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Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 SOBRE A DETENÇÃO DETENÇÃO X POSSE – CONCEITO E ÔNUS DA PROVA A grande dificuldade em relação ao conceito de posse reside na sua distinção do estado de fato que se denomina detenção, segundo Gonçalves (2022). A DETENÇÃO NA TEORIA SUBJETIVA Para a teoria subjetiva, a posse é constituída do corpus+animus domini, devendo necessariamente estar presente ambos os elementos a fim de que a posse esteja também configurada. Nesse acaso, ante a presença do corpus (apreensão física da coisa), mas sem a presença do elemento subjetivo, não existirá posse, mas sim detenção. Assim, a regra é a detenção. Assim, esquematiza-se que: → REGRA: Detenção. → EXCEÇÃO: Posse. O instituto da detenção, cuja importância é minimizada pela teoria objetiva da posse, é vital para se conceber pela teoria subjetiva que a posse é um direito, e não um simples estado de fato. Na posse, dá-se a detenção conjugada com o animus possidendi. A simples detenção, por sua vez, ocorre sem a vontade de se obter o domínio da coisa. - Lisboa, 2013 Em razão da regra ser a detenção, o ônus da prova em causas possessórias, em especial a usucapião, segue a regra geral, qual seja, o autor deve provar a existência da posse. A DETENÇÃO PARA A TEORIA OBJETIVA Para a teoria objetiva, a posse é constituída à medida em que estão presentes o corpus (imago + afeccio) e a ausência de norma que proíbe a existência da posse. Vejamos: CORPUS ANIMUS DOMINI POSSE Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 Assim, a posse sempre existe, a não ser nos casos em que exista uma norma que a descaracterize15. Para Ihering, o que em verdade distingue a posse da detenção é um outro elemento externo e, portanto, objetivo, que se traduz no dispositivo legal que, com referência a certas relações que preenchem os requisitos da posse e têm a aparência de posse, suprime delas os efeitos possessórios. A detenção é, pois, uma posse degradada: uma posse que, em virtude da lei, se avilta em detenção. - Gonçalves, 2022 Nesse sentido, esquematiza-se que: → REGRA: Posse. → EXCEÇÃO: Detenção Por isso, o ônus da prova em ações sucessórias se inverte, vez que existe a presunção de posse. Sobre a presunção, destaca-se que pode ser classificada em: Presunção absoluta – não se admite prova contrária Presunção relativa16 – válida até que se prove o contrário Presunção hominis – originada da experiência 15 Exemplo do caseiro. 16 Iuris tantum IMAGO AFECCIO AUSÊNCIA DE NORMA DESCARACTE RIZADORA POSSE CORPUS Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 In casu, a presunção de posse aplicada na teoria objetiva é hominis, de forma que a aplicação do ônus da prova geral implicaria em probatio diabólica. Isso porque não é possível provar fato negativo. Basta imaginar – como alguém prova que não existe uma lei que proíba aquela posse específica? O mais fácil é provar que aquela lei existe. Nesse caso, a probatio levior ameniza o ônus da prova, possibilitando a inversão. Logo, por meio da probatio levior, presume-se que quem tem o corpus tem posse, devendo o interessado provar que existe lei que a proíba naquela situação. A DETENÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO A detenção no direito brasileiro pode ser classificada como lícita ou ilícita, da seguinte forma: ❖ DA DETENÇÃO LÍCITA – Ocorre quando há permissão legal. Pode ser desinteressada ou interessada. → Detenção lícita desinteressada ocorre quando existe uma relação de subordinação entre o sujeito e o proprietário do imóvel. É a hipótese do art. 1.198, caput, do CC. Art. 1.198, CC: Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. DETENÇÃO LÍCITA Desinteressada (art. 1.198, CC) Interessada (art. 1.208, CC) ILÍCITA (art. 1.208, CC) Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 Trata-se da figura do fâmulo ou servo da posse, cuja função é cuidar da coisa ou aproveitá- la no interesse de seu possuidor. → Detenção lícita interessada ocorre na hipótese da primeira parte do art. 1.208 do CC. Art. 1.208, CC: Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância [...] PERMISSÃO -> Autorização expressa. TOLERÂNCIA -> Autorização tácita. Na hipótese de atos de mera tolerância, percebe-se que o possuidor possui o direito potestativo de reclamar seu direito à posse. Quando finalizados os atos de mera permissão ou tolerância, sem que o detentor desocupe voluntariamente o imóvel, dar-se-á início à detenção ilícita. ❖ DETENÇÃO ILÍCITA: A detenção ilícita é conceituada pela segunda parte do art. 1.208, do Código Civil. Vejamos: Art. 1.208, CC: Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. É a chamada tensa. Segundo Pontes de Miranda, enquanto não cessarem os atos de violência e de clandestinidade, haverá tão somente a detenção. O CONCEITO DE DETENÇÃO A detenção pode ser conceituada como: → Corpus: Apreensão física da coisa / controle da coisa / justaposição da coisa. → Affectio detinendi: Não existe a intenção de possuir e ser dono. CORPUS AFFECTIO DETINENDI AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE AD CAUSAM DEPENDÊNCIA DETENÇÃO Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 → Ausência de legitimidade ad causam: Não existe a legitimidade para propor ou responder a uma ação possessória. → Dependência: Direito potestativo do possuidor de retomar a coisa.
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