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TRABALHO DE PARTO PREMATURO E ROTURA PREMATURA DE MEMBRANAS OVULARES (RPMO) TRABALHO DE PARTO PREMATURO Parto pré-termo (ou prematuro) é aquele ocorrido a partir de 20 e 22 semanas e antes de 37 semanas completas O parto pré-termo é evento multifatorial, que parece ser resultado de um dos quatro processos patológicos: ativação prematura do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal materno e fetal; inflamação/infecção; hemorragia decidual e distensão uterina patológica. FATORES DE RISCO Os fatores de risco para prematuridade são muito semelhantes aos fatores de risco para RPMO, e sem dúvida alguma, a história de parto prematuro anterior é o fator de risco mais significativo para um novo evento. Os principais micro-organismos associados à prematuridade são: E. coli, Streptococcus do grupo B, Chlamydia trachomatis, Trichomonas sp., Bacteroides sp., Gardnerella vaginalis, Ureaplasma urealyticum, Peptostreptococcus sp., Neisseria gonorrhoeae e Mycoplasma hominis. DIAGNÓSTICO AMEAÇA DE TRABALHO DE PARTO PREMATURO :Atividade uterina aumentada, mas muitas vezes ainda irregular, apagamento parcial ou total do colo, dilatação ausente ou discreta. TRABALHO DE PARTO PREMATURO FRANCO :Segundo o American College of Obstetricians and Gynecologists, define- se trabalho de parto prematuro pela presença de: ● Quatro contrações em 20 minutos, ou oito em 60 minutos associadas à alteração do colo do útero; E ● Dilatação cervical maior que 2 cm; OU ● Apagamento cervical maior ou igual a 80%. MARCADORES DE PARTO PREMATURO ULTRASSONOGRAFIA PARA AVALIAÇÃO DO COMPRIMENTO DO COLO UTERINO: Utilizada como ferramenta de predição de parto pré-termo em duas situações – para mulheres sintomáticas com ameaça de parto prematuro e para mulheres assintomáticas com alto risco para parto prematuro. Não está indicada em mulheres de baixo risco com gestação uni ou multifetal, apesar de alguns autores recomendarem seu uso universal entre 20 e 24 semanas. Em pacientes assintomáticas, a distância menor que 20 mm (percentil 5) entre o orifício interno e o externo, entre 18 e 24 semanas de gestação, está associada com um maior risco de parto antes de 37 semanas. DOSAGEM DE FIBRONECTINA FETAL NA SECREÇÃO CERVICOVAGINAL: A fibronectina é a “cola” do trofoblasto, que permite a adesão celular na interface uteroplacentária e membrana fetal-decídua. É liberada nas secreções cervicovaginal quando ocorre ruptura destas interfaces, ou seja, quando o trabalho de parto está para começar, o que justifica sua medição como marcador preditivo de trabalho de parto pré-termo. Deve-se coletar material de fundo de saco posterior, em mulheres de alto risco para parto prematuro (sintomáticas), com membranas íntegras, dilatação menor de 3 cm e idade gestacional entre 24 e 35 semanas. Seu resultado pode ser influenciado pela presença de sangramento, atividade sexual e exame vaginal nas 24 horas precedentes à coleta do material e líquido amniótico. O uso de lubrificantes vaginais pode ocasionar um resultado falso-negativo REPERCUSSÕES O parto pré-termo é responsável por 75% da mortalidade neonatal e 50% das lesões neurológicas em crianças. Além disso, o parto prematuro associa-se a maior suscetibilidade aos tocotraumatismos e anóxia, podendo haver graves lesões cerebrais. A apresentação pélvica, o prolapso de cordão e o parto precipitado agravam a anóxia. A prematuridade pode também se associar a sequelas tardias, como retardo do crescimento, disfunções auditivas e visuais, maior chance de óbito no primeiro ano de vida e complicações imediatas como hiperbilirrubinemia, persistência do canal arterial, enterocolite necrosante, fibroplasia retrocristaliniana, hemorragia intracraniana, anemia, hipoglicemia, leucomalácia periventricular e doença de Síndrome de Angústia Respiratória (SAR), que é a principal causa de morte do recém-nascido pré-termo. A SAR é caracterizada por respiração laboriosa do recém-nascido, taquipneia, com tiragem intercostal ou esternal, batimento de asa do nariz, gemência, acidose