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Literatura Infanto Juvenil Professora Esp. Paula Regina Dias de Oliveira Professora Me. Greicy Juliana Moreira Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Renato Valença Correia Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Dudatt Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Geovane Vinícius da Broi Maciel Jéssica Eugênio de Azevedo Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock FICHA CATALOGRÁFICA UNIFATECIE - CENTRO UNIVERSITÁRIO EAD. Núcleo de Educação a Distância; MOREIRA, Greicy Juliana. OLIVEIRA, Paula Regina Dias de. Literatura Infanto Juvenil. Greicy. Juliana Moreira. Paula. Regina Dias de Oliveira. Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 102 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. AUTORAS Professora Mestre Greicy Juliana Moreira ● Mestre em Letra (UEM). ● Especialista em Língua Portuguesa - Teoria e Prática (América do Sul). ● Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Faculdade Maringá). ● Especialista em Educação Especial com Ênfase em Libras (Bom Bosco). ● Especialista em Educação Empreendedora (Puc -RJ). ● Especialista em Gestão de Pessoas (Faculdade Maringá). ● Licenciatura em Letras - Português. ● Segunda Licenciatura ( Pedagogia - Unicesumar - em andamento). ● Professora da Pós-Graduação (UNIFCV). ● Tutora Pedagógica e de Pós-graduação da (UNIFCV). ● Professora conteudista na área de Educação (UNIFCV/UNIFATECIE). ● Instrutora de cursos Técnicos e Profissionalizantes (SENAC-PR). ● Experiência na área de Educação há 12 anos. ● Experiência no Ensino Técnico e Superior e Pós-Graduação (presencial e à distância): desde 2010 até os dias atuais. Acesse meu currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8929294723407914 Professora Esp. Paula Regina Dias de Oliveira ● Especialista em Docência no Ensino Superior (Unicesumar) ● Especialista em EAD e as Novas Tecnologias Educacionais (UniCesumar). ● Licenciatura em Pedagogia (FAPI – Faculdades de Pinhais). ● Tutora Educacional - Modalidade Presencial em disciplinas Híbridas (UNIFCV). ● Professora orientadora de trabalho de conclusão de curso da pós-graduação (UNIFCV). ● Professora mediadora na área da Educação (UNIFCV). Ampla experiência como tutora educacional e como professora mediadora em disciplinas do curso de Pedagogia na modalidade EAD. Experiência como facilitadora em cursos de formação profissional. Experiência em docência na educação infantil. Acesse meu currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/2006860851344290 SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 5 A Literatura Infanto-Juvenil UNIDADE II ................................................................................................... 25 A Literatura Infanto-Juvenil UNIDADE III .................................................................................................. 53 Ensino da Literatura Infanto-Juvenil UNIDADE IV .................................................................................................. 73 Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil 5 Plano de Estudo: • Conceito • Aspectos históricos • Especificidade Objetivos de Aprendizagem: Ao final desta unidade você será capaz de: • Apresentar e discutir alguns conceitos de literatura infanto juvenil, discutir suas concep- ções, promover a compreensão crítica no que se refere a literatura infanto juvenil. • Apresentar uma introdução à História da Literatura Infanto juvenil, bem como compreen- der o seu desenvolvimento desde a Idade Medieval até os dias atuais. • Discutir algumas questões acerca dessa literatura, a relação entre o leitor e o texto, além das suas características e especificidades. UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil Professora Especialista Paula Regina Dias de Oliveira 6UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil INTRODUÇÃO Nos dias atuais, formar leitores literários tem se tornado um grande desafio, pois circulam em nossa sociedade discursos variados e muitas são as formas de expressão, e o texto literário tem tentado se manter ativo em meio a essa imensa variedade de textos. Mais afinal, o que é a literatura? O que a diferencia dos demais gêneros e por que ela é tão importante na formação da criança e do adolescente? A literatura infanto juvenil é formada por um conjunto de textos diversificados em que a classificação desse gênero se dá pelo público que deseja atingir. Essa característica é fundamental e compartilhada entre os diversos gêneros. Falar um pouco sobre a importância dos textos literários, seu conceito, sua história e especificidades é um dos objetivos desta unidade, pois a literatura infanto juvenil exerce uma função importante na formação, cultural social e educativa da criança e do adolescente. Assim, abordaremos primeiramente o conceito e com base nele, para após tra- çarmos um percurso histórico mostrando suas transformações desde a Idade Média até a Idade Contemporânea. Com base em uma visão crítica e pedagógica deste gênero falare- mos sobre suas especificidades e suas características e o impacto que ela produz no leitor. Espero com esse percurso, contribuir para seus estudos no que se refere a co- nhecer e compreender a importância da literatura infanto juvenil na formação pedagógica, social e cultural dos estudantes e na formação de futuros leitores. Venha comigo e bons estudos! 7UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil 1.CONCEITO 1.1 O que é Literatura? O texto a seguir inicia com uma intenção de se realizar um passeio pela imaginação que permeia a Literatura Infanto-juvenil. Para tanto, é preciso conhecer alguns conceitos básicos sobre Literatura. Os primeiros conceitos se referem a Arte e a Literatura, seguidos da Literatura para crianças e adolescentes. Ao falar-se em Literatura, logo se remete ao ato de ler, a interação entre o leitor e um texto literário. Todavia, a obra de arte literária vai além de uma simples leitura, pois possui especificidades e características que outros textos não possuem. É importante ressaltar aqui que a discussão que permeia o conceito de Literatura, suas singularidades e especificidades não são fáceis. Diversas correntes teóricas tentaram defini-las, porém não obtiveram sucesso, pois são discussões que ocorreram em sentidos diferentes, sociedades e épocas distintas. A Literatura expressa uma experiência humana, porém de maneira específica e isso dificilmente poderá ser definido com exatidão. Cada época produziu e compreendeu a literatura do seu jeito. E conhecer esse jeito, é conhecer a singularidade de cada momento histórico da caminhada humana, bem como a sua evolução no decorrer desse período. (COELHO, 2000). Assim percebe-se que a Literatura está em constante modificação, e que ao longo do tempo desenhou-se uma linha que demonstra esse vai e vem que nas palavras de Coe- lho 2000, (p.14)“se reflete nas definições que o fenômeno literário recebeu desde Platão e Aristóteles no século IV a.C., os quais deram início a discussão do tema”. 8UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil O fato de o fenômeno literário não possuir uma única definição só demonstra a sua complexidade e a sua capacidade de se renovar ao longo do tempo. Por esse motivo,conceituar a Literatura depende de muitas vertentes. E mesmo que não haja um consenso entre os teóricos sobre esse assunto como já mencionado anteriormente, sabe-se que existem algumas especificidades e características que são próprias do texto literário. Souza (2000), sugere a seguinte definição para a Literatura, [ ] parte do conjunto da produção escrita e, eventualmente, certas modalidades de composições verbais de natureza oral (não escrita), dotadas de proprieda- des não específicas, que basicamente se resumem numa elaboração especial da linguagem e na constituição de universos ficcionais e imaginários. (p.42). Corroborando com os estudos até aqui, Souza se refere a literatura como uma das possibilidades de utilização e exploração da linguagem e da ficção, ou seja, pela capacida- de que o indivíduo tem de criar um universo ficcional por meio do fenômeno literário. Neste sentido, pressupõe-se que a autora define a obra literária como uma construção interna, o qual há um domínio da linguagem e do seu criador, no entanto, não se pode esquecer que o que dá corpo à obra literária é a interação que se dá entre o texto e o leitor por meio da leitura. É o leitor que atribui o significado àquilo que antes era apenas um amontoado de sinais gráficos que foram impressos em uma folha de papel. SAIBA MAIS Alguns Teóricos nos apresentam diferentes conceitos sobre a Arte e Literatura. De acordo com Tavares (1981), a Arte no seu conceito amplo ou real se refere a aplica- ção do conhecimento a ação. “o meio adequado à realização de qualquer obra”. Já no conceito filosófico ou estético, a Arte é uma forma superior de conhecimento intuitivo, para ele “É a representação sensível da beleza, através da intuição”. Já para o autor, na época clássica no que se refere ao sentido amplo, a “Arte Literária consiste na realização dos preceitos estéticos na invenção, da disposição e da elocu- ção, porém no sentido restrito, a Arte Literária é a arte que cria, pela palavra, uma imita- ção da realidade”. (p. 17-30). Fonte: TAVARES, Hênio. Teoria Literária. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981. 9UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil Foi com o passar dos séculos que a distinção entre o lógico e o imaginário se con- sagrou. De acordo com Costa (2007), o “texto literário traz a marca da invenção e da quebra de padrões de escrita e de representação do mundo e do homem” (p. 16). Foi com base nessa diferenciação entre o lógico e o imaginário que foi possível chegar aos conceitos de Literatura que temos hoje. 1.1.2 Conceitos que envolvem a Literatura Infanto-juvenil No que se refere a literatura infanto-juvenil, ela é composta por histórias fictícias infantis e está destinada a crianças, adolescentes e jovens. Essas obras incluem, poemas, novelas, obras que envolvam a cultura e o folclore ou simplesmente textos (obras que retratam a vida real). Tais obras são desenvolvidas de acordo com a idade do leitor. Ao analisar uma obra literária desenvolvida para crianças com faixa etária entre três e quatro anos, por exemplo, verá que esta é repleta desenhos, com poucas palavras, além de serem obras muito coloridas. Já uma obra escrita para o público adolescente e jovem, raramente haverá desenhos, em sua maioria são constituídas apenas por textos. 1.1.3 Conceitos que envolvem a Literatura Infantil A Literatura Infantil está destinada, como o nome diz, ao público infantil com faixa etária entre dois e dez anos de idade. Essas obras precisam ser de fácil leitura e enten- dimento pela criança que a lê, além disso deve despertar o interesse e, principalmente estimular a imaginação da criança. Criados por professores e pedagogos no final do século no final do século XVII, os primeiros livros infantis tinham como objetivo apenas criar hábitos e valores. Hoje, além desses objetivos, a leitura deve apresentar uma outra visão da realidade, ou seja, a diversão e o lazer, que são importantes fatores no que se refere ao desenvolvimento psicossocial do leitor. Neste sentido pode-se dizer que a Literatura Infantil de acordo com Aguiar (2001, Apud Costa, 2007), trata-se de um “objeto cultural. São histórias ou poemas que ao longo dos séculos cativam as crianças. Alguns livros nem foram escritos para elas, mas passaram a ser considerados literatura infantil (p.16)”. Abaixo pode-se verificar algumas características das obras literárias destinadas as crianças, bem como suas características e exceções: 10UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil ● As obras literárias desenvolvidas para atender ao público infantil com faixa etá- ria entre dois e quatro anos, são compostas por pequenos grupos de palavras e frases simples. São coloridos, com muitas imagens. Isso acontece, pois nesta fase as crianças iniciando o processo de aprendizagem da leitura e codificação dos signos. ● Os livros destinados aos leitores com idade entre quatro e seis anos, são com- postos por grupos maiores de palavras e frases, porém sem lançar mão dos estímulos visuais. ● Para as crianças com idade entre sete e dez anos as obras literárias possuem um número reduzido de imagem, já priorizando o texto. Como nessa idade a criança já está na fase escolar, e já conseguem racionalizar, os textos passam a ser mais complexos, com o intuito de estimular a criança a encontrar por si só as respostas as indagações que estão no texto. Apesar de ser possível verificar que as obras literárias possuem algumas caracte- rísticas em comum, elas também possuem algumas exceções, como temas não apropria- dos para tais faixas etárias, livros que retratam guerras, que abordam fatos como crimes e vícios. Essas obras especificamente, possuem entre oitenta a cem páginas, ou seja, são relativamente pequenas, além disso, contam com estímulos visuais, a linguagem e a escrita são simples e as histórias são retratadas de maneira clara. Em alguns casos possuem ca- ráter didático, explicando ao leitor regras e comportamentos sociais, e geralmente contam com um final feliz. Ademais, pode-se então considerar que a literatura infantil, apesar de estar associa- da a criança, é aquela que vai ao encontro das necessidades do leitor e que se identificam com ele, não sendo necessariamente desenvolvida somente para atender ao público infantil. Ela deve ser considerada como uma arte e deleite, e deve ir além da intenção pedagógica e didática ou como um estímulo ao hábito da leitura, ela deve despertar a criança que existe em cada um de nós por meio do imaginário e da fantasia. 1.1.4 Conceitos que envolvem a Literatura Juvenil A Literatura Juvenil é aquela obra destinada ao público com faixa etária entre dez e quinze anos de idade. Essas obras costumam incluir temas e fatores que podem despertar 11UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil o interesse do jovem adolescente, como temas controversos e romances. Alguns aspectos relacionados ao seu futuro no que se refere a sua escolha profissional, na busca por au- toafirmação, também são temas muito comuns para essa faixa etária, além de personagens que possuem a mesma faixa etária dos leitores, bem como o número elevado de páginas. Tais obras costumam ter em média duzentas a trezentas páginas. Diante das abordagens acima sobre as características da Literatura infanto-juvenil, é possível perceber que a produção literária precisa atender há alguns critérios e especifi- cidades, uma vez que eles é que vão distinguir um texto literário de um texto não literário. No tópico três desta unidade trataremos de forma mais aprofundada sobre algumas espe- cificidades do texto literário. REFLITA “Dentro do contexto da literatura infantil, a função pedagógica implica a ação educativa do livro sobre a criança. De um lado, relação comunicativa leitor-obra, tendo por inter- mediário o pedagógico, que dirige e orienta o uso da informação; de outro, a cadeia de mediadores que interceptam a relação livro-criança: família, escola, bibliotecae o próprio mercado editorial, agentes controladores de usos que dificultam à criança a de- cisão e escolha do que e como ler. Extremamente pragmática, essa função pedagógica tem em vista uma interferência sobre o universo do usuário através do livro infantil, da ação de sua linguagem, servindo-se da força material que palavras e imagens possuem, como signos que são, de atuar sobre a mente daquele que as usa; no caso, a criança”. (PALO; OLIVEIRA 2006, p.13) Fonte: PALO, Maria José; OLIVEIRA, Maria Rosa D. Literatura Infantil: Voz de Criança. 4 Ed. São Paulo: Ática, 2006. 12UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil 2. ASPECTOS HISTÓRICOS 2.1 O Discurso na Literatura Infanto juvenil da Idade Média e Moderna. A partir do momento em que a literatura deixou de sofrer influência religiosa, a concepção de leitura sofreu mudanças. Essas mudanças se deram na época moderna e teve como aporte o Romantismo que fazia reconhecer a burguesia como classe social dominante na época. Esse resgate tem repercutido até os dias atuais. A nova maneira de escrita que já influencia o público adulto, passou a favorecer o público infantil com a fina- lidade de modificar o comportamento da criança, apresentando em suas obras situações que vão reforçar valores sociais já existentes e que são apresentados a sociedade como modelo a serem compreendidos e seguidos. Desta forma, ao apresentar algum aspecto histórico no que se refere a literatura infanto-juvenil, bem como compreender as características que marcaram esse gênero, deve-se levar em conta que ela surge atrelada a um dado momento histórico, o que nos permite vincular a esse período o surgimento da literatura infantil. Fator esse importante, uma vez que no período que antecede tais fatos, a literatura tinha a função apenas de for- madora, a fim apenas de integrar a criança a sociedade. Contribuindo com os pensamentos aqui explicitados, Zilberman (1987), descreve que na sociedade antiga não existia infância, [...]nenhum espaço separado do mundo adulto. As crianças trabalhavam e viviam junto com os adultos, testemunhavam os processos naturais da exis- tência (nascimento, morte, doença), participavam junto deles da vida pública (política), nas festas, guerras, audiências, execuções, etc., tendo assim seu 13UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil lugar assegurado nas tradições culturais comuns: na narração de histórias, nos cantos, nos jogos (p.5). Da mesma forma, Lajolo e Zilberman, ainda pressupunham que por ter apenas ca- ráter formador da moral burguesa e por constituir uma atividade que era realizada somente dentro dos lares daquela época, a valorização da família serviu como principal incentivo da leitura como sendo apenas uma prática social, ou seja, “ser leitor, papel que, como pessoa física, exercemos, é função social, para a qual se canalizam ações individuais, esforços coletivos e necessidades econômicas” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1999, p.14). Este contexto histórico define qual o papel a criança deve assumir na sociedade, bem como o avanço da burguesia demonstrando assim, a função da literatura infantil na Idade Média. Lajolo e Zilberman (1999) ainda definem a família como centralizadora, que forta- lecem o Estado e que dá privilégios a criança a tendo como merecedora de uma atenção especial, que possui status próprio, o qual sobre elas recaem as preocupações com a religião, saúde e educação. Essa definição se origina da estrutura social rígida que existia na Idade Média e que era caracterizada pela divisão das classes sociais, onde o poder era centralizado nas propriedades, em que a linhagem hierárquica existente não dava voz a família nuclear. Somente alguns séculos após o período medieval é que a burguesia passa a ganhar força e a partir daí é que começam as transformações na sociedade moderna. Assim, de acordo com Zilberman (1987), A entidade designada como família moderna é um acontecimento do Século das Luzes. Os diferentes historiadores coincidem na afirmação de que foi ao redor de 1750 que se assistiu à complementação de um processo que principiou no final da Idade Média, com a decadência das linhagens e a des- valorização dos laços de parentesco, e culminou com a conformação de uma unidade familiar unicelular, amante da privacidade e voltada a preservação das ligações efetivas entre pais e filhos. (p.5). Diante do exposto acima pode-se perceber que essa nova configuração é a prin- cipal responsável pelas transformações que aconteceram entre a Idade Média e Moderna, em que, mudam-se não só as relações sociais mais também a subjetividade do indivíduo em detrimento de um modo de vida que antes não existia e o qual a partir dele emerge um novo sujeito. É a partir do século 18 que, com a ascensão da burguesia a situação da criança passa por mudanças, o qual a infância começa a ser valorizada. Há então a separação entre a vida pública e o setor privado, entre a família e o setor de negócios. A infância e a idade adulta passam a ser fases diferentes da vida, opondo-se casa e trabalho, preparando 14UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil a criança para os compromissos futuros. (ZILBERMAN, 1988). Dentro desse cenário fica então explícito a valorização e os cuidados que a criança passa a receber podendo assim ser mais bem orientada com o intuito de se tornar um adulto capaz de se adaptar a socie- dade daquele período histórico. Ainda neste contexto, observa-se que a educação ganha um novo sentido e que a pedagogia encontra um lugar de destaque em meio a configuração e transmissão que emerge da ideologia burguesa daquele período, promovendo a necessidade de uma forma- ção social, pessoal, profissional, cognitiva e ética. Os clássicos e os contos de fadas que provém dos folclores e que são frutos de duas fontes distintas e contrapostas de materiais literários, passam por uma renovação e adaptação, contribuindo desta forma para a forma- ção cultural. (ZILBERMAN, 1988). A pedagogia e a literatura infanto-juvenil estão vinculadas, no sentido de formar futuros cidadãos que sejam pensantes, atuantes e capazes de desempenhar de maneira adequada o seu papel social. Neste dado momento histórico o que é considerado relevante é o caráter formador que a literatura tem para oferecer. A literatura infanto juvenil ganha uma roupagem adaptada e acessível ao público jovem, com base em obras literárias já existen- tes, como os contos de fadas, ou clássicos da literatura adulta. Neste modelo é valorizado o potencial educativo que é proposto pelo material a fim de garantir pela escola burguesa uma formação de qualidade aos leitores. Daí a importância da escola nas transformações sociais, pois o êxito no processo de privatização da família - que tem sua afirmação na burguesia e que é menor na classe operária – acabou por gerar uma lacuna no tocante a socialização da criança, pois conforme relata Zilberman (1987), Se a configuração da família burguesa leva a valorização dos filhos e à diferenciação da infância enquanto faixa etária e estrato social, há conco- mitantemente, e por causa disto, um isolamento da criança, separando-a do mundo adulto e da realidade exterior. Nesta medida, a escola adquirirá nova significação, ao tornar-se o traço de união entre os meninos e o mundo, restabelecendo e unidade perdida. (p.9). Como é a escola que faz essa ligação entre a criança e o mundo, cabe a ela decidir e apresenta-lo de forma adequada, selecionando e filtrando os aspectos que consideram mais importantes ao indivíduo em formação, bem como informar a criança de que maneira ela deve se portar diante deste mundo e o que a sociedade espera dela. Os primeiros textos de literatura infanto juvenil surgiram dentro deste contexto, com base em adaptações folclóricas e de textos da literatura adulta, constituindo- se o gênero literário, porém como fruto de interesses pedagógicos para fins educativos, culminado queas primeiras obras literárias para o público infanto-juvenil chamaram mais a atenção dos 15UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil pedagogos do que dos estudiosos de literatura. Somente posteriormente é que os textos destinados a criança passaram a ser estudado por estudiosos da literatura, dando uma atenção especial a esse primeiro material que foi produzido a fim de estudá-lo. REFLITA Leitura e Oralidade: As obras de Literatura infanto juvenil buscam o resgatar a oralidade na escritura, indo desta forma ao encontro da narração. A fala é natural ao ser humano e já existia antes mesmo da descoberta da escrita. Expressões faciais e corporais, além dos gestos eram importantes recursos da comunicação oral e permitiam a troca de informações e senti- mentos entre os interlocutores de maneira mais direta. Palo e Oliveira (2001) relatam que “[...] o discurso oral cria uma cena múltipla (verbal e não verbal) e inclusiva, na qual, o que menos conta é o que se diz, já que tudo está no modo como se diz e, mais ainda, na tensão dialética entre o dito e o calado; entre aquilo que a fala articula e a gestualida- de desarticula e ega. Sua vida faz-se na fugacidade do presente, instante em que tudo está não estando. Discurso precário, um quase discurso, sempre em disponibilidade para incorporar um novo dado em risco com o acaso.” (p.44) Neste sentido, oralidade é, um aspecto característico e fundamental do texto literário infanto juvenil. 