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Indaial – 2019 Deficiência visual: funDamentos e metoDologias Prof.ª Adriana Prado Santana Santos Prof.ª Janaina Lueders 2a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof.ª Adriana Prado Santana Santos Prof.ª Janaina Lueders Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: SA237d Santos, Adriana Prado Santana Deficiência visual: fundamentos e metodologias. / Adriana Prado Santana Santos; Janaina Lueders. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 200 p.; il. ISBN 978-85-515-0398-0 1. Deficiência visual. - Brasil. I. Lueders, Janaina. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 371.9044 III apresentação Caro acadêmico, é com grande entusiasmo que apresentamos a você a disciplina Deficiência Visual: fundamentos e metodologia. Este livro didático foi desenvolvido com muito estudo e dedicação para apresentar as orientações teóricas e os recursos que servirão como base para conduzi-lo ao conhecimento acerca das questões e debates que envolvem a deficiência visual e seus contextos. A inclusão da pessoa com deficiência visual na sociedade e na escola é um tema de extrema importância para o educador, pois, toda pessoa tem direito de sentir-se acolhido e pertencente ao meio em que vive. A escola tem papel fundamental em desenvolver no educando a possibilidade de aprender e utilizar várias estratégias e possibilidades no desenvolvimento integral do seu intelecto. Este livro aborda diferentes concepções teóricas, com o intuito de problematizar o tema e possibilitar uma visão ampla dos diversos aspectos relacionados à inclusão da pessoa com deficiência. Na Unidade 1, buscaremos conhecer o contexto histórico da deficiência visual, iniciando os estudos através de um breve histórico da deficiência, o papel da sociedade na inclusão da pessoa com deficiência visual e a formação docente para atuar com essa deficiência. Analisando como acontece a formação e quais os percalços dessa numa inclusão de fato. Entenderemos a classificação e a legislação acerca da Deficiência Visual, o que trata a legislação mundial e brasileira sobre o tema. Estudaremos também sobre a classificação da deficiência visual, de acordo com a Organização Mundial da Saúde e a classificação educacional para essa deficiência. Na Unidade 2, estudaremos os tipos de deficiência visual e os recursos necessários para a inclusão escolar. Na primeira parte dessa unidade, apresentaremos os tipos de deficiência visual, as causas, os diagnósticos e os prognósticos da baixa visão, da cegueira e da surdocegueira. Na sequência, veremos alguns recursos didáticos utilizados para a inclusão da pessoa com deficiência visual, a fim de auxiliar em sua aprendizagem. Além disso, falaremos dos recursos ópticos e não ópticos, a adequação dos espaços físicos e mobiliários e como estabelecer uma comunicação e relacionamento adequados para proporcionar uma inclusão de qualidade à pessoa com deficiência visual. Na Unidade 3, apresentaremos os desafios das pessoas com deficiência visual nos espaços sociais, abordaremos um olhar sobre a acessibilidade, considerando a importância da inclusão social e escolar do aluno com IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA deficiência visual. Na sequência, estudaremos os caminhos para autonomia, o papel da sociedade, da família e da escola nesse processo. Refletiremos também acerca da orientação e mobilidade, trazendo conhecimentos básicos para a inclusão da pessoa com deficiência. Para concluir nossos estudos, apresentamos alguns recursos e adaptações necessários para a inclusão do aluno com deficiência visual no seu processo de alfabetização, além de trazer exemplos de materiais didáticos multidisciplinares de várias áreas do conhecimento. Bons estudos! Profª. Adriana Prado Santana Santos Profª. Janaina Lueders V Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII UNIDADE 1 – DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE ... 1 TÓPICO 1 – DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO ................................................. 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 O QUE É DEFICIÊNCIA? UMA BREVE CONCEITUAÇÃO SOBRE O TEMA ..................... 4 3 DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE OLHAR ............................................................................... 6 4 A HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA VISUAL ..................................................................................... 11 4.1 A SOCIEDADE NA INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL ..................... 17 4.2 A FORMAÇÃO DOCENTE NO PROCESSO DE INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA .................................................................................................................................. 20 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 27 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 28 TÓPICO 2 – A DEFICIÊNCIA VISUAL: CLASSIFICAÇÃO E LEGISLAÇÃO ........................... 31 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 31 2 LEGISLAÇÃO MUNDIAL SOBRE A DEFICIÊNCIA .................................................................. 31 3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE A DEFICIÊNCIA VISUAL .............................................. 34 4 CLASSIFICAÇÃO DA DEFICIÊNCIA VISUAL ............................................................................ 40 4.1 CLASSIFICAÇÃO EDUCACIONAL ............................................................................................ 43 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................49 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 53 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 54 UNIDADE 2 – DEFICIÊNCIA VISUAL – TIPOS DE DEFICIÊNCIA VISUAL .......................... 55 TÓPICO 1 – TIPOS DE DEFICIÊNCIA VISUAL, DIAGNÓSTICOS E PROGNÓSTICOS .... 57 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 57 2 BAIXA VISÃO ...................................................................................................................................... 58 2.1 CAUSAS ............................................................................................................................................ 59 2.2 DIAGNÓSTICOS E PROGNÓSTICOS PARA BAIXA VISÃO .................................................. 69 3 CATARATA INFANTIL ...................................................................................................................... 70 3.1 DIAGNÓSTICOS E PROGNÓSTICOS PARA CATARATA INFANTIL .................................. 72 4 CATARATA EM ADULTOS E CATARATA SENIL ....................................................................... 72 4.1 DIAGNÓSTICOS E PROGNÓSTICOS PARA PESSOAS COM CATARATAS SÊNIOR ...... 73 5 CEGUEIRA ............................................................................................................................................. 74 5.1 CAUSAS DA CEGUEIRA ............................................................................................................... 74 6 GLAUCOMA CONGÊNITO E GLAUCOMA TARDIO ............................................................... 79 7 SURDOCEGO........................................................................................................................................ 80 7.1 CAUSAS MAIS CONHECIDAS .................................................................................................... 81 7.2 DIAGNÓSTICOS E PROGNÓSTICOS PARA SURDOCEGOS ................................................ 83 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 85 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 86 sumário VIII TÓPICO 2 – RECURSOS DIDÁTICOS PARA A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL .................................................................................................. 87 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87 2 A INCLUSÃO DA PESSOA COM BAIXA VISÃO OU CEGUEIRA .......................................... 88 2.1 A APRENDIZAGEM ....................................................................................................................... 88 2.2 RECURSOS DIDÁTICOS PARA O TRABALHO COM A PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL NA ESCOLA ..................................................................................................................... 90 2.3 RECURSOS ÓPTICOS E NÃO ÓPTICOS .................................................................................... 91 2.4 ESPAÇO FÍSICO E MOBILIÁRIO ................................................................................................. 