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Aluna: Flávia P. Crusoé DIREITO EMPRESARIAL Profº: João Glicério TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL 1. Histórico Existem dois momentos marcantes para o Direito Empresarial; o primeiro, o da Teoria dos Atos de Comércio (1808- França) e o segundo momento é o da Teoria da Empresa (1942-Itália), os dois ligados de forma íntima a fatos históricos relevantes. A primeira Teoria surge logo depois da Revolução Francesa e a segunda, na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, com uma das potencias envolvidas. A Teoria dos Atos de Comércio vem acompanhada da bipartição do Direito Privado, que se divide em direito civil, para os burgueses, e direito comercial, para os burgueses, com o objetivo de oferecer um tratamento distinto entre nobreza e burguesia. O direito das obrigações, com o foco no dever, se destaca no direito civil, e tem, do outro lado, equivalente, o direito cambiário, no direito comercial, chamado também de direito de título de crédito, seguindo a ideia de que credito é o que a burguesia deveria ter e, então, débito, para a nobreza. A burguesia então escolhe não trazer no Código de Comercio Francês os conceitos fundamentais para que pudessem excluir os nobres dos benefícios. Nesse sentido, foram listados os atos relacionados à burguesia, como o comércio, a indústria, os bancos e os seguros, não listando, por exemplo, a agricultura e outras atividades ligadas aos nobres, para que eles não tivessem acesso aos benefícios ligados à Ata Comercial. Assim, ao se fixar a um conceito, a burguesia poderia se adaptar a ele, mas a doutrina buscou encontrar um conceito fundamental para o Direito Comercial Francês, mas todas elas refutadas. Rocco então estabelece um conceito que alcançava boa parte das atividades comerciais da época, de modo que a doutrina percebe que seria necessário um novo sistema, pela falta de sustentação que essa passou a ter, considerando os seus conceitos fundamentais. Surge, então a Teoria da Empresa, junto ao nascimento do Código Civil Italiano, que contempla, de maneira sistémica, concretizando e corrigindo as lacunas e defeitos deixados pela Teoria dos Atos, considerando suas principais características: a bipartição e sua ausência do conceito fundamental. Então a Teoria da Empresa vem acompanhada da Tese da reunificação do Direito Privado e traz um conceito para a matéria. Logo em seu primeiro artigo do Direito de Empresa ele traz o conceito de Empresário, que seria copiado pelo Código Civil Brasileiro (1950), e outros ao redor do mundo. A tese da reunificação do Direito Privado, ou melhor, a sua tentativa frustrada, vez que a unificação ocorreu apenas no âmbito legislativo e, mesmo assim, parcial. As disciplinam, no ponto de vista didática, profissional e científico, as disciplinas conservam a sua autonomia. De modo que quem atende aos requisitos do art. 966 responde ao direito empresarial, e quem não atende, ao Direito Civil. ATIVIDADES EMPRESARIAIS E CIVIS 1. Empresário Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. São os requisitos do Direito Empresarial: Profissionalismo: a habitualidade, a pessoalidade e o monopólio de informações servem a configuração do profissionalismo. Ser habitual é atender a demanda periódica daquela atividade, já a pessoalidade é o exercício da atividade em nome do empresário e, por fim, o monopólio de informações é a ideia de que o empresário não precisa saber tudo, nem sequer ter conhecimentos técnicos e específico de sua especialidade, sendo obrigado a ter o conhecimento relacionado ao consumo do produto ou serviço que ele oferece e assim, compartilhar com os seus consumidores. Presentes essas três características, se tem o profissionalismo. Atividade Ecônomica: para se caraterizar o empresário, é necessário realizar a atividade económica com o intuito lucrativo. Aluna: Flávia P. Crusoé Organização: é a articulação dos quatro fatores de produção, capital (próprio ou alheio), insumos (matéria- prima utilizada para o desenvolvimento da atividade), tecnologia (aprimoramento da técnica para atender a demanda) e mão de obra (direta, que tem vínculo empregatício, ou indireta, que não possui vínculo). Importante destacar que o requisito não é ter empregado e sim mão de obra. Ao se tratar de empresário, como genêro, se refere a três espécies: o empresário individual, formada por pessoa física que exerce atividade presencial, com responsabilidade ilimitada, a sociedade empresária, formada por pessoa jurídica, formada por sócios, que exerce atividade presencial, com responsabilidade dependendo do tipo de sócios, podendo ser limitada ou ilimitada) e o eireli, que foi revogada por medida provisória, tornando, então, empresário o gênero que comporta duas espécies: empresário individual e a sociedade empresária. A aquisição da pessoa física empresarial nasce com a própria pessoa, ressalvadas as hipóteses legais, enquanto a pessoa jurídica empresarial nasce com o registro na junta empresarial. EMPRESA (ATIVIDADE) = VÍNCULO JURÍDICO QUE LIGA O SUJEITO AO OBJETO Empresa vem do movimento de empreender, sendo sinonimo de atividade com intuito lucrativo. A empresa para Asquini, é marcada por quatro perfis: Subjetivo: o sujeito, o empresário. Objetivo: o estabelecimento empresarial, o objeto da atividade. Funcional ou Abstrato: a empresa. Corporativo: é a mão de obra, formado pelos prepostos do empresário. Já Julius Von Gherke defende que a empresa tem apenas três perfil, não incluindo o perfil corporativo. 2. Atividades Civis (Atividades não-empresariais) A primeira hipótese de atividade civil é a hipótese excludente, ou seja, a ideia de que não será empresário quem não atender os requisitos previsto no art. 966 do Código Civil – CC (profissionalismo, atividade econômica e organização). A segunda hipótese é a prevista no § único do art. 966 do CC, que trata do profissional intelectual. Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. São eles os profissionais liberais em geral, como médico, pintor, cantor, escritor, por exemplo, mesmo que ele contrate colaboradores ou auxiliares, continuará sendo um profissional exercendo uma atividade civil, e não um empresário. Ex.: O médico no consultório ele exerce uma atividade civil, mas, caso ele esteja no hospital, ele é visto como um elemento de uma organização empresarial, deixando o profissional de ser a referência, e sim a organização. CLÍNICA A CLÍNICA B 5 médicos + 15 funcionários + R$ 1 milhão de faturamento 5 médicos que se juntaram para empreender um projeto comum, onde a clientela é da clínica, assim como o faturamento, e, ainda, o faturamento é dividido entre os médicos, de modo que o referencial se torna a clínica, a instituição, e não o profissional, se tornando esse, um elemento de empresa. Aqui é configurado uma atividade empresarial 5 médicos + 15 funcionários + R$ 1 milhão de faturamento 5 médicos que se juntaram pra dividir despesas, cada um possui sua clientela, que acompanha o profissional e o faturamento vai para os respectivos médicos, de modo que o referencial se torna o médico, o profissional. Aqui é configurada atividade civil. A terceira hipótese de atividade civil é aquele quem exerce atividade rural, o qual terá o registro – obrigatório – como elemento determinante da sua natureza jurídica, sendo considerado aqui onde o profissional faz o registro, ou seja,Aluna: Flávia P. Crusoé sendo no Registro Civil de Pessoas Jurídicas – RCPJ, se caracterizando uma atividade civil, mesmo que atenda todos os requisitos, ou na Junta Comercial, se caracterizando uma atividade empresarial, mesmo não atendendo os requisitos. A quarta hipótese de atividade civil é a das cooperativas, que serão sempre sociedades simples, sem exceção, de modo que nunca serão sociedades empresárias, mesmo que faça registro na Junta Comercial, para estimular o cooperativismo. Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. 3. Vedações dos exercícios das atividades empresárias Importante destacar que não existe vedação empresarial, mas sim considerado o conceito que existe de incapacidade geral para o Direito, que existe para proteger aquele do coletivo, enquanto a vedação serve para proteger a coletividade do individuo. 3.1. Vedações por incapacidade Considerando o conceito de incapacidade para o Direito Civil, cumpre destacar que o emancipado é plenamente capaz, de modo que essas vedações não se aplicam as hipóteses de emancipação, como o casamento, como a outorga dos responsáveis, os pais, o exercício de emprego público efetivo, colação de grau em curso superior e sustento próprio. Desse modo, não pode o incapaz começar uma atividade como um empresário individual, apenas pode continuar, no sentido de herança, por exemplo, ou que tenha sido iniciada por ele, quando capaz. Isto porque o risco de começar é infinitamente maior do que o risco de continuar. Em caso do representante ou assistente estiver impedido de realizar atividade empresarial, o juiz deve indicar um gerente, apenas para a gestão empresarial. Assim, o juiz deve listar os bens particulares para a devida proteção O incapaz também pode ser sócio de uma sociedade, desde que atenda os requisitos do art. 974, §3º do CC. Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. §3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos: (Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011) I – O sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade; (Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011) II – O capital social deve ser totalmente integralizado; (Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011) III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais. (Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011) Deve o sócio incapaz, então: Estar representado ou assistido; Não pode participar da administração da sociedade; O capital social, a contribuição dos sócios para a formação da sociedade, deve ser totalmente integralizado, ou seja, todos pagarem o que prometeu em contrato para a sociedade, não necessariamente pagado a vista, isto por conta da responsabilidade, nesses casos, é individual, e não solidária, para que o incapaz não se torne responsável pela parte do outro. 3.2. Vedações por proibições Protege a coletividade daquele individuo incapaz. Sujeito Falido O primeiro proibido é o sujeito falido, até que seja reabilitado, quando forem declaradas extintas as suas obrigações. Até 2020, o falido tinha uma chance quase nula de ser reabilitado, pois além de ter que cessar as dividas, deveria esperar 5 a 10 anos para ser reabilitado. Após a reforma, o falido apenas espera 3 anos a partir do decreto da falência para poder voltar a exercer a atividade empresarial, segundo a Lei 11.101/05, de falência e recuperação – reformada em 2020. Aluna: Flávia P. Crusoé Artigo 158 da Lei nº 11.101 de 09 de fevereiro de 2005 Art. 158. Extingue as obrigações do falido: I – O pagamento de todos os créditos; II - O pagamento, após realizado todo o ativo, de mais de 25% (vinte e cinco por cento) dos créditos quirografários, facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir a referida porcentagem se para isso não tiver sido suficiente a integral liquidação do ativo; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) III - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) (Revogado pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) IV - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) V - o decurso do prazo de 3 (três) anos, contado da decretação da falência, ressalvada a utilização dos bens arrecadados anteriormente, que serão destinados à liquidação para a satisfação dos credores habilitados ou com pedido de reserva realizado; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) VI - o encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência) Condenado por crime incompatível O segundo proibido de exercer atividade empresarial é o condenado por crime incompatível, ou seja, cuja pena veda o exercício da atividade empresarial, até extinta a sua punibilidade. Ex.: Crimes contra a economia popular ou crimes tributários. Leiloeiro O terceiro proibido é o leiloeiro, por ser um auxiliar do empresário. Estrangeiro O quarto proibido é o estrangeiro, Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002) § 1º Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens deverá pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da programação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002) § 2º A responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação veiculada são privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, em qualquer meio de comunicação social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002) § 3º Os meios de comunicação social eletrônica, independentemente da tecnologia utilizada para a prestação do serviço, deverão observar os princípios enunciados no art. 221, na forma de lei específica, que também garantirá a prioridade de profissionais brasileiros na execução de produções nacionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002) § 4º Lei disciplinará a participação de capital estrangeiro nas empresas de que trata o § 1º. