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Autor a: Profa. Carolina Menezes Ferreira Colaboradoras: Profa. Mônica Teixeira Profa. Carolina Kurashima Desenvolvimento de Produtos Alimentícios Professora conteudista: Carolina Menezes Ferreira Mineira de Belo Horizonte, é doutora em Informação e Comunicação em Saúde (Fiocruz/2016), investigadora convidada do Institut de la Comunicació (Incom) de la Universitat Autònoma de Barcelona (UAB/2015), Espanha, como parte integrante do doutorado-sanduíche, e do grupo de pesquisa CNPq na linha em Saúde e Mídia (ICICT/Fiocruz/2015), mestre em Saúde Pública (USP/2006), master em Marketing de Alimentos, Venda e Consumo no Âmbito Internacional (Cesma – Madrid/2008), pós-graduanda em Gastronomia Funcional (Famesp/em curso), especialista em Fisiologia do Exercício (Unifesp/2005) e graduada em Nutrição (UNI-BH/2003) e em Comunicação Social (UNIP/2011). Atua como revisora da revista Journal of Health Sciences Institute (JHSI) da UNIP desde 2016, professora titular na mesma instituição, docente em cursos universitários em saúde humana e consultora em comunicação em saúde com experiência na área de nutrição e comunicação. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) F383d Ferreira, Carolina Menezes. Desenvolvimento de Produtos Alimentícios / Carolina Menezes Ferreira. – São Paulo: Editora Sol, 2022. 136 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Tendência. 2. Embalagem. 3. Rótulo. I. Título. CDU 642.09 U515.89 – 22 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Lucas Ricardi Ricardo Duarte Sumário Desenvolvimento de Produtos Alimentícios APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 O MARKETING E OS ASPECTOS GERAIS NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS ............................................................................................................................... 11 1.1 Conceito de marketing ....................................................................................................................... 11 1.2 Funções dos alimentos e sua relação com o marketing de alimentos ........................... 14 1.3 Propaganda e marketing na informação nutricional ............................................................ 18 1.4 Os meios de comunicação ................................................................................................................ 19 1.5 Propaganda nutricional ..................................................................................................................... 19 1.6 Spots publicitários ............................................................................................................................... 21 1.7 O marketing nutricional .................................................................................................................... 23 2 FERRAMENTAS E ESTRATÉGIAS DE MARKETING E SUA APLICAÇÃO EM PRODUTOS ALIMENTÍCIOS ............................................................................................................................... 24 2.1 O composto de marketing e os 4 Ps ............................................................................................. 24 2.1.1 Produto ....................................................................................................................................................... 25 2.1.2 Preço ............................................................................................................................................................ 26 2.1.3 Promoção ................................................................................................................................................... 26 2.1.4 Praça ............................................................................................................................................................ 26 2.2 Análise Swot e a indústria de alimentos .................................................................................... 27 2.2.1 Análise do ambiente interno (forças e fraquezas) .................................................................... 29 2.2.2 Análise do ambiente externo (oportunidades e ameaças) ..................................................... 30 2.2.3 Forças + oportunidades ....................................................................................................................... 31 2.2.4 Forças + ameaças ................................................................................................................................... 31 2.2.5 Fraquezas + oportunidades ................................................................................................................ 31 2.2.6 Fraquezas + ameaças ............................................................................................................................ 31 2.3 Matriz BCG e o ciclo de vida de produtos alimentícios ........................................................ 33 3 TENDÊNCIAS DE MERCADO ........................................................................................................................ 35 3.1 Tendências: sensorialidade e prazer ............................................................................................. 36 3.2 Tendências: saudabilidade e bem-estar ...................................................................................... 39 3.3 Tendências: conveniência e praticidade ..................................................................................... 43 3.4 Tendências: confiabilidade e qualidade ...................................................................................... 45 3.5 Tendências: sustentabilidade e ética ............................................................................................ 47 3.6 Ingredientes: novas funcionalidades de acordo com as tendências de mercado...... 50 3.6.1 Ingredientes: sensorialidade e prazer ............................................................................................. 50 3.6.2 Ingredientes: saudabilidade e bem-estar ...................................................................................... 50 3.6.3 Ingredientes: demais tendências ...................................................................................................... 51 4 ANÁLISE SENSORIAL E SUA APLICABILIDADE NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS ........................................................................................................................ 51 4.1 Testes discriminativos .........................................................................................................................52 4.1.1 Teste triangular ........................................................................................................................................ 52 4.1.2 Teste duo-trio ........................................................................................................................................... 53 4.1.3 Teste de ordenação ................................................................................................................................ 53 4.1.4 Teste de comparação pareada ........................................................................................................... 54 4.2 Testes descritivos .................................................................................................................................. 55 4.2.1 Análise descritiva quantitativa (ADQ) ............................................................................................ 55 4.3 Testes afetivos ........................................................................................................................................ 55 4.3.1 Teste de preferência ............................................................................................................................... 56 4.3.2 Teste de aceitação .................................................................................................................................. 56 4.4 Parâmetros de análise sensorial ..................................................................................................... 56 4.5 Preparação do ambiente para a realização dos testes .......................................................... 56 4.6 Condições dos participantes ............................................................................................................ 57 Unidade II 5 EMBALAGEM: IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA ........................................................................................ 64 5.1 Embalagem ............................................................................................................................................. 64 5.2 Rótulo ....................................................................................................................................................... 65 5.3 Cores .......................................................................................................................................................... 65 5.4 Formas e design .................................................................................................................................... 66 5.5 Consumidor versus design de embalagem ................................................................................ 67 5.6 A embalagem como vendedor silencioso ................................................................................... 68 5.7 Tendências de embalagem................................................................................................................ 70 5.7.1 A embalagem: tendência sensorialidade e prazer ..................................................................... 