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Micoses superficiais 1 Micoses superficiais 🍄 As micoses cutâneas são doenças infecciosas de pele causadas por fungos, podendo ser superficiais ou profundas (subcutâneas). 🍄 Microscopicamente, os fungos podem ser divididos em colônias de leveduras ou filamentosas, as últimas constituídas fundamentalmente por elementos multicelulares em forma de tubo, que denominamos de hifas. As hifas podem ser: Septadas ou cenocíticas (sem septos). Hialinas (cores claras) ou demátoceas (tonalidade escura). 🍄 Micoses superficiais: são infecções fúngicas que acometem apenas os tecidos queratinizados, como a camada mais superficial da pele (camada córnea), cabelos e unhas. Micoses superficiais propriamente ditas: cursam com resposta inflamatória mínima ou ausente. São elas: Ptiríase versicolor, Piedra branca, Piedra preta e Tinea nigra. Micoses superficiais cutâneas e cutaneomucosas: cursam com resposta inflamatória mais evidente. São elas: dermatofitoses e candidíase. Micoses superficiais 2 EXAMES MICOLÓGICOS Micológico direto: coletado a partir de raspado da pele, pelos ou unhas. Não permite definição da espécie. Cultura: define a espécie. Anatomopatológico: biópsia da lesão em casos de grande dúvida diagnóstica. A coloração de PAS ou prata ressalta os fungos. PITIRÍASE VERSICOLOR É popularmente conhecida como “pano branco” e é muito comum, de distribuição universal. Afeta principalmente indivíduos adultos de ambos os sexos e é mais comum em climas quentes e úmidos. Fatores de risco: hiperidrose, pele oleosa, imunodepressão, desnutrição e gravidez. A Malassezia furfur libera ácido azelaico que inibe a formação de melanina, ocasionando lesões com várias colorações: eritematosas, acastanhadas ou hipocrômicas (mais comum). Quadro clínico: máculas e manchas confluentes, hipo ou hipercrômicas, com descamação furfurácea, mais evidente ao realizar o estiramento da pele afetada (sinal de Zireli). Micoses superficiais 3 Predomina nas áreas seborreicas, pois o fungo é lipofílico → face, região cervical, região superior do tronco e ombros, áreas flexurais. Mucosas e regiões palmoplantares são poupadas. Diagnóstico: clínico. Pode ser feito o teste com lâmpada de Wood, que brilha em fluorescência amarelo-prateada. Tratamento: Antifúngicos imidazólicos tópicos (tioconazol, isoconazol, cetoconazol) por quatro semanas, shampoos de sulfeto de selênio ou cetoconazol. Nos casos mais extensos e resistentes, usar terapia sistêmica com itraconazol (100mg 2x ao dia com as refeições), fluconazol (450mg DU) ou cetoconazol por duas a três semanas. São hepatotóxicos. O itraconazol é cardiotóxico. Diminuem a biodisponibilidade de medicamentos metabolizados no fígado pelo citocromo P450. Solicitar função hepática antes de iniciar imidazólicos sistêmicos, pois possuem metabolismo hepático. Micoses superficiais 4 Lembrar da interação com anticoncepcionais orais, diminuindo a sua eficácia. 🍄 Tópicos: Tioconazol, isoconazol, bifonazol (solução ou loção a 1%). Aplicar diariamente, após banho, por 4 semanas. Sulfeto de selênio (shampoo a 2,5%) aplicado diariamente por 2 semanas, antes do banho. Em seguida uma vez por semana por 4 semanas. Melhor resultado se esperar 15 minutos para o banho. Hipossulfito de sódio a 25% em solução aquosa, uma vez por dia, após o banho. Acrescentar água de colônia, na proporção 5-10%, para melhor odor. Terbinafina solução a 1% diariamente por 4 semanas. Sistêmicos: Itraconazol 100mg após o café e 100g após o jantar por 5 dias. Fluconazol 150mg/semana por 4 semanas ou 450mg DU que pode ser repetida após 3 semanas. Ketoconazol 200mg/dia por 10 dias. Micoses superficiais 5 TINEA NIGRA É causada pelo fungo pigmentado Hortaea werbeckii, que leva à formação de mácula única, bem delimitada, acastanhada, mais frequentemente na região palmar, mas pode atingir outros locais. Ocorre principalmente em lugares de clima tropical e em jovens. Diagnóstico: micológico direito mostra a presença de hifas septadas pigmentadas. Tratamento: antifúngicos tópicos e queratolíticos. PIEDRA PRETA Causada pelo fungo Piedraia hortai, que acomete os pelos levando à formação de nódulos pretos endurecidos e superficialmente aderentes às hastes dos cabelos, no couro cabeludo e barba. Pode ocasionar quebra do cabelo. Diagnóstico: exame micológico direto da haste capilar. Tratamento: corte