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002) § 5º As alterações de controle societário das empresas de que trata o § 1º serão comunicadas ao Congresso Nacional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002) Por questões de soberania e segurança nacional, essencialmente na indústria jornalista e de rádio. De modo que o estrangeiro do pode ter, no máximo 30%, não pode exercer cargos de direção nem coordenar a programação. Devedor do INSS O quinto é o devedor do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, que pode exercer a atividade que começou, mas não pode começar uma nova atividade, enquanto estiver devendo. Servidor Público O sexto e último impedido de exercer a atividade presencial é o servidor público, possuindo algumas restrições a esse exercício, dependendo do servidor, tendo regimes mais restritíveis e mais liberais.Aluna: Flávia P. Crusoé O regime jurídico que se aplica a maioria dos servidores públicos diz que esses não podem ser empresários individuais, e não podem ser sócios administradores de sociedade. Artigo 117 da Lei nº 8.112 de 11 de dezembro de 1990 Art. 117. Ao servidor é proibido: (Vide Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) X - Participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário; (Redação dada pela Lei nº 11.784, de 2008 4. Prepostos do empresário Preposto do empresário, no sentido material, é toda mão de obra utilizada pelo empresário, podendo ser direta ou indireta. A mão de obra direta é aquela que tem vínculo empregatício, com carteira assinada, enquanto a mão de obra indireta é a que não possui referido vínculo, como prestadores e terceirizados. PREPOSTO = MÃO DE OBRA UTILIZADA PELO EMPRESÁRIO Dessa forma, o questionamento é se o empresário é responsável pelos atos praticados por seus prepostos e, portanto, entende-se que depende. Para que haja a responsabilidade, o ato tem que ser praticado pelo preposto no lugar que esta relacionado com o objeto da atividade. Obs.: O lugar é diretamente relacionado ao exercício da atividade do empresário, de modo que não apenas engloba um espaços físico, vez que se ele exerce por telefone, também vai se incluir nos critérios para responsabilização. Importante destacar a construção jurisprudencial aplicada às relações de consumo. Considerando a ideia de que, ainda que a proposta tenha sido feita equivocadamente, ela obriga da mesma forma, assim, a doutrina entende, nesses casos, que a proposta sendo irrisória, impensável do ponto de vista econômico, ela não obriga o proponente, o empresário, de modo que se questiona se, no âmbito daquele mercado, a proposta já foi feita ou não. O Código Civil destaca dois prepostos como os mais importantes para o empresário: Gerente: aquele que tem poder de mando, de organização e direção no negócio, não sendo necessária nenhuma formação específica. Ainda sim, é um preposto facultativo, de modo que o empresário pode não ter gerente. Pode o empresário também limitar os poderes do gerente, mas, para causar efeitos em relação à terceiros, protegendo o empresário, deve ser feita por escrito e arquivada na junta comercial. Contabilista: cuida da escrituração do empresário, e por exercer um trabalho técnico, precisa ter formação específica em contabilidade, sendo assim, um preposto obrigatório, mesmo que seja terceirizado. 5. Obrigações do empresário O empresário possui três obrigações essenciais: registro, escrituração regular e a de levantar balanços. São as obrigações comuns a todos os empresários: Registrar-se; Manter a sua escrituração regular, perante a todos os órgãos públicos que irão exigir a escrituração; Ter o seu registro regularizado no Registro de Empresas antes do início de suas atividades na forma disciplinada pelo art. 967 do Código Civil; Microempresário e Empresa de pequeno porte: escrituração simplificada, não dispensada, se resumindo ao Livro Caixa e i Registro de Inventário, conforme disciplinado na Lei nº 123/2006; Levantar balanços periodicamente, conforme art. 1.179 de Código Civil. Caso descumpra as obrigações acima citadas, o empresário vai estar irregular, podendo causar consequências que vão da esfera pessoal ou que atinjam até a esfera penal, de modo que ele pode ser notificado, pode ser multado ou até processado criminalmente. O fato da não escrituração das obrigações já citada, não exclui o empresário do regime jurídico-comercial, contudo essas não observâncias importam outras consequências, que embora não tenham o condão de punir, muito mais o de estimular o comprimento destas obrigações. Não quer dizer que tais consequências não tenham o caráter punitivo, pois estas têm até um caráter punitivo, já que em certos casos podem ser considerados como crimes. Aluna: Flávia P. Crusoé A falta de registro de inscrição do empresário antes de iniciar as suas atividades produz, no mundo jurídico a irregularidade do empresário no exercício de suas atividades empresariais, ou seja, a ilegitimidade ativa para o pedido de falência e a de recuperação judicial, a ineficácia probatória dos livros como também a responsabilidade ilimitada dos sócios pelas obrigações da sociedade. Assim, a falta de registro vai impactar na vida do empresário de forma pessoal, de modo que, não possui personalidade jurídica, no plano jurídico. 5.1. Registro A de registro na Junta Comercial de dizer ao Estado que vai iniciar uma atividade econômica organizada. Surge na Idade Média, relatos contam de registros nas corporações de Ofícios dos artesões e dos aprendizes. Mas, a primeira documentada no Brasil foi em 1808, com o Alvará Real, que criou o Tribunal da Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábrica e Navegação, e ainda, criou o Banco do Brasil. Esse Tribunal tinha duas funções, a de efetuar os registros dos comerciantes brasileiros da época e de julgar os litígios que envolvessem esses comerciantes. Em 1850, passa a ser chamado de Tribunal de Comércio e foram criados os Tribunais de Relação, representando o avanço do Brasil para o interior. Já, em 1875, são criadas as Juntas Comerciais e as Inspetorias Regionais, deixando a função de julgar para os Tribunais, e as Juntas e as Inspetorias, que ficavam no interior, tinham a função executiva de realizar os registros. Com a proclamação da República, as Juntas e as Inspetorias passam a ser de obrigação do Estado. Mas, com a Constituição de 1946, se estabelece o mesmo sistema de atualmente, aquele que a União legisla em matéria de registro, diz como deve ser feito, e o Estado apenas executa, concretizando o registro de acordo com aquilo já determinado pela União. O sistema conhecido hoje em dia é o Sistema Nacional de Registro de Empresas – SINREM, que se divide em duas esferas, no âmbito federal, o Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração – DREI, vinculado, hoje, ao Ministério da Economia e estabelecendo como devem ser feitos os registros, e no âmbito estadual, as Juntas Comerciais, que realizam o registro e possuem dupla subordinação, técnica ao DREI, e subordinação administrativa ao Governo do Estado. Os atos do registro é o genêro que comporta três espécies: Matrícula: já foi o ato de registro do empresário, vez que antigamente os comerciantes eram matriculados, mas, atualmente, a matrícula é o ato de registro do auxiliares do empresário, como os tradutores públicos, intérpretes comerciais e leiloeiros. Os tradutores públicos ajudam o empresário a fechar negócios internacionais, enquanto os intérpretes comerciais auxiliam o empresário em traduções simultâneas e o leiloeiro, ajuda os empresário a vender seus bens. Arquivamento: é o ato de registro do empresário individual e de constituição, alteração e dissolução da sociedade empresária. O prazo para arquivamento é de 30 dias a contar da prática do ato, como por exemplo, a assinatura do contrato social ou a dissolução da sociedade, assim, o requerimento de arquivamento feito dentro do prazo, ele produzirá efeitos ex tunc, ou seja, efeitos retroativos até o momento em que o ato foi praticado. Se for requerido fora do prazo, produzirá efeitos ex nunc, ou seja, efeitos irretroativos, portanto, os atos praticados serão considerados realizados por empresário irregular. Assim, o deferimento produz os efeitos até o momento do requerimento, importando apenas momento em que foi requerido o arquivamento. SINREM DREI (Federal) Vinculado, atualmente, ao Ministério da Economia Juntas Comerciais (Estadual) Subordinado técnicamente ao DREI Subordinado administrativamente ao Governdo do Estado → A única Junta Comercial que não possuía dupla subordinaçãoera a do Distrito Federal, que era duplamente subordinada ao DREI, mas mudou recentemente, de modo que possui dupla subordinação atualmente. Aluna: Flávia P. Crusoé Autenticação: possui dupla função, de veracidade e de regularidade. Ou seja, significa dizer que a autenticação serve de requisito de regularidade de vários documentos empresarias. 5.1.1. Exames das formalidades A Junta Comercial, quando se propõe a realizar o registro, faz o exame apenas das formalidades deste, não cabendo à Junta examinar aspectos materiais do pedido, apenas os aspectos formais da organização da sociedade. O que ele vai fazer não interessa ao Estado brasileiro, salvo nos especiais casos das atividades reguladas, vez que essas interessam aos demais fundamentos da república. Essa regra tem a exceção óbvia, em casos de pedido que possuem objeto ilícito, mesmo se tratando de uma análise material, não tem como não ser feita. Assim, quando ao examinar o pedido, a Junta se deparar com um vício formal, deve-se analisar qual o tipo de vício. -Vício Insanável: ou seja, atinge a validade do ato praticado, e então, nesses casos, cabe a Junta Comercial indeferir o pedido, como por exemplo o contrato social for assinado por absolutamente incapaz sem representação. -Vício sanável: ou seja, que atinge a eficácia ou registabilidade do ato praticado, cabe a Junta converter o pedido eme exigência, pois se atinge apenas a eficácia, é passível de correção, então converte o pedido para que o interessado, corrija o vício em até 30 dias. Atendendo o prazo, se reexamina, não atendendo, o pedido é indeferido. É um exemplo desse vício a falta uma certidão solicitada para o pedido. 