71 5.7.2 A embalagem: tendência saudabilidade e bem-estar.............................................................. 73 5.7.3 A embalagem: tendência praticidade e conveniência ............................................................. 74 5.7.4 A embalagem: tendência confiabilidade e qualidade .............................................................. 74 5.7.5 A embalagem: tendência sustentabilidade e ética ................................................................... 76 6 ROTULAGEM DE ALIMENTOS ...................................................................................................................... 79 6.1 Rótulo ....................................................................................................................................................... 81 6.1.1 Denominação de venda do alimento.............................................................................................. 83 6.1.2 Lista de ingredientes .............................................................................................................................. 84 6.1.3 Alimentos desidratados, concentrados, condensados ou evaporados .............................. 85 6.1.4 Declaração de aditivos alimentares ................................................................................................. 85 6.1.5 Prazo de validade .................................................................................................................................... 86 6.1.6 Conteúdo líquido .................................................................................................................................... 87 6.1.7 Identificação da origem ....................................................................................................................... 88 6.1.8 Identificação do lote.............................................................................................................................. 88 6.1.9 Instruções sobre o preparo e o uso do alimento ....................................................................... 88 6.1.10 Rotulagem facultativa ....................................................................................................................... 89 6.1.11 Declaração de glúten .......................................................................................................................... 89 7 ROTULAGEM NUTRICIONAL ........................................................................................................................ 89 7.1 Unidades utilizadas na rotulagem nutricional ......................................................................... 89 7.2 Apresentação da rotulagem nutricional ..................................................................................... 92 7.3 Regras para declaração e arredondamento dos resultados ................................................ 94 7.4 Porções de alimentos embalados para fins de rotulagem nutricional ........................... 95 7.5 Cálculo do tamanho da porção ...................................................................................................... 97 7.5.1 Uso da tabela de porções e critérios para sua aplicação na rotulagem nutricional ...97 7.6 Alimentos apresentados em embalagem individual .............................................................. 98 7.7 Instruções para elaboração do rótulo de produtos orgânicos ........................................... 98 7.8 Instruções para produtos comercializados diretamente aos consumidores ................ 99 7.9 Rotulagem para o mercado interno ............................................................................................. 99 8 APLICAÇÃO PRÁTICA: ROTULAGEM DE ALIMENTOS .......................................................................101 8.1 Cálculo no rótulo de alimentos: identificando a porção ...................................................101 8.2 Cálculo no rótulo de alimentos: informações nutricionais ..............................................102 8.3 Cálculo do %VD ..................................................................................................................................113 8.4 A nova rotulagem nutricional: mudanças e impactos ........................................................115 8.4.1 Rotulagem nutricional frontal ........................................................................................................ 115 8.4.2 Tabela de informação nutricional ..................................................................................................116 8.4.3 Alegações ................................................................................................................................................ 120 8.4.4 Prazos ........................................................................................................................................................1219 APRESENTAÇÃO Esta disciplina aborda conceitos referentes a legislação, análise sensorial, rotulagem e marketing no desenvolvimento de produtos alimentícios. Compreende, também, aspectos de ética e biossegurança e conteúdos sobre a interação do profissional de nutrição com as ferramentas mercadológicas e o desenvolvimento de produtos e de projetos de marketing. O objetivo geral da disciplina é capacitar o aluno para atuar na área de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos alimentícios, bem como criar condições para que adquira conhecimentos necessários para o desenvolvimento de projetos e conhecimentos mercadológicos estratégicos para aplicá-los na área de nutrição e saúde. Entre os objetivos específicos, pretende-se que o aluno: • avalie as tendências de mercado na área de nutrição e novos compostos bioativos; • entenda o processo de desenvolvimento de produtos alimentícios e de projetos; • formule novos produtos, seguindo os padrões de qualidade, com aplicabilidade na área de nutrição; • compreenda a legislação e o registro de alimentos e a nova rotulagem nutricional vigente; • conheça os fundamentos de marketing e o composto de marketing; • entenda a importância dos clientes (intermediários e finais) e o processo de decisão de compra; • seja capaz de planejar e projetar ações estratégicas para indústria de alimentos, unidades de alimentação e nutrição (UAN), cozinha experimental, consultório e hospital. Este livro-texto é composto por duas unidades, e em cada uma serão abordados distintos conteúdos. Na unidade I, aprenderemos um pouco sobre os fundamentos de marketing, conceitos, ferramentas e aplicabilidade, conteúdo sobre propaganda, sua influência no consumo, consequências e legislação. Abordaremos, também, conteúdos referentes às tendências de mercado para o setor de alimentos (sensorialidade e prazer, saudabilidade e bem-estar, conveniência e praticidade, qualidade e confiabilidade, sustentabilidade e ética), bem como as etapas para o desenvolvimento de produtos alimentícios. Serão discutidos, ainda, aspectos relacionados à análise sensorial dos alimentos e conceitos, assim como a classificação dos testes sensoriais, sua padronização e as condições do local para sua execução. Na unidade II, o conteúdo será direcionado ao desenvolvimento do produto. Serão abordados aspectos relacionados à elaboração e importância das embalagens, bem como suas funções, a importância da rotulagem de alimentos e a informação nutricional obrigatória, de acordo com a RDC n. 259/2002 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), alterada pela RDC n. 123, de 10 13 de maio de 2004, e complementada pela RDC n. 163, de 17 de agosto de 2006 (legislação geral), e as RDCs n. 359 e 360/2003, referentes à informação nutricional obrigatória. Veremos ainda a nova norma de rotulagem nutricional de alimentos embalados (RDC n. 429/2020) e a instrução normativa que estabelece requisitos técnicos para a sua aplicação (IN n. 75/2020), medidas que dão mais clareza e legibilidade às informações nutricionais presentes nos rótulos de alimentos e auxiliam o consumidor a fazer escolhas mais conscientes. Todo o conteúdo está apresentado de maneira sucinta, mas com vasto potencial de exploração. INTRODUÇÃO A indústria de alimentos tem passado por muitas transformações nos últimos anos devido principalmente às mudanças de comportamento dos consumidores, e o desenvolvimento de produtos alimentícios (DPA) é um dos mercados que se encontram em ascensão no Brasil. O DPA é um processo complexo que envolve uma série de etapas e profissionais de diversos setores internos da empresa, como marketing, logística, área técnica, entre outras, além do ambiente externo à empresa: o mercado. É de suma importância compreender o mercado, como ele funciona, quais as normas de produção, o controle higiênico-sanitário e os selos de qualidade exigidos, suas necessidades e os concorrentes diretos e indiretos. Ademais, é preciso realizar pesquisas de mercado com o objetivo de definir o público-alvo, segmentando a população que se deseja atingir com o produto elaborado. Outra fase importante, antes de colocar um novo produto no mercado, é o teste. Como o produto será consumido por um público específico, a testagem é de grande relevância, já que melhora a sua qualidade. Estudos físico-químicos, análises sensoriais e testes mercadológicos são algumas ferramentas que podem auxiliar nesta etapa. Pensar na embalagem e na maneira de apresentar o produto é outro fator crucial no DPA. Além de conter as informações nutricionais, o rótulo deve trazer elementos que possam atrair o consumidor. Dessa maneira, o processo de DPA é peça-chave para o bom posicionamento do produto no mercado. Compreender todas as etapas, leis vigentes e normas é de suma importância para sua competitividade no mercado. 