98 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................100 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................101 TÓPICO 3 – USO DAS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS NA INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL .....................................................................................103 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................103 2 AS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS COMO POSSIBLIDADE DE INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL .......................................................................................104 2.1 SOFTWARES DE COMUNICAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL ......106 2.2 APLICATIVOS NO AUXÍLIO DA COMUNICAÇÃO PARA O DEFICIENTE VISUAL ....107 2.3 O SISTEMA BRAILE USADO COMO TECNOLOGIA ............................................................110 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................114 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................121 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................123 UNIDADE 3 – A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO SOCIAL E ESCOLAR PARA O ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL .................................................................125 TÓPICO 1 – OS DESAFIOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL ..........................127 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................127 2 O CAMINHO PARA AUTONOMIA ..............................................................................................129 2.1 PAPEL DA FAMÍLIA.....................................................................................................................130 2.2 PAPEL DA SOCIEDADE ..............................................................................................................133 2.3 CÃO-GUIA .....................................................................................................................................135 2.4 PAPEL DA ESCOLA ......................................................................................................................137 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................141 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................144 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................146 TÓPICO 2 – ORIENTAÇÃO E MOBILIDADE: CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL ................................147 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................147 2 FORMAÇÃO DE CONCEITO – UM BREVE OLHAR ..............................................................149 2.1 ESTIMULAÇÃO CORPORAL .....................................................................................................151 2.2 ESTIMULAÇÃO AUDITIVA ....................................................................................................155 2.3 ESTIMULAÇÃO DA PERCEPÇÃO OLFATIVA E DEGUSTATIVA .......................................156 2.4 ESPACIAIS/AMBIENTAIS ...........................................................................................................159 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................162 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................163 IX TÓPICO 3 – RECURSOS E ADAPTAÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS MULTIDISCIPLINARES PARA A INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL ................................................................................................1651 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165 2 ALFABETIZAÇÃO E APRENDIZAGEM .......................................................................................166 2.1 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO – SALA DE RECURSO MULTIFUNCIONAL (SRM) .........................................................................................................168 3 MATERIAIS DIDÁTICOS MULTIDISCIPLINARES .................................................................175 3.1 PORTUGUÊS ..................................................................................................................................177 3.2 MATEMÁTICA ..............................................................................................................................180 3.3 HISTÓRIA/GEOGRAFIA .............................................................................................................182 3.4 CIÊNCIAS .......................................................................................................................................183 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................188 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................189 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................191 X 1 UNIDADE 1 DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conceituar deficiência; • proporcionar ao educando compreender os diferentes conceitos do termo deficiência ao longo da história; • apresentar ao acadêmico um breve histórico da deficiência visual no Brasil; • analisar a importância da sociedade na inclusão da pessoa com deficiência; • reconhecer a importância da formação do professor para o trabalho com a pessoa com deficiência; • compreender a legislação acerca da classificação e legislação da deficiência visual; • relacionar a classificação da deficiência visual de acordo com a Organização Mundial da Saúde e educacional. Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO TÓPICO 2 – A DEFICIÊNCIA VISUAL: CLASSIFICAÇÃO E LEGISLAÇÃO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, você já parou para pensar que o mundo é interpretado a partir de muitos olhares? E que cada pessoa interpreta a partir daquilo que vê? Ora, e quais são as diversas formas de “olhar e enxergar” as coisas? Todos olhamos apenas com nossos olhos? Quais outras possibilidades de interpretar o mundo podem ser desenvolvidas pelo ser humano? A forma com que o ser humano enxerga o mundo é individual e cheia de possibilidades. Compreende-se aqui que a palavra “enxergar” não se limita a olhar com os olhos, mas está carregada de sentimentos, de sensibilidades, de cheiros, gostos e sensações, e estes são extremamente individuais e mutáveis, ou seja, nem sempre enxergamos as coisas da mesma forma e com a mesma intensidade. Assim, como este conceito de enxergar o mundo pode ser diverso, devemos considerar que vivemos num mundo de diversidades e diferenças, sendo necessário o respeito com o outro. No subtópico a seguir você será apresentado ao conceito de deficiência. É importante conhecer, à luz da legislação, como o termo é definido e como ao longo do tempo ele sofreu alterações, como excepcional, portador de necessidades especiais, portador de deficiência e, atualmente, “pessoa com deficiência”, onde a palavra “pessoa” tem o objetivo de diminuir o peso da palavra “deficiência”, afinal, todos somos diferentes, não é? Após essa breve conceituação, você será levado a refletir sobre a história da deficiência visual, trazendo uma linha do tempo desde a época mais remota, como em algumas culturas em que os cegos eram idolatrados e em outras eram tratados como espíritos do mal. Na sequência, você estudará sobre a importância da sociedade na inclusão da pessoa com deficiência e a formação de professores para atuar com alunos com deficiência visual. UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 4 2 O QUE É DEFICIÊNCIA? UMA BREVE CONCEITUAÇÃO SOBRE O TEMA Antes de iniciar os estudos sobre a deficiência visual é importante que você, estudante, amplie seu conhecimento sobre o significado do termo deficiência à luz da legislação, para que compreenda como a lei trata as questões relacionadas às pessoas com deficiência e seus direitos. Aqui, teremos acesso a uma breve conceituação médica sobre o tema e a legislação brasileira que conceitua o termo “deficiência”. O período histórico com as determinações legais você encontrará mais adiante, ao tratarmos da história e legislação da deficiência visual. Para compreender a construção do conceito de deficiência, convido você a conhecer um pouco sobre como se constituiu a classificação das doenças. De acordo com Amiralian (2000), esta vem sendo uma preocupação dos profissionais da saúde desde o século XVIII, mas apenas na VI Revisão Internacional de Doenças (CID-6), em 1948, é que foram feitas referências às doenças que poderiam se tornar crônicas e que passaram a exigir outros atendimentos além dos cuidados médicos. Ainda segundo Amiralian (2000), em 1976 surgiu uma nova conceituação, que se apresentou como a Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens (Quadro 1), sendo esse manual publicado em 1989. Entende-se a partir dessa publicação os seguintes conceitos: QUADRO 1 – CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DEFICIÊNCIAS TERMO CONCEITO DEFICIÊNCIA Perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais. Representa a exteriorização de um estado patológico, refletindo um distúrbio orgânico, uma perturbação no órgão. INCAPACIDADE Restrição, resultante de uma deficiência, da habilidade para desempenhar uma atividade considerada normal para o ser humano. Surge como consequência direta ou é resposta do indivíduo a uma deficiência psicológica, física, sensorial ou outra. Representa a objetivação da deficiência e reflete os distúrbios da própria pessoa, nas atividades e comportamentos essenciais à vida diária. TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 5 DESVANTAGEM Prejuízo para o indivíduo, resultante de uma deficiência ou uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de papéis de acordo