5.1.2. Processo decisório da Junta Comercial Trata-se essencialmente de responder o questionamento de como a Junta Decide. Os atos processo decisório são divididos em duas categorias: atos de maior complexidade e atos de menor complexidade. -Atos de maior complexidade: serão decididos por um órgão colegiado, o Plenário de Vogais ou as Turmas de Vogais. Nesses casos, são julgados e decididos pelo Plenário apenas os recursos das decisões das turmas e das decisões singulares, enquanto as Turmas irão julgar os arquivamentos relacionados com as quatro operações societárias, ou seja, a transformação, fusão, incorporação e cisão. Os arquivamentos relacionados com os grupos de sociedade e os consórcios de empresa também são julgados pelas turmas, e, ainda, os arquivamentos relacionados com a Constituição de S/A. O prazo de julgamento é de 5 dias uteis -Atos de menor complexidade: serão decididos de maneira singular, pelo presidente da Junta Comercial. Singularmente serão julgados os demais arquivamentos quaisquer, as matrículas e as autenticações. O prazo de julgamento, nesse caso, é de 2 dias úteis. ATOS DE MAIOR COMPLEXIDADE Decisão Plenário de Vogais Prazo Recursos das decisões das turmas e das decisões singulares. 5 dias úteis Decisão Turmas de Vogais Arquivamentos relacionados com as quatro operações societárias, ou seja, a transformação, fusão, incorporação e cisão; Arquivamentos relacionados com os grupos de sociedade e os consórcios de empresa também são julgados pelas turmas; Arquivamentos relacionados com a Constituição de S/A. ATOS DE MENOR COMPLEXIDADE Decisão Presidente da Junta Comercial Prazo Demais arquivamentos quaisquer, as matrículas e as autenticações 2 dias úteis REQUERIMENTO DE ARQUIVAMENTO DENTRO DO PRAZO EFEITOS EX TUNC RETROATIVOS ATÉ QUANDO FOI PRATICADO O ATO REQUERIMENTO DE ARQUIVAMENTO FORA DO PRAZO EFEITOS EX NUNC IRRETROATIVOS, ATOS REALIZADOS CONSIDERADOS IRREGULARES Aluna: Flávia P. Crusoé Obs.: Vogal é o nome dado ao integrante da Junta Comercial. Se a decisão não ocorrer no prazo, considera-se deferido o pedido, acontecendo, então, o registro por decurso do prazo. A Junta Comercial, em regra, utiliza-se do julgamento a posteriori, analisando o pedido primeiro, para depois julgar e deferir ou indeferir. No entanto, os atos de menor complexidade que atenderem a dois requisitos serão deferidos automaticamente, junto com o pedido. Caso a existência de vício após a analise, o registro deferido será anulado. São os requisitos que viabilizam o registro automático: Aprovação da Consulta prévia da viabilidade do nome empresarial e, quando for o caso, da viabilidade da localização; Tende de ser utilizado pelo requerente, no contrato social, o modelo estabelecido pelo DREI. O processo revisional é marcado por três instrumentos, o pedido de reconsideração, o recurso ao plenário e o recurso ao DREI. O primeiro é direcionado ao próprio órgão julgador, que vai manter ou alterar a decisão. Em caso de alteração, deferindo o pedido, finalizasse o assunto, em caso que se mantenha o indeferimento, se recorre ao plenário. Se o plenário mantiver o indeferimento, negando o recurso, se propõe o recurso ao DREI. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO → RECURSO AO PLENÁRIO → RECURSO AO DREI O prazo para a prática dos atos do processo revisional é de 10 dias úteis, a contar do conhecimento, seja pela cientificação direta ou pela publicação. 5.1.3. Irregularidade do registro A irregularidade acontece de duas formas, quando o registro não é realizado e quando o registro foi revogado. São as consequências da irregularidade, portanto: Responsabilização ilimitada dos sócios pelas obrigações assumidas; O empresário irregular não tem direito a requerer recuperação de empresas; O empresário irregular não pode pedir a falência de outro empresário, só dele mesmo; O empresário irregular não vai ter inscrição nos cadastros fiscais federal, estadual e municipal; O empresário irregular não vai ter matrícula no INSS; O empresário irregular não poderá participar de licitações nem firmar de contratos administrativos. 5.2. Livros A segunda obrigação é de manter uma escrituração regular, lançar nos livros as operações realizadas. É a memória do empresário, do que ganha, do que gasta e, principalmente, a vida contábil e fiscal da empresa. Importante destacar que o livro é o objeto e a escrituração é o ato de registrar no livro as informações desnecessárias. Basta, para o empresário, ter a ciência de que há a necessidade de se estruturar livros, surgindo dai a necessidade da empresa possuir um contador específico para realizar aquela tarefa, podendo ser funcionário direto ou não, ser empregado ou profissional autônomo, dependendo da demanda da empresa. LIVROS (GÊNERO) = CONJUNTO DE FICHAS OU FOLHAS SOLTAS, CONJUNTO DE FOLHAS CONTÍNUAS OU MICROFICHAS GERADAS PELO COMPUTADOR Os livros se desdobram em duas classificações, sendo elas: LIVROS CONTÁBEIS OU TRIBUTÁRIOS Os livros contáveis vão versar sobre a contabilidade da empresa, despesa, receita, o ativo, acervo imobilizado ou circulante, empregados, entre outros. É a legislação comercial, os livros mercantis, ou tributária, os livros fiscais, possuindo idêntico regime jurídico. SIMPLESMENTE MEMORIAS Previsto na legislação mercantil ou trabalhistas, contendo o registro de empregados e Inspeção do Trabalho, variando com a atividade empresarial exercida pela aquela empresa. Há memoriais específicos de determinados ramos empresariais, como por exemplo, empresas que trabalham no ramo automotivo, precisam possuir registro de entrada e saída e registro de uso de placas de experiência, que o Código de Trânsito impõe. Aluna: Flávia P. Crusoé Possuem funções através das quais vai se demonstrar a vida de empresa, sendo essas: 5.2.1. Espécies de livros empresariais No ordenamento jurídico do Brasil há livros tidos como livros empresariais e livros do empresário. É visto como gênero e espécie, sendo os livros do empresário o gênero, e os empresariais, espécie. ▪ Livros empresariais São aqueles que possui escrituração obrigatóriaou facultativa ao empresário, em função da legislação comercial. Além destes livros estão também os empresários obrigados a escriturar outros livros, podendo ser estes de natureza tributária, trabalhista ou previdenciária. LIVROS EMPRESARIAIS OBRIGATÓRIOS Possuem escrituração imposta ao empresário e ausência traz consequência sancionadora, comum ou especial. → Livro empresarial obrigatório comum: no direito comercial brasileiro há apenas um livro comercial obrigatório comuns, que são impostos a todos os comerciantes, que é o livro "Diário", conforme disposto no art. 1.180 do CC. O Diário, nada mais é que o lançamento de atos que modificam o patrimônio e operações mercantis. Pode, ainda, ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico. → Livro empresarial obrigatório especial: são aqueles cuja escrituração é imposta apenas a uma determinada categoria de empresa. São eles: -Registro de Duplicatas: são livros obrigatórios apenas aos que emitem duplicata mercantil ou de prestação de serviços. A emissão de duplicata é facultativa, mas se emiti-la o livro é obrigatório. -Livro de atas de assembleia de uma S.A: é meramente memorial. LIVROS EMPRESARIAIS FACULTATIVOS São os que não são obrigatórios ao empresário estruturar. São chamados também de auxiliares, e possuem fins gerenciais, sendo quaisquer escritos ordenado e uniforme da atividade do empresário. Sua falta não implica sanção, como, por exemplo, Conta Corrente, e não possui eficácia probatória. O Direito Argentino traz expressamente essa falta de eficácia dos livros facultativos, mas poderão ter eficácia se os obrigatórios forem perdidos sem culpa do empresário FUNÇÕES DOS LIVROS Função Documental: para que haja um registro histórico da empresa. É a necessidade de informar a terceiro a suas atividades, como sócios, por exemplo, sendo assim, o modelo padrão de cada região. Surge na Itália, nos séculos XIV e XV, o modelo das “partidas dobradas”, em que cada operação era lançada duas vezes, como crédito e débito. Nasce, assim, a contabilidade. Função Fiscal: de demonstrar quanto de tributa está sendo pago pela aquela empresa, decorrendo de uma base de cálculo e as outras funções do tributo, que serão apuradas através dos livros fiscais. Função Gerencial: para que o empresário saiba o que é a empresa dele. desde a Idade Média que os comerciantes perceberam a necessidade de escriturar o seu negócio para avaliar seus resultados, auxiliando a tomada de decisões, sendo assim, o modelo próprio do comerciante. Aluna: Flávia P. Crusoé 5.2.2. Regularidade na escrituração Para se atender a regularidade na escrituração, é necessário atendimento a requisitos intrínsecos e extrínsecos. REQUESITOS INTRÍNSECOS REQUESITOS EXTRÍNSECOS São aqueles pertinentes à técnica contábil, conforme art. 1.183 do CC/2002) São os requisitos relacionados com a segurança do livro, além de armazenamento, jurídica. Idioma: português. Moeda corrente nacional: necessariamente real. Forma mercantil: em ordem cronológica, sem intervalos, nem borrões. Os erros só podem ser corrigidos por estornos. Termos de abertura, ou seja, o dia que se inicia o exercício. Termo de encerramento, ou seja, quando se encerra atividade ou caso acabou as páginas do livro. Autenticação pela Junta Comercial, que deveria ser feita após todos os lançamentos, porém o DNRC autoriza a Junta a autenticar os livros só com o termo de abertura e encerramento. (IN-DNRC n. 65/97, art. 5º, I). Portanto, não atendendo os requisitos, é configurada a irregularidade na escrituração, gerando consequências. São as consequências da irregularidade no âmbito civil: Revelia, em uma lide que os livros fossem requisitados como meio de prova. Não pode o empresário pedir a falência de outro empresário com base na verificação de suas contas, ou recuperação judicial. Não pode o empresário abrir pedido de recuperação judicial. Não terão a eficácia probatória concedida pelo Código de Processo Civil (art. 418). São as consequências da irregularidade no âmbito penal: Incide em crime falimentar, em caso de falência sem livros regulares. 5.2.3. Exibição judicial dos livros empresariais Os livros são regidos pelo princípio do sigilo, so interessando aos sócios, contadores e administradores da empresa, de modo que, quando é de interesse de um terceiro ter acesso, deve ser requerido o pedido motivado, de forma judicial. Assim, a exibição dos livros de forma judicial pode ser parcial ou total: -Exibição Parcial: é dada através da extração da parte que interessa ao juízo, resguardando o sigilo das informações ali contidas. Pode ser decretada de ofício ou a requerimento das partes em qualquer demanda, desde que seja demonstrada a sua utilidade à solução do litígio. -Exibição Total: vai importar na sua retenção em cartório, não assegurando o sigilo e dificultando a sua utilização e escrituração pelo comerciante. Pode ser decretada de ofício, sendo o caso de falências e recuperação judicial, ou via requerimento das partes, por questões relativas à sucessão, por exemplo. Ainda pode ocorrer a exibição administrativa dos livros empresariais, que serão determinadas por autoridades administrativas, sendo elas a autoridade fiscal, conforme art. 195 do CTN, ou a autoridade previdenciária, conforme o art. 33, § 1º, da Lei nº 8.212/91. Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais. 5.2.4. Eficácia probatória dos livros empresariais Os livros empresariais são documentos que possuem força probante. Art. 378. Os livros comerciais provam contra o seu autor. É lícito ao comerciante, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. Deve sempre estar disponível para ser meio de prova contra o seu titular. A eficácia probatória dos livros empresariais contra o empresário opera-se independentemente de eles estarem corretamente escriturados e nada impede que o empresário demonstre, por outros meios de prova, que os lançamentos constantes daquela escrituração que lhe é desfavorável são equivocados. Aluna: Flávia P. Crusoé Em caso de necessidade de prova a favor do seu titular, será utilizado apenas quando os livros estiverem regulares e em demandas contra outros empresários, em face do princípio constitucional da igualdade. A outra parte não tem livros para provar a seu favor, se não for empresário. Para que os livros façam prova a favor do empresário é preciso que eles estejam regularmente escriturados Art. 379. Os livros comerciais, que preencham os requisitos exigidos por lei, provam também a favor do seu autor no litígio entre comerciantes. 