11 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Unidade I 1 O MARKETING E OS ASPECTOS GERAIS NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS 1.1 Conceito de marketing De acordo com Kotler (1995), marketing se define como um processo social e administrativo no qual indivíduos e/ou grupos obtêm o que necessitam e/ou desejam pela criação, oferta e troca de produtos de valor com outros. O autor ainda afirma que o marketing é uma ferramenta utilizada pelas empresas para analisar oportunidades de mercado, desenvolver estratégias de comercialização do produto, planejar e administrar esforço de vendas. Para a compreensão do conceito de marketing, é preciso entender os termos “necessidade”, “desejo” e “demanda”, pois todo marketing se inicia a partir dos desejos e necessidades humanas (FLEMING, 1987). A necessidade é um estado de carência básica. Existe a partir da própria biologia e condição humana, ou seja, não é criada pela sociedade, tendo em vista que é inerente à manutenção da vida humana. São exemplos de necessidades: alimentação e vestimenta. Para Maslow (1970), as necessidades humanas se organizam de maneira hierárquica e a motivação ascende através de vários níveis de necessidades. Esses níveis devem ser preenchidos e, assim que algum deles estiver satisfeito em grau razoável (grau este variável de indivíduo para indivíduo), o esforço de motivação se colocará na busca de satisfação do nível imediatamente superior. Maslow hierarquizou as necessidades humanas na seguinte ordem de premência: • necessidades de autorrealização; • necessidades de autoestima; • necessidades sociais; • necessidades de segurança; • necessidades fisiológicas. As necessidades fisiológicas são as mais prementes e demandam um nível mínimo de satisfação para a sobrevivência do homem. Neste nível de necessidade tem-se a fome, a sede, o sono, o abrigo contra intempéries, o alívio de perigos de ordem fisiológica, entre outros. 12 Unidade I Por sua vez, as necessidades de segurança estão num nível superior às fisiológicas e se relacionam com a segurança física, a estabilidade, o sentimento de dependência e proteção, a ordem, as leis, os limites etc. Já as necessidades sociais ou de afiliação estão vinculadas à carência que as pessoas têm de amar, participar de grupos sociais, de clubes, igrejas etc. Há também as necessidades de autoestima, que se relacionam ao aspecto de autoafirmação ou valorização das pessoas em relação a elas ou aos outros. A procura de poder, de status, de prestígio, de reconhecimento, de apreço, de maestria, de competência ou de suficiência indica a busca de satisfação das necessidades vinculadas a este nível. Para Maslow o nível da autorrealização é o mais difícil de ser alcançado e raramente é preenchido em sua plenitude. Autorrealização Estima Segurança Fisiologia Social Figura 1 – Pirâmide de Maslow Lembrete O conceito de marketing está associado a várias atividades planejadas para identificar satisfazer as necessidades do consumidor e, ao mesmo tempo, atingir objetivos da empresa. Trata-se de uma atividade humana direcionada para satisfazer as necessidadese desejos por meio de processo de troca. O desejo remete à necessidade humana de obter determinado bem ou serviço, influenciada pela cultura e preferências individuais, ou seja, trata-se de vontades de determinadas satisfações ou 13 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS necessidades específicas, o, que é constantemente influenciadodos interior da sociedade. Por exemplo: comer arroz e feijão, alimentos tipicamente brasileiros, cujo consumo não é um hábito em outros países. Apesar de o número de desejos ser praticamente ilimitado, o poder aquisitivo é fator limitante à sua realização. Assim, a demanda é composta pelo desejo por produtos específicos, aliado à disposição e capacidade de adquiri-los. O poder de compra do indivíduo transforma o desejo em demanda. A demanda pode ser definida como desejo no qual há possibilidade de compra. Existindo demanda, com compradores reais e potenciais, o mercado passa a existir. Necessidade DesejosMercados Transações Demandas ProdutosTrocas Figura 2 – Conceitos centrais do marketing Adaptada de: Kotler (1999). Segundo Kotler e Clarke (1987), a administração de marketing pode ser orientada por cinco filosofias diferentes: • Conceito de produção: pressupõe que o consumidor decidirá pelos produtos que estão disponíveis a um custo baixo e que a tarefa da administração é aumentar a produção de maneira eficiente e reduzir os preços. • Conceito de produto: presume que o consumidor decidirá pela qualidade dos produtos e que, portanto, pouco esforço promocional é necessário. • Conceito de venda: diz que os consumidores não comprarão uma quantidade suficiente dos produtos da empresa a menos que sejam estimulados por campanhas maciças de vendas e promoção. • Conceito de marketing: pressupõe que uma empresa deveria pesquisar as necessidades e desejos de um mercado-alvo bem definido e proporcionar sua satisfação. 14 Unidade I • Conceito de marketing social: apoia-se na ideia de que a empresa deveria proporcionar a satisfação do consumidor e o bem-estar da sociedade a longo prazo, a fim de alcançar seus objetivos e cumprir suas responsabilidades. 1.2 Funções dos alimentos e sua relação com o marketing de alimentos Em relação à alimentação, a compra pode ser resultante da necessidade fisiológica de se alimentar ou da necessidade de obtenção de prazer a partir do consumo de determinado alimento (GONSALVES, 1996). Desta maneira, a obtenção de um determinado produto constitui a tentativa de satisfazer uma necessidade já instalada. A busca de satisfação das necessidades e desejos do público-alvo é o que garante a lucratividade das empresas (KOTLER, 1995). Os alimentos constituem bens de demanda primária e, consequentemente, apresentam significativo mercado potencial de consumidores. Casotti (2002) reforça que os produtos alimentícios desempenham um papel importante na vida cotidiana. Porém, é preciso considerar que as funções que exercem para os seres humanos vão além de suprir uma necessidade vital. Existem os efeitos de variáveis sociodemográficas e econômicas nas práticas alimentares dos indivíduos, bem como valores e crenças (aspectos socioculturais) que também são determinantes. Diante dessas possíveis interpretações e variáveis interferentes nas práticas alimentares que um mesmo produto alimentício pode evocar (considerando que indivíduos apresentam restrições e objetivos diversos), Aurier e Sirieix (2004) sugerem que os alimentos podem assumir cinco funções aos olhos do consumidor: • Função utilitária: benefícios mais evidentes associados ao consumo dos produtos (composição nutricional, quantidade calórica e dificuldades para o preparo). Trata-se, então, de garantias que os produtos podem oferecer ao consumidor, como equilíbrio nutricional (alimentos sem aditivos, conservantes, acidulantes etc.), praticidade de consumo (embalagem, modo de preparo etc.), versatilidade na composição calórica (versões light, diet e produtos que veiculam imagens de leveza) e caráter funcional (fonte de vitaminas, minerais, fibras etc.). • Função hedônica: benefícios dos produtos relacionados ao prazer evocado (estética do produto, odor, cor e apresentação são características desses produtos que motivam o consumo dos indivíduos), bem como a aspectos de indulgência (eu mereço, hoje eu posso, por exemplo). As emoções são sentidas pelos consumidores durante a experiência de consumo. O prazer é uma função indissociável ao consumo do produto. • Função simbólica: produto visto como meio de comunicação (produtos representando, de modo geral, uma cultura ou uma classe social), com aspectos de comensalidade e socialização alimentar. O produto deve ser interpretado como um meio de comunicar algo a alguém. Mais que ser úteis e provocar prazer, produtos permitem aos indivíduos se comunicar nos meios sociais que frequentam (função de pertencimento a um grupo/cultura/tribo/classe social). A socialização das refeições faz aparecer o principal benefício do alimento, a convivialidade. 15 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS • Função ética: produtos que evocam questões políticas e morais (consumo de produtos provenientes da agricultura sustentável ou livres de alterações genéticas e com certificados que possam garantir sua segurança sanitária). Ética na etiqueta e produto ecológico são expressões cada vez mais valorizadas por grupos de consumidores que não querem ver o prazer da alimentação ser interrompido por crises de consciência, remetidas pela descoberta da falta de ética incorrida no processo de produção de alimentos. • Função espiritual: considera-se a relação do alimento com práticas religiosas, ou seja, definições profanas ou sagradas são associadas aos produtos. A figura a seguir exemplifica um produto alimentício classificado na função utilitária. Observa-se que a empresa de alimentos utiliza em seu rótulo a frase “nutrição diária para seus ossos”, direcionando o consumidor ao aspecto utilitário nutricional, ou seja, reforçando que o produto é boa fonte de cálcio. Observa-se também que o produto enfatiza essa função utilitária por meio de outras informações nutricionais, tais como “baixo teor de gordura” e “mix exclusivo de vitaminas e minerais”. Figura 3 – Exemplo de alimento classificado na função utilitária Disponível em: https://bit.ly/3zYhup0. Disponível em: 23 jun. 2022. A figura a seguir mostra um exemplo de produto classificado dentro da função hedônica. Nota-se que o produto apresenta uma aparência premium, com cor e embalagem diferenciada em relação a produtos concorrentes. No texto há palavras em destaque que evocam esse prazer (“cremoso”, “aveludado”, “irresistíveis”, “lascas de chocolate belga” e “prazerosamente”). 