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1 As Relações Éticas e Políticas Entre Formação Profissional, Organização Política da Categoria, Legislação Profissional e Código de Ética dos Assistentes Sociais Fabiana Esteves Boaventura1 Eje temático: Teorías Críticas y Trabajo Social. Sus aportes para la comprensión e intervención en el contexto latinoamericano Sub eje b: Ciencias Sociales y Trabajo Social: diálogos, relaciones y tensiones. Resumen: Este trabalho reflete sobre as relações éticas e políticas entre formação profissional, organização política da categoria,legislação profissional e código de ética dos assistentes sociais.Com vistas a facilitar a dinâmica da exposição,buscou-se subdividi-lo em tópicos. Esta divisão não reflete uma fragmentação dos conteúdos,que antes de tudo são indissociáveis entre si,articulando-se diretamente. Palabras claves: Assistente Social, Serviço Social, Formação Profissional, Organização Política, Legislação Profissional, Código de Ética. 1 Docente no curso de graduação de Serviço Social – Instituto de Ensino Superior de Brasília [IESB] Pesquisadora integrante do Grupo de Estudos em Seguridade Social e Trabalho [GESST] da Universidade de Brasília [UNB] Doutoranda em Política Social -UNB Mestre em Política Social – UNB Assistente Social graduada pela Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro [UFRJ] PAÍS: BRASIL Dirección de correo electrónico: fabi.boaventura@gmail.com Este artigo resulta de processos de investigação e docência no tema acerca dos Fundamentos Históricos Teóricos e Metodológicos do Serviço Social no Brasil. Ponencia presentada en el XXI Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. La formación profesional en Trabajo Social: avances y tensiones en el contexto de América Latina y el Caribe. Universidad Autónoma de Sinaloa. Mazatlán, México. 28-30 de setiembre y 1 de octubre 2015. mailto:fabi.boaventura@gmail.com 2 Introdução Este trabalho buscou refletir sobre as relações éticas e políticas entre formação profissional, organização política da categoria, legislação profissional e código de ética dos assistentes sociais no Brasil. Com vistas a facilitar a dinâmica da exposição, buscou- se subdividi-lo em tópicos, quais sejam: 1) Contexto sócio-histórico do Serviço Social e Formação Profissional no Brasil; 2) Organização Política da Categoria; 3) Legislação Profissional; 4) Código de Ética dos Assistentes Sociais. Destaca-se que esta divisão não reflete uma fragmentação dos conteúdos, que antes de tudo são indissociáveis entre si, articulando-se diretamente. Para cumprir com os objetivos propostos realizou-se uma revisão da bibliografia acadêmica e da legislação profissional pertinentes ao Serviço Social no contexto brasileiro. 1. Contexto sócio-histórico do Serviço Social e Formação Profissional 1.1. Surgimento do Serviço Social O Serviço Social na América Latina tem seu surgimento marcado pelo dogmatismo cristão, com influências tomistas e neotomistas. Sua incidência na divisão sóciotécnica do trabalho foi interpretada como a institucionalização da caridade, conhecido como protoformas do Serviço Social, até que se deu o movimento de reconceituação a partir da década de 1960, que incorporou a perspectiva crítico-dialética e passou a considerar as múltiplas determinações decorrentes das relações sociais de produção. Essas características se difundiram por toda a América Latina no contexto do surgimento da categoria, apesar das particularidades de cada país e seus processos histórico-políticos particulares, como a Argentina e o Chile, onde a doutrina da Ação Social da Igreja Católica se fundiu ao ideário higienista proveniente da medicina sanitária (Yazbek, 2009). Este momento marcado pelos dogmas católicos entendia a sociedade como a união dos homens para o bem comum, onde seriam capazes de desenvolver suas potencialidades e defendendo a necessidade de uma autoridade capaz de exercer o controle social2. A questão social foi tratada sob um viés moralizador, buscando a recristianização e a moralização da sociedade por meio da Ação Social da Igreja Católica. Destaca-se que esta perspectiva apesar de apoiar e trabalhar pela manutenção do status