5.3. Balanços A terceira obrigação do empresário é de levantar balanços periódicos, onde são lançadas as informações aglutinadas. São, de modo geral, anuais, e, obrigatoriamente, dois, quais sejam: Balanço patrimonial: demonstrando o ativo e o passivo, compreendendo todos os bens, créditos e débitos; Balanço de resultado econômico – BRE: demonstrando os lucros e as perdas. BALANÇOS = PATRIMONIAL E BRE → UMA VEZ AO ANO Possuem duas exceções de apresentação. A primeira são as microempresas e a empresa de pequeno porte, que estão dispensadas de apresentar os balanços anuais. A outra exceção é em relaçãode instituições financeiras, pois devem apresentar os balanços semestralmente. O prazo de apresentação judicial do balanço é de 60 dias, a partir de quando for requisitado. Em caso de não apresentação, na esfera penal, não há nenhuma consequência em face do princípio constitucional da tripartição dos poderes, pois foi atribuída uma competência administrativa ao Poder Judiciário. Já na esfera civil, existem algumas consequências. Nas S.A., a não apresentação dos balanços leva a responsabilização dos administradores. Adicionalmente, a legislação tributária exige de determinadas categorias a apresentação periódica dos balanços, para que o fisco possa verificar o efetivo pagamento dos impostos. Ainda como consequência em caso da não apresentação, é o acesso ao crédito bancário, já está condicionado a apresentação dos balanços. E, por fim, também a participação em licitações públicas. NOME EMPRESARIAL E MARCA 1. Introdução Nome empresarial é o nome utilizado pelo empresário para exercer a atividade, é o modo como a empresa se identifica oficialmente nas suas relações negociais. Está previsto no Código Civil, nos art. 1.155 ao art. 1.168. NOME EMPRESARIAL = EXPRESSÃO DA PERSONALIDADE COMERCIAL O direito da personalidade se estende as pessoas jurídicas, quando a natureza dela for compatível com determinado direito. Assim, o nome empresarial é um direito da personalidade, vez que é inerente à personalidade da pessoa jurídica. Quanto ao histórico, o nome empresarial era usado para chamar a clientela e diferenciar da concorrência, se diferenciando do nome civil. A importância do nome empresarial se da pelo modo com que empresário se identifica com os fornecedores, não mais frente aos consumidores, decorrendo dai a diferença de tratamento da marca. Assim, se divide em duas espécies: firma ou denominação. Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa. Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação das sociedades simples, associações e fundações. Aluna: Flávia P. Crusoé 2. Natureza e espécies Existe um debate doutrinário acerca da natureza do nome empresarial. Pontes de Miranda afirma que o nome empresarial seria direito da personalidade, agregado à pessoa do comerciante, portanto, inalienável e impenhorável. Já Clóvis Beliláqua acredita que o nome comercial teria carater patrimonial. Por fim, Gama Cerqueira junta os dois entendimentos, de modo que afirma que o nome comercial teria dois aspectos, o subjetivo, atributo da personalidade do comerciante, e o aspecto subjetivo, elemento de identificação da própria atividade. Assim, nome civil seria relativo à personalidade, se diferenciando do nome comercial, vez que este integra o patrimônio. Normalmente são indicadas quatro formas de identificação da atividade empresarial, chamados de elementos identificadores, podendo, na prática, serem iguais, possuindo naturezas distintas, quais sejam: → Nome empresarial: identifica o sujeito que exerce a empresa, o empresário, identificando-o perante credores e fornecedores. A razão social é utilizada informalmente para o nome empresarial, pois razão social da ideia de sociedade, mas o empresário não tem nada de sociedade, por isso que é técnico. → Marca: identifica produtos ou serviços do empresário, é como comumente o empresário é conhecimento pelos seus clientes. → Título de estabelecimento: também chamado de nome fantasia, identifica o ponto comercial, local onde é desenvolvida a atividade do empresário. → Nome de domínio: identifica o endereço virtual, a página da internet. → NÃO É NOME EMPRESARIAL: Considerando que o nome empresarial é um elemento de identificação do empresário, da pessoa jurídica, diferente da marca, que identifica os produtos e serviços realizados, de modo que a relação jurídica não se estabelece com a marca, e sim com o nome empresarial. 3. Espécies O nome empresarial é único, correspondendo a um empresário individual ou a uma sociedade empresária. É o gênero que contempla três espécies: firma, pode ser individual ou razão social, e denominação. FIRMA Se divide em firma individual ou firma social, também chamada de razão social. → Firma Individual: exercida por apenas uma pessoa física, o empresário individual, e a sua estrutura só pode ter por base um nome civil, o dele. O empresário individual ou representante de sociedade que use firma deve assinar sua firma e não o seu nome civil. Assim, a firma possui função de assinatura, ou seja, quando a sociedade a utiliza em um negócio jurídico deve assinar a sua firma, e não o seu nome civil. → Firma Social: exercida por mais de uma pessoa física, ou seja, sociedade empresária. É o nome utilizado por alguns tipos societários, como a sociedade em nome coletivo, em comandita simples e, eventualmente, pela limitada e comandita de ações. Estrutura também é nome civil. Ainda é permitida a abreviação de um dos nomes e, ainda, possível complementar com a atividade exercida. Usam, obrigatoriamente firma, o empresário individual, a sociedade em nome coletivo e a sociedade em comandita simples. Já pode usar, facultativamente, firma a sociedade limitada, a sociedade em comandita por ações e, tecnicamente, a eireli. DENOMINAÇÃO SOCIAL É utilizada primordialmente pelas sociedades de capital, não sendo valida para sociedades de pessoas ou empresário individual. É o nome sempre utilizado pelas anônimas e pelas cooperativas e, eventualmente, pelas limitadas e pelas em comandita por ações. A formação da denominação é formada por qualquer expressão linguística, sendo possível utilizar o nome do socio fundador da companhia no nome empresarial, mas não é mais uma obrigação, Aluna: Flávia P. Crusoé como na firma. A sua estrutura deve designar o objeto da empresa podendo ter por base um nome civil ou qualquer outra expressão, o elemento fantasia. Possui função apenas de identificar o empresário, mas não funciona como sua assinatura, não possuindo a função de assinatura. Então, para obrigar a sociedade o representante legal deve apor seu nome civil. Em regra, exprime a responsabilidade dos sócios. Por isso, aqui seus nomes não devem aparecer. Usam, obrigatoriamente denominação, a sociedade por ações e sociedade anônima. Já pode usar, facultativamente, a denominação, a sociedade limitada, a sociedade em comandita por ações e, tecnicamente, a eireli. Art. 1.156. O empresário opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade. 4. Formação e registro do nome empresarial Além da firma e da denominação, em certos casos existe mais um elemento que vai identificar o tipo societário no próprio nome empresarial. → Empresário Individual: apenas firma individual. Se baseia em nome civil, mas pode agregar o ramo de atividade. → Sociedade em nome coletivo/sociedade de responsabilidade ilimitada: apenas firma social. Se baseia no nome civil dos sócios. Se não tiver o nome de todos os sócios, deve-se acrescer “e companhia” ou “&cia”, ou, pode-se também, acrescer o ramo de atividade. → Sociedade em comandita simples: apenas firma social. Baseado no nome do sócio comanditado. Para representar a existência de um sócio comanditário, deve-se colocar “e companhia” ou “e Cia”. Pode-se acrescer também o ramo de atividade. → Sociedade em conta de participação: Não adota nome empresarial, em razão de sua natureza de sociedade secreta. Art. 1.162. A sociedade em conta de participação não pode ter firma ou denominação. → Sociedade limitada: pode ser firma ou denominação. Deve conter obrigatoriamente “limitada” ou “ltda.” sob pena de responsabilizaçãoilimitada. Art. 1.158. Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura. § 1o A firma será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas, de modo indicativo da relação social. § 2o A denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios. § 3o A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade. → Sociedade anônima: apenas denominação, devendo utilizar-se de qualquer elemento identificar e fazer referência ao objeto social. Deve conter também obrigatoriamente o “sociedade anônima”, no início, no meio ou no fim, ou, pode conter “companhia” ou “CIA”, no início ou no meio. Pode ter o nome do fundador. → Sociedade em comandita por ações: pode ser firma ou denominação. Sendo firma, deve constar o nome dos sócios que respondem ilimitadamente, os diretores. Em qualquer dos casos, é obrigatório o uso de “comandita por ações”. → Microempresa: deve-se acrescer M.E. → Empresa de pequeno porte: deve-se acrescer E.P.P. Art. 11 da Lei Complementar nº 123/2006. Fica vedada a instituição de qualquer tipo de exigência de natureza documental ou formal, restritiva ou condicionante, pelos órgãos envolvidos na abertura e fechamento de empresas, dos Aluna: Flávia P. Crusoé 3 (três) âmbitos de governo, que exceda o estrito limite dos requisitos pertinentes à essência do ato de registro, alteração ou baixa da empresa. A diferença essencial da firma e da denominação esta na sua base, vez que a base da firma é o nome civil dos sócios integrantes, e a denominação tem como base um elemento fantasia. A base da denominação como elemento fantasia era obrigatória no passado, mas hoje facultativa, podendo, hoje em dia, ser uma homenagem 5. Alteração do nome empresarial A alteração do nome empresarial pode decorrer de diversas razões. A alteração voluntária pode ser feita pela simples vontade do empresário ou dos sócios da sociedade, desde que respeitados critério de formação do nome empresarial. Pode ocorrer a alteração obrigatória ou vinculada quando fundados, em nome civil, em decorrência do princípio da veracidade, nas seguintes hipóteses: Saída de sócio cujo nome civil constava na firma social; Alteração da categoria de sócio, quanto à sua responsabilidade pelas obrigações sociais, se o nome civil dele integrava o nome empresarial; Alienação do estabelecimento. Quando fundados em denominação ou firma, pode ocorrer a transformação e lesão a direito de outro empresário. A exceção ao princípio da veracidade ocorre quando o nome do acionista fundador, mesmo que ele nem seja mais acionista. 6. Proteção ao nome empresarial A proteção do nome empresarial é uma proteção constitucional. Se dá mediante a inscrição da empresa na Junta Comercial, ou seja, a proteção decorre automaticamente do registro do empresário ou da sociedade empresária na Junta Comercial. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País; Decorre, automaticamente, do arquivamento dos atos constitutivos. Tem como objetivo: Preservação da clientela, vez que o nome idêntico pode desviar a clientela; NOME FIRMA FIRMA INDIVIDUAL (Empresário individual) FIRMA SOCIAL (socieade em nome coletivo, socieade em comandita simples, socieade limitada e socieade em comandita por ações) DENOMINAÇÃO (sociedade anonima, socieade limitada e socieadeem comandita por ações) Aluna: Flávia P. Crusoé Preservação do crédito, vez que o outro empresário pode ter títulos protestados e haver uma confusão como empresário que nunca o teve. É importante destacar que para proteger o crédito nem mesmo empresários de ramos de atividades distintos podem usar nomes idênticos, salvo expressa autorização contratual do empresário detentor do nome empresarial. NOME IDÊNTIDO OU SEMELHANTE = IGUALDADE NUCLEAR (CONSTRUÇÃO DOUTRINÁRIA) Lei nº 8.934 de 18 de novembro de 1994 Dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras providências. Art. 35. Não podem ser arquivados: V - Os atos de empresas mercantis com nome idêntico a outro já existente; (Redação dada pela Lei nº 14.195, de 2021) Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro. Parágrafo único. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga. Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976 Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Art. 3º A sociedade será designada por denominação acompanhada das expressões "companhia" ou "sociedade anônima", expressas por extenso ou abreviadamente, mas vedada a utilização da primeira ao final. § 2º Se a denominação for idêntica ou semelhante a de companhia já existente, assistirá à prejudicada o direito de requerer a modificação, por via administrativa (artigo 97) ou em juízo, e demandar as perdas e danos resultantes. 7. Princípios do nome empresarial O primeiro é o princípio da veracidade, ou seja, a verdade da informação, diz que o nome dele fornecer informações verdadeiras. Por exemplo, na responsabilidade ilimitada, quando não se insere o Ltda ou o Limitada no nome empresarial, a responsabilidade tornasse limitada, de modo que a simples violação do princípio no nome empresarial, pode fazer com que o empresário possa responder diretamente com os bens dele. Já no caso do objeto social, caso seja inserido ao nome empresarial, este deve corresponder à realidade. Por fim, no caso do socio retirado ou falecido em firma de sócios, obrigatoriamente dele ela deve alterar a firma para que o nome do socio que conste, corresponda com a realidade. Já o segundo princípio da novidade, que traduz a ideia de que o nome empresarial deve ser novo, proibindo nome empresarial igual ou muito parecido com o outro existente. Essa proteção é estadual, vez que é realizada pela Junta Comercial é dividida por estado, impedindo, então que ocorra mais de um registro de empresa na mesma Junta com o mesmo nome. Instrução Normativa do DREI nº 83/2020 Art. 23. Observado o princípio da novidade, não poderão coexistir, na mesma unidade federativa, dois nomes empresariais idênticos ou semelhantes. § 1º Considera-se idêntico o nome empresarial que tenha exatamente a mesma composição daquele anteriormente registrado na mesma Junta Comercial. § 2º Considera-se semelhante o nome empresarial que tenha distinção em relação a apenas algum ou alguns caracteres, mas que não resulte em diferença significativa quanto à grafia ou à pronúncia. § 3º Os critérios para análise de identidade e semelhança entre firmas ou denominações serão aferidos considerando- se os nomes empresariais por inteiro, desconsiderando-se apenas as expressões relativas ao tipo jurídico adotado; haverá identidade se os nomes forem homógrafos, e semelhança se forem homófonos. § 4º Se o nome empresarial for idêntico ou semelhante a outro já registrado, deverá ser modificado ou acrescido de designação que o distinga. Importante destacar que a proteção ao nome empresarial se diferencia da proteção à marca, considerando, essencialmente, quem realiza a proteção. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/105531/Lei-n-8.934-de-18-de-Novembro-de-1994#art-35https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/105530/Lei-n-6.404-de-15-de-Dezembro-de-1976#art-3 Aluna: Flávia P. Crusoé O nome empresarial é protegido estadualmente pela Junta Comercial, onde é registrada a sociedade. Já a marca possuiu uma proteção nacional, realizada pelo Instituto Nacional de Proteção Intelectual – INPI, onde a marca é registrada. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL 1. Conceito O lugar de desenvolvimento da atividade empresarial é conhecido como ponto empresarial, de modo que, tecnicamente, estabelecimento é o conjunto de bens materiais e imateriais do empresário, destinado ao exercício da atividade econômica organizada. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL = BENS MATERIAS + BENS IMATERIAS Existe uma diferença entre o património e o estabelecimento empresarial, encontrada, essencialmente, na destinação. Importante ainda destacar que, se tratando de património empresarial, não é o património dos sócios, apenas o pertencente à sociedade, de mesmo modo quando se fala do empresário individual, que se considera apenas aquela parte que se destina ao exercício da atividade, o seu patrimônio profissional. Assim, se estabelece que estabelecimento é o conjunto de bens destinados ao exercício da atividade, ou seja, a parcela do património empresarial destinada ao exercício da atividade económica organizada, encontrando a sua diferença na destinação. É ela que define se um bem, integrante do património empresarial, faz parte ou não do estabelecimento. Importante destacar que o que integra o estabelecimento necessariamente integra o património. Ex.: Se uma sociedade exerce a sua atividade em um prédio alugado, o prédio não fara parte do estabelecimento, vez que não faz parte do património. Todavia, os deveres e direitos que emanam do contrato de locação faram parte do património, bem como do estabelecimento. É possível valorar, atribui valor ao conjunto de bens que estabelecem o estabelecimento. Assim, não se apenas soma os valores dos bens, devendo se considerar, ainda, o valor agregado ao estabelecimento, em razão de sua organização, chamado de aviamento. O aviamento é o valor agregado ao estabelecimento em razão de sua organização, de modo que, quanto mais ou menos organizado, maior ou menor o valor do estabelecimento. VALOR DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL = SOMA DOS BENS QUE O COMPÕE + AVIAMENTO Assim, como se tem um bem valorável economicamente, ele pode ser objeto de alienação. 2. Alienação do estabelecimento (Trespasse) O trespasse é a alienação do estabelecimento empresarial, é a sua venda. O estabelecimento é o bem mais importante do empresário, sendo a principal garantia dos credores do empresário. Portanto, a venda ou a alienação do estabelecimento empresarial deve necessário se obedecer alguns requisitos. Obs.: A compra de ações, de cotas de uma sociedade não configura o trespasse, mas sim alienação de participação societária, ou seja, a venda de cota, mesmo que todas essas sejam vendidas. Na alienação do estabelecimento, a composição sociedade não sofre qualquer alteração 2.1. Requisitos para o Trespasse São os requisitos do trespasse: Contrato escrito, para que possa ser arquivado na Junta Comercial; Publicação da alienação na imprensa oficial, como o Diário Oficial, ou outro; Anuência ou concordância de todos os credores, dada por escrito ou tácita, vez que se não se manifesta em 30 dias após a comunicação, é interpretada a concordância da alienação. Aluna: Flávia P. Crusoé De todo modo, existe uma forma de se alienar o estabelecimento sem a anuência de todos os credores. Isto se configura quando, vendido o estabelecimento, o património restante for solvente, ou seja, suficiente para saldar as dívidas do empresário. Mas, sendo o caso, as dívidas, devidamente contabilizadas, do estabelecimento empresarial, se transferem ao comprador, mas o vendedor continuará solidariamente responsável por elas pelo período de um ano, a contar do trespasse, para as dívidas vencidas, ou um ano a contar do vencimento, para as dívidas vincendas, que ainda vai vencer, ou seja, um ano a contar a partir do vencimento delas, qual seja. Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento. 2.1.1. Exceções Existem duas exceções, para as dívidas trabalhistas, que segue a Consolidação das Leis Trabalhistas, em seu art. 448-A, e dívidas tributárias, que segue o Código Tributário Nacional, em seu art. 133. Assim, no caso das dívidas trabalhistas há a transferência para o comprador do estabelecimento, mas o vendedor não terá responsabilidade por estas dívidas. Art. 448-A. Caracterizada a sucessão empresarial ou de empregadores prevista nos arts. 10 e 448 desta Consolidação, as obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam para a empresa sucedida, são de responsabilidade do sucessor. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) Parágrafo único. A empresa sucedida responderá solidariamente com a sucessora quando ficar comprovada fraude na transferência. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) No caso das dívidas tributárias, depende da continuação da atividade econômica pelo alienante, de modo, em regra, se o alienante vendedor continuar a exercer alguma outra atividade econômica, ou parar e voltar antes de 6 meses, será ele o responsável pelas dívidas tributárias, ou seja, as dívidas permanecem com ele, não se transferindo ao comprador, mas terá responsabilidade subsidiária. Mas, se o vendedor encerrar definitivamente o exercício de qualquer atividade econômica, deixando de existir quanto agente econômico, ou seja, se aposentar, ou, ainda, parar e voltar depois de 6 meses, será o adquirente comprador integralmente responsável pelas dívidas tributárias. Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob ela ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: I - Integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; II - Subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. § 1o O disposto no caput deste artigo não se aplica na hipótese de alienação judicial: (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005) I – Em processo de falência; (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005) II – De filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005) § 2o Não se aplica o disposto no § 1o deste artigo quando o adquirente for: (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005) É estabelecida a condição do vendedor continuar outra atividade econômica porque o vendedor não pode continuar a mesma atividade econômica que era exercida antes da venda por ele, para se evitar a concorrência desleal 3. Ponto empresarial/locação Ponto empresarial é o lugar onde a atividade empresarial é exercida. Antigamente o empresário fazia questão de ser proprietário do imóvel em que atua, mas hoje não mais, de modo que a locação foi se tornando mais interessante ao empresário. Essa locação tem uma certa proteção legal, através da Lei nº 8.245/1991, que prevê dois tipos de locação, a residencial e a não-residencial. 