16 Unidade I Figura 4 – Exemplo de alimento classificado na função hedônica Disponível em: https://bit.ly/3xRVPMM. Disponível em: 23 jun. 2022. A figura a seguir apresenta um exemplo de produto classificado na função simbólica. A peça comercial do produto alimentício está inserida dentro do contexto simbólico de uma data festiva, o Natal. Um período marcante e esperado pelas famílias, momento de reunir-se à mesa, comemorar e saborear. Figura 5 – Exemplo de alimento classificado na função simbólica Disponível em: https://bit.ly/3xMToLu. Acesso em: 22 nov. 2017. A figura a seguir mostra um exemplo de produto classificado dentro da função ética. Observa-se que o produto já é consolidado no mercado, mas a empresa inova e o traz na versão orgânica. Apresenta em seu discurso publicitário questões referentes à “qualidade”, “cadeia produtiva”, “famílias produtoras com um cuidado especial com as vaquinhas”, “sustentabilidade” e “proteção ao meio ambiente”. 17 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Figura 6 – Exemplo de alimento classificado na função ética Disponível em: https://bit.ly/3Nhf0VO. Acesso em: 23 jun. 2022. Saiba mais Para compreender ainda mais as funções que os alimentos podem apresentar, seguem alguns vídeos de campanhas publicitárias deprodutos alimentícios. Função utilitária: COMERCIAL da Yakult 2017. 2017. 1 vídeo (29 seg). Publicado pelo canal Nilton Araújo. Disponível em: https://bit.ly/3v9zFFd. Acesso em: 23 jun. 2022. MOLICO: que tal repensar o leite que você toma? 2019. 1 vídeo (15 seg). Publicado pelo canal Nestlé Molico. Disponível em: https://bit.ly/3oplmZr. Acesso em: 23 jun. 2022. Função hedônica: CELEBRE o prazer de Magnum. 2015. 1 vídeo (30 seg). Publicado pelo canal Kibon Brasil. Disponível em: https://bit.ly/3cENyoe. Acesso em: 23 jun. 2022. PÁSCOA Kopenhagen 2017. 2017. 1 vídeo (30 seg). Publicado pelo canal Kopenhagen. Disponível em: https://bit.ly/3vhHUPt. Acesso em: 23 jun. 2022. 18 Unidade I Função simbólica: QUALY: fala com Qualy. 2020. 1 vídeo (30 seg). Publicado pelo canal Qualy Oficial. Disponível em: https://bit.ly/3z5LoFT. Acesso em: 23 jun. 2022. A VIDA mais Qualy: a série: abertura. 2018. 1 vídeo (1 min). Publicado pelo canal Qualy Oficial. Disponível em: https://bit.ly/2pZJHat. Acesso em: 23 jun. 2022. Função ética: NINHO Orgânico: conheça a corrente do bem. 2019. 1 vídeo (1 min). Publicado pelo canal Nestlé Brasil. Disponível em: https://bit.ly/3oreQRF. Acesso em: 23 jun. 2022. Observa-se assim que, para se tornar um alimento, o produto deve ser reconhecido pelos sujeitos como tal, ou seja, deve estar inscrito em uma rede de categorizações e classificações, as quais incluem um objeto nutricional (algo composto por proteínas, vitaminas, gordura etc.) no campo do possível alimentar. Vale destacar que esse processo de classificação dos produtos alimentares não procede de forma totalmente racional e, por tal razão, o aspecto simbólico da alimentação humana deve ser levado em conta. Há que se considerar que os estímulos são apreendidos individualmente e de acordo com um conjunto de influências ideológicas, simbólicas e sociais. 1.3 Propaganda e marketing na informação nutricional Apesar de na maioria das vezes serem compreendidos como sinônimos, os termos “publicidade”, “propaganda” e “marketing” não apresentam o mesmo significado. Publicidade é o ato de vulgarizar, de tornar público um fato ou ideia; propaganda é o ato de propagação de princípios e teorias; enquanto marketing constitui o processo de descoberta e interpretação das necessidades, desejos e expectativas dos consumidores, buscando convencê-los a adquirir e utilizar continuamente os produtos e serviços oferecidos. Tal processo ocorre por meio de promoção de vendas, distribuição dos produtos e assistência ao consumidor pós-venda. A publicidade é, portanto, o ato de divulgar, tornar público, e a propaganda compreende o objetivo de implantar uma ideia. Ambas fazem parte de uma das etapas de planejamento estratégico de marketing conhecida como comunicação. Enquanto a publicidade emprega recursos ou meios de comunicação que permitam veicular ao consumidor a mensagem publicitária elaborada para efetuar propaganda ou divulgar um produto ou serviço, a propaganda permite ao público reconhecer um produto e associá-lo a algum benefício ou valor, movendo-o à ação de compra. 19 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Lembrete A publicidade estabelece comunicação com os consumidores, informa sobre o produto e mostra como este combina com suas necessidades e desejos, além de persuadir à meta final (a venda do produto em questão). Já a propaganda permite ao público reconhecer um produto e associá-lo a algum benefício ou valor, movendo-o à ação de compra. Um estudo realizado por Mattos et al. (2010) avaliou a influência de propagandas de alimentos nas escolhas alimentares de crianças e adolescentes expostos e não expostos a propagandas de alimentos veiculadas pela televisão. Para o estudo dividiu-se a amostra em dois grupos: grupo controle (n = 30) e experimental (n = 30), pareados segundo sexo (50% feminino) e idade (10,1 ± 1,4 anos). Os participantes assistiram a um desenho animado de 21 minutos, com dois intervalos comerciais que veicularam oito diferentes propagandas. O grupo controle assistiu a propagandas de brinquedos, e o grupo experimental, de alimentos. Imediatamente depois, fotos dos alimentos anunciados foram apresentadas com imagens de um produto similar, mais saudável, e uma fruta. O resultado demonstrou que os alimentos anunciados foram mais escolhidos do que os outros produtos. Além disso, o grupo controle escolheu mais produtos similares do que o experimental. Conclui-se que a exposição a propagandas de alimentos pode influenciar nas escolhas alimentares de crianças e adolescentes. 1.4 Os meios de comunicação A palavra mídia, ou meio, designa elementos materiais que divulgam mensagens, classificando-se em: • Visuais: jornais, revistas, periódicos especializados, cartazes, painéis luminosos, prospectos, folhetos, cartas, catálogos. • Auditivos: rádio e alto-falantes. • Audiovisuais: televisão, cinema, internet. 1.5 Propaganda nutricional Define-se como qualquer representação que apresente declaração, sugestão ou entendimento de que um produto possua determinadas propriedades nutricionais em relação ao valor energético e ao conteúdo de proteínas, carboidratos, lipídeos, fibras, vitaminas, minerais e outros componentes e compostos bioativos. Exemplos: licopeno, flavonoides, fitoesteróis etc. No entanto, apresentação de propaganda com alegações medicinais referentes a cura, redução ou atenuação de doenças é proibida, podendo ser empregados somente termos padronizados. 20 Unidade I No Brasil, a propaganda nutricional é denominada informação nutricional complementar (INC) e prevê normas para composição de rótulos e alegações nutricionais permitidas para conteúdo de rótulos e embalagens. INC é qualquer representação que afirme, sugira ou implique que um alimento possui propriedades nutricionais particulares, em especial, mas não somente, em relação ao seu valor energético e/ou seu conteúdo de proteínas, gorduras, carboidratos e fibras. Refere-se, também, ao seu conteúdo de vitaminas e minerais. As declarações mais utilizadas pela indústria de alimentos e mais conhecidas pelo consumidor são: “light”, “reduzido”, “rico em...”, “fonte de...”, “zero”, “não contém...” e “sem adição de...”. Assim, há distintas maneiras pelas quais a indústria de alimentos pode divulgar a INC, e a inscrição “rico em fibras” apresentada em algumas embalagens é um exemplo. A distribuição de material promocional de empresas ao consumidor, como revistas e brindes, também constitui uma forma de divulgação de INC. O texto a seguir é um exemplo de INC presente em propagadas em sites de indústrias alimentícias. Produto: All Bran – Marca: Kellogg’s O All Bran é feito do farelo de trigo, onde há uma maior concentração de fibras, por isso, uma porção de 40 g de All Bran Original, por exemplo, oferece 11 g de fibras, o que representa 44% da quantidade recomendada para o consumo diário, além de ser fonte de vitaminas, dentre elas o ácido fólico, e minerais. Já o All Bran Flakes uvas-passas é feito com os flocos de trigo integrais e possui 4,3 g de fibras por porção de 40 g, o que corresponde a 17% da quantidade diária de fibras recomendada. Com as novidades da Kellogg’s, ficou muito mais fácil e gostoso incluir fibras na alimentação. Vale lembrar que, para o consumo das fibras não gerar desconforto ao invés de satisfação, é necessário também beber bastante água ou líquidos. Dica All Bran: Uma porção de All Bran Original (40 g – 1 xícara) contém 44% da necessidade diária de fibras. Um copo de leite tem cerca de 240 mg de cálcio, o que corresponde a praticamente 25% da recomendação diária desse nutriente para a população adulta. Essa combinação de cereal com leite é uma ótima pedida para o café da manhã. Com a dupla, água e fibras, os problemas intestinais serão mais facilmente resolvidos, contribuindo assim para sua saúde, bem-estar e equilíbrio. Fonte: Novo... (2012). 