quo da sociedade capitalista, se organizava junto às forças conservadoras da sociedade brasileira e se posicionava contra o liberalismo, que alimentava a individualidade e a satisfação através dos prazeres materiais, e ainda contrariamente ao marxismo, expresso pelo socialismo e comunismo, entendidos como inimigos subversivos à manutenção da ordem social capitalista (Iamamoto, Carvalho, 1982). Desta forma, a formação profissional do assistente social refletia o contexto supracitado, tendo como pressupostos a institucionalização das práticas exercidas no 2 O termo controle social aqui foi empregado com o sentido utilizado no dado contexto histórico, isto é, sob a perspectiva conservadora, que considera o controle do Estado sobre a sociedade. Neste sentido é oposto ao conceito gramsciano e também sanitarista, que consideram por controle social o controle da sociedade sobre o Estado. 3 caritatismo, compreendendo que a ação profissional deveria se voltar ao ajustamento dos indivíduos e das famílias, cabendo ao assistente social o exercício do papel de um educador moralizante. O perfil dos discentes se vinculava ao público feminino oriundo dos setores sociais mais abastados, e se configurava pelas "senhoras e moças da sociedade". Por este traço constitutivo, a prática profissional desvelava os princípios, valores e objetivos de sua classe constituinte, o que resultou em práticas moralizadoras, que buscavam o ajustamento dos indivíduos frente suas deficiências e um sentimento de superioridade por parte dos profissionais em relação aos usuários, fincado em sua posição na hierarquia social. 1.2. Tecnifização do Conservadorismo Notadamente a partir dos anos 40, deu-se uma reorientação da profissão, em um contexto de novas demandas postas pelo Estado, que começava a implementar políticas no campo social. Exigia-se domínio sobre um instrumental técnico-operativo e a qualificação e sistematização de seu espaço sócio-institucional, que em um cenário de busca pela legitimação profissional, expressada na condição de assalariamento e ocupação de espaço na divisão sóciotécnica do trabalho, encontrou aporte na teoria social positivista e na aproximação com o Serviço Social norte americano. Esta configuração foi denominada por Iamamoto (1982) como "arranjo teórico-doutrinário", caracterizado pela junção do discurso humanista cristão ao suporte técnico-científico positivista, reiterando o pensamento conservador, deslocando seu locus fundado no cristianismo para a mediação pelas ciências sociais. Em relação à formação profissional, esse período que compreendeu as décadas de 40 e 50 foi caracterizado por uma aproximação às ciências sociais, sem, contudo romper com o lastro cristão. Foi também o momento de formulação do instrumental técnico-operativo, sob o viés do "ajustamento social" dos indivíduos, marcado pelos diagnósticos de caso e de grupo, onde se expressou a particularização do positivismo. Deu-se também nesta ocasião a chamada "subalternização" da profissão, que diz respeito à mudança do perfil discente, e consequentemente profissional, em que representantes das camadas médias da sociedade ingressaram nas Escolas de Serviço Social, incentivados, sobretudo pelo Estado, que atuou fomentando a formação de mão de obra especializada através de bolsas de estudos, buscando a formação de seu quadro técnico. A demanda posta pelo Estado incidiu sobre a própria legitimação da profissão, tanto no mercado público quanto privado, pois as competências da categoria dos assistentes sociaisgenericamente se reduziam a execução de serviços sociais, fato a que se deveu as relações de subalternidade da categoria em relação a outras profissões com as quais lidava nos processos de trabalho. 