social na sociedade brasileira, enstendendo-se 
diretamente sobre a produção teórica, a dimensão técnico-operativa, a formação 
profissional e os princípios ético-políticos, recaiu também sobre o processo de 
organização da categoria, resultando em diversas frentes de lutas articuladas entre si, 
desde a renovação das diretrizes curriculares mínimas em 1982, à um novo projeto de lei 
de regulamentação da profissão, perpassando ainda a reorganização das entidades 
representativas e fiscalizatórias da categoria (CFESS/CRESS). Um novo código de ética 
refletiu essas mudanças em 1986, que buscou superar as perspectivas a-históricas e a-
críticas que marcaram deleteriamente os códigos de ética anteriores. Em 1991 o conjunto 
CFESS-CRESS indicou a necessidade da revisão do Código de Ética profissional, 
assegurando os avanços alcançados em 1986 e buscando uma melhor operacionalização 
dos princípios defendidos pela profissão, construindo esse novo código coletivamente em 
debates abertos à categoria, organizados sob as formas de Seminários Nacionais de 
Ética, Encontros Nacionais, tanto de Estudantes de Serviço Social quanto do conjunto 
CFESS-CRESS e Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais (CFESS,1996). 
 Em relação à organização sindical da categoria, destacou-se que foi assumida a 
proposta de organização sindical por "ramo de atividade econômica", elaborada pela 
Central Única dos Trabalhadores [CUT] em seu Segundo Congresso Nacional, visando a 
superação das práticas corporativistas que permeavam as entidades representativas de 
classe. Por esta razão os sindicatos específicos da categoria foram extintos em sua 
maioria. 
7 
 
 Além dos instrumentos normativos supracitados há que se ressaltar a existência 
de muitos outros, que subsidiam as ações do conjunto CFESS-CRESS para a efetivação 
da fiscalização do exercício profissional, agora sob uma dimensão do fortalecimento e 
difusão do projeto ético-político do Serviço Social. Os instrumentos normativos da 
categoria se articulam e mantêm coerência entre si, como a Lei de Regulamentação 
Profissional, o Código de Ética, o Estatuto do Conjunto CFESS-CRESS, os Regimentos 
Internos, o Código Processual de Ética, o Código Eleitoral, entre outros, além das 
resoluções do CFESS que disciplinam sobre variados aspectos da profissão e do 
exercício profissional do assistente social. 
 
 
 
3. Legislação Profissional 
 
 
3.1. Lei de Regulamentação da Profissão e o Código de Ética dos Assistentes 
Sociais 
 
 
 A lei de regulamentação da profissão do Assistente Social, “Lei N° 8.662, De 7 De 
Junho de 1993”, classificou o Serviço Social como uma profissão liberal, e definiu como 
competências profissionais a elaboração, implementação, execução e avaliação das 
políticas sociais, tanto na esfera pública quanto na privada. 
 O Código de Ética de 1993 considerou a necessidade da criação de valores éticos 
fundamentados na liberdade, democracia, cidadania, justiça e igualdade social, em uma 
esfera de compromisso com os usuários (CFESS, 1993). 
 A partir da década de 1980, o Serviço Social brasileiro experimentou um processo 
profundo de renovação, desenvolvendo-se acadêmico e profissionalmente, solidificando 
sua laicização e conquistando sua diferenciação em relação a outras categorias, além de 
sua legitimação científica. Nesse contexto, o Código de Ética de 1986 expressou esses 
avanços, negando a base filosófica tradicional, conservadora, norteadora da ética da 
neutralidade, e afirmando um novo perfil técnico, como um agente competente teórica, 
técnica e politicamente, rompendo com o perfil subalterno a outras categorias. Construiu-
se um projeto profissional que de fato redimensionava o Serviço Social na vida brasileira, 
compremetendo-o com os interesses históricos da classe trabalhadora. Aliado às 
mudanças ocorridas, principalmente a partir da Constituição Federal de 1988, passou a 
exigir uma melhor explicitação de alguns de seus elementos constitutivos, buscando 
fundar mais adequadamente seus parâmetros éticos e uma melhor instrumentalização na 
prática cotidiana do exercício profissional. 
 A revisão a que se procedeu culminando no Código de Ética de 1993, foi 
construída mediante um amplo debate no seio da categoria, e partiu da compreensão de 
que a ética deve ter como aporte uma ontologia do ser social, que compreende que é o 
processo de trabalho do ser social que o constitui e o diferencia do ser natural, dispondo 
de sua capacidade teleológica. A adoção desta perspectiva representa em si mesma uma 
projeção de sociedade em que se superem as formas de exploração, discriminação, 
opressão e alienação. Remete-se a um enfrentamento crítico face às contradições postas 
à profissão, pautado em um embasamento crítico e fundamentado teoricamente, além da 
consideração das derivações ético-políticas da intervenção profissional. 
 
