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Literatura Infanto Juvenil PEDAGOGIA Sumário UNIDADE I – Literatura Infanto-Juvenil: concepção e história .......... 3 UNIDADE II – Literatura infanto-juvenil: práticas de letramento literário na escola: entre gêneros e suportes variados ...................................... 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 23 UNIDADE I – Literatura Infanto-Juvenil: concepção e história “Era uma vez...” sem dúvida alguma a literatura surge em nossas vidas por causa do desejo de ouvirmos e contarmos histórias vividas, ouvidas, que sentimos, pensamos ou sonhamos. Contadas em versos ou prosa, as histórias inventadas, de “faz de conta”, histórias orais ou escritas criadas pelo ser humano contribuíram para passar de geração a geração todo um legado social de valores e crenças, medos e receios, sonhos e esperanças de cada um, de cada comunidade, povo e nação. Daí surge a literatura...,mas o que é literatura? E historicamente, quando e como ocorre o encontro do texto literário com nossas crianças e juvenis? Literatura infantil ou juvenil é um termo cunhado para definir textos literários destinados às nossas crianças e adolescentes, ou seja, subentende-se que adultos definem o que crianças devem ou podem ler a partir de juízo de valores, de credos, dentre outros. A esse respeito Peter Hunt(2010) esclarece-nos: (...) A literatura infantil , por inquietante que seja, pode ser definida de maneira correta como: livros lidos por; especialmente, adequados para; ou especialmente, satisfatórios para membros do grupo hoje definido como crianças. Entretanto, tal definição complacente não é muito prática, já que obviamente inclui todo texto lido por uma criança, assim definida.(HUNT,2010, p.81e 82) E ainda reflete: A maioria de nós, imagino, também tenderia a considerar como livros infantis apenas os essencialmente contemporâneas; há um limite que separa os livros infantis sobre viventes dos livros ‘vivos’, Os conceitos de infância mudam tão depressa que os livros não mais aplicáveis à infância mudam tão depressa que os livros não mais aplicáveis à infância devem cair num limbo, onde se tornam o domínio do bibliógrafo, já que não interessam mais ao bibliotecário ou à criança atuais (Essa é uma opinião que tem sido fortemente contestada.).(HUNT,2010, p.81e 82) Essa concepção abordada por Hunt (2010) mostra-nos o quão controverso e complexo é pensarmos em uma definição de literatura seja para crianças ou jovens. Isso implica em entendermos e aprofundarmos nos estudos sobre a história dessa literatura, além de perpassarmos conceitos relacionados à teoria literária. Breve História da Literatura Infantil/Juvenil A história da literatura infantil remete-nos ao ofício de contar histórias em épocas remotas. No período das cavernas as mulheres ensaiavam os primeiros momentos em família que a criança começava a ter contato com aquilo que mais tarde chamaríamos de “contação de histórias” quando ao fazerem seus filhos dormirem pronunciavam gruídos que possuíam uma certa sonoridade, inspirando as primeiras histórias orais. O negro na sua choça, o índio na sua aldeia, o lapão metido no gelo, o príncipe no palácio, o camponês à sua mesa, o homem da cidade em sua casa, aqui, ali, por toda parte, desde que mundo é mundo, estão contando uns aos outros o que ouviam contar, o que lhes vêm de longe, o que serviu a seus antepassados, o que vai servir a seus netos, nesta marcha da vida. Assim surge a literatura dedicada aos pequeninos: de forma oral. Entretanto, mais especificamente, em meados do século XVIII, surge uma literatura escrita às crianças. Antes disto não se escrevia para crianças, pois não existia infância; a criança acompanhava a vida social do adulto, o que incluía participar de sua literatura. Nesta época era vista como um miniadulto, sem nenhuma condição especial e não havia nenhuma preocupação específica com sua aprendizagem ou desenvolvimento, mas a partir do fortalecimento da burguesia essas concepções começam a se modificar. Inicia-se daí uma outra percepção da criança que passa a ser considerada socialmente como um ser diferente do adulto, com necessidades próprias e características pessoais. A esse respeito Coelho (1991) descreve que a literatura infantil ocidental surge de fato na França, na segunda metade do séc. XVIII. Durante a monarquia absoluta de Luís XIV manifesta-se a preocupação com a literatura para crianças e jovens, podemos assim considerar a França como o berço da literatura infantil. A literatura infantil surgiu com Fenélon (1651-1715), justamente com a função de educar moralmente as crianças. Fenélon foi um orador, escritor e prelado francês de grande influência, ele foi considerado um precursor do Iluminismo e na pedagogia propôs ideias que seriam desenvolvidas por Rousseau e Pestalozzi. Zilberman (1985) ainda nos esclarece que a constituição da literatura infantil se deu em meio a um novo modelo de família que estava a se constituir. A concepção de uma faixa etária diferenciada, com interesses próprios e necessitando de uma formação específica só acontece em meio à Idade Moderna. Esta mudança se deveu a outro acontecimento da época: a emergência de uma nova noção de família, centrada não mais em amplas relações de parentesco, mas num núcleo unicelular, preocupado em manter sua privacidade (impedindo a intervenção dos parentes em seus negócios internos) e estimular o afeto entre seus membros. (ZILBERMAN, 1985, p.13) Dessa