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1 Gabriella Estrela MEDUFBA 255 | PEDIATRIA 2022.2 Pneumonia adquirida na comunidade É a principal causa de mortalidade em crianças menores de cinco anos nos países em desenvolvimento, sendo um problema de saúde pública na pediatria, entretanto, é importante ressaltar que houve redução de 59% da mortalidade graças a algumas medidas de prevenção e tratamento Definida quanto: • local de aquisição: PAC ou pneumonia nosocomial • presença de complicações: pneumonia não complicada e complicada (derrame pleural, abcesso, pneumonia necrosante) • envolvimento pulmonar: pneumonia alveolar, intersticial e broncopneumonia FATORES DE RISCO Idade inferior a 5 anos, gênero masculino, prematuridade; Crianças com: ✓viroses respiratórias ✓exposição ao tabagismo doméstico ✓famílias com baixo nível instrução ✓cobertura vacinal inadequada ✓moradia inadequada ✓baixo peso ao nascer ✓desmame precoce ✓Desnutrição ✓Expostas a poluição ambiental ✓em uso de medicamentos que alteram os mecanismos de defesa respiratórios ou sistêmicos ✓acidentadas com alterações dos mecanismos de defesa respiratórios ✓com doenças que comprometem os mecanismos de defesa (Sarampo, Hemoglobinopatias, AIDS, Fibrose cística, DRGE, Cardiopatias Congênitas, Imunodeficiências, Asma, Doenças Neuromusculares, Displasia Broncopulmonar) manifestações clínicas Variam de acordo com - Agente etiológico, Idade e Estado imunitário QUADRO BÁSICO: Febre + Taquipneia + Tosse Mas também pode ocorrer: dispneia, chiado, dor torácica/abdominal, vômitos, cefaléia, alterações na ausculta (estertores crepitantes, sopro tubário) O grande marcador clínico de infecção das vias aéreas inferiores é a taquipneia (aumento da FR – alto valor preditivo negativo) – quanto menor a criança, maior é a fr considerada normal, portanto: o < 2m: ≥60ipm (na criança de até 60 dias a fr vai até 60, grava só esse) o 2-12m: ≥50ipm o 1-5 a: ≥40ipm etiologias ▶Bacterianas: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenza tipo B, Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes; = quadro mais grave ▶Virais: especialmente VSR, influenza, parainfluenza, adenovírus e rinovírus, cmv; novos: Bocavírus humano, Metapneumovírus , Coronavírus ▶Atípicas: Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae = quadro insidioso As etiologias variam em cada referência trouxe abaixo o mais recente do artigo de revisão do ava: Etiologia da PAC por faixa etária (SOPERJ) Período neonatal Estreptococo do grupo B Enterobactérias (E. coli) Citomegalovıŕus Listeria monocytogenes Staphylococcus aureus 3 semanas a 3 meses Chlamydia trachomatis Vıŕus sincicial respiratório (VSR) Parainfluenza Streptococcus pneumoniae Bordetella pertussis Lactentes e pré- escolares (< 5 anos) VSR, parainfluenza, influenza, adenovıŕus, rinovıŕus Streptococcus pneumoniae Haemophilus influenzae Staphylococcus aureus Mycoplasma pneumoniae Mycobacterium tuberculosis Pré-escolares (> 5 anos) e adolescentes Streptococcus pneumoniae Mycoplasma pneumoniae Chlamydia pneumoniae Mycobacterium tuberculosis 2 Gabriella Estrela MEDUFBA 255 | PEDIATRIA 2022.2 SANAR MEDICINA diagnóstico ✓ Dados clínicos ✓ Epidemiologia ✓ Marcadores inflamatórios ✓ Exames Imunológicos ✓ Exames Sorológicos ✓Exames Microbiológicos: gram, cultura - escarro, sangue, liq.pleural, LCR ✓ Radiologia HISTÓRIA PROVÁVEL AGENTE IDADE Lactentes e pré-escolares: vírus Escolares e