1.3. Movimento de Reconceituação Na década de 1960, em um contexto de intensas mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais, onde a expansão capitalista assumia novas configurações e que impuseram à América Latina uma inserção na ordem econômica mundial excludente e dependente, o Serviço Social participou deste processo questionando a própria profissão acerca de seu tradicionalismo, em um processo de revisão global, nos níveis teórico, metodológico, operativo e político. Houve um movimento de questionamentos, não 4 homogêneos, e em conformidade com as realidades particulares dos diversos países latino americanos. Este movimento de reconceituação impôs aos assistentes sociais a necessidade de construção de um novo projeto profissional, articulado com as demandas das classes subalternas, expressadas em suas mobilizações. Neste contexto houve uma aproximação a outras teorias sociais, em especial à marxista, ainda que esta aproximação tenha se dado em um processo tortuoso (Yazbek, 2009). Este momento ficou notadamente conhecido como “movimento de reconceituação”. Durante este período, compreendido entre as décadas de 60 e 70, diversas tendências e projetos de modernização da profissão se particularizaram de acordo com as conjunturas de cada país. No caso brasileiro, por exemplo, optou-se por um projeto modernizador tecnocrático, diante de um cenário de ditadura militar onde projetos que confrontavam a ordem autocrática burguesa não podiam adentrar o debate (Netto, 1991). 1.3.1. Modernização Conservadora: a influência do Funcionalismo- Estruturalista A modernização conservadora foi a vertente inserida no movimento de reconceituação que buscou a via da tecnocratização e da racionalidade dos processos de trabalho, tendo por objetivo a eficácia e a eficiência na prática profissional, e que no plano ideológico incorporou a teoria social funcionalista, radicada no positivismo. A realidade era entendida em relação ao ideal de equilíbrio social, onde se deveria buscar corrigir as disfuncionalidades que se apresentavam, de modo a integrá-las de forma harmônica, considerando que as sequelas do desenvolvimento poderiam ser sanadas dentro da própria ordem capitalista. O aparato estatal passou a incorporar um contingente ainda maior de profissionais, já que necessitava criar uma situação mínima de consenso social, viabilizada através das legislações e políticas sociais. Neste contexto, a prática profissional se fundava na racionalização dos processos de trabalho, ancorando a atuação profissional nos pressupostos do diagnóstico social e do projeto de intervenção. Essas novas requisições foram colocadas ao projeto de formação profissional, que passou a incorporar cada vez mais o discurso funcionalista-positivista e também o viés psicologizante do qual se imbui tal perspectiva (Iamamoto, 1982; Netto, 1992). Os documentos de Araxá (1967) e Teresópolis (1970), resultantes dos congressos profissionais realizados nas respectivas cidades, são marcos desta perspectiva e materializaram um consenso sobre o olhar da profissão, entendendo que esta deveria ser um instrumento de apoio às políticas de desenvolvimento (Netto, 1991). 1.3.2. Reatualização do Conservadorismo: a presença da Fenomenologia Esta vertente possui raiz na fenomenologia e se apropriou da visão de pessoa e comunidade, se dirigindo aos sujeitos em suas vivências, entendendo que o Serviço Social deveria assumir a tarefa de auxiliar na abertura do sujeito em relação aos outros, priorizando as concepções de pessoa, diálogo e transformação social dos sujeitos. É entendida por Netto (1994) como uma forma de reatualização do pensamento conservador que marcou o início da profissão, em tudo aquilo que o integra de mais tradicional, como uma reprodução dos valores cristãos e princípios classistas, ainda que diluídos no discurso. Criticou as concepções positivista e marxista, e refutou ainda as inovações tecnocráticas trazidas pela perspectiva modernizadora. Retornou à esfera 5 psicologizante, deslocando o público ao privado (Netto, 1996), isto é, voltando à responsabilização do indivíduo por sua condição social, centrando a ação profissional na intervenção sobre os sujeitos. 