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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS DISCIPLINA: Leitura e Produção de Texto Argumentativo PROFESSOR: Clebson Luiz de Brito ESTUDANTES: Aldelaine Ruama, Henrique Adriano e Verlânia Júlia. Atividade para as aulas do dia 28/11/2022 Objetivo: revisar questões de heterogeneidade e de relações entre enunciação/enunciado e fixar conteúdo relativo ao funcionamento e valor argumentativo das figuras Pobreza real, pobreza mental (fragmento) Mônica De Bolle A pesquisa científica de campo para reduzir a pobreza e os seus vários sucessos deveria ser comemorada, sobretudo em países onde ainda há muita pobreza, como é o caso do Brasil. (1) Infelizmente , a reação nas redes sociais de gente que se identifica com a direita extrema retrógrada do País foi de condenar a premiação de diversas formas. Seja pela negação de que o Nobel de economia exista – (2) o prêmio existe, ainda que não tenha sido originalmente estabelecido por Alfred Nobel – seja ao afirmar que a pobreza é um (3) “estado natural” e que as políticas públicas para combatê-las são inúteis. Por certo, esse pensamento repercute não entre gente que sofra da pobreza real, material, mas de quem sofre de profunda pobreza intelectual. Quem sabe seja possível algum dia desenhar intervenções públicas para a (4) pobreza mental. Quem sabe seja possível resgatar algumas (5) cabeças da ignomínia que ocupa os espaços públicos. Quem sabe nada disso seja possível e o Brasil permaneça preso na sua (6) terraplanice atual. (Fonte: O Estado de S. Paulo, 16 de outubro de 2019) O artigo de Mônica de Bolle aborda a forma como alguns brasileiros receberam a notícia da conquista do Prêmio Nobel de Economia por uma pesquisa que, com alternativas de baixo custo, demonstrava bons resultados para redução da pobreza. Considerando isso: a) explique tecnicamente, com base no que estudou sobre heterogeneidade e relações entre enunciação/enunciado, os recursos do texto sinalizados de 1 a 3, analisando como eles colaboram na argumentação. A heterogeneidade demonstra que há uma voz que fala sobre o que acredita em um discurso, porém dentro desse mesmo conceito de heterogeneidade, há a polifonia que se baseia na identificação e distinção de quem é o enunciador e o locutor em um enunciado. Ou seja, não há apenas o locutor, mas dois “personagens” em um mesmo discurso, trazendo outras vozes para ele. Dessa forma, ainda no contexto da polifonia, é possível compreender que locutor é aquele que é representado em um enunciado como o responsável por ele e o enunciador se trata do ser que mesmo sem falar reflete sua opinião no enunciado. A partir disso, a enunciação/enunciado se dá através das pessoas que declaram um discurso, seja ele escrito ou falado. Destarte, é importante destacar que na polifonia há diversas vozes que se encontram em um enunciado, distinguindo locutor de enunciador. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS DISCIPLINA: Leitura e Produção de Texto Argumentativo PROFESSOR: Clebson Luiz de Brito ESTUDANTES: Aldelaine Ruama, Henrique Adriano e Verlânia Júlia. Em primeira análise, no texto “Pobreza real, pobreza mental (fragmento)” há exemplos como o enunciado a seguir: “Infelizmente, a reação nas redes sociais de gente que se identifica com a direita extrema retrógrada do País foi de condenar a premiação de diversas formas.”, diante do exposto, visualiza-se o conectivo que inicia essa sentença e há a compreensão de que o locutor traz sua opinião e se sensibiliza quando utiliza de um termo sentimentalista para comover e para que, como ele se sentiu triste, pelo não reconhecimento das pessoas de extrema direita com o prêmio Nobel, outras pessoas também se sintam. Existe essa marca de heterogeneidade que afirma profunda tristeza, nesse caso, acreditando que irá tocar as pessoas mais facilmente com a palavra “Infelizmente” e ao mesmo tempo pode-se visualizar as vozes contrárias da autora, ou seja, a das pessoas de extrema direita quer seriam retrógadas. Em segunda análise, nesse enunciado pode-se observar não apenas polifonia, mas também o que é possível chamar de heterogeneidade mostrada: “[...]o prêmio existe, ainda que não tenha sido originalmente estabelecido por Alfred Nobel”, ou seja, há um locutor que cita diretamente o enunciador, que foi de grande influência para o prêmio Nobel. A autora do texto, Monica de Bolle, demonstra compreender que mesmo que o prêmio Nobel da economia tenha sido “rejeitado” pela extrema direita, ela reafirma em seu discurso que esse prêmio foi importante para ajudar no combate à pobreza, já que isso impacta o mundo. Há também, nitidamente outra voz, além da voz da autora, nesse enunciado, que seria a utilização da ideia de alta relevância de Alfred no Nobel, mas que apesar dessa grande notoriedade, o fato dele não estar presente na época atual, não faz com que o prêmio seja menos importante para a autora. Por fim, no terceiro e último exemplo do texto de Monica, em relação aos temas: heterogeneidade e enunciado, o trecho: “estado natural” é ironizado pela autora quando ela utiliza das aspas para afirmar que não concorda que a pobreza seja um estado natural. Sendo assim, mais a frente do texto ela afirma que as pessoas que acreditam que a pobreza é um estado natural, também não concordam com políticas públicas que mudem a pobreza social. Portanto, é observável que há outras vozes nesse enunciado, a voz do locutor que acredita que a pobreza precisa ser estudada e reduzida (autora) e as vozes dos enunciadores (pessoas da extrema direita ou pessoas que contrariem a ideia da autora sobre o combate a pobreza). b) Explicite a figura empregada em cada um dos elementos sinalizados de 4 a 6 e, considerando