adolescente: germes atípicos HISTÓRIA DE VIROSE PRÉVIA Predisposição para infecção por pneumococo e estafilococo SINAIS E SINTOMAS EM OUTROS ÓRGÃOS M. pneumoniae TEMPO DE DOENÇA Aguda- bacteriana Evolução arrastada - M. tuberculosis SITUAÇÃO VACINAL HIB, coqueluche HISTÓRIA GESTACIONAL C. trachomatis CONTATO COM TUBERCULOSE M. tuberculosis CONTATANTES DOENTES Vírus CONTATANTES PREVIAMENTE DOENTES M. pneumoniae Marcadores inflamatórios: Não são úteis para distinguir entre Pneumonia viral e bacteriana, mas níveis elevados ocorrem, mais frequentemente, nas pneumonias bacterianas; ✓Leucograma ✓VHS ✓Proteína C reativa ✓Pró-calcitonina – atenção: pode predizer gravidade (faltam informações sobre a custo-efetividade dessa medida) desnecessários nas pneumonias com tratamento ambulatorial - mais estudos são necessários antes que o uso de rotina desses biomarcadores possa ser recomendado Métodos microbiológicos: Hemocultura- em pneumonias graves ou complicadas, mas baixa positividade (<10%), Escarro, Líquido pleural - baixa positividade: quando possível, desnecessário nas pneumonias com tratamento ambulatorial; Cultura viral – baixa sensibilidade Métodos imunológicos ✓ Pesquisa de antígenos virais: - Sensibilidade variável: 20% a 100%, média 80% - Especificidade: 100% ✓ Pesquisa de antígenos bacterianos: -Pneumococo na urina - Sensibilidade alta (não diferencia do estado de carreador) ✓ Sorologias: -Pertussis, “bactérias atípicas” ✓ Diagnóstico molecular - Reação em cadeia da polimerase (PCR): vírus, “bactérias atípicas” MÉTODOS INVASIVOS ✓Broncoscopia com lavado Broncoalveolar ✓Biópsia Pulmonar ✓Punção Percutânea MAIORES DE 2 MESES: TOSSE OU DIFICULDADE PARA RESPIRAR E PELO MENOS UM DOS SINAIS ✓TAQUIPNEIA ✓TIRAGEM SUBCOSTAL Pneumonia bacteriana Etiologia < 1-2 meses: S. agalactiae (grupo B) GBS, gram- negativos entéricos (E. coli) DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO • Aspirado nasofaríngeo (ANF) • Swab nasal • Swab faríngeo • Lavado nasofaríngeo • Escarro • Aspirado traqueal • Lavado broncoalveolar • Punção pulmonar ESPÉCIMES RESPIRATÓRIOS Marfarlane, 2005; Ginochio, 2007; Ruuskaenm et al., 2011 3 Gabriella Estrela MEDUFBA 255 | PEDIATRIA 2022.2 > 1-2 meses: S. pneumoniae (principal patógeno das pneumonias bacterianas), Staphylococcus aureus (pensar quando a questão trouxer: pneumonia muito grave + complicações + porta de entrada {foco infeccioso}) Quadro clínico • Pódromos catarrais inespecíficos (tosse etc) • Febre alta e tosse • Sinais clássicos: Ø estertores Ø ↑ FTV, macicez (consolidação) Ø Broncofonia; pectorilóquia afônica Podem ser difíceis de conseguir, por isso nos baseamos principalmente na: Ø Taquipneia Ø Sinais de gravidade: busca ativa o Tiragem subcostal: complacência pulmonar diminuída (precisa de mais forca para insuflar) o BAN (batimento de asa nasal): tentativa de diminuir o esforço respiratório, dilata e reduz a resistência p/ passagem de ar o Gemência/gemido: som expiratório da passagem de ar através de uma glote contraída/parcialmente fechada à ↑ CFR (capacidade residual funcional) ou seja, o volume que fica nos nossos pulmões ao final da inspiração (ajuda na troca gasosa) Avaliação complementar Radiografia de tórax: não é obrigatória! (diagnostico pode ser clinico, além disso o paciente sem gravidade não precisa) • Indicar nas hospitalizações • Pode evidenciar: o Consolidações o aerobroncograma (ar na arvore respiratória, contrastando