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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA – CAMPUS BARRA CURSO DE DIREITO. VICTOR DAU GUEDES Pesquisar na Lei Pelé, na doutrina e na jurisprudência se as seguintes parcelas possuem ou não natureza salarial: 'BICHO", LUVAS, DIREITO DE IMAGEM E DIREITO DE ARENA. RIO DE JANEIRO 2022. Atualmente o futebol é o esporte mais comentado e praticado no mundo inteiro, todos nós sabemos os sacrifícios que os atletas sofrem para poder chegar ao seleto grupo de jogadores que são bem remunerados e que atuam em grandes clubes ao redor do mundo. A pergunta que se faz é: “Como que esses jogadores são remunerados? Na verdade tais atletas (no Brasil) recebem seus salários um pouco diferente do que estamos acostumados, que é o que nos rege atualmente pela CLT, esses atletas também são remunerados pelo que se chama de direito de imagem (que basicamente consiste na ideia que os jogadores recebem por se vincular ao clube e expor os patrocínios das camisas e também do campo de futebol), outra modalidade é também o direito de arena (que consiste basicamente no Direito de transmissão dos jogos) e também as “luvas” e o “bicho” (que são modalidades de bônus não obrigatórios). Começando a discorrer mais sobre os assuntos supracitados, o salário de atletas profissionais é, como de qualquer outro trabalhador que se observa as regras da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas – Decreto-Lei 5.452/43) sendo permitido que o atleta receba uma parcela fixa e que haja também uma parcela variável de acordo com o desempenho individua de cada atleta (o que é chamado popularmente de contrato de produtividade). O Direito de Imagem de um atleta é algo que vai pertencer a ele mesmo, e não ao clube que ele defende ou está vinculado podendo o atleta ceder ou explorar esse direito de imagem. Na prática o atleta costuma cede de uma maneira onerosa seu direito ao clube que ele está vinculado, ainda que o atleta ceda seus direitos de imagem esse valor não pode ser confundido com o salário e não será abraçado pelo contrato de trabalho desportivo. Embora seja cada vez mais comum os atletas venderem a sua imagem a patrocinadores e às marcas, vale ressaltar que o art. 87-A da Lei Pelé (inserido pela Lei 12.395/2011) busca afastar o enquadramento salarial ou remuneratório da verba paga a título de cessão do direito de uso da imagem do atleta profissional, ainda que seja resultante de pacto vinculado ao contrato de trabalho, porquanto, salvo se constatada fraude aos direitos trabalhistas, o pagamento originado por este instituto não reflete nas verbas legais trabalhistas, tais como FGTS, 13º salário, férias, dentre outros, conforme jurisprudência abaixo: "RECURSO DE REVISTA. 1. ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL. CONTRATO DE LICENÇA DO USO DE IMAGEM. INEXISTÊNCIA DE FRAUDE. CARÁTER NÃO SALARIAL DA VERBA RECEBIDA A TÍTULO DE DIREITO DE IMAGEM-. Trata-se o direito de imagem, direito fundamental consagrado no artigo 5º, V e X, da Constituição Federal de 1988, de um direito individual do atleta, personalíssimo, que se relaciona à veiculação da sua imagem individualmente considerada, diferentemente do direito de arena, o qual se refere à exposição da imagem do atleta enquanto partícipe de um evento futebolístico. É bastante comum a celebração, paralelamente ao contrato de trabalho, de um contrato de licença do uso http://www.normaslegais.com.br/legislacao/lei12395_2011.htm de imagem, consistindo este num contrato autônomo de natureza civil (artigo 87-A da Lei nº 9.615/98) mediante o qual o atleta, em troca do uso de sua imagem pelo clube de futebol que o contrata, obtém um retorno financeiro, de natureza jurídica não salarial. Tal contrapartida financeira somente teria natureza salarial caso a celebração do referido contrato se desse com o intuito de fraudar a legislação trabalhista. Nesses casos, quando comprovada a fraude, deve-se declarar o contrato nulo de pleno direito, nos termos do artigo 9º da CLT, com a atribuição do caráter salarial à parcela recebida fraudulentamente a título de direito de imagem e sua consequente integração na remuneração do atleta para todos os efeitos. Todavia, na hipótese dos autos, não restou comprovado o intuito fraudulento na celebração do contrato de licença do uso de