21 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Em diversos países, empresas de alimentosapresentam websites nos quais há informações sobre nutrição, além de conteúdos específicos sobre os produtos. Um estudo realizado por Scagliusi, Machado e Torres (2005) pesquisou alguns sites de empresas de alimentos e realizou a compilação que pode ser vista no quadro a seguir. Quadro 1 – Avaliação de sites de indústria de alimentos com informações sobre nutrição Site Público-alvo Seções analisadas Comentários Dole 5 a Day Empresa: Dole www.dole.com/en#/superkids Crianças, pais e professores Kids Teachers Family & Friends School Food Service Muito divertido, apresenta jogos e receitas próprias para crianças Contém enciclopédia com história e informações nutricionais de frutas e hortaliças Dairy Farmers of Canada Empresa: Dairy Farmers of Canada www.dairyfarmers.org Consumidores e profissionais de saúde Health Professionals Your Health Our Recipes Controverso, afirma ser inverdade que a gordura saturada, do leite integral e da manteiga (seus produtos), eleva o colesterol Gatorade Sports Science Institute Empresa: Gatorade www.gssiweb.com Profissionais envolvidos com esportes Sports Science Center Sports Science Topics Sports Specific Exchange Repleto de textos científicos sobre nutrição esportiva, escritos por experts Adaptado de: Scagliusi, Machado e Torres (2005, p. 15). Um estudo realizado por Souza et al. (2011) determinou a porcentagem de consumidores que consultam a declaração nutricional nos rótulos dos alimentos. Foram pesquisados 368 adultos na cidade de Natal/RN, selecionados aleatoriamente em 23 supermercados. Dos entrevistados, 94,6% consultavam os rótulos e 96,8% consideravam a declaração nutricional importante e muito importante, mas somente 3,8% disseram compreender totalmente a declaração nutricional. A verificação da declaração nutricional com a finalidade de fazer escolhas alimentares mais saudáveis (35,7%) associou-se de forma significativa com o nível de escolaridade e a renda familiar (P < 0,0001). As medidas sugeridas para que a declaração nutricional seja mais bem compreendida e utilizada foram principalmente referentes à orientação sobre a declaração nutricional realizada por profissionais qualificados nos supermercados (73,9%) e à divulgação na mídia sobre o que é a informação nutricional, sua importância e finalidade (42,9%). O estudo concluiu que os consumidores utilizavam a declaração nutricional para orientação nutricional. Entretanto, fica evidente a necessidade de melhorar os rótulos e promover mais oportunidades para a aprendizagem sobre as características nutricionais dos produtos industrializados. 1.6 Spots publicitários Spot é um fonograma utilizado como peça publicitária, com ou sem efeitos sonoros e música de fundo, aplicado pela publicidade quando se tem muita coisa a ser transmitida em uma só mensagem. 22 Unidade I A indústria de alimentos faz uso constante dessa ferramenta, estimulando o sentido do consumidor quando caminha pela rua (banners e outdoors), assiste à TV, acessa a internet ou percorre os corredores dos grandes hipermercados, por exemplo. Seus objetivos são dar a conhecer, fazer gostar e fazer agir, ações que podem ou não estar interligadas. • Dar a conhecer: tem como objetivo informar o consumidor sobre a existência de um produto ou apresentar suas características. Saiba mais Pela publicidade do produto Actimel, uma bebida láctea fermentada, pode-se observar que o objetivo do spot é informar (“dar a conhecer”) sobre o produto, suas particularidades e benefícios à saúde. Assista ao spot comercial disponível no YouTube: COMERCIAL Actimel da Danone. 2010. 1 vídeo (30 seg). Publicado pelo canal Anita Santos. Disponível em: https://bit.ly/3RXJsYL. Acesso em: 1º jul. 2022. • Fazer gostar: tem como objetivo a criação de vínculos emocionais com o consumidor, por meio de modificações de comportamento, atitudes ou opiniões, reforçando atitudes positivas preexistentes. A disposição dos produtos em mercados e degustações em pontos de venda são exemplos de “fazer gostar”, já que incitam o consumidor a realizar um primeiro contato gustativo com o produto. Saiba mais O spot comercial da marca Nespresso é apresentado por personalidades de renome que descrevem as características organolépticas que o café desperta e a praticidade de consumo no dia a dia, ocasionando o interesse do consumidor. Assista ao spot comercial disponível no YouTube: NESPRESSO Cafezinho do Brasil 120’’: BR. 2019. 1 vídeo (2 min). Publicado pelo canal Nespresso. Disponível em: https://bit.ly/3oqidZk. Acesso em: 24 jun. 2022. 23 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS • Fazer agir: corresponde à ação de modificar a percepção do sujeito sobre o alimento, fazendo-o interagir com o produto. São exemplos as sugestões de preparação, seja na embalagem (forma direta) ou em sites da própria marca (forma indireta). 1.7 O marketing nutricional O marketing nutricional se caracteriza por um conjunto de ações cujo objetivo é apresentar ao consumidor as informações nutricionais referentes ao produto alimentício adquirido. Dessa maneira, abrange a tomada de decisões dos profissionais de nutrição na indústria de alimentos, agregando valor nutricional a uma nova receita e determinando o ingrediente em destaque no rótulo e embalagem, além de pensar como esse novo produto irá se colocar no mercado. Lembrete O marketing nutricional é aquele que, visando informar o consumidor e influenciar sua estrutura de preferências, explora a característica ou dimensão nutricional dos alimentos. Tem como função contribuir com a compreensão da população referente às informações nutricionais presentes em produtos alimentícios, possibilitando mudanças do comportamento alimentar e contribuindo para a escolha de produtos que apresentem composições mais saudáveis. Observa-se que as indústrias de alimentos trabalham na produção de materiais publicitários e promocionais com mensagens que estimulam a adoção de alimentação balanceada e a realização de atividades físicas na tentativa de associar sua marca e seus produtos com saúde e bem-estar. As formas de propaganda em marketing nutricional podem acontecer através da distribuição de materiais promocionais e também em revistas, informativos, sites e dicas vinculadas ao produto, como receitas e sugestões de uso. O marketing nutricional se faz presente em ações como as listadas a seguir: • oferta de serviços que diferenciem os produtos da empresa dos da concorrência, como central de atendimento ao consumidor; • aulas de culinária sobre a aplicação do produto na preparação; • informações em rotulagem sobre atributos nutricionais do produto alimentício adquirido; • livros e e-books de receitas; 24 Unidade I • informes técnicos e nutricionais sobre o produto; • diferenciação física do produto, como retirada parcial ou total de algum componente (p. ex., leite) e adição de vitaminas e/ou minerais (p. ex., alimentos funcionais ou enriquecidos). 2 FERRAMENTAS E ESTRATÉGIAS DE MARKETING E SUA APLICAÇÃO EM PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Estratégia de marketing consiste na adoção de ações por uma empresa com o objetivo de divulgar sua marca, produto ou serviço. Representa o esforço para dar visibilidade ao negócio, atraindo clientes, sendo então reconhecido como autoridade no nicho de atuação no mercado. A seguir serão apresentadas algumas ferramentas que compõem as principais atividades de marketing e vendas utilizadas pelas empresas. 2.1 O composto de marketing e os 4 Ps O composto mercadológico (mix de marketing) se caracteriza por um conjunto de pontos de interesse aos quais as organizações devem estar atentas se desejam perseguir seus objetivos de marketing. Baseia-se na ideia de que a empresa produz um bem ou serviço (produto) e o consumidor precisa ser comunicado de que o bem ou serviço existe (promoção), devendo ser distribuído aos mais variados tipos e locais de venda (praça), e por fim a empresa deve cobrar um montante pelo fornecimentodo produto (preço). A função de marketing, referente ao mix de marketing, engloba as decisões do produto, as quais incluem a identificação de oportunidades de lançamento de produtos e sua adequação às necessidades dos clientes; as decisões de preço, o qual é selecionado visando gerar vantagem competitiva e retorno para a empresa; as decisões de promoção, relativas aos investimentos em estratégias de comunicação e promoção de vendas; e as decisões de praça ou distribuição, que envolvem a escolha de canais de vendas que satisfaça as necessidades dos clientes. Assim, o mix de marketing é formado por quatro elementos, product (produto), price (preço), place (praça ou distribuição) e promotion (promoção ou comunicação), que ficaram conhecidos como 4 Ps. 25 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Mercado-alvo Mix de marketing Produto – Variedade – Qualidade – Características – Marca – Design – Embalagem Praça – Canais – Cobertura – Locais – Estoque – Variedades Preço – Prazo de pagamento – Descontos – Concessões Promoção – Propaganda – Relações públicas – Marketing direto Figura 7 – Os 4 Ps do mix de marketing Adaptada de: Kotler e Keller (2006). 2.1.1 Produto O produto é o objeto principal da comercialização. Usualmente ele representa um conjunto de atributos básicos montados em uma forma identificável. Refere-se a algo que pode ser oferecido a um mercado para apreciação, aquisição, uso ou consumo e para satisfazer um desejo ou uma necessidade. Ao elaborar um produto, muitos fatores são levados em consideração. Há três níveis de produto para a sua elaboração: 1) o produto núcleo, que é o benefício central, o qual se caracteriza por sua essência funcional; 2) o produto básico, que contém como diretriz os fatores embalagem, nome da marca, nível de qualidade, design e características específicas do produto; 3) e o nível que implica os serviços que envolvem a aquisição do produto, como instalação, serviço de pós-compra, garantia de entrega e crédito. Outro fator relevante na análise mercadológica do produto é a marca. Características como nome, desenho, símbolo ou combinação desses fatores são utilizadas para identificar e individualizar produtos e/ou suas linhas, organizações, serviços e até mesmo ideias. 