do cabelo e uso de antifúngicos tópicos. Micoses superficiais 6 PIEDRA BRANCA Causada pelo fungo Trichosporum beigeli, que acomete os pelos, levando à formação de nódulos brancos/castanho-claros, de consistência cremosa, facilmente removidos. Afeta principalmente face, axilas e pelos pubianos, mas pode acometer também couro cabeludo. Diagnóstico: exame micológico direto. Tratamento: corte do cabelo e uso de antifúngicos tópicos. CANDIDÍASE Causada principalmente pela Candida abicans, que ocasiona infecção oportunista quando há quebra da barreira da pele ou queda da imunidade). A clínica é variável e existe algumas formas de apresentação: Oral: forma mais comum, também conhecida como “sapinho”. Frequente em imunossupriidos, lactentes e idosos que utilizam próteses dentárias. Micoses superficiais 7 Manifesta-se como placas esbranquiçadas facilmente removíveis. Pode atingir mucosas esofágica e respiratória, causando desconforto. Genital: leucorreia, pápulas e placas eritematosas e pruriginosas, com pústulas e lesões satélites na vagina e vulva nas mulheres e prepúcio e glande nos homens. Intertriginosa: dobras axilares, inguinais, inframamárias, interglúteas, presença de colarete córneo e lesões satélite. Interdigital: presença de erosão e eritema, por vezes com pústulas e maceração na região interdigital. Pode estar associada a paroníquia. Sistêmica: formas graves de candidemia. Geralmente em imunossuprimidos. 🍄 A candidíase também pode ocorrer associada à Dermatite de fraldas, em pacientes cronicamente acamados (candidose de decúbito), e em áreas de pele ocluída por curativos ou gesso. Lembre-se: áreas quentes e umidade são um prato cheio para a proliferação de fungos. Diagnóstico: definitivo é obtido com os exames micológico direito e cultura. Tratamento: antifúngicos tópicos ou sistêmicos. Micoses superficiais 8 DERMATOFITOSES (TÍNEAS) 🍄 As dermatofitoses são infecções fúngicas bastante comuns, amplamente distribuídos, que afetam indivíduso de todas as faixas etárias. O contágio ocorre pelo contato direto (interpessoal ou através de animais/solo) ou indireto (pentes, banhos públicos, bonés). O diagnóstico é essencialmente clínico. O diagnóstico definitivo é realizado pelo micológico direto e cultura, com vizualiação de hifas hialinas septadas. Fungos antropofílicos: causam geralmente múltiplas lesões, com poucos sinais inflamaórios. Fungos zoofílicos e geofílicos: lesão única, geralmente muito inflamatória. Micoses superficiais 9 TINEA CAPITIS Mais comum em crianças de 6 a 10 anos. Bastante incomum em adultos. No Brasil, os agentes mais frequentessão Microsporum canis e Trichophyton tonsurans. Acomete couro cabeludo, causando alopécia focal e descamativa (pela quebra do fio de cabelo na base), geralmente reversível. Existem duas variantes: Tonsurante: placa de alopécia não cicatricial, com pelos tonsurados (quebrados) e descamação. Quando causada por MICROSPORUM, apresenta área de alopecia única e grande e, quando secundária a TRICHOPHYTON, várias áreas de alopecia pequenas Micoses superficiais 10 Inflamatória: quérion celsi → placa elevada bem delimitada, dolorosa, com eritema, pústulas e microabscessos que drenam pus; favosa → lesões crostosas amareladas crateriformes com supuração e odor de urina de rato e evolução crõnica. As duas podem levar à alopécia definitiva por envolvimento dos folículos pilosos. Tratamento: deve-se examinar os contatos e descartar ou desinfectar possíveisfômites contaminados, como chapéus, pentes e escovas. Tineas microspóricas: Griseofulvina 15-20mg/kg/dia por 6-12 semanas. Tineas tricofíticas: Terbinafina 3-6 mg/kg/dia por 4- semanas. Alternativa: fluconazol. Medicamentos tópicos podem ser utilizados como adjuvantes. TINEA CORPORIS Micoses superficiais 11 Popularmente chamada de “impingem” e causada por uma variedade de dermatófitos, sendo os mais comuns Trichophyton rubrum, o Trichophyton mentagrophytes e o Microsporum canis. Clínica: placas eritemato- escamosas, de aspecto circinado, pruriginoso, podendo ter vesículas. Acomete com mais frequência tronco e extremidades. Vesiculosa: presença de confluência de vesículas com tendência à evolução centrífuga. Anular: lesões eritemato- papulosas com tendência à cura central, com bordas mais ativas e anulares. Em placa: placas eritemato- escamosas sem tendência à resolução central. Diagnóstico: exame micológico