metabólica e respiratória, cianose e estertores. Seu tratamento consiste na administração de surfactante exógeno, obtendo melhora significativa na maioria dos casos. A ocorrência da SAR depende da deficiência de substâncias estabilizadoras alveolares, o que prejudica a expansão pulmonar e provoca seu colabamento. Estas substâncias (surfactantes) são produzidas pelo pneumócito II (uma célula epitelial pulmonar), reduzindo a tensão superficial na interface ar/alvéolo. Dentre estas substâncias, encontra-se a lecitina, principal fosfolipídio de ação surfactante no pneumócito pulmonar. Sua produção até aproximadamente 35 semanas é deficiente, o que torna os prematuros sob maior risco de desenvolvimento de SAR. PREVENÇÃO DIMINUIÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA: Apesar de o repouso ser amplamente recomendado, a associação entre atividade física e parto prematuro não é bem estabelecida. Além disso, não há evidências de que o repouso no leito, seja ele hospitalar ou domiciliar, é capaz de reduzir as taxas de parto prematuro em mulheres de alto risco. Deve-se discutir o caso com a família, levando-se em consideração as repercussões familiares, custo e possíveis complicações (acidentes tromboembólicos). TRATAMENTO DA VAGINOSE BACTERIANA: Alguns autores recomendam o tratamento de mulheres com vaginose bacteriana com antecedente de parto pré-termo ou abortamento tardio, mesmo que assintomáticas, de preferência antes de 16 semanas de gravidez. Este tratamento, no entanto, não é consensual. CIRCLAGEM:É um procedimento utilizado para correção de Incompetência Istimocervical (IIC), que resulta em abortamento tardio recorrente. No parto prematuro, a circlagem parece ter benefício naquelas pacientes com história de parto prematuro mais o colo curto (< 25 mm) na ultrassonografia entre 18 e 24 semanas. Estas pacientes também devem receber progesterona como forma de profilaxia. Pacientes com colo curto na ultrassonografia de 2° trimestre, mas sem história de parto prematuro, não devem ser submetidas à circlagem, visto que esta conduta aparentemente aumenta o risco de parto prematuro. SUPLEMENTAÇÃO COM PROGESTOGÊNIOS: A suplementação hormonal com progesterona, na forma de supositórios vaginais diários ou injeções intramusculares semanais, a partir do segundo trimestre até 34 semanas de gravidez, está indicada atualmente em pacientes com história de parto prematuro anterior. Outra indicação é o uso da progesterona vaginal em pacientes com colo curto (< 15 ou 20 mm) na ultrassonografia entre 20 e 24 semanas, mesmo que estejam assintomáticas e independente de fatores de risco presentes. Preconiza-se o uso de supositórios vaginais na dose de 100 a 200 mg por noite entre 20 e 34 semanas. Outras situações, como gestação múltipla, franco trabalho de parto ou presença de outros fatores de risco não mostraram benefícios na diminuição das taxas de parto prematuro com o uso de progesterona. CONDUTA A conduta depende de vários fatores, como idade gestacional, vitalidade fetal e recursos neonatais. De forma resumida, a conduta oscila entre a tentativa de inibir a atividade uterina e adotar medidas que possam melhorar o prognóstico fetal, como corticoterapia e neuroproteção fetal, ou prestar assistência ao trabalho de parto prematuro. A inibição do trabalho de parto só está indicada quando o risco das complicações perinatais superar o risco de manutenção da gravidez e das condutas adotadas ou quando há necessidade de transferência para centros de referência de tratamento neonatais. A inibição do trabalho de parto consiste no uso de medicações tocolíticas. Entretanto, a escolha da paciente ideal para tocólise e esquema de escolha representam etapas fundamentaisna abordagem do trabalho de parto prematuro. A tocólise não é recomendada em gestações com mais de 34 semanas, visto os mínimos riscos fetais relacionados à prematuridade. A tocólise não vem se mostrando eficaz em prolongar a gestação por mais de sete dias, independentemente dos protocolos ou medicações utilizadas. O real benefício