1.3.3. Intenção de Ruptura: a importância do marxismo Foi a perspectiva que incorporou a teoria social marxista, remetendo a categoria à consciência de sua inserção na sociedade de classes. Denominou-se intenção de ruptura por haver um hiato entre a intenção de romper com os pressupostos tradicionais e conservadores da profissão e as práticas que os reproduzem no seio da categoria, configurando um discurso que veio a ser reproduzido até a atualidade, manifestado na dicotomia entre a teoria e a prática (Yazbek, 2009). Essa dimensão do processo de modernização da profissão teve influência inequívoca da inserção do Serviço Social no universo acadêmico. É também resultante do processo de agitação social pela busca à reabertura democrática, onde se destacou o protagonismo do movimento operário e sindical, em um contexto onde o achatamento salarial aproximou as condições de vida do assistente social as dos usuários dos serviços sociais. Destaca-se que esta perspectiva representou uma forma de resistência social diante do processo de ausência das liberdades individuais e de regulação autocrática impostas pelo regime ditatorial (Netto, 1991). Esta concepção passou por dois momentos proeminentes. No primeiro houve um deslocamento do chamamento messiânico da esfera cristã para a militância político-crítica junto a massa de trabalhadores, entendendo que o assistente social desempenha a função de despertar a consciência de classe, num claro hiperdimensionamento do alcance da atuação profissional. Neste momento houve também a negação das raízes sócio-históricas da profissão e o instrumental teórico-operativo desenvolvido até então. No plano teórico se deu o que ficou chamado como vulgarização do marxismo, resultado de leituras equivocadas e incompletas de autores marxistas, sem, contudo se recorrer à base dessa matriz teórica, a obra marxiana. 2. Organização Política da Categoria Em relação à organização da categoria, em 1930, durante o Estado Novo Varguista houve a criação do Conselho Nacional de Serviço Social [CNSS], com funções de órgão consultivo do governo e das entidades privadas, e de estudo dos problemas pertinentes ao Serviço Social. Iamamoto (1982) ao contextualizar o início da organização da categoria destacou que, no caso desta instituição, sua ação se caracterizou em muito pela manipulação de verbas e subvenções, como instrumento para efetivação do clientelismo político. Nesta conjuntura se deu um aumento quantitativo de instituições de atuação do Serviço Social, a exemplo da Legião Brasileira de Assistência [LBA] e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial [SENAI], ambos em 1942. Essas instituições surgiram em um novo marco da expansão capitalista, com funções de adequação da força de trabalho às necessidades do sistema industrial sob os aspectos de preparação e controle da força de trabalho (Iamamoto, 1982). Os conselhos de fiscalização das profissões surgiram no país a partir de 1950, quando o Estado passou a regulamentar as profissões liberais, sob uma perspectiva corporativista e com funções burocráticas e de controle da força de trabalho, constituindo 6 entidades sem autonomia, concebidas com o objetivo de exercer o controle político do Estado sobre as categorias profissionais, em um contexto de regulação estatal impenitente. O Serviço Social foi uma das primeiras categorias a obter a aprovação de sua lei de regulamentação profissional, em 1957, sendo regulamentada posteriormente em 1962, instituindo o ConselhoFederal de Assistentes Sociais [CFAS] e os Conselhos Regionais de Assistentes Sociais [CRAS], hoje denominados Conselho Federal de Serviço Social [CFESS] e Conselho Regional de Serviço Social [CRESS], com funções de fiscalização do exercício profissional. Este traço particular revelou a importância da categoria na agenda estatal da época para os fins de controle e ajustamento da força de trabalho (CFESS,1996). Em 1946 foi criada a Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social [ABESS], uma década após a instalação do primeiro curso de Serviço Social no Brasil, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo [PUC-SP]. A ABESS exerceu papel fundamental no processo de organização da categoria e completou 66 anos em 2012. O ano de 1979, que configurou um marco na organização da categoria também foi de grande importância para a instituição, pois esta assumiu a tarefa de coordenar e articular o projeto de formação profissional, transformando-se em Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (CFESS, 1996). A partir de 1972 surgiram os primeiros Programas de Pós-Graduação, visando atender as novas demandas por especialização. Em 