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Geovanna P8 SP3.1 – RESUMO DOENÇA HEPÁTICA ALCÓOLICA - DHA - Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dados do estudo sobre Carga Global de Doenças de 2015 indicaram que, de 1990 a 2015, o consumo abusivo do álcool passou da 11ª para a 9ª posição no ranking dos fatores de risco que mais contribuíram, no mundo, para anos de vida perdidos por morte ou incapacidade. - O consumo e abuso excessivo de álcool constitui uma das principais causas de doença hepática. - A doença hepática alcóolica é responsável por desencadear três lesões progressivas: ▪ Esteatose hepática; ▪ Hepatite alcóolica; ▪ Cirrose. FATORES DE RISCO - Quantidade e duração da ingestão de álcool são os principais fatores de risco. - Pacientes com ingestão de álcool de 30 ou mais gramas/dia apresentam risco aumentado de cirrose. - Sexo também é um fator importante. Mulheres são mais susceptíveis à lesão hepática alcoólica quando comparadas aos homens, desenvolvendo hepatopatia em fase avançada com menor quantidade de álcool. - Obesidade é um dos fatores de risco ambientais mais importantes, determinando o risco de cirrose em bebedores pesados. - A infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) é uma importante comorbidade na progressão para cirrose nos etilistas crônicos e excessivos. PATOGÊNESE - O principal determinante da DHA é a quantidade de álcool ingerida. - Em homens a forma grave só aparece quando o consumo é >80g/dia por mais de 10 anos. Já em mulheres, o limiar é de 30-40g/dia por mais de 10 anos. - A desnutrição é outra comorbidade que também potencializa o dano hepático alcóolico por mecanismos pouco compreendidos. → Metabolismo do álcool e causa de lesão hepática - O etanol é metabolizado por várias vias no organismo, cada uma das quais podendo contribuir para a toxicidade. Geovanna P8 - O etanol é metabolizado primeiro no fígado em acetaldeído, no citosol dos hepatócitos, por meio da enzima álcool desidrogenase (ADH). - O acetaldeído gerado é subsequentemente metabolizado em acetato, na mitocôndria, sendo realizado por uma enzima diferente, a acetaldeído desidrogenase (ALDH). - Nos casos de alcoolismo, o excesso de etanol que vai ser metabolizado vai consumir toda a reserva de oxigênio, gerando uma hipóxia centrolobular. - A hipóxia prejudica o funcionamento das mitocôndrias, bloqueando a oxidação dos ácidos graxos que, desse modo, se acumulam no interior da célula na forma de gotícula de gordura (esteatose). - O acetaldeído formando pela metabolização do etanol, se liga covalentemente a diversas proteínas teciduais, criando neoantígenos. - Esses neoantígenos, induzem uma resposta autoimune que compõe o processo necroinflamatório do parênquima hepático (hepatite). - Além disso, o álcool induz aumento da permeabilidade da mucosa intestinal, aumentando a absorção de toxinas bacterianas como os lipopolissacarideos (LPS). Esses LPS se translocam para o fígado através da veia porta, estimulando as células de Kupffer a produzirem citocinas como o TNF -α, amplificando todo o processo. Culminando, assim, em fibrose e cirrose. FISIOPATOLOGIA - A DHA progride seguindo alguns estágios 1. Esteatose Hepática - Devido à hipóxia celular gerada na metabolização do etanol, os ácidos graxos não conseguem ser oxidados pelas mitocôndrias e acabam se acumulando no citoplasma do hepatócito, onde formam gotículas de gordura. - Costuma ser macrovesicular, mas pode ser microvesicular ou mista. Geovanna P8 - Não é patognomônica da DHA, e sendo causada pelo álcool é totalmente reversível após cessação do tabagismo. 