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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA - CAMPUS BARRA CURSO DE DIREITO VICTOR DAU GUEDES VERIFICAR NA DOUTRINA E NA JURISPRUDÊNCIA A NATUREZA JURÍDICA DAS "GUELTAS", ou seja, SE ELAS POSSUEM OU NÃO NATUREZA SALARIAL. RIO DE JANEIRO 2022 Atualmente existem diversas modalidades de recebimento/pagamento de benefícios financeiros numa relação de emprego, como por exemplo de pagamentos por meio de comissão, por bonificação, por gorjetas, o salário fixo convencional, ou seja, uma grande gama de espécies remuneratórias. Contudo, um ramo pouco explorado e muitas vezes desconhecido, são as verbas denominadas pela jurisprudência como “gueltas”, que são valores pagos por terceiros (em geral fornecedores) aos empregados de uma empresa pela venda de produtos e serviços daquele terceiro. Com essa estratégia o fornecedor estimula que o seu produto seja vendido com mais eficiência do que algum concorrente que não pratica esse tipo de pagamento. Podemos observar que, tal verba estampada em alguns exemplos do cotidiano para entender como ela funciona melhor, um exemplo do pagamento das gueltas, é o caso de um farmacêutico, que apesar de receber a sua remuneração principal proveniente do seu empregador, recebe também a bonificação pela venda de medicamentos de determinado laboratório, ou também no caso de um corretor de seguro, que apesar de receber comissões e salários de seu empregador, também recebe prêmio da seguradora por vender os seus produtos. Porém, quando essa análise é junto ao entendimento jurisprudencial, verifica- se que as gueltas, na maioria das vezes, não são aplicadas/pagas corretamente ao funcionário. Tal erro ocorre, visto que a maioria dos empregadores entendem que por tal verba não estar sendo paga diretamente por ele, não deverá integrar ou refletir nas demais verbas salariais do obreiro, o que é totalmente equivocado. Pelo entendimento majoritário dos Tribunais Regionais do Trabalho e até mesmo do Tribunal Superior do Trabalho, as gueltas possuem natureza muito semelhante à gorjeta, e devem integrar ao salário do colaborador. Ou seja, de acordo com o disciplinado por nossos tribunais, a referida verba deve ter o regramento disciplinado no Artigo 457 da Consolidação das Leis Trabalhistas: “Art. 457 - Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. § 1o Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações legais e as comissões pagas pelo empregador. § 2o As importâncias, ainda que habituais, pagas a título de ajuda de custo, auxílio-alimentação, vedado seu pagamento em dinheiro, diárias para viagem, prêmios e abonos não integram a remuneração do empregado, não se incorporam ao contrato de trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo trabalhista e previdenciário. § 3º Considera-se gorjeta não só a importância espontaneamente dada pelo cliente ao empregado, como também o valor cobrado pela empresa, como serviço ou adicional, a qualquer título, e destinado à distribuição aos empregados. § 4o Consideram-se prêmios as liberalidades concedidas pelo empregador em forma de bens, serviços ou valor em dinheiro a empregado ou a grupo de empregados, em razão de desempenho superior ao ordinariamente esperado no exercício de suas atividades.” Ou seja, desde que as, sejam pagas com habitualidade em decorrência de campanhas de vendas patrocinadas pelos fornecedores, esta detém natureza salarial, e devem ser integradas à remuneração do funcionário para todos os fins de direito. Nesse sentido, disciplinou o entendimento emanado pelo Tribunal Superior do Trabalho da 2ª Região. Observa-se: GUELTAS. OPORTUNIDADE DE GANHO. SEMELHANÇA COM A GORJETA. INTEGRAÇÃO NA REMUNERAÇÃO. INTELIGÊNCIA DA SÚMULA Nº 354, C.TST. As gueltas são espécies de prêmios de incentivo ou gratificações pagas por terceiros ao empregado, mas em decorrência do contrato de trabalho. Constituem oportunidade de ganho, incentivos pagos pelos fornecedores para a venda de seus produtos. Em depoimento, o preposto da recorrente reconhece que "o reclamante recebia valores de terceiros, relativos a acessórios, seguro, despachantes e instituições financeiras; que era a reclamada que repassava os valores para a conta do reclamante". O pagamento das comissões tem natureza de remuneração quando é pago por terceiro, por intermédio da empresa ao empregado. Assemelham-se, assim, às gorjetas. Certo é que sem a existência do contrato de trabalho estes pagamentos não seriam feitos. Integração na remuneração devida (...). (TRT 2ª R.; RO 0001370-22.2013.5.02.0052; Ac. 2014/0756110; Sexta Turma; Rel. Des. Fed. Valdir Florindo; DJESP 10/09/2014) EMENTA. DIREITO DO TRABALHO. VALORES PAGOS "POR FORA". GUELTAS. REPERCUSSÕES. Comprovado que o autor recebeu valores de terceiros pela venda de acessórios de veículos, seguros e serviços. Os pagamentos feitos por terceiros, ocorreram em razão do contrato de trabalho, devendo compor o complexo remuneratório do empregado. Não se trata da hipótese de salário "por fora", mas de gueltas ou gratificações, as quais, apesar de não constarem no contracheque, devem ser contabilizadas para o cálculo das verbas a serem pagas ao trabalhador. O fato da fonte pagadora não ser o próprio empregador, mas um terceiro, não obsta a integração desses valores no complexo remuneratório do empregado, pois decorrerem do contrato de trabalho, ficando o empregador obrigado a arcar com os seus reflexos em outras parcelas contratuais. Referida bonificação paga por terceiros (gueltas) equipara-se a gorjeta, por aplicação analógica ao artigo 457, § 3º, da CLT e Súmula 354 do TST. Recurso ordinário da ré a que se dá provimento parcial, quanto ao aspecto. (TRT-2 10015543920175020013 SP, Relator: CARLOS ROBERTO HUSEK, 17ª Turma - Cadeira 3, Data de Publicação: 12/12/2019) Desta forma, por mais que seja licito o pagamento de prêmios/bonificações conforme os casos acima descritos, ou seja, por meio de gueltas, é necessário que se observe a integração nas verbas salariais, para que o trabalhador não tenha seus direitos suprimidos. Desta forma, quando o empregador atuar em ramo em que a referida premiação é devidamente utilizada, deverá apurar os pagamentos realizados pelos fornecedores, e refleti-los nas demais verbas devidas ao obreiro, ou seja, nos 13º salários, férias, FGTS, multa do FGTS, quando esta for devida, DSR, horas extras, aviso prévio, contribuições previdenciárias e dentre outras verbas. https://www.magisteronlinee.com.br/mgstrnet/lpext.dll?f=FifLink&t=document-frame.htm&l=jump&iid=c%3A%5CViews44%5CMagister%5CMgstrnet%5CMagNet_Sum.nfo&d=S%FAm.%20n%BA%20354%20do%20TST&sid=542863cf.3e34e6cc.0.0#JD_Smn354doTST https://trt-2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/145935638/recurso-ordinario-ro-13702220135020052-sp-00013702220135020052-a28 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10713471/artigo-457-do-decreto-lei-n-5452-de-01-de-maio-de-1943 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10713360/par%C3%A1grafo-3-artigo-457-do-decreto-lei-n-5452-de-01-de-maio-de-1943 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983249/consolida%C3%A7%C3%A3o-das-leis-do-trabalho-decreto-lei-5452-43 https://trt-2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/792415240/10015543920175020013-sp
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