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Responsabilidade Patrimonial na Execução

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Responsabilidade Patrimonial na Execução
Personalidade Jurídica
· A personalidade é a capacidade de direito: de ser titular de direitos e obrigações. Toda pessoa, independente de vontade, tem personalidade, ou seja, é sujeito de direito, quando nasce – art. 1º, CC. 
· Já a pessoa jurídica, é um sujeito de direito não humano (= pessoa moral), mas que é sujeito de direito, e portanto, tem aptidão para ser titular de direitos e obrigações: pode praticar atos em geral da vida civil (comprar, vender, locar, etc.). E isso só é possível quando se une a vontade humana, por meio de um ato constitutivo, com o devido registro (art. 45, CC).
· Com o registro da PJ, temos a capacidade da mesma, e daí decorre a sua personalidade.
Personalidade Jurídica das Sociedades Empresárias
· Pelo PRINCÍPIO DA AUTONOMIA, a Sociedade Empresária tem personalidade jurídica distinta de seus sócios, são pessoas inconfundíveis, independentes entre si = é uma PJ (art.49-A, CC).
· É a PJ:
· que pratica, em seu nome, todo e qualquer ato ou negócio jurídico.
· quem demanda e é demandada em juízo.
· que é dona do seu patrimônio, que não se comunica com o patrimônio individual dos sócios.
· que responde, em princípio, com o seu patrimônio, por suas obrigações.
Mas porque “EM PRINCÍPIO”?
POIS ESSA AUTONOMIA NÃO É ABSOLUTA.
-Ou seja, para que a PJ não seja responsabilizada, e para que os bens dos seus sócios não sejam atingidos (já que é administrada por eles), ela deve realizar negócios jurídicos dentro dos limites da lei, do seu contrato social ou estatuto, e através do seu representante, SOB PENA DE INCIDIR EM ABUSO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
Abuso da Personalidade Jurídica
Art.50, CC
“Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determina/das relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.”.
Assim, havendo DESVIO DE FINALIDADE ou CONFUSÃO PATRIMONIAL, pode ocorrer a desconsideração da personalidade jurídica da PJ, por decisão judicial, o que faz com que os bens dos sócios possam ser atingidos, por se confundirem os direitos e deveres destes e da PJ, JUSTAMENTE PELO ABUSO DA PERSONALIDADE JURÍDICA, como uma consequência para estes atos.
Desvio de Finalidade
O desvio de finalidade ocorre quando os sócios ou administradores utilizam a sociedade para fins diversos do seu objeto societário. 
Ou quando praticam atos distintos de seu objeto social para prejudicar alguém. 
Ex. empresa de fachada.
Confusão Patrimonial
Esta ocorre quando os sócios ou administradores utilizam o patrimônio da PJ para realizar pagamentos pessoais e vice-versa, atentando contra a separação das atividades entre empresa e sócio.
Ex. uso da conta corrente da PJ para pagar despesas pessoais; depositar cheque da empresa na conta PF.
O correto é que seja estipulado um valor de retirada mensal (ou Pró-Labore =salário do sócio), para que com ele o sócio pague suas despesas, de forma separada do movimento da PJ. E se houver lucro, a sociedade poderá distribuí-los aos sócios, porém, de forma documentada.
“A confusão patrimonial entre controlador e sociedade controlada é, portanto, o critério fundamental para a desconsideração da personalidade jurídica externa corporis. E compreende-se, facilmente, que assim seja, pois, em matéria empresarial, a pessoa jurídica nada mais é do que uma técnica de separação patrimonial. Se o controlador, que é o maior interessado na manutenção desse princípio, descumpre-o na prática, não se vê bem porque os juízes haveriam de respeitá-lo, transformando-o, destarte, numa regra puramente unilateral. (...) O que se pretende em suma, tanto na companhia isolada como no grupo econômico, é simplesmente adequar o direito à realidade econômica, considerando a personalidade jurídica em sua verdadeira dimensão, isto é, como técnica, meramente relativa, de separação de patrimônios, e não como entidade metafísica de valor absoluto”. (Fabio Konder Comparato) 
Teoria Maior
Assim, ocorrendo 1 das causas previstas no art. 50 do CC, a Parte pode requerer, numa execução, a desconsideração da personalidade jurídica da PJ, sendo necessário, para tanto, a instauração do INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA, previsto nos arts. 133 e seguintes do CPC, que tramitará em apartado da execução, onde serão analisados os supostos atos abusivos, e que permite à parte contrária o exercício do contraditório e da ampla defesa. 
ESSA É A TEORIA ADOTADA MAJORITARIAMENTE NOS TRIBUNAIS DO PAÍS, e usada como exceção (última via possível).