2. Esteato-hepatite - Complicação da esteatose; - Vários fatores podem contribuir para seu desenvolvimento, incluindo citocinas, estresse oxidativo e produtos metabólicos tóxicos do álcool. Defeitos imunológicos, como uma função alterada das células dendríticas, levando inclusive a liberação de citocinas pró- -inflamatórias, pode estar implicado na resposta do fígado ao álcool. - A formação de adutos antigênicos, que são formados a partir de moléculas altamente reativas, por exemplo os radicais acetaldeído e hidroxietil, que interagem com proteínas celulares, podendo servir como neoantígenos e estimulando o sistema imune para atacar as próprias células. Umas dessas proteínas-alvo são a tubulina (proteína do citoesqueleto) e o colágeno (componente da matriz extracelular hepática). - O elemento mais marcante da hepatite alcoólica é uma lesão dos hepatócitos que se caracteriza por degeneração em balão, necrose salpicada (irregular), infiltrado polimorfonucleares e fibrose dos espaços perivenular e perissinusoidal de Disse. - Ocorre quando se observa essas alterações: ▪ Necrose e tumefação hepatocitária - A tumefação resulta do acúmulo de gordura e água, assim como de proteínas que normalmente são exportadas ▪ Infiltrado neutrofílico; ▪ Distribuição perivenular (central) do infiltrado; ▪ Corpúsculos de Mallory – grupos citoplasmáticos eosinofilicos nos hepatócitos. - Deve-se ter além da esteatose necrose hepatocitária e infiltração do parênquima por leucócitos. - Reversível à cessação do álcool. 3. Cirrose hepática - A deposição de colágeno é mediada pelas células estreladas perissinusoidais (células de Ito – centrais), essas servem como armazenadoras de vit. A. - Quando o fígado é exposto a insultos necroinflamatórios, essas células sofrem uma ativação característica na qual perdem vit. A, proliferam-se e se tornam fibrinogênicas. - Na DHA, a fibrose se inicia na região centrolobular, tornando-se panlobular em um segundo momento, acarretando em um processo potencialmente irreversível. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS → Esteatose hepática - Costuma ser assintomática. - Paciente, geralmente, apresenta só hepatomegalia ao exame físico – fígado com bordas rombas e superfície regular. - Alguns com esteatose muito intensa referem desconforto no quadrante superior direito do abdome, além de náuseas e discreta icterícia. → Esteato-hepatite alcóolica – hepatite Geovanna P8 - Manifesta-se classicamente com anorexia, hepatomegalia dolorosa, febre e icterícia. - Ascite e hemorragia digestiva alta por rotura de varizes esofagogástricas complicam até 30% dos casos de hepatite alcóolica aguda. - Casos graves de hepatite alcóolica são mais propensos a desenvolver infecção bacteriana intercorrente e a falência hepática fulminante. → Cirrose alcóolica - Sinais e sintomas de falência hepática: ▪ Icterícia; ▪ Hipoalbuminemia; ▪ Coagulopatia; ▪ Ginecomastia – provocada pelo aumento da produção de androstenediona das suprarrenais, aumento da arotamização da adrostenediona em estrona e aumento da conversão de estrona em estradiol. ▪ Aranhas vasculares ou telangiectasias – resultante da alteração do metabolismo dos hormônios sexuais; ▪ Encefalopatia hepática – sinal de asterixis (movimentos agitados bilaterais, mas sicrônicos das mãos estendidas e dorsiflexionadas. - Sintomas de hipertensão porta: ▪ Esplenomegalia; ▪ Ascite; ▪ Varizes esofagogástricas. ▪ Cabeça de medusa - As veias da parede abdominal inferior normalmente drenam inferiormente para o sistema iliofemoral, enquanto as veias da parede abdominal superior drenam superiormente para as veias da parede torácica e axilar. Quando a hipertensão portal ocorre como resultado de cirrose, a veia umbilical, normalmente obliterada no início da vida, pode abrir. O sangue do sistema venoso portal pode ser desviado através das veias periumbilicais para a veia umbilical e, finalmente, para as veias da parede abdominal, fazendo com que se tornem proeminentes. - Lesão das extremidades: ▪ Eritema palmar – devido ao metabolismo do hormônio sexual. ▪ Alterações das unhas - unhas de Muehrcke eunhas de Terry (devido a baixa albumina) ▪ Baqueteamento digital; ▪ Osteoartropatia hipertrófica. - Lesão independente do dano hepática e clássica do alcoolismo: contratura palmar de Dupuytren. Geovanna P8 DIAGNÓSTICO TRATAMENTO - Abstinência ao álcool é indicada para todos os pacientes. - Deve ser