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Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 1 Larva Migrans Visceral Família Ascarididae Toxocara canis: zoonose muito diagnosticada em cães e gatos na clínica de pequenos animais. Por conta da alta frequência, é importante falar do seu impacto no organismo humano. O toxocara canis produz no organismo humano um quadro denominado Larva migrans visceral (LMV) e eventualmente pode produzir também a Larva migrans ocular (LMO). Termo larva migrans: verme que não se desenvolve até a fase adulta fora do organismo dos seus hospedeiros naturais; os hospedeiros naturais são inicialmente os cães e secundariamente os gatos. Os seres humanos apresentam quadro clínico relacionado à presença das larvas do verme no seu organismo. Os principais órgãos afetados são fígado e pulmões na LMV. Se as larvas do verme se instalarem no globo ocular, temos quadro de LMO. LMV e LMO são síndromes causadas pela migração das larvas de Toxocara canis no organismo de seres humanos. Síndrome causada pela migração de larvas de T. canis no organismo humano Parasito de cães e gatos, preferencialmente de cães – fase adulta Cães novos se infectam pela ingestão de ovos com a L2 – ovos eliminados pelas fezes dos cães que tem a parasitose Transmissão para os filhotes se dá por via transmamária (pela amamentação cães ingerem as larvas) e transplacentária (larvas atravessam a barreira placentária; nesse caso, os cães neonatos já estarão parasitados quando nascerem e com uma semana de vida já eliminam os ovos nas fezes) A partir do segundo mês os cães desenvolvem resistência Infecção no homem Ingestão de ovos com L2 – os ovos levam uma até duas semanas para amadurecem no solo depois que são liberados com as fezes dos cães ou gatos parasitados. Ou seja, trata-se de um geohelminto. Intestino delgado: eclosão dos ovos – a eclosão é acompanhada do desenvolvimento do L2 para L3. L3 penetram na parede intestinal, caem na circulação sanguínea e atingem diversos tecidos: fígado, pulmões, coração, medula óssea, musculatura e olhos – as larvas atingem diversos tecidos e órgãos e permanecem por longos períodos nessas regiões, contudo, não são capazes de completar o seu desenvolvimento no organismo humano. As larvas como L3 produzem lesões nos tecidos que desencadeiam o quadro de larva migrans visceral. Hospedeiro Errático Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 2 O parasito: Toxocara canis Como vários nematoides de animais que infectam ocasionalmente o homem, este parasito não completa seu ciclo biológico normal, no organismo humano, permanecendo como uma larva migrans visceral, em diferentes tecidos. O verme adulto assemelha-se ao Ascaris, medindo a fêmea 6 a 18 cm e o macho 4 - 10 cm. Além de 3 lábios que precedem a boca, possuem 2 expansões cervicais em forma de aletas. Machos e fêmeas habitam intestino delgado dos cães e os ovos são oriundos justamente desses animais. Os ovos sendo eliminados, contaminam o solo e os seres humanos que ingerem esses ovos contraem, se houverem condições propícias, o quadro de larva migrans visceral. Patogenia/Sintomatologia LMV Depende da quantidade de larvas, do órgão invadido e da resposta imune do paciente. Quantidade: se o indivíduo ingere poucos ovos, parte dessas larvas não consegue chegar aos órgãos por conta da reação imunológica e o quadro clínico será assintomático. Contudo, se ele tiver uma grande carga parasitária, manifestação sintomas mais graves. Órgão invadido: quando a infecção é hepática o grau de gravidade varia com o número de larvas; costuma ser mais grave quando há invasão dos globos oculares ou dos pulmões. Resposta imune: determina uma gravidade maior ou menor da doença; resposta imune eficiente acontece normalmente a partir da puberdade, indivíduo é praticamente assintomático. Crianças até 10 anos costumam ser os pacientes mais acometidos por conta da resposta imune não eficiente, assim como os indivíduos hipersensíveis. Pulmão: tosse, febre, dispneia, sibilância, eosinofilia prolongada – a tosse costuma ser produtiva. Síndrome de Loeffler SNC: manifestações neurológicas, meningite, encefalite. Sintomas inespecíficos (febre e cefaleia) LMO Quando há ingestão do verme e as larvas migram para os globos oculares. Lesões unilaterais envolvendo coróide, retina e vítreo – não se sabe o motivo de ser unilateral Perda da visão: a presença das larvas gera abscessos eosinófilos tendem a produzir o descolamento da retina e opacificação do humor vítreo, com perda da visão – há um tratamento especial quando o quadro se trata de LMO, ele não é feito com anti- helmínticos, mas sim com corticoides. Mais comum: leucocoria, perda da capacidade visual, dor e estrabismo. Como distinguir oftalmocisticercose da LMO? O cisticerco não é cilíndrico, é um pacote redondo de coloração branco que produz escólex com ventosas. A LMO é cilíndrica. Fazer exame de fundo de olho. Epidemiologia Presença de cães e gatos em locais como praias, parques, praças, creches (caixas de areia); Crianças: ingestão de ovos de Toxocara na terra ou objetos – doença mais complicada: entre 2 e 5 anos de idade; Cães novos: principal fonte de infecção; Fator de contaminação do solo: eliminação de muitos ovos e resistência dos mesmos – as fêmeas liberam uma altíssima quantidade de ovos diariamente. Controle: exame e tratamento de cães e gatos – eles são a fonte de infecção. Evitar acesso dos animais a locais públicos Diagnóstico Diagnóstico fundamenta-se em dados clínicos, hematológicos, radiológicos, biópsia ou métodos imunológicos. Não tem como ser feito exame parasitológico de fezes – não há ovos nas fezes humanas! Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 3 Como fazer diagnóstico diferencial de um paciente que tem larva migrans visceral e de um com ascaridíase? Exame parasitológico de fezes: se forem encontrados ovos mamilonados, trata-se de ascaridíase. Sem ovos nas fezes, pode se tratar de larva migrans visceral, pois nessa parasitose os seres humanos não eliminam ovos, já que os adultos do verme não se formam no organismo humano, apenas as larvas. Tratamento Em geral é desnecessário, por serem as infecções benignas e autolimitadas (principalmente em indivíduos acima de 15 anos de idade). A duração do parasitismo pode alcançar 6 a 18 meses. Mas, pacientes dos grupos de alto risco para reinfecções ou superinfecções, devem ser tratados. Utilizar albendazol, mebendazol, tiabendazol ou dietilcarbamazina. A repetir após uma semana, se necessário. Na toxocaríase ocular, usar prednisona e triancinolona em vez de anti-helmínticos. São corticoides, a necessidade desse uso é reduzir a formação dos abscessos eosinofílicos que vão proporcionar deslocamento de retina e perda da visão. Observações Parasita acidental: chega a fase adulta fora do hospedeiro natural Parasita errático: não chega a fase adulta fora do hospedeiro natural Nessa parasitose, o homem é um hospedeiro errático Como adquirir essa infecção: ingerindo ovos que saem das fezes do cachorro. Não tem como ser humano transmitir para ninguém, pois ele só tem larva, não tem adulto; larva não põe ovos. LMV: sintomatologia típica de fígado e pulmões. A presença da larva que provoca reação inflamatória.