1980 foi criado o Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais [CEDEPSS]. Outro momento importante tanto para a ABESS, quanto para a categoria em sua totalidade, foi em 1990, quando a ABESS passou a incorporar a defesa dos princípios de indissociabilidade entre pesquisa, ensino e extensão e da articulação entre graduação e pós-graduação, aliada à necessidade da explicitação da natureza científica da entidade, bem como da urgência da promoção da organicidade da pesquisa em seu interior, efetivados pelos Grupos Temáticos de Pesquisa e do periódico Temporalis. Essa nova configuração culminou e se legitimou com uma nova mudança do nome para Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social [ABEPSS] (CFESS, 1996). O movimento de reconceituação além de buscar a transformação da práxis político-profissional do Serviço Social na sociedade brasileira, enstendendo-se diretamente sobre a produção teórica, a dimensão técnico-operativa, a formação profissional e os princípios ético-políticos, recaiu também sobre o processo de organização da categoria, resultando em diversas frentes de lutas articuladas entre si, desde a renovação das diretrizes curriculares mínimas em 1982, à um novo projeto de lei de regulamentação da profissão, perpassando ainda a reorganização das entidades representativas e fiscalizatórias da categoria (CFESS/CRESS). Um novo código de ética refletiu essas mudanças em 1986, que buscou superar as perspectivas a-históricas e a- críticas que marcaram deleteriamente os códigos de ética anteriores. Em 1991 o conjunto CFESS-CRESS indicou a necessidade da revisão do Código de Ética profissional, assegurando os avanços alcançados em 1986 e buscando uma melhor operacionalização dos princípios defendidos pela profissão, construindo esse novo código coletivamente em debates abertos à categoria, organizados sob as formas de Seminários Nacionais de Ética, Encontros Nacionais, tanto de Estudantes de Serviço Social quanto do conjunto CFESS-CRESS e Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais (CFESS,1996). Em relação à organização sindical da categoria, destacou-se que foi assumida a proposta de organização sindical por "ramo de atividade econômica", elaborada pela Central Única dos Trabalhadores [CUT] em seu Segundo Congresso Nacional, visando a superação das práticas corporativistas que permeavam as entidades representativas de classe. Por esta razão os sindicatos específicos da categoria foram extintos em sua maioria. 7 Além dos instrumentos normativos supracitados há que se ressaltar a existência de muitos outros, que subsidiam as ações do conjunto CFESS-CRESS para a efetivação da fiscalização do exercício profissional, agora sob uma dimensão do fortalecimento e difusão do projeto ético-político do Serviço Social. Os instrumentos normativos da categoria se articulam e mantêm coerência entre si, como a Lei de Regulamentação Profissional, o Código de Ética, o Estatuto do Conjunto CFESS-CRESS, os Regimentos Internos, o Código Processual de Ética, o Código Eleitoral, entre outros, além das resoluções do CFESS que disciplinam sobre variados aspectos da profissão e do exercício profissional do assistente social. 3. Legislação Profissional 3.1. Lei de Regulamentação da Profissão e o Código de Ética dos Assistentes Sociais A lei de regulamentação da profissão do Assistente Social, “Lei N° 8.662, De 7 De Junho de 1993”, classificou o Serviço Social como uma profissão liberal, e definiu como competências profissionais a elaboração, implementação, execução e avaliação das políticas sociais, tanto na esfera pública quanto na privada. O Código de Ética de 1993 considerou a necessidade da criação de valores éticos fundamentados na liberdade, democracia, cidadania, justiça e igualdade social, em uma esfera de compromisso com os usuários (CFESS, 1993). A partir da década de 1980, o Serviço Social brasileiro experimentou um processo profundo de renovação, desenvolvendo-se acadêmico e profissionalmente, solidificando sua laicização e conquistando sua diferenciação em relação a outras categorias, além de sua legitimação científica. Nesse contexto, o Código de Ética de 1986 expressou esses avanços, negando