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A Taurina (Tau) e a L-glutamina (Gln) são um dos aminoácidos mais amplamente utilizados e estudados, levando em conta que nos últimos 10 anos a utilização de aminoácidos como ingredientes suplementares em suplementos dietéticos, alimentos e bebidas funcionais aumentou consideravelmente. O uso desses aminoácidos prevalece na formulação de produtos direcionados à nutrição esportiva e “energéticos” (Nutrition Business Journal, 2006). A taurina (ácido 2- aminoetanossulfônico, Tau) pertence à família de aminoácidos que contêm enxofre (Bros nan e Brosnan, 2006). É um dos aminoácidos livres mais abundantes no corpo e é sintetizada endogenamente no fígado a partir da cisteína através de várias etapas enzimáticas, sendo considerada um aminoácido não essencial ou condicionalmente essencial (Brosnan e Bros nan, 2006; van de Poll et al., 2006 ). O consumo diário de Tau em alimentos varia de aproximadamente 40 a 400 mg/d (Rana e Sanders, 1986; Laidlaw et al., 1990; Hayes e Trautwein, 1994). Ao contrário de outros aminoácidos que apresentam enxofre, como metionina e cisteína, conclusões claras quanto à toxicidade não foram estabelecidas para Tau (Baker, 2006; Brosnan e Brosnan, 2006; van de Poll et al., 2006). Ainda não há publicação de uma revisão abrangente da segurança da suplementação de Tau. A L-Glutamina (ácido 2,5-diamino-5- oxo-pentanóico, Gln) é o aminoácido livre mais abundante no tecido muscular esquelético e no plasma, e atua como substrato para a síntese protéica (Tapiero et al., 2002). Embora não haja consenso geral, alguns autores propuseram que a Gln é um aminoácido condicionalmente essencial, especialmente em pacientes gravemente enfermos ou traumatizados (Lacey e Wilmore, 1990; Buchman, 2001). O teor de Gln em fontes alimentares é estimado em aproximadamente 4-5% (Lowe et al., 1990; Kuhn et al., 1996), o que sugere que a ingestão diária típica de Gln de alimentos por adultos é geralmente de cerca de 5 g (1,5 g de proteína/ kg de peso corporal em um adulto de 70 kg). O elevado aumento no uso desses aminoácidos em vários suplementos dietéticos, alimentos e bebidas funcionais exige uma avaliação abrangente de sua segurança e identificação de máximos apropriados por meio de avaliação de risco de forma quantitativa. Esses valores e outras fontes de informações de segurança, como estudos de toxicidade aguda e subcrônica, contribuem com fabricantes de suplementos dietéticos e agências reguladoras, ajudando a reduzir o potencial de ingestão excessivamente excessiva. TAURINA Já foram realizados mais de 30 ensaios clínicos em humanos, publicados e revisados, envolvendo a administração de Tau. O tamanho da amostra, a dosagem e período de exposição, a presença de múltiplos ingredientes ativos e medidas de resultados variaram consideravelmente entre os estudos encontrados. Além disso, os ensaios clínicos envolveram tanto indivíduos saudáveis quanto pessoas que apresentavam algumas doenças ou condições. Em geral, a literatura demonstra um nível substancial de segurança para a suplementação de Tau. A maior dosagem oral de Tau utilizada em um ensaio clínico humano publicado foi de até 10 g/d durante 6 meses (Durelli et al., 1983). Neste estudo, os pacientes com distrofia miotônica foram tratados de maneira cruzada com 100–150 mg/kg/d (equivalente a 7–10 g/d em um adulto de 70 kg) agudamente via administração parenteral seguida de administração oral por 6 meses . A duplicação aproximada dos níveis séricos de Tau foi alcançada após a fase oral e um aumento da Tau urinária foi observado em alguns pacientes, porém nenhum outro efeito adverso foi relatado. Apesar deste estudo ter sido realizado em um período relativamente longo, o tamanho da amostra era pequeno (n = 18) e a falta de medidas de resultados de segurança clinicamente relevantes impedem seu uso para identificação de um nível seguro observado (OSL). O estudo com maior período de duração foi de 12 meses em uma faixa de dose de 500-1500 mg/dia em pacientes adolescentes com fibrose cística (Colombo et al., 1996). Os níveis de Tau no corpo parecem ser regulados em parte pelos rins (Rozen e Scriver, 1982; Chesney et al., 1985), sendo assim, o excesso proveniente da dieta é excretado na urina (Hayes, 1985; Sturman, 1988). Observou-se nos estudos revisados que os níveis séricos e urinários de Tau aumentaram com a suplementação, mas os efeitos variaram amplamente. Com exceção de distúrbios gastrointestinais menores relatados no estudo de Jeejeebhoy et al. (2002), nenhum efeito adverso foi relatado nos demais estudos revisados. Os estudos apresentavam como objetivo principalmente testar os efeitos benéficos da suplementação de Tau, os quais tendiam a se concentrar em seu uso de curto prazo e não preocupavam em testar os efeitos de exposições em períodos superiores a 12 meses. Os efeitos adversos observados em ensaios não controlados incluem coceira temporária em pacientes com psoríase (Kendler, 1989) e hipotermia em pacientes com insuficiência adrenal (Shin e Linkswiler, 1974). Nenhum desses efeitos adversos foi observado nos estudos controlados revisados. O consumo de Tau de alimentos por adultos norte-americanos é cerca de até 400 mg/d (Rana e Sanders, 1986; Laidlaw et al., 1990; Hayes e Trautwein, 1994), o que sugere que as doses usadas nos ensaios revisados (até 20 vezes maior do que o normalmente consumido na dieta) são adequadas