com a idade, sexo, fatores sociais e culturais. Caracteriza-se por uma discordância entre a capacidade individual de realização e as expectativas do indivíduo ou do seu grupo social. Representa a socialização da deficiência e relaciona-se às dificuldades nas habilidades de sobrevivência. FONTE: Adaptado de Amiralian (2000) Lembrando que a conceituação apresentada se refere ao conceito médico da palavra “deficiência” e, apesar de ter se tornado parte de um manual, esse conceito não é unânime e você pode encontrar bibliografias com outros conceitos. Foi a partir do modelo médico de conceituação de deficiência que se iniciou a prática de integração destas pessoas, pois havia o entendimento de que era necessário preparar a pessoa com deficiência para integrar-se à sociedade, ou seja, torná-la apta a satisfazer os padrões da sociedade (MENEZES, 2013 apud GUIMARÃES; FERREIRA, 2003). Menezes (2013) afirma que neste período iniciou-se a integração das pessoas comdeficiência na escola e o termo integração foi utilizado para minimizar a situação excludente de educação das pessoas com deficiência, ainda que esta integração, apesar de se mostrar como um avanço, apenas “as pessoas que possuíam condições de se adequar na sociedade de forma geral e em instituições como a escola teriam oportunidades de integração” (MENEZES, 2013, p. 16). Quando se refere ao processo educacional da integração da pessoa com deficiência, remete-se a Januzzi (2004, p. 29), o qual afirma que: “[...] a história da educação dos deficientes vem se manifestando através de tentativas práticas, muitas vezes criações deles próprios para vencer os desafios com que se confrontam nos diversos tempos e lugares”. Observa-se que o processo de inclusão foi lento e gradativo, e, conforme Menezes (2013), num primeiro momento foram integrados deficientes visuais e auditivos, seguidos dos físicos e, por último, dos mentais, processo esse que iniciou na Europa, vindo a acontecer mais tarde no Brasil. De acordo com Castro et al. (2015, p. 65), a educação dos indivíduos com deficiência ao longo do tempo foi caracterizada basicamente em quatro fases: I- Fase da negligência, durante a época pré-cristã, na qual era quase nulo o atendimento aos indivíduos, sendo estes, muitas vezes, excluídos do convívio com a sociedade. II- Fase da institucionalização, com a reclusão e atendimento em casas de abrigo (o que aconteceu também com os hansenianos). UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 6 III- Fase da criação das escolas especiais que forneciam aos deficientes uma educação exclusiva, com atendimento assistencialista médico- pedagógico e psicopedagógico, substitutivo ao ensino regular; e por último. IV- Fase do movimento de integração social, o qual tentava incorporar os alunos “excepcionais” em ambientes escolares, mas somente até onde se achava que a capacidade dos mesmos podia alcançar. Neste livro didático o objetivo não é aprofundar-se em conceitos sobre deficiência de forma genérica, tampouco em conceitos médicos, mas é importante que você, estudante, compreenda que o ser humano deve ser entendido em sua integralidade, desta forma, Amiralian (2009, p. 27) afirma que saúde e educação “se entrelaçam e precisam conviver sempre juntas ao se trabalhar com seres humanos e se reveste de uma necessidade especial quando as intervenções são dirigidas às pessoas com deficiência”. 3 DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE OLHAR A deficiência visual, mais especificamente a cegueira, sempre foi tratada pela humanidade com preocupação. Conforme Silva (2013), os povos bárbaros tratavam as doenças dos olhos com uso de drogas ou exorcismo, eram atribuídos aos cegos sentimentos ambíguos, pois, ao mesmo tempo em que eram considerados frágeis e indefesos, também se acreditava que possuíam poderes místicos. O sentido da visão é primordial na interação com outras pessoas e com o mundo dos objetos e é revestido de importantes significados, Amiralian (2009) defende que as concepções populares e literárias sobre cegueira abordam os conceitos metafóricos e simbólicos relacionados à incompreensão e às visões superiores, às energias positivas e negativas transmitidas pelo olhar, e principalmente, o sentimento de perda e castração das capacidades como uma punição merecida por algum pecado inconsciente. A construção da identidade destas pessoas não acontece pautada na deficiência, para elas, conforme defende Winnicott (1975), elas se sentem normais como são e só se percebem deficientes no contato com outro. Neste sentido, segundo Nuernberg (2008), Vygotsky traz importantes contribuições ao afirmar que em contraposição à deficiência há um fortalecimento do potencial humano, privilegiando as características da pessoa, ao dizer que: A cegueira, ao criar uma formação peculiar de personalidade, reanima novas fontes, muda as direções normais do funcionamento e, de uma forma criativa e orgânica, refaz e forma o psiquismo da pessoa. Portanto, a cegueira não é somente um defeito, uma debilidade, senão também em certo sentido, uma fonte de manifestação das capacidades, uma força. (Por estranho que seja, semelhante a um paradoxo) (NUERNBERG, 2008, p. 33 apud VYGOTSKY, 1997, p. 99). TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 7 Dessa forma, o ser humano se constitui e se constrói ao longo da vida, e quando entra em contato com o outro é que se percebe “deficiente” e há um fortalecimento da deficiência, pois fogem da normalidade aceita pela sociedade. E de acordo com Nuernberg (2008), é preciso considerar a diversidade, é preciso se preocupar com o ser humano, levando em consideração sua situação de sujeito complexo, e é necessário “ensinar a condição humana” e saber conviver com ela. “Nas pessoas que nascem ou venham a adquirir uma deficiência visual, a constituição do seu ser e sua identidade perpassa por sentimentos ambíguos e muitos conflitos compreensíveis” (AMIRALIAN, 2009, p. 35). Afinal, é na interação com o outro que acontece a percepção da deficiência e o ser humano se constrói a partir disso. Na cultura em que vivemos, de acordo com Amiralian (2009), as pessoas com quem convivemos são o substrato sobre o qual os indivíduos se constituem, conforme a autora supracitada, e para que possamos entender as pessoas com deficiência visual, buscando a inclusão delas na sociedade, é de fundamental importância refletirmos sobre a nossa cultura, pois na nossa sociedade essas pessoas tendem a suscitar nos outros sentimentos de medo, de dúvida, repulsa, piedade, caridade e uma outra gama de sentimentos confusos. Esse olhar culturalmente instituído tem origem na questão do conceito de deficiência construído, conforme mencionado acima, pautado no modelo médico, onde a proposta de atendimento era centrada na restauração das funções para que a pessoa se tornasse o mais possível semelhante aos videntes, conforme Amiralian (2009). Para Silva (2013), a deficiência visual pode ser conceituada a partir de duas perspectivas, a médica e a pedagógica. Na perspectiva médica, de acordo com o autor, a cegueira se define como a capacidade visual das pessoas que são portadoras de deficiência no órgão da visão, e a medida que é utilizada para determinar a cegueira é a acuidade visual. Silva (2013) traz alguns exemplos de doenças que podem causar cegueira, como a Retnose Pigmentar, que é um distúrbio degenerativo dos bastonetes, com atrofia secundária da retina e do epitélio pigmentar. As alterações se iniciam na periferia da retina, manifestando-se através de cegueira noturna durante a puberdade, e na sua evolução ocorre a diminuição gradativa do campo visual. A visão macular se perde em torno da quarta ou quinta década. A doença é bilateral, podendo ter evolução simétrica, caracteriza-se sobre o globo ocular causando degeneração dos fotorreceptores retinianos, conforme figuras a seguir: UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 8 FIGURA 1 - DEGENERAÇÃO DOS FOTORRECEPTORES RETINIANOS FONTE: Silva (2013, s.p.) FIGURA 2 - SIMULAÇÃO COMPARATIVA ENTRE A VISÃO NORMAL E A VISÃO COMPROMETIDA FONTE: Silva (2013, s.p.) Nos casos de baixa visão, conforme Silva (2013), apresentam-se doenças como o glaucoma, que é uma enfermidade que atinge o nervo óptico causando a perda do campo visual, na maioria das vezes, por aumento da pressão intraocular. Na maioria dos casos, o paciente não sente dor, diminuição da acuidade visual, ardor ou qualquer outro sintoma. TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 9 FIGURA 3 – GLAUCOMA Nervo ótico Mácula Corpo Vítreo Coróide Cristalino Esclera Corpo Ciliar e Músculo Íris Córnea Olho Normal Dano ao Nervo ótico Aumento do Humor AquosoGlaucoma FONTE: Silva (2013, s.p.) Outra doença bastante comum é a catarata, que pode ser definida como a opacificação do cristalino, que é uma lente transparente localizada dentro do olho. Essa opacificação causadiminuição da entrada de luz para dentro do olho e, como consequência, a visão torna-se menos nítida, borrada e escura. Essa mudança geralmente é gradativa e as causas mais comuns que contribuem para o surgimento desta doença são: a senilidade, a congênita, traumática e inflamatória. FIGURA 4 – VISÃO COM CATARATA Visão com Catarata O cristalino opaco bloqueia a chegada dos raios de luz à retina, produzindo