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a crianca com febre resumo pediatria 2022 2

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a criança com febre 2022.2 1
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a criança com febre 2022.2
Gabriella Estrela 255 MEDUFBA
Definição: A febre consiste no aumento da temperatura do corpo que ocorre como 
parte de uma resposta biológica mediada pelo SNC. A Sociedade Brasileira de 
Pediatria considera febre a temperatura axilar acima de 37,2/37,3°C.
Fisiopatologia: A temperatura corporal é controlada pelo “centro termorregulador” 
→ conjunto de neurônios do hipotálamo com função de termostato, fazendo o 
equilíbrio fino entre a produção e a perda de calor (conservação de calor: 
hipotálamo posterior // perda: hipotálamo anterior)
20% a 30% das consultas pediátricas têm a febre como sintoma principal
Os agentes capazes de desencadear febre são os pirógenos exógenos → 
infecciosos (vírus, fungos, bactérias e toxinas) e não- 
-infecciosos (complexos antígeno-anticorpo e antígenos resultantes da 
destruição celular, 
como na reabsorção de hematomas, necrose tumoral, cicatrização.
induzem a producao de pirógenos endógenos → interleucinas (IL) 1 e IL-6 e o 
Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNF-α), que no SNC ativam o centro 
termorregulador → estimulando a produção de prostaglandina E2 (PgE2)
A existência de um quadro infeccioso de qualquer etiologia quase sempre está 
associada à presença de febre. Contudo, observa-se que recém-nascidos, 
principalmente prematuros, podem não apresentar febre → hipotermia sim
Apresentação Clínica
O quadro clínico da febre inclui 
• Extremidades frias 
• Ausência de sudorese, sensação de frio e eventualmente tremores 
• Taquicardia e taquipneia
Recomenda-se p/ familiares medir a temperatura com termômetro digital na 
axila, em qualquer faixa etária
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Anamnese
Idade: Febre é um sinal de alarme nos primeiros 3 meses de vida. 
Sintomas associados/sistemas acometidos: Sintomas de infecções de vias 
aéreas superiores, diarreias, vômitos, cefaleia e outros.  
Gravidade da febre: Questionar sobre a temperatura máxima atingida, a data 
de aparecimento e os horários de recorrência. Considerar sempre o relato do 
acompanhante, mesmo quando a febre não for aferida.  
Duração da febre: Febre por mais de 72 horas sugere infecção não viral.  
Estado geral: Se, nos intervalos sem febre, a criança brinca e mantém bom 
estado geral, esse é um bom sinal.  
História socioeconômica/familiar: Checar se há familiares doentes em casa 
e/ou surtos epidêmicos na região. 
Exame Físico
Lembrar-se de que a febre altera os sinais vitais, como frequência respiratória 
e frequência cardíaca. Além disso, pode causar prostração intensa, mal-estar, 
cefaleia, anorexia, mialgia, fadiga e artralgia. 
FC (bpm) ALTERADA:
< 12 meses (≥160bpm)
12 a 24 meses (≥150 bpm)
2 a 5 anos (≥140bpm)
FR alterada:
> 50 (6 a 12 meses)
> 40 para os maiores de 12 meses e, saturação 
de oxigênio ≤ 95%.
tempo de enchimento capilar: alerta se > 3 segundos
grau de hidratação: avaliar mucosas e turgor da pele
avaliar grau de atividade e responsividade aos estímulos.
Em muitos casos, após toda avaliação clínica é impossível a identificação do 
foco febril → chamamos de febre sem sinais localizatórios (FSSL), definida 
como: ocorrência de febre com menos de 7 dias de duração em uma criança em 
que a história clínica e o exame físico 
não revelaram a causa
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Nos casos em que o paciente está febril, o ideal é reexaminar após a 
temperatura estar próxima da basal (oferecer antitérmico e líquidos, além de 
reavaliar a criança após 1 hora no colo dos pais).  
Examinar à procura de alterações que sugiram algum diagnóstico a ser tratado, 
e nunca se esquecer de fazer o exame físico completo, retirando toda a 
vestimenta do paciente (isso vale mais quanto menor for a criança). 
Atendimento de urgência da criança com febre: 
• Caso benigno: Criança sorri, brinca, choro forte, está ativa, febre baixa e por 
menos de 3 dias;  
• Caso moderado: Criança choraminga, sonolenta, irritabilidade constante, febre 
que já dura mais de 3 dias completos;  
• Caso grave: Criança com choro fraco/inconsolável, letargia, sinais de má 
perfusão, toxemia, gemência, convulsão após mais de 24 horas de febre.