forma, a Literatura Infantil permanece até hoje, e é de fundamental valor na formação de uma criança. Em meio ao conceito de infância atual permanece a necessidade de que se incentive o contato com a leitura e com a literatura visto seus grandes benefícios para infantes e juvenis. Em relação à produção da literatura infantil brasileira, em um primeiro instante, ocorre a apropriação do projeto educativo ideológico que provinha da Europa. Zilberman e Lajolo afirmam que: Via de regra, a imagem da criança presente em textos desta época é estereotipada, quer como virtuosa de comportamento exemplar, quer como negligente e cruel. Além de estereotipada, essa imagem é anacrônica em relação ao que a psicologia da época afirmava a respeito da criança. Além disso, é comum também que esses textos infantis envolvam a criança que os protagoniza em situações igualmente modelares de aprendizagem: lendo um livro, ouvindo histórias edificantes, tendo conversas educativas com os pais e professores. (LAJOLO; ZILBERMAM, 1986, p. 34). Nessa época, havia poucas obras literárias dedicadas às crianças e as produções editadas possuíam um texto distante dos infantes, pois se valorizava a literatura ideológica para crianças. Da literatura infantil pelo mundo à literatura com identidade nacional, essa surgiu em nosso país com o pré-modernista Monteiro Lobato que escreveu o primeiro livro para crianças no ano 1921, intitulado: A menina do Nariz arrebitado. Entretanto, sua obra mais famosa é as histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo e seus habitantes. O empenho de tal autor era por criar histórias que valorizassem nossa cultura nacional. Explorando contexto, personagens peculiares e linguagem tipicamente brasileiros surge a literatura para nossas crianças brasileiras. A obra do precursor da literatura infantil no Brasil, Monteiro Lobato, apesar das críticas que recebe atualmente por suas referências racistas e preconceituosas na narrativa, não deve ser deixada de lado; afinal, uma obra deve ser lida considerando seu contexto de produção. Portanto, o autor da célebre frase: "Um país se faz com homens e livros" e pai do Jeca Tatu é apontado como um dos gênios da literatura brasileira e progenitor da literatura infantil em nosso país. Pós-Lobato, a literatura infantil ganha força aqui em Terras brasileiras.O próprio autor coordena a Revista do Brasil, por volta de 1920, na qual escreve artigos, discutindo a produção recente de livros para crianças. Na França, de 1924 a 1946, há publicação intensa em torno da questão com títulos como: “Les Problèmes de la Littérature de Jeunesse”, Les Livres, Les enfants et Les Hommes”, mostrando que a criança já ganhava uma posição de destaque. Porém, toda essa produção não chega ao Brasil. Depois de Lobato, a partir de 1940, aproximadamente, inicia-se uma vasta publicação de livros sobre literatura infantil. Temos aí a expressão de Lourenço Filho Como Aperfeiçoar a Literatura Infantil (1943), de Cecília Meireles, Problemas da Literatura Infantil (1951), e Maria Antonieta Antunes Cunha Como Ensinar Literatura Infantil (1968). Todavia, é a partir dos anos 80, que temos o período mais fecundo da reflexão crítica sobre o livro infantil. Literatura para crianças? O papel da autoria na formação do leitor Desde que se iniciou a produção de literatura para crianças e juvenis, essa é criada por adultos a partir de suas reflexões sobre os pequeninos e mais jovens. A princípio, no século XVIII, a valorização da função social em detrimento da estética era muito grande, ou seja, a preocupação era em “encucar” valores, se jam de natureza social ou éticos, não cabendo analisar se esses valores eram convenientes ao desenvolvimento intelectual e psíquico dos leitores mirins ou se cooperavam para a formação de uma visão de mundo segundo o olhar do próprio receptor dessa literatura. Mesmo que atualmente, isso tenha se diluído um pouco, não permanecendo a lógica do “inculcamento”; entretanto, permanece uma dificuldade na produção dessa literatura: “(...) sua unidirecionalidade, uma vez que é produzida apenas do adulto para a criança e, não o contrário.”(Zilberman, 1985,p.67). Prevalece, portanto, um aspecto formativo nessa literatura, isso é, um adulto utilizando-se de uma linguagem/linguagem literária para imprimir uma determinada visão adulta de mundo. Segundo Zilberman (1985): Apesar de ter caráter provisório e ser um tipo de produção menor, espelhando a condição de seu leitor e beneficiário, o texto para crianças pode atuar sobre ela, refletindo neste caso a perspectiva do adulto, mesmo quando este tem em mente o interesse (atual e/ou futuro) do recebedor).(ZILBERMAN, 1985: p. 65) Nesse comentário, Zilberman(1985) destaca vários pontos fundamentais para compreendermos melhor os processos de produção dessa literatura que trará reflexos sobre seus receptores ou destinatários: os leitores mirins. Ressaltamos aqui o fato de ser uma literatura transitória (receptores/crianças e jovens em crescimento), por isso, essa produção literária foi considerada, durante algum tempo, um texto menor, de pouco prestígio como se “ainda não fosse literatura”. Em contrapartida, espera-se que esses textos sejam consumidos, que exista uma certa frequência a eles, estimulando aquisição de livros e a leitura permanente; afinal, quando a criança prefere televisão, videogames, brincar, dentre outros, em detrimento da leitura literária, isso não é bom. Daí a necessidade de se pensar em outras