2.2 A Literatura Infanto juvenil na Contemporaneidade e o seu retrato na Educação Brasileira. A literatura Infanto juvenil, na contemporaneidade ainda é considerada como objeto de análise por teóricos e críticos literários, mesmo sendo reconhecida pelo alto potencial pedagógico que possui. Fato esse que é demonstrado pela inclusão do estudo da literatura infanto juvenil nas últimas décadas em disciplinas dos cursos de Letras no Brasil. A sua valorização se dá devido a sua função representativa que é própria da arte ficcional, proporcionando uma visão da realidade. Eram obras originalmente criada para uso das crianças, porém passou a receber status científico a partir do momento em que foi possível perceber que além dos adultos produzirem as obras, eles também as manipula- vam com o objetivo de dominar a infância. Entretanto é preciso que haja não somente uma 16UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil integração, mais uma reflexão sobre a organização da disciplina e dos cursos ligados a ela. Ela deve servir como um instrumento que visa enfrentar as dificuldades que dificultam o trabalho realizado com as crianças. (ZILBERMAN, 1998). A instrumentalização do professor para trabalhar com a literatura infanto juvenil na escola, conforme a autora diz, se torna importante. Não obstante a isso, primeiro fez-se necessário que os textos destinados às crianças fossem reconhecidos como arte literária, passassem por uma nova apreciação analítica, para que, enquanto um material cultural destinado a criança, pudesse se melhor avaliado, já que diversas vezes esses materiais eram prejudicados em sua forma artística em detrimento das intenções de domínio e dou- trinação da infância. Ao retratar os princípios da educação no Brasil, Mauad (1999) observa que junta- mente com a literatura de caráter universal, prevalecia uma literatura moralista, advinda do século XIX. Tal literatura tinha como objetivo a formação do caráter, da moral, e serviam como modelos a serem seguidos por crianças e jovens. Publicações em que os títulos já indicavam quando o conteúdo era destinado a meninos, onde algumas delas traziam relatos sobre condutas e códigos morais e, para as meninas, onde algumas obras, eram de- dicadas as mães de família, com histórias morais cujo objetivo era ensinar princípios, usos e costumes. Entretanto foi somente na virada da modernidade para a pós-modernidade que a literatura brasileira se desenvolveu, e a partir daí “passou a refletir de maneira estética esse sistema social complexo vivendo entre o pré-capitalismo de algumas regiões [...] e as grandes cidades”. (RICHE 1999, p.130). Vislumbra-se então dois cenários distintos, em que de um lado estão crianças com pouco ou nenhum acesso a livros infantis e obras literárias, enquanto do outro lado o acesso é de sobremaneira facilitado aos livros e obras literárias, bem como a outros bens de consumo. Apesar desta discrepância existente no Brasil, a intenção aqui é enfatizar que atualmente o livro infantil busca retratar a realidade, os problemas sociais, políticos e econômicos do País, porém sem fugir as suas especificidades como o uso do lúdico, o des- pertar e transmitir sentimentos, emoções, curiosidades e produzir novas experiências ao leitor. Em contrapartida, tem como função levar o pequeno leitor a compreender a realidade que o cerca de maneira intensa. A leitura de uma obra literária permite a reflexão e o questionamento, podendo des- sa forma facilitar ao homem a compreensão dos ensinamentos impostos pela sociedade, mas para que isso aconteça é preciso que se concentre na infância essa formação. Diante disso entende-se que esse movimento que circunda literatura contemporânea, a transforma 17UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil em suporte para as experiências do mundo real a partir do momento que oferecer um formato de texto que esteja aberto as múltiplas leituras, ou seja, ao despertar na criança, dúvidas referentes ao mundo, as histórias contemporâneas dão oportunidade a crianças de elaborar questionamentos que a levarão a refletir. Ações e atitudes essas, que provém da leitura. Os contos clássicos, por sua vez, têm como função instigar a sensibilidade artística da criança equilibrando fantasia e realidade. Apesar de saber que o que está lendo não é verdade, ela entra no mundo imaginário fingido acreditar no que lê. Esses contos não impedem que a criança desenvolva o raciocínio lógico, pois não atenuam a sua inteligência e viajar no mundo da imaginação é sobremaneira importante e necessária para o desen- volvimento infantil. A leitura do texto literário “pode se constituir num fator de liberdade e transformação dos homens”. (SILVA 1986, p. 21). Resultado disso é que a leitura literária, seja ela de um texto que retrata a realidade ou um texto divertido, ao permitir a criança refletir e pensar de forma crítica, está cumprindo o seu papel social. A função social no que se refere a uma coletividade contemporânea só se cumpre, quando os códigos culturais que fazem parte do conhecimento acadêmico são compreen- didos, uma vez que constituem uma forma de sobrevivência e poder. A transmissão do conhecimento literário permanece e acontece por meio da leitura, seja ela propagada e armazenada por meio do livro físico ou eletrônico. 18UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil 3. ESPECIFICIDADES 3.1 A diferença entre leitura literária e demais gêneros textuais A leitura literária por possuir características e especificidades próprias se difere dos demais textos que que circulam na sociedade, uma vez que, a comunicação diferenciada que existe entre o leitor e o texto são fatores importantes ao considerar um objeto como sendo literário, bem como os efeitos que o texto produz ao leitor e a subjetividade que esse objeto empresta na concretização da leitura são características marcantes e específicas da leitura literária. Essas especificidades tornam possível ao leitor expandir suas fronteiras do co- nhecido que são absorvidas por meio da imaginação, porém sem esquecer suas próprias dimensões, tais fronteiras são decifradas por meio do intelecto. A leitura literária ainda constitui uma atividade sintetizadora à medida que permite ao leitor penetrar no âmbito da alteridade sem que este perca de vista a sua subjetividade e história. Por este motivo torna-se uma atividade completa e que dificilmente poderá ser substituída por outra. (ZIL- BERMAN, 1990). Ela tambémpermite uma interação entre leitor e texto, que resulta da atividade intelectual e fantasiosa, permitindo ao indivíduo experimentar o outro sem se perder de vista. Quando isso ocorre, há uma ampliação de horizontes e expectativas que que se dá a partir do momento em que o texto oferece ao leitor uma nova visão da realidade ou 19UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil lhe causa algum impacto. Desta forma, pressupõe-se a leitura literária como sendo uma atividade ampla que proporciona novos saberes. Ao se referir a literatura, Machado (2001), nos mostra dois caminhos que se encon- tram intimamente ligados no texto literário, Ler literatura, livros que levem a um esforço de decifração, além de ser um prazer, é um exercício de pensar, analisar, criticar. Um ato de resistência cul- tural. Perguntar “para onde queremos ir?” “e como?” pressupõe uma recusa de estereótipo e uma aposta na invenção. Pelo menos, uma certa curiosidade de uma opinião que não é exatamente a nossa - e o benefício da dúvida, sem a convicção do monopólio da verdade. Só a cultura criadora, com sua exube- rância, pode alimentar permanentemente essa verdade pujante e nova. (p.88). É possível perceber no texto da autora que ela apresenta a leitura literária como uma forma de resistência cultural, além disso ela ainda enfatiza não só o saber mais também o prazer. Demonstrando assim o caráter individual e social da literatura. A capacidade de refletir e criticar desenvolvida por meio da leitura é o que torna o indivíduo um ser ativo na transformação social, além disso a leitura o prepara para interpretar a sua realidade social de maneira mais aprofundada e em contrapartida pode prepará-lo para ser atuante e consciente no seu dia a dia. Em estudos realizados sobre a literatura juvenil, é aceitável que a “literatura tem a capacidade de dar [aos adolescentes] um lugar no mundo, algo tangível em que eles podem se apegar enquanto passam pelas suas próprias versões dos processos de transição presentes em cada [livro].” (BICKMORE; YOUNGBLOOD, 2014, p.262, tradução livre). O adolescente por sua vez, como um sujeito que está em fase de transição deve ter sua passagem entre a infância e vida adulta concebida de maneira satisfatória. A literatura neste contexto tem como função auxiliar o adolescente no enfrentamento dos conflitos decorrentes desta fase, mostrando a ele que não é o único a enfrentar tais dificuldades e que é possível superá-las. Para o adolescente o interesse pelo conteúdo é um diferencial na escolha de um livro, seja ele em seu aspecto educacional ou apenas por diversão, o que pressupõe que a necessidade de que os temas literários abordados sejam diversificados. Diante disso, as temáticas propostas para essa faixa etária precisam apresentar um equilíbrio, não ser muito sério, de difícil interpretação, nem muito simples, ou irrelevante. Esses aspectos devem ser considerados principalmente se a leitura estiver relacionada às experiências do adolescente leitor. Mas como acontece a resolução dos conflitos existentes, uma vez que a literatura pressupõe como objetivo a promoção do aprendizado? O que se percebe nessas narrativas é que conflitos são encerrados definitivamente onde os finais são mais tradicionais. Todavia aquele modelo de conclusão em que se vê somente a tomada de decisão e um encorajamento a mudança não é possível saber se 20UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil os conflitos foram realmente encerrados. Nos dois modelos, entretanto, o conceito de final feliz é subjetivo e pode haver finais tristes, mas ainda assim se faz válido o otimismo na literatura infanto juvenil e que de fato buscam a reconciliar indivíduo e sociedade, mesmo que está possa se mostrar contrária ao indivíduo. Isso demonstra um sutil conservadorismo que ainda existe mais que pode passar despercebido. E o que de fato dizer sobre as características da literatura infanto juvenil? Hunt (2010) afirma que a literatura infantil e juvenil “se define exclusivamente em termos de um público que não pode ser definido” (p.27). Neste sentido entende-se é que a literatura infanto-juvenil é, heterogênea, e que conforme a idade do leitor vai aumentando, sua com- preensão em relação aos textos literários e ao mundo vão se ampliando e assim também o nível de complexidade e exigências de leitura. (COLOMER, 2003). Uma das características deste gênero textual e que indicam a sua heterogeneidade é a idade do leitor e do protagonista da história, devendo ser parecidas, além disso o estilo da linguagem e o vocabulário utilizado também são determinadas pelo leitor, tendo em vista as diferentes necessidades de acordo com a idade, dificultando assim a sua classificação. Outro fator que dificulta falar sobre suas especificidades é a interação com outras mídias e formatos, pois tanto a literatura infantil quanto a juvenil são um campos que compreendem quase todos os gêneros literários, e por compartilhar com o público infantil conforme descri- to por Hunt (2010) “gêneros específicos: a narrativa para escola, textos dirigidos a cada um dos sexos entre outros[...]”, (p.44). Apesar da interação com outros gêneros esses textos estão divididos entre fantasia e ficção. A literatura infanto juvenil contribui com a formação social, a compreensão de mundo, mostrando para o leitor a realidade ao seu redor e como estas funcionam, além de possui caráter educativo, podendo ser utilizada na escola com o objetivo de trabalhar habilidades nas crianças e não só uma forma de diversão e lazer, como acontece com a literatura adulta. Enfim, a literatura infanto juvenil está em constante evolução, sempre se transformando e se reinventando, dado que “uma característica central da literatura da juventude seria ter como finalidade descrever e identificar o que é juventude” (CHAMBERS, 2010, p.273) e a literatura precisa acompanhar os processos de mudança que envolvem a criança e o adolescente. Diante dos nossos estudos, este tópico teve como intuito apresentar de maneira simples um panorama básico sobre as especificidades e características da literatura infanto juvenil a fim de contribuir um pouco com o conhecimento acerca do assunto. 21UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade tivemos a oportunidade de conhecer o conceito da literatura infanto juvenil. Foi possível perceber que a obra de arte literária vai além de uma simples leitu- ra, pois possui especificidades e características que outros textos não possuem. Nos foi permitido verificar que cada época produziu e compreendeu a literatura do seu jeito. E conhecer esse jeito, é conhecer a singularidade de cada momento histórico da caminhada humana. Também entendemos que a Literatura está em constante modificação, e que ao longo do tempo desenhou-se uma linha que explica esse vai e vem o que demonstra a sua capacidade de se renovar ao longo do tempo. Nossos estudos nos mostrou que a intenção do livro infantil é retratar a realidade, os problemas sociais, políticos e econômicos do País, sem fugir as suas especificidades como o uso do lúdico, o despertar e transmitir sentimentos, emoções e que em contra- partida a literatura juvenil é aquela obra destinada ao público com faixa etária entre dez e quinze anos de idade e que costumam incluir temas e fatores que podem despertar o interesse do jovem adolescente, como temas controversos e romances. Diante de algumas características destas obras literárias foi possível perceber que a produção literária precisa atender há alguns critérios e especificidades, uma vez que eles é que vão distinguir um texto literário de um texto não literário. No tópico dois da unidade ficou claro que ao apresentar algum aspecto histórico no que se refere a literatura infanto-juvenil, bem como compreender as características que marcaram esse gênero, deve-se levar em conta queela surge atrelada a um dado momento histórico, o que nos permite vincular a esse período ao surgimento da literatura infantil. E por ter apenas caráter formador da moral burguesa e realizada somente dentro dos lares daquela época, a valorização da família serviu como principal incentivo da leitura como sendo apenas uma prática social. Porém verificou-se que a partir do século 18 que, com a ascensão da burguesia a situação da criança passa por mudanças, o qual a infância começa a ser valorizada. Há então a separação entre a vida pública e o setor privado, entre a família e o setor de negócios. A infância e a idade adulta passam a ser fases diferentes da vida, opondo-se casa e trabalho, preparando a criança para os compromissos futuros. 22UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil Ainda neste contexto, observa-se que a educação ganha um novo sentido e que a pedagogia encontra um lugar de destaque em meio a configuração e transmissão que emerge da ideologia burguesa daquele período, promovendo a necessidade de uma forma- ção social, pessoal, profissional, cognitiva e ética. Por fim, no tópico três, abordamos as especificidades da literatura infanto juvenil, e verificamos que elas tornam possível ao leitor expandir suas fronteiras do conhecido que são absorvidas por meio da imaginação, porém sem esquecer suas próprias dimensões, tais fronteiras são decifradas por meio do intelecto e que neste contexto tem como função auxiliar o adolescente no enfrentamento dos conflitos decorrentes desta fase, mostrando a ele que não é o único a enfrentar tais dificuldades e que é possível superá-las. Respondendo a nossa indagação na introdução da unidade a literatura infanto ju- venil contribui com a formação social, a compreensão de mundo, mostrando para o leitor a realidade ao seu redor e como estas funcionam, além de possui caráter educativo, podendo ser utilizada na escola com o objetivo de trabalhar habilidades nas crianças e não só uma forma de diversão e lazer, como acontece com a literatura adulta. Bons estudos e até a próxima unidade! 23UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil LEITURA COMPLEMENTAR A ORIGEM HISTÓRICA DA LITERATURA INFANTIL Você sabia que literatura infantil surgiu no século XVII com Fenélon (1651-1715), justamente com a função de educar moralmente as crianças. O texto abaixo retirado de um artigo publicado na revista UNIVEM, retrata um pouco dessa história, o que vem comple- mentar os nossos estudos no que se refere a literatura infanto-juvenil em seus aspectos históricos no que se refere ao uso da literatura infantil como foco na moral e na formação adulta do indivíduo. De acordo com a autora do artigo, as histórias tinham uma estrutura maniqueísta, a fim de demarcar claramente o bem a ser aprendido e o mal a ser desprezado. A maioria dos contos de fadas, fábulas e mesmo muitos textos contemporâneos incluem-se nessa tradição. Naquele momento, a literatura infantil constitui-se como gênero em meio a trans- formações sociais e repercussões no meio artístico. Em 1697, Charles (1628- 1703) Perrault traz a público Histórias ou contos do tempo passado, com suas moralidades: Contos de Mão Gansa. Ganham, então, forma editorial as seguintes histórias: A Bela Adormecida no bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Gato de Botas, As Fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar. Os contos de fada conhecidos atualmente surgiram na França, ao final do século XVII, com Perrault, que editou as narrativas folclóricas contadas pelos camponeses, retirando passagens obscenas de conteúdo incestuoso e canibalismo. Assim, acredita-se que, antes do cunho pedagógico, houve o objetivo de leitura e contem- plação pela mente adulta. Acredita-se também que a mitologia grega já possuía um modo particular de transmitir o contexto da história de “Chapeuzinho Vermelho”. Posteriormente, Charles Perrault trouxe a história moralizadora e mais adequada aos ambientes sociais que conviviam na época. A história da menina e do lobo sofreu ainda alterações por Hans Christian Andersen e pelos Irmãos Grimm. Segundo Cunha (1987), “no Brasil, como não poderia deixar de ser, a literatura infantil tem início com obras pedagógicas e, sobretudo, adaptadas de produções portuguesas, demonstrando a dependência típica das colônias” (p. 20). Pode-se dizer que a literatura infantil brasileira teve início com Monteiro Lobato, com uma literatura centralizada em algumas personagens em especial. Para ler o artigo na integra acesse o link da revista. Fonte: SILVA, Aline Luiza da. A trajetória da Literatura Infantil: Da Origem Histórica e do Conceito Mercadoló- gico ao Caráter Pedagógico da Atualidade. REGRAD – Revista Eletrônica de Graduação – UNIVEM. v. 2 - n. 2 - jul/dez – 2009. Disponível em: <http://revista.univem.edu.br/index.php/REGRAD/article/viewFile/234/239> 24UNIDADE I A Literatura Infanto-Juvenil MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • A sociedade literária e a torta de casca de batata • Mary Ann Shaffer, Annie Barrows • Editora Rocco, 2009. • A sociedade literária e a torta de casca de batata conta a história de Juliet Ashton, uma escritora em busca de um tema para seu próximo livro. Ela acaba encontrando-o na carta de um desconhe- cido de Guernsey, Dawsey Adams, que entra em contato com a jornalista para fazer uma consulta bibliográfica. Começa aí uma intensa troca de cartas a partir da qual é possível identificar o gosto literário de cada um e o impacto transformador que a guerra teve na vida de todos. As correspondências despertam o interesse de Juliet sobre a distante localidade e narram o envolvimento dos moradores no clube de leituras – a Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata –, além de servirem de ponto de partida para o próximo livro da escritora britânica. O clube, criado antes de existir de fato, foi formado de improviso, como um álibi para proteger seus membros dos alemães. O que nenhum dos integrantes da Sociedade imaginava era que os encontros pudessem aproximar os vizinhos, trazer consolo e esperança e, principalmente, auxiliar a manter, na medida do possível, a mente sã. As reflexões e as discussões a respeito das obras os livraram dos pensamentos sobre as dificuldades que enfrentavam e ainda serviram para apro- ximar pessoas de classes e interesses tão díspares, de pescador a frenólogo, de dona de casa a enfermeira. Instigada pela força dos depoimentos, a jornalista decide visitar Guernsey, onde a con- vivência com as pessoas que conheceu por cartas e a descoberta sobre as experiências dos ilhéus lhe dão uma nova perspectiva. A viagem proporciona à escritora mais do que material para seu livro. Guernsey oferece a chance de recomeçar após a Guerra, fazer amizades sinceras e encontrar o amor – em suas diversas formas. O que ela encontra por lá, e as relações que trava, mudam sua vida para sempre. Em 2018 o livro ganha versão para cinema estrelada por Lily James, Michiel Huisman e Mathew Goode. FILME/VÍDEO • A Livraria. • 2017. • A viúva Florence Green, interpretada pela atriz Emily Mortimer, chega a um pequeno vilarejo no litoral da Inglaterra, na década de 1950, com objetivo de abrir uma livraria. Mas, ela não contava que seu sonho fosse afrontar pessoas poderosas do lugar, e ainda, o preconceito de uma população inteira em relação ao hábito da leitura. O filme tem uma linda fotografia e os diálogos quase soam desnecessários diante dos sentimentos que parecem correr ape- nas pelos olhos dos atores. No elenco, também estão Bill Nighy e Patricia Clarkson. 