Abordagem Diagnóstica
Hemograma completo: Pesquisar elementos que apontem o quadro infeccioso - 
leucócitos etc(não se esquecer de analisar hematócrito e plaquetas).  
PCR e VHS: Marcadores inflamatórios que podem auxiliar no diagnóstico, estando 
aumentados em vigência de inflamação sistêmica.  
Hemocultura: Coleta em caso de suspeita de infecção bacteriana. Deve ser 
coletada em todos os pacientes com indicação de internação hospitalar.  
Punção lombar: Deve ser feita em toda suspeita de infecção do SNC. Deve ser 
solicitada em toda convulsão até os 6 meses de vida, e convulsão após mais de 24 
horas com febre. 
EAS e urinocultura: Devem ser coletados em toda febre sem outro sinal de 
localização em menores de 3 anos, mesmo sem queixa urinária.  
Radiografia de tórax: Em geral, deve ser complementar ao exame físico e à 
anamnese quando for necessário, principalmente na suspeita de pneumonia.
Abordagem Terapêutica
Estratégias foram elaboradas para avaliar crianças menores de 3 anos com FSSL, 
utilizando critérios clínicos e laboratoriais → critérios de Rochester: separa os 
lactentes de 3 meses de idade em dois gru- pos: alto e baixo risco para presença de 
doença bacteriana grave na vigência de FSSL e para os maiores de 3 meses utiliza-
se os critérios de Baraff → SBP recomenda a conduta a seguir baseada nesses 
critérios
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Criança < 3 Anos cujo Único Sintoma É Febre
A febre não é uma doença, mas, sim, uma manifestação de doença. Seu 
tratamento, portanto, é realizado com o uso de antitérmicos e tratamento da 
doença causadora da febre.  
O manejo da febre se reveste de importância para crianças sem sinais 
localizatórios da doença causadora da febre (febre sem foco), principalmente 
naquelas com idade < 3 anos. 
Todas as crianças febris, sem foco localizatório e, independentemente da idade, 
que estejam apresentando sinais de comprometimento do estado geral devem 
ser hospitalizadas, com coleta de exames laboratoriais (hemograma, 
hemocultura, EAS, urinocultura, raio-x tórax e avaliação de punção lombar), 
além do início de antibiótico empírico.  
Recém-nascido (até 28 dias): Nunca se deixe enganar pelo bom estado geral. 
Toda febre nessa faixa etária é potencialmente grave:  
1. Hospitalizar. 
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2. Solicitar: hemograma, PCR, VHS, EAS/urinocultura, hemocultura, avaliação 
do liquor, raio-x de tórax (algumas referências indicam apenas se houver 
alterações respiratórias). 
3. Iniciar antibioticoterapia empírica enquanto aguarda resultado dos exames.  
Lactente (1-3 meses): 
1. Solicitar: hemograma e EAS; considerar punção lombar. Se possível, solicitar 
pesquisa de vírus sincicial respiratório.  
2. Avaliar se há alto ou baixo risco pelos critérios de Rochester:  
 ◦ Baixo risco: antitérmico e reavaliação diária;  
 ◦ Alto risco: seguir a mesma conduta dos recém-nascidos. 
Critérios de Rochester: Para o caso ser considerado de baixo risco, deve 
apresentar todos os critérios. A ausência de qualquer dos seguintes critérios 
define o caso como de alto risco: 
• Previamente saudável; 
• A termo sem complicações no parto;  
• Sem toxemia;  
• Sem doença crônica;  
• Leucograma de 5.000-15.000/mm3 com bastonemia < 1.500/mm3;  
• Microscopia de sedimento urinário contagem < 10 leucócitos por campo. 
Crianças (3-36 meses): Dividir conduta conforme gravidade em três grupos:  
1. Estado infeccioso grave: Toxemia, febre ≥ 39,5 °C, hipotermia, gemência, 
convulsão:  
 1. Hospitalização imediata. 
 2. Solicitar: hemograma, PCR, VHS, EAS, hemocultura e urinocultura, avaliar 
punção lombar. 
 3. Antibioticoterapia empírica.  
2. Estado infeccioso moderado: Febre ≥ 39,5 °C e calafrios (bacteremia) ou 
febre > 3 dias:  
 1. Hospitalização imediata. 
 2. Solicitar: hemograma, PCR, VHS, EAS, hemocultura e urinocultura, avaliar 
punção lombar.3. Antibioticoterapia empírica.  