a base filosófica tradicional, conservadora, norteadora da ética da neutralidade, e afirmando um novo perfil técnico, como um agente competente teórica, técnica e politicamente, rompendo com o perfil subalterno a outras categorias. Construiu- se um projeto profissional que de fato redimensionava o Serviço Social na vida brasileira, compremetendo-o com os interesses históricos da classe trabalhadora. Aliado às mudanças ocorridas, principalmente a partir da Constituição Federal de 1988, passou a exigir uma melhor explicitação de alguns de seus elementos constitutivos, buscando fundar mais adequadamente seus parâmetros éticos e uma melhor instrumentalização na prática cotidiana do exercício profissional. A revisão a que se procedeu culminando no Código de Ética de 1993, foi construída mediante um amplo debate no seio da categoria, e partiu da compreensão de que a ética deve ter como aporte uma ontologia do ser social, que compreende que é o processo de trabalho do ser social que o constitui e o diferencia do ser natural, dispondo de sua capacidade teleológica. A adoção desta perspectiva representa em si mesma uma projeção de sociedade em que se superem as formas de exploração, discriminação, opressão e alienação. Remete-se a um enfrentamento crítico face às contradições postas à profissão, pautado em um embasamento crítico e fundamentado teoricamente, além da consideração das derivações ético-políticas da intervenção profissional. 3.2. Diretrizes Curriculares da ABEPSS 8 As diretrizes curriculares da ABEPSS constituem o marco fundamental da formação profissional contemporânea do assistente social no Brasil. Seus princípios norteadores são caracterizados pela flexibilidade na organização de currículos plenos, que se expressa na possibilidade de definição de disciplinas ou outros componentes curriculares comprometidos com o projeto ético-político e com a formação profissional pautada na dimensão técnico-operativa. Busca-se a elaboração critica para o enfrentamento das demandas profissionais impostas pela sociedade de mercado, fundados em um rigoroso trato teórico, histórico e metodológico, que possibilite uma apreensão da totalidade social nas dimensões de universalidade, particularidade e singularidade. Objetiva-se também a superação da fragmentação de conteúdos na organização curricular, estabelecendo as dimensões investigativa e interventiva como condição central da formação profissional e da concretização da práxis. Busca ainda assegurar que se obtenham padrões idênticos de desempenho e qualidade entre os cursos diurnose noturnos, destacando-se o caráter interdisciplinar das várias dimensões do projeto de formação profissional, garantindo ainda a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e a integração entre a supervisão acadêmica e de campo aos alunos em prática de estágio profissional, devendo este se submeter ao calendário de atividades acadêmicas (ABEPSS, 2009). Nesse sentido, constituem as principais linhas das diretrizes curriculares da graduação em Serviço Social: "Apreensão crítica do processo histórico como totalidade; Investigação sobre a formação histórica e os processos sociais contemporâneos que conformam a sociedade brasileira, no sentido de apreender as particularidades da constituição e desenvolvimento do capitalismo e do Serviço Social no país; Apreensão do significado social da profissão desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade; Apreensão das demandas - consolidadas e emergentes - postas ao Serviço Social via mercado de trabalho, visando formular respostas profissionais que potenciem o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre público e privado; Exercício profissional cumprindo as competências e atribuições previstas na Legislação Profissional em vigor (ABEPSS, 2009, p.23)." Esta proposta de formação profissional entende o trabalho como atividade central na constituição do ser social, implicando no processo de trabalho do assistente social sob uma apreesão a partir de um debate teórico-metodológico que permita o repensar crítico do ideário profissional e, consequentemente, da inserção dos profissionais, recuperando o sujeito que trabalha enquanto indivíduo