imagem (premissa fática inconteste à luz da Súmula nº 126), razão pela qual decidiu bem a egrégia Corte Regional ao não conferir natureza salarial à parcela percebida pelo reclamante a título de direito de imagem. Recurso de revista conhecido e não provido. (...). (RR - 82300-63.2008.5.04.0402, Relator Ministro: Guilherme Augusto Caputo Bastos, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 03/04/2012)". Já o Direito de Arena vai consistir no privilégio exclusivo das entidades de prática desportiva de negociarem a transmissão, retransmissão ou reprodução de imagens dos eventos desportivos de participarem. Diferente do direito de imagem, o direito de arena diz respeito à imagem do espetáculo, à exposição coletiva dos atletas do jogo e não à imagem individual de cada atleta. Embora o direito de arena pertença às entidades de prática desportiva, os atletas profissionais tem assegurado legalmente o direito de receber uma parcela dos valores de clube a que estão vinculados receberem com a venda da transmissão ou retransmissão dos jogos em que o atleta tiver participando (sendo titular ou reserva). Tal porcentagem é dividida igualmente entre os atletas participantes, não havendo negociações individuais a esse respeito. Conforme dispõe o art. 42 § 1º da lei Pelé, salvo convenção coletiva de trabalho em contrário, 5% (cinco por cento) da receita proveniente da exploração de direitos desportivos audiovisuais serão repassados aos sindicatos de atletas profissionais, e estes distribuirão, em partes iguais, aos atletas profissionais participantes do espetáculo, como parcela de natureza civil. Pela própria condição profissional, os atletas são figuras públicas e, ao cederem o uso da sua imagem durante a atuação nos jogos, devem estar resguardados de tal condição, já que sua vida privada é exposta publicamente. Diferentemente do direito de imagem, o direito de arena possui natureza jurídica remuneratória, mas repercutindo apenas no 13º salário, férias e 1/3 constitucional, aproximando-se ao sistema de gorjetas, conforme jurisprudência abaixo: "RECURSO DE REVISTA. DIREITO DE ARENA. NATUREZA JURÍDICA. A jurisprudência desta Corte tem atribuído natureza jurídica remuneratória à parcela paga ao atleta decorrente do denominado direito de arena. De outro lado, não corresponde a uma parcela paga diretamente pelo empregador, aproximando-se do sistema das gorjetas. Portanto, em face de sua similaridade com as gorjetas, aplica-se, por analogia, o artigo 457 da CLT e a Súmula nº 354 do TST, o que exclui os reflexos no cálculo do aviso-prévio, adicional noturno, horas extras e repouso semanal e autoriza repercussão em gratificação natalina, férias com o terço constitucional e FGTS. Precedentes. Não conhecido. (...)" (RR - 2960-19.2012.5.02.0036 , Relator Ministro: Emmanoel Pereira, Data de Julgamento: 11/2/2015, 5ª Turma, Data de Publicação: DEJT 20/2/2015.) Assim, o direito de arena (natureza jurídica remuneratória) está previsto na legislação e deve ser cumprido pelo clube quando da celebração contratual e o direito de imagem (natureza jurídica não salarial), também devida ao atleta profissional, depende da livre negociação entre o mesmo e o clube de futebol. As Luvas consistem num valor pago aos atletas quando estão negociando um contrato. É uma espécie de bônus não obrigatório, que pode ser pago à vista ou de maneira parcelada, não podendo se confundir de forma alguma com salário ou qualquer outra remuneração supracitadas. Na Doutrina e na jurisprudência as luvas, quando negociadas, são interpretadas como natureza salarial do atleta, pois o pagamento estávinculada ao contrato de trabalho sendo assim tomaria uma parcela de indenização pois não vai visar o ressarcimento, a compensação ou reparação de nenhuma espécie, mas se caracteriza do resultado do patrimônio incorporado. Desta forma, se forem pagas de maneira diluída no contrato de trabalho, poderão sim ser assemelhadas as gratificações habituais incluindo assim reflexos em 13º, férias com 1/3 e FGTS durante o período em que forem pagas. Como mencionado acima, se forem pagas de maneira única, não vai repercutir em verbas anuais (férias, 13º) ou mensais, limitando-se em seus reflexos ao depósito do FGTS referente ao mês de pagamento, assim como uma respectiva multa de 40%. Neste sentido, o TST ai entender que tal pagamento não teve escopo de compensar ou ressarcir o atleta, temos: "AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. AUSÊNCIA DE TRANSCENDÊNCIA . 1. INCOMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO. 2. LUVAS. Conforme destacado na decisão agravada, a jurisprudência desta Corte Superior é a de que a controvérsia envolvendo contrato de licenciamento de uso do nome, voz, imagem de personalidade e direito autoral de atleta jogador de futebol diz respeito a questão afeta ao contrato de trabalho, de modo a atrair a competência desta Justiça especializada. Por sua vez, esta Corte também entende que a parcela paga ao atleta profissional a título de "luvas" detém natureza salarial. Nesse diapasão, não foi constatada contrariedade à jurisprudência desta Corte Superior ou do Supremo Tribunal Federal, nem ofensa à garantia social assegurada no texto constitucional, tampouco questão inédita acerca da legislação trabalhista. Ademais, não se vislumbrou expressiva repercussão econômica que ultrapasse os contornos meramente subjetivos da lide. Irrepreensível, portanto, a conclusão adotada quanto à inadmissibilidade da revista, tendo em vista a ausência de transcendência da causa com relação aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica, na forma do artigo 896-A da CLT. Agravo conhecido e não provido" (Ag-AIRR-10103-18.2020.5.18.0009, 8ª Turma, Relatora Ministra Dora Maria da Costa, DEJT 17/09/2021). Por fim o Bicho que também consiste em uma espécie de bônus, mas atrelado ao desempeno da equipe ou de um atleta (geralmente à equipe) visando um jogo específico de uma determinada competição, embora não sendo algo obrigatório, acaba sendo algo super importante porque serve como “estímulo” aos atletas para vencerem determinado jogo. Para muitos autores, como é o caso do Ministro Maurício Godinho Delgado, referido pagamento assemelha-se com as características do prêmio trabalhista, embora pagos repetidas vezes ao longo do ano contratual. Logo, haveria incidência de reflexos em 13º salário, férias com 1/3 e FGTS. Nesse sentido é o posicionamento do TST. Vejamos: “(...) 3. ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL. "LUVAS" E “BICHOS”. NATUREZA JURÍDICA SALARIAL. LEIS N. 9.615/98 E 12.395/2011.3.2 A mesma conclusão se aplica à parcela “bichos”, que se trata de parcela econômica variável e condicional, usualmente paga ao atleta pela entidade empregadora em vista dos resultados positivos alcançados pela equipe desportiva (títulos alcançados, vitórias e, até mesmo, empates obtidos, se for o caso). A verba possui nítida natureza contraprestativa, sendo entregue como incentivo ao atleta ou em reconhecimento por sua boa prestação de serviços (ou boa prestação pelo conjunto da equipe desportiva). Observa-se, assim, que possui nítida característica de prêmio trabalhista e, por isso, é indubitável salário, em sentido amplo (art. 31, § 1º, da Lei Pelé; art. 457, caput e § 1º, da CLT). (...)” (TST – Processo ARR-10149-08.2014.5.01.0068. Relator: Mauricio Godinho Delgado. Data do julgamento: 02/10/2019. Órgão julgador: 3ª Turma. Data da publicação: 04/10/2019). Portanto, os atletas profissionais recebem verbas peculiares do contrato de trabalho em razão da atividade exercida (luvas, bicho, direito de arena e de imagem) e existem controvérsias entre a doutrina e a jurisprudência sobre essa natureza jurídica e seu enquadramento. Ao longo da minha pesquisa o que pude analisar é que o entendimento majoritário do TST, no que tange luvas e bichos é pelo enquadramento das verbas como natureza salarial, devendo sim integrar nas demais verbas do contrato, porque, segundo a corte tal pagamento é realizado em razão do contrato de trabalho, sendo incontestável a sua natureza contraprestativa. Por outro lado, quando analisamos o direito de imagem a posição majoritária é no sentido de enquadrar na natureza civil, não havendo de se falar em reflexos, vale ressaltar que a presunção que tais verbas possuem natureza cível não é absoluta, devendo ser analisado caso a caso. Conclui-se que as alterações promovidas pela Lei 14.205/20 que inseriu o artigo 42-A “caput” e §s na Lei Pelé, no que tange o direito de arena que possuía natureza cível, agora poderá também ser atribuída natureza salarial por meio de disposição em Convenção Coletiva de Trabalho.