da tocólise é ganhar tempo para a administração da corticoterapia para acelerar a maturidade pulmonar fetal. A corticoterapia materna antenatal promove redução significativa da mortalidade neonatal e da incidência da doença de membrana hialina, hemorragia intraventricular e enterocolite necrosante. Sua ação parece ser mais efetiva após 48 horas do início da administração das medicações, embora existam evidências de benefícios horas após seu início. PRINICIPAIS TOCOLÍTICOS BETAMIMÉTICOS Atuam na musculatura involuntária lisa, como nos receptores uterinos, causando relaxamento muscular. Promovem a elevação do AMP-c, com consequente diminuição do cálcio livre intracelular. São eficazes em prolongar a gestação por 48 horas, tempo suficiente para administração de corticoides, visando acelerar a maturidade pulmonar fetal. ● Salbutamol (Aerolin®) – 05 ampolas diluídas em 500 ml S.G. 5% (5 mcg/1 ml). Iniciar 10 gotas por minuto, aumentando 10 gotas a cada 20 minutos até a cessação completa das metrossístoles ou até o surgimento de taquicardia materna ou fetal. ● Ritodrina (Miodrina®) – 150 mg em 500 ml S.G. 5% em velocidade de 0,05 mg/min, com aumentos de 0,05 até a dose máxima de 0,35 mg/min. ● Terbutalina (Bricanyl®) – pode-se utilizar a via venosa ou subcutânea. O esquema venoso pode ser realizado pela infusão de 2,5 mcg/min até a dose de 25 mcg/min. O esquema subcutâneo pode ser realizado pela administração de 0,25 mg a cada 20 minutos, até o máximo de 3 horas INIBIDORES DA SÍNTESE DE PROSTAGLANDINAS Atuam inibindo a cicloxigenase e bloqueando a conversão do ácido aracdônico livre em prostaglandina. Uma vez que as prostaglandinas E e F têm papel relevante na gênese das contrações uterinas, através do aumento da formação de gap junctions miometriais e aumento do cálcio intracelular disponível, espera-se que sua inibição produza uma diminuição das contrações. Nesta classe de tocolíticos, a indometacina é o fármaco mais frequentemente utilizado. Pode ser prescrita na dose inicial de 100 mg por via retal, seguida de 100 mg via retal a cada 12 horas ou 25-50 mg por via oral a cada 4 horas, por no máximo três dias. A indometacina não deve ser utilizada por períodos prolongados (> 48-72 horas) e após a 32ª semana de gestação, devido ao risco de oligodramnia e fechamento precoce do ducto arterioso. Estes efeitos, especialmente a oligodramnia, parecem ser revertidos com a suspensão do medicamento. BLOQUEADORES DE CANAIS DE CÁLCIO Atuam diretamente pelo bloqueio do influxo de íons de cálcio pela membrana celular e inibição da liberação do cálcio intracelular pelo retículo sarcoplasmático. A menor quantidade de cálcio livre intracelular resulta em inibição da fosforilação-mediada da miosina de cadeia leve quinase, resultando em relaxamento do miométrio. São considerados por alguns autores como a droga de escolha para tocólise. Os bloqueadores de canal de cálcio apresentam rápido início de ação e posologia facilitada. Algumas sugestões de posologias incluem uma dose de ataque oral com 30 mg de nifedipina, seguida de 20 mg de nifedipina de longa duração de 4 a 6 horas; ou ainda alternativamente, 10 mg por via oral a cada 20 minutos até o máximo de quatro dose. ANTAGONISTAS DA OCITOCINA O atosiban é um antagonista seletivo do receptor de ocitocina. Em tese, o atosiban é mais efetivo em idades gestacionais mais avançadas, visto o maior número de receptores uterinos de ocitocina e maior responsividade uterina à ocitocina com o avançar da idade gestacional. Esta superioridade, no entanto, não foi comprovada em estudos que compararam a eficácia do atosiban com outros agentes tocolíticos. ● 6,75 mg venoso durante um minuto; ● 300 mcg/min, IV, em três horas; ● 100 mcg/min, IV, durante três horas e meia. Em casos de fracasso com a posologia proposta, mantém-se a dose de 100 mcg/minuto durante até 48 horas, não se devendo ultrapassar a dose total de 330 mg. Um dos principais fatores limitantes do atosiban é o alto custo, o que impede seu uso mais ampliado na prática clínica. CORTICOTERAPIA PARA AMADURECIMENTO