com aquelas regiões do parênquima preenchidas com exsudato) o pneumonia redonda (associada com etiologia pneumocócica) complicações: • derrame pleural (velamento de seio costofrênico) à atenção: o pneumococo é o + comum (justamente por ser a etiologia mais frequente); • pneumatocele (imagem cavitaria com parede fina) pensar em estáfilo {muito associadas}; • abscesso (necrose do parênquima: cavidade com parede espessa e interior preenchido por secreção - hipotransparência) à estáfilo e anaeróbio (é aquela criança com risco de broncoaspiracao – doença neurológica, neuromuscular) • timo: principalmente nos 2 pimeiros anos de vida, Sinal do barco a vela (aspecto meio triangular) à não é pneumonia!! Extra: podemos usg à beira leito p/ avaliar O raio-x ele não pode afirmar o agente etiológico, mas auxilia na sua suspeita clínica: - micoplasma: infiltrado intersticial, lobo inferior, unilateral - pneumococo:consolidação lobar - estafilococo: broncopneumonia confluente, áreas de necrose (pneumatocele e empiema) Tratamento: CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE Pneumonia muito grave se: INDICACOES DE INTERNAÇÃO #IMPORTANTE Ø idade < 2 meses {evolui muito grave rapidamente} Ø comprometimento respiratório – tiragem subcostal, Sat. <92% 4 Gabriella Estrela MEDUFBA 255 | PEDIATRIA 2022.2 Ø comprometimento do estado geral: sinais de perigo na população pediátrica - incapaz de beber líquidos - vomita tudo que ingere Ø doença de base (cardiopatias congênitas, imudepressao, etc) Ø complicações radiológicas MEDIDAS GERAIS ✓ Controle da Febre ✓ Alimentação Adequada ✓ Hidratação ✓ Oxigenoterapia, se necessário ✓ Prevenir e tratar distúrbios hidroeletrolíticos ✓ Desobstruir Vias Aéreas Superiores ✓ Broncodilatadores, se necessário ✓ Identificar sinais de outra comorbidade grave e sinais de piora AMBULATORIAL > 2 meses: Amoxicilina VO (s. pneumoniae) por 7 a 10 dias. Reavaliar em 48h (instruir a família quanto a sinais de gravidade); macrolídeos (escolares: incidência maior de atípicos) Lembrar que não tem tto ambulatorial nos < 2m Reavaliação 48h: Piora à apresentou tiragem = internar Inalterado: trocar ATB (amoxa+clavulonato ou cefuroxima) + retorno em 48h HOSPITALAR < 2 meses: Pen.cristalina OU Ampicilina e gentamicina {ampicilina com aminoglicosídeo}, pode receber alta e completar tto em casa > 2 meses: Penicilina cristalina IV #pegadinha: paciente que apresenta uma pneumonia muito grave = possibilidade de infecção por Staphylococcus aureus ou Haemophilus influenzae à optar pela introdução de oxacilina (precisamos ampliar o espectro) 1 oxacilina (s. aureus sensíveis a meticilina) + ceftriaxona (pneumo, alguns gram negativos como hemófilos) associada a cloranfenicol ou a cefalosporina de 3ª geração 1 *caso s. aureus resistente a oxacilina podemos usar: clindamicina, vancomicina COMPLICAÇÃO Derrame pleural: 1. esse líquido costuma ser um exsudato: tem características inflamatórias, proteína alta à derrame pleural para-pneumônico diferenciar se é apenas um exsudato inflamatório ou um empiema (derrame 2. complicado) – eventualmente essas bacterias que estao no parenquima pulmonar podem invadir o espaco pleural e se multiplicar à acumulo purulento no espaço pleural à precisa ser drenado, não melhora apenas com o tratamento farmacológico 3. história clássica uma criança com pneumonia que não apresenta melhora clinica c/ atb FALHA TERAPÊUTICA APÓS 48-72H claro que eu tenho