linguagens, reavaliação dos gêneros textuais literários continuamente para que se possa produzir literatura que contribua para formação do hábito de leitura pelos mais jovens. Mas o valor da literatura na vida das crianças e de jovens não pode ser apenas esse: a formação de hábitos. Para Hunt (2010) a literatura não pode ser definida como útil por seus aspectos superficiais, é preciso extrair sensações ou reações do leitor, é preciso formar as opiniões da criança. Lamenta o autor que é comum pressupor que a apreciação estética não seja algo disponível à criança. O texto deve ser usado, então, de modo estético e não prático. Se escrever versos não é garantia de escrever poesia, o mesmo acontece com linguagem literária, segundo o autor, o senso comum que se tem de linguagem literária é de uma linguagem “desviante e inacessível”, e não o conceito de que é diferente no sentido de que “o discurso ao qual ela pertence é exclusivo”. Esse teórico ainda nos esclarece que que a literatura se define em termos de seu público, ou seja, é necessário pensar na criança. Na atualidade, infância não é um conceito estável, assim a literatura definida por ela também não o é. O olhar pretensioso do adulto toma decisões sobre a infância como, por exemplo, as adaptações de texto. O leitor adulto não considera que a criança é bastante flexível em suas percepções de texto e como a brincadeira é um elemento natural de seu perfil, verão na linguagem literária uma área de grande exploração lúdica, porém sem preocupação estética. O essencial, segundo o autor, é ver a criança como “leitor em desenvolvimento”, por conseguinte o autor parte da definição de que literatura infantil implica em perceber se o texto foi expressamente escrito para crianças reconhecidas como crianças, com uma infância legitimada nos tempos atuais, séculos XX e XXI. Hunt (2010) afirma que o livro pode ser definido em termos de leitor implícito, isto é, o livro precisa pretender a criança, então o que define o valor da obra depende das circunstâncias de seu uso. Diante disso, podemos entender que o texto literário infantil é antes de tudo literário, ou seja, é arte que se apresenta através das palavras. Nessa perspectiva, o livro pode se dirigir a priori à criança ou ao juvenil, mas deve empolgar qualquer leitor (o adulto, por exemplo), tendo em vista o leitor implícito a ser atingido através da linguagem literária. O foco sem dúvida nenhuma é o leitor que é mais que um mero receptor da obra literária, pois possui habilidades e competências que precisam ser desenvolvidas através de vários textos, incluindo o literário com seu universo estético e de linguagem simbólica extremamente fundamental na vida de todo ser humano desde o início de sua existência. Segundo Zilberman ( 1991 ): A ação de ler caracteriza toda a relação racional entre o indivíduo e o mundo que o cerca. Pois, se este lhe aparece, num primeiro momento, como desordenado e caótico, a tentativa de impor a ele uma hierarquia qualquer de significados representa, de antemão, uma leitura, porque imprime um ritmo e um conteúdo aos seres circundantes. (ZILBERMAN, 1991,p.17) E mais: A obra de ficção, fundada na noção de representação da realidade, faz com que leitura e literatura constituam uma unidade que mimetiza os contatos palpáveis e concretos do ser humano com seu contorno físico, social e histórico. .(ZILBERMAN, 1988,p.19) Percebemos, com isso, que o ser humano antes de ler um livro já tem um conhecimento prévio, um histórico de vida, um repertório e ao ler reconhece a sua identidade mítica, o signo. No caso das crianças, essas têm menos experiências sociais o que as tornam desapegadas de algumas convenções sociais e mais livres para imaginar ou criar imagens, elemento chave para a formação do leitor de literatura. É como se sonhassem acordadas. De acordo com Candido (2004): (...) podemos dizer que a literatura é o sonho acordado das civilizações. Portanto, assim como não é possível haver equilíbrio psíquico sem o sonho durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem a literatura. Deste modo, ela é fator indispensável de humanização e, sendo assim, confirma o homem na sua humanidade, inclusive porque atua em grande parte no subconsciente, no inconsciente. Neste sentido, ela pode ter importância equivalente à das formas conscientes de inculcamento intencional, como a educação familiar, grupal ou escolar. (CANDIDO, 2004, p.175) Notamos, pelo contexto acima, que a obra literária nos propicia uma (re)ordenação da faculdade de perceber o mundo, ampliando os horizontes do ser humano. Isto porque, nas palavras de Candido (2004), a literatura pode se constituir como um “instrumentopoderoso”, o qual ao mesmo tempo em que deleita, educa, mas não no sentido pedagógico, exemplar: a literatura educa para a vida justamente por ser capaz de nos mostrar as contradições, as experiências diversas, o bem, o mal, etc., que compõem a experiência humana. Assim, torna-se importante saber que a literatura funda com a humanidade uma possibilidade dialogal, propícia para a construção e trocas de saberes, de crenças e valores advindos de culturas e sociedades, e precisa ser trabalhada de maneira adequada com as crianças e jovens a fim de que possam entender o quanto esta é relevante para o nosso viver coletivo. Por isso, a produção de tal literatura implica em um trabalho artístico valioso; não menos importante do que a literatura para adultos, essa visa de igual forma à interpretação da