PULMONAR FETAL As medicações recomendadas são a betametasona e dexametasona. Outros corticoides não devem ser utilizados, pois não atravessam eficazmente a barreira placentária ou por apresentarem excessivo efeito mineralocorticoide. Em pacientes que estão utilizando regularmente outros corticoesteroides, como, por exemplo, a prednisona, e que tenham indicação de maturação pulmonar fetal, está indicada a troca para betametasona ou dexametasona por 48 horas e posterior retorno ao corticoide em uso. ● Betametasona: 12 mg, IM, 1x ao dia por dois dias; ● Dexametasona: 6 mg, IM, 2x ao dia por dois dias. A corticoterapia deve ser utilizada entre 24 e 34 semanas em toda gestante com risco de parto prematuro, independentemente da presença de rotura prematura de membranas ovulares. Seus maiores benefícios são atingidos em gestantes entre 28 e 34 semanas. Em gestantes entre 24 e 28 semanas, seu uso não se associa a diminuição da ocorrência de síndrome de angústia respiratória, mas apenas com a diminuição de sua gravidade, diminuição da mortalidade neonatal e risco de hemorragia intraventricular. Sua utilização mostra benefícios mesmo quando o parto se dá em curto período após sua administração (menores que 24h) e mesmo antes de completo o esquema de dois dias. NEUROPROTEÇÃO POR SULFATO DE MAGNÉSIO O sulfato de magnésio apresentou efeito neuroprotetor em mulheres em risco de parto prematuro, com diminuição significativa da incidência de paralisia cerebral e risco de disfunção motora grave. Porém, não foi capaz de evidenciar efeito significativo sobre neomortalidade e mortalidade pediátrica, assim como índices de Apgar abaixo de sete no 5° minuto, hemorragia intraventricular, leucomalácia periventricular, convulsões neonatais e necessidade de suporte respiratório. Indica-se sulfato de magnésio em todas as gestantes com idade gestacional entre 24 e 32 semanas em trabalho de parto ativo (> 4 cm de dilatação, com ou sem RPMO) ou em parto pré-termo eletivo indicado por razões maternas ou fetais, na dose 4-6 g em bolus durante 20 minutos, seguido de 1-2 g/h de manutenção, por no máximo 24 horas antes do parto, sendo suspenso logo após o mesmo. Não se recomenda sua readministração caso o parto não se concretize neste período. Em indicações eletivas, preconiza-se sua administração por, pelo menos, quatro horas antes do parto. Uma vez que existe maior risco de efeitos colaterais quando se administra betamiméticos ou bloqueadores de canal de cálcio em associação ao sulfato de magnésio, alguns autores recomendam a indometacina como tocolítico de escolha em pacientes com menos de 32 semanas de gravidez candidatas ao uso do sulfato de magnésio para neuroproteção fetal. O PARTO NA PACIENTE EM TRABALHO DE PARTO PREMATURO O parto deve ser assistido quando houver: ● Presença de contraindicações à tocólise; ● Idade gestacional maior que 34 semanas ou menor que 24 semanas; ● Idade gestacional maior que 32 semanas com amniorrexe prematura; ● Falha na tocólise. Nestas situações, devemos avaliar: ● Via de parto: Não se justifica a indicação de cesariana rotineira em fetos prematuros em apresentação cefálica. A hemorragia intracraniana em fetos nascidos de cesariana parece ter as mesmas prevalências do que nos nascidos de parto vaginal. A cesariana parece beneficiar os fetos com peso estimadoentre 750 e 2.000 g em apresentação pélvica, devendo-se realizar a histerotomia longitudinal na prematuridade extrema. ● Profilaxia para Streptococcus do grupo B: O Streptococcus do tipo B (ou Agalactiae) é um diplococo anaeróbico Gram (+) que pode ser encontrado na vagina de 15 a 35% das gestantes e, devido à gravidade e à prevalência da infecção neonatal por este agente, o CDC recomenda a profilaxia antibiótica durante a gestação para todas as gestantes com fatores de risco para infecção ou para aquelas com cultura positiva. Gestantes com bacteriúria por GBS em qualquer fase da gravidez (mesmo após tratamento adequado ou com número de unidades formadoras de colônia menor que 10 5 ), assim como gestantes com filhos acometidos