Teoria Menor: Outra Causa
Mas, o nosso CDC, em seu art.28 e §5º, permitem a desconsideração da personalidade jurídica com base na TEORIA MENOR, ou seja, sem a ocorrência dos atos descritos no art. 50 do CC.
Ou seja, basta que numa execução a PJ não tenha patrimônio para suportar suas obrigações, que os sócios responderão então por elas, com seus bens pessoais. 
Art. 28, CC 
“O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social.
§5°. “Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.”
Assim, esta TEORIA MENOR é mais agressiva do que a Teoria Maior do CC, pois ela visa a proteção dos consumidores hipossuficientes, bastando o MERO INADIMPLEMENTO, A OBSTRUÇÃO OU A DIFICULDADE NO RECEBIMENTO, para que a personalidade jurídica seja devidamente afastada. Ou seja, não é necessária a apuração de atos fraudulentos.
E apesar do CPC prever expressamente no art. 1.062, que o incidente de desconsideração de personalidade jurídica se aplica aos Juizados Especiais, há quem entenda não ser possível este incidente nos JECs, pois ali não se admite modalidade de INTERVENÇÃO DE TERCEIROS (art. 10, CDC), e pelo fato do CDC ser uma lei especial, que se sobrepõe ao CPC, que é de norma geral e de aplicação subsidiária.
OBS: Mas para saber se os sócios serão ou não responsáveis com seu patrimônio pelas dívidas da sociedade, após esgotados os bens da sociedade, é preciso ainda saber... 
o tipo de sociedade empresarial e o grau de participação do sócio na sociedade. 
Responsabilidade:
· Nas sociedades de RESPONSABILIDADE ILIMITADA: os sócios respondem com seu próprio patrimônio SE a sociedade não tiver bens suficientes para honrar suas dívidas = 1º atinge os bens da sociedade, e apenas o restante que faltar será cobrado dos sócios, proporcionalmente à sua participação no capital da sociedade. 
Ex.: sociedade simples; sociedade em nome coletivo.
· Nas sociedades de RESPONSABILIDADE LIMITADA: os sócios não respondem com seu patrimônio pessoal pelas obrigações da sociedade, mesmo que o patrimônio desta seja insuficiente para pagar toda a dívida. A não ser que ocorra alguma das hipóteses que autorizam a desconsideração da personalidade jurídica, presentes no art. 50 do CC. 
Ex.: sociedade limitada, SA. 
· Nas sociedades de RESPONSABILIDADE MISTA: alguns sócios respondem de forma ilimitada pelas obrigações da sociedade, e outros, de forma limitada. 
Ex: sociedade em comandita simples.
Conclusão
· A sociedade responde pelas suas obrigações com o seu próprio patrimônio, que é distinto e separado do patrimônio dos sócios.
· Se a sociedade não tiver bens suficientes para pagar suas dívidas, é possível que seja cobrado o restante dos seus sócios (responsabilidade subsidiária).
· Se a sociedade for de responsabilidade ilimitada, todo o restante da dívida poderá ser cobrado dos sócios, na proporção de suas participações no capital social. Se a responsabilidade dos sócios for solidária, qualquer um deles poderá ser obrigado a pagar mais do que sua parte correspondente, e terá direito de cobrar dos demais sócioso que pagou. Se a responsabilidade for não-solidária, cada sócio será obrigado a pagar somente a sua parte proporcional na dívida. EXEMPLO: EMPRESÁRIOS INDIVIDUAIS E LTDA.
· Se a sociedade for de responsabilidade limitada, mesmo que os bens da sociedade não sejam suficientes para saldar as dívidas, os sócios não serão obrigados a pagar o restante, a não ser que haja a desconsideração da personalidade jurídica. 
Outras Causas
A desconsideração da personalidade jurídica da PJ também será efetivada quando houver FALÊNCIA, ENCERRAMENTO IRREGULAR OU INATIVIDADE DA PJ, geralmente provocados por má administração.
Incidente de Desconsideração
· Previsto nos arts. 133 e seguintes do CPC, o INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA, poderá ser requerido pela Parte ou pelo MP em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial.
· Mas pode também ser requerida na própria PETIÇÃO INICIAL, e daí não haverá o incidente separado, pois o direito de defesa do sócio e da PJ estará garantido com a citação e a defesa (§2º, art. 133).
Alterações trazidas pelo NCPC: 
· Não poderá mais ser deferido através de simples despacho no meio do processo.
· Garante a dilação probatória, com a citação do requerido para apresentação de defesa, em 15 dias, e para requerer a produção de provas cabíveis.
· Instaurado o incidente, o processo principal é suspenso.
· Da decisão que decreta a desconsideração da personalidade jurídica, cabe agravo de instrumento, pois ela é considerada uma decisão interlocutória pelo art. 136 do CPC (e se proferida pelo Relator, cabe agravo interno).

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