26 Unidade I 2.1.2 Preço O preço se relaciona à quantia em dinheiro que se cobra por um produto ou serviço. De forma mais ampla, é a soma de todos os valores que os consumidores trocam pelos benefícios de obter ou utilizar um produto ou serviço. Enquanto os demais componentes do mix de marketing representam custos, o preço produz receita. Ele apresenta impacto no nível de vendas, na margem de contribuição e na posição estratégica de um produto, tornando-se assim uma das mais relevantes variáveis de marketing. Outra característica marcante é a sua flexibilidade, uma vez que, ao contrário das especificações de produtos e dos compromissos com os canais de distribuição, ele pode ser alterado rapidamente. Faz parte de um posicionamento maior da empresa, definindo, assim, suas estratégias e seu composto de marketing. As decisões sobre ele devem ser coerentes com as demais decisões de marketing e com a orientação estratégica da empresa, de modo que o preço contribua para o posicionamento desejado no mercado. 2.1.3 Promoção Constitui-se como o conjunto de ações que incidem sobre certo produto e/ou serviço, de maneira a estimular a sua comercialização ou divulgação, sendo também conhecida como comunicação. As empresas precisam se comunicar com os clientes existentes e potenciais, e aquilo que comunicam não deve ser deixado ao acaso. Todos os seus esforços de comunicação devem ser combinados em um programa de comunicação de marketing consistente. A composição dos instrumentos de comunicação pode ser definida como as principais ferramentas de promoção, como propaganda, promoção de vendas, relações públicas e/ou publicidade, força de vendas e marketing direto. 2.1.4 Praça A praça, também conhecida como distribuição ou ponto de venda, trata de fazer os produtos chegarem até os clientes com eficiência e eficácia. Para atingir esse objetivo, utiliza-se um canal de distribuição, que se define como um conjunto de organizações interdependentes envolvidas no processo de tornar um produto ou serviço disponível para uso ou consumo. O canal de distribuição possibilita ao cliente satisfação ou utilidade de lugar, de tempo e de posse. A utilidade de lugar está relacionada à conveniência da obtenção de um produto onde se deseja, a utilidade de tempo permite a compra quando necessário, e a utilidade de posse gera benefícios mais amplos do que os de aquisição, como status e estilo de vida. O quadro a seguir define cada um desses elementos. 27 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Quadro 2 Elemento Definição Preço Valor que o comprador paga por um produto (lista de preços, descontos, subsídios, prazo de pagamento, condições de crédito) Promoção (comunicação) Métodos de comunicação utilizados para prover informações sobre o produto (promoção de vendas, publicidade, forças de vendas, relações públicas, marketing direto) Produto Item que satisfaz o que o cliente necessita ou quer (variedade de produtos, qualidade, design, características, marca, embalagem, tamanho, serviços, garantia, devolução) Praça (distribuição) Disponibilização de um produto em um local conveniente ao consumidor (canais, cobertura, sortimento, locais, inventário, transporte) Adaptado de: Mardh e Correia (2013). 2.2 Análise Swot e a indústria de alimentos A análise Swot de uma empresa apresenta-se como uma ferramenta de planejamento com o objetivo de auxiliar na melhor tomada de decisão. Ela foi elaborada por Albert Humphrey enquanto ele desenvolvia um projeto de pesquisa na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, entre as décadas de 1960 e 1970. Naquela época, ele estudou o ranking das maiores empresas americanas do momento, publicado pela revista Fortune 500. No setor de alimentos, essa ferramenta consegue, por exemplo, identificar os diferenciais e as fraquezas da empresa, as tendências de mercado e o potencial da concorrência. Trata-se de uma ferramenta aplicada pela indústria de alimentos para avaliar criteriosamente o ambiente e o cenário interno e externo de maneira estratégica, reconhecendo suas forças facilitadoras e limitadoras, bem como suas fraquezas, ameaças e oportunidades, o que fornece direção e norteia os planos de desenvolvimento. A sigla Swot é derivada das iniciais das palavras em inglês strengths (forças), weaknesses (fraquezas), opportunities (oportunidades) e threats (ameaças). A partir da análise desses quatro elementos, é possível caracterizar tanto o ambiente interno quanto o ambiente externo da empresa, fator fundamental para a tomada de decisão. Dessa maneira, a análise Swot nada mais é do que uma ferramenta por meio da qual o gestor consegue elementos para um diagnóstico e uma análise ambiental, que serão a base do planejamento estratégico da empresa. Lembrete A função da análise Swot é compreender fatores influenciadores e apresentar como eles podem afetar a iniciativa organizacional, levando em consideração as quatro variáveis: forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. Com base nessas informações, a empresa poderá elaborar novas estratégias no mercado. 28 Unidade I Atualmente, a análise Swot já é uma metodologia clássica da administração, até mesmo por ser muito simples e versátil, já que verifica a posição estratégica de negócios dos mais variados tipos e tamanhos. Apesar de sua simplicidade, é capaz de realizar um diagnóstico completo da empresa, possibilitando a redução dos riscos no momento de dar um passo importante, como lançar um novo produto, explorar novos mercados ou, ainda, criar estratégias de marketing. Essa análise tem sempre como resultado a criação de uma matriz, a chamada matriz Swot. Ela indicará os fatores internos a serem trabalhados, as oportunidades e as ameaçasexternas que demandam a atenção do gestor. Am bi en te in te rn o Am biente externo Forças Fraquezas Oportunidades Ameaças Figura 8 – Matriz Swot Algumas das vantagens da análise Swot: • saber qual a posição da empresa em relação à concorrência; • ter maior compreensão sobre o cenário organizacional; • conseguir estabelecer aspectos que sejam prioridade de atuação; • obter maior leque de alternativas de ações; • fortalecer pontos positivos; • melhorar possíveis falhas; • aumentar as oportunidades de crescimento da empresa; • elaborar estratégias de crescimento do negócio; • realizar previsão de vendas conforme as condições da empresa e do mercado; • reduzir erros. 29 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS 2.2.1 Análise do ambiente interno (forças e fraquezas) Cada empresa necessita avaliar com periodicidade suas forças e fraquezas internas. O gestor deve começar a pensar em termos do que a empresa pode fazer bem e onde estão suas deficiências. Forças e fraquezas decorrem de recursos possuídos (ou não possuídos) pela empresa ou da natureza dos relacionamentos entre a empresa e os consumidores, empregados ou organizações exteriores (por exemplo, parceiros da cadeia de suprimentos, fornecedores, instituições financiadoras e órgãos do governo). Entre os critérios a serem avaliados no ambiente interno, tem-se: recursos financeiros, liderança e imagem de mercado, condicionamento competitivo que gera barreiras à entrada de novos competidores, tecnologia, vantagens de custo, propaganda, competência e inovação de produtos. A análise do ambiente interno é de suma importância, pois a empresa consegue verificar quais são suas forças e fraquezas. Ela pode obter vantagem competitiva utilizando e potencializando suas forças para aumentar a participação de mercado e elaborando estratégias para minimizar ou até mesmo eliminar suas fraquezas. 2.2.1.1 Forças São recursos e habilidades de que a empresa dispõe para explorar as oportunidades e minimizar as ameaças. As forças ou pontos fortes são as variáveis internas controláveis que propiciam condições favoráveis para a organização em relação ao seu ambiente. São características ou qualidades da organização que podem influenciar positivamente o desempenho dela. Correspondem aos aspectos mais positivos da empresa em relação ao seu produto, serviço ou unidade de negócios e devem ser fatores que podem ser controlados pela própria empresa e relevantes para o planejamento estratégico. Assim, forças são fatores internos positivos dos quais a empresa tem total controle, os quais devem ser explorados ao máximo para que a empresa se mantenha com um bom posicionamento de mercado e diminua suas fraquezas. 2.2.1.2 Fraquezas São deficiências que inibem a capacidade de desempenho da organização e devem ser superadas para evitar a falência da empresa. Correspondem aos aspectos mais negativos da empresa em relação ao seu produto, serviço ou unidade de negócios. Devem ser fatores que podem ser controlados pela própria empresa e relevantes para o planejamento estratégico. A fraqueza é uma condição interna da empresa totalmente desfavorável. Há que ser observada constantemente, melhorada ou eliminada para futuramente não dificultar a competitividade da empresa. 30 Unidade I Quadro 3 – Questões potenciais a considerar em uma análise Swot Forças internas potenciais Fraquezas internas potenciais Recursos financeiros abundantes Nome de marca bem conhecido Número 1 no setor Tecnologia própria Imagem da companhia/produto/marca respeitada Talento gerencial elevado Melhor habilidade de marketing Produto de qualidade superior Falta de orientação estratégica Recursos financeiros limitados Pouco investimento em pesquisa e desenvolvimento Linha de produto limitada Custo baixo (matéria-prima ou processos) Produto ou tecnologia desatualizada Pouca habilidade de marketing Imagem no mercado fraca Oportunidades externas potenciais Ameaças externas potenciais Rápido crescimento no mercado Empresas rivais complacentes Mudança nas necessidades/gestos do consumidor Abertura de mercados externos Novas descobertas de produtos Boom econômico Mudanças demográficas Grande alteração de marca Queda na venda de produtos substitutos Entrada de concorrentes estrangeiros Introdução de novos produtos substitutos Ciclo do produto em declínio Declínio da confiança do consumidor Empresas rivais que adotam novas estratégias Maior regulamentação governamental Queda da atividade econômica Mudanças demográficas Adaptado de: Ferrell e Hartline (2009, p. 134-135). 