3. Estado infeccioso leve-moderado: febre < 39,5 °C e < 3 dias, prostração 
discreta (provável etiologia viral):  
 1. Alta com orientações gerais, sintomáticos, curva térmica domiciliar, retorno 
para reavaliação se preciso e/ou após 3 dias de febre.  
Alguns autores consideram necessário o uso de Ceftriaxona 50 mg/kg IM para 
pacientes entre 1 e 3 meses de baixo risco que serão avaliados 
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ambulatorialmente (nesses casos, é mandatória a coleta de todas as culturas, 
incluindo liquor), e para aqueles entre 3 e 36 meses com vacinação incompleta 
para a faixa etária (também coletar culturas previamente à realização do 
antibiótico). 
Criança > 3 Anos cujo Único Sintoma É Febre
1. Estado infeccioso moderado/grave: Toxemia, febre por mais de 3 dias ou 
febre ≥ 39,5 °C e calafrios (bacteremia):  
 1. Hospitalização imediata. 
 2. Solicitar: exame bacterioscópico de urina, hemograma, VHS, PCR, 
urinocultura e hemocultura, avaliar punção lombar. 
 3. Antibioticoterapia empírica.  
2. Estado infeccioso leve-moderado: Febre < 39,5 °C e < 3 dias, prostração 
discreta (provável etiologia viral):  
 1. Alta com orientações gerais, sintomáticos, curva térmica domiciliar, retorno 
para reavaliação se preciso e/ou após 3 dias de febre. 
Esquemas antibióticos empíricos: Deverão ser utilizados para pacientes sem 
foco. Pacientes com foco infeccioso deverão ser tratados de acordo com os 
protocolos específicos:  
 • Menores de 28 dias de vida: Ampicilina + gentamicina OU Ampicilina + 
Ceftazidima OU Cefepima;  
 • Maiores de 28 dias de vida: Cefotaxima/Ceftriaxona + Vancomicina (se 
suspeita de MRSA) + Gentamicina (se suspeita de ITU) + 
Metronidazol/Clindamicina/Piperacilina + Tazobactam (se foco abdominal). Se 
imunocomprometidos, iniciar Cefepima/Meropenem + Vancomicina. 
Tratamento com antitérmicos: Os antitérmicos mais utilizados na prática 
clínica incluem Paracetamol, Ibuprofeno e Dipirona. Não deve ser utilizado 
Ácido Acetilsalicílico em crianças com febre, pelo risco de síndrome de Reye. 
Os benefícios do tratamento com antitérmicos devem ser 
contrabalanceados em relação aos riscos de toxicidade dessas medicações. 
Nem todos os casos de febre necessitam de tratamento antitérmico 
agressivo. Não há indícios de que febre cause piora da doença de base ou 
dano neurológico (exceto em crianças com comorbidades que limitem o 
aumento de taxa metabólica).
Indicações para o tratamento agressivo da febre:  
• Choque; 
• Doença neurológica ou cardiopulmonar, ou outras condições com aumento 
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da taxa metabólica basal (ex.: queimaduras); 
• Alterações no balanço hidreletrolítico; 
• Febre alta (> 40 °C); 
• Desconforto causado pela febre; 
• Traumatismo craniano grave; 
• Pós-parada cardíaca. 
Nos casos de pouca resposta terapêutica ao uso de antitérmicos, não se 
recomenda realizar alternância de medicações, pelo risco de toxicidade e 
erro na administração. Nesses casos, deve-se tentar trocar a medicação, 
sem realizar alternância.
Doses:  
• Paracetamol: 10-15 mg/kg/dose VO a cada 4-6 horas (máximo 800 mg-1 
g). Fazer, no máximo, 5 doses a cada 24 horas;  
• Ibuprofeno: 10 mg/kg/dose VO a cada 6 horas (máximo 600 mg);  
• Dipirona: 15-25 mg/kg/dose VO ou EV a cada 4-6 horas (máximo 5 
g/dia). 
Resfriamento externo: Resfriamento externo não é recomendado como 
medida rotineira para o tratamento de crianças com febre. Nos casos em que é 
necessário, o rápido resfriamento da temperatura corporal pode ser utilizado, 
porém deve ser iniciado apenas 30 minutos após uso de antitérmico.
Conduta na Atenção Primária - Temperatura normal e febre:
Temperatura axilar (Tax) > 37,8ºC = febre, sendo 37,8ºC-38,5ºC = febre baixa; 
38,5ºC-39,5ºC = febre moderada; 39,5ºC-40,5ºC = febre alta; e > 40,5ºC = febre 
muito alta.