imagens escuras e desfocadas. FONTE: Silva (2013, s.p.) UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 10 Há que se considerar também o Diabetes Melitus, que é um distúrbio causado pela falta absoluta ou relativa de insulina no organismo. Quando a insulina produzida pelo pâncreas se torna insuficiente, a glicose é impedida de ser absorvida pelas células, acarretando na elevação dos níveis sanguíneos de glicose, cuja taxa normal, em jejum, é de 70 a 110 mg por 100 ml de sangue. O Diabetes é um dos mais graves problemas de saúde, sendo a terceira maior causa de morte no mundo, superada apenas pelas doenças cardiocirculatórias e câncer. No Brasil acomete 7,6% da população (SILVA, 2013). FIGURA 5 – RETINOSE DIABÉTICA FONTE: Silva (2013, s.p.) As doenças apresentadas são apenas exemplos de doenças que podem causar cegueira ou baixa visão, sendo que no Brasil há um dado estatístico considerável de pessoas que perdem a visão durante a vida, seja com casos de prematuridade, acidentes ou outras doenças provenientes de condições de vida e saúde. Na visão pedagógica (SILVA, 2013 apud AMIRALIAN, 1992), até meados da década de 1970, eram considerados cegos e deviam desenvolver o aprendizado pelo método braile os indivíduos cujos exames oftalmológicos revelassem tal necessidade nos diagnósticos clínicos. Após esse período passaram a ser considerados cegos os indivíduos para os quais o tato, o olfato e a sinestesia eram sentidos fundamentais para a apreensão do mundo externo, trazendo uma mudança significativa na concepção da cegueira, que era embasada em processos médicos e clínicos e posteriormente passou a considerar cegas aquelas pessoas que, pelo seu próprio comportamento visual, indicavam ausência de uma percepção eficaz (SILVA, 2013 apud AMIRALIAN, 1992). TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 11 Miranda (2008) traz como conceito de deficiência visual “incapacidade ou limitação no ato de ver”, ou seja, uma incapacidade total ou parcial da capacidade visual, consequência de alteração no globo ocular ou no sistema visual, assim, estão incluídos neste grupo os cegos e os de visão subnormal ou visão reduzida. Castro et al. (2015), corroborando com Miranda (2008), apresentam a definição da Secretaria de Educação Especial para os termos: cegueira, que corresponde à perda ou redução total da capacidade de ver com o melhor olho e após a melhor correção óptica, ou seja, constitui a incapacidade total ou a diminuição da capacidade de enxergar, oriundas das imperfeições do sistema visual ou do próprio órgão; e baixa visão, que é o indivíduo que tem uma perda visual severa, no entanto, é capaz de manter um resíduo visual que é único de cada pessoa e não depende apenas da acuidade ou da patologia. Em um leque de possibilidades, esse resíduo pode diversificar entre as pessoas, e seu uso pode estar relacionado somente com algumas atividades do cotidiano, inclusive a utilização da leitura e escrita em tinta, com recursos especializados (ópticos, não ópticos e eletrônicos) (BRASIL, 2005). Percebe-se, na literatura, que não há consenso na utilização do termo cego ou pessoa com deficiência visual, dessa forma, neste livro de estudos utilizar-se-á o termo pessoa com deficiência visual. Conforme você estudará mais à frente, a legislação trata da mudança de nomenclatura, onde a inclusão da palavra “pessoa” tem como objetivo o olhar para o ser humano como um ser social e completo e não para a deficiência como constituinte de sua identidade. 4 A HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA VISUAL De acordo com Miranda (2008), ao olhar para a história, percebe-se que a cegueira sempre preocupou a humanidade. Segundo Hugonnier e Clayette (1989), são diferentes os sentimentos que movem os homens no tratamento da pessoa cega. Compaixão, temor ou admiração misturam-se através dos tempos. O próprio Homero, que era cego, na antiguidade, ainda hoje é celebrizado por seus poemas sobre a História do Mundo, como a Ilíada e a Odisseia. Ainda segundo Miranda (2008), a Síria, Jerusalém e a França, nos séculos V, VII, X, XI e XII, foram precursores em providenciar assistência e alojamento aos cegos, com a fundação de asilos e lares. A ideia de ensinar-lhes um ofício e reintegrá-los à sociedade foi desenvolvida por Valentin Hauy, em 1784, com a fundação do Instituto Nacional dos Jovens Cegos, em Paris. Neste Instituto, no ano de 1825, estudou o jovem Louis Braille, que ficou cego na infância durante uma atividade na ferraria do pai, e se encarregou de elaborar um sistema de escrita com as 26 letras do alfabeto, os numerais, a pontuação e os sinais matemáticos (cabe aqui ressaltar que anterior ao desenvolvimento da escrita braile, como é denominada). UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 12 Antes de criar o Sistema Braile, um capitão da Artilharia de Louis XIII inventara um meio de se comunicar com seus subordinados sem a presença de luz, Charles Barbier de la Serre denominava esse meio de comunicação de “escrita noturna” ou sonografia, composta de pontos e traços em relevo. Este capitão visitou em 1823 o Instituto Nacional dos Jovens Cegos em Paris, onde conheceu Braille, na época aluno do local, e que ficou imediatamente interessado no sistema (SILVA, 2013). Ao conversar com o inventor, percebeu a limitação do sistema, pois não conseguiria desenvolver sinais matemáticos e de notação musical, este sistema foi a inspiração para Louis Braille criar o Sistema Braile, que hoje é amplamente utilizado pelos cegos e tornou-se a mais importante forma de comunicação das pessoas com deficiência, conforme Silva (2013). O Sistema Braile, de acordo com Silva (2013), é conhecido universalmente como código ou meio de leitura e escrita de pessoas cegas e baseia-se na combinação de 63 pontos que representam as letras do alfabeto, os números e outros símbolos gráficos. A criação do Sistema Braile facilitou a escolarização das pessoas cegas e desta forma, aos poucos pôde se expandir (MIRANDA, 2008). Na figura a seguir você pode observar a composição do Sistema Braile, que será aprofundado na Unidade 2, neste momento apenas conhecerá sua história e importância para as pessoas com deficiência visual. TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 13 FIGURA 6 – SISTEMA BRAILE 1ª série - série superior - utiliza os pontos superiores 1245 2ª série é resultante da adição do ponto 3 a cada um dos sinais da 1ª série 3ª série é resultante da adição do ponto 3 e 6 aos sinais da 1ª série 4ª série é resultante da adição do ponto 6 aos sinais da 1ª série 5ª série é formada pelos sinais da 1ª série posicionados na parte inferior da cela 6ª série é formada com a combinação dos 3456 7ª série é formada por sinais que utilizam os pontos da coluna direita da cela (456) FONTE: Brasil (2007, s.p.) Outros importantes avanços com relação ao atendimento de pessoas com deficiência visual aconteceram, de acordo com Miranda (2008), na Alemanha, em 1911, quando foi criada a primeira sala de recursos para amblíopes, e posteriormente a França também criou uma sala com o objetivo de dar escolarização e formação profissional aos deficientes visuais, diferentemente do atendimento ofertado aos cegos. No Brasil, de acordo com Rosado (2009), as primeiras iniciativas com relação à inclusão de pessoas com deficiência ocorreram na segunda metade do século XIX com a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, e o Instituto dos Meninos Surdos-Mudos em 1856, criados por decretos imperiais, por D. Pedro II, noRio de Janeiro, e ofereciam educação elementar e profissionalizante. UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 14 Conforme Jannuzzi (2004), ambos institutos receberam muitos privilégios, pois estiveram ligados ao poder central até 1973, quando foram ligados ao Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), primeiro órgão de política educacional do Brasil. A fundação do Instituto dos Meninos Cegos, hoje denominado Instituto Benjamin Constant (IBIC), segundo Pires e Plácido (2018), foi considerada o marco inicial da educação especial no Brasil. Seguindo uma tendência vivenciada na Europa nos séculos XVIII e XIX, ainda conforme Rosado (2009) apud Kassar (2004), houve uma incorporação dos conhecimentos científicos e da ideia de modernidade racional no interior das instituições, sendo que tais conceitos de modernização e racionalização do conhecimento estarão presentes na organização da educação brasileira por meio da prática da separação das crianças normais e anormais nas salas de aula. Essa separação tem como objetivo, de acordo com Rosado (2009), tornar as turmas homogêneas, seguindo as características dos princípios de modernização e racionalização presentes nas sociedades industriais e capitalistas, conforme acima mencionado pela autora, sendo que é dentro deste contexto que surgem as instituições especializadas no atendimento dos deficientes e das chamadas classes especiais. Durante o século XIX houve pouco investimento do governo na educação especial, fato este, segundo Jannuzzi (2004), relacionado à ruralização do país, sendo que apenas no século XX aconteceram as implantações das primeiras instituições filantrópicas e privadas especializadas, em sua maioria com convênios com a iniciativa pública. Em 