existência que conduz o ser humano a uma compreensão mais ampla e eficaz de seu universo, qualquer que seja sua idade ou situação intelectual, emotiva e social. SAIBA MAIS! Monteiro Lobato e a infância na república velha (Cilza Carla Bignotto) https://www.unicamp.br/iel/memoria/projetos/ensaios/ensaio15.html Verbete/Literatura Infantil http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/literatura-infantil Assista ao vídeo indicado! Aprofunde seu aprendizado! Vídeo: "A Literatura Infantil e Seus Passos de Gigante: A Quantas Anda o Gênero no Brasil?" https://www.youtube.com/watch?v=PK7PuKnKgfo https://www.unicamp.br/iel/memoria/projetos/ensaios/ensaio15.html UNIDADE II – Literatura infanto-juvenil: práticas de letramento literário na escola: entre gêneros e suportes variados A sociedade contemporânea vive envolta a uma rede de textos constituídos e produzidos através de diversos suportes, recursos e isso promove práticas diferenciadas de experimentação dos materiais, envolvendo linguagem oral e escrita. Se os estudos científicos da década de 90 estudaram e tentaram compreender o fenômeno do letramento que adiante evoluiu para letramentos, mais recentemente, o grupo de Nova Londres cunhou o termo multiletramentos ( Rojo, 2012) com o propósito de nos chamar atenção não apenas para o volume expressivo de práticas letradas com as quais a sociedade se envolve e sim de realçar que cada vez mais a população vive contextos de leitura e produção textual multisemióticas que exploram simultaneamente áudio, imagem e diversos gestos e comportamentos (kress, 2003;2006). As produções culturais letradas em circulação têm avançado e provocado alterações nas características dos textos que experimentamos nas práticas de leitura e de escrita. Dentre essas práticas, encontram-se as que envolvem os textos literários. Especificamente, em relação à leitura e escrita do texto literário, nessas encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos (Cosson, 2006). Ainda nessa perspectiva, Cosson (2006) esclarece-nos que: No exercício da literatura, podemos ser outros, podemos viver como os outros, podemos romper os limites do tempo e do espaço de nossa experiência e, ainda sermos. É por isso que interiorizamos com mais intensidade as verdades dadas pela poesia e pela ficção. (COSSON, 2006, p. 17) A experiência com a literatura aqui descrita é uma experiência pessoal, a qual não depende somente da decodificação de símbolos gráficos, mas de todo o contexto ligado à história de vida de cada indivíduo, para que este possa relacionar seus conceitos prévios com o conteúdo do texto, e desta forma construir o sentido, produzir texto literário. Na formação de cada cidadão bem como de um povo, a literatura é de máxima importância, representando um papel essencial, pois se revela como uma das vias no processo de construção do conhecimento, como fonte de informação e formação cultural. Segundo Cosson (2006), as práticas sociais com o texto literário, ou seja, o letramento literário deve ser vivido na escola. Ele defende que o processo de letramento literário é diferente da leitura literária por fruição, na verdade, esta depende daquela; logo, deve ser ensinada na escola. A esse respeito comenta que A questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, como bem nos alerta Magda Soares, mas sim como fazer essa escolarização sem descaracterizá-la, sem transformá-la em um simulacro de si mesma que mais nega do que confirma seu poder de humanização,(COSSON, 2006, p. 23). Incentivar e ensinar práticas de leitura literária é proporcionar ao leitor acesso a textos e suportes de reconhecida qualidade; é valorizar a cultura e o próprio ser humano, que não é feito somente de materialidade, mas de sentimento e essencialmente de linguagem. O diálogo entre leitor e textos, a experiência com intertextos e contextos entrelaçando-se com o conhecimento interno de cada leitor é de uma riqueza ímpar. Outra preciosidade, são os diversos e variados gêneros textuais literários constituídos socialmente e que o ser humano necessita vivenciar desde pequeno, entendendo seus usos, suportes e todos os componentes que envolvem esses textos. A escola, nesse sentido, tem papel fundamental de refletir sobre as práticas com esses textos. Bakhtin (1992) esclarece que “os gêneros são como que famílias de textos que apresentam características comuns, como certas restrições de natureza temática, composicional e estilística.” (Bakhtin,1992, p.45). As características dos gêneros são comuns, mas não são fixas para todos. É pelo contato e uso em situações de comunicações cotidianas que o indivíduo se torna capaz de identificar e utilizar os diversos textos. Portanto, experimentar os mais variados textos que se inserem na sociedade, incluindo os literários, é pertinente, visando desenvolvimento comunicativo, interação, expressando artística e cultura. A relação entre a Literatura Infantil e a escola Como nos diria Zilberman (1990): “Sim, a literatura Educa”. O título que essa pesquisadora deu a um de seus livros, tratando sobre a relação histórica da literatura dedicada às crianças como material educativo dá-nos a real dimensão de que há tempos a escola vem se apropriando da literatura para formação, para educação moral e social dos povos. Em seu livro, essa pesquisadora lembra que os gregos faziam isso nas praças, ensinando o povo através das fábulas. Mais tarde, quando se precisou de escola para educar os filhos da burguesia, foram selecionados