social. Desta forma, pensou-se a formação profissional a partir de núcleos de fundamentação, indissociáveis entre si: "São eles: 1- Núcleo de fundamentos teórico- metodológicos da vida social; 2-Núcleo de fundamentos da particularidade da formação sócio-histórica da sociedade brasileira; 3- Núcleo de fundamentos do trabalho profissional. É importante salientar que o primeiro núcleo, responsável pelo tratamento do ser social enquanto totalidade histórica, analisa os componentes fundamentais da vida social, que serão particularizados nos dois outros núcleos de fundamentação da formação sócio- histórica da sociedade brasileira e do trabalho profissional. Portanto, a formação profissional constitui-se de uma totalidade de conhecimentos que estão expressos nestes três núcleos, contextualizados historicamente e manifestos em suas particularidades. (ABEPSS, 2009, p.24).” 3.3. Política Nacional de Estágio 9 A ABEPSS elaborou em 2010 um importante instrumento de luta para o Serviço Social, a Política Nacional de Estágio [PNE] em Serviço Social, visando a garantia de espaços de estágio com qualidade para a formação profissional. A PNE da ABEPSS define os princípios norteadores para a realização do estágio, bem como as atribuições dos sujeitos e instâncias envolvidos no estágio supervisionado, dispondo inclusive sobre o estágio não-obrigatório. Nesse sentido, o estágio supervisionado é entendido como parte indissociável do processo de formação profissional, e deve garantir a apreensão acerca do significado sócio-histórico da profissão e das condições de trabalho do assistente social, compreensão sobre as instituições e conjunturas postas e propiciar a aproximação ao universo dos trabalhadores usuários dos serviços sociais, articulando conhecimentos teóricos e saberes técnico-operativos (Guerra, 2006). Destaca-se ainda que o estágio não-obrigatório responde às mesmas disposições do estágio curricular obrigatório. Por fim, o presente trabalho pretendeu compreender a formação sócio-histórica da categoria dos assistentes sociais, perpassando os principais momentos históricos e políticos pelos quais a profissão passou em seu curso histórico no Brasil, refletindo sobre as relações entre estes, as mudanças nas perspectivas ideológicas e técnico-operativas, as incidências sobre a formação profissional entre esses diferentes contextos e refletindo ainda sobre a organização profissional e as legislações pertinentes à profissão do assistente social, buscando compreender essas dimensões em sua historicidade, que refletem sobre o contexto atual. 4. Referências Bibliográficas Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social [ABEPSS]. (1996). A Política Nacional de Estágio. 2009. Disponível em: <www.abepss.org.br> acessado em abril de 2013. Conselho Federal de Serviço Social [CFESS]. (1996). Serviço Social a caminho do século XXI: o protagonismo ético político do Conjunto CFESS-CRESS. In: Serviço Social e Sociedade, Nº 50. São Paulo: Cortez. CFESS. O CFESS. (2001). Brasília. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/o-cfess> acessado em abril de 2013 CFESS. Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social. Lei nº. 8662. Junho de 1993. Brasília:CFESS. CFESS. (1993). Código de Ética Profissional do Assistente Social. Brasília:CFESS. Iamamoto,M; Carvalho,R. de. Relações sociais e Serviço Social no Brasil. São Paulo: Cortez Netto, J. P. (1996). Capitalismo Monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez. 6ªed. Netto,J. P. (1991). Ditadura e Serviço Social. São Paulo: Cortez. Yazbek, M. C. Fundamentos históricos e teórico-metodológicos do Serviço Social. In: CFESS; ABEPSS. (Org.). Serviço Social: Direitos Sociais e competências profissionais.. 1ªed. Brasília: CFESS /ABEPSS, 2009, v. v. 1, p. 143-163. Guerra, Y. (2006). Análise dos Dados da Pesquisa sobre o Estado da Arte da Implementação das Novas Diretrizes Curriculares. Oficina descentralizada de ABEPSS “10 Anos de diretrizes curriculares – um balanço necessário”. MG: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Texto mimeo. http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/o-cfess
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