3.2. Diretrizes Curriculares da ABEPSS 
 
8 
 
 
 As diretrizes curriculares da ABEPSS constituem o marco fundamental da 
formação profissional contemporânea do assistente social no Brasil. Seus princípios 
norteadores são caracterizados pela flexibilidade na organização de currículos plenos, 
que se expressa na possibilidade de definição de disciplinas ou outros componentes 
curriculares comprometidos com o projeto ético-político e com a formação profissional 
pautada na dimensão técnico-operativa. Busca-se a elaboração critica para o 
enfrentamento das demandas profissionais impostas pela sociedade de mercado, 
fundados em um rigoroso trato teórico, histórico e metodológico, que possibilite uma 
apreensão da totalidade social nas dimensões de universalidade, particularidade e 
singularidade. Objetiva-se também a superação da fragmentação de conteúdos na 
organização curricular, estabelecendo as dimensões investigativa e interventiva como 
condição central da formação profissional e da concretização da práxis. Busca ainda 
assegurar que se obtenham padrões idênticos de desempenho e qualidade entre os 
cursos diurnose noturnos, destacando-se o caráter interdisciplinar das várias dimensões 
do projeto de formação profissional, garantindo ainda a indissociabilidade entre ensino, 
pesquisa e extensão e a integração entre a supervisão acadêmica e de campo aos alunos 
em prática de estágio profissional, devendo este se submeter ao calendário de atividades 
acadêmicas (ABEPSS, 2009). 
Nesse sentido, constituem as principais linhas das diretrizes curriculares da 
graduação em Serviço Social: 
 
"Apreensão crítica do processo histórico como totalidade; Investigação sobre a 
formação histórica e os processos sociais contemporâneos que conformam a 
sociedade brasileira, no sentido de apreender as particularidades da constituição e 
desenvolvimento do capitalismo e do Serviço Social no país; Apreensão do significado 
social da profissão desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade; 
Apreensão das demandas - consolidadas e emergentes - postas ao Serviço Social via 
mercado de trabalho, visando formular respostas profissionais que potenciem o 
enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre público e 
privado; Exercício profissional cumprindo as competências e atribuições previstas na 
Legislação Profissional em vigor (ABEPSS, 2009, p.23)." 
 
 Esta proposta de formação profissional entende o trabalho como atividade central 
na constituição do ser social, implicando no processo de trabalho do assistente social sob 
uma apreesão a partir de um debate teórico-metodológico que permita o repensar crítico 
do ideário profissional e, consequentemente, da inserção dos profissionais, recuperando o 
sujeito que trabalha enquanto indivíduo social. Desta forma, pensou-se a formação 
profissional a partir de núcleos de fundamentação, indissociáveis entre si: 
 
"São eles: 1- Núcleo de fundamentos teórico- metodológicos da vida social; 2-Núcleo 
de fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica da sociedade 
brasileira; 3- Núcleo de fundamentos do trabalho profissional. É importante salientar 
que o primeiro núcleo, responsável pelo tratamento do ser social enquanto totalidade 
histórica, analisa os componentes fundamentais da vida social, que serão 
particularizados nos dois outros núcleos de fundamentação da formação sócio-
histórica da sociedade brasileira e do trabalho profissional. Portanto, a formação 
profissional constitui-se de uma totalidade de conhecimentos que estão expressos 
nestes três núcleos, contextualizados historicamente e manifestos em suas 
particularidades. (ABEPSS, 2009, p.24).” 
3.3. Política Nacional de Estágio 
 
 
9 
 
A ABEPSS elaborou em 2010 um importante instrumento de luta para o Serviço 
Social, a Política Nacional de Estágio [PNE] em Serviço Social, visando a garantia de 
espaços de estágio com qualidade para a formação profissional. A PNE da ABEPSS 
define os princípios norteadores para a realização do estágio, bem como as atribuições 
dos sujeitos e instâncias envolvidos no estágio supervisionado, dispondo inclusive sobre o 
estágio não-obrigatório. Nesse sentido, o estágio supervisionado é entendido como parte 
indissociável do processo de formação profissional, e deve garantir a apreensão acerca 
do significado sócio-histórico da profissão e das condições de trabalho do assistente 
social, compreensão sobre as instituições e conjunturas postas e propiciar a aproximação 
ao universo dos trabalhadores usuários dos serviços sociais, articulando conhecimentos 
teóricos e saberes técnico-operativos (Guerra, 2006). Destaca-se ainda que o estágio 
não-obrigatório responde às mesmas disposições do estágio curricular obrigatório. 
Por fim, o presente trabalho pretendeu compreender a formação sócio-histórica da 
categoria dos assistentes sociais, perpassando os principais momentos históricos e 
políticos pelos quais a profissão passou em seu curso histórico no Brasil, refletindo sobre 
as relações entre estes, as mudanças nas perspectivas ideológicas e técnico-operativas, 
as incidências sobre a formação profissional entre esses diferentes contextos e refletindo 
ainda sobre a organização profissional e as legislações pertinentes à profissão do 
assistente social, buscando compreender essas dimensões em sua historicidade, que 
refletem sobre o contexto atual. 
 
 
 
4. Referências Bibliográficas 
 
 
Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social [ABEPSS]. (1996). A 
Política Nacional de Estágio. 2009. Disponível em: <www.abepss.org.br> acessado em 
abril de 2013. 
Conselho Federal de Serviço Social [CFESS]. (1996). Serviço Social a caminho do século 
XXI: o protagonismo ético político do Conjunto CFESS-CRESS. In: Serviço Social e 
Sociedade, Nº 50. São Paulo: Cortez. 
CFESS. O CFESS. (2001). Brasília. Disponível em: 
<http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/o-cfess> acessado em abril de 2013 
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