textos para ensinar as primeiras letras e para o enculcamento. Ainda não havia textos para crianças nessa época; por isso, textos populares foram adaptados até surgirem autores dedicados à infância. Historicamente, Colomer (2007) descreve que durante muito tempo a literatura exerceu papel importante na formação dos sujeitos. As coletâneas de literatura, as antologias eram usadas para o ensino da leitura e da escrita.; poemas para memorizar e compartilhar cultura e nacionalismo; fábulas e contos para incutir valores e comportamentos. Zilberman (1990) reflete que essa tradição cristalizou-se no ensino de língua materna tanto para alfabetizar o sujeito quanto para formá-lo culturalmente, moralmente e socialmente. Foi assim com o latim e o grego antigo também, cujo ensinos se apoiavam nos textos da Era Clássica, para o aprendizado dessas línguas de uso restrito e para o conhecimento produzido nelas. E tem sido assim até hoje na escola; isso é, a escola se apropria de textos literários para ensinar a ler e a escrever e para se conhecer a cultura literária de um povo. Sobre o uso mais recente da literatura no ensino fundamental, no Brasil, Cosson (2006) aponta-nos a seguinte situação: No ensino fundamental, a literatura tem um sentido tão extenso que engloba qualquertexto escrito que apresente parentesco com ficção ou poesia. O limite, na verdade, não é dado por esse parentesco, mas sim pela temática e pela linguagem: ambas compatíveis com os interesses da criança, do professor e da escola, preferencialmente na ordem inversa. Além disso, esses textos precisam ser curtos, contemporâneos e “divertidos”. Não é sem razão que a crônica é um dos gêneros favoritos da leitura escolar. (COSSON, 2006, p. 21) Muitas vezes a literatura na escola é aplicada em exercícios ortográficos ou em exercícios de qualquer outro conhecimento linguístico, totalmente, dissociada de sua característica artística, estética. Outras vezes, é cobrada em prova ou em atividades pedagógicas como as “famosas fichas literárias” que “obrigam” o aluno a ler a obra somente para realizar a avaliação. Nesse caso, a literatura é associada a um uso desse texto como pré-texto para tratar sobre outro assunto: os conhecimentos linguísticos, por exemplo. Tal uso da literatura abandona seu propósito central na escola. A esse respeito Cosson (2006) comenta: Na escola, a leitura literária tem a função de nos ajudar a ler melhor, não apenas porque possibilita a criação de hábito de leitura ou porque seja prazerosa, mas sim, e sobretudo, porque nos fornece, como nenhum outro tipo de leitura faz, os instrumentos necessários para conhecer e articular com proficiência o mundo feito linguagem. (COSSON, 2006, 27) No ambiente escolar, a literatura é um lugar de conhecimento e, para que funcione como tal, convém ser explorada de maneira adequada. A escola precisa ensinar o aluno a fazer essa exploração e não se trata de simplesmente colocar o aluno para ler livros. Ao contrário, o pressuposto básico é de que o aluno leia a obra individualmente, sem o que nada poderá ser feito. Mas a escola precisa ir além de simplesmente colocarem os alunos para exercitarem os olhos. As atividades de leitura literária devem provocar o aluno/leitor a perceber outros sentidos do texto, a ensiná-los a acionarem conhecimentos necessários para que atinjam cada vez mais níveis profundos de interpretação do texto, formando-se como leitores críticos da obra literária. A esse respeito Cosson (2006) esclarece que “o bom leitor, portanto, é aquele que agencia com os textos os sentidos do mundo, compreendendo que a leitura é um concerto de muitas vozes e nunca um monólogo.” (COSSON, 2006, 30) Isso evidencia a natureza interdisciplinar do ato de ler, especialmente, do texto literário que exige um conjunto de noções determinantes na interação do leitor com o texto; o fato do texto literário exigir participação ativa do receptor, mostra a relação dinâmica entre literatura e leitor. Tendo em vista sua característica interdisciplinar, o texto literário revelasse plural, estimulando inter-relações temáticas, ideológicas, linguísticas, dentre outras. Por isso, a escola precisa levar o aluno a compreender a interação da literatura com as outras áreas de conhecimento no processo de construção do sentido do texto. Kleiman e Morais (1999) observam que a leitura pode ser caracterizada como uma atividade de integração de conhecimentos contra a fragmentação. Essas pesquisadoras acreditam na abordagem interdisciplinar da leitura literária, visto que estimula o leitor a relacionar aquilo que está lendo a outro assunto que já conhece, favorecendo a articulação de saberes. Lajolo (1993) citando Barthes, afirma que se todas as disciplinas fossem abolidas do currículo escolar, somente uma deveria ser preservada: a literatura, pois essa guarda todos as outras. Colomer (2007) comenta que a escola deve ensinar, mais do que literatura, é ler literatura, ou seja, desenvolver conhecimentos específicos que tornem possível uma interpretação no seio da cultura. E é dessa forma, diante da obra literária, experimentando protocolos de leitura, se identificando, reconhecendo e compreendendo no texto valores culturais locais, globais, de espaços e tempos diferenciados, que o leitor crítico se forma, assentado em princípios do letramento literário. São nos pilares da relação social da literatura com o mundo, da literatura com a cultura que o leitor através das práticas sociais com textos literários