por infecção por GBS em gestação prévia devem ser submetidas a profilaxia intraparto e estão dispensadas da coleta de swab retovaginal. Um resultado de swab negativo não exclui a obrigatoriedade da realização de profilaxia nestes casos, dado o elevado risco de infecção neonatal. Uma vez que a contaminação se dá no canal do parto, em caso de cesariana eletiva (antes da fase ativa do parto e com bolsa íntegra) não haveria necessidade de profilaxia mesmo em pacientes colonizadas. Atualmente, é preconizada a profilaxia intraparto para Streptococcus do tipo B (ou Agalactiae) em toda paciente em trabalho de parto prematuro (IG < 37 semanas), se o swab retovaginal não houver sido coletado. Para as pacientes em trabalho de parto prematuro e bolsa íntegra, o guideline do CDC recomenda que se inicie a profilaxia antibiótica para GBS e obtenha-se cultura para Streptococcus do grupo B. Caso o trabalho de parto se interrompa, a profilaxia pode ser suspensa. Sua reintrodução depende do resultado da cultura. Se negativa, a paciente deve ser submetida a novo rastreio entre 35 e 37 semanas, o qual definirá a conduta intraparto. Se o resultado for positivo, não há necessidade de novo rastreio e deve-se administrar profilaxia no momento do parto. Caso o trabalho de parto evolua e o resultado da cultura não esteja disponível, deve-se manter a profilaxia até o nascimento. O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) publicou em 2019 um novo protocolo para prevenção da sepse neonatal pelo GBS, substituindo o protocolo do CDC publicado em 2010. A maior parte do protocolo é similar ao anterior, porém algumas mudanças importantes ocorreram. A primeira delas é que o rastreamento passou a ser recomendado entre 36 e 37 semanas e 6 dias, ao invés de ser feito entre 35 e 37 semanas. A realização mais tardia do rastreamento previnirá as repetições nestes casos. Outra mudança é que as gestantes que entram em trabalho de parto a termo, mas que ainda não possuem o resultado do rastreamento do GBS, devem fazer profilaxia caso a cultura tenha sido positiva em gestação anterior. Esta é uma mudança de ponto de vista bastante significativa, já que no protocolo do CDC de 2010 era bastante claro que a colonização em gestação anterior não era critério suficiente para indicar a antibioticoprofilaxia intraparto na gestação atual. ROTURA PREMATURA DE MEMBRANAS OVULARES Rotura espontânea das membranas amnióticas após 20 semanas de gravidez e antes do início do trabalho de parto. É dita pré-termo (RPMO) quando ocorre antes de 37 semanas de gestação; precoce quando se dá no início do trabalho de parto; oportuna quando ocorre ao final do período de dilatação; e tardia quando ocorre concomitante à expulsão fetal, que ao nascer envolto pelas membranas é designado como “empelicado”. As principais causas de rotura prematura das membranas são a inflamação e a infecção. FATORES DE RISCO ● Exames invasivos: amniocentese e cordocentese. ● Incompetência istmocervical. ● Inserção baixa de placenta. ● Macrossomia. ● Polidramnia. ● Trabalho de parto prematuro. ● Infecções genitais (strepto B, gonococo). ● Tabagismo. ● Sangramento genital. ● Vaginose bacteriana. ● Gestação múltipla. ● Deficiências nutricionais. ● Doenças maternas. ● Atividade sexual. ● Traumatismo. ● Passado de parto prematuro QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO Padrão-ouro → visualização de líquido fluindo pelo orifício cervical com ou sem espéculo. O toque vaginal pode auxiliar no diagnóstico de RPMO, especialmente nas pacientes com algum grau de dilatação do colo. Entretanto, na ausência de trabalho de parto franco, o toque vaginal deve ser evitado, pois aumenta consideravelmente o risco de infecção. Outros métodos menos prejudiciais podem ser utilizados com este objetivo. ● Detecção do pH vaginal (teste do papel de nitrazina): sabe-se que o pH vaginal normalmente situa-se entre 4,5 e 5,5; já o líquido amniótico tem pH alcalino (6,5-7,5) . Portanto, confirmando o pH vaginal acima do normal, podemos sugerir o diagnóstico de RPMO. A fita é introduzida