25 Plano de Estudo: • Relação entre cultura e literatura • A formação do leitor • Leitura e conceito de letramento Objetivos de Aprendizagem: • Compreender a relação entre a cultura e a literatura, como forma conhecimento, mais também como uma função social na formação do indivíduo; • Entender algumas questões relacionadas ao uso da literatura infantil na escola, como aspectos fundamentais na formação do leitor; • Relembraros conceitos de letramento, e entendê-lo como caminho para uma adequada escolarização e formação de leitores em idade escolar. UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil Professora Especialista Paula Regina Dias de Oliveira 26UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil INTRODUÇÃO Caro leitor, A arte está presente a séculos na vida do homem, seja qual for sua forma de apre- sentação. Por meio dos livros, das músicas, enfim, ela é vista como um fazer, como um conjunto de atos e situações que transformam. Ela é um produto oferecido pelo homem, porém influenciado pela cultura. Essa arte também pode ser expressa por meio de textos escritos, o que denominamos de literatura. A literatura é responsável por transformar a experiências dos discursos em obras literárias. Mais qual a relação que se estabelece entre a cultura e a literatura? E como essa relação pode contribuir para a formação do leitor e na sua formação social? Nos tópicos a seguir discutiremos um pouco sobre esses questionamentos, bus- cando compreender essa relação, em seguida conheceremos alguns dos aspectos que compreendem a cultura, bem como a importância da cultura na escola e da literatura de cordel como forma de ensino-aprendizagem da língua materna. Estudaremos algumas questões que estão relacionadas ao uso da literatura infantil na escola, como a contação de histórias e a iniciação a leitura, que são alguns dos aspectos fundamentais na formação do leitor. E para finalizarmos nossos estudos, discutiremos sobre o letramento literário e qual o seu objetivo na formação de futuros leitores, também relembraremos alguns conceitos de letramento literário e traremos algumas sugestões metodológicas sobre como trabalhar este assunto em sala de aula para uma escolarização correta do texto literário. Esperamos que este estudo o ajude a ampliar seus conhecimentos sobre a im- portância da literatura em sala de aula, além do papel que a escola deve exercer nesse processo de ensino-aprendizagem para que a prática da leitura, ao mesmo instigante e prazerosa para o aluno. Então, vamos começar? 27UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil 1 RELAÇÃO ENTRE CULTURA E LITERATURA Na unidade I deste material verificamos que a literatura é uma forma de comunica- ção em que se trabalham emoções, sensações, sentimentos, desenvolvem-se afinidades entre leitor e personagens, bem como a representação da realidade ou ficção, que são criados pelo autor por meio do texto. A literatura, é um sistema semântico, onde a conota- ção se destaca e está intimamente relacionada às diferenças sociais. (PROENÇA FILHO, 2009). Diante da afirmação de Proença, deve-se trazer a mente que a literatura está ligada a uma cultura, um povo e a sociedade. Assim sendo, ela se torna um produto cultural, onde o escritor busca os elementos que precisa para compor e organizar suas representações. Pode-se dizer que: Língua, cultura e literatura, estão intrinsecamente ligados, isso acontece, pois, a literatura por se tratar de uma produção cultural, acompanha o desen- volvimento social e cultural, se utiliza da língua para formar-se, e esta mesma língua é responsável por passar os conhecimentos da sociedade para o ser humano. A linguagem é literária é conotativa, pois se amplia em função do universo dos falantes, além de se prender às diferenças sociais e, também ao desenvolvimento da cultura (LIPPE, 2016, p. 71). Assim, ao falarmos de literatura, é importante considerar que ela é fruto da existên- cia de uma cultura, se não houver cultura, não há literatura, uma vez que a cultura depende das pessoas que se organizam dentro de uma determinada sociedade. Baseados nesta concepção, pode-se dizer que o leitor é influenciado pelo autor da obra, e dessa maneira vai construindo seu ambiente social. 28UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil 1.1 Aspectos que compreendem a cultura A cultura pode ser compreendida por meio de três aspectos a seguir: 1. A cultura visa orientar o senso emocional do leitor, sendo considerada um tronco que abarca normas, linguagens, mitos e símbolos. 2. Na concepção católica a cultura deve servir como um espelho para o homem onde as qualidades do corpo e da alma são aprimoradas por meio do conheci- mento, visando manter conservadas as experiências de espírito. 3. Já para a antropologia a cultura busca as soluções para os problemas da hu- manidade por meio da integração entre o pensar e sentir de uma determinada comunidade. Os aspectos acima deixam visível que a cultura está intrinsecamente relacionada ao homem e sociedade, considerando ainda, o que já foi e o que ainda está sendo feito todos os dias. Dessa forma pressupõe que a literatura acompanha as transformações que ocorrem na cultura de uma sociedade e as reflete nas obras literárias. Aqueles conhecimentos que são adquiridos desde a infância em forma de lingua- gem, são produtos da sociedade o qual estamos inseridos e fazemos parte. Deste modo, em termos sociais, a caracterização da cultura permite que ela seja setorizada, podendo ser tratada como literatura europeia, ocidental, romana, e consequentemente literatura brasileira. (PROENÇA FILHO, 2009). Pode-se dizer então que a língua está inclusa na relação existente entre cultura e literatura, e que a linguagem literária é conotativa, sugerindo significados diferentes do original. Ainda é correto dizer que a literatura representa o nível de cultura existente em uma determinada sociedade. Lembrando que, uma obra ficcional não indica necessaria- mente a realidade social e que a literatura, por sua vez apresenta questionamentos a serem respondidos por uma sociedade, ou seja, ela surge da sociedade e depois volta para ela. (LIPPE, 2016). 29UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil 1.2 A Cultura popular A leitura é um ato social, é uma atividade peculiar ao sujeito contemporâneo e que está presente em seu cotidiano. Neste contexto é sabido que a literatura popular consiste em produções de uma sociedade, onde se mantém viva a memória dessas produções que constituem de uma tradição. Com o passar do tempo novos elementos foram acrescenta- dos, principalmente no campo das práticas modernas e da oralidade, estas responsáveis pelo aumento do contingente tradicional. (BARROS, 2002). Como mencionando anteriormente em nossos estudos, são essas tradições que nos tornam legítimos enquanto nação e sociedade. Fato este que faz com que se acredite que a literatura popular, tanto oral quanto escrita se tornam vivas nos dias atuais em diver- sas festas e comemorações. (CANCLINI, 2000). Embora a tecnologia e do uso em massa de outros canais de comunicação, as transformações ocorridas no decorrer dos tempos modernos não conseguiram extinguir com as culturas populares tradicionais. Na contramão da modernidade, essas culturas se desenvolveram nas últimas décadas transformando-se. Há uma interação com as tradições tecendo ligações com outros setores fazendo com que a literatura não permaneça estável, mas que ela se transforme juntamente com a sociedade. (BARROS, 2002). Ao se falar em cultura popular no Brasil é preciso considerar ainda a existência de dois sistemas de conhecimento que atuam de maneira mais ou menos dialógica e mesmo que em graus diferentes, um influencia o outro e implica hábitos mentais, e padrões sociais, éticos e estéticos. (AZEVEDO, 2008). O quadro a seguir descreve as principais características desses dois sistemas de conhecimento: 30UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil Quadro 1: Principais características dos sistemas de conhecimento SISTEMAS DE CULTURA OFI- CIAL OU MODERNA -Representado pelo poder público, elites culturais e eco- nômicas; - Padrões, conteúdos e valores organizados de forma sis- temática, formatada e esquematizada; - Paradigmas transmitidos por escolas e universidades; - Totalmente dependente da escrita; - Utiliza livros, metodologias, teorias, jornais, revistas, pu- blicidade, etc;- É homogêneo, com informações fixadas em textos es- critos. SISTEMA DE CONHECIMENTO DE CULTURA POPULAR - É paralelo à cultura oficial; - Possui um conjunto imenso de manifestações; - Se desenvolve de forma caótica, espontânea e não pro- gramada; - Se constrói no dia a dia da vida cotidiana; - É diversificada, heterogênea e heterodoxa; - Possui variadas facetas e graduações nas diferentes re- giões do país. - Não é a mesma cultura da escola, do saber sistemático, erudito, científico, técnico e impessoal; - Como conhecimento, costuma ser desprezada pelo mo- delo oficial. Fonte: AZEVEDO, Ricardo. Cultura popular, literatura e padrões culturais. 2008. Disponível em: <<http:// www.ricardoazevedo.com.br/>>. Acesso em: 30 jun. 2020. Mesmo que muitas vezes desprezadas pelo modelo de cultura oficial, a cultura popular é conhecida em seu discurso pelo vínculo que possui com a oralidade, sendo marcada pela transmissão feita de maneira informal e espontânea através do boca a boca, essa cultura ainda é chamada de cultura é a chamada empírica, uma vez que o Brasil é um país muito abrangente, marcada pela diversidade cultural, com costumes e crenças diferentes. Diferente do texto escrito - cultura oficial - que por estar fixado, o seu discurso escrito pode atravessar o tempo. Além disso, o discurso do texto deve ser mais complexo, seguir uma ordem, ser esclarecedor e, também prever alguns questionamentos do possível leitor. Em síntese, po- de-se dizer que tanto o discurso escrito quanto o discurso oral possuem objetivos diferentes, exigem diferentes estratégias de pensamento, bem como seguem a modelos construtivos diferentes. (AZEVEDO, 2008). 31UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil SAIBA MAIS Cultura é um termo com muitíssimos significados. A seguir três dos mais importantes: Cultura no pensamento da sociologia: “Uma cultura constitui um corpo complexo de normas, símbolos, mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estrutu- ram os instintos, orientam as emoções”. (MORIN, apud PROENÇA FILHO, 2009, p. 37). Cultura no pensamento católico: “pela palavra ‘cultura’ em sentido geral, indicam-se todas as coisas com as quais o homem aperfeiçoa e desenvolve as variadas qualidades da alma e do corpo; procura submeter a seu poder pelo conhecimento e pelo trabalho, o próprio orbe terrestre, torna a vida social mais humana, tanto na família quanto na co- munidade civil, pelo progresso dos costumes e da instituição; enfim, exprime, comunica e conserva, em suas obras, no decurso do tempo, as grandes experiências espirituais e as aspirações, para que sirvam ao proveito de muitos e ainda, de todo o gênero huma- no”. (PROENÇA FILHO, 2009, p. 37). Cultura no pensamento antropológico: “o conjunto e a integração dos modos de pen- sar, sentir e fazer adotados por uma comunidade, na busca de soluções para os proble- mas da vida humana associativa”. (PROENÇA FILHO, 2009, p. 37). Fonte: PROENÇA FILHO, D. A linguagem literária. 8 ed. rev. São Paulo: Ática, 2009. (Série Princípios). 1.3 A cultura na escola e literatura de cordel como forma de ensino-aprendizagem da língua materna A escola é um lugar onde se pode vislumbrar a diversidade cultural, todavia, apesar de estar tão presente neste ambiente, muitas vezes ela não tem sido tão valorizada e trabalhada como deveria. Os livros literários estimulam a imaginação, a fantasia, que são fundamentais para o desenvolvimento, por esse motivo, eles precisam ser explorados de maneira que o aluno se sinta envolvido pela leitura. Colaborando com nossos estudos Cosson (2006, p. 16), diz que: 32UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil Na escola, a leitura literária tem a função de nos ajudar a ler melhor, não apenas porque possibilita a criação do hábito da leitura ou porque nos forne- ce, como nenhum outro tipo de leitura faz, os instrumentos necessários para conhecer e articular com proficiência o mundo feito linguagem. Neste sentido fica claro que a linguagem está presente em todos os lugares, e oportuniza contatos, interação, aprendizagem, conhecimento, e por meio dela os indivíduos se tornam humanizados. A poesia contida na literatura desenvolve no aluno a sensibilidade e o caráter humanizador, daí a sua importância na escola. Considerando a função cultural social que a arte e a obra literária exercem na vida do indivíduo, é necessário escolher um gênero literário que revele essa diversidade cultural existente no Brasil, com intuito de respeitar tais diferenças. (AUGUSTI; SILVA, 2016) No Brasil, a literatura ou poesia de cordel como é chamada, é uma manifestação cultural muito importante por suas características. Composta por poemas escritos, em formato de músicas ou mesmo vídeos que enfatizam a cultura/literatura nordestina, são ca- pazes de despertar nos alunos o interesse pela leitura literária e o respeito pela diversidade. Esse gênero carrega consigo expressões e histórias que estão relacionadas com a cultura popular e por suas peculiaridades literárias, em relação a outros gêneros não literários. (AUGUSTI; SILVA, 2016). Diante disso fica evidente a importância do uso da literatura de cordel no ambiente escolar, mais para isso é preciso repensar o processo de ensino-aprendizagem e as meto- dologias utilizadas, tanto no que se refere a sua história quanto ao seu modelo ideológico, sem que haja paradigmas em relação ao caráter literário. A finalidade da literatura de cordel deve ser a de levar o aluno a compreender e reconhecer a função social do cordel enquanto linguagem literária na formação do leitor. Sendo assim, compreende-se que: [...] crescemos como leitores quando somos desafiados por leituras progres- sivamente mais complexas. Portanto, é papel do professor partir daquilo que o aluno já conhece para aquilo que ele desconhece, a fim de proporcionar o crescimento do leitor por meio da ampliação de seus horizontes de leitura. (COSSON, 2006, p. 35) Tal desafio é pertinente, uma vez que possibilita por meio da diversidade de textos literários, uma ação didática que é sobremaneira necessária para a formação do leitor amadurecido. De acordo com Bordini; Aguiar (1993, p. 86), uso da literatura de cordel como méto- do de ensino em que se reconhece a função social do gênero, enfatiza a comparação entre o familiar e o novo, entre o próximo e o distante no tempo e no espaço por meio de cinco etapas a seguir: 33UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil A Primeira Etapa refere-se à Determinação do Horizonte de Expectativas- momento de verificação dos interesses dos alunos, a fim de prever estratégias de ruptura e transformação dos discentes. A Segunda Etapa destaca o Aten- dimento do Horizonte de Expectativas -momento de proporcionar aos alunos experiências com textos literários que satisfaçam suas necessidades quanto ao objeto escolhido e às estratégias de ensino. A Terceira Etapa apresenta a Ruptura do Horizonte de Expectativas momento de trabalhar com textos e atividades de leitura que abalem as certezas e costumes dos alunos. A Quarta Etapa está relacionada ao Questionamento do Horizonte de Expectativas- fase em que serão comparados os dois momentos anteriores relacionando texto com vivência pessoal. A Quinta e última Etapa refere-se à Ampliação do Horizonte de Expectativas- etapa em que os alunos tomarão consciência das alterações e aquisições através da experiência com a literatura. Neste contexto o professor deve ser o mediador do processo de ensino-apren- dizagem, em que seu papel é o de estar atento às dificuldades do aluno. O professor de intervir apresentando ao aluno o autor do texto, trazer para o ambiente de aprendizagem o contexto histórico que envolve o texto apresentado, comentar sobre o local em que a his- tória acontece, a época, qual o objetivo do texto, enfim, juntos, professor e alunos deverão explorar juntos os textos, analisar as informações nele contidas, utilizar das pistas que ele oferecea fim de descobrir as informações que estão implícitas por meio da interpretação e assim dar significado ao texto. (AUGUSTI; SILVA, 2016) Essas ações farão com que o aluno desenvolva a autonomia e o gosto pela leitura, porém é preciso levar em conta que este é um trabalho progressivo e gradual que deve acontecer de maneira frequente nas aulas, mais que deve ser realizado de forma que não sufoque a viva interação do aluno com a obra literária, o que pode prejudicar a formação do futuro leitor literário. Ainda é válido ressaltar que o professor é referência para os alunos, portanto a leitura deve ser uma prática em sua vida. Quando o professor ama a leitura literária e faz dela uma prática, ao ler para os alunos ele mergulha no contexto da história, e consegue transmitir ao aluno seu entusiasmo, podendo até contagiá-los. (AUGUSTI; SILVA, 2016) Como já estudado na unidade I deste material, o acesso aos livros na Idade Mé- dia era algo que pertencia a classe alta, e o acesso à escola era privilégio dos senhores detentores de posse. Entretanto nos dias atuais ainda é possível perceber fragmentos da desigualdade social daquela época. Desta maneira, os livros devem estar presentes nas aulas, em locais onde os alunos possam manuseá-los livremente, os livros devem ser di- versificados, pois muitas vezes o aluno só tem acesso a eles na escola. Para finalizar nossos estudos acerca do uso da literatura de cordel no ambiente escolar, não podemos deixar de enfatizar a importância de o professor intermediar o conta- 34UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil to do aluno com o texto escrito, porém sem desmerecer seu potencial, pois a leitura é um processo de constante aquisição. Sob esta perspectiva, o aluno quando vem para a escola já traz consigo uma bagagem de conhecimento denominado conhecimento empírico, é na neste espaço que ele ampliará seus conhecimentos e os transformará em conhecimentos científicos e estes precisam ser significativos para ele. O aluno precisa entender que a escola vai ensinar o que ele precisa saber para se tornar um cidadão autônomo, participativo e crítico garantindo assim seu espaço na sociedade. 35UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil 2 A FORMAÇÃO DO LEITOR Neste tópico estudaremos algumas questões que estão relacionadas ao uso da literatura infantil na escola, como a contação de histórias e a iniciação a leitura, que são alguns dos aspectos fundamentais na formação do leitor. 2.1 A contação de histórias na formação do leitor Iniciaremos nossa conversa com uma questão muito comum em nossa área, que é “como formar um leitor”? Na área da educação alguns questionamentos referentes a formação de um leitor, são fundamentais. O trabalho que o professor vai exercer e as escolhas que ele pode fazer ajudarão na compreensão do seu trabalho. O professor é responsável por escolher a obra que seja apropriada ao leitor infantil, escolher recursos metodológicos que sejam mais efetivos e que estimulem tanto a leitura, quanto a compreensão das obras, em que os alunos consigam verbalizar o que aprendeu. (ZILBERMAN, 1982, p.26 apud COSTA, 2007). Porém para que o professor consiga al- cançar esses objetivos é preciso que ele esteja habilitado para isso. E isso acontecerá no ensino superior. Costa (2007, p. 41-42), ainda menciona alguns fatores que são necessários a essas habilidades, [...]como o conhecimento de um acervo literário representativo; o domínio de critérios estéticos de modo a discernir quais são as obras de valor; conhecer 36UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil o conjunto literário destinado às crianças, com destaque para a sua trajetória histórica, bem como os autores da atualidade de maior representatividade; saber manipular técnicas e métodos de leitura. Se o professor possuir essas habilidades, pode-se pressupor que ao realizar um trabalho com a literatura infantil, este produza resultado satisfatório e eficaz. A construção da literatura é algo que depende de alguns princípios que vão norteá-la, pois é um processo lento que vai se formando gradativamente, uma vez que ler é encontrar sentido e se inte- ressar pela leitura, aprender e se sentir competente para realizar as tarefas de leitura, além de sentir que a aprendizagem como uma experiência emocional e gratificante. (SOLÉ, 1998 p. 172, apud COSTA, 2007). Diante disso é claro que a qualidade e a dedicação quando empreendidas no ensino da leitura produzirão no leitor infantil o prazer em ler, fará com que se sinta satisfeito com a leitura e com o resultado obtido por meio do texto lido. Tal prazer pode ser resultante da emoção motivada por um poema, ou por se identificar com algum personagem ou mesmo com a história, ou simplesmente por ter aprendido algo com a leitura. Aprender a ler, também significa aprender a ser ativo ante a leitura, ter objetivos para ela, se auto interrogar sobre o conteúdo e sobre a própria compreensão. Em suma, significa aprender a ser ativo, curioso e a exercer controle sobre a própria aprendizagem, (SOLÉ 1998, p. 172 apud COSTA 2007, p. 44). Entende-se então que o papel do professor é o de conduzir o aluno e orientá-lo, mais sem lhe dar uma resposta pronta. Ele deve estimular o pensamento do leitor, incentivá-lo, instigá-lo a levantar questionamentos sobre o que leu, deixando que ele chegue sozinho às respostas. Costa (2007, p. 44), afirma que, “professor e aluno devem integrar-se com igual determinação e vontade na aprendizagem do intercâmbio produtivo com textos literários”. Para que esse processo de desenvolvimento dê certo, é preciso que ele esteja estruturado em três pilares, são eles: autor, leitor e professor. O autor é o responsável pela produção da obra, é ele quem vai atribuir a ela as intenções e sua beleza. O leitor é o aluno que busca sentido no texto por meio de sua ex- periência pessoais e também pelo repertório que já possui e por último vem o professor, tão importante quanto o autor, pois devido a sua maturidade, seu conhecimento e metodologia, vai mediar o aluno, possibilitando a ele um ambiente favorável à leitura. 37UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil REFLITA Você sabia que ler desenvolve o cognitivo, amplia vocabulário, ativa o senso crítico e estimula a percepção intelectual? Além disso, favorece a inserção do indivíduo na sociedade, onde os textos escritos estão acima dos textos verbais, ou seja, a leitura o capacita a exercer sua cidadania. Porém nem sempre foi assim: “Do ponto de vista histórico, a situação de desigualdade entre elementos alfabetizados e analfabetos produziu uma relação de domínio dos primeiros sobre os segundos, que se acrescentou a todas as outras formas de dominação social. Já a Revolução Francesa de 1789 postulará a abertura de escolas públicas com o fim de levar as letras até o povo, de modo a promover uma maior igualdade social” (BORDINI; AGUIAR 1993, p.10). Ainda neste contexto histórico , surgiu a escola pública, porém as diferenças sociais permaneceram, uma vez que a escola constituiu um caráter dominador e da elite, fazen- do com que os menos favorecidos permanecessem excluídos e não tivessem acesso a essa cultura, o que acontece até os dias atuais, pois muitos ainda continuam sem aces- so e excluídos da sociedade. Fonte: BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura: a formação do leitor (alternativas metodológicas). 2.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. 2.2 A formação do hábito da leitura na visão de Richard Bamberger Sobre o hábito da leitura, Bamberger (2000, p. 24-25 apud COSTA 2007, p. 45-54), diz que para a formação do leitor é importante: Promover a prontidão para a leitura em todos os níveis: ● Ler em voz alta e falar, sobre a leitura os alunos na pré-escola e nos primeiros anos do ensino fundamental é de extrema importância, pois ajuda a desenvolver o vocabulário e desperta o interesse pela leitura.● Proporcionar o contato da criança com textos diversificados, desde poemas, contos, mostrar figuras, ajudam a estimular a imaginação, fazendo com que a criança mergulhe no universo da imaginação. ● Promover um ambiente que seja agradável e que favoreça a leitura. 38UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil Com esse processo a criança aprenderá a reconhecer o herói da história, o tempo da história, espaço, movimento, personagens, ação narrativa, bem como se familiarizar com as metáforas, sinestesias e imagens. A criança também pode demonstrar que sente prazer na leitura de determinada história, ao pedir que contem para ela várias vezes a mesma narrativa. Isso é importante e deve ser estimulado. Prática da leitura silenciosa: ● É muito importante na formação do leitor que ele se habitue a leitura silenciosa, pois ela é quem dá a base da educação individual e ajuda a desenvolver o imaginário, as emoções, sem que precise da intervenção do adulto. Nos dias atuais, os livros infantis são bem proveitosos, pois vem repleto de ilustra- ções e textos escritos, permitindo a criança que ainda não está alfabetizada a convivência com os livros através das imagens que estes oferecem. A leitura dessas imagens leva a criança a entrar no universo da leitura mesmo que não verbalmente. Daí a importância de estimular esse comportamento na criança pois ele irá prepará-la para os textos mais complexos que ela terá contato futuramente. Ensino individualizado da leitura em todos os níveis da escolarização: ● Pesquisas indicam que quando o método de ensino da leitura é individualizado, o prazer e interesse são maiores. ● Apesar da leitura individualizada despertar maior prazer, ele não deve ser dog- matizado e o professor deve estar preparado para perceber em quais momentos a leitura deve ser trabalhada individualmente ou em grupo. Alternar entre a leitura silenciosa e leitura em voz alta é recomendável na literatura, essa leitura em voz alta geralmente é realizada pelo professor, para que o ritmo e a entona- ção da leitura não se percam. (COSTA, 2007). 39UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil Adaptação das habilidades envolvidas na leitura quanto ao material e aos objetivos da leitura: ● O leitor passa a ler melhor e assimilar mais rápido o conteúdo à medida que vai ganhando prática e autonomia na leitura. ● Levar em consideração que cada texto requer uma desenvoltura diferente é um fator importante na prática pedagógica que deve adequar a escolha dos textos de acordo com os objetivos que desejam alcançar. Assim, exercitar a leitura em voz alta é importante, pois ela exige do leitor entonação vocal e interpretação, mais sempre levando em consideração a importância de realizar uma leitura prévia a fim de se familiarizar com o conteúdo. Se a leitura for realizada pela criança, o professor deve prepará-la para que realize a interpretação em voz alta da forma mais adequada possível. Deve-se evitar improvisos, erros e defeitos de prosódia e dicção e balbucios que comprometem a qualidade da ento- nação. (COSTA, 2007). Treinamento sistemático de consecução da leitura: ● Neste momento, avaliar a velocidade e compreensão em relação a leitura é importante. ● Primeiramente, é importante delimitar o sentido de velocidade e de compreensão do texto. A velocidade se refere a habilidade de ampliação do período de fixação e de aumento da concentração. Já a compreensão se refere a capacidade do leitor assimilar o conteúdo na mesma proporção em que o texto progride, ou seja, conforme o aluno lê, ele assimila e compreende o significado do texto lido. ● Ao final o professor poderá avaliar o progresso do aluno levantando questiona- mentos, testes e discutindo sobre o tema trabalhado. É válido ressaltar que não se deve utilizar a leitura silenciosa ou em voz alta como parâmetro para a avaliação do domínio da ortografia, ela deve ser, na verdade, um exercício que desperte prazer no leitor. 40UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil Mensuração e avaliação do progresso: ● Acompanhar de perto o progresso do aluno é importante. É necessário que sejam realizadas avaliações diferenciadas, de acordo com o desenvolvimento de formação do leitor. ● O professor deve evitar o uso de fichas e resumos que forcem a interpretação e avaliação do aluno, esses processos são engessados e não contribuem para o desenvolvimento. ● Durante o processo de avaliação é interessante que o professor utilize sua criatividade para encontrar formas de avaliação que sejam coerentes e eficazes no decorrer da rotina escolar. Seleção de material de leitura para o ensino: ● É importante que o aluno tenha acesso a um material diversificado, assim ele terá a chance de descobrir o que mais lhe agrada, o que é mais interessante e o que é mais divertido para ele. Isso faz com que sua capacidade de leitura aumente, além de contribuir para a que o hábito da leitura se torne algo cons- tante na vida do leitor. Os bons livros infantis, por conseguinte, são o fundamento do ensino da leitura. Os interesses pelo enredo e pelo destino das personagens levam a criança a terminar o livro num certo prazo de tempo. Quando isso acontece, obtém-se o efeito prático tão necessário à compreensão na leitura. É nesse ponto que a influência da sala de aula se combina com as inclinações na esfera pessoal (BAMBERGER, 2000, p. 24 apud COSTA, 2007, p. 52). Neste sentido, o professor, deve ter consciência de que para que seu trabalho com o texto literário seja efetivo, ele deve ter sua sensibilidade em relação às obras bem apuradas e desenvolvidas. Deve conhecer as obras, quais são mais apropriadas, quando foram publicadas, quantas edições possuem, além de conhecer um pouco da história dos autores. Ele também precisa ter um conhecimento detalhado sobre as funções que a litera- tura possui, de forma que por meio desses conhecimentos saiba como utilizar cada texto. Ademais, é importante que o professor que ensina a literatura e a prática da leitura esteja ciente dos interesses dos alunos, conheça os livros infantis da atualidade, sem deixar de lado os clássicos da literatura infantil, tenha consciência filosófica, seja desprovido de preconceitos, goste de textos que promovam a emancipação e sejam inovadores. Devem ser bons leitores, ter conhecimento e uma formação sólida das letras, ter fundamentação 41UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil teórico-metodológica. Essas são algumas das características positivas que poderão contri- buir para um trabalho produtivo e eficaz para o desenvolvimento e formação do leitor. Em contrapartida, ao papel do professor, a escola também precisa estar adaptada e habilitada oferecendo subsídios ao professor, para que este consiga desempenhar seu pa- pel. Possuir uma biblioteca que disponha de um bom acervo, é fundamental neste processo e, sobretudo, ter programas de ensino que valorizem a leitura e a integração entre aluno e professor, esta, por sua vez deve ser democrática e simétrica. (COSTA, 2007). Para finalizarmos nossos estudos em relação a formação do leitor, e não menos importante, é a qualidade empregada na literatura infantil brasileira, uma vez que, o uso do lúdico e o descompromisso textual, atrelados a linguagem empregada e diversidade dos temas torna mais prazerosa a experiência da leitura. 42UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil 4 LITERATURA E CONCEITO DE LETRAMENTO O letramento é um assunto muito discutido entre os profissionais da educação, e apesar de ser um tema novo, tem sido propagado não só no mundo acadêmico, ele vem ganhando espaço na escolas, nos cursos de formação para professores e também em pesquisas acadêmicas, sendo assim pode-se perceber que de certo modo o letramento é algo que está intrinsecamente ligado a vida em sociedade. No ambiente escolar, é um fator de grande relevância para o processo de ensino que o professorsaiba como lidar com os diversos tipos de letramento e consiga guiar o aluno para que este também seja capaz de desenvolver outros tipos de letramento. Neste tópico destacaremos o letramento literário, o qual tem como objetivo a for- mação de futuros leitores que sejam críticos, que possam compreender a literatura em seu contexto, e para que isso aconteça é importante que o aluno seja inserido no mundo da literatura. Será apresentado também os conceitos de letramento literário, bem como algumas sugestões sobre como trabalhar este assunto em sala de aula para uma escola- rização correta do texto literário. Não obstante, a literatura é um recurso importante para a educação e ler serve como uma base para o início e o fim do letramento literário. 43UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil 4.1 O que é o letramento afinal? O letramento surgiu no Brasil, a pouco mais de duas décadas, pela necessidade que emergia de caracterizar e nomear comportamentos e práticas sociais na área da leitura e escrita. Comportamentos estes que iam além do domínio do alfabeto e da ortografia. A partir do momento em que a vida social e as atividades profissionais se tornaram cada vez mais direcionadas e dependentes da linguagem escrita, expondo assim ser insuficiente apenas alfabetizar a criança e ou o adulto, foram se tornando mais visíveis os comporta- mentos e práticas sociais de leitura. (SOARES, 2004). Lembrando ainda que alfabetização e letramento são dois processos distintos cada um com suas características e especificida- des. De acordo com Soares, (2003, p. 90): Embora correndo o risco de uma excessiva simplificação, pode-se dizer que a inserção no mundo da escrita se dá por meio da aquisição de uma tecnologia – a isso se chama alfabetização, e por meio do desenvolvimento de competências (habilidades, conhecimentos, atitudes) de uso efetivo des- sa tecnologia em práticas sociais que envolvem a língua escrita – a isso se chama letramento. Soares reforça ainda que o letramento é aquilo que a pessoa faz com as habilidades da leitura e da escrita em um determinado contexto, e também como essas habilidades vão se relacionar com as necessidades, com os valores e as práticas sociais de determinado indivíduo. (SOARES, 2004). Desta forma, é válido ressaltar que o letramento é uma prática social não sendo apenas um processo pessoal. 4.2 Relembrando sobre o conceito de letramento O conceito de letramento engloba a leitura e a escrita, que embora sejam fenôme- nos distintos se complementam e constituem conforme Soares (2004, p. 48-49) um “[…] conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e com- plexo continuum”, ou seja, conforme explicitado pela autora, o indivíduo pode ter facilidade em escrever o seu nome, mais não ser capaz de escrever um bilhete, ou ainda, ser capaz de ler um bilhete, mas não conseguir ler uma reportagem. Neste sentido corroborando com nossos estudos Soares (2004) diz que “[…] há diferentes tipos e níveis de letramento, dependendo das necessidades, das demandas do indivíduo e de seu meio, do contexto social e cultural” (SOARES, 2004, p. 48- 49). 44UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil Contribuindo com a fala de Soares, Kleiman (1995) enfatiza o letramento como uma prática discursiva de um determinado grupo social, mas que não necessariamente envolvem atividades de leitura e escrita, mas que tem como função tornar significativa a interação oral por meio da sua relação com a escrita. Assim, o letramento é um conjunto de práticas sociais que que vai além da escrita. Ela ainda ressalta o letramento como termos de práticas sociais, e que estes são aspectos não só culturais, mas também de estruturas de poder que se fazem presentes na sociedade. Isto posto, as práticas letradas são produtos da cultura, da história e dos discursos. (KLEIMAN, 1995). Já Street (2014), apresenta uma visão mais ampla e atualizada do conceito de letramento. O autor vê o letramento como uma prática social que salienta a natureza social da leitura e da escrita, bem como o múltiplo caráter das práticas de letramento. Ele se vale de perspectivas transculturais, da natureza social do letramento para se opor àquilo que chama de perspectiva “autônoma”, orientada para as habilidades. Ele ainda: • Reconhece a existência de múltiplos letramentos praticados em contextos reais; • Sugere aos leitores que rejeitem uma visão etnocêntrica e hierárquica; • Orienta que os leitores privilegiem uma forma particular de letramento diante das muitas variedades existentes; • Em oposição a essa perspectiva, o autor propõe um modelo ideológico de letramento reconhecendo que as práticas de leitura e escrita estão inseridas não em significados culturais, e também nas alegações ideológicas sobre o que é considerado como letramento, e nas relações de poder que estão a ela associadas (STREET, 2014). Ainda de acordo com o autor, “recentemente, porém, a tendência tem sido no rumo de uma consideração mais ampla de letramento como uma prática social e numa perspec- tiva transcultural.” (STREET, 2014, p. 17). Desta forma finalizamos nossos estudos sobre os conceitos de letramento na visão dos três autores citados verificando a importância de compreendermos o letramento como algo que vai além da leitura e da escrita, mas como uma prática social que faz parte da formação social dos alunos. 45UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil 4.3 O letramento literário como caminho para uma adequada escolarização e forma- ção de leitores em idade escolar Um dos fatores que tem contribuído para uma má formação dos leitores em fase escolar é a escolarização inadequada da literatura neste ambiente. Soares (2006), abre uma discussão sobre essa escolarização e traz exemplos de como acontece e mostra caminhos que podem levar a mudanças que são possíveis e necessárias neste contexto. A autora ainda divide as instâncias de escolarização em três níveis, conforme demonstra o quadro a seguir: Quadro 2: Instâncias de escolarização 1. BIBLIOTECA ESCOLAR - O espaço de guardar livros e de acesso à lite- ratura 2. A LEITURA E ESTUDOS DE LIVROS DE LITERATURA - É orientada, determinada e avaliada 3. A LEITURA E O ESTUDO DE TEXTO - A literatura é apresentada por meio de fragmen- tos para serem lidos, compreendidos e interpre- tados Fonte: SOARES, Magda. A escolarização da literatura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy A.M.; BRANDÃO, Heliana M.B.; MACHADO, Maria Z. V. (ORG.) Escolarização da leitura literária. 2º. ed., Belo Horizonte: Autêntica, 2006. É possível verificar que na última instância, a escolarização da literatura é inadequada , uma vez que promove a leitura de fragmentos de textos literários fora de seus contextos, apresenta, títulos e gêneros em quantidade limitada, não obtém critérios na escolha de autores e obras, as atividades propostas não visam à textualidade ou literalidade, transfor- mando o texto literário em um mero texto informativo, que tem como pretexto exercícios de metalinguagem. Essa conclusão foi obtida, após análise de livros didáticos utilizados por alunos do 1º ao 4º ano do ensino fundamental I. (SOARES, 2006). A autora ressalta que é papel da escola a didática dos conhecimentos e as práticas culturais, mas que também é possível fazer uma escolarização adequada, Distinguimos entre uma escolarização adequada e uma escolarização ina- dequada da literatura: adequada seria aquela escolarização que conduzisse eficazmente às práticas de leitura literária que ocorrem no contexto social e às atitudes e valores próprios do ideal do leitor que se quer formar; inadequada é aquela escolarização que deturpa, falsifica, distorce a literatura, afastando, e não aproximando, o aluno das práticas de leitura literária, desenvolvendo nele resistência ou aversão ao livro e ao ler. (SOARES, 2006, p. 47) 46UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil Assim sendo, seo processo de escolarização for realizado de forma caracterizada, respeitando sua função social ela pode contribuir significativamente para a formação do aluno leitor dentro daquilo que chamamos de uma perspectiva do letramento literário. 4.4 Letramento literário como uma proposta de trabalho nas escolas Quando se trata de leitura literária, muitos se enganam com o fato de achar que a leitura é somente prazer. As pessoas não nascem gostando ou não de ler. Essa é uma habilidade que deve ser despertada no indivíduo. Em sala de aula, é comum ver os professores utilizando os gêneros literários ape- nas como pretexto para ensinar alguns aspectos gramaticais da língua (COSSON, 2006). Infelizmente isso é um erro, pois a literatura deveria ser vista com prioridade nas escolas. Mas para que isso aconteça é necessário repensar o conceito de literatura, e torná-lo uma prática significativa de ensino-aprendizagem, considerando também seu valor e a função social que ela exerce na vida do leitor. Visando melhorar a prática do ensino da literatura no ambiente escolar, estudiosos mostram o letramento literário, como sendo uma forma mais amplas do ensino da literatura (SILVA; SILVEIRA, 2011). Autores como Paulino (1998), define que, embora passem pela escola, o letramento literário ainda é uma apropriação pessoal de práticas de leitura e escrita, assim como os outros tipos de letramento. Neste tipo de letramento, muitas vezes não são cobradas as habilidades de escrita literária, por serem constituídas apenas como escolhas individuais (PINHEIRO, 2006). Formar um leitor literário consiste em torná-lo alguém que saiba escolher as suas leituras e que aprecie as construções e significações verbais que compõe as obras literárias, além de saber usar estratégias de leituras que sejam adequadas a esses textos, aceitar o pacto ficcional proposto, reconhecer as marcas linguísticas, entre outras características que são específicas das obras literárias. (PAULINO,1998). Cosson (2006) apresenta algumas estratégias que visam contribuir com o desen- volvimento do letramento literário na escola, e que serão elencadas a seguir: ● Ele vê a leitura como objetivo principal desse tipo de letramento; ● A leitura deve ser discutida, questionada e analisada; ● Essa proposta consiste em uma sequência básica e uma sequência expandida de letramento literário. 47UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil Apresentamos os passos da sequência básica, conforme quadro a seguir: Quadro 3: Passos da sequência básica 1º PASSO - Motivação, preparação do aluno para entrar no texto; - Esse primeiro encontro vai definir se ouve ou não sucesso no encontro do leitor com a obra. 2º PASSO - Apresentação do autor e da obra por meio da introdução; - Função: permitir ao aluno receber de forma positiva a obra literária; - A introdução deve ser breve. 3º PASSO - Leitura em si; - É uma atividade escolar, portanto precisa ser acompanhada pelo professor; - O professor deve auxiliar os alunos em suas dificuldades, principalmente no ritmo de leitura; - No caso de textos extensos, orienta-se que a leitura seja feita em casa, em bibliotecas ou em salas de leitura respeitando o tempo. - Em sala de aula é importante os alunos apresentarem o re- sultado da leitura, como sendo um processo de apropriação do letramento literário. 4º PASSO - Interpretação; - Deve ser pensado em dois momentos: interior e exterior; - Momento interno: individual, acompanha a obra palavra por palavra, decifra cada capítulo, até chegar à apreensão global da obra, é realizada após o término da leitura; - Momento externo: concretização do ato de construção de sen- tido em uma determinada comunidade de leitores; - Nesse ponto, o letramento literário feito na escola se distingue da leitura literária. Fonte: COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006. A sequência expandida, tem como função orientar os professores do ensino médio, em que pretende deixar em evidência as articulações entre experiência, saber e educação literária. Nesta sequência permanecem a motivação, introdução e leitura. A interpretação passa a ser dividida em duas partes: primeira e segunda interpretação, em que a primeira se refere a apreensão global da obra, onde o aluno traduz a impressão geral do título e o impacto que este causou na sua senilidade enquanto leitor, em seguida conduz o aluno ao entendimento do contexto da obra e aprofundamento da leitura, essa contextualização está 48UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil dividida em contextualização teórica, histórica, estilística, poética, crítica, presentificadora e temática (COSSON, 2006). A segunda interpretação compreende os aspectos da leitura aprofundada. Con- siderada como uma viagem ao texto, pode apresentar diversos caminhos de acordo com a contextualização que foi apresentada. Já a expansão é mais um passo a ser seguido e tem como objetivo destacar as possibilidades de diálogo de uma obra com textos que a precederam, ou também como um diálogo construído entre o leitor e duas ou mais obras. Como a sequência básica está inserida na sequência expandida, é de responsabilidade do professor definir até onde pode e consegue ir com os alunos. (COSSON, 2006). É válido ressaltar que as sequências são apenas propostas de como o professor trabalhar o letramento literário em sala de aula, todavia, nada impede que este encontre novos caminhos para trabalhar adequadamente este tema. É preciso que as práticas de leitura no contexto escolar sejam revistas e problematizadas e o professor enquanto o mediador entre o aluno e o livro, tem a responsabilidade de apresentar em sala de aula obras literárias visando o letramento literário. (FERNANDES, 2011). Desta maneira, é importante e necessário que a escola utilize estratégias de ensino que privilegiem a formação literária por meio da leitura, e ao professor enquanto principal mediador do conhecimento deve assumir a sua posição na condução deste processo para que o objetivo de formar o aluno enquanto leitor literário aconteça de forma satisfatória. 49UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil CONSIDERAÇÕES FINAIS Olá leitor, Chegamos ao final de mais uma unidade de estudos do nosso material. Em nosso passeio pelo mundo da cultura literária foi possível responder aos ques- tionamentos realizados na introdução desta unidade, onde compreendemos que a literatura é fruto da existência de uma cultura e que se não houver cultura, não há literatura. Também ficou claro que a cultura está intrinsecamente relacionada ao homem e sociedade e que lei- tura é um ato social, é uma atividade peculiar ao sujeito contemporâneo e que está presente em seu cotidiano. Verificamos que a cultura é um termo com muitíssimos significados e é rica em diversidade e a escola é um lugar onde se pode vislumbrar a diversidade cultural. Em seguida no tópico II, discutimos sobre a formação do leitor, o trabalho que o pro- fessor vai exercer nesse processo de formação do aluno, e as habilidades que o professor precisa ter para desenvolver de forma satisfatória o seu papel. Abordamos alguns aspectos importantes para a formação do hábito da leitura na visão de Richard Bamberger. Também discutimos sobre a qualidade empregada na literatura infantil brasileira, o uso do lúdico e o descompromisso textual, que são fatores que torna mais prazerosa a experiência da leitura. No tópico III, foi possível relembrar sucintamente sobre o conceito de letramento. Destacamos o letramento literário e a sua importância na formação dos futuros leitores. Apresentamos também os conceitos de letramento literário como sendo uma forma mais amplas do ensino da literatura. Foram apresentadas também, algumas estratégias que podem contribuir com o desenvolvimento do letramento literário na escola e que privilegiem a formação literária por meio da leitura. E para finalizarmos nossos estudos, verificamosa importância do professor en- quanto mediador do conhecimento para que o objetivo de formar o aluno enquanto leitor literário aconteça de forma satisfatória e que o aluno precisa entender que a escola vai ensinar o que ele precisa saber para se tornar um cidadão autônomo, participativo e crítico garantindo assim seu espaço na sociedade. Assim sendo, espero com esse material desenvolvido com muito carinho e dedica- ção tenha conseguido contribuir para o seu conhecimento e sua formação enquanto futuro profissional. Bons estudos e até a próxima unidade! 50UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil LEITURA COMPLEMENTAR Desde a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, ainda inscrito como Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN na dé- cada de 1930, debatia-se o que poderia ser considerado patrimônio cultural. Neste período coexistiam duas linhas de atuação no campo do patrimônio, a chamada “pedra e cal”, hegemônica, na prática, pois eram os tombamentos que construíam o patrimônio histórico e artístico nacional; e a de referência 3, hegemônica no plano discursivo (FONSECA, 2003). A primeira, herdada do pensamento de Rodrigo Melo Franco de Andrade, concebia o patrimônio alicerçado nas ideias de civilização e tradição, almejando civilizar o Brasil através da tradição. A segunda, herdada de Mário de Andrade por Aloísio Magalhães, arti- cularia as ideias de desenvolvimento e diversidade cultural, no sentido de que a diversidade cultural brasileira fosse levada em consideração no processo de desenvolvimento do país. Os dois discursos reconheciam a cultura brasileira sendo composta por outras dis- tintas subculturas como a africana, ameríndia e européia. Mas os olhares eram diferentes: a primeira as via como estágios de evolução para chegar à civilização, enquanto a segunda, como formas de vida social e cultural atuais, diversas e em processo de transformação (GONÇALVES, 1996). A narrativa de Rodrigo Melo Franco de Andrade arrazoava que a conservação do patrimônio histórico e artístico seria uma forma de educar a população sobre uma unidade da nação e via os monumentos como signos de uma condição civilizada, “a materialização de valores permanentes da civilização” (GONÇALVES, 1996, p. 65). Nesse sentido, a pre- servação das características dos monumentos cúmplices do pretérito de determinado lugar é que lhe abonava prestígio e expressão. É oportuno considerar que a escolha pelo projeto de Rodrigo Melo Franco ocorre pela influência européia na política de patrimônio adotada pelo Brasil, onde o termo “pa- trimônio” adquire seu contorno semântico na modernidade e por ser, a cultura européia, o modelo visado. Mas há também o eclipse do projeto de Mário de Andrade ao não explicitar um instrumento que contemplasse a sua concepção do que estaria suscetível a ser patri- mônio cultural brasileiro. Nos anos de 1980, no campo literário, também se percebia uma conversão na literatura, quando a escrita memorialista pode ser considerada integrante de “um processo de retomada da conscientização política operada pelo livro” (SANTIAGO, 1982, p. 34). 51UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil Escritores como Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Darcy Ribeiro, Ariano Suassuna, Lins do Rego, Mário de Andrade, dentre outros, contribuíram para o fato de que, no livro, “o povo é dado a conhecer através das suas próprias manifestações: casos, contos, ro- mances, provérbios etc, dado a conhecer pela sua produção poética (no sentido amplo)” (SANTIAGO, 1982, p. 37). Para Silvano Santiago ainda há, em alguns desses escritos, uma visão do que chama de classe dominante, em que o papel do escritor-intelectual é colher as informações dos indivíduos mantendo uma relação entre o contar e o contar direito, corrigido. Mas sem dúvida, contribuíram para a “vertente popular que vai sustentar as possibilidades de um discurso que atualize, sem preconceitos e sem demagogia” (SANTIAGO, 1982, p. 37), os autores que chamaria de romancistas-antropólogos. Assim é apropriado compreender, com Chauí (1996), que há uma definição de critérios entre emissor e receptor, uma regra a ser respeitada entre quem pode dizer e quem pode ouvir. Existe o emissor autorizado e o receptor autorizado, sendo o primeiro o especialista, que possui o conhecimento que lhe permite fundamentar a falar; e o segundo aquele para o qual é concedido um espaço de opinião, aceitação ou recusa, mas dentro de um espaço de atuação que já lhe foi definido. E assim, começou essa história. Fonte: MASCARENHA, Denise dos Anjos. A literatura como forma de registro da cultura popular brasileira: cantorias, crenças e aforismos em grande sertão: veredas. II Seminário de Pesquisa da Faculdade de Ciên- cias Sociais. Goiânia: 2011. Disponível em: <<https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/253/o/Denise_dos_An- jos_Mascarenha.pdf>>. Acesso em: 30 jun. 2020. 52UNIDADE II A Literatura Infanto-Juvenil MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: Armazém do Folclore. • Autor: Ricardo Azevedo. • Editora: Ática, 2019. • Sinopse: As histórias do rico repertório da cultura popular brasileira ganham ainda mais fluência e brilho com o texto e as ilustrações de Ricardo Azevedo, que pesquisa o tema há mais de 20 anos. Neste “armazém”, as crianças encontram quadras popu- lares, contos, adivinhas, brincadeiras com palavras e muito mais. LIVRO • Título: A Moreninha. • Autor: Joaquim Manuel de Macedo. • Editora: Ática. • Sinopse: o romance A Moreninha é um clássico da nossa literatura e representa a narrativa romântica com características nacionais. Publicado em 1844, o Romantismo, como grande parte dos movimentos literários, tinha força na Europa. A obra de Joaquim Manuel de Macedo dá os primeiros passos para o Romantismo tipicamente brasileiro. A obra mostra os costumes e a organização da sociedade que se formava no século XIX no Rio de Janeiro: os estudantes de medicina, os bailes, a tradição da festa de Sant’Ana, o flerte das moças etc. Também está presente a cultura nacional, através da lenda da gruta, em que o choro de uma moça que se apaixonou por um índio e não foi correspondida se transforma na fonte que corre na gruta. FILME/VÍDEO • Título: Memórias Póstumas. • Ano: 2001. • Sinopse: o filme mostra a vida de Brás Cubas, contada por ele mesmo depois de sua morte. Entre as adaptações que o texto sofreu nessa produção, há um fator temporal. É como se o pro- tagonista tivesse saído da tumba para contar sua história no ano 2000. 53 Plano de Estudo: ● Narrativa infanto-juvenil. ● Trabalho com gêneros textuais por meio da literatura. ● Principais autores – Monteiro Lobato, Pedro Bandeira, Ruth Rocha e Ziraldo. Objetivos de Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar as características da narrativa infanto-juvenil. ● Fundamentar as acepções referentes ao trabalho com gêneros textuais por meio da literatura. ● Apresentar informações sobre a vida e obra dos principais autores brasileiros de literatura infanto-juvenil. UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil Professora Mestre Greicy Juliana Moreira 54UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), Olá! Seja muito bem-vindo(a) à unidade III. Agora, vamos viajar pelo encantador mundo do “Ensino da literatura infanto-juvenil. Nossa primeira parada será para desvendar as especificidades do gênero em questão, além de refletir sobre a relevância do trabalho com literatura em sala de aula e o despertar do gosto pela leitura literária. No decorrer desse delicioso passeio, percorreremos os caminhos relacionados ao trabalho com os gêneros textuais por meio da literatura. Na última parada, vamos adentrar ao mundo dos principais autores de literatura infanto-juvenil, como por exemplo, Monteiro Lobato, Pedro Bandeira, Ruth Rocha e Ziraldo e então, conhecer um pouco sobre a biografiadeles. Depois, vamos mergulhar nas mais diversas obras e personagens criados por esses renomados e consagrados autores brasi- leiros. Embarque nessa maravilhosa viagem comigo e conheça mais sobre literatura infanto-juvenil, estudante!!! 55UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil 1 NARRATIVA INFANTO-JUVENIL Aluno(a), durante nossa viagem pelo maravilhoso mundo da literatura infanto-ju- venil, nessa primeira parada da unidade III (três), vamos conhecer as especificidades da “narrativa infanto-juvenil”. Para iniciarmos nosso diálogo sobre esse universo, precisamos, primeiramente, apresentar informações sobre a contextualização histórica desse gênero no Brasil, para entendermos mais sobre os primeiros registros. As primeiras produções são datadas no século XIX, porém foi somente no século XX, no contexto de ascensão da família burguesa, que houve efetivamente a consolidação de produções destinadas ao público em questão. Contudo, nessa época, a literatura estava relacionada à prática pedagógica, ou seja, o principal objetivo era trabalhar valores morais, descartando a função artística. Contudo, foi somente em 1920, quando Lobato lançou “A menina do narizinho arrebitado”, que a literatura ganhou destaque, ultrapassou as funções pedagógicas e deu lugar ao prazer e a aventura (COELHO, 2006). Agora, estudante, com intuito de avançarmos em nossa viagem, vamos recorrer à classificação dos gêneros literários. Segundo as teorias de Platão (A república) e Aristóteles (Poética), eles são considerados um conjunto de textos, que possuem semelhanças entre formas e conteúdos, classificados em três grandes categorias: épico, lírico e o dramático. Alguns autores defendem ainda, uma outra classificação: a narrativa de ficção, um desdo- bramento do épico. Nessa unidade, vamos nos debruçar, mais especificamente, sobre o gênero narra- tivo, estruturado em prosa, o qual apresenta enredo com situação inicial, conflito e clímax. 56UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil Os elementos constituintes são: o narrador, o tempo, o lugar, o enredo e as personagens. Dentro da classificação narrativa, existe uma subcategoria, a qual destaca as produções de contos, novelas e romances. Além delas, existe também a crônica, que transita entre o literário e jornalístico, uma vez que, narra fatos históricos em ordem cronológica, abordando temas da atualidade. As obras de Literatura infantil e juvenil apresentam como primordial especificidade a oralidade, resgatando os primórdios do ato de narrar. Assim, essa leitura cumpre o papel social da literatura, ou seja, transforma a infância e desenvolve a criticidade do aluno, assim “pode se constituir num fator de liberdade e transformação dos homens” (SILVA, 1986). Cabe agora, dialogar um pouco sobre as especificidades da literatura infanto- -juvenil, que é mais apropriada para os leitores entre dez e quinze anos. Nessas obras, os temas mais relevantes dão destaque para o mundo significativo para o adolescente, apresentando suas dúvidas em relação ao contexto no qual está inserido, motivando a reflexão e o questionamento dele, como exemplo temos os seguintes temas: sexo, droga, violência, relacionamento amoroso, escolha profissional, afirmação, dentre outros. Já os personagens aproximam-se do conceito de herói épico, afirmando suas personalidades, com aspectos hostis e desafiadores (SILVA, 1986). Vale ressaltar a importância de trabalhar a diversidade de gêneros literários em sala de aula, pois esse trabalho interdisciplinar, associa o entendimento social e cultural com a aquisição linguística, contribuindo significativamente com o desenvolvimento do aluno leitor. De acordo com estudiosos da crítica literária, é interessante que o educador, no decorrer do seu projeto com literatura, exemplifica a especificidade de cada gênero com diversidade de livros, apresentando informações que enriqueçam o estudo, como por exemplo: surgi- mento, características, temas, função social, autores e obras famosos (STALLONI, 2001). Assim, para finalizar esse tópico, aluno, é interessante destacar que durante anos a literatura foi utilizada em sala de aula simplesmente para recursos pedagógicos, porém ainda hoje encontramos produções de literatura infanto-juvenil com fins temáticos, como por exemplo, séries literárias produzidas para apresentar os temas transversais, etc. De acordo com alguns estudiosos da área não há problemas nas abordagens temáticas, mas sim em utilizar a literatura apenas para fins pedagógicos, pois o papel social da literatura vai muito além disso. Portanto, não é bom ao fazer uso de gêneros literários em sala de aula, descartar sua riqueza em detrimento do pedagógico. Então, aluno(a), no próximo tópico, retomaremos esse assunto e ampliaremos nossos conhecimentos sobre o trabalho em sala de aula com gêneros textuais e literatura. 57UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil 2 O TRABALHO COM GÊNEROS TEXTUAIS POR MEIO DA LITERATURA Estudante, olá! Agora, neste segundo tópico, primeiramente, vamos dialogar sobre o conceito de gêneros textuais sob a perspectiva da Linguística Aplicada -LA, subsidiada na concepção dialógica da linguagem, com ênfase na abordagem sócio-histórica, de acordo com os pres- supostos teórico bakhtiniano, do Círculo e demais estudiosos. Na sequência, nosso estudo abordará aspectos relacionados ao trabalho com os gêneros textuais e a literatura em sala de aula, para tanto, buscaremos as acepções das da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e depois apresentaremos sugestões de trabalhos. 2.1 Gêneros textuais Os gêneros discursivos são enunciados concretos, relativamente estáveis, consti- tuídos no campo social e, que modificam-se, tomam formas e adaptam-se de acordo com as mudanças e os campos sociais onde estão inseridos. Esses campos são os ambientes onde a comunicação entre indivíduos acontece tais como: campo religioso, escolar, jurídico, científico, familiar, etc. Conforme elucida o teórico “Cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enun- ciados, os quais denominamos gêneros do discurso (BAKHTIN, 2003, p. 277). 58UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil Por serem constituídos em diversos campos e contextos diferenciados, possuem especificidades e intenções comunicativas que refletem a finalidade e condição de produ- ção específica para cada situação comunicativa. Por isso, o referido autor faz a seguinte classificação: gêneros do discurso (orais e escritos), segundo a sua heterogeneidade, como primários e secundários. Os primários decorrem de uma situação cotidiana informal, como por exemplo, bate-papo entre colegas, família, etc. Já os secundários, muitas vezes advém dos primários, no entanto, são forma mais complexos, tais como escrita de produ- ção científica, relatórios, etc. Além dessas acepções, o mesmo autor divide os elementos constitutivos dos gêneros em: conteúdo temático, forma composicional e estilo (BAKHTIN, 2003). O estudo e ensino de gêneros textuais teve destaque e foi muito discutido a partir do lançamento dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, em 1998. Então, Dolz & Schneuwly (2004) baseando-se nas contribuições do Interacionismo Sociodiscursivo, pro- puseram um agrupamento dos gêneros orais e escritos, com intuito de colaborar para o desenvolvimento desse trabalho em sala de aula e ainda, no ensino de língua portuguesa. Quadro 1 - Agrupamento de gêneros Domínios sociais de co- municação Capacidades de lingua- gem dominantes Exemplos de gêneros orais e escritos Cultura literária ficcional NARRAR Mimeses da ação através da criação de intriga Conto maravilhoso Fábula Lenda Narrativa de aventura Narrativa de fic- ção científica Narrativa de enigma Novela fantástica Conto parodiado Documentação e memori- zação de ações humanasRELATAR Representação pelo dis- curso de experiências vi- vidas, situadas no tempo Relato de experiência vivida Relato de viagem Testemunho Curriculum vitae Notícia Reportagem Crônica esportiva Ensaio biográfico Discussão de problemas sociais controversos ARGUMENTAR Sustenta- ção, refutação e negocia- ção de tomadas de posi- ção Texto de opinião Diálogo argumentativo Carta do leitor Carta de reclamação Deliberação infor- mal Debate regrado Discurso de defesa (adv.) Discurso de acusação (adv.) 59UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil Transmissão e construção de saberes EXPOR Apresentação textual de diferentes formas do sa- ber Seminário Conferência Artigo ou verbete de enciclopédia Entrevista de especialista Tomada de notas Resumo de textos “expositivos” ou ex- plicativos Relatriório científico Relato de experiência científica Instruções e prescrições DESCREVER AÇÕES Regulaçäo mútua de com- portamentos Instruções de montagem Receita Regu- lamento Regras de jogo Instruções de uso Instruções Fonte: Elaborado com base em Dolz e Schneuwly (2004, p. 121). Para analisar a relação entre o trabalho com gêneros discursivos e a literatura infanto-juvenil, faz-se necessário, antes, realizar um mapeamento sobre como o assunto é tratado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o que faremos no próximo tópico. 2.2 Gêneros textuais e literatura É sabido que a literatura tem destaque no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, na BNCC, documento normativo que define os aprendizados fundamentais para a educação básica e estabelece os objetivos e aprendizagem por meio de habilidades e competências primordiais a serem desenvolvidas pelo aluno, a cientificidade e a importân- cia dos estudos de Literatura aparecem em vários asp são explorados e contemplados em diversos aspectos e facetas. Na terceira das dez Competências Gerais da Educação Básica, a literatura é referenciada como manifestações artísticas:”Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural” (BRASIL, 2017). Ampliando nossos horizontes e atendendo ao propósito desse tópico, a BNCC des- taca as práticas literárias no contexto extraescolar, com intuito de atender às necessidades da educação 4.0, relaciona a literatura às práticas digitais de leitura de textos literários. Nesse sentido, sugere explorações de obras literárias por meios de diversos gêneros discursivos: “Depois de ler um livro de literatura ou assistir a um filme, pode-se postar co- mentários em redes sociais específicas, seguir diretores, autores, escritores, acompanhar de perto seu trabalho; podemos produzir playlists, vlogs, vídeos-minuto, escrever fanfics, produzir e-zines, nos tornar um booktuber, dentre outras muitas possibilidades” (BRASIL, 2017, p. 68). 60UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil Além disso, ela amplia o trabalho com a leitura literária sugerindo produções de outros gêneros, como por exemplo, animações, HQs e paródias. Aqui, estudante, vale res- saltar que o professor conectado com as novas tendências, utilizará as Metodologias Ativas e, também, as ferramentas digitais como recursos pedagógicos, pois isso irá corroborar para o desenvolvimento das habilidades esperadas para o século XXI. Soma-se também a esse trabalho de conexão entre gêneros discursivos e literatura outras acepções da BNCC, ao destacar a função utilitária da literatura, que é proporcionar a formação de um leitores-fruidor, capaz de desvendar as múltiplas camada de sentido de um texto, dialogar e refletir criticamente com a obras lidas, num processo de formação social (BNCC, 2017). Frente a essas acepções, entendemos que o professor não pode restringir o ensino da literatura apenas ao modo verbal, porque, hoje, as tecnologias digitais e as diferentes semioses, contemplam novos saberes e linguagens múltiplas, os quais resultam em textos híbridos e multissemióticos, significativos para essa geração 4.0. Nesse sentido, com intuito de despertar o interesse pela leitura literária e promover estratégias para a transformação de leitores competentes, a escola, bem como os educadores precisam olhar e entender esses novos letramentos emergentes, explorar as diferentes linguagens, pois os diversos modos de representação e expressão estão inseridos no contexto sócio-histórico do aluno (LEMKE, 2010). De acordo com o que foi exposto, o uso da literatura em sala de aula é essencial, pois ela é rica e completa, além de despertar o senso crítico e promover a criatividade, uma vez que é repleta de fantasia. Assim, de acordo com os especialista, os textos literários constroem uma base educativa para vida em sociedade” (COLOMER, 2007) Contudo, reafirmamos que as mais diversas estratégias de utilização da leitura literária, por meio dos gêneros discursivos, não podem ficar restritas apenas ao pedagógico e/ou fazer deste uma finalidade, o ideal é cada vez mais desenvolver uma leitura literária livre e vivenciada pelos alunos. 61UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil 3 PRINCIPAIS AUTORES – MONTEIRO LOBATO, PEDRO BANDEIRA, RUTH ROCHA E ZIRALDO Olá, estudante! Nesse último tópico da unidade III, vamos nos aventurar pelo mundo dos principais autores brasileiros de literatura infanto-juvenil. No primeiro momento, vamos navegar pela vida e obra de Monteiro Lobato e des- vendar particularidades desse escritor tão importante, cujos textos são atuais e despertam e encantam crianças, jovens e adultos. Depois, nossa parada será pelo maravilhoso mundo da vida e obra de Pedro Ban- deira, um autor contemporâneo, que faz a cabeça da garotada. Por último, passearemos pelo mundo mágico de uma das autoras mais querida e conhecida pelas crianças e jovens, a encantadora Ruth Rocha. E então, aluno(a), venha comigo e aventure-se nesse mundo de riquezas literárias. 3.1 Monteiro Lobato José Bento Renato Monteiro Lobato, (1882-1948), paulistano, estudou direito Fa- culdade de São Paulo e casou com Maria Pureza Natividade. Tinha uma vida financeira favorável, por causa das fazendas herdadas de seu pai, isso possibilitou a sua quase total dedicação ao ofício de escritor. 62UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil Figura polêmica, foi escritor e editor modernista, escrevia contos para diversos jornais nas cidades de São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. Entre mais ou menos os anos de 1915 e 1918, ele estava revoltado com os sertanejos, que faziam constantemente quei- madas nos campos, prejudicando as lavouras alheias, como por exemplo as dele, Lobato, então, enviou uma carta ao jornal “O Estado”, apresentando criticamente sua revolta.. Esse fato deu origem a publicação de diversos contos e, quatorze deles compõem o livro “Uru- pês”, publicado em 1918, o qual tem como figura principal o famoso caboclo Jeca Tatu, um não idealizado que representava a figura do caboclo, trabalhador campestre de São Paulo.“Lobato é, com efeito, um jornalista participando ativamente dos ideais políticos e sociais de um grupo cuja influência extrapolava a tão auto proclamada neutralidade do jornal” (VALENTE, 2010). Foi a partir desse momento, que o autor iniciou sua carreira literária como um excelente contador de histórias, visionário, os seus textos representavam sua indignação social, contudo eram viagens criativas e emocionantes, que misturavam realidade e imaginação. Na década de 20, abriu a gráfica Monteiro Lobato, que não durou muito tempo e logo após, em 1927, fundou a Editora Brasiliense, em sociedade com amigos. Nesse mesmo ano, em Nova Iorque, o presidente Washington Luís nomeou Lobato como adido comercial do Brasil. Mais tarde, em 1946, foi morar na Argentina e por lá abriu a editora Acteón, porém não ficou muito tempo longe do seu país de origem. Então, em 1947 voltou a morar no Brasile faleceu no ano seguinte. Após sua morte, em 1951, começou a ser transmitido pela TV, em rede nacional, O Sítio do Picapau Amarelo. Era a primeira vez na história brasileira que houve uma programação destinada ao público infantil, em idade pré-escolar, como intuito de diversão, mas com pano de fundo pedagógico. Um dos maiores autores do seu tempo, é considerado como o precursor da litera- tura infanto-juvenil. Críticos literários salientam que o referido autor nacionalizou o universo infantil brasileiro, porque, em suas obras, misturava realidade e fantasia, transmitindo valores morais, num contexto conhecido pelas crianças de seu país, como por exemplo, os sítios, campos e riachos, opondo-se aos padrões europeus cultivados na mitologia. Além disso, diferentemente dos contos tradicionais, que tinham as fadas, ele criou a Emília, uma boneca de pano, para sua trama, com a intenção de aproximação Os personagens principais são crianças ativas, inteligentes e questionadoras, o que faz a aproximação do público-alvo com a obra, uma vez que há identificação imediata entre leitor e o texto. Os temas desenvolvidos também favorecem a identificação uma vez que, são problemas cotidianos, inseridos no contexto histórico e social da época. 63UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil A literatura lobatiana foi responsável por despertar o gosto pela leitura de uma gera- ção que rapidamente se encantou com suas aventuras. No entanto, as crianças conheciam a obras do autor, na maioria das vezes, apenas pelos fragmentos apresentados nos livros didáticos, utilizados como pretextos para as aulas de gramática e ortografia. Autora espe- cialista na área destaca que “Lobato não se limita à transmissão de conhecimentos. Suas personagens aprendem observando, agindo, questionando o adulto, tirando conclusões e aproveitando o que é válido em novas situações. Sua atuação é crítica e transformadora” (ZILBERMAN, 1983, p. 140-141). Caro(a) aluno(a), para finalizar nossa viagem por esse mundo de fantasia e cria- tividade lobatiano, preparei uma relação, em ordem alfabética, com os principais títulos publicados por ele para satisfazer sua curiosidade: Quadro 2: Principais Obras As Aventuras de Hans Staden, 1927 Caçadas de Pedrinho, 1933 Dom Quixote das Crianças, 1936 Emília no País da Gramática, 1934 Fábulas, 1922 Geografia de Dona Benta, 1935 Histórias de Tia Nastácia, 1937 Narizinho Arrebitado,1921 Marquês de Rabicó, 1922 Picapau Amarelo, 1939 Poço do Visconde, 1937 Saci, 1921 Peter Pan,1930 Reinações de Narizinho,1931 Urupês, 1918 Fonte: Lobato (2020) 3.2 Pedro Bandeira Exímio escritor brasileiro de livros infanto-juvenis, nasceu em Santos cursou Ciên- cias Sociais na Universidade de São Paulo. Escreveu para o jornal Última Hora e, durante algum tempo, esteve envolvido com o teatro profissional, foi ator, diretor e cenógrafo, além do teatro com bonecos. Em 1972, começou a trabalhar na editora Abril, e então nasceu o grande escritor de livros destinados ao público infantil e infanto-juvenil, primeiramente com textos publicados nas revistas da editora. Mais tarde, em 1983, houve o lançamento do seu primeiro livro “O Dinossauro que Fazia Au-Au” e, a partir desse momento, dedicou-se exclusivamente à literatura direcionada para crianças e adolescentes. Os gêneros literários publicados por ele 64UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil são diversos, pois o autor passeia por vários mundos: contos, narrativas, poemas dentre outros encantado os corações dos leitores. Posteriormente, em 1984, Pedro lançou “A Droga da Obediência”, pela editora Moderna, no qual abordou temas relacionados à amizade, a investigação, questões morais e éticas. Esse livro, como não podia ser diferente, em 1986, levou o autor a receber os prêmio: Jabuti de melhor livro infantil, da Câmara Brasileira do Livro e também, o troféu de melhor livro juvenil da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Com a ascensão de sua produção e reconhecimento pela excelente qualidade das suas obras, posteriormente, recebeu outros grandes prêmios, como por exemplo: Adolfo Aizen e Altamente Recomen- dável, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Autor versátil, encanta os leitores de diversas idades, pois seus livros apresentam diversidades temáticas. Destacam-se em suas produções as narrativas policiais, revelando intertextualidade com as obras de Conan Doyle. Contudo, o sentimentalismo ganha destaque e a atenção, principalmente dos ado- lescentes, pois estes identificam-se com as aventuras e peripécias dos personagens, os quais possuem idades semelhantes. Como exemplo de títulos que trabalham a temática do amor adolescente, podemos destacar o livro “A marca de uma lágrima (1985) e “Agora estou sozinha” (1957). Bandeira foi leitor de Lobato na infância, o que explica a riqueza de suas narrativas, que reúnem mistério, suspense e emoção, o que resultou em mais de cem obras publicada. Atualmente, a editora Moderna relançou oito clássicos do autor, com novo conceito editorial e linguagem atual. Além disso, agora ele é autor exclusivo dessa editora e ainda, seus livros estão reunidos numa biblioteca com o seu nome, no site da editora (MODERNA, 2020). Caro(a) aluno(a), para finalizar nossa viagem pelo fantástico mundo aventureiro do Bandeira, preparei uma relação, em ordem alfabética, com os principais títulos publicados por ele para satisfazer sua curiosidade: 65UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil Quadro 3: Principais Obras A Droga da Obediência A Droga do Amor A Flecha Traiçoeira A Marca de Uma Lágrima Agora Estou Sozinha Alice no País da Mentira Anjo da Morte (publicado em 1988); Aqueles olhos verdes As Cores de Laurinha Brincadeira Mortal Como conquistar essa garota Droga de Americana! Gente de Estimação Histórias Apaixonadas O Dinossauro Que Fazia Au-Au O Fantástico Mistério de Feiurinha O Grande Desafio O Mistério da Fábrica de Livros O Pequeno Fantasma Pânico na Escola Pântano de Sangue Por Enquanto Eu Sou Pequeno Prova de Fogo Fonte: Moderna (2020) 3.3 Ruth Rocha Nasceu em 1931, em São Paulo e é socióloga de formação. Ela representa a cha- mada pelos críticos de “geração inovadora da literatura infantil”. Como parâmetro para suas escritas, as obras lobatianas contribuíram para o sucesso dos livros dela. Suas primeiras publicações aconteceram a partir de 1967, para a revista Cláudia, uma revista direcionada ao público feminino. Nesse momento ela escrevia artigos sobre a área da educação, logo em seguida, foi convidada pela revista Recreio, da editora Abril, para publicar séries infantis. Posteriormente, tornou-se coordenadora do departamento de publicações infanto-juvenil dessa editora. Em 1976, publicou o seu primeiro livro “Palavras, muitas palavras”, uma espécie de cartilha/poema, a autora mostra para o leitor que aprender a ler é divertido. Assim, faz rimas com palavras que começam com a mesma letra, como por exemplo:”c de casa, c de cola, de coruja e de cartola. C de cobra, e de chinelo, de camelo e de castelo (ROCHA, 2013). Pouco tempo depois, ainda no decorrente ano, publicou o seu Best-seller: “Marcelo, marmelo, martelo”, que vendeu muito mais de 20 milhões de exemplares. Possuidora de um dom excepcional para a escrita encantadora e também muito crítica, durante o período da Ditadura Militar, não se intimidou e escreveu sátiras por meio dos seus livros, como por exemplo, no livro “O Reizinho Mandão”, o qual ganhou prêmio internacional Hans Christian Andersen. 66UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil Conheça, estudante, com um trecho desse livro: “Esse negócio de ser rei não e assim, não! Não é só ir mandando pra cá, ir mandando pra lá…Mandou todo mundo calar a boca, calar a boca, calar a boca! De certo, com medo de que todo mundo dissesse que você estava fazendo bobagens. (ROCHA, 2013). Em 1988, em Nova Iorque, foi lançado na sededas Nações Unidas, “A Declaração Universal dos Direitos Humanos Para Crianças”, escrito por ela em parceria com Otávio Roth. Dez anos depois, em 1988, foi condecorada como a Comenda da Ordem do Ministé- rio Cultural pelo presidente da república Fernando Henrique Cardoso. Posteriormente, em 2007, foi eleita para a cadeira 38 da Academia Paulista de Letras (ROCHA, 2020, online). A referida autora, há mais de cinquenta (50) anos, dedica-se à publicações para crianças e adolescentes, favorecendo a formação de leitores e desenvolvimento do hábito pela leitura. É uma das autoras mais premiadas do país em literatura infanto-juvenil, com oito Jabutis, e ainda, tem mais de duzentos livros publicado entre didáticos, paradidáticos, dicionário e literatura. Seus livros estão espalhados pelo mundo afora, uma vez que, foram traduzidos para pelo menos vinte e cinco (25) idiomas (ROCHA, 2020, online). Caro(a) aluno(a), para finalizar nossa viagem pelo mundo da Ruth, preparei uma relação, em ordem alfabética, com os principais títulos publicados por ela para satisfazer sua curiosidade: Quadro 4: Principais Obras As Coisas que a Gente Fala De Repente Dá Certo Declaração Universal dos Direitos Humanos O Que É, o Que É? O Rato do Campo e o Rato da Cidade O Mistério do caderninho preto O Reizinho Mandão Palavras, Muitas Palavras Ruth Rocha conta Ilíada Tenho Medo Mas Dou um Jeito Fonte: Rocha, 2020 3.4 Ziraldo Ziraldo Alves Pinto, artista mineiro com muitos predicados, nasceu em 1932. Desde a infância seu dom pelo desenho já era conhecido e com seis anos um de seus desenhos foi publicado no jornal Folha de Minas. Fez faculdade de Direito na Universidade Federal de Minas Gerais. Trabalhou no jornal a Folha da manhã e depois na revista O Cruzeiro. Ar- tista, escritor, chargista e colunista, seus trabalhos sempre foram conhecidos e populares. Contudo, foi apenas em 1960, ao publicar a revista “Turma do Pererê”, que houve a sua 67UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil consagração como artista. Mas, isso aconteceu em meio ao período Militar, ocasionando, logo depois, no cancelamento da revista, porque fugia aos padrões editoriais propostos (ZIRALDO, 2020). O autor resistiu, lutou, foi preso na época do AI-5 e relançou sua revista tempos depois, porém sem tanto sucesso. Na década de 60 ainda, em Bruxelas, ganhou o prêmio “Nobel” Internacional de Humor e o Prêmio Merghantealler: principal premiação da impren- sa livre da América Latina. Posteriormente, fundou “O Pasquim” jornal celeiro pós-68 junto com outros humoristas (ZIRALDO, 2020). Seu maior sucesso aconteceu em 1980, com a publicação do livro “O menino maluquinho”, símbolo do menino nacional, levando o autor a ganhar o Prêmio Jabuti de Literatura. O livro originou revistas, tiras em quadrinhos, filme e a peças de teatro. O referido autor é conhecido por sua diversidade artística, porque suas obras e publicações passeiam por diversos gêneros, tais como: cartazes, livros, logos, marcas e sobretudo as charges. A vida e obra dele também foi retratada em um documentário, transmitido pela tv Senac. Sempre imerso em novos projetos, atualmente, mantém ativo um site denominado ziraldo.com, no qual há informações completas sobre suas publicações, projetos e ainda livros disponíveis para leitura online. Caro(a) aluno(a), para finalizar nossa viagem pelo surpreendente mundo do Ziral- do, preparei uma relação, em ordem alfabética, com os principais títulos publicados por ele para satisfazer sua curiosidade: Quadro 5: Principais Obras A fábula das três cores A turma do Pererê (1960) Bichinho da maçã (1982) Flicts (1969) Meninas (2019) O joelho juvenal (1983) O menino da lua (2006) O menino maluquinho (1980) O menino marrom (1986) O planeta lilás (1979) Os dez amigos (1983) Uma menina chamada Julieta (2009) Uma professora muito maluquinha (1994) Vito Grandam (1987) Vovó Delícia (1997) Fonte: Ziraldo.com (2020) 68UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil SAIBA MAIS 1. Notícia: Em primeiro de janeiro de 2019, a obra de Monteiro Lobato caiu em domí- nio público, porque a proteção aos direitos é válida por setenta (70) anos. Portan- to, como o autor morreu em 1948, os direitos da família terminaram. Dessa forma, qualquer editora/autor pode publicar as obras do consagrado autor brasileiro, sem pagamentos de direitos autorais. Click no link para saber mais: http://cultura.gov.br/ obras-de-monteiro-lobato-entram-para-dominio-publico/. 2. Livro: O autor Pedro Bandeira, escritor brasileiro de literatura infanto-juvenil, adap- tou a obra de Monteiro Lobato para crianças do século XXI. Lançou, em 2019, pela editora Moderna, o livro “Narizinho - a menina mais querida do Brasil”. O autor, em entrevista, salientou que para ele a personagem lobatiana em questão é, ao lado de Capitu de Machado de Assis, a mais importante da literatura brasileira. Além disso, salientou que “se Emília é a consciência crítica de Lobato, a imaginação de Narizinho é o motor que faz tudo se movimentar”. Click no link para saber mais: https://www. almanaquedacultura.com.br/artes/pedro-bandeira-adapta-obra-de-monteiro-lobato- -para-criancas-do-seculo-xxi/. 3. Cinema: Monteiro Lobato nas grandes telas: a produtora Clube Filmes iniciou, em 2019, a produção de um longa-metragem sobre a trama lobatiana “Sítio do Pica- pau Amarelo”. Um filme dirigido por Fabrício Bittar, que também assina o roteiro em parceria com André Catarinacho. O a previsão de estreia é 2020. O diretor, em entre- vista, enfatizou o poder imaginativo das tramas: “É uma boneca que fala, um sabugo de milho que vira visconde. As histórias estimulam a imaginação para transformar essas fantasias em realidade”, pontua, revelando que a previsão de lançamento do filme é para 2020, conforme informações do site Reino Literário (2019). Click no link para saber mais: http://www.reinoliterariobr.com.br/2019/01/news-clube-filmes-vai- -produzir-filme-do.html. REFLITA Estudante, viajando pelo mundo da literatura infanto-juvenil, nos deparamos com um assunto muito polêmico, que tem gerado opiniões diversas: o racismo nas obras de Monteiro Lobato. Por isso, vamos fazer uma parada e refletir sobre essa problemáti- ca, que ganhou destaque, em 2010, quando o Conselho Nacional de Educação (CNE) identificou conteúdos que poderiam ser considerados racistas na produção do escritor, como por exemplo, nas obras Caçadas de Pedrinho e Reinações de Narizinho. Em, 69UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil 2019, quando a obra lobatiana tornou-se domínio público, reacenderam as discussões em torno dessa polêmica. Assim, para auxiliar na sua reflexão, apresentarei alguns pontos de vistas sobre o as- sunto, proferidos por críticos literários e autores renomados: Em, 2019, na XIX Bienal Internacional do Livro no Rio, no Café Literário, os autores Pe- dro Bandeira e Marisa Lajolo dialogaram sobre o assunto: Bandeira: “A mensagem que ficou é que a Emília nasceu com um preconceito que, na realidade, vem da sociedade”, ao se referir a um trecho da obra, no qual a Emília chama a Tia Anastácia de “negra beiçuda”. Para ele é um ponto específico e incoerente que não deve ser levado em conta, uma vez que as contribuições de toda a obra do autor são mais relevantes. Lajolo: “Negrinha é um dos primeiros contos de Monteiro Lobato. É um conto absoluta- mente anti-escravagista, anti-preconceito, anti-racismo. Na obra, ele faz uma defesa ab- soluta de uma criança negra que é torturada por uma senhora rica e branca”, salientou a especialista na área, que escreveu uma biografia sobre o autor em primeira pessoa, com base nas cartas escritas por ele. Na sequência, postarei algumas manchetes e links, para você, estudante, ler e refletir mais sobre o assunto: 1. “Questão racial em obra de Monteiro Lobato volta a ser discutida pelo STF” (2020). Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/326485/questao-racial-em- -obra-de-monteiro-lobato-volta-a-ser-discutida-pelo-stf2. “A polêmica de Monteiro Lobato em sítio do picapau amarelo: homem de seu tempo ou racismo explícito?” Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/ reportagem/polemica-de-monteiro-lobato-em-sitio-do-picapau-amarelo-homem-de- -seu-tempo-ou-racismo-explicito.phtml. 3. “Obra infantil de Monteiro Lobato é tão racista quanto o autor, afimar historiadora”. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/02/obra-infantil-de- -monteiro-lobato-e-tao-racista-quanto-o-autor-afirma-autora.shtml. E, então, aluno (a), após realizar as leituras propostas e refletir sobre o tema, qual é a sua opinião: “O racismo nas obras de Monteiro Lobato, é uma situação pontual e/ou desapro- pria a leitura para crianças e adolescentes? 70UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil CONSIDERAÇÕES FINAIS Aluno (a), Chegamos ao fim dessa unidade III. Durante nossa viagem, percorremos caminhos para conhecer o co contextualização e especificidades do gênero narrativa infanto-juvenil. Depois, dialogamos sobre a importância de trabalhar, na escola, a leitura literatura alinhada aos gêneros discursivos para uma melhor formação de leitores proficientes. Além disso, salientamos o poder colaborativo dessa prática para acionar as mais variada áreas do conhecimento do aluno, favorecendo o exercício do pensamento crítico e reflexivo dele. Soma-se a esses fatores a fundamental necessidade de o educador preparar suas aulas alinhadas às exigências da educação 4.0 e as normativas da BNCC, promovendo por meio de Metodologias Ativas e das Ferramentas Pedagógicas Digitais a autonomia e criticidade dos seus alunos. Por fim, no último tópico, passeamos pelo maravilhoso mundo dos autores brasi- leiros de literatura infanto-juvenil mais renomados: Monteiro Lobato, Pedro Bandeira, Ruth Rocha e Ziraldo. Nesse momento, podemos conhecer um pouquinho sobre a vida e obra de cada um dele, bem como as especificidades de suas obras. Mas sobretudo, e mais importante, salientamos a importância da obra de cada um para a propagação da leitura literária e desenvolvimento do hábito da leitura. Caro(a) aluno, futuro professor de língua materna, desejamos que ao final desse estudo, os assuntos aqui abordados contribuem significativamente para a formação de um professor leitor, ciente da importância da leitura literária, em especial da LIJ, no contexto do escolar. Além disso, que os temas desenvolvidos auxiliem as suas práticas didático-pe- dagógicas. Em suma, salientamos que o todo educador é um eterno aluno e caçador de novos conhecimentos. Sejamos sempre “eternos aprendizes” Um abraço!!!! 71UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil LEITURA COMPLEMENTAR Olá, estudante! Para acrescentar informações ao seu aprendizado, sugiro as seguintes leituras: 1. “O lugar da educação literária nas novas orientações curriculares: uma reflexão sobre os caminhos de Portugal e do Brasil”, artigo publicado na revista RBEP – Revista brasileira de estudos pedagógicos, em 2018, realiza uma comparação entre a formação do leitor literário nos currículos da educação básica de Portugal e do Brasil e ainda, apresenta informações sobre as quais estratégias identificadas nas DCs desses países, que visam a formação do lei- tor literário. Click para ativar novos conhecimentos: http://rbep.inep.gov.br/ojs3/ index.php/rbep/article/view/3320/3055. 2. “Literacia: da narrativa mitológica à transmidiática”: relato de uma prá- tica pedagógica publicada no caderno de práticas, no site da BNCC-Mec, a experiência relatada objetivou desenvolver a prática da leitura por meio do estudo de narrativas míticas e de heróis mediado pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Click para ativar novos conhecimentos: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de- -praticas/ensino-fundamental-anos-finais/152-literacia-da-narrativa-mitologi- ca-a-transmidiatica?highlight=WyJwcm90YWdvbmlzbW8iLCJqdXZlbmlsIiwicH- JvdGFnb25pc21vIGp1dmVuaWwiXQ==. 3. “A narrativa juvenil brasileira: entre temas e formas, o fantástico”, tese de doutorado apresentada ao PLE-UEM, em 2017, apresenta, por meio de uma análise intrínseca das narrativas juvenis, como o fantástico se manifesta na estrutura das dez narrativas que compõem o corpus selecionado, como tem sido apresentado aos jovens leitores brasileiros desde a década de 1970 até a atualidade. Click para ativar novos conhecimentos: http://www.ple.uem.br/ defesas/pdf/kcmatia_do.pdf. 72UNIDADE III Ensino da Literatura Infanto-Juvenil MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: Introdução à literatura infantil e juvenil atual. • Autor: Teresa Colomer / Tradução de Laura Sandroni • Editora: Global, 2017 • Sinopse: A proposta da autora para esse livro foi produzir uma espécie de manual sobre literatura infanto-juvenil. Para tanto, primeiramente, dialogou sobre a função da literatura. Depois, apresentou os aspectos relacionados à mediação. Na sequência, apontou as características desse gênero e, por último, os critérios de seleção. Além disso, fez reflexões sobre as produções literárias e ainda, sugeriu atividades práticas para o trabalho com literatura. Para finalizar, ela apresentou relações de obras adequadas para diversos níveis educacionais. FILME/VÍDEO • Título: Como estrelas na terra • Ano: 2007 • Sinopse: Ótimo filme, para pensar e refletir sobre a prática pe- dagógica. Esse filme indiano relata a história do menino Ishaan, disléxico, que sofria com a repressão do pai e o bullying na escola, porque não conseguia aprender e não era motivado pelos profes- sores extremamente tradicionalistas e conservadores. Tudo muda quando um novo professor consegue enxergar e diagnosticar a dificuldade desse aluno. ELE utiliza, então, diversas estratégias e métodos colaborativos para despertar o interesse de Ishaan pela escola. WEB ● A Monteiro Lobato projetos Culturais, website tem como obje- tivo apresentar informações e divulgar toda a obra de Lobato, mantendo, cada vez mais vivos, no imaginário do nosso povo, a fantasia e os ideais do criador da literatura infantil brasileira. Link do site: http://www.monteirolobato.com/direitos-autorais. ● Coletivo Leitor disponibiliza gratuitamente artigos e conteúdos relacionados à formação do leitor literário e literatura em sala de aula. Apresenta também os lançamentos das editoras par- ceiras. Link do site: https://www.coletivoleitor.com.br/. 73 Plano de Estudo: ● Conceitos e Definições sobre Projetos em literatura infanto-juvenil ● Campos de estudo da literatura como recurso de aprendizagem da leitura e da escrita ● Tipos de Recursos didático para narração de histórias Objetivos de Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar os Projetos em literatura infanto-juvenil desenvolvidos em sala de aula. ● Dialogar sobre a importância do trabalho da literatura como recurso de aprendizagem da leitura e da escrita. ● Compreender a utilização dos diversos recursos utilizados para contar histórias: manuais e tecnológicos. UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil Professora Mestre Greicy Juliana Moreira 74UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil INTRODUÇÃO Acadêmico(a), olá!!! Seja muito bem-vindo(a)!!! Chegamos à última unidade do nosso livro sobre Lite- ratura Infanto Juvenil, a unidade IV – Prática Pedagógica e Literatura Infanto-Juvenil. Agora, nosso diálogo será mais específico, abordaremos assuntos relacionados às prática pedagógicas e o ensino de literatura infanto-juvenil em sala de aula. Para iniciarmos, vamos mergulhar no mundo dos projetos em literatura infanto-juve- nil. Para tanto, apresentaremos informações sobre os pilares da Educação 4.0, Metodologias Ativas, normativas da Base Nacional Comum Curricular -BNCC para desenvolvimentos de Projetos Pedagógicos e para ilustrar disponibilizamos exemplos de experiências aplicadas com alunos da educação básica. Depois,entenderemos a função da literatura como recurso de aprendizagem da leitura e da escrita e com intuito de justificar a importância dessa prática recorremos às acepções teóricas do letramento literário e da escolarização da leitura leitura em sala de aula. Além disso, para acrescentar conhecimentos, disponibilizamos exemplos de práticas pedagógicas de sucesso, aplicadas por educadores durante as aulas de língua materna. Por fim, para maximizar seu aprendizado, vamos conhecer exemplos de diversos recursos didáticos (manuais e tecnológicos) utilizados para narração de histórias literárias. Então, embarque comigo nesta jornada e desvende um mundo cheio de novas descobertas!!! 75UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil 1 PROJETOS EM LITERATURA INFANTO-JUVENIL Estudante, vamos iniciar nosso diálogo sobre os “Projetos em literatura juvenil”, para tanto, primeiramente, faz-se necessários entendermos os pilares da educação 4.0, uma vez que, isso corrobora com nossa prática pedagógica. Posteriormente, nossa conversa permeará as acepções sobre as Metodologias Ativas e suas contribuições para o desenvolvimento de projetos em literatura juvenil. Na sequência, estudaremos as normativas da Base Nacional Curricular Comum relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, mais especificamente sobre o trabalho com a literatura e sua importância para desenvolver o hábito da leitura literária. Para finalizar esse tópico, com intuito de ampliar seus horizontes, disponibilizamos exemplos de projetos literários aplicados por educadores. Então, venha comigo desvendar esse interessante mundo de projetos literários, contextualizados na educação 4.0. 1.1 Educação 4.0 Estudante, tudo muda o tempo todo no mundo e com a educação não é diferente, pois ela não é obsoleta. A LDB 9394/1996, como é sabido, alterou os parâmetros da educa- ção e contribuiu significativamente para as transformações das práticas pedagógicas dos educadores brasileiros. Contudo, vivemos em constantes mudanças sociais e um futuro 76UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil professor de língua materna, docente do século XXI, precisa estar preparado para o novo cenário educacional. Então, acadêmico(a), eu pergunto: -Você sabe o que significa e quais são os pilares da Educação 4.0-E4? Então, é por esse motivo, para ampliar seus horizontes que te convido a se apro- fundar conosco nesse novo contexto educacional 4.0 Para iniciarmos nosso diálogo, numa linha do tempo, recordamos alguns momentos históricos relacionados à educação: ● Educação 1.0: Meados do século XVIII, elitizada, tradicionalista, individualista, foco no educador e, os recursos utilizados eram lousa, livros e cadernos. ● Educação 2.0: Depois da Revolução Industrial até mais ou menos meados do século XX, o foco era a sala de aula e a memorização. A dinâmica das aulas passeava entre o coletivo e o individual. A utilização de recursos tecnológicos era pouca e centralizada nos laboratórios de informática e/ou ciências. ● Educação 3.0: Era da internet e tecnologia que integra pessoas. As aulas são mais participativas e sobretudo, colaborativas, desenvolvendo o trabalho em equipe. Nesse momento, inicia-se o ensino híbrido (presencial e à distância). ● Educação 4.0: automaticamente nossos conhecimentos nos remete a outra expressão” Indústria 4.0 e/ou 4ª Revolução Industrial”, ou seja, um mundo totalmente automatizado, imerso em uma revolução tecnológica: a linguagem computacional, inteligência artificial, Internet das coisas (IoT), entre outras. Como vivemos em sociedade, a área da educação está diretamente ligada a esse contexto tecnológico em rede, pois as crianças e jovens vivenciam a tecnologia e estão to- talmente conectados com esses novos recursos. Por isso, justifica-se esse termo utilizado para denominar o contexto educacional atual. Esse novo método de ensino, muito além dos aspectos tecnológicos, contempla o termo learning by doing, que traduzindo significa “aprender por meio da experimentação”, e isso, caro(a) estudante, está diretamente re- lacionado ao desenvolvimento de projetos, aprender fazendo, vivências, que é o conteúdo específico desse tópico (CARVALHO NETO, 2017). A E4, abordagem teórico-prática, tem como objetivo principal ir além, ultrapassar os conteúdos curriculares, ampliar os horizontes, ou seja, aprendizagem indispensável para a vida em sociedade, no século XXI: eficaz comunicação, resolução de problemas, 77UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil utilizar ferramentas e métodos para tomar decisões rapidamente, criativamente e criticidade (CARVALHO NETO, 2017). De acordo com Carvalho Neto (2017), os quatros referenciais teórico-metodológi- cos da E4, considerados pilares são: 1. Modelo sistêmico: as instituições precisam avaliar o cenário atual, com intuito de preparar estratégias para a mudança da abordagem de ensino; 2. Mudança do senso comum: instituições e educadores precisam buscar re- ferenciais teóricos para elaboração de aulas com um novo conceito frente às novas realidades; 3. Gestão do conhecimento estudo das competências e habilidades dos alunos; 4. Cibercultura: preparação e organização dos espaços de aprendizagem para que atinjam o propósito da Educação 4.0. Estudante, mas por que é preciso repensar o papel do professor no século XXI? E ainda, por que os pilares da E4 estão relacionados ao contexto desta unidade? Autor renomado, que publicou diversos artigos e livros sobre o assunto, assevera que houve mudanças significativas relacionadas a plasticidade cerebral de jovens (geração Y e Z) imersos na cultural digital, como por exemplo, o pouco tempo de atenção produtiva durante as aulas quando comparado aos alunos de outras gerações. Nesse sentido, os pilares que sustentam a E4 apontam interconexões, que direcionam para novas práticas pedagógicas, em especial auxiliam o professor de língua portuguesa ao desenvolver pro- jetos literários para motivar os alunos e conduzi-los a novos conhecimentos sociais como também científicos (CARVALHO NETO, 2017). Para ampliar nossos horizontes sobre esse novo contexto educacional, na sequên- cia, vamos entender o que são Metodologias Ativas e o porquê de utilizar essas novas metodologias em sala de aula, especificamente nas aulas de literatura, com essa geração 4.0. 1.2 Metodologias Ativas No contexto atual da E4, o docente, no decorrer da sua prática pedagógica, precisa levar em consideração que aprendizagem não acontece simplesmente pelo ato de ouvir e/ ou escutar, mas efetivamente quando os alunos elaboram o que recebem, porque trabalham 78UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil cognitivamente com o meio lhes oferecem. Nesse sentido, a aprendizagem colaborativa é muito mais eficaz, conforme destaca o psiquiatra norte americano William Glasser ao apre- sentar a Pirâmide da Aprendizagem, ele revela, portanto, que quando ensinamos alguma coisa à alguém (explicar, ilustrar, demonstrar, etc) retemos 95% e ainda, que nossa reten- ção ao praticar (escrever, demonstrar, utilizar, etc) gira em torno dos 85%, diferentemente, quando apenas lemos, nossa retenção fica na casa dos 10%, já que “A boa educação é aquela em que o professor pede para que seus alunos pensem e se dediquem a promover um diálogo para promover a compreensão e o crescimento dos estudantes” (GLASSER, 2017). Infere-se, então, que as práticas pedagógicas precisam contemplar o processo de produção dos saberes por meio de participação ativa de professores e alunos, ou seja, ensinar e aprender a partir de projetos e para corroborar com essas práticas entram em cena as Metodologias Ativas de Aprendizagem (VICKERY, 2016): Aluno(a), agora, para exemplificar, apresentaremos informações sobre algumas Metodologias Ativas de Aprendizagem, que são utilizadas como recurso tecnológico e didático As metodologiasativas enfatizam o desenvolvimento autônomo do aluno e estimu- lam o raciocínio e a busca do conhecimento, nesse contexto pedagógico, o estudante é o protagonista. Contudo, o sucesso de toda prática pedagógica depende muito da preparação e mediação do professor. Muitas são as formas de utilização das metodologias ativas em sua sala de aula, mas todas, mesmo com suas especificidades e objetivos diferenciados, almejam o protago- nismo do estudante. Conheça alguns exemplos (VICKERY, 2016): ● Resolução de problemas: A aprendizagem baseada em problemas objetiva a resolução colaborativa dos desafios propostos. Desenvolve a habilidade de investigação, reflexão e criatividade. A função do professor é incentivar o aluno a buscar uma solução. ● Entre times e Pares: Essa técnica prioriza o compartilhamento de ideias em pequenos grupos, como por exemplo, debater, refletir e construir pensamento crítico sobre um estudo de caso apresentado. A função do professor é o mediar e orientar. 79UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil ● Sala de aula invertida: A ideia é disponibilizar material de estudo, antecipada- mente, por meio de recursos online e/ou impresso para que haja a leitura e es- tudo em home office. No decorrer da aula, o professor vai fazer considerações e questionamentos sobre o tema proposto, estimulando a troca de conhecimentos. ● Aprendizagem Cooperativa: Essa técnica prioriza o desenvolvimento de compe- tências importantes propostas pela BNCC – Base Nacional Comum Curricular, porque nessa técnica de aprendizagem as responsabilidades são distribuídas e isso desenvolve as habilidades de raciocínio e socioemocionais. Além disso, possui como referência quatro princípios básicos: participação equivalente; interdependência positiva; produção individual; alta Interação Simultânea. ● Projetos: Nessa técnica, um problema é apresentado ao grupo para que seja primeiramente avaliado, depois os alunos precisam encontrar a origem do problema para apresentar as possibilidades de soluções possíveis e viáveis. Essa atividade enfatiza o fazer, ou seja, o estudante precisa “colocar a mão na massa” e realizar a ação, diferentemente da técnica de “problemas”, na qual a resolução é apenas teórica. De acordo com o que foi exposto, as metodologias ativas fazem com que o aluno participe ativamente do seu processo de aprendizagem, desenvolve habilidades e caracte- rísticas para a vida em sociedade e ainda, prepara o estudante para o mundo do trabalho. Além disso, é possível também explorá-las para incentivar a leitura literária. Assim, os projetos literários, essenciais para a formação e o desenvolvimento dos alunos, podem ser desenvolvidos por meio desses métodos ativos e ainda com recursos tecnológicos. Com intuito de aprofundar os conhecimentos, na sequência, vamos dialogar mais especificamente sobre “Projetos em Literatura”. 1.3 Projetos de Literatura e a BNCC Caro aluno(a), como disseminar a literatura em sala de aula por meio de projetos é o nosso diálogo nesse momento. Os projetos literários utilizados como prática pedagógicas e aplicados no decorrer das aulas de língua materna estabelecem diálogos, integram diferentes saberes por meio da interdisciplinaridade com as diversas áreas do conhecimentos. O trabalho interdiscipli- nar é uma proposta pedagógica transversal e integradora e está entre um dos dez planos 80UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil de ação para a aprendizagem da BNCC “[…]formas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem (BRASIL, 2017, p. 12). Assim, para corroborar com seu aprendizado vamos dialogar, primeiramente, sobre as normativas da BNCC relacionadas à educação literária e projetos, mas como a literatura aparece nesse documento? A literatura não é um componente curricular específico, no entanto, em diversos momentos e áreas ela é citada e aparece como primordial instrumento para o desenvolvimento do leitor competente. A BNCC ao discutir o ensino de Língua Portuguesa, em especial a literatura, sa- lienta que a leitura em suas diversas linguagens (orais escritas e semióticas) amplia as múltiplas experiências, proporcionando ao aluno um olhar crítico para atuar em sociedade. Justifica-se, portanto, a partir dessas acepções, desenvolver projetos literários que contem- plem “práticas de linguagem que decorrem da interação ativa do leitor/ouvinte/espectador com os textos escritos, orais e multissemióticos e de sua interpretação, sendo exemplos as leituras para: fruição estética de textos e obras literárias” (BRASIL, 2018, p. 69). Estudante, coaduna-se com o assunto em questão “projetos em literatura infan- to-juvenil”, acepções encontradas no primeiro bloco da BNCC, 1º ao 5º ano, na terceira habilidade EF15LP18, ao abordar a questão da formação do leitor/leitura multissemiótica, sugere-se que as práticas pedagógicas desenvolvam a habilidade de relacionar texto com ilustrações e outros recursos gráficos e isso vai ao encontro do assunto em questão, pro- jetos literários por meio de metodologias ativas, que contemplem as diversas formas de ler um texto, extrapolando sua superficialidade (BRASIL, 2018). Infere-se, portanto, que a formação do leitor deve ser trabalhada, em especial em sala de aula, por várias maneiras de ler, ou seja, por diversas formas e suportes, ultra- passando as barreiras do texto escrito. Assim, as várias formas de ler literatura libertam e ampliam os horizontes dos alunos e isso, só é possível por meio de práticas pedagógicas inovadoras, como por exemplo utilizar as metodologia ativa de projetos nas aulas de língua portuguesa. Acadêmico (a), mas por que trabalhar com projetos? Vivemos numa época de reestruturação, globalização e avanço tecnológico. A me- lhoria do sistema educacional é um fator fundamental, pois exige que as novas gerações possuam competências no domínio de conhecimentos específicos, no domínio de lingua- 81UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil gens, no domínio das relações humanas e, acima de tudo, que possuam competências e habilidades empreendedoras. As mudanças sócio-políticas do mundo contemporâneo requerem que a educação esteja presente cada vez mais nos diferentes espaços. Por isso, tornam-se necessárias também algumas mudanças no enfoque metodológico da Educação, adequando-as às novas exigências da sociedade em que vivemos. Sociedade essa que necessita urgente- mente de ações inovadoras. A formação básica do cidadão na escola, no ensino fundamental demanda-se o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, a compreensão do ambiente material e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, além de atividades que despertem o empreendedorismo. Já o Ensino Médio tem a função de consolidação dos conhecimentos e a preparação para o mundo do trabalho. É importante ressaltar, que os estudantes de escolas públicas, apresentam baixo rendimento escolar e índices de reprovação. Consequentemente, não adquiriram eficaz- mente conhecimentos relevantes para a vida em sociedade, como saber ler e escrever de forma competente, habilidades essenciais para o exercício da cidadania e atuação no mundo corporativo. Assim sendo, o papel do professor, num contexto de ensino-aprendizagem, é investigar o que está dando certo ou errado. Além disso, diagnosticar o que precisa ser modificado ou acrescentado, e também, intervir nos problemas identificados com intuito de resolvê-los. Conforme ressalta o autor ”[...] na escola ou na sala de aula...[ ]responder a três perguntas: O que está acontecendo aqui? (BORTONI –RICARDO , 2006, p. 31). Nessa perspectiva educacional,cabe ao professor, por meio de sua intervenção pedagógica, propiciar situações significativas de aprendizagem, em que o saber prévio dos alunos seja resgatado e reelaborado, contextualizando-se o conhecimento formal e ampliando-os. É sabido que o trabalho com atividades literárias deve ser conciliado com o conteú- do estruturante da educação básica como ler e escrever. Considerando essas afirmações, acredita-se que, o desenvolvimento de Projeto Literária seja importante para o processo de formação do aluno, pois corrobora para o desenvolvimento de habilidades como: aprender a conhecer, a fazer, a ser e a conviver, ou seja, vão ao encontro dos quatro pilares da educação 4.0. Coaduna-se a essa proposta, o papel da escola básica, que tem por função principal desenvolver trabalhos, considerando as vivências sociais dos alunos, mas também propi- 82UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil ciar conhecimentos necessários para o desenvolvimento acadêmico, social e profissional. Conforme aponta os dizeres das DCEs do Paraná, subsidiadas pela teoria bakhtiniana e seu círculo (PARANÁ, 2008). Com base nas acepções, entendemos ser imprescindível desenvolver formas diferentes de aprendizados, ou seja, despertar o interesse dos alunos a partir do que é significativo para ele. Nesse sentido, espera-se que a instituição, num contexto de projeto de educação democrática, seja responsável pelo desenvolvimento de alunos empreendedores, tanto pessoal como profissionalmente. Para tanto, é interessante que promova meios, nos quais os alunos entrem em contato com diversas situações de aprendizagens inovadoras e prá- ticas, que os possibilitem participar de um circuito da sociedade moderna como cidadãos ativos. Assim, é função do professor fornecer ao aluno condições adequadas de elabora- ção, permitindo-lhe empenhar-se na realização consciente de um trabalho que realmente tenha sentido para ele. Isso só é conseguido à medida que a proposição das atividades seja bem clara e definida, apresentando-se as “coordenadas” do contexto de produção. Quando o aluno deixa de ser passivo no processo de construção do conhecimento, ele começa a ver significado nos conteúdos estruturantes e atitudes empreendedoras começam a surgir. Portanto, de acordo com o que foi exposto, a intenção ao trabalhar com projeto de literários, contribui para formação de indivíduos com melhores desempenhos e competên- cias leitoras, isto é, pessoas que conseguem se efetivar e ter êxito nas diversas situações sociais. Aluno(a), agora vamos entender o conceito de “Competência” para elaboração de Projeto. Para o desenvolvimento de projetos pedagógicos é importante entender o conceito de competência, pois o projeto literário é articulado para alcançar determinadas aptidões essenciais para o aprimoramento individual do aluno. O ativo intelectual é hoje um dos aspectos estudados pelas organizações que buscam encontrar nos colaboradores conhecimentos diversos que acabem transformando esforços em resultados. Hoje, com o avanço da tecnologia torna-se imprescindível que as organizações busquem o capital intelectual como diferencial competitivo no mercado, pois como menciona Oliveira (2009, p. 191) “querendo ou não, a informação e o conhecimento se democratizam não apenas na sociedade, como também no interior das organizações. ” 83UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil Assim buscamos responder - O que é competência? A competência não é um con- ceito novo, porém nos últimos anos tem sido pautas para as questões de aprimoramento pessoal, pedagógico e profissional. O autor renomado nos estudos sobre o tema destaca que a competência designa a capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos para enfrentar um tipo de situação (PERRENOUD, 2000). De acordo com os estudiosos no assunto, então o termo “projeto” designa uma forma de simular situações que exijam do indivíduo aspectos importantes que uma em- presa busque. É papel do professor mediar essa aprendizagem e desenvolver aspectos psicológicos e operacionais, como cita Ribeiro (2005, p. 33) a “aprendizagem envolve três domínios da individualidade, quais sejam: os aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor”. O projeto se inicia pelo planejamento das estratégias, que são atitudes criativas e ações intuitivas que tendem a levar a empresa ao sucesso (THOMPSON, 2008). A execução é desenvolvida inteiramente pelos estudantes, que por fim devem apresentar um trabalho consistente sendo embasado em todo o conteúdo aprendido e ad- quirido durante esse processo. O projeto é uma forma do aluno aprimorar todo a informação aprendida em sala e o ainda permite mostrar a importância da capacitação. O projeto literário a ser desenvolvido precisa atingir as seguintes competências: trabalho em equipe, criatividade, sustentabilidade e atitudes empreendedoras, sem detri- mento da função social da literatura. Agora, para finalizar esse tópico tão importante e colaborativo para sua formação, na sequência, com intuito de ilustrar o conteúdo abordado, disponibilizamos exemplos de projetos literários desenvolvidos por educadores. Esses e outro projetos estão disponíveis para consulta, no site da BNCC-MEC. = Literacia: da narrativa mitológica à transmidiática: O objetivo desse projeto foi promover a aquisição e o desenvolvimento da prática da leitura por meio do estudo de narrativas míticas e de heróis, com o intuito de incentivar o letramento literário colaborativo mediado pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Para saber mais, dê um click: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ implementacao/praticas/caderno-de-praticas/ensino-fundamental-anos-finais/ 152-literacia-da-narrativa-mitologica-a-transmidiatica?highlight=WyJsaXRlcmF- 0dXJhIl0= = Projeto Sacola Viajante – Literatura Infantil: Esta prática objetivou ampliar a imaginação e incentivar a descoberta do universo literário, confrontando realida- 84UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil de e fantasia. Além disso, ela auxiliou no desenvolvimento do gosto pela leitura e por histórias, estimulando também o lúdico e o faz de conta. Para saber mais, dê um click: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/ caderno-de-praticas/educacao-infantil/187-projeto-sacola-viajante-literatura- -infantil?highlight=WyJsaXRlcmF0dXJhIl0= = Nas rodas do saber: uma prática inovadora no desenvolvimento do gosto pela lei- tura: O intuito desse projeto foi promover o hábito da leitura nos alunos, bem como o gosto pela literatura por meio das tecnologias de informação e comunicação. Para saber mais, dê um click: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implemen- tacao/praticas/caderno-de-praticas/ensino-medio/173-nas-rodas-do-saber-u- ma-pratica-inovadora-no-desenvolvimento-do-gosto-pela-leitura=2-?highlight- WyJpbnRlcmRpc2NpcGxpbmFyaWRhZGUiXQ== = Entrelinhas: uma plataforma socioeducacional: O objetivo desta prática foi despertar o interesse pela leitura e desenvolver o “comportamento leitor”, mobi- lizando os alunos em ações de intervenções na escola e na comunidade. Para saber mais, dê um click: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/ praticas/caderno-de-praticas/ensino-medio/79-entrelinhas-uma-plataforma-so- cioeducacional?highlight=WyJsaXRlcmF0dXJhIl0= = A Saga do Herói: das aulas de História à tela dos cinemas: Esse projeto teve como objetivo explorar a saga do herói presente no estudo de momentos históricos, analisando as informações neles contidas e seu reflexo na dis- seminação de conceitos e culturas transversais à história. Para saber mais, dê um click: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/ caderno-de-praticas/ensino-medio/105-a-saga-do-heroi-das-aulas-de-historia- -a-tela-dos-cinemas?highlight=WyJsaXRlcmF0dXJhIl0= 85UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil2 LITERATURA COMO RECURSO DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA Olá, aluno(a)! Chegamos ao segundo tópico da unidade IV. Agora, o nosso objetivo será dialogar sobre a “literatura como recurso de aprendizagem da leitura e da escrita”. Já falamos, em outros momentos, sobre a importância da leitura literária para a formação do leitor competente, então, aqui, nosso objetivo é direcionar nossos olhares para as práticas de ler e escrever, exercícios essenciais para o fortalecimento da cidadania, utilizando a literatura como recurso. No entanto, precisamos salientar, como já dissemos anteriormente, que o trabalho com a literatura proporciona riqueza pedagógica e faz a diferença na vida do aluno, contudo não pode ser essa sua única função, porque a literatura tem o papel essencial de levar o estudante a extrapolar os muros da escola, ir além e viajar por mares nunca antes navegados. A literatura é um instrumento essencial de transformação e formação de leitores, uma vez que, dentre muitas funções possibilita a expansão do conhecimento e leva o aluno a refletir “de um modo geral, a literatura amplia e enriquece a nossa visão da realidade de um modo específico, permite ao leitor a vivência intensa e ao mesmo tempo a contemplação crítica das condições e possibilidades de existência humana” (CUNHA, 2006, p. 57). 86UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil Assim, na escola, em particular nas aulas de língua materna, cabe ao educador utilizar estratégias eficazes para desenvolver o hábito da leitura e formar leitores competen- tes. É, nesse momento, que a literatura entra em cena e satisfaz os anseios pedagógicos do professor, pois é completa em todos os sentidos, então justifica-se sua utilização como recursos para as aulas de ensino-aprendizagem da leitura e escrita, contudo, “uma pe- dagogia da leitura que objetiva a transformação do leitor, e através deste, da sociedade, dificilmente se funda na descrição da estrutura do(s) texto(s) (ZILBERMAN, 2005, p. 115). Escolher a literatura juvenil como protagonista, porque ela, com suas especificida- des, leva o aluno a extrapolar os limites do tempo e viajar pelo mundo da imaginação, isso se justifica, também porque “De fato, tanto a obra de ficção como a instituição do ensino estão voltadas à formação do indivíduo ao qual se dirigem. (ZILBERMAN, 2003). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a prática da leitura/ escrita por meio da literatura deve contemplar a construção da identidade do aluno leitor, além de habilidades e competências. Para tanto, sugere-se promover algumas estratégias para que ele: perceba as diferenças entre textos literários e não literários; Faça compa- ração entre diversidade de textos literários e não literários; Identifique as características do autor através dos indícios gramaticais; Desenvolva o domínio do discurso por meio da argumentação oral por meio de diversos gêneros textuais; Produza e avalie criticamente textos seus e outros (BRASIL, 1998). O letramento literário, uma extensão do termo letramento, versa sobre a experiência da literatura vinculada à leitura e a escrita, objetivando desenvolver a competência leitora dos estudantes por meio de estratégias específicas. A autora renomada no assunto salienta que “O letramento é um conjunto de práticas sociais que perpassam a escrita” (KLEIMAN, 1995, p. 20). Em diálogo com a acepção anterior sobre o letramento em sala de aula e ampliando esse conceito, o autor salienta que “o letramento literário enquanto construção literária dos sentidos se faz indagando ao texto quem e quando diz, o que diz, como diz, para que diz e para quem diz” (COSSON, 2006, p. 17). Infere-se, portanto, a partir desses diálogos, que essa prática de letramento literário precisa ser realizada em sala de aula, por meio da mediação do professor, uma vez que, tais entendimentos serão possíveis quando dialogados com outros textos/gêneros textuais, ou seja, estratégias de leitura literária que corroboram à formação do leitor competente (COSSON, 2006). Aluno(a), ao abordamos a utilização da literatura como recurso para a leitura e a escrita em sala de aula, precisamos pensar sobre como serão propostas e desenvolvidas as estratégias adequadas de leitura para alcançar com efetividade os objetivos propostos 87UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil pela escola, ou seja, os fins educativos e formadores, sem desconsiderar a função social da literatura. Para isso, recorremos às diversas instâncias de escolarização da literatura que vão desde a biblioteca, a leitura de livros, até a leitura e estudo de textos (SOARES, 2006). Para ampliar os estudos, salientamos que o ato de ler desencadeia sete habilidades: conhecimento prévio, conexão, inferência, visualização, perguntas ao texto, sumarização e síntese. Assim, o educador tem papel essencial para explorar didaticamente tais habilida- des no momento de utilização da literatura como recurso pedagógico (PRESSLEY, 2002). Aluno(a), para finalizar esse tópico e com o intuito de ilustrar as acepções discutidas e proporcionar um melhor aprendizado, a seguir, exemplificamos o uso da literatura como recursos para as aulas de leitura e escrita, apresentando práticas pedagógicas aplicadas em sala de aula, que foram destaques em suas escolas. = Letramento Literário: Esta prática tem como objetivo promover uma interven- ção na leitura de poemas na escola, proporcionar autonomia na elaboração de sentidos das leituras na perspectiva do letramento literário significativo e iniciar a formação de uma comunidade de leitores pela socialização de experiências. Para saber mais, dê um click: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implemen- tacao/praticas/caderno-de-praticas/ensino-fundamental-anos-finais/149-letra- mento-literario-na-escola-o-texto-poetico-no-processo-de-ensino-aprendiza- gem?highlight=WyJsZWl0dXJhIiwiZXNjcml0YSJd = Crônicas digitais: a multimodalidade na escolarização da literatura: Este trabalho consiste no relato de uma experiência voltada à sistematização de me- canismos favorecedores da leitura do texto literário e da produção de crônicas digitais. Para saber mais, dê um click: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ implementacao/praticas/caderno-de-praticas/ensino-medio/81-cronicas-digi- tais-a-multimodalidade-na-escolarizacao-da-literatura?highlight=WyJsZWl0dX- JhIiwiZXNjcml0YSJd = Nas rodas do saber: uma prática inovadora no desenvolvimento do gosto pela leitura: Promover o hábito da leitura nos alunos, bem como o gosto pela litera- tura por meio das tecnologias de informação e comunicação. Para saber mais, dê um click: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/ caderno-de-praticas/ensino-medio/ 88UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil 3 RECURSOS DIDÁTICO PARA NARRAÇÃO DE HISTÓRIAS Olá, acadêmico(a)!!! Chegamos ao último tópico da unidade IV. Quem lê viaja e para finalizar nossa viagem sobre esse vasto mundo da leitura literária em sala de aula, mais especificamente sobre as práticas pedagógicas utilizadas para trabalhar a literatura sem desfazer da sua função social. Então, agora, para finalizar, conheceremos os mais variados “recursos didático para narração de histórias”, em sala de aula. 3.1 Recursos didático para narração de histórias A arte de contar histórias é uma atividade humana milenar encantadora e de- safiadora. No contexto escolar, essa prática justifica-se porque, o ato de ouvir histórias literárias proporciona o início da formação leitora de qualquer aluno. Além disso, favorece o desenvolvimento da linguagem oral, estimulando o gosto e hábito pela leitura literária, proporciona também a interação entre alunos e professores, e ainda, transporta os ouvintes para um mundo de fantasias e imaginações, e sobretudo, está de acordo com os objetivos gerais da BNCC de LínguaPortuguesa para o EF(EF15LP03, EF15LP15 e EF35LP01, EF35LP02) (BRASIL, 2018). 89UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil De acordo com o exposto no tópico anterior, para realizar qualquer atividade de leitura e para que não haja uma escolarização da leitura deturpada, faz-se necessário um planejamento prévio, ou seja, o professor precisa, antes de tudo, investigar o estilo de literatura e o gênero mais adequado ao público/alvo. Depois, planejar o momento para a aula de contação de histórias literária e ainda, verificar quais serão as estratégias de leitura/ recursos contemplados nessa aula e/ou projeto literário (COSSON, 2006). A seguir, são apresentadas ideias de recursos manuais e populares utilizados por educadores para contação de histórias, nas escolas e/ou comunidade, com o intuito de instrumentalizar e sugerir atividades criativas/alternativas para essa prática pedagógica: ● Varal de histórias: faça um varal e pendure trechos, imagens, capa do(s) livro(s) que serão narrados; ● Mala de histórias: apresente uma mala decorada e dentro coloque objetos e fantoches que fazem parte do contexto da história a ser contada naquele dia. Dê asas à imaginação dos seus alunos. ● Avental/painél de histórias: No decorrer da narração, retire do avental persona- gens e objetos confeccionados com materiais diversos (EVA, reciclados, etc) e construa, em um painel, uma ilustração que resume a ideia principal da obra literária. ● Teatro de fantoches: Construa fantoches com os mais variados recursos e utili- ze-os para ilustrar sua narração. ● Histórias Sonoras: No momento prévio à atividade, é interessante que o educador leia a história cri- ticamente, analise-a, conheça os personagens e suas características para poder utilizar o recurso de entonação vocal, expressando a melodia da fala e caracterizando sonoramente cada personagem Antes de iniciar o ato de contar a história, o professor tem que preparar o local, no qual acontecerá o evento narrativo. O céu é o limite, use a imaginação, contudo, lugares confortáveis e aconchegantes fazem a diferença. Estudante, como conversamos nos outros tópicos, a tecnologia é uma realidade e está ativamente inserida em nossas vidas, seja no contexto pessoal, social e/ou acadêmico e o uso dos mais variados recursos midiáticos para contação de história têm se multiplicado, pois somos cidadãos 4.0. Assim, abordar questões relacionadas às estratégias metodoló- 90UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil gicas e meios tecnológicos em sala de aula é essencial, porque precisamos, enquanto educadores, desenvolver competências e habilidades ligadas à tecnologia. A tecnologia contribui muito para o processo de ensino e aprendizagem. Então, com o advento da Indústria 4.0 e para atender os anseios da E4, surgiram uma vasta gama de ferramentas web que possibilitam contar histórias em novas mídias digitais – online –storytelling. A seguir, uma lista com as melhores e mais utilizadas para esse contexto de contação de histórias (GÓIS, 2018, online): ● Storymap: Esta ferramenta ajuda a contar histórias com fotos, textos e vídeos; ● Timeline: Com esta ferramenta, você pode processar datas e eventos de plani- lhas; Quando sua história for cronológica, tente a Linha do tempo. ● Sway: Um gerenciador de layouts e apresentações extremamente poderoso. Conte histórias por meio de vídeos, textos, áudio, tweets, quase tudo que você quiser. É fácil incorporar conteúdo de diversas mídias e formatos; ● Canva: Esse não é bem novidade mas ainda é um dos apps mais úteis da lista. A ferramenta permite arrastar e soltar com facilidade para projetar rapidamente peças gráficas e apresentações de mídia social. ● Steller: Com este aplicativo você pode contar uma história nas mídias sociais através de fotos, vídeos e textos. Uma alternativa para se criar público e enga- jamento, além de também ser possível criar histórias com um design lindo. ● IZI.Travel: Pensar em histórias acessíveis se tornou uma obrigação para qual- quer criador de conteúdo e isso é ótimo. Incluir pessoas com deficiência (neste caso, visual) não só inclui essas pessoas a um mundo cada vez mais digital e híbrido como também cria oportunidades de novas combinações transmídia e possibilidades de storytelling. Nesta ferramenta, combine áudio com texto e imagens Aluno (a), a partir do que foi exposto, entendemos que o papel do professor é de extrema importância para mediar esse processo de despertar o hábito da leitura literária e formar leitores competentes. Portanto, os recursos para contação de histórias manuais e tecnológicos apresentados auxiliam nessa seara e contribuem efetivamente para o sucesso das práticas pedagógicas propostas. 91UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil SAIBA MAIS Literatura e Cinema – a arte de contar histórias em LIBRAS. No Cinemão, um programa que transmite todos os gêneros cinematográficos, incluindo documentários premiados em libras, com legenda e locução, você encontra, por exemplo, o conto “Um Apólogo –Machado de Assis”, a história do “Menino Maluquinho – Ziraldo”, dentre outros. Esse é um dos programas da TVINES (Parceria do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP) viabiliza a primeira webTV em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Para viajar no mundo dessas histórias maravilhosas, click aqui: http://tvines.org.br/?p=16313. REFLITA Caro(a) Aluno(a), reflita sobre: As novas tecnologias como possibilidade de auxílio no processo de ensino-apren- dizagem para as aulas de leitura literária contribuem e/ou atrapalham? Para auxiliá-lo em sua reflexão, sugiro as seguintes leituras: Artigo: Letramento literário multimodal e intermidiático: a construção do leitor/ scriptor de uma nova mídia” - esse artigo apresenta uma experiência didática realiza- da com estudantes da graduação de Letras. O objetivo do curso, intitulado “Adaptação Literária e Multimodalidade”, era o de levar o aprendiz a se apropriar dos conceitos fun- damentais de multimodalidade e de intermidialidade por meio de análise de adaptações literárias em diversas mídias. A estratégia didática adotada foi a de convidar o aprendiz a tomar o papel de autor/scriptor de uma transposição intermidiática multimodal através do manuseio de uma obra literária pertencente a uma mídia verbal textual (mídia-fonte) com o objetivo de reconfigurá-la em uma mídia qualificada – filme, HQ, stop-motion etc. (mídia-alvo) a partir de sua apropriação da linguagem literária textual. 92UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil Artigo: Do livro ilustrado ao aplicativo: reflexões sobre multimodalidade na literatura para crianças. Este trabalho busca refletir sobre a diversidade de recursos semióticos presente na literatura infantil contemporânea, analisando os efeitos dos avanços tecno- lógicos sobre o texto literário. Utilizando alguns conceitos originários dos estudos sobre a multimodalidade, analisa os potenciais de sentido resultantes da articulação entre re- cursos verbais e não verbais na literatura impressa e digital, a partir das obras Flicts, “A girafa” e “Cigarra”, da série “Ave, palavra”, de Angela Lago, e do aplicativo de literatura para crianças Es así, de Paloma Valdivia. Livro: Gêneros multimodais, multiletramentos e ensino. A obra consiste em uma compilação de trabalhos que se materializou em dois momentos: a realização da expe- riência de estágio pós-doutoral em que, foi ministrada a disciplina “Tópicos Avançados em Estudo do Texto e do Discurso: estratégias argumentativas dos textos verbo-imagé- ticos”, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), em 2018, quando os alunos foram estimulados a apresentarem diferentes perspectivas de análise para os memes e para alguns outros gêneros nos quais a multimodalidade se fez presentecomo elemento articulador de significados. Disponível em: https://ebookspedroejoaoeditores.files.wordpress.com/2019/03/livro-ana-maria-lima-e- book-final.pdf?fbclid=IwAR0ZkcEGe5o5VeDaYwnzeHEZQCtS9y90zPOoXOrdM2vq- taJ6-OiF6f-DWYo 93UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil CONSIDERAÇÕES FINAIS Olá, aluno (a)! Enfim, chegamos ao final da unidade IV, na qual abordamos temas relacionados às práticas pedagógicas direcionadas ao trabalho com a literatura infanto-juvenil. Assim, no decorrer de toda essa unidade, justificamos a importância da presença efetiva da leitura literária em sala de aula, pois ela tem a capacidade de formar pensamentos críticos, além desenvolver competências que melhoram a relação do aluno com o mundo. No primeiro tópico, dialogamos sobre como desenvolver projetos com literatura infanto-juvenil, mas para isso, primeiramente, nos debruçamos sobre os pilares da educa- ção 4.0, com o intuito de entendermos melhor essa nova realidade e ainda conhecer quais os desafios que precisaremos superar, nesse novo contexto social. Direcionamos nossos olhares também para as metodologias ativas de aprendizagem, assim compreendemos como elas contemplam às necessidades dessa nova geração em rede e ainda satisfazem as normativas da BNCC. Por fim, para exemplificar a aplicabilidade, listamos exemplos de projetos aplicados com sucesso em salas de aulas. Já no segundo momento, nosso foco foi direcionado para a literatura funcionando como recurso de aprendizagem da leitura e da escrita. Nesse sentido, antes de apontar caminhos a serem seguidos, conscientizamos, você, futuro professor de língua materna, que antes de tudo, literatura é literatura e tem função social, não é meramente um recurso pedagógico para o ensino de gramática. Ao encontro dessa discussão, apresentação as acepções do letramento literário e da escolarização da leitura literária de maneira adequa- da. Para finalizar exemplificamos, apresentando práticas pedagógicas aplicadas em sala de aula, que foram destaques em suas escolas. No último tópico, viajamos pelo mundo da contação de histórias e então, apresen- tamos informações sobre os mais variados recursos manuais e tecnológicos que estão à disposição do educador. Em suma, nessa trajetória, esperamos ter estimulado sua curiosidade acerca dos conteúdos relacionados à literatura infanto-juvenil, bem como despertado seu interesse de por novos conhecimentos, porque um professor é sempre um estudante em constante formação. 94UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil LEITURA COMPLEMENTAR Olá, estudante! Para acrescentar informações ao seu aprendizado, sugiro as seguintes leituras: 1. “Start up aposta na literatura para combater o preconceito”: publicado na revista Mundo Escolar, em 2020. O texto apresenta informações sobre um projeto, que utiliza a literatura juvenil como ferramenta erradicar o preconceito entre crianças, desenvolvido pela Piraporiando, considerada uma das principais edtechs responsáveis por impactos positivos na educação do país. Click para ativar novos conhecimentos: https://mundoescolaronline.com.br/sigam-os-lide- res-edicao-07-2/. 2. “Gamificação na 8ª Pré-Jornadinha Nacional de Literatura”: publicado na Desenredo, revista do programa de pós-graduação em letras da Universidade de Passo Fundo-Rs, em 2019, o texto analisa as contribuições da gamificação no desenvolvimento de competências na aprendizagem de literatura. Esse pro- jeto foi realizado a por meio do aplicativo JornadApp na Escola, utilizado como recurso na 8ª pré-Jornadinha Nacional de Literatura. Click para ativar novos conhecimentos: http://seer.upf.br/index.php/rd/article/view/9725/114114851. 3. “Projeto livros: diferentes obras em diferentes espaços, encantando e de- senvolvendo potencialidades”: relato de uma prática pedagógica publicada no caderno de práticas, no site da BNCC-Mec, objetivou aproximar os alunos das práticas de leitura, utilizando diversos livros em diversos tempos e espa- ços, tendo a escola e seus ambientes como referências para essas práticas. Click para ativar novos conhecimentos: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ implementacao/praticas/caderno-de-praticas/ensino-fundamental-anos-iniciais/ 134-projeto-livros-diferentes-obras-em-diferentes-espacos-encantando-e-de- senvolvendo-potencialidades?highlight=WyJsZWl0dXJhIiwiZXNjcml0YSJd. 95UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO • Título: Letramento Literário: teoria e prática • Autor: Rildo Cosson • Editora: Contexto, 2006 • Sinopse: Este livro foi escrito especificamente para professores que desejam trabalhar com literatura em sala, pois apresenta infor- mações sobre o letramento literário e ainda, apresenta informações sobre como estimular o hábito além das práticas já conhecidas. FILME/VÍDEO • Título: O Sorriso de Mona Lisa • Ano: 2003 • Sinopse: Katherine Watson é uma recém-formanda da UCLA que foi contratada, em 1953, para lecionar História da Arte na prestigio- sa Wellesley College, uma escola só para mulheres. Determinada a confrontar valores ultrapassados da sociedade e da instituição, Katherine inspira suas alunas tradicionais, incluindo Betty e Joan, a mudarem a vida das pessoas como futuras líderes que serão. • Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=aM1129Il3mg WEB • Café Literário – um ciclo com dez webinars, que apresenta bate papo sobre literatura, formação de leitores e experiências dentro e fora da sala de sala). • Link do site: https://redes.moderna.com.br/cafe-literario-moderna/ 96UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil REFERÊNCIAS AUGUSTI, Rosyane Aparecida Leite; SILVA, Carlos da. A cultura popular na escola: literatura de cordel e o ensino da língua materna. Os desafios da Escola Pública Paranaense na perspectiva do professor PDE. Versão online v.1. Cadernos PDE. 2016. Disponível em: <<http://www.diaadiae- ducacao.pr.gov.br/>>. Acesso em: 30 jun. 2020. AZEVEDO, Ricardo. Cultura popular, literatura e padrões culturais. 2008. 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Chegamos ao final dessa disciplina com a certeza de ter colaborado efetivamente para sua formação acadêmica, uma vez que, ao produzirmos esse material, elencamos conteúdos primordiais para atuação profissional do professor da educação básica, especial- mente àquele que trabalha diariamente com a formação do do leitor competente, inserido num contexto de educação 4.0. Dessa forma, na primeira unidade, nossos olhares estavam direcionados à con- textualização histórica da leitura infanto-juvenil, desde seu surgimento até as produções contemporâneas, além das suas especificidades enquanto gênero literário. Na segunda unidade, mergulhamos nas relações entre cultura e literatura infanto- -juvenil. Para tanto, foi preciso entender a inter-relação entre a cultura popular e a literária e o quanto isso favorece a formação do leitor competente. Assim, para abordar a questão da formação do leitor, recorremos aos pressupostos teóricos do Letramento Literário, e então, compreendemos que o ele é uma prática social de responsabilidade primeiro da escola, bem como do professor de língua materna, paralelamente à família. No terceiro momento, para ampliar os horizontes, entendemos como deve aconte- cer o trabalho dos gêneros textuais por meio da literatura infanto-juvenil, em sala de aula, de maneira tal que a literatura não perca sua função social e seja apenas didatizada. Para auxiliar na escolha de obras literárias, nos aventuramos pelo fantástico mundo da vida e obra dos autores mais renomados, no Brasil: Monteiro Lobato, Pedro Bandeira, Ruth Rocha e Ziraldo. Por fim, na quarta e última unidade, dialogamos mais especificamente sobre às práticas pedagógicas relacionadas ao trabalho com a literatura infanto-juvenil. Para isso, investigamos as normativas da BNCC relacionadas ao desenvolvimento de projetos e a 101UNIDADE IV Prática Pedagógica e Literatura Infanto-juvenil importância dessa prática para atender às necessidades desses jovens 4.0. Falamos também, sobre a importância da literatura como recurso de aprendizagem da leitura e da escrita e para ilustrar recorremos novamente aos pressupostos do letramento literário e também, à escolarização da leitura literária em sala de aula. Para finalizar, com intuito de acrescentar conhecimentos, apresentamos informações sobre os recursos didático (ma- nuais e tecnológicos) utilizados como apoio para narração de histórias literárias. De acordo com o exposto, esperamos que essa disciplina coaduna com sua for- mação acadêmica e motive, você, na busca incessante por novos conhecimentos, pois os conceitos teóricos aqui abordados são importantes, porém não são únicos neste vasto universos de possibilidade que o trabalho com a leitura literária possibilita. Portanto, faze- mos um convite às novas descobertas e possíveis reflexões sobre o papel do professor e a formação do leitor competente. Um grande abraço!!!