1926, conforme Rosado (2009), fundou-se em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o Instituto Pestalozzi, especializado em atendimento aos deficientes mentais, sendo que a partir da criação deste instituto acontecem criações de outros, com a finalidade de atendimento a deficientes em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Outra importante fase no processo educacional das pessoas cegas no Brasil foi, de acordo com Pires e Plácido (2018), a oficialização, em 1946, do Curso Ginasial do IBIC, possibilitando o acesso dos alunos à educação, equiparada ao ginásio do ensino comum. Ainda no ano de 1946, no Estado de São Paulo, Dorina de Gouvêa, que ficou cega aos 17 anos sem causa aparente, iniciou com um grupo de amigas “as atividades da fundação para o Livro do Cego no Brasil” (PIRES; PLÁCIDO, 2018, p. 260), que tinha como finalidade, de acordo com Mazzotta (2003), integrar o deficiente visual na comunidade como pessoa produtiva e autossuficiente. TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 15 Em 1954, foi criada a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE, em Minas Gerais. A APAE vai se desenvolvendo ocupando “o espaço vazio da educação especial como rede nacional” (ROSADO, 2009 apud KASSAR, 2004, p. 27). Quando observamos a história da educação de pessoas com deficiência visual, percebe-se que, na década de 1950, houve um avanço considerável em relação às propostas para a educação de cegos ou pessoas com baixa visão. De acordo com Masini (2013, p. 50), em 1950 foi implantada a “primeira sala de recursos para deficientes visuais estudarem em classes comuns”, com aporte da Fundação para o Livro do Cego no Brasil, instituição esta que também foi a primeira a capacitar professores para trabalharem com este público em escolas públicas, conforme assinalam Pires e Plácido (2018). Em 1° de agosto de 1958 foi criada a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da Visão, posteriormente chamada de Campanha Nacional de Educação de Cegos (CNEC) e que estava vinculada ao Gabinete do Ministro da Educação. Conforme Pires e Plácido (2018), a partir dos desdobramentos da campanha surgiram os cursos de formação para professores no Estado de São Paulo e que buscavam expandir o ideal do ensino integrado, buscando proporcionar às pessoas com deficiência visual uma vida cotidiana semelhante às pessoas que não tinham deficiência. O conceito de integrado aqui defendido fundamenta-se no modelo médico de deficiência, “cujo objetivo era a adaptação da pessoa com deficiência às exigências ou necessidades da sociedade como um todo” (MASINI, 2013, p. 51). As escolas que atendiam pessoas com deficiência visual não eram suficientes no país, desta forma, mesmo após as campanhas realizadas, o governo, conforme Rosado (2009), sofreu pressões de pessoas engajadas na luta pela educação especial de qualidade, e desta forma, empenhou-se em enquadrar a Educação Especial na Lei de Diretrizes e Bases da Educação em 1960, além de criar um órgão central que é responsável pelo atendimento educacional dos deficientes do país. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 4.024, aprovada em 1961, constata no Título X, artigos 88 e 89: A educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade. Art. 89. Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos estaduais de educação, e relativa à educação de excepcionais, receberá dos poderes públicos tratamento especial mediante bolsas de estudo, empréstimos e subvenções (BRASIL, 1961). UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 16 Observa-se, no artigo 88, que o poder público não torna obrigatório o atendimento da educação de excepcionais (termo utilizado na lei), considerando seu atendimento quando possível a fim de integrá-lo à sociedade, deste modo pode-se interpretar como uma negação da integração em sua totalidade. De acordo com o artigo 89, mesmo que a lei não seja clara neste sentido, observa-se que “o Estado não se compromete em assumir a educação da população de crianças com deficiências mais severas” (KASSAR, 2004, p. 29), transferindo para a inciativa privada, através de parcerias com estas instituições, o atendimento necessário. Conforme Pires e Plácido (2018), o Movimento Diretas Já, em 1983, e a nova ordem instaurada com o processo de redemocratização e a proclamação da Constituição de 1988, trazem um novo olhar para a Educação Especial, que a partir da década de 1990 intensifica-se com o crescente movimento pela inclusão. E isso traz desdobramentos importantes para a educação brasileira, com algumas medidas oficiais tomadas por órgãos governamentais, no intuito de oferecer suporte para professores, por exemplo, as políticas de formação de professores após a abertura política, especificamente a partir da década de 1990, com a promulgação da Política Nacional de Educação Especial (1994). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n° 9.394/96, traz pela primeira vez um capítulo inteiro dedicado à Educação Especial, além de outras legislações que serão abordadas adiante e que em muito qualificaram o processo de inclusão da pessoa com deficiência. Após a LDB n° 9.394/96, outras legislações vieram para qualificar e aprimorar o processo de inclusão da pessoa com deficiência, assunto este que será tratado no Tópico 2 com mais profundidade. É preciso compreender, conforme Amiralian (2009, p. 22), que “a inclusão é uma organização social em que todos são considerados iguais”, vale salientar que na realidade todos somos diferentes, embora alguns tenham uma diferença mais significativa que os outros, e estas diferenças é que enriquecem nossa convivência em sociedade. Para Pires e Plácido (2018, p. 35): A aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da diversidade humana e a aprendizagem por meio da cooperação são princípios defendidos pela nova ordem da Educação Especial sob o enfoque da Educação Inclusiva. Saber conviver com a diversidade humana representa aceitar as diferenças, em qualquer lugar, e a escola, na nossa sociedade, é um dosespaços mais importantes para o acesso ao conhecimento e aos bens culturais. Processo em constante construção, pois somos seres diferentes em cultura, concepções e entendimentos, carregamos conosco conceitos e princípios enraizados e que precisam ser desconstruídos para alcançarmos uma sociedade mais justa, com igualdade de oportunidades, pois, “hoje essa paradoxal sociedade tem também como valor uma sociedade inclusiva cujo princípio é a aceitação de todos como cidadão com os mesmos direitos e deveres” (AMIRALIAN, 2009, p. 36, grifo nosso). TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 17 Dessa forma, é preciso compreender o papel da sociedade na inclusão da pessoa com deficiência, como família, escola e demais pessoas que compõem essa rede, que podem atuar como facilitador ou barreira na inclusão da pessoa com deficiência visual, sempre buscando uma visão holística do ser humano e suas necessidades, o que, segundo Amiralian (2009, p. 36), “nos leva a pensar na inclusão como uma árdua e longa conquista de todos os indivíduos que vivem em uma determinada sociedade”. 4.1 A SOCIEDADE NA INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL De acordo com o Relatório Mundial sobre deficiência, há uma transição de uma perspectiva individual e médica para uma perspectiva estrutural e social, que foi descrita como a mudança de um “modelo médico” para um “modelo social” no qual as pessoas são vistas como deficientes pela sociedade e não devido a seus corpos (OMS, 2011). O modelo médico e o modelo social costumam ser apresentados como separados, mas a deficiência não deve ser vista como algo puramente médico, nem como algo puramente social: pessoas com deficiência frequentemente podem apresentar problemas decorrentes de seu estado físico, dessa forma é necessário fazer uma abordagem mais equilibrada, que dê o devido peso aos diferentes aspectos da deficiência (OMS, 2011). A deficiência, nas últimas décadas, tem sido colocada como uma realidade pela qual toda a sociedade é responsável e o Estado passa a ser o promotor e garantidor desta premissa. Deste modo, a inclusão social da pessoa com deficiência assume um lema ético e moral, e um dever social, no sentido de sanar as disparidades de assistência às suas demandas cotidianas, outrora pouco atendidas (AMORIM; MEDEIROS NETA; GUIMARÃES, 2016). Ao falar sobre o papel da sociedade na inclusão da pessoa com deficiência, é importante compreender, conforme Mazzotta e D’Antino (2011), que historicamente as pessoas que apresentam diferenças muito acentuadas em relação à maioria das pessoas constituem-se alvo das mais diversas estratégias de violência simbólica. Um dos segmentos populacionais reiteradamente colocados nessa posição tem sido o composto de pessoas com deficiências físicas, mentais, sensoriais ou múltiplas, além daquelas que apresentam outros transtornos de desenvolvimento. Ao nos reportamos a nossa história é perceptível que a sociedade não se constitui justa com todos, conforme a Declaração de Joimtien (1990), que proclama igualdade a todas as pessoas, com isso, é preciso pensarmos na sociedade em que vivemos, pois é feita de pessoas diferentes, e é preciso torná-la mais humana para avançarmos com a inclusão social