que pensar em resistência bacteriana mas antes de tudo eu preciso: 1. radiografia: avaliar se há derrame, se sim: 2. toracocentese: avaliar o liquido do espaço pleural à no empiema {purulento, pH< 7,2, glicose <40mg/dl, bactérias}, qualquer caracteristica positiva: 3. drenagem torácica e manter o tratamento anterior (a falha não é por resistência) • caso não haja derrame na radiografia: trocar o antibiótico RESISTÊNCIA BACTERIANA DO PNEUMOCOCO À PENICILINA PARA NÃO MENINGITES • Mecanismo: produção de uma proteína de ligação a penicilina alterada, que reduz a afinidade às penicilinas • Prevalência de resistência é variável em diferentes áreas geográficas, no Brasil < 5 anos: 91% sensíveis e > 5 anos: 96% sensíveis pneumonias atípicas aspectos gerais quadro insidioso + manifestações extrapulmonares, não melhora com penicilina. FORMAS CLÍNICAS) Pneumonia atípica: mycoplasma (>5 anos) – não é comum abaixo dos 5 anos à Febre baixa ou ausente, Início abrupto ou arrastado, tosse intensa, seca, em acessos; e a Pneumonia afebril do lactente 5 Gabriella Estrela MEDUFBA 255 | PEDIATRIA 2022.2 PNEUMONIA AFEBRIL DO LACTENTE • Principal agente: Chlamydia tachomatis • Clássico – nascimento por parto vaginal: colonização da conjuntiva (Conjuntivite neonatal 1ª semana de vida – mesmo se tratar com colírio não erradica o outro local de colonização) e nasofaringe (pneumonia 1-3 meses) o Quadro arrastado, afebril o Tosse e taquipneia o Eosinofilia e infiltrado intersticial • Tratamento: macrolídeos (azitromicina, eritromicina2, espiramicina) MEDIDAS PREVENTIVAS: Imunização (Hib, Pneumococo, Influenza); Redução da exposição tabágica/poluentes. MEDIDAS GERAIS: Prevenção do baixo peso de nascimento, Prevenção da desnutrição e Promoção do aleitamento materno 2 o uso de eritromicina no período nenonatal está relacionado com e.h.p (estenose hipertrófica de piloro – vômitos não biliosos) Resumindo O que pensar ▶ Paciente com história de febre, tosse e taquidispneia; ▶ Em geral a criança está prostrada e inapetente e não quer brincar. O que procurar ▶ Taquipneia: FR de 60 ipm ou mais em < 2 meses de idade (esses casos são sempre graves em função da idade); FR de 50 ipm ou mais, dos 2 meses ao 1º ano incompleto; FR de 40 ipm ou mais, do 1º ao 4º ano. ▶ Pneumonia grave nos maiores de 2 meses: presença de tiragem, além da taquipneia; ▶ Pneumonia muito grave: cianose central, dificuldade respiratória grave (exemplo: movimentos involuntários da cabeça) e incapacidade de beber. O que pedir ▶ Hemograma e PCR; ▶ Hemocultura; ▶ Radiografia de tórax (hospitalização) O que fazer ▶ Pneumonia (não grave): tratamento com medicação oral (ex: amoxicilina) em regime ambulatorial, e reavaliação em 48 horas; ▶ Nos casos de pneumonia grave: internação hospitalar e o uso de antibiótico intravenoso (ex: penicilina cristalina IV); ▶ Nos casos de pneumonia muito grave: internação e o uso de antibióticos intravenosos que façam boa cobertura de estafilococos aureus e hemófilos influenzae, sendo uma boa opção a associação de oxacilina IV e ceftriaxona IV. Amoxicilina é a droga de escolha para o tratamento ambulatorial. Macrolideos devem ser usados se há suspeita de infecção por atípicos. Referências: 1. PAC na infância, documento SBP 2018 2. Slide Dra. Edna Lucia 2022 3. Artigo SOPERJ – PAC e vacinação 2018 4. Medcurso 2020 5. Medcel extensivo e casos clínicos 2022 6. Biomarkers in Pediatric Community-Acquired Pneumonia