direto. Tratamento: antifúngicos tópicos ou sistêmicos por 04 semanas, a depender da extensão do quadro. TINEA CRURIS Causada principalmente pelo Trichophyton rubrum, sendo mais comum em homens adultos, obesos e com DM. Acomete áreas inguinocrurais e perineais, extremamente pruriginosa. É raro acometer bolsa escrotal e pênis. Micoses superficiais 12 Muito associada à tine pedis, pelo contato das roupas → sempre examinar o corpo inteiro do paciente em busca de outras lesões. Não esquecer de pés e unhas. As lesões são placas eritemato-escamosas bem demarcadas, por vezes com vesículas nas bordas. Diagnóstico: exame micológico direto. Tratamento: antifúngicos tópicos ou sistêmicos por 04 semanas, a depender da extensão do quadro. TINEA PEDIS Popularmente chamada de frieira ou pé de atleta. Causada principalmente pelo Trichophyton rubrum, sendo mais comum em homens jovens e diabéticos. É uma importante porta de entrada para bactérias, sendo causa de erisipela de repetição. Fatores de risco: uso de sapatos fechados e andar descalço em ambientes públicos, como vestiários e ginásios esportivos. A clínica é variável e existem algumas variedades de apresentação: Mocassim: lesões eritemato-escamosas com pápulas nas bordas, bem delimitadas, restrita à área dos pés coberta por um mocassim. Causada principalmente por T.rubrum e E.floccosum. Interdigital: caracterizada por lesões maceradas, descamativas e com fissuras na região interdigital dos pés. Principais fungos associados: T. mentagrophytes var. interdigitalis, T. rubrum e E. floccosum. Inflamatória: presença de lesões vesiculares e bolhosas na região plantar. O principal fungo associado é o T. mentagrophytes var. mentagrophytes. Pode ocorrer reação de hipersensibilidade a distância (reação tipo Ide). Ulcerativa: extensão da tinea pedis interdiigtal, com presença de úlceras e erosões, sendo comum um quadro de infecção bacteriana secundária. Micoses superficiais 13 Principais agentes: T. rubrum, T. mentagrophytes e E. floccosum. Diagnóstico: exame micológico direto. Tratamento: antifúngicos tópicos ou sistêmicos por 04 semanas, a depender da extensão do quadro. TINEA UNGUIUM (ONICOMICOSE) Onicomicose é um termo utilizado para designar qualquer infecção fúngica das unhas, não apenas as causadas por fungos dermatófitos. É mais comum nos idosos e rara nas crianças. Os principais dermatófitos relacionados são Trichophyton rubrum, Trichophyton mentagrophytes e Epidermophyton floccosum. Clínica: acometimento da lâmina ungueal, com unhas grossas, opacas, com tonalidade amarelada, sulcos e irregulariddades. Subungueal distal lateral: É a forma mais comum, em que a infecção inicia no hiponíquio ou prega ungueal e se estende por baixo da unha. Ocorre onicólise distal e/ou lateral (descolamento da lâmina ungueal) e hiperqueratose subungueal. Branca superficial: Ocorre penetração do fungo pela superfície dorsal da lâmina ungueal. Principal agente é o T. mentagrophytes. A clínica é de uma placa branco-giz na superfície da placa ungueal. Subungueal proximal: A infecção inicia pela dobra ungueal proximal e pela cutícula e se estende por baixo da unha. O principal agente é o T. rubrum. É sinal de imunossupressão. Micoses superficiais 14 Diagnóstico: a clínica é bastante sugestiva, mas recomenda-se realizar o exame micológico direto + cultura para identificar o agente antes de iniciar o tratamento. Tratamento: é bastante demorado (cerca de 4-12meses) e, em geral, deve-se associar antifúngicos tópicos e sistêmicos: Antifúngicos tópicos: Esmaltes, soluções (Amorolfina, Ciclopirox olamina). Preferíveis quando poucas unhas são acometidas e na forma clínica de onicomicose superficial branca. Antifúngicos sistêmicos: Se o acometimento da unha for superior a 30% e/ou múltiplas unhas afetadas. As medicações de escolha são Terbinafina e Itraconazol. O Fluconazol é mais eficaz para Candida do que para dermatófitos. 🍄 Para pacientes com tinea pedis e onicomicose é importante orientar o uso de talcos ou cremes antifúngicos diariamente, gel antisséptico, corte frequente da unhas e descarte de sapatos muito velhos, pois podem ser fonte de reinfecção. Micoses superficiais 15 DERMATOFÍTIDE (IDE) Reação de hipersensibilidade à distância de um foco de infecção fúngica. Exemplo: lesões vesiculosas nas mãos em pacientes com tinea pedis. Tratamento: antifúngicos no local do foco primário.