3.1. Direito de inerência ao ponto empresarial Dentre as hipóteses de locação não-residencial, se tem a locaçãoempresarial, se configurando quando tiver como locatário o empresário e, ainda, quando o imóvel for utilizado no exercício da atividade económica organizada. Aluna: Flávia P. Crusoé A locação empresarial tem uma proteção concedida pelo art. 51 da referida Lei, que se estende à locação não residencial. Assim, é permitida a renovação do contrato de locação compulsória, de modo que o locatário pode renovar mesmo que o locador não queira, chamado o direito de inerência ao ponto ou direito à renovação compulsória, fundamentado nos investimentos e na vinculação de clientela que foi realizado naquele e sob aquele imóvel. Assim, são os requisitos ao direito de direito de inerência ao ponto ou direito à renovação compulsória: O contrato de locação tem de ser escrito e ter prazo determinado; Ter o locatário, pelo menos, 5 anos, ininterruptos de contrato ou contratos, vez que esses, somados, deem mais de 5 anos, inclusive com diferentes titulares, desde que, entre eles, se tenha mantido vínculo jurído, inter vivo ou mortes causa. Assim, os tribunais têm entendido que uma interrupção do vínculo formal para renovação, sem a interrupção do vínculo material, não desnatura o direito de inerência ao ponto; Ter o locatário, pelo menos, 3 anos ininterruptos de efetivo exercício da mesma atividade, quando da propositura da ação renovatória. Os três requisitos devem estar presentes, vez que a renovação compulsória é uma medida excepcional. Assim, o prazo para a propositura da ação renovatória começa quando se estiver a 1 ano do fim do contrato e termina, quando se estiver a 6 meses do fim do contrato. Ou seja, vai de 1 ano a 6 meses anteriores do fim do contrato de locação. É um prazo decadencial não se suspende, não se interrompe e não se prorroga. Proposta a ação e posta para julgamento do juiz, a lei determina que o contrato seja renovado por igual período, mas assim se instaura os questionamento. Assim, a jurisprudência determina a renovação por mais 5 anos, não existindo um limite ao número de renovatória, de mesmo modo que o aluguel é renovado, considerando o valor de mercado. → DEFESAS POSSÍVEIS: existem na lei defesas que o proprietário pode usar para interromper a renovação, não interrompendo o contrato, chamadas de 5 hipóteses de exceção à retomada, presentes no art. 52 e 72 da Lei em questão, quais sejam: I. Uso próprio II. Reforma substancial do prédio locado, iniciada em até três meses após a devolução do imóvel. III. Valor de renovação insuficiente em relação a valor de mercado, proposto pelo locatário; IV. Proposta melhor de terceiro, com indenização; V. Transferência de estabelecimento, existente a mais de um de ano, de cônjuge, ascendente ou descendente. DIREITO CAMBIÁRIO 1. Introdução A sociedade é centrada na assimetria informacional, de modo que não chega a todos de mesma maneira, o tempo todo, considerando ainda os grupos de interesses, que faz com que as pessoas recebam e assimilem aquelas informações que estão dentro desse grupo de interesse. Assim, o ser humano não é só influenciado pelo meio, mas pela formação genética, da mesma forma. Diante disso, o direito cambiário é o ramo do direito empresarial que estuda os títulos de crédito, enquanto instrumentos de circulação da riqueza produzida pelo empresário. Tem um papel importantíssimo sobre a economia empresarial. Os títulos de créditos surgem a partir da invasões bárbaras, à Europa, que deu início ao que foi posteriormente denominado como Idade Média, decorrendo do enfraquecimento dos Estados nacionais, por conta das invasões. Surgem assim os feudos, onde as pessoas se protegiam das invasões. Eram autossuficientes, produziam tudo o que precisavam, mas cada um, por suas características, tinham predisposições naturais, geográfica e climática, e podiam produzir certos insumos numa quantidade além daquela necessária. Quando as invasões e o clima de tensão se acalmavam, as pessoas começavam a sair dos seus feudos e passaram a trocar os insumos que possuíam uma produção em maior quantidade. Assim, as populações começaram a aumentar, Aluna: Flávia P. Crusoé porque elas começaram a ter mais insumos. Percebeu-se ali uma oportunidade, fazendo com que algumas pessoas inclusive se especializassem nessa troca. Esses centros de troca passaram a ser chamados de feiras medievais, e foram crescendo de forma cíclica, de modo que havia maiores trocas, um aumento populacional maior, produções maiores e assim sucessivamente, fazendo com que certas pessoas passassem até morar nas férias, surgindo assim, os burgueses. As pessoas passaram a fazer trocas entre as cidades, de modo que o comercio foi aumento, se configurando, nesse momento, o início da globalização. O problema é que, como não existia uma programa nacional forte, as ruas eram muito inseguras. Por conta disso, as pessoas que saiam de um burgo para outro, com as moedas criadas pelas cidades ao longo do tempo, faziam o câmbio delas na outra cidade, quando chegavam. Assim, essa dificuldade dos ricos em transitar pela cidade com o seu dinheiro passou a ser uma oportunidade, surgindo a operação de câmbio, que seria a ideia de a pessoa entregar o seu dinheiro numa moeda de uma determinada cidade a uma outra pessoa nessa cidade, viajaria de forma segura e, ao chegar na outra cidade, receberia o equivalente àquele valor, com uma taxa abatida e teria seu dinheiro trocado, todo o processo garantido por uma carta. Essas pessoas que passaram O primeiro título de crédito criado no mundo foi, então, a letra de câmbio, decorrente da ideia de “lettera”, carta em italiano, se referindo aquela que era dada como garantia, nas operações de cambio, pelos cambistas. Nasce, então para fazer uma operação pautada na confiança. 2. Conceito Existem dois conceitos para os títulos de crédito, o conceito técnico, que vem da decomposição do título de crédito, e um conceito mais jurídico, que já apresenta as características do título de crédito. O conceito técnico vem da decomposição da expressão título de crédito, de modo que considera que título é um documento que representa algo, uma relação ou situação jurídica, ou seja, que habilita alguém a algo, comprovação a condição de habilitado a certa coisa. Já crédito, vem do latim credere, que vem de crer, acreditar, confiar. Na concepção económica, crédito é a troca de um bem presente, por um bem futuro, representando a relação de confiança. Assim, título de crédito é, considerando o seu conceito técnico, é o documento representativo de uma obrigação pecuniária futura, pautada na confiança. É uma obrigação financeira que vai demonstrar uma relação de confiança. TÍTULO DE CRÉDITO = DOCUMENTO QUE REPRESENTA OBRIGAÇÃO PECUNIÁRIA FUTURA COM CONFIANÇA O conceito festejado pela doutrina, concebido pelo professor italiano Cesare Vivante. Para ele, título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo, nele mencionado. Esse conceito já leva em considerando as três características, ou princípios, do direito cambiário. Quando ele fala no documento necessário, ele se refere ao princípio da cartularidade. Ao falar para o exercício do direito literal, ele se refere ao princípio da literalidade e, quando fala autônomo, trata do princípio da autonomia. TÍTULO DE CRÉDITO PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE PRINCÍPIO DA LITERALIDADE PRINCÍPIO DA AUTONOMIA Aluna: Flávia P. Crusoé 2.1. Princípio da cartularidade O princípio da cartularidade trata da exigência de posse do original do título de crédito para o exercício dos direitos que dele emanam. → SITUAÇÕES DE EXCEÇÃO À EXIGÊNCIA: Perda ou extravio, devidamente comprovada: se o título for perdido é impossível a exigência da posse, então, caso a perda seja devidamente comprovada, autoriza o exercício dos direitos que emanam do título, mesmo osem original. Títulos eletrônicos: só é uma exceção para a doutrina clássica, que entende que a necessidade do meio físico, então, para essa doutrina, o título eletrônico é exceção. Mas a doutrina mais moderna entende que o título eletrônico é exigência original do título. Duplicata: é um título de crédito que autoriza, por lei, o exercício dos direitos que emanam do título, sem a sua original. Lei nº 5.474 de 18 de julho de 1968: Dispõe sobre as Duplicatas, e dá outras providências. Art 15 - A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil, quando se tratar: § 2º - Processar-se-á também da mesma maneira a execução de duplicata ou triplicata não aceita e não devolvida, desde que haja sido protestada mediante indicações do credor ou do apresentante do título, nos termos do art. 14, preenchidas as condições do inciso II deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977) 2.2. Princípio da literalidade O princípio da literalidade trata da exigência de prática de atos jurídicos no próprio título, para que estes produzam efeitos cambiais. Trata da segurança jurídica no direito cambiário, vez que, para que os atos jurídicos produzam efeitos cambiais, eles devem se praticados no próprio título. Desse modo, um ato não praticado no título, será, então, ineficaz, vez que não vai produzir os efeitos esperados ou desejados pelo agente. Ex.: O aval, que é uma garantia fiduciária, ou seja, pautada na confiança que se tem em um terceiro, assim como a fiança, no direito civil, mas ambas possuem diferenças, apesar que terem mesma essência. Assim, o aval praticado no título, produzirá os efeitos esperados e desejados pelo agente, enquanto aquele praticado fora, ineficaz, não produzindo os efeitos esperados pelo agente, produzindo efeitos diferentes, nesse caso, serão os efeitos produzidos pelo instituto a ele equivalência no direito civil, ou seja, a fiança. 2.3. Princípio da autonomia O princípio da autonomia é a independência entre si das obrigações que constam no título de crédito. Desse modo. Se uma obrigação do título for invalidada, inclusive se esta for a principal, as outras não serão alcançadas, mesmo que acessórias, vez que são autônomas e independentes entre si, mesmo sendo praticadas no mesmo título. Tem duas repercussões, a abstração, que trata da independência do título em relação a causa que o originou, e a inoponibilidade de exceções pessoais ao terceiro credor de boa fé, que trata do fato do devedor não poder opor ao terceiro credor de boa fé defesas que tenham como fundamento a sua relação com o credor originário. Isto quer dizer que, caso a relação jurídica seja regida pelo direito civil e não pelo direito cambiário, em uma defesa, pode ser alegados vícios formais, processuais e materiais da relação jurídica original. Se for instrumentalizada por um título de crédito, só poderá ocorrer defesa com base nos vícios formais e processuais, não podendo alegar vícios materiais da relação jurídica original 3. Classificação Os títulos de crédito podem ser classificados de três formas, quais sejam: 3.1. Quanto ao modelo: -Título de crédito de modelo livre: aquele cuja forma não é determinada pela legislação, podendo assim, adotar a forma mais interessante e conveniente, não comprometendo a validade do título, desde que presentes os elementos essenciais. Ex.: Letra de câmbio e a nota promissória. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103290/Lei-n-5.474-de-18-de-Julho-de-1968#art-15 Aluna: Flávia P. Crusoé -Título de crédito de modelo vinculado: aquele cuja forma é determinada pela legislação, prescrita em lei, de modo que a inobservância da forma estabelecida, acarreta a invalidação do título. Ex.: A duplicata e o cheque, que além do modelo vinculado, só pode ser condicionado por instituição financeira autorizada. 3.2. Quanto à estrutura -Título de crédito pode representar uma ordem de pagamento: pressupõe três posições ou situações jurídicas distintas, a posição daquele que emite a ordem, chamado de sacador, aquele a quem se destina a ordem, o destinatário da ordem, chamado de sacado e, por fim, o beneficiário da ordem, chamado de tomador. Importante destacar que uma pessoa única pode acumular a mesma posição ou situação jurídica. SACADOR → SACADO → TOMADOR Ex.: Letra de câmbio, cheque e duplicata. -Título de crédito pode representar uma promessa de pagamento: pressupõe apenas duas posições jurídicas distintas, aquele que promete pagar, chamado de promitente, também conhecido como sacador, e o beneficiário de uma promessa, chamado de promissário, também conhecido como tomador. PROMITENTE → PROMISSÁRIO Ex.: Nota promissória. SACADOR Quem emite a ordem de pagamento. SACADO Destinatário da ordem de pagamento. TOMADOR Beneficiário da ordem de pagamento. PROMITENTE Quem promete pagar. PROMISSÁRIO Beneficiário da promessa. 3.3. Quanto à circulação -Título de crédito ao portador: é o título que não identifica o beneficiário, não traz o seu nome, sendo assim o beneficiário se torna o sujeito que tem a posse do título. Para operar a transferência do crédito, basta transferir a posse, ou seja, a simples tradição é suficiente para alterar o título do crédito. Ex.: -Título de crédito nominativo: é aquele que identifica o beneficiário através do seu nome, podendo ter a cláusula a ordem ou a cláusula não a ordem, de modo que é preciso praticar o ato de transferência do crédito, que é o endosso, não bastando a simples tradição. A cláusula a ordem autoriza a transferência do crédito mediante endosso, permitindo que o crédito seja transferido mediante endosso, ou por opção, cessão de crédito. A cláusula não a ordem proíbe o endosso, de modo que o credor não pode transferir dessa forma, mas por outros meios, mais burocráticos, como a cessão de crédito. Importante destacar que toda cláusula não a ordem deve ser expressa, vez que a cláusula a ordem é sempre implícita. