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Giardíase: Parasitose Intestinal

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Parasitologia 
Letícia Iglesias Jejesky 
Med 106 
 
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Giardíase 
Doença intestinal provocada pelo protozoário 
Giardia lamblia que habita o intestino delgado 
humano. Já foram registrados casos dessa 
parasitose em outros animais. É um protozoário 
muito prevalente no mundo e abrange a 
população de forma geral, mas afeta mais as 
faixas etárias de 8 meses até 12 anos de idade. 
 
Giardia lamblia 
Classificação Taxonômica 
Reino: Protozoa 
Filo: Sarcomastigophora (presença de flagelos ou 
pseudópodes) – no caso da Giardia, é um 
protozoário flagelado. 
Subfilo: Mastigophora 
Ordem: Diplomonadida 
Família: Hemitidae 
Espécie: Giardia lamblia (também pode ser 
chamada de Giardia intestinalis ou Giardia 
duodenalis) 
Doença: Giardíase 
 
Morfologia 
Duas formas: 
1. Trofozoíto: 8 flagelos (octaflagelado), 
disco suctorial, forma de pêra e dois 
núcleos. Mede de 9 a 20 micra de 
comprimento por 5 a 15 micra de largura. 
É a partir do disco suctorial que o trofozoíto se 
adere às células do intestino delgado. Tem 
formato pirifone (pêra) e é binucleado. 
Observando o par de núcleos é possível ver que 
envolta deles existe uma região mais clara, essa 
região é o disco suctorial. É através dessa região 
que acontece a adesão do protozoário com as 
células intestinais para realizar suas funções 
vitais, como se alimentar e se multiplicar. 
2. Cisto: oval ou elipsóide. 2 ou 4 núcleos. 
Mede de 8 a 12 micra de comprimento por 
7 a 9 micra de largura. 
O cisto é a forma de resistência e se origina a 
partir do trofozoíto quando ele se encontra em 
condições inadequadas para a sua sobrevivência. 
Isso ocorre nas porções finais do intestino 
delgado. Ou seja, quando o trofozoíto se aproxima 
do intestino grosso, ele muda de forma, variando 
para a forma cística, que resiste ao ambiente. O 
cisto é a forma infectante do protozoário que será 
ingerida e determina a infecção. A estrutura 
cística tem parede rígida que garante 
sobrevivência de até 2 meses. Há estruturas 
flageladas – chamados de corpos parabasais – 
que ainda não tem a função determinada. 
Quando o indivíduo ingere o cisto, a parede cística 
vai romper. Acontecendo o desencistamento no 
intestino delgado, há liberação de dois 
trofozoídos. 
 
 
 
Giardia lamblia (Giardia intestinalis, G. 
lduodenalis ou Lamblia intestinalis) 
É um flagelado que mede 10 a 20 µm de 
comprimento por 5 a 15 µm de largura. Possui 
corpo piriforme, mas bastante deformável, 
simetria bilateral e achatamento dorsoventral. Na 
face ventral há um disco suctorial ou citóstoma, 
que lhe permite aderir ao epitélio intestinal, e 3 
pares de flagelos, além de um par caudal que sai 
do extremo posterior. Internamente possui, ainda, 
2 núcleos iguais e simétricos e o aparelho de Golgi 
ou corpo parabasal. Ao longo do eixo celular há 
um feixe longitudinal de microtúbulos - o axóstilo 
- junto ao qual nascem os flagelos. Não possui 
mitocôndrias. Nutre-se por pinocitose ou por 
transporte através da membrana celular. A 
reprodução é assexuada, por divisão binária 
longitudinal. 
 
A forma trofozoítica é encontrada em fezes 
diarreicas do indivíduo, nas fezes formadas, de 
modo geral, encontram-se os cistos. 
 
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Reprodução 
A divisão binária é a forma reprodutiva 
encontrada por esse protozoário. Ocorre 
nucleotomia, onde os dois núcleos se multiplicam 
e passam a ser quatro núcleos e cada novo 
protozoíto recebe uma porção citoplasmática e 
vão se afastar um do outro, originando dois 
protozoítos. 
 
 
Nesses protozoários, a região convexa é a dorsal 
e a região ventral é côncava. Ele possui na sua 
face dorsal reentrâncias, especializações de 
membrana, que favorece a absorção de nutrientes 
 
Ciclo biológico 
Cistos são eliminados juntamente com fezes de 
hospedeiro contaminados  contaminação de 
água, fruta, legumes e verduras podendo durar até 
2 meses nesses substratos  ingestão dos cistos 
provoca a liberação dos trofozoítos no intestino 
delgado. 
A partir de um cisto há a liberação de dois 
trofozoítos que vão se fixar nas células 
intestinais, iniciando a nutrição  posteriormente 
acontece a multiplicação. 
O trofozoíto vai se nutrir e se multiplicar e, 
atingindo as porções terminais do intestino 
delgado (por arrastamento da diarreia, por 
exemplo), chega até o íleo e sofre transformação 
para a fase cística. Os cistos são eliminados junto 
com as fezes. 
 
 
Imunidade 
Deficiência de IgA e IgG produzem aumento das 
infecções. 
 
Sintomatologia 
 Indivíduos assintomáticos (eliminação de 
cistos por até 6 meses) – eles precisam 
ser tratados mesmo sendo 
assintomáticos, pois são fonte de 
contaminação. 
 Quadros agudos: diarreia, dor abdominal 
(epigástrica ou periumbilical), vômitos, má 
absorção intestinal, deficiência de lactase, 
deficiência de ferro e zinco, desnutrição, 
distensão abdominal 
 Diarreia aguda 
 Diarreia persistente 
 Sinais patognomônicos em crianças: 
 Má absorção (gordura e vitaminas A, D, E e 
K) – se não absorve bem os lipídeos, ele é 
incapaz de absorver vitaminas 
lipossolúveis 
 Perda de peso 
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 Irritabilidade 
 Perda de apetite 
 Emagrecimento 
 Esteatorreia – eliminação de altas taxas 
de gorduras nas fezes. 
 