adotado medidas para a cessação do alcoolismo. Alguns medicamentos podem ser utilizados no tratamento, sendo eles: ▪ Naltrexone; ▪ Acamprosato; ▪ Baclofeno. - Suporte nutricional é outra medida que deve ser adotada, visto que muitos pacientes apresentam desnutrição. É necessário oferecer um aporte calórico a fim de evitar complicações fatais, como hipoglicemia, cetoacidose alcóolica e catabolismo muscular esquelético acelerado. - Índice de função discriminante de Maddrey avalia a probabilidade de óbito num paciente com DHA. - Índice maior que 32 condiz com elevado risco. → Corticoterapia - Pacientes portadores de hepatite alcóolica com encefalopatia e/ou índice de madrey >32, se beneficiam da corticoterapia durante 1 mês. - Prednisolona 32mg/ dia VO. - Se contraindicação ao corticoide, opta-se por pentoxifilina (400mg VO 3x dia durante 1 mês) Geovanna P8 → Cirrose hepática - Semelhante ao tratamento genérico de outras condições de cirrose, que consiste em controle das complicações e indicação de transplante. - Levando em consideração que na DHA, o transplante tem como pré-requisito a abstinência alcóolica por no mínimo 6 meses. METABOLISMO DA BILIRRUBINA - Bilirrubina é um pigmento tetrapirrólico sendo um produto da degradação do heme, após a liberação de hemoglobina pelas hemácias. - A formação da bilirrubina ocorre nas células reticuloendoteliais, principalmente no baço e no fígado. - A hemoglobina será cindida em globina e em heme, sendo o anel do grupo heme aberto para fornecer: ferro livre; cadeia reta de 4 núcleos pirrólicos, que vão constituir o substrato pelo qual a bilirrubina vai ser formada. - Ocorre duas reações na degradação do heme: ▪ A primeira reação, catalisada pela enzima heme oxigenasse tem como produto final a biliverdina, monóxido de carbono e ferro. ▪ A segunda reação, catalisada pela enzima biliverdina redutase, reduz a biliverdina em bilirrubina. - Essa bilirrubina formada é insolúvel em água devido a sua conformação (ligação de hidrogênio interna firme entre a fração hidrossolúvel da bilirrubina). Essa configuração bloqueia o acesso de solvente aos resíduos polares da bilirrubina e dirige os resíduos hidrofóbicos para fora. - Essa bilirrubina é conhecida como bilirrubina não conjugada ou indireta. - Para ser transportada no sangue ela precisa estar solubilizada. A solubilização ocorre a partir da ligação reversível com a albumina, que irá transportar a bilirrubina até o fígado. - No fígado, a bilirrubina será absorvida pelos hepatócitos. - Nos hepatócitos, a bilirrubina será ligada à diversas proteínas no citosol, incluindo a superfamília da glutationa S-transferase. - Essas proteínas serão responsáveis por conjugar a bilirrubina, transformando-a em bilirrubina conjugada ou direta. - A bilirrubina vai ser solubilizada por conjugação com o ácido glicurônico. - A conjugação do ácido glicurônico com a bilirrubina é catalisada pela bilirrubina uridina difosfato glicuronosil transferase (UDPGT). - Os conjugados da bilirrubina serão transportados para dentro da bile. - Da bile, a bilirrubina conjugada será drenada para o duodeno. Sendo que, para ser captada pela mucosa duodenal, ela precisa ser hidrolisada em bilirrubina não conjugada, será hidrolisada pelas β-glicuronidases bacterianas. - A sua redução faz com que a bilirrubina não conjugada forme um grupo de tetrapirróis incolores chamados de urobilinogênio. Cerca de 80% desses produtos serão excretados nas fezes na forma de estercobilina - Os outros 20% serão absorvidos passivamente e reexcretados pelo fígado. Uma pequena parte escapa da recaptação hepática e é filtrada nos glomérulos renais, sendo excretada na urina, na forma de urobilina. Geovanna P8 ICTERÍCIA - Pigmentação amarelada da pele, da esclera e do frênulo da língua pela de bilirrubina, resultante de níveis elevados desta na circulação sistêmica. - Concentrações séricas normais de bilirrubina: - Existe três grandes grupos de icterícia: Geovanna P8
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