para avaliar a segurança da suplementação. A ausência de qualquer padrão consistente de efeitos adversos relacionados à administração oral de Tau fornece suporte para um nível substancial de confiança na segurança deste aminoácido. Vários outros ensaios foram conduzidos com doses variando de 0,4 a 1,5 g/d por até 1 ano. Porém, foram estudos pequenos em que não houve alterações nas medições bioquímicas e/ou nenhum efeito adverso observado (Colombo et al., 1996; Sirdah et al., 2002; Brons et al., 2004; Spohr et al., 2005 ; Cangemi, 2007). Todos esses estudos apontam para um OSL de 3 g/d. O OSL foi identificado a partir de dados de indivíduos consumindo uma variedade de dietas e tendo síntese endógena de Tau. Essas fontes adicionais de Tau já foram consideradas e não precisam ser subtraídas do OSL para identificar um nível superior de ingestão tolerável (ULS). Assim, um ULS baseado na evidência toxicológica em ensaios clínicos humanos é de 3 g Tau/d. Portanto, avaliar os ensaios clínicos em ordem decrescente de doses diárias e a seleção de um estudo usando uma dose muito menor de 3 g/d (Zhang et al., 2004b), atribui maior nível de confiança e menos incerteza quanto à toxicidade desta substância. Resumindo, a partir dos estudos analisados conclui-se que, por enquanto, para Tau: nível de efeito adverso não observado (NOAEL) e nível mais baixo de efeito adverso observado (LOAEL) >10 g/d; OSL de 3 g/d e ULS 3 g/dia. L-GLUTAMINA De forma geral, o banco de dados para ensaios clínicos em humanos envolvendo a administração de Gln é robusto, contando com centenas de estudos revisados e publicados. Apenas alguns dos estudos realizados para avaliar os efeitos benéficos da Gln verificaram possíveis efeitos colaterais adversos e estes aconteceram principalmente por meio de relatos. Não existem estudos publicados que se concentrem apenas na segurança da suplementação oral de Gln. Todos os ensaios clínicos revisados envolveram apenas indivíduos adultos saudáveis. No geral, a literatura demonstra um nível substancial de segurança para suplementação de Gln. A dose oral mais alta de Gln utilizada em um ensaio clínico humano publicado foi de até 45 g/d por 6 semanas em adultos saudáveis (Candow et al., 2001). Neste estudo, adultossaudáveis receberam 0,9 g Gln/kg de massa corporal magra/d (equivalente a 45 g/d) por 6 semanas em combinação com um programa de treinamento de resistência. Não houve efeitos adversos observados no grupo, porém também não houve nenhuma outra medida de resultado clínico relacionada à segurança relatada. O tamanho pequeno da amostra (n = 17) e a falta de medidas de resultado de segurança clinicamente relevantes impedem o uso deste estudo para identificação de um OSL. O ensaio de maior duração foi de 10 semanas com uma dose de 5 g/d em homens adultos saudáveis (Kerksick et al., 2006). Uma série de fatores que são importantes para a investigação de toxicidade potencial de Gln foi observada, incluindo efeitos diretos nos níveis séricos, produtos metabólicos finais (como amônia), competição/ antagonismo de outros aminoácidos e efeitos nas funções hepática e renal (Garlick, 2001, 2006). Observou-se em alguns estudos que o efeito nos níveis séricos de Gln variou, apesar de que nenhum efeito tenha sido observado nos níveis séricos de amônia, creatina, albumina, glicose, lipídios, enzimas hepáticas ou variáveis hematológicas. Em geral, nenhum efeito adverso foi observado ou relatado em nenhum dos estudos revisados. O consumo de glutamina a partir de alimentos é estimado em aproximadamente 5 g/dia, cerca de até 9 vezes menor que as doses utilizadas nos ensaios revisados. A ausência de qualquer padrão consistente de efeitos adversos relacionados à administração oral de Gln, em todos os ensaios em humanos publicados e em qualquer nível de dosagem fornece suporte para um nível substancial de confiança na segurança deste aminoácido. Existem vários estudos em animais publicados que examinaram o efeito da suplementação de Gln em indivíduos apresentando várias doenças e condições. O valor de toxicidade aguda (LD50) em ratos após administração oral de Gln foi relatado como 16 g/kg de peso corporal (L-Glutamine, 2005). Ratos alimentados com dietas de 1,25%, 2,5% e 5% de Gln, respectivamente, durante um período de 13 semanas, não apresentaram nenhum efeito adverso grave (Tsubuku et al., 2004a,b), mas houveram alguns pequenos aumentos em certos parâmetros hematológicos e urinários nos grupos de 2,5% e 5%, mas todas as alterações estavam dentro da faixa fisiológica. Os autores do estudo concluíram um NOAEL para ratos de 1,25% ou aproximadamente 0,9 g/kg de peso corporal/d. Esses dados ajudam a fornecer confiança na segurança da Gln oral, mas ainda não são adequados para servir de base para determinar UL ou OSL para humanos devido à incerteza na extrapolação entre espécies. Conforme relatado anteriormente, para Gln a dose oral diária mais elevada utilizada num ensaio randomizado e controlado em adultos saudáveis foi de 45 g/d (Can dow et al., 2001), portanto este valor pode ser considerado como o OSL. A partir dos estudos analisados conclui-se que, por enquanto, que para Gln: NOAEL e LOAEL >45 g/d; OSL de 14 g/d e ULS 14 g/d. REFERÊNCIAS SHAO, A.; HATHCOCK, J. N. Risk assessment for the amino acids taurine, L- glutamine and L-arginine. Regulatory Toxicology and Pharmacology 50 (2008) 376–399.
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