Aferição de Tax:  
• Pode ser feita em qualquer idade; 
• Resultado pode ser afetado por banhos ou compressas prévios; 
• Axila deve estar seca; 
• O procedimento é elevar o braço, colocar o termômetro na axila e baixá-lo, 
mantendo-o contra o tórax; 
• Termômetro de vidro/mercúrio: manter por 5-7 minutos;  
• Termômetro eletrônico: manter por 40-80 segundos.
Avaliação de sinais de toxemia na APS: Toda criança com sinais de toxemia 
deve ser imediatamente encaminhada a serviço hospitalar, para avaliação para 
sepse. Os sinais gerais de perigo para toxemia são: 
• Convulsões; 
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• Impossibilidade de beber ou mamar; 
• Irritabilidade; 
• Choro fraco e contínuo; 
• Gemência; 
• Fontanelas abauladas; 
• Taquipneia ou hipoventilação; 
• Letargia ou inconsciência; 
• Vômitos que impossibilitam ingestão; 
• Vômito de aspecto bilioso; 
• Hipotonia; 
• Má perfusão periférica; 
• Pele pálida, acinzentada; 
• Pele com redução de turgor; 
• Cianose.
pontos chave
Os métodos físicos não são recomendados p/ reduzir a temperatura, 
a não ser nos casos de hipertermia, definida 
por uma temperatura central ≥ 40ºC + alterações no SNC
Não utilizar intensidade da febre como indicador de infecção bacteriana 
grave
exceto em menores de 3 meses com leucocitose OU aumento da 
proteína C reativa
Recomendação de antitérmicos → febre associada a: desconforto evidente 
(choro intenso, irritabilidade, redução da atividade, redução do apetite, 
distúrbio do sono) - e não baseado em um número predeterminado
Recomendados (Brasil): paracetamol, dipirona e ibuprofeno.
ácido acetilsalicílico não é recomendado pelo risco de Síndrome de 
Reye
Uso alternado ou associado de antitérmicos não recomendado, pois pode 
confundir os familiares e aumentar o risco de superdosagem, e não existe 
evidência suficiente para afirmar que essa prática é mais eficaz que a 
monoterapia
febre em < 1 mês = paracetamol
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não é recomendado usar antitérmicos 
para prevenção de convulsões febris
mecanismo de ação de todos antitérmicos: inibir a ação das. enzimas 
cicloxigenases COX1 e COX2 de modo não seletivo → reduz a produção de 
PgE2.
Dipirona: ação antitérmica e analgésica, sem efeitos anti-inflamatórios. Iní- 
cio de ação: 30 a 60 min, duração: 4 a 6h, reações adversas, urticária e 
rash cutâneo, anafilaxia, broncoespasmo e agranulocitose, destacamos a 
hipotensão {superdosagem}
Ibuprofeno: Quando se deseja uma ação antitérmica e/ou analgésica o 
ibuprofeno deve ser utilizado em doses menores (5 a 10 mg/kg) que as anti-
inflamatórias, equivalente ao paracetamol em início, magnitude e duração
Paracetamol: ação analgésica e. antitérmica, sem 
ação anti-inflamatória; 5mg/kg/dose, e a dose máxima diária é de 75mg/kg. 
A dose tóxica é de 120mg/kg em crianças e 6,5g em adultos → associado a 
doença hepática induzida por drogas (DILI) 
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febre na covid-19 
as crianças e adolescentes apresentam, em sua maioria, formas clínicas leves ou 
assintomáticas
Os sintomas da COVID-19 são semelhantes aos da gripe, resfriado comum e 
outras condições, portanto, um teste RT PCR é necessário para a confirmação 
diagnóstica
sintomas mais comuns: febre, tosse e cansaço. Outros sintomas podem 
incluir falta de ar, dor ou pressão no peito, dores musculares ou no corpo, dor de 
cabeça, perda de paladar ou olfato, confusão, dor de garganta, congestão nasal 
ou nariz escorrendo, diarreia, náuseas e vômitos, dor abdominal e erupções 
cutâneas. Além desses sintomas, bebês e crianças pequenas podem ter 
dificuldade em se alimentar.
💡 Enfim, é dever do médico combater a febrefobia, mas de modo 
empático, entendendo a ansiedade dos pais e a busca por uma 
solução rápida, que em muitos casos não é a mais segura e eficaz, 
devendo ficar claro que febre é um sinal, não uma doença!
referências:
1. Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Departamentos científicos de Pediatria 
Ambulatorial e Infectologia. Manejo da Febre aguda 2021
2. WhiteBook
3. Curso de pediatria da SBP 4ª edição (2022)

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