se constrói reflexivo e humanizado pela força desse texto. Portanto, é fundamental que a escola considere esse fenômeno do letramento literário como uma forma de tornar a leitura da literatura algo significativo para a formação dos alunos. Seleção e recepção dos textos literários na escola Em relação aos estudos sobre recepção textual e sua relevância para o ensino da literatura na escola, lembramos Antônio Candido (2009) quando indica que para operar como um sistema, a literatura demanda um conjunto de produtores literários, um conjunto de receptores e de mecanismo transmissor que liga um a outro. Diante disso, é preciso considerar, em sala de aula, a voz do aluno no ato da recepção textual. Ou seja, o professor não deve desconsiderar a leitura inicial do aluno que muitas vezes resulta de um único contato com o texto. Beach e Marshal (1991) ao refletirem a esse respeito comentam que o professor por possuir uma diversidade maior de repertório e de conhecimento de mundo, além de mais experiência de leitura, possui uma interpretação privilegiada em relação ao aluno. Por isso, deveria colaborar com os alunos fazendo-os construir e reconstruir interpretações ao invés de apresentar leituras prontas. Para esses estudiosos, o professor precisa confrontar os alunos/leitores com a diversidade de leituras do texto literário, levando-os a compreender que o sentido não está no texto, mas na capacidade que o leitor tem de interagir, de relacionar ideias, de confrontar aquilo que leu com outros conhecimentos, enfim, em lidar com as pistas que o texto fornece e com outros conhecimentos a fim de que se encontre um sentido para a leitura realizada. Muito da dificuldade que o professor tem com essa perspectiva, está no fato de que pautado numa abordagem mais formalista e estruturalista da literatura, cultiva-se uma visão da literatura como “bela letras” (Zilberman, 2011) que o aluno deve ter como modelo a seguir. Dentro dessa concepção, o cânon literário já está pré-estabelecido, tirando do aluno a oportunidade de criticar e de construir seu próprio cânon. Em relação às escolhas de literatura a serem lidas na escola, Cosson (2006) orienta que o professor não despreze as obras clássicas onde se encontra a herança cultural de toda a comunidade e nem se apoie apenas no contemporâneo, mas sim em sua atualidade. Além disso, o professor deve encarar a literatura como elemento essencial para a sobrevivência humana; nesse sentido, o professor deve estar atento às escolhas, estratégias e propostas de práticas literárias enquanto instrumento de transformação social e cultural. Gêneros, suportes e imagem no texto literário A obra literária, propositalmente, brinca de burlar a noção de gênero, como se quisesse testar seus próprios limites, extrapolar fronteiras e estabelecer novos parâmetros estéticos, que leitores, editores, professores etc. se preocupam em nomear. Essas misturas nos mostram que a discussão dos gêneros da literatura leva necessariamente à problematização de teorias que os tomam como formas textuais transhistóricas e isoladas de outras modalidades discursivas. Dialogicamente, conforme ensinou Bakhtin, os gêneros, entre os quais os literários, são “tipos de textos relativamente estáveis” (BAKHTIN, 1992). Formulada por Bakhtin, a teoria dos gêneros do discurso é de importância capital para a teoria dos gêneros literários. Até aí pressupunha-se, geralmente, que a divisão de gêneros era própria apenas da literatura, que ela constituía uma consequência específica da literariedade. (...) graças à noção de gêneros do discurso, foi-nos dado compreender que o fenômeno do gênerotem um alcance universal, já que caracteriza toda a prática da linguagem.” (GLOWINSKI, 1995, p. 110) Convém reforçar ainda que a categorização por gêneros é importante não apenas por ser propiciadora de classificações que nos ajudam a organizar repertórios textuais, mas por trazer elementos que permitem a compreensão dos textos, do seu modo de construção, identificados pelos leitores que fazem parte da comunidade discursiva da literatura na qual os gêneros circulam. O reconhecimento de gêneros por leitores apresenta, assim, relevância para a democratização da literatura, como uma das precondições para se desfazer o monopólio cultural que caracteriza, historicamente, a arte literária: Nunca será possível que todas as pessoas derivem dela [da arte] igual deleite e apreciação, mas a participação das massas nessa fruição pode ser ampliada e aprofundada. As condições prévias para o abrandamento do monopólio cultural são, sobretudo, econômicas e sociais. Não podemos fazer outra coisa senão lutar pela criação dessas precondições. (HAUSER, 1998. p. 992) Não se trata de decorar características prototípicas de gêneros e seus respectivos nomes, mas de transformá-los, como “coeficiente de leitura” (GLOWINSKI, 1995) passível de identificação pelos leitores, em experiências significativas de leituras literárias por meio das quais os gêneros se tornam familiares e reconhecíveis. Em relação aos suportes de textos, lembramos que no processamento de leitura do gênero textual literário, o suporte que o envolve pode trazer ainda mais benefícios e efeitos nas práticas leitoras do que podemos imaginar. Para tanto, partimos das indagações de Marcuschi (2003) a respeito da relação entre suporte e gênero textual. A esse respeito, tal teórico analisa: Suporte textual tem a ver centralmente com a ideia de um portador do texto, mas não no sentido de um