no fundo de saco posterior e, quando azul, significa pH maior que 6-6,5, sendo, portanto, sugestivo de RPMO. Mas cuidado! Existem outras situações que podem alterar o pH vaginal, como sangramento, sabão, sêmen, cervicite, vaginose e urina alcalina. ● Teste do fenol vermelho: posiciona-se um tampão vaginal na vagina da paciente e, após um tempo, adiciona-se algumas gotas do reagente, quando observa-se a alteração da coloração (de laranja para vermelho). ● Teste da cristalização da secreção vaginal: o fluido obtido de fundo de saco vaginal, aplicado sobre uma lâmina e deixado secar por 10 minutos apresentará na vigência de amniorrexe a típica aparência em folha de samambaia, também observada no muco cervical durante a 1ª fase do ciclo menstrual em mulheres não grávidas (estímulo estrogênico). Durante a gestação, não é esperada a cristalização do muco cervical, devido aos altos teores de progesterona ● Presença de elementos fetais em secreção vaginal: presença de lanugem e células da epiderme fetal (poligonais), as últimas caracterizadas por assumirem coloração alaranjada (orangiófilas) após tratamento com sulfato azul do Nilo a 1%. ● Injeção de contrastes na cavidade abdominal: através de amniocentese, introduzem-se corantes (índigo carmin, vitamina B12) na cavidade abdominal e observa-se se ocorrerá o tingimento de um forro ou tampão vaginal após 30 minutos. É um método pouco utilizado na prática devido aos riscos associados. ● Ultrassonografia: permite avaliar a diminuição do líquido amniótico. Para isto, utiliza-se, preferencialmente, a medida do ILA (Índice de Líquido Amniótico), que mede o maior bolsão vertical de líquido amniótico encontrado em cada um dos quatro quadrantes uterinos. Considera-se diminuído quando menor que 5 cm ou quando a medida do maior bolsão vertical for menor que 2 cm. ● Dosagem de Alfafetoproteína: a AFP é uma enzima produzida pelo feto e eliminada pelo rim que está presente em altas concentrações no líquido amniótico, mas não na vagina de mulheres grávidas em condições normais. Sua identificação na secreção vaginal é indicativa de perda líquida. REPERCUSSÕES As complicações dependem muito da idade gestacional, de sua ocorrência e do tempo de latência, ou seja, tempo decorrido entre sua ocorrência e o parto: ● Infecção: corioamnionite, endometrite e sepse; ● Prematuridade e suas complicações; ● Acidentes de parto: maior frequência de apresentações anômalas; ● Compressão de cordão; ● Sofrimento fetal; ● Malformações (sequência de Potter – compressão fetal na oligodramnia por longos períodos); ● Retenção placentária; ● Risco de cesariana CONDUTA A definição da conduta nos casos de amniorrexe prematura depende de algumas variáveis: idade gestacional, presença ou não de infecção, avaliação da vitalidade fetal e presença ou não de trabalho de parto. A primeira medida consiste em afastar a presença de infecção intrauterina. A febre parece ser o único indicador confiável para o diagnóstico, quando associada à ruptura prematura de membranas.Leucocitose não parece ser um bom indicador de infecção, devendo-se associar outros parâmetros, como taquicardia fetal, sensibilidade uterina e odor vaginal fétido. Portanto, o quadro clínico clássico da corioamnionite (ou infecção intra-amniótica) pode ser caracterizado pela presença de febre materna (≥ 37,8ºC) e pelo menos dois dos seguintes critérios (Ministério da Saúde, 2012): ● Leucocitose materna (leucometria > 15.000 cel/mm³); ● Taquicardia materna (> 100 bpm); ● Taquicardia fetal (> 160 bpm); ● Sensibilidade uterina; ● Líquido amniótico com odor fétido. Outros marcadores podem auxiliar no diagnóstico, como dosagem de proteína C-reativa, embora muito inespecífica, é elevada na corioamnionite (> 2 mg/dl), dosagem de interleucina-6, velocidade de hemossedimentação e análise do líquido amniótico por meio de amniocentese (Gram, cultura e dosagem de glicose). Na presença de infecção materna ou fetal, é obrigatória a interrupção da gravidez, independentemente da idade gestacional. Deve-se preferir a via vaginal, visto os