2.2.2 Análise do ambiente externo (oportunidades e ameaças) Para analisar o ambiente externo deve-se observar, por exemplo, a mudança de hábitos do consumidor, o surgimento de novos mercados, a diversificação, e a entrada de novos concorrentes e produtos substitutos. O ambiente externo envolve uma análise das forças macroambientais (demográficas, econômicas, tecnológicas, políticas, legais, sociais e culturais) e dos fatores microambientais (consumidores, concorrentes, canais de distribuição e fornecedores). Dessa maneira, procura-se identificar duas questões: oportunidades e ameaças. Elas existem fora da empresa, independentemente de forças e fraquezas, e ocorrem tipicamente dentro dos ambientes competitivo, do consumidor, econômico, político/legal, tecnológico e/ou sociocultural (FERRELL; HARTLINE, 2009). 2.2.2.1 Oportunidades São situações, tendências ou fenômenos externos, atuais ou potenciais, que podem contribuir para a concretização dos objetivos estratégicos (CALAES; VILLAS BÔAS; GONZALES, 2006). Consistem em variáveis externas e não controladas, que podem criar situações favoráveis para a organização, desde que ela tenha condições ou interesse de utilizá-las. As oportunidades refletem a realidade externa da empresa e devem ser observadas, pois elas influem tanto no ambiente externo quanto no ambiente interno da organização. 31 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS 2.2.2.2 Ameaças São situações ou fenômenos externos, atuais ou potenciais, que podem prejudicar a execução de objetivos estratégicos. Consideradas como aspectos mais negativos do produto/serviço da empresa em relação ao mercado onde está ou irá se inserir, são fatores relevantes para o planejamento estratégico e que não podem ser controlados pela empresa. Estão relacionadas a concorrentes e novos cenários, desafiando a atual estratégia do empreendimento. 2.2.3 Forças + oportunidades Essa análise leva a uma estratégia ofensiva e auxilia no aperfeiçoamento e crescimento das características positivas da empresa. Considerando uma empresa de alimentos, a expertise em produtos orgânicos (força) potencializa a oportunidade de começar no mercado vegano, por exemplo. Portanto, a estratégia será focar o marketing na experiência e na credibilidade que a empresa já conquistou no mercado com a produção e/ou a venda de produtos orgânicos. 2.2.4 Forças + ameaças Para uma estratégia de confronto, é necessário levantar os pontos fortes que podem minimizar os impactos. No caso da empresa de alimentos, sua reputação reduz a ameaça da entrada de concorrentes no mercado, por exemplo, já que a marca é consolidada. Logo, a estratégia seria manter a identidade visual no mercado vegano. 2.2.5 Fraquezas + oportunidades Essa análise cruzada resulta em uma estratégia de reforço. O seu objetivo é observar como é possível diminuir impactos negativos e como os pontos fracos da empresa podem reduzir as chances de novas oportunidades. Dessa maneira, essa estratégia leva a um aperfeiçoamento para que essas fraquezas deixem de atrapalhar o desenvolvimento da empresa. Partindo do exemplo da empresa de alimentos, para prosperar no mercado vegano, será necessária uma equipe especializada nessa área ou a contratação de uma consultoria. 2.2.6 Fraquezas + ameaças Ao cruzar os pontos fracos e as ameaças de uma empresa, é possível minimizar falhas e seus prováveis impactos negativos, sendo, portanto,uma estratégia de defesa. Há que traçar maneiras de diminuir as chances de uma fraqueza da empresa se transformar em uma ameaça real. 32 Unidade I Baseando-se no caso da empresa de alimentos, a falta de experiência no mercado vegano pode ser um entrave. Para diminuir esse impacto, a estratégia seria a contratação de uma consultoria especializada para estruturar essa operação. Vejamos uma análise mais aprofundada. O vegetarianismo se caracteriza por uma restrição alimentar no consumo de carnes bovinas, suínas, aves, peixes e frutos do mar. Há variações em sua classificação de acordo com as exclusões no consumo alimentar. Ovolactovegetarianos são indivíduos que consomem ovos, leite e derivados em sua dieta. Já o veganismo é um estilo de vida mais amplo, que inclui a libertação animal e exclui todo e qualquer tipo de produto ou serviço que implique sua exploração (seja na alimentação, no vestuário, em cosméticos, no entretenimento, entre outros). Observa-se um crescente aumento da preocupação da população com o meio ambiente e com assuntos relacionados ao consumo e à sustentabilidade. De acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB, [s.d.]), 14% da população brasileira se declara vegetariana. Comparando com os dados de 2012, houve um aumento de 75% entre as pessoas que se declaram vegetarianas. Essas mudanças no perfil alimentar da população contribuem com o crescimento de produtos veganos no mercado, com destaque para o mercado de carnes veganas, que registrou um aumento em torno de 20% entre os anos de 2017 e 2018 (CHINAGLIA, 2019). Dentro do segmento de carnes veganas incluem-se produtos como hambúrguer, carne moída, salsicha, presunto, frango, carne de porco, entre outros. Observa-se uma revolução no modo de comer carne, uma vez que as carnes veganas disponíveis no mercado têm se assemelhado cada vez mais ao sabor e à textura da versão de produtos com carne animal. Diante destas evidências, uma empresa contratou um nutricionista para avaliar o mercado de produtos veganos e optou pela elaboração de um hambúrguer vegano. Trata-se de um hambúrguer vegano elaborado de maneira artesanal, tendo a lentilha vermelha como ingrediente substituto à carne. O quadro a seguir é um exemplo de matriz Swot realizada por essa empresa. Quadro 4 Fatores externos Oportunidades Ameaças Crescimento do número de pessoas vegetarianas e veganas Aumento no número de pessoas que reduzem o consumo de carne Alta demanda por produtos veganos e mercado escasso em ofertas Marca concorrente de renome presente no mercado Dificuldades de distribuição em diferentes regiões Preço alto de venda se comparado a produtos tradicionais Fatores internos Forças Fraquezas Qualidade do produto Produto livre de aditivos Responsabilidade social e ambiental Marca jovem e ainda desconhecida Média capacidade de produção Inovação tecnológica de alto custo para implementação Alto custo de produção por conta da matéria-prima utilizada na fabricação 33 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Veja agora o mix de marketing do produto (hambúrguer vegano): • Produto: produto vegano feito artesanalmente com lentilhas vermelhas orgânicas especialmente selecionadas e livre de qualquer tipo de conservantes. A lentilha é um alimento fonte de proteína, fibras e ferro. Cada hambúrguer contém 108 g, sendo comercializado em caixas contendo duas unidades. • Preço: o preço final de venda sugerido é de R$ 15,00, considerando os custos de produção e distribuição. • Praça: distribuição de maneira indireta. Disponível em redes de hipermercado na cidade de São Paulo. • Promoção: por meio de redes sociais, com publicação e divulgação do produto. Para alavancar o conhecimento da marca no mercado serão enviados alguns kits do produto a influenciadores do nicho vegetariano com o intuito de publi post. Ademais, o produto estará presente em exposições voltadas a esse mercado. • Pessoa/público: produto destinado ao público vegetariano e vegano de todas as idades que se preocupa com sustentabilidade, saúde e bem-estar. 2.3 Matriz BCG e o ciclo de vida de produtos alimentícios De acordo com Kotler e Keller (2006), uma das maneiras de avaliar o portfólio de produtos é por meio da aplicação da matriz BCG de crescimento-participação, que se tornou popular sob a sigla da empresa que a criou. Trata-se de uma matriz de grande utilidade na análise de portfólio de produtos e posicionamento da empresa no ambiente externo, avaliando o portfólio através do fluxo de caixa gerado. Assim, no eixo vertical encontra-se a taxa de crescimento do mercado, e no eixo horizontal, a participação relativa da empresa. Com esses dois indicadores são gerados quatro quadrantes que demonstram a posição dos produtos da empresa com as seguintes características: ponto de interrogação, estrela, vaca leiteira e abacaxi. • Ponto de interrogação: refere-se a produtos ou negócios que operam em mercados de alto desenvolvimento, porém com baixas participações relativas. É uma fase que requer investimentos para acompanhar o crescimento da participação de mercado. • Estrela: ocorre quando os produtos ou negócios considerados pontos de interrogação tornam-se bem-sucedidos. Esses produtos têm grande participação relativa em mercado de alto crescimento, sem necessariamente apresentar fluxo de caixa positivo. • Vaca leiteira: decorre da taxa de crescimento de mercado, quando se observa uma queda de forma significativa, mas o produto ou o negócio apresenta elevada participação relativa no mercado. Dessa forma, estrelas tornam-se vacas leiteiras. Nesse quadrante da matriz são gerados fluxos de caixa positivos e grandes margens de lucro. 