meio de transporte ou veículo, nem como um suporte estático e sim como um locus no qual o texto se fixa e que tem repercussão sobre o gênero que suporta. De importância neste caso é a questão de saber qual é o grau de dinamismo do suporte. Admitimos que ele não é passivo e tem relevância no próprio gênero como tal, já que um texto em um ou outro lugar recebe influência desse lugar em que se situa (MARCUSCHI, p. 8, grifo do autor). Mais adiante, no mesmo artigo, esse pesquisador cita outro estudioso, Sírio Possenti, que busca respostas sobre a relação do suporte dos gêneros textuais e a leitura. O texto conta que Possenti (2002 apud MARCUSCHI, 2003) fica intrigado para entender o que Chartier (1994, 1997) quer dizer quando declara que não se lê da mesma forma um rolo de papiro e um livro e conclui: Possenti não conseguia ver algum “poder” emanando do suporte que pudesse afetar a leitura. O simples fato de um texto estar num papiro único, num livro impresso em milhares de exemplares, na tela do computador rolando verticalmente não poderia afetar a leitura. Desconfiando dessa ingênua posição, Possenti foi ao Chartier (1994, 1997) para ver o que o autor dizia e não seus solertes intérpretes. Segundo Possenti (2002, p. 209), Chartier de fato acredita que se lê de forma diversa o mesmo texto em suportes diversos, não no sentido de se compreender diferentemente o texto e sim no sentido de se manter com ele uma relação diferente, ou seja, há uma relação diferente ao se ler um edital de concurso num jornal ou num outdoor, pois no jornal eu posso fazer anotações, sublinhar etc., interferindo no texto, mas no outdoor isto já não é possível (pelo menos em circunstâncias normais) (MARCUSCHI, 2003, grifo do autor). Para além dessa reflexão sobre gêneros e suportes de texto literário e sua relação com as práticas leitoras, precisamos considerar ainda, tendo em vista o letramento literário na contemporaneidade que a nossa sociedade vive envolta a uma rede de textos literários constituídos e produzidos através de diversos suportes, recursos e isso promove práticas diferenciadas de experimentação dos materiais escritos. Em relação aos efeitos da ilustração no texto literário é preciso dizer que essa sofre muita desvalorização em relação ao texto verbal; entretanto, é impossível negar a importância da ilustração no processo de compreensão textual ora completando o sentido do texto verbal ora construindo outro texto (texto/imagem), proporcionando assim ao leitor mais um estímulo à leitura. Segundo Azevedo (1998) “é impossível negar que todo texto ilustrado vai, necessariamente, receber interferência de suas ilustrações. A energia, a linguagem, as cores, o clima, a técnica, o imaginário, tudo o que o ilustrador fizer vai alterar e interferir na leitura (e no significado) do texto” (p. 108). Dessa forma, e pensando na obra como um todo, ou seja, texto verbal, ilustração e projeto gráfico, que o professor realizará a prática de leitura do texto literário na escola, ou seja, antes de tirar um livro da prateleira da biblioteca escolar para ler com as crianças, o professor precisa entender a relação entre imagem e texto verbal, buscar seus significados e compreender seu papel na composição geral da obra literária. Portanto, a escola deve se abrir para as novas propostas e formatos de estética literária (verbal, imagem, animação, áudio, suporte, mídia e muito mais), considerando a diversidade de textos produzidos por comunidade diferentes, revelando a diversidade cultural dos grupos sociais que as produzem ou acessam e contribuindo para ampliar o conceito de literatura dos alunos. AS NARRATIVAS E A POESIA NA ESCOLA De uma forma breve, gostaríamos apenas de refletir sobre a composição de alguns textos literários muito explorados no espaço escolar: as narrativas e a poesia. No entanto, muitas vezes as práticas pedagógicas não cooperam para estimular leitores a buscarem cada vez mais esses textos; pelo contrário, algumas práticas acabam distanciando leitores em formação da materialidade dos textos literários, porque simplesmente levam a pensar o texto de uma forma indevida. A seguir, portanto, apontaremos e orientaremos para alguns aspectos fundamentais que precisam ser levados em conta em relação ao planejamento de um trabalho pedagógico com textos literários na escola. SOBRE AS NARRATIVAS E SEUS PERSONAGENS Destacamos de imediato a noção de narrativa ficcional: contar um fato fruto da imaginação humana, que carrega em si todos os valores e crenças de uma comunidade. Os textos narrativos são vários. Vera Teixeira Aguiar (2001) divide as narrativas infantis em seis tipos de obras: mitos, lendas, fábulas, apólogos, contos e novelas literárias. Antes mesmo de contar qualquer um desses tipos de narrativas, o(a) professor(a) precisa conhecer suas especificidades e origem; sim, esses dois elementos são fundamentais, visto que cada narrativa tem suas características próprias (elementos da narrativa, discurso e linguagem); mas também, ao buscar uma narrativa a ser contada é preciso buscar sua origem (oral ou escrita), entendendo as versões ou adaptações pelas quais passou para depois poder partilhar com os alunos/leitores em formação uma dessa versões. É fundamental alertar o leitor em formação que há outras versões da narrativa; conforme a atividade programada, é importante mostrar mais de uma versão, levando os alunos a compararem ou perceberem as ênfases diferenciadas de cada uma. Além disso, toda narrativa