de qualidade. UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 18 “A inclusão social é a adequação da sociedade às necessidades de seus membros para que eles possam exercer plenamente seu direito à cidadania” (LEITE, 2004, p. 26). E para ser considerada inclusiva, de acordo com Almeida, Mazzafera e Rolim (2017), a sociedade deve atender todas as necessidades especiais da pessoa com deficiência; a democracia se materializa no atendimento a todas estas diversidades. A inclusão social, na prática, apresenta alguns princípios que até então eram tidos como incomuns, “tais como: aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da diversidade humana, a aprendizagem através da cooperação” (SASSAKI, 1997, p. 41-42). Verifica-se que é responsabilidade da sociedade dizimar as barreiras existentes, tornando acessível às pessoas com deficiência tudo o que é necessário para o desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional (ALMEIDA; MAZZAFERA; ROLIM, 2017 apud SASSAKI, 1997). Para Amiralian (2009, p. 34), “as questões da deficiência visual não dizem respeito apenas a quem a possui, é uma questão ampla que afeta a todos aqueles que interagem com as pessoas com perdas ou limitações visuais e também com aqueles que ouvem falar sobre perdas de visão”. A Lei de Diretrizes e Bases confirma em seu art. 2º que a educação: abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais, a Educação, em seu art. 2º [...] é dever da família e do Estado (BRASIL, 1996, p. 7). Para Chacon (2009), a lei é clara ao afirmar que família e Estado devem agir em conjunto na promoção da educação, ou seja, a educação não é somente obrigação da família, nem somente do Estado, mas de ambos, em um processo conjunto. A família, conforme Coutinho (2011), tem um papel crucial no sucesso da inclusão e colabora significativamente em todo o processo inclusivo educacional e social, que acontece desde o nascimento até a graduação na educação superior e mantém-se como um dos principais pilares nesse processo até a inclusão da pessoa com deficiência ao mundo do trabalho. Vygotsky (1989, p. 61) defende com ênfase e vigor a educação da pessoa com deficiência como meio de superação e emancipação da pessoa humana, como ilustra a passagem a seguir: É provável que mais cedo ou mais tarde a humanidade triunfe sobre a cegueira, sobre a surdez e sobre a deficiência mental. Mas as vencerá no plano social e pedagógico muito antes que no plano biológico e TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 19 medicinal. É possível que não esteja longe o tempo em que a pedagogia se envergonhe do próprio conceito que tem sobre a criança deficiente, ou seja, considera como um defeito não eliminável de sua natureza. O surdo falante, o trabalhador cego participantes da vida em toda a sua plenitude, não sentirão sua deficiência e não darão motivos para que outros a sintam. Em nossas mãos está tratar de que o surdo, o cego e o deficiente mental não sejam pessoas com defeito [...] o número de cegos e de surdos se reduzirá de um modo incrível. Pode ser que a cegueira e a surdez desapareçam definitivamente. Porém, muito antes, elas serão vencidas socialmente. As contribuições dos pressupostos da teoria vygotskyana, conforme Miranda (2008), apontam para a possibilidade de a pessoa com deficiência superar suas dificuldades pelo processo de compensação social. Este processo consiste em criar condições e estabelecer interações sociais de trocas que possibilitem aos sujeitos com deficiência se apropriarem da cultura, terem acesso ao conhecimento científico e se tornarem emancipados. Apesar de Vygotsky já em 1989 defender a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade e ter a esperança de que num futuro todas as barreiras possam ser vencidas, o que se observa ainda é um longo caminho pela frente quando se fala em inclusão, e isso pode ser observado em dados trazidos pelo IBGE. De acordo com o Censo do IBGE, de 2010, as crianças com alguma deficiência estão menos presentes na escola quando comparadas às crianças sem deficiência, percentualmente. Além disso, entre deficientes com mais de 15 anos, a taxa de analfabetismo é de 18%, uma diferença de 8,9 pontos percentuais em relação ao total de 9,4% (IBGE, 2010). Tais fatos, conforme Amorim, Medeiros Neta e Guimarães (2016), denotam uma realidade social vulnerável que expõe a pessoa com deficiência a um ciclo retroalimentador de desigualdade, segregação e desamparo, desde as fases escolares hipoassistidas à faltade qualificação profissional para o mercado competitivo, na idade adulta. Desta feita, pode-se observar também que, da mesma forma em que há dados preocupantes com relação à inclusão das crianças com deficiência visual nas escolas, ainda há muito o que se fazer acerca da formação do professor para uma educação inclusiva. Amorim, Medeiros Neta e Guimarães (2016) afirmam que apenas 77,8% dos professores que trabalham na educação especial possuem algum curso de capacitação específico nessa área de conhecimento, e apenas 75,2% possuem nível superior. Entretanto, a formação mínima exigida para atuação do professor nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, inclusive na educação especial equivalente, é a licenciatura, em universidades e institutos superiores de educação (BRASIL, 2013). UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 20 A formação de professores para a Educação Especial tomou proporções de nível nacional a partir da criação, em 1973, do Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), órgão vinculado ao Ministério da Educação que instaurou o Plano Nacional de Educação Especial, tendo como uma das frentes prioritárias a capacitação de recursos humanos para atuar junto aos alunos com deficiência, conforme Pires e Plácido (2018). 4.2 A FORMAÇÃO DOCENTE NO PROCESSO DE INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA Inicia-se a reflexão acerca da formação docente a partir de Lima e Castro (2012), que defendem que todos têm o direito de participar ativamente da construção do próprio conhecimento, uma vez que é através dele que é possível encontrar caminhos para saborear o mundo que nos rodeia. Não proporcionar o conhecimento para qualquer pessoa que o busque é impedir seu crescimento e sua formação, e desta forma, deixando-o à margem do desenvolvimento de competências que o tornem pleno e participativo. O ser humano é um ser inacabado, inconcluso, e com uma realidade que, conforme Freire (2003, p. 72): “sendo histórica também, é igualmente inacabada [...] os homens se sabem inacabados, têm a consciência de sua inconclusão”. É neste processo, de acordo com Freire (2005), que a educação se faz e refaz constantemente, ou seja, é um fazer permanente, é na práxis, na concepção problematizadora, onde há reforço na mudança, que o ser humano tem a possibilidade de olhar para frente, de trabalhar com o diferente, de considerar o ser humano enquanto ser histórico e com uma história que há de ser considerada. Ao refletir sobre o aluno como ser carregado de históricas, conforme afirma Bulgraen (2010), é necessário considerar as experiências sociais acumuladas de cada aluno e seu contexto social, de modo a construir a partir daí um ambiente escolar acolhedor em que o aluno se sinta parte do todo e esteja totalmente aberto a novas aprendizagens. Assim como os alunos, os professores também têm sua história de vida, não são um corpo vazio em busca de formação, trazem em sua prática as vivências e experiências que adquiriram ao longo da vida. É preciso compreender que a formação acontece ao longo da vida. Reconhecendo-se como um ser inacabado, o professor tem a possibilidade de entender que a prática de hoje ou de ontem só pode melhorar a próxima prática se houver uma reflexão crítica sobre ela (FREIRE, 2005). TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 21 Essa reflexão crítica só é possível, segundo Freire (2005), se o discurso teórico, que é necessário à reflexão crítica, for de tal modo concreto que quase se confunde com a prática, sendo o professor preparado para conseguir lidar em seu caminho com toda diversidade que a escola tem. Não há uma fórmula para a formação docente, uma receita divina que determine os caminhos a serem tomados em sala de aula. O que deve existir é uma preparação para que o professor consiga lidar com as adversidades e que compreenda que cada aluno, assim como ele, traz consigo conhecimentos adquiridos na sua vida, na convivência com o outro, com a família e com o meio em que vive, e que esta diversidade é que enriquece o processo pedagógico. A formação de professores deve estar ligada à capacidade desse profissional de lidar com a diversidade que a escola abriga. Para Drago e Manga (2017), a formação inicial e continuada precisa ter relevância não apenas no contexto dos alunos sem deficiência, mas também aos aspectos que envolvem a aprendizagem dos alunos que compõem a educação especial, pois estes sujeitos estão inseridos no contexto social-histórico-cultural, afetando e sendo afetados pelos atravessamentos culturais humanos. De acordo com Marinelli e Cerchiari (2011), para que a diversidade seja acolhida na escola, é preciso que os professores disponham de conhecimentos para trabalhar com todo e qualquer aluno inserido em um