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO MODELO Título de crédito de modelo livre Título de crédito de modelo vinculado CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ESTRUTURA Título de crédito pode representar uma ordem de pagamento Título de crédito pode representar uma promessa de pagamento CLASSIFICAÇÃO QUANTO À CIRCULAÇÃO Título de crédito ao portador Título de crédito nominativo Aluna: Flávia P. Crusoé CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO CAMBIÁRIO 1. Saque A constituição do crédito cambiário é o nascimento, a origem do crédito, incluindo o saque, o aceite, o endosso e o aval. O nascimento original do título é o saque, ou seja, é, tecnicamente, o ato de criação e emissão do título de crédito. Quando se preenche o título, coloca a data e assina, está realizando o saque do título. SAQUE = ATO DE CRIAÇÃO E EMISSÃO DO TÍTULO DE CRÉDITO Um importante características do direito cambiário, inclusive do saque, é que a existência e a solvência de um crédito cambiário caminham juntas, estão vinculadas, diferentemente do direito civil. De modo que o simples reconhecimento da existência de um crédito, repercutirá, necessariamente, na responsabilização da sua solvência, de modo que o responsabilizado vira devedor do título. Quem coloca assinatura no título vira devedor vinculado ao crédito. Obs.: Solvência é o estado do devedor que possui seu ativo maior do que o passivo, ou a sua capacidade de cumprir os compromissos com os recursos que constituem seu patrimônio ou seu ativo. O saque produz o importante efeito de vincular o sacador ao cumprimento da obrigação, vez que ele é o primeiro a assinar o título, reconhecendo a existência do crédito. Para evitar que o título seja antecipado basta inserir no título a cláusula não aceitável, de modo que impede a antecipação do vencimentoda obrigação em relação ao sacador. 2. Aceite O aceita é o ato através do qual o sacado concorda com a ordem incorporada pelo título. A forma que se da a concordância é o aceite, que, por sua vez, é dado através da assinatura, seguida do “aceito”, caso seja no verso. A presunção do aceite, apenas com a assinatura, só se da quando o sacado assina na frente, quando ele assina no verso, onde é a excepcionalidade, deve ser indicado o que está se fazendo. ACEITE = ATO ATRAVÉS DO QUAL O SACADO CONCORDA COM A ORDEM DO TÍTULO O aceite é um ato de livre vontade, de modo que o sacado aceita se quiser. É uma declaração sucessiva, porque vem depois do saque, eventual, porque a ausência do aceite não desnatura o título, e facultativa, porque é de livre vontade. A consequência cambial da recusa do aceite, ou seja, da recusa de integração na relação cambial, é a antecipação do vencimento da obrigação em relação ao sacador. O aceite pode ser parcial, quando se concorda com parte da ordem incorporada pelo título. ACEITE PARCIAL = ATO PELO QUAL O SACADO CONCORDA APENAS COM PARTE DA ORDEM DO TÍTULO Pode ser de dois tipos, podendo ser ambos, simultaneamente: -Aceite parcial limitativo: aquele em que o sacado concorda com apenas parte do valor incorporado pelo título. -Aceite parcial modificativo: aquele em que o sacado concorda com prazo distinto daquele estabelecido pelo título. A consequência do aceite parcial é exatamente a mesma da recusa do aceite, ou seja, da recusa parcial. Assim, a consequência é a antecipação do vencimento de toda a obrigação constante no título, em relação ao sacador, vez que o aceitante só se vincula ao título nos exatos limites do seu aceite. 3. Endosso É o ato de transferência do crédito cambiário, constante de um título nominativo e com a cláusula a ordem, que autoriza a transferência mediante endosso, vez que a clausula não a ordem, proíbe a transferência do crédito mediante ao endosso. Se o título é ao portador, não é necessário do endosso. ENDOSSO = ATO DE TRANSFERÊNCIA DO CRÉDITO CAMBIÁRIO DO TÍTULO NOMINATIVO Aluna: Flávia P. Crusoé O credor que vai efetuar a transferência é chamado endossante ou endossador, e o futuro credor que vai receber a transferência, o beneficiário, o novo credor, chamado de endossatário. O endosso, além da transferência do crédito, produz o importante efeito de vincular o endossante ao cumprimento da obrigação. ENDOSSANTE → ENDOSSATÁRIO Diferentemente da forma geral de prestar o aceite, que é no ante verso, na frente, o endosso, em regra, é realizado no verso do título, de modo que a simples assinatura do credor no verso já configura o endosso. Ele pode ser praticado no anverso, desde que seja indicado aquilo que está sendo realizado. O endossante, para endossar, deve assinar, reconhecendo a existência do crédito cambiário, de modo que está se responsabilizando pela solvência, ou seja, ao endossar o crédito, ele se torna o devedor do título. Mas, se ele insere a cláusula sem garantia na transferência do crédito, ele não se responsabiliza pela solvência do crédito. 3.1. Classificação do endosso Essencialmente, o endosso pode ser classificado quanto à dois critérios. 3.1.1. Quanto à identificação do endossatário -Endosso em branco: também conhecido como endosso geral, é aquele que não identifica o endossatário, de modo que esse será aquele que tiver a posse do título. O endosso em branco produz o efeito de transformar um título nominativo em um título de portador. -Endosso em preto: também conhecido como endosso especial, é aquele que identifica o endossatário, traz o seu nome, indicando quem é. 3.1.2. Quanto aos efeitos produzidos -Endosso próprio: é aquele que produz o efeito de transferir o crédito cambiário, ou seja, que efetivamente o transfere, de forma imediata. -Endosso impróprio: é aquele que produz outros efeitos, não de transferência imediata do crédito cambiário, se dividindo em duas espécies. a) Endosso impróprio mandato: também chamado de endosso procuração. É aquele que não transfere de forma imediata o crédito cambiário em si, mas os poderes relacionados com o exercício do direito de crédito. Assim, esses poderes são o de cobrar, judicial ou extrajudicialmente, de receber pagamento e de dar quitação. b) Endosso impróprio penhor: também chamado de endosso calção e como garantia. É aquele em que o título é dado em garantia de uma outra obrigação. Aqui, se tem dois vencimentos, o do título e da a obrigação que deu origem ao endosso garantia. Cumpre destacar o endosso parcial não existe, não é permitido no ordenamento jurídico, de modo que não há como endossar parte da dívida. Já o endosso condicional, também não é permitido, vez que o ordenamento jurídico não admite condição no endosso, de modo que, caso seja realizado, nesses termos, será valido, produzindo efeitos imediatos independentemente do adimplemento da condição. Assim, a condição em endosso é tida como não escrita. 4. Aval Aval é o ato de garantia fiduciária, fidejussória do crédito cambiário. Normalmente, um credor que exige que um avalista garanta a obrigação constante no título, de modo que o devedor procura um avalista para garantir a sua obrigação. Cumpre destacar que segue a mesma regra do aceite, quanto à assinatura. AVAL = ATO DE GARANTIA DO CRÉDITO CAMBIÁRIO O garantidor da obrigação é chamado de avalista, e aquele que tem a sua obrigação garantida, de avalisado. Trata de uma garantia fundada no sujeito. Assim, o avalista se torna solidariamente responsável pela obrigação do avalisado, sendo tão devedor quanto o respectivo avalisado. AVALISTA → AVALISADO Aluna: Flávia P. Crusoé Na fiança, também se tem uma garantia fiduciária ou fidejussória, fundada no sujeito. Na fiança, o garantidor é chamado de fiador e, aquele que tem a sua obrigação garantida, de afiançado. O fiador não é, em regra, solidariamente responsável pela obrigação do afiançado, vez que nesse instituto, em regra, existe o chamado benefício de ordem. O credor de uma obrigação garantida por fiança, em primeiro lugar, tem de demandar o afiançado para depois demandar o fiador, o que não existe no aval, vez que o avalista é solidariamente responsável pela obrigação do avalisado. Outra diferença é quanto á autonomia, vez que as obrigações constantes de um título de crédito são autônomas entre si, de modo que a obrigação do avalista é independente, e a obrigação do fiador é acessória. A fiança, ainda, pertence, por fim, ao direito civil, enquanto o aval é, essencialmente, uma obrigação pertencente ao direito cambiário. Quanto as suas semelhanças, cumpre destacar que são duas obrigações, garantias, fiduciárias, aquela pautada na confiança que se tem em relação à um terceiro. FIANÇA X AVAL DIFERENÇAS SEMELHANÇA Necessidade da fiança de demandar ao afiançado para depois demandar o fiador, não há solidariedade pela obrigação, como no aval; Obrigações do título de crédito são autônomas, enquanto a obrigação do fiador é acessória; Fiança pertence ao direito civil, aval ao direito cambiário. Garantia fiduciária, pautada na confiança à um terceiro. Existem dois tipos de aval: -Aval em branco: é aquele em que não se identifica o avalisado, garantindo a obrigação do sacador do título, aquele quem emitiu o título. -Aval em preto: por sua vez, identifica o avalisado, diz quem é o garantido, aquele que tem sua obrigação garantida. Nesse sentido, cumpre destacar a Lei Uniforma de Genebra- LUG, que é um tratado internacional sobre títulos de crédito, assinado em 1930, incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro em 1966, através do Decreto nº 57.663. LUG Art. 31. O aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa. Exprime-se pelas palavras "bom para aval" ou por qualquer fórmula equivalente; e assinado pelo dador do aval. O aval considera-secomo resultante da simples assinatura do dador aposta na face anterior da letra, salvo se se trata das assinaturas do sacado ou do sacador. Há também a distinção entre aval simultâneo e aval sucessivos: -Aval simultâneo: é quando dois avalistas garantem a mesma obrigação, em relação ao mesmo devedor. -Aval sucessivos: é quando existe um avalista para o avalista do devedor, em sequência. EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO CAMBIÁRIO 1. Introdução De início, cumpre destacar que a exigibilidade do crédito cambiário é o momento de exercício dos direitos que emanam do título de crédito. Os devedores do título de crédito podem ser divididos em duas categorias: a do devedor principal e dos coobrigados. O devedor principal da obrigação cambial é o aceitante, enquanto os coobrigados são o sacador e o endossante. O analista, por sua vez, deve ser enquadrado na mesma categoria do avalisado. A razão para isso é o requisito de exigibilidade do crédito contra o devedor principal e contra os coobrigados. Para exigir o cumprimento da obrigação contra o devedor principal, basta o vencimento. Para exigir o cumprimento da obrigação de qualquer um dos coobrigados, além do vencimento, é necessária, também, a prova que de foi cobrado do devedor principal, por conta do caráter subsidiário da sua obrigação. Aluna: Flávia P. Crusoé A existência do cartório de protesto serve justamente para garantir que se prove que foi cobrado do devedor principal, de modo que se entrega, no cartório, o título, indica-se o endenteço do devedor e o cartório notifica o devedor, de modo que, caso o sujeito não pague, o cartório irá lavrar o instrumento de processo, explicando a situação. Assim, se tem um agente público emitindo uma declaração que tem fé publica, demonstrando a negativa de pagamento por parte do devedor principal. Se tem assim o documento que prova a cobrança, e o não pagamento, que é o protesto. PROTESTO = FORMALIDADE QUE COMPROVA A NEGATIVA DE PAGAMENTO POR PARTE DO DEVEDOR PRINCIPAL Os devedores do título de crédito podem ser organizados em cadeia. Em primeiro lugar, se tem o devedor principal, ou seja, o aceitante e o seu respectivo avalista, caso houver. Em segundo