possui uma estrutura, a saber: contextualização ( espaço da narrativa), narrador, personagem com seu conflito, clímax (preparatório para o final) e desfecho ou conclusão. Necessário se faz levar o leitor em formação a perceber a importância de cada um desses elementos como o do espaço em que ocorre a trama da narrativa, pois a compreensão disso, leva-nos a entender outros elementos da narrativa: as personagens, por exemplo. Um mundo com fadas, bruxas, gnomose duendes só pode compor o espaço do maravilhoso, o que propõe uma interpretação mítica ( Branca de Neve acorda de seu sono eterno(morte) com um simples beijo de amor do príncipe). Em outras narrativas, prevalece um espaço psíquico em que a personagem vive sentimentos de medo, angústia e perda (Chapeuzinho Vermelho, por exemplo). Mas outros aspectos devem ser observados também, tais como: as vozes que dialogam na narrativa (voz das personagens, voz do narrador e voz do autor). Certamente que em uma narrativa o autor não fala sozinho e nem de si mesmo; portanto, ao inventar uma narrativa, o autor não usa uma linguagem para si e nem de propriedade exclusiva sua. Esse inventa um mundo, narrado e apresentado dentro de uma representação enunciativa que conduz o leitor para dentro dessa história. Sem a percepção disso, sem “mergulhar” nesse mundo, o leitor não consegue entender a narrativa literária. SOBRE A POESIA NA ESCOLA Seja qual for o estilo da poesia (tradicional ou não), esse texto possui grande relevância na formação do leitor crítico, pois a poesia eleva a palavra a sentidos, imagens e expressões nunca antes experimentados. Essa produção literária em versos que pode se apresentar de forma oral ou escrita, com métrica ou não, com ritmo, rima e sonoridades diversas ou não, além de assumir formas e movimentos inusitados, deve compor o programa escolar sim; todavia, o que fazer com a poesia no espaço escolar? Para quê? Dizemos isso, porque não queremos provocar a morte da poesia na escola, mas sua exaltação e, para tanto, não podemos ser coniventes com atividades que abusam desse texto, explorando-o em atividades de conhecimento linguístico como pretexto para ensinar conceitos linguísticos. A leitura de um poema requer atenção ao seu estilo, à estilística que envolve a linguagem poética e a composição das vozes (polifonia) que ecoam através dele. Por exemplo, uma das vozes que compõem o poema é o chamado “eu-lírico” que foi criado exatamente para separar o “eu” ficcional que fala através do poema (esse “eu” subjetivo que pode ser assumido por qualquer pessoa) e o poeta de carne e osso. E mais, as várias vozes que estão presentes no poema revelam as diferenças sociais, as variadas visões de mundo e os diversos modos de viver, de agir e de falar que revelam toda identidade de uma comunidade. Quando nos propomos ler um poema na escola, assumimos um pacto com a verdade que esse texto carrega consigo. Sua leitura seja ela coletiva (jograis) ou individuais (encenada de memória ou simplesmente lida sem muitos artifícios de entonação e gestos) devem levar em consideração os contextos culturais de apreciação desse gênero textual, a saber: saral ou contexto mais popular ( simulação, por exemplo, de feiras livres com cordéis e repentes), podendo usar instrumentos musicais ou não; ressaltamos ainda os varais ou murais de poesia visual e o uso de tecnologia digital para criar momentos de apreciação de poemas. Em suma, um poema (popular ou erudito) deve ser levado para a sala de aula com a certeza de que para estimular os alunos a lerem tal gênero textual será preciso vivenciá-lo em toda sua intensidade de linguagem, forma e estética para que seu sentido (ou vários sentidos) seja realmente atingido e alcançado. SAIBA MAIS! COMO A PRÁTICA DE LEITURA DA LITERATURA EM SALA DE AULA PODE CONTRIBUIR NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA LEITORA: RELATOS DE UMA PROFESSORA ( CRISTIANE BEGALLI EVANGELISTA) http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/254046/1/Evangelista_CristianeBegalli_M.p df Entrevista com Hélder Pinheiro, sobre o livro “Poesia na sala de aula” https://mafua.ufsc.br/2018/entrevista-com-helder-pinheiro-sobre-o-livro-poesia-na-sala-de- aula/ A ESCOLARIZAÇÃO DA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL(MAGDA SOARES) https://pt.slideshare.net/geruzaduarte/a-escolarizao-da-literatura-infantil-e-juvenil-completo ASSISTA AOS VÍDEOS Aprofunde seu aprendizado! Vídeos: Professora Roberta Gerling Moro Temática: NARRATIVAS MOVENTES NA EDUCAÇÃO: UMA EXPERIÊNCIA DE LEITURA COM O LIVRO-APLICATIVO SPOT https://www.youtube.com/watch?v=R6hZlewSIAM Literatura indígena - Conexão Futura - Canal Futura https://www.youtube.com/watch?v=WZjfVX1pH5g lustradores Nelson Cruz e Marilda Castanha - Agenda https://www.youtube.com/watch?v=WeOZtmghBzs ABZ do Ziraldo recebe a ilustradora Graça Lima https://www.youtube.com/watch?v=LdMm7tTPZLg REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, Ricardo. Texto e imagem: diálogos e linguagens dentro do livro. SERRA, Elizabeth D’Angelo (Org.) 30 anos de literatura para crianças e jovens: algumas leituras. Campinas: Mercado de Letras, 1998. BAKHTIN, M (V.N. Volochinov) Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lauch e Iara Frateschi Vieira. 6.ed. São Paulo: Editora Huritec 1992 CANDIDO, Antônio. O direito à literatura. In: CANDIDO, Antônio. Vários escritos. 4. ed. São Paulo: Ouro Sobre Azul, 2004. p. 169-191. 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