A doença pode se manter no organismo por muito 
tempo. A Giardia lamblia é um protozoário 
monoxênico, não dependendo de hospedeiros 
intermediário e, por isso, a sua multiplicação no 
intestino delgado determina que o quadro clínico 
se estenda. 
Dor epigástrica e periumbilical: típico de 
parasitismo de intestino delgado. 
Desnutrição pode conduzir a quadro anêmico 
(mas a Giardia não se alimenta de sangue). 
 
Quadro clínico da giardíase 
Período de incubação é, em geral, de 1 a 3 
semanas. Mais de 90% dos casos acompanham-
se de diarreia, com grande número de evacuações 
líquidas ou pastosas, com muco nas fezes, 
flatulência e cólicas intestinais. Ela pode ser 
autolimitada ou recorrente. Em surtos 
epidêmicos, a duração varia de 1 a 30 semanas (6 
semanas, em média). Há formas subagudas e 
outras evoluindo eventualmente para a 
cronicidade, com diarreias intermitentes e perda 
de peso. Em imunodeprimidos, a infecção chega a 
ser grave. 
 
A redução da taxa de microvilos intestinais pode 
conduzir a um processo inflamatório e também a 
uma síndrome de má absorção intestinal. Por 
conta de carga parasitária alta de Giardia há 
relatos de sangramentos, não por ação 
traumática, mas por conta do processo 
inflamatório, porém, isso é mais raro. 
 
Ações do parasita 
 Mecânica-obstrutiva: impede a absorção 
de nutrientes pelos microvilos 
 Ação inflamatória – a presença do 
protozoário estimula uma resposta 
imunológica do hospedeiro, levando a 
edema e piora da má absorção 
 Ação espoliativa 
 
 
 
 
Sintomologia 
Na primoinfecção (ingestão considerável de 
cistos) 
 Diarreia aquosa e explosiva, de odor fétido 
 Gases, distensão e dores abdominais. 
 
Epidemiologia 
 Água de rede pública maltratada 
 Diarreia dos viajantes que chegam a áreas 
endêmicas 
 Defecação no chão e levar mão à boca 
 Ambientes coletivos – internato, 
enfermarias, etc. Creches (importante). 
 Babás e manipuladoras de alimentos crus 
 
Patogenia 
 Atrofia parcial ou total das vilosidades – 
levando a um quadro de síndrome de má 
absorção 
 
Diagnóstico 
 Clínico-Sintomatologia 
 Laboratorial 
 Exame de fezes diarreicas (encontra 
trofozoítos) e formadas (encontra cistos) 
 
Tratamento 
O tratamento é feito com os derivados 
nitroimidazólicos: Metronidazol (Flagil®); 
Ornidazol; Secnidazol; Tinidazol (Fasigyn ®); 
Nimorazol; 
Também com: Furazolidona (Giarlam®); 
Quinacrina; Nitazoxanida (Annita ®) 
Também pode ser indicado o Albendazol 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Sintomatologia 
A giardíaseapresenta clínica diversa que varia 
desde indivíduos assintomáticos até pacientes 
sintomáticos que podem apresentar um quadro 
de diarreia aguda e autolimitante, ou um quadro 
de diarreia persistente, com evidência de má-
absorção e perda de peso, que muitas vezes não 
responde ao tratamento específico, mesmo em 
indivíduos imunocompetentes. 
Geralmente, na primo infecção (pacientes não 
imunes), a ingestão de um elevado número de 
cistos é capaz de provocar diarreia aquosa, 
explosiva e de odor fétido, acompanhada de 
gases com distensão e dores abdominais. Essa 
forma aguda dura poucos dias e seus sintomas 
iniciais podem ser confundidos com os quadros 
associados às diarreias virais e bacterianas. 
Nas infecções crônicas, os sintomas podem 
persistir por muitos anos, manifestando-se com 
episódios de diarreia contínuos, intermitentes ou 
esporádicos. Em muitos casos, especialmente em 
crianças, esta diarreia crônica pode ser 
acompanhada de esteatorreia, perda de peso e 
problemas de má absorção. As principais 
complicações da giardíase crônica estão 
associadas à má absorção de gordura e de 
nutrientes, como vitaminas lipossolúveis (A, D, E, 
K), vitamina B12, ferro e lactose. 
Patogenia 
Evidências levam a crer que os mecanismos 
patogênicos são multifatoriais, podendo ser 
determinados por fatores relacionados ao parasito 
(cepa, carga infectante) e ao hospedeiro (direta, 
associação a microbiota intestinal, resposta imune e 
estado nutricional). 
Diferentemente do que ocorre em outras infecções 
parasitaria, Giardia pode determinar alterações 
morfológicas e fisiológicas do epitélio intestinal sem 
que haja invasão tissular e celular. A colonização do 
intestino pelo parasito pode alterar a arquitetura da 
mucosa intestinal, especialmente, no que diz respeito 
à organização das microvilosidades. 
Dentre os diversos fatores que têm sido aventados 
para explicar as alterações morfológicas e funcionais 
do epitélio intestinal, destaca-se o processo 
inflamatório desencadeado em virtude de resposta 
imune do hospedeiro frente e presença do parasito na 
mucosa.

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