maiores riscos de infecção intra-abdominal com a cesariana. Institui-se imediatamente a antibioticoterapia empírica, pela associação de ampicilina (2 g, IV, 6/6 horas) e gentamicina (5 mg/kg por dia ou 1,5 mg/kg 8/8 horas), que deverá ser mantida até 48 horas após o último episódio febril, não sendo necessária a administração de manutenção oral. É possível a adição de clindamicina 900 mg, IV, 8/8h ou metronidazol 500 mg, IV, 8/8h para ampliar a cobertura anaeróbia, caso seja realizada cesariana. NA AUSÊNCIA DE INFECÇÃO ● IG ≥ 34 semanas: nestes casos, assim como naqueles em que há sinais de sofrimento fetal ou infecção, é mandatória a conduta ativa (interrupção da gestação) . A escolha da via de parto deve seguir critérios obstétricos. Não está indicado o uso de tocolíticos neste período ou de corticoides. O uso de antibióticos deve ser estimulado durante o trabalho de parto visando à profilaxia de infecção por Streptococcus do grupo B, nas mulheres que não realizaram o rastreio da infecção no pré-natal. ● IG entre 24 e 34 semanas: se não há sinais de infecção, sofrimento fetal ou metrossístoles, deve-se adotar conduta conservadora, visando o amadurecimento pulmonar fetal. Está recomendada a corticoterapia (betametasona ou dexametasona) por 48 horas. No entanto, a tocólise não é recomendada pela maioria dos autores nos casos de RPMO. Se a maturidade pulmonar fetal for comprovada, é possível a realização do parto após 32 semanas em pacientes com RPMO sem necessidade de corticoterapia. A paciente submetida à conduta conservadora deve ser mantida hospitalizada, em repouso, com hidratação abundante. A pesquisa de infecção e de sofrimento fetal deve ser frequente, através de curva térmica, hemograma seriado (duas vezes por semana), proteína C-reativa ou VHS (se disponível), ausculta fetal, cardiotocografia e perfil biofísico fetal. Aqui o uso de antibióticos deve ser indicado em duas situações distintas: prevenção da infecção por Streptoccoccus do grupo B durante o trabalho de parto, já citada anteriormente, e aumento do tempo de latência entre a rotura e o parto e melhora do prognóstico fetal. O uso de antibióticos durante a internação da paciente parece diminuir a morbidade neonatal, risco de infecção materna e aumentar o período de latência (tempo decorrido entre a RPMO e o parto), embora a mortalidade fetal não se altere. Desta forma, seu uso vem sendo indicado, por diversos autores, em toda paciente com RPMO com menos de 34 semanas, na ausência de infecção. Ampicilina 2 g, IV, a cada 6 horas por 48 horas (cobertura de Streptococcus do Grupo B, muitos bacilos anaeróbios Gram-negativos e alguns anaeróbios); + Azitromicina 1 g, VO, dose única (cobertura de micoplasma e Chlamydia trachomatis); seguido de amoxicilina 500 mg 8/8 horas por mais cinco dias (cobertura de bacilos Gram-positivos e Gram-negativos, principalmente E. coli). Em gestações a termo com amniorrexe, sem sinais de infecção, o uso de antibióticos não está recomendado rotineiramente, pela falta de evidências estatisticamente significativas, exceto nos casos com indicação de profilaxia para Streptococcus do Grupo B (GBS) ● IG menor que 24 semanas: a sobrevida é bastante baixa nos fetos que nascem nesta fase, assim como as complicações precoces e tardias com o manejo conservador. A corioamnionite atinge razoável parcela das gestações e a frequência de sequelas neurológicas é consideravelmente elevada. Desta forma, a decisão terapêutica deve ser definida com a família. Os autores que recomendam a conduta conservadora sugerem que a paciente deva ser acompanhada em ambiente domiciliar com repouso e controle da temperatura corporal até 24 semanas, quando passariam ao protocolo apresentado anteriormente para os casos com mais de 24 semanas, não se devendo administrar tocolíticos, antibióticos ou corticoesteroides antes deste período. VIA DE PARTO Preferencialmente, o parto deve ocorrer por via vaginal, mesmo na presença de colo desfavorável, que deve ser preparado com misoprostol.
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