grupo diversificado, o que é expresso, no trecho de Motta (2004), pelo termo “em salas de aula regulares”, ou seja, em salas em que estudem alunos com e sem deficiência. A garantia de frequentar classes comuns, num processo de inclusão da pessoa com deficiência, qualifica a interação social dessa pessoa, porém, é preciso que aluno, demais profissionais da educação e professores estejam preparados para interagir com o aluno com deficiência. De acordo com Bulgraen (2010), o professor tem nas mãos a responsabilidade de agir como sujeito em meio ao mundo e de ensinar para seus educandos o conhecimento acumulado historicamente, dando-lhes a oportunidade de também atuarem como protagonistas na sociedade. E para que isso seja possível, o professor precisa assumir seu verdadeiro compromisso e encarar o caminho do aprender a ensinar. Para Fleuri (2009), a formação docente inicial e continuada não é o único aspecto a ser considerado em relação aos professores que atuam na Educação Especial e que trabalhem para a inclusão. Suas histórias de vida e suas experiências socioeducacionais, assim como todo o conjunto de saberes adquiridos a partir dessas vivências, também formam e dão sentido à formação instrucional adquirida academicamente. E segundo Drago e Manga (2017, p. 2): UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 22 A construção da identidade profissional como docente está, portanto, intimamente ligada à compreensão do professor de seu real valor e lugar no mundo, como ser que pode produzir e transmitir cultura, atravessando momentos de construção-desconstrução-reconstrução de saberes e fazeres sociais com posicionamento histórico. Dessa feita, ao pensar na formação de professores é preciso levar em consideração o que traz a Declaração de Salamanca (1994, p. 11) sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais: Treinamento especializado em educação especial que leve às qualificações profissionais deveria normalmente ser integrado com ou precedido de treinamento e experiência como uma forma regular de educação de professores para que a complementaridade e a mobilidade sejam asseguradas. Ainda sobre formação docente para pessoas com deficiência, a LDB 9.394/96, em seu artigo 59, inciso III, afirma que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores no ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns. A partir da exigência de formação adequada para atendimento especializado pode-se pensar na formação do professor como primordial para a oferta, com qualidade, de uma educação igualitária a todos que frequentam a escola. Para Araújo (2012, p. 53): Os professores devem desenvolver habilidades próprias para permitir a inclusão desse grupo de pessoas. O trabalho inclusivo refletirá a tarefa de agregar democraticamente todos os agentes neste processo. A inclusão na rede regular de ensino, com o desenvolvimento de tarefas específicas – e mesmo com tarefas de apoio, para permitir a sua melhoradaptação – mostrará o grau de cumprimento do princípio da igualdade. Igualdade, direito à educação, ensino inclusivo são expressões que devem estar juntas, exigindo do professor e da escola o desenvolvimento de habilidades próprias para propiciar, dentro da sala de aula e no convívio escolar, oportunidades para todos, pessoas com deficiência ou não. Corroborando com Araújo, Amorim, Medeiros Neta e Guimarães (2016) afirmam que no percurso pela educação inclusiva, a cooperação e o bom relacionamento entre professores e alunos favorecem uma prática docente efetiva e uma superação de eventuais limitações profissionais. Ao pensar em práticas inclusivas, Lima e Castro (2012, p. 83) afirmam que estas “precisam estar embasadas em abordagens mais diversificadas, flexíveis e colaborativas, a fim de que todos possam participar do processo de ensino- aprendizagem”. TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 23 Ainda nesse sentido, Anjos, Andrade e Pereira (2009, p. 117) trazem que “em vez de serem envidados esforços para fornecer à pessoa condições de adaptar-se à escola, procurar-se-ia construir uma escola para atender às pessoas concretas que fazem parte dela”. Além disso, apontam que: [...] a atuação conjunta de pessoas que vivem diferentemente o acesso ao conhecimento deveria contagiar o coletivo, abrindo novas experiências curriculares, flexibilizando a grade de disciplinas e a estrutura de séries; enfim, criando novas lógicas no interior da escola e nas relações educativas como um todo (LIMA; CASTRO, 2012 apud ANJOS; ANDRADE; PEREIRA, 2009, p. 117). Diante da afirmação acima pode-se compreender que a função da escola é proporcionar atividades que incluam todos, independentemente de possuir ou não uma deficiência com atividades diferenciadas que signifiquem a aprendizagem dos alunos e a participação ativa de todos na construção do conhecimento. Para Pires e Plácido (2018), o desafio para uma escola inclusiva é o de desenvolver uma pedagogia centrada no aluno, uma pedagogia capaz de educar com sucesso todos os alunos, incluindo aqueles com deficiências. “O princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, não importam quais dificuldades ou diferenças elas possam ter” (MACHADO, 2005, p. 133). Ao falar de formação de professores para crianças com deficiência visual, compreende-se que estes devem, além de desenvolver competências de alfabetização e mediação para a apropriação de conteúdos curriculares por parte desses educandos, ter uma formação com caráter socializador, que dê enfoque ao projeto de inserção integral desses sujeitos em sociedade, e mais ainda: preparar esses docentes para criar novos meios/métodos/possibilidades a partir das especificidades de cada aluno, com vistas à busca por uma educação que valorize as características de cada ser humano (DRAGO; MANGA, 2017). Os autores (p. 296) ainda afirmam que: O processo de escolarização, assim como o sucesso escolar da criança cega estão ligados, fundamentalmente, ao funcionamento dinâmico do tripé: mediação docente (apoio escolar) - acompanhamento da família/ responsáveis legais - socialização/interatividade (BRASIL, 2001b). Nesse contexto, acerca da ação docente para a escolarização da criança cega, compreende-se que cabe ao professor a análise, organização e sistematização de atividades pedagógicas específicas, necessárias ao desenvolvimento integral do aluno, como também propor e adaptar atividades lúdicas, prazerosas e situações de interação, socialização e participação coletiva com os demais alunos da escola. Ao citar a responsabilidade da família na educação da criança com deficiência visual, e concordando com Drago e Manga, Amiralian (2009, p. 29) reforça que [...] “os profissionais jamais devem esquecer que, fundamentalmente, UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 24 o responsável pela formação e educação de seus filhos é a família”, os demais profissionais, incluindo os professores ou qualquer outro profissional da educação, têm a função apenas de ajudá-los. É importante salientar essa questão para que o professor não se sinta responsável em seu processo formativo em abraçar toda a educação da criança, sendo que a família e o Estado, conforme previsto em lei, têm sua responsabilidade nesse processo também e todos devem trabalhar juntos nas suas responsabilidades. Para uma formação continuada de qualidade e que possibilite avanços no processo educativo da criança com deficiência visual, deve-se proporcionar aos professores o desenvolvimento da criatividade e boa qualidade de autogestão dos processos educacionais. Conforme Drago e Manga (2017), a atuação docente deve fomentar ações pedagógicas que permitam ao aluno cego conhecer e reconhecer o mundo que o cerca, construindo e reconstruindo cotidianamente seus saberes e suas ações. Ainda conforme aponta Vygotsky (1997), o aluno constitui-se como sujeito histórico que produz cultura e que se apropria da cultura produzida por outros sujeitos, com ou sem deficiências, ressignificando-se conforme suas internalizações próprias. O trabalho com crianças com deficiência visual exige do professor uma nova postura, novas atitudes no trato com este aluno, dentre elas pode-se destacar: Os educadores devem estabelecer um relacionamento aberto e cordial com a família dos alunos para conhecer melhor suas necessidades, hábitos e comportamentos. Devem conversar naturalmente e esclarecer dúvidas ou responder perguntas dos colegas na sala de aula. Todos precisam criar o hábito de evitar a comunicação gestual e visual na interação com esses alunos. É recomendável também evitar a fragilização ou a superproteção e combater atitudes discriminatórias (BRASIL, 2007, p. 22). Dessa forma é preciso avaliar como o professor em seu processo de formação pode desenvolver competências no sentido de atender a todos, com a criatividade sugerida e onde o principal objetivo deve ser a aprendizagem dessa criança, tendo em vista que historicamente a pessoa com deficiência vem sendo tratada com “coitadismos” e sendo, muitas vezes, segregada em sala de aula. E o professor, por sua vez, vem de uma formação tradicional e que nem sempre auxilia nesse processo de inclusão. Acerca desse processo de intervenção pedagógica do atendimento ao aluno com deficiência visual, seguem algumas orientações em