necessariamente o material disponibilizado para estudo do conteúdo em questão, explique o funcionamento de cada uma delas. As três figuras (4,5 e 6) servem ao mesmo propósito comunicativo: corroborar de maneira indireta com a argumentação que se faz em favor da inteligência e do bom senso perante um cenário de ignorância que se estende no país. A figura 4, “pobreza mental”, é uma metáfora retomando o título do texto, essa metáfora, seguindo a argumentação do texto nos diz que a pobreza em seu UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS DISCIPLINA: Leitura e Produção de Texto Argumentativo PROFESSOR: Clebson Luiz de Brito ESTUDANTES: Aldelaine Ruama, Henrique Adriano e Verlânia Júlia. sentido primeiro, que diz respeito ao escasso ou a falta de acesso a meios de subsistência já não é o único tipo de pobreza que assola o Brasil. Segundo a autora, e isso se manifesta na forma da figura utilizada, ela considera existir uma outra pobreza tão real quanto a anteriormente descrita, uma pobreza mental. Essa tal pobreza mental compartilharia o sentido de ser uma falta ou escassez de algo, mas o produto deficitário seria a inteligência e/ou o bom senso, de certa forma, sem os quais, também mergulharia o país num caos social. A figura 5, ao se referir às pessoas, a autora utiliza-se de uma metonímia ao chamá-las só de cabeças. A parte pelo todo, é o que a definição da figura sempre nos diz nos livros, mas por que a escolha da “cabeça” e não de outra parte qualquer? Essa deliberação que coube à autora se relaciona diretamente ao sentido geral do texto. Se está se falando sobre inteligência e sensatez, ambas características relacionadas à racionalidade, a cabeça onde está o cérebro responsável por processar essas informações e ações, seguramente foi a escolha ideal para compor a figura. Para além disso, já que está se falando da falta de racionalidade em algumas questões, além da metonímia, pode-se dizer que a mesma palavra “cabeça” pode também ser uma metáfora pois estabelece uma relação de semelhança com rebanhos. Animais de produção em fazendas ou criadouros também são designados por cabeças, uma massa uniforme e irracional que segueem sua ignorância sobre si e sobre o mundo. Por fim, a última figura, “terraplanismo”, se trata, mais uma vez, de uma metáfora. Mônica De Bolle faz um paralelo entre a teoria conspiracionista da terra plana com a situação atual do Brasil. O elo entre essas ideias perpassa, inclusive, pelo eufemismo. A autora poderia ter falado a insensatez, a ignorância ou a burrice, mas optou por relacionar tudo isso a uma teoria descabida sobre uma discussão há séculos superada sobre o formato da terra, que voltou a ser revisitada e questionada justamente pela negação da ciência e um revisionismo anti-racional que faz parte desse processo de negacionismo também abordado no texto. Cacarecos da língua Gregório Duvivier (fragmento) Todo dia uma palavra morre e a gente não se dá conta [...]. Há uma multidão de palavras pelas quais nada mais se pode fazer: já habitam o subterrâneo das palavras findas. O coração parou, o cérebro também, o médico declarou o óbito e o padre fez a extrema-unção. Provecto. Linfa. Ergástulo. Patego. Algumas, claro, são natimortas: Lorpa. Trenguice. Lordaço. Não adianta bisturi ou eletrochoque –nada no mundo vai resgatá-las. Algumas, para não morrer, reinventaram-se. Trocaram de sexo, de nome e de profissão. A palavra "zoeira" já significou barulho: hoje significa troça. [...] O verbo gozar [...] se reinventou. Trabalhava no ramo do humor, hoje tá no ramo do prazer –taí um cara que sabe aproveitar a vida. [...] Há palavras, no entanto, pelas quais ainda vale lutar. A palavra "cacareco", por exemplo, tá na UTI. Pros jovens que não chegaram a conhecê-la, cacareco é uma coisa velha, já sem utilidade. Sim, a própria palavra cacareco virou um cacareco. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS DISCIPLINA: Leitura e Produção de Texto Argumentativo PROFESSOR: Clebson Luiz de Brito ESTUDANTES: Aldelaine Ruama, Henrique Adriano e Verlânia Júlia. (Fonte: disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2016/07/1790346-cacarecos- da-lingua.stml) Identifique o fato linguístico de que o produtor do texto fala, explicando em seguida tecnicamente o funcionamento do principal recurso expressivo empregado na exposição. Ao analisar o texto Cacarecos da língua, se veem descritos alguns processos naturais das línguas, uma movimentação que possui forças centrípetas e centrífugas, ora deformando, ora dando forma. A língua, assim como um ser vivo, está em constante processo de evolução. Assim como o texto nos mostra alguns exemplos de palavras em desuso, existem também o processo inverso, quando novos contextos comunicativos exigem uma categorização que vai além das preexistentes na língua, surgem novas palavras, a esse processo chamamos de neologismo. Em outros casos, também descritos no texto, algumas palavras sofrem alterações e se recontextualizam, antes semanticamente tendo um valor e posteriormente assumindo outro, assim algumas palavras ganham novo significado, que pode ou não relacionar-se com o sentido primeiro. Por fim, o autor ironicamente utiliza uma palavra já pouco utilizada na geração atual para referir-se a ela mesma. Esse recurso metalinguístico foi a maneira como pôde demonstrar que embora esteja em desuso, a palavra ainda pode ser utilizada em um contexto real onde a escolha lexical dela foi a mais apropriada. Assim, pode-se indiretamente perceber que a luta pela qual ele se mostra empenhado não é um resgate cultista pela preservação de um pretenso melhor arcabouço lexical, mas de usarmos de forma plena a riqueza que temos em nossa língua.
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