34 Unidade I • Abacaxi: produtos ou negócios que apresentam baixa participação relativa em mercados de pouco crescimento. Geralmente geram prejuízos, mas, por algum motivo, podem continuar fazendo parte do portfólio da empresa. Quadro 5 – Matriz BCG Alta Al to Participação relativa de mercado Baixa Ba ix o Cr es ci m en to d o m er ca do ? Estrela Vaca leiteira Ponto de interrogação Abacaxi Observação O exemplo de análise realizado com o hambúrguer vegano pode ser classificado como uma interrogação dentro da matriz BCG, uma vez que se trata de um novo produto e não se sabe como será sua aceitação no mercado. Exemplo de aplicação Leia o texto a seguir e assinale a alternativa correta: Arroz Tio João lança bolinhos de arroz como opção de aperitivo Inspirada em uma das receitas mais tradicionais dos botecos brasileiros, a marca líder Arroz Tio João apresenta a mistura para preparo de Bolinhos de Arroz. O lançamento vem para complementar a linha de semiprontos Cozinha & Sabor, trazendo para o consumidor deliciosas opções de aperitivos. Disponível em três sabores, Tradicional, Com Charque e Com Queijo, a novidade pode ser preparada no fogão ou no micro-ondas, ser frita ou assada. O modo de preparo vem detalhado na embalagem, sendo que cada receita rende até 21 bolinhos. Além disso, cada embalagem também traz uma receita de molho exclusivo, como sugestão de acompanhamento. Não contém glúten. Fonte: Meirelles (2017). 35 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Diante do texto e dos seus conhecimentos sobre a matriz BCG, este produto se classifica em qual quadrante da matriz? A) Vaca leiteira. B) Interrogação. C) Não é possível classificar. D) Estrela. E) Abacaxi. Resolução Dentro da matriz BCG, por se tratar de um novo produto, ele seria interrogação (alternativa B). 3 TENDÊNCIAS DE MERCADO De acordo com o Brasil Food Trends (2020), países como o Brasil passaram por um período de forte crescimento econômico e de renda nos últimos anos, a despeito da crise econômica mundial do segundo semestre de 2008. Esse movimento foi acompanhado pelo incremento da urbanização, intensificando e alterando o perfil de consumo da população mundial, com o aumento da preferência por alimentos mais elaborados e proteicos, e a indústria de alimentos encontra-seatenta às tendências e desafios desse novo cenário da demanda como forma de manter o seu posicionamento competitivo. Com o aumento da renda e do poder de compra, além do maior acesso à informação, o desafio da indústria de alimentos é produzir bens que atendam às exigências de um consumidor cada dia mais crítico a respeito de todos os fatores relacionados à geração de alimentos. Observação Tendência é a propensão de consumidores/indivíduos em modificar os hábitos já estabelecidos, decorrente de fatores econômicos, sociais, culturais e políticos. No âmbito de tendências em produtos alimentícios, observa-se um movimento mundial no consumo de alimentos categorizados em cinco tipos: sensorialidade e prazer; saudabilidade e bem-estar; conveniência e praticidade; confiabilidade e qualidade; e sustentabilidade e ética. 36 Unidade I 3.1 Tendências: sensorialidade e prazer Relacionam-se ao aumento do nível de educação, informação e renda da população. Em diversos países, os consumidores estão valorizando as artes culinárias e as experiências gastronômicas, influenciando tanto o setor de serviços de alimentação como o desenvolvimento de produtos industrializados. Desta maneira, propicia-se a disseminação de receitas regionais e o consumo de produtos étnicos, criando o interesse pela harmonização de alimentos e bebidas, e por novas texturas e sabores. Por outro lado, valoriza-se a socialização em torno da alimentação, tornando os produtos alimentícios um importante elo entre as pessoas, dentro e fora dos lares. Observam-se, também, circuitos e polos gastronômicos nas cidades como importante forma de lazer e entretenimento para moradores e turistas. Os segmentos de consumo de produtos com maior valor agregado tendem a continuar crescendo, tanto em relação aos produtos gourmet e premium, geralmente destinados à população de alta renda, como em relação aos alimentos sofisticados que apresentam preço acessível para os consumidores emergentes, os quais deverão representar os grandes mercados para a indústria de alimentos no futuro. Dentro dessa tendência, destacam-se os foodies, consumidores aficionados por novos produtos e novas experiências em torno da alimentação, cada vez mais preocupados também com a saúde e a forma física, o que tem contribuído com o aumento da demanda por produtos que sejam saborosos, mas também saudáveis. Dentro da tendência de sensorialidade e prazer, observam-se: • In-home gourmets: buscam opções caseiras para o tipo de experiência proporcionada por uma refeição em restaurantes. • Foodies with no time: apreciadores de boa comida que procuram opções mais saborosas, mas que não têm tempo. • Busy moms: mães que desejam produtos convenientes, mas saudáveis. • Restaurant-style: alusão ao tipo de alimentação servida em restaurantes e lanchonetes. Quadro 6 – Exemplos de produtos relacionados às tendências de sensorialidade e prazer Benefícios relacionados à tendência de sensorialidade e prazer Exemplos de propostas de valor para os consumidores Consumo de alimentos com maior valor agregado, alimentos com símbolos de status, alimentos que compõem o estilo de vida sofisticado Produtos gourmet e especialidades para mercados populares Versões premium de produtos existentes (elevação/aperfeiçoamento do padrão de qualidade, premiumisation) Produtos super-premium 37 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Benefícios relacionados à tendência de sensorialidade e prazer Exemplos de propostas de valor para os consumidores Consumo hedonista, busca de indulgência, experimentação de novos sabores e texturas, escape do cotidiano, exotismo Produtos de “indulgência sem culpa” (incorporação de novos atributos para diminuir rejeição de produtos com alto teor calórico, gordurosos etc. ou redução de porção ou tamanho da embalagem) Produtos com sabores e texturas diferentes, produtos interativos e produtos exóticos que permitem novos estímulos sensoriais e o escape da rotina diária Valorização da culinária e da gastronomia, por aficionados, como entretenimento e lazer ou socialização em torno da alimentação Experimentação da culinária de regiões específicas, contato com outras culturas Recuperação de culinárias regionais e da tradicional cozinha caseira Reprodução de receitas originadas em restaurantes Referência a receitas gourmet servidas em restaurantes Produtos desenvolvidos com a participação de chefs de cozinha Produtos com assinatura de chefs famosos Produtos étnicos Produtos com sabores característicos de outros países Produtos baseados em receitas tradicionais Produtos em porções para o consumo em família Produtos com proposta de recriar no lar a experiência de fazer refeições em restaurantes Produtos coadjuvantes de momentos de lazer e entretenimento Produtos para ocasiões festivas Produtos para presentear Fonte: Brasil Food Trends (2020, p. 73). Figura 9 – Exemplos de produtos industrializados com maior valor agregado Fonte: Brasil Food Trends (2020, p. 74). 38 Unidade I Figura 10 – Exemplos de produtos industrializados que permitem o escape da rotina diária Fonte: Brasil Food Trends (2020, p. 76). Figura 11 – Exemplos de produtos industrializados para indulgência sem culpa Fonte: Brasil Food Trends (2020, p. 77). 39 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS Figura 12 – Exemplos de produtos industrializados relacionados com gastronomia, cozinha caseira e socialização Fonte: Brasil Food Trends (2020, p. 78). 3.2 Tendências: saudabilidade e bem-estar Decorrem de mudanças demográficas como o envelhecimento das populações, as descobertas científicas que vinculam determinadas dietas a doenças, bem como a renda e a vida nas grandes cidades, influenciando a busca de um estilo de vida mais saudável. Destaca-se a procura por alimentos funcionais, produtos para dietas e controle do peso, além do crescimento de uma nova geração de produtos naturais que estão se sobrepondo ao segmento de produtos orgânicos. Aliado à maior preocupação dos consumidores com a nutrição, o consumo de produtos funcionais tem criado diversos nichos de mercado, como o de produtos benéficos ao desempenho físico e mental e à saúde cardiovascular e gastrointestinal, assim como o de produtos que favorecem a melhoria do estado de ânimo (energéticos) e o relaxamento, por exemplo. Produtos com propriedades cosméticas também são bastante promissores dentro dessa tendência. A alta incidência e prevalência de indivíduos com sobrepeso e obesidade estimula a elaboração de produtos para dietas e de alimentos com redução ou eliminação de substâncias calóricas. Assim, o 40 Unidade I segmento diet/light deve continuar sua tendência de crescimento, aliando-se a uma nova categoria de produtos com ingredientes específicos para queimar calorias e saciar o apetite. Nos países desenvolvidos, consolida-se o consumo de alimentos orgânicos, os quais enfrentam a concorrência das versões naturais de produtos tradicionais, com eliminação de aditivos químicos, entre outras características. Segue uma lista de ingredientes (tendência saudabilidade e bem-estar) sugeridas pelo Brasil Food Trends (2020): • Saúde do coração: ômega 3, óleo de peixe, antioxidantes, fibras, grãos integrais, chocolate amargo, vitamina E e fitoesteróis. • Fortalecimento do sistema imunológico: antioxidantes, ômega 3, vitamina E, probióticos, óleo de peixe, grãos integrais, fibras e proteínas. • Prevenção do câncer: antioxidantes, fibras, grãos integrais, ômega 3, óleo de peixe, vitamina E, chocolate amargo e soja. • Saúde do cérebro: ômega 3, antioxidantes, óleo de peixe, vitamina E, proteínas e DHA (ácido docosa-hexaenoico). • Saúde e beleza da pele: vitamina E, antioxidantes, óleo de peixe, ômega 3 e cálcio. • Saúde gastrointestinal: fibras, grãos integrais, aveia, probióticos e antioxidantes. Quadro 7 – Exemplos de produtos relacionados à tendência de saudabilidade e bem-estar Benefícios relacionados à tendência de saudabilidade
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