consonância ao mundo circundante deste público da Educação Especial: TÓPICO 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: UM BREVE HISTÓRICO 25 Na comunicação, em nossa cultura, há predominância do visual e do verbal. Se o educador não estiver atento a isso, fará uso de conhecimentos não acessíveis ao deficiente visual, fazendo com que ele desenvolva uma linguagem e uma aprendizagem conduzidas pelo visual. Como os dados não provêm de sua experiência, não podem ser organizados por ele, verificando-se verbalismo e aprendizagem mecânica; - Para que o deficiente visual organize o mundo ao seu redor, é necessário que use o mais possível todas as suas possibilidades (táteis, térmicas, olfativas, auditivas, cinestésicas), e fale sobre sua experiência perceptiva. - A maneira de o deficiente visual relacionar-se com a professora é importante para que utilize e amplie suas possibilidades. A atitude da professora pode ser a de tutelar ou proteger (solicitude protetora), dando-lhe informações diretivas sobre o que fazer, impedindo-o de explorar/conhecer e conhecer-se, ou ao contrário, a de estar junto a ele (solicitude emancipatória), contribuindo para que a pessoa deficiente visual encontre seus próprios meios de agir (PIRES; PLÁCIDO, 2018 apud MASINI, 1997, p. 81 e 82). Masini, em outro texto (2007), pontua outros aspectos que merecem a atenção da escola e do educador nas relações de educabilidade, quais sejam: - Fazer contato por meio dos sentidos de que seu educando dispõe, manifestando consideração e evitando o sentimento de isolamento;- mostrarexpectativas que considerem suas possibilidades e limites ante a deficiência, em vez de expectativas cujos padrões de referência são os do desenvolvimento da criança vidente; - Estabelecer e esclarecer padrões apropriados de execução de atividades que a motivem a ajustar-se a suas possibilidades e seus limites; - Estar atento(a) à reação emocional de aceitação à deficiência visual e aos limites impostos por ela, atribuindo à pessoa com deficiência responsabilidades, de acordo com sua idade e desenvolvimento; - Propiciar oportunidades para falar de suas descobertas sobre as pessoas e objetos e de suas experiências perceptivas (PIRES; PLÁCIDO, 2018 apud MASINI, 2007, p. 32-33). O educador pode ser criativo, buscando vários caminhos, conforme os autores supracitados, pois é necessário que tenha paciência e energia ao trabalhar com a criança com deficiência visual, pois a criança com deficiência visual “tem mais semelhanças do que diferenças com a criança que não tem deficiência visual. Elas têm as mesmas necessidades básicas físicas, emocionais e intelectuais” (MASINI, 2013, p. 36). O olhar atento para aquilo que é próprio do mundo da pessoa com deficiência visual, enquanto ação educativa dos educadores em geral, solicita de quem o faça capacidade para: “Organizar e transmitir com clareza seu pensamento e transformar condições insatisfatórias, contribuindo para que o aluno desenvolva confiança em si mesmo: na sua própria capacidade de realizar uma aprendizagem significativa, elaborando informações e apontando” (MASINI, 2013, p. 37). UNIDADE 1 | DEFICIÊNCIA VISUAL: CONTEXTO HISTÓRICO ATÉ A ATUALIDADE 26 Dessa forma, conforme Amiralian (2009), é importante incentivar os professores a descobrir o melhor caminho para interagirem com crianças cegas ou com baixa visão, de modo que elas possam alcançar seus objetivos, usar sua criatividade e desta forma sentirem-se satisfeitas com o sucesso alcançado. Esse olhar de inclusão e qualificação deve ser desenvolvido no professor ao longo do seu processo formativo, desenvolvê-lo muito além da sua capacidade técnica, mas buscar desenvolver também a afetividade, o olhar para o outro e a empatia para com seu aluno. A educação deve ser leve, deve ser, como defende Freire (2005, p. 145), “um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia dos educadores e educandos”. 27 Neste tópico, você aprendeu que: • O termo deficiência pode ser compreendido a partir de duas vertentes, a médica e a educacional, e que o manual com a Classificação Internacional de Deficiências, publicado em 1989, trouxe termos como “deficiência”, “incapacidades” e “desvantagens”. • Foi a partir dos termos médicos que iniciou a integração da pessoa na sociedade, pois tinha-se o objetivo de preparar a pessoa com deficiência para adaptar-se o melhor possível à vida cotidiana. • Na educação esse processo de integração precisou de mais tempo para acontecer, passando por diversas fases, como a total negligência com a pessoa com deficiência, a fase de internação em asilos e abrigos, a fase da criação das escolas especiais com educação exclusiva para pessoas com deficiência, a fase da integração das pessoas em escolas regulares, mas somente até onde se achava possível, e o atual processo de inclusão em classes regulares nas escolas. • É importante conhecer a história das pessoas com deficiência visual e seu tratamento na sociedade. Neste tópico, aprendeu-se desde os tempos bárbaros, as primeiras escolas na França, onde estudou Louis Braille, e também local de criação do Sistema Braile, hoje o meio de comunicação mais eficaz para a pessoa com deficiência visual. • A história da deficiência visual no Brasil, a criação dos institutos, do IBC que hoje se mantém como referência no Brasil; conheceu um pouco da história de Dorina Gouvêa, uma cega que juntamente com amigas criou um instituto com o intuito de produzir e distribuir livros em braile para pessoas com deficiência visual; compreendeu como as legislações tratam sobre a deficiência visual, especialmente na educação, e como, ao longo do tempo, o olhar para estas pessoas se qualificou. • O papel da sociedade na inclusão da pessoa com deficiência, como a cultura das pessoas interfere na inclusão e o papel preponderante da família nesse processo. • Você pode estudar sobre a importância da formação docente para trabalhar com a inclusão de pessoas com deficiência. • É importante refletir de forma crítica sobre a prática e como isso pode qualificar o processo de ensino-aprendizagem, como é importante observar trejeitos e formas de atender o aluno com deficiência visual e, finalmente, compreender que o ser humano é um ser inacabado e que vive em constante processo de mudança e qualificação. RESUMO DO TÓPICO 1 28 1 Relacione os itens com as afirmações a seguir: I- Deficiência II- Incapacidade III- Desvantagem IV- Cegueira (perspectiva médica) V- Cegueira (perspectiva educacional) ( ) Eram considerados cegos os indivíduos para os quais o tato, o olfato e a sinestesia eram sentidos fundamentais para a apreensão do mundo externo, trazendo uma mudança significativa na concepção da cegueira, que era embasada em processos médicos e clínicos e posteriormente passou a considerar cegas aquelas pessoas que, pelo seu próprio comportamento visual, indicavam ausência de uma percepção eficaz. ( ) Restrição, resultante de uma deficiência, da habilidade para desempenhar uma atividade considerada normal para o ser humano. Surge como consequência direta ou é resposta do indivíduo a uma deficiência psicológica, física, sensorial ou outra. Representa a objetivação da deficiência e reflete os distúrbios da própria pessoa, nas atividades e comportamentos essenciais à vida diária. ( ) Se define como a capacidade visual das pessoas que são portadoras de deficiência no órgão da visão, e a medida que é utilizada para determinar a cegueira é a acuidade visual. ( ) Perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais. Representa a exteriorização de um estado patológico, refletindo um distúrbio orgânico, uma perturbação no órgão. ( ) Prejuízo para o indivíduo, resultante de uma deficiência ou uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de papéis de acordo com a idade, sexo, fatores sociais e culturais. Caracteriza-se por uma discordância entre a capacidade individual de realização e as expectativas do indivíduo ou do seu grupo social. Representa a socialização da deficiência e relaciona-se às dificuldades nas habilidades de sobrevivência. 2 Diante do que foi apresentado no Tópico 1, como você explicaria a afirmação de Amiralian (2009): “a inclusão é uma organização social em que todos são considerados iguais”? AUTOATIVIDADE 29 3 Com relação à formação de professores para o trabalho com as pessoas com deficiência, assinale a afirmativa CORRETA: ( ) O trabalho desenvolvido deve ser de forma tradicional, seguindo com o conteúdo que é abordado com toda turma da mesma forma, afinal, incluir significa trabalhar com todos da mesma forma, independentemente dos níveis de aprendizagem e dificuldades dos alunos. ( ) Devemos realizar sempre atividades mais fáceis e ajudar nosso aluno com deficiência, afinal ele não consegue realizar nenhuma atividade sozinho e devemos tratá-lo de modo diferente, pois, coitado, ele não dá conta. ( ) As práticas educativas inclusivas devem estar embasadas em abordagens mais diversificadas, flexíveis e colaborativas, a fim de que todos possam participar do processo de ensino-aprendizagem. ( ) Como professores, não temos preparo para trabalhar com pessoas com deficiência, desta forma, devemos aguardar para que a Secretaria de Educação nos encaminhe material adaptado
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