lugar, se tem o sacador e o seu respectivo avalista e, em terceiro lugar, se tem os endossantes em ordem cronológica, também com seus respectivos avalistas, caso haja. BARREIRA SUPERADA APÓS O PROTESTO Assim, entre o primeiro lugar da cadeia e os demais, se tem uma barreira, vez que a relação entre o devedor principal, o aceitante, e os coobrigados, que é a subsidiariedade. Para se ultrapassar a barreira, deve se utilizar do protesto, de modo que, uma vez realizado, a relação subsidiária, passa a ser solidária, dessa vez, empresária, e a barreira cai. A relação estabelecida entre avalista e avalisado é de solidariedade civil. Antes do protesto, a relação entre devedor principal e coobrigados, é de subsidiariedade, de modo que, após o protesto, a relação estabelecida entre todos os devedores do título de crédito é de solidariedade empresarial. Na solidariedade empresarial, o credor pode cobrar de quem ele quiser, desde que realizado o protesto. Trata do fato de que, feito o protesto, o credor pode exigir o cumprimento da obrigação de qualquer devedor, de modo que, o devedor demandado, ao pagar, extingue a sua obrigação e a de quem esta depois dele, surgindo o direito de regresso contra esta antes dele. Dentre os que estão antes, qualquer um pode ser demandado, e o demandado ao pagar, extingue a sua obrigação e a de quem esta depois, surgindo o direito de regresso contra quem esta antes, e assim, sucessivamente. A principal diferença é que na solidariedade civil, extingue apenas a sua obrigação, enquanto na solidariedade empresarial, quem paga, extingue a sua obrigação e a obrigação de quem esta depois, surgindo um direito de regresso à apenas quem esta antes. A ordem assim, não serve para ser seguida, mas sim para apenas saber quem esta antes e quem esta depois, organizando o direito do regresso, até que se chegue ao devedor principal, o aceitante. 2. Vencimento O vencimento é, tecnicamente, o ato ou fato jurídico, determinado em lei, como necessário a tornar o crédito cambiário exigível, de modo que só se pode exigir o cumprimento de uma obrigação, constante em um título de crédito após o seu vencimento. VENCIMENTO = ATO OU FATO LEGAL NECESSÁRIO PARA A EXIGIBILIDADE CAMBIÁRIA Se divide em vencimento ordinário, aquele comum, corriqueiro, cotidiano, que pode ser a prazo, que é o decurso do tempo, ou pode ser a vista, não é imediato, mas sim aquele que ocorre quando o credor apresenta o título ao devedor, para pagamento, decorrendo de uma conduta humana. Pode ser também classificado como vencimento extraordinário, que foge daquilo que é comum, ordinário. Pode ocorrer através da recusa do aceite e a falência do aceitante, nos dois casos, gera a antecipação do vencimento, também duas condutas humanas. 1º LUGAR ACEITANTE + AVALISTA 2º LUGAR SACADOR + AVALISTA 3º LUGAR ENDOSSANTE + AVALISTA 4º LUGAR ENDOSSANTE + AVALISTA (...) Aluna: Flávia P. Crusoé É importante destacar a regra mais importante do prazo, qual seja, a de que prazo não se converte, de modo que deve ser contado na mesma unidade em que foi fixado, salvo se a unidade não estiver inteira. Obs.: Meio do mês é sempre dia 15 daquele mês, de modo que a expressão “daqui meio mês” é daqui 15 dias, e, por fim, fim do mês será sempre o último dia do mês. 3. Pagamento Pagamento é a forma natural de extinção da obrigação, é o adimplemento obrigacional. Ao realizar o pagamento, o devedor tem que se cercar de cautelas, de cuidados. O primeiro cuidado do devedor diz respeito aos cuidados genéricos, gerais das obrigações, como pagar a credor capaz, legítimo, mediante recibo. De todo modo, existem cautelas específicas de pagamento de um título de crédito. → CAUTELAS ESPECÍFICAS DO PAGAMENTO DE UM TÍTULO DE CRÉDITO: Exigir que a quitação seja dada no próprio título, em razão do princípio da literalidade; Exigir que o título seja entregue ao devedor, de modo que deve ele exigir que o credor o entregue, em razão do princípio da cartularidade; No Brasil, se o vencimento acontecer em dia não útil, o pagamento é prorrogado para o primeiro dia útil subsequente. Para fins obrigacionais, é considerado dia útil, tecnicamente, aqueles em que há expediente bancário. 3.1. Espécies O pagamento se divide em três espécies. PAGAMENTO LIBERATÓRIO OU EXTINTIVO É aquele feito pelo devedor principal, vez que, quando ele paga, todos são liberados da obrigação e todas as obrigações são extintas. PAGAMENTO RECUPERATÓRIO É aquele feito por um coobrigado, vez que quando ele paga, nasce o direito de regresso, contra os coobrigados que estão antes dele, ou seja, o direito de recuperar o valor pago. PAGAMENTO POR INTERVENÇÃO É aquele feito por um terceiro, aplicando-se as regras gerais das obrigações. Existem algumas situações em que o devedor está obrigado a não pagar, a negar o pagamento, sob pena de pagar novamente. Essencialmente, quando ele é notificado do extraio do título. Além disso, não deve pagar em caso de falência do credor, que deve fazer o deposito em juízo da massa falida, ou incapacidade do credor, devendo pagar ao assistente ou representante. 4. Protesto Protesto é o ato formal para a comprovação da negativa de pagamento, por parte do devedor principal, a falta de aceite ou a falta de data do aceite. Serve, então, para comprovar uma ausência, a falta, uma não conduta que deveria acontecer e não aconteceu, o chamado ato negativo. O protesto comprova então a falta de aceite, que deveria ter acontecido e não aconteceu, a falta de data de aceite, aquela que deveria ter sido colocada e não foi, ou a falta de pagamento.VENCIMENTO ORDINÁRIO À PRAZO À VISTA VENCIMENTO EXTRAORDINÁRIO ATRAVÉS DA RECUSA DO ACEITE ATRAVÉS DA FALÊNCIA DO ACEITANTE Aluna: Flávia P. Crusoé A preocupação com a data do aceite, na grande maioria dos casos, não existe. Se o vencimento é a vista, em data certa ou certo termo da data, pouco importa a data do aceito. Mas, existem em alguns títulos cujo vencimento ocorre a certo termo da vista, a data do aceite importa. Nessas situações, existem alguns caminhos para que se prove a data do aceite e, consequentemente, a data que se começa a contar o prazo. A melhor opção é realizar o protesto, de modo de a falta de data do aceite vai ser importante para fins de protesto, se o vencimento do título for a certo termo da vista, porque, pelo menos o prazo de vencimento será iniciado. Cumpre destacar que o protesto por falta de aceita ou falta de data de aceita é o menos comum, de modo que é mais corriqueiro o protesto por falta de pagamento. Assim, esse último tem a função de conservar o direito de crédito contra os coobrigados, de modo que só será possível essa cobrança, se realizar o protesto no prazo. Cada título tem seu prazo, mas a regra geral do prazo para o protesto por falta de pagamento é no primeiro dia útil após o vencimento. Para saber quem é credor não precisa de protesto, ele é necessário apenas para saber quem será coobrigado, vez que se estabelece a solidariedade empresarial. É importante destacar que existe uma forma de não precisar do protesto para exercer o direito que emana do título. Se ao emitir o título, for colocada a cláusula sem despesa ou sem protesto, dispensa o protesto, para fins de conservação do direito de crédito dos coobrigados. Nesse caso, os efeitos do protesto serão transferidos para o vencimento, antecipando os efeitos do protesto para o vencimento. 5. Ação cambial O que se chama de ação cambial é o conjunto de medidas para exercício dos direitos que emanam de um título de crédito. Assim, a primeira medida para exercer os direitos que emanam de um título de crédito, vez que é um título executivo, é uma ação de execução. O prazo para ação de execução é de 3 anos a contar do vencimento para o exercício dos direitos contra o devedor principal. Para propor ação contra qualquer um dos coobrigados, o prazo é de 1 ano, a contar do protesto, caso não tenha cláusula sem despesa ou sem protesto, ou, ainda, será os prazos de 6 meses, a contar do pagamento, para que aquele coobrigado que pagou exerça o seu direito de regresso. PROTESTO FALRA DE ACEITE FALTA DE DATA DE ACEITE FALTA DE PAGAMENTO P R A Z O P A R A A Ç Ã O D E E X E C U Ç Ã O 3 ANOS A CONTAR DO VENCIMENTO CONTRA O DEVEDOR PRINCIPAL 1 ANO A CONTAR DO PROTESTO CONTRA QUALQUER UM DOS COOBRIGADOS 6 MESES A CONTAR DO PAGAMENTO PARA QUE O COOBRIGADO QUE PAGOU EXERÇA O DIREITO DE REGRESSO Aluna: Flávia P. Crusoé Caso haja perda do prazo da ação de execução, é realizada a ação monitória, que reestabelece a executividade do título. O prazo da ação monitória, então, é de 5 anos a contar do vencimento. Súmula nº 503 do STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula. Súmula nº 504 do STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título. Em caso de perda do prazo da monitória, ainda se pode propor uma ação ordinária de cobrança, com base no fato que deu origem ao título. Desse modo, não é mais uma ação cambial, vez que o fundamento não é mais o título. Quanto à prescrição, depende do fato que deu origem ao título, vez que começa a ser contado a partir da data do próprio fato. ESPÉCIES DE TÍTULO DE CRÉDITO 1. Letra de câmbio É a ordem incondicional de pagar quantia indeterminada. Nessa espécie, é identificado o sacador, sacado e tomador. 2. Nota promissória É a promessa incondicional de pagar quantia determinada. Nessa relação, é identificado o sacador e tomador, ou seja, promitente e o promissário. Todas as regras da letra de cambio, se aplicam às notas provisórias, exceto aquelas incompatíveis com a sua natureza, ou seja, as regras do aceite não se aplicam às notas promissórias. 3. Cheque O cheque é uma ordem de pagamento à vista, emitida contra o banco, ou seja, contra o sacado, de modo que depende de prévia relação jurídica estabelecida entre o sacador e o banco, além da necessidade de o sacador emitir a ordem, bem como a necessidade da existência de previsão de fundos para fazer jus à ordem de pagamento. CHEQUE = ORDEM DE PAGAMENTO À VISTA CONTRA O BANCO Fazem parte dessa relação o sacador, o sacado e o tomador, de modo que não existe o não-aceite. É fundamental, assim, que haja fundo próprio, ou seja, dinheiro disponível na conta. A vantagem do cheque se dá por se tratar de um título de crédito à vista, mesmo sendo utilizado o cheque pré-datado. Este, por sua vez, não perde a essência de ser uma ordem de pagamento à vista, considerando, ainda, que o saque de cheque pré-datado em data anterior à data que foi prevista gera dano moral. Cheque se divide nas seguintes espécies: Cheque ao portador: nesse caso, quem tiver em mão basta a apresentação da ordem de pagamento ao banco. Cheque nominativo: que pode ser “à ordem”, quando se realiza o endosso, ou “não à ordem” que é transferível por sessão de crédito, vez que retira a obrigação do coobrigado, O cheque dentro da mesma praça, ou seja, dentro do mesmo município possui prazo de 30 dias para ser apresentado, mas, se forem em praças diferentes, dobra-se o prazo, sendo de 60 dias. O objetivo do prazo é que não se gere uma preocupação eterna ao sacador, de modo que visa não atribuir o ônus de verificação constante das compensações dos cheques, ao sacador. CHEQUE DE MESMA PRAÇA → 30 DIAS PARA APRESENTAÇÃO CHEQUE DE PRAÇAS DIFERENTE → 60 DIAS PARA APRESENTAÇÃO EXECUÇÃO DO TÍTULO DE CRÉDITO AÇÃO MONITÓRIA AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA Aluna: Flávia P. Crusoé Todos os institutos do direito cambiário se aplicam ao cheque, com exceção do aceite. Em relação ao endosso, a doutrina, hoje em dia, entende que o cheque pode circular sem limite de endosso. Em relação ao comércio, não existe uma obrigação de aceitar o cheque, apenas devendo ser evidenciado, nos estabelecimentos que não aceitem, a impossibilidade de pagamento através de cheque. Ainda, possa ser que ocorra a emissão de ordem que não tenha previsão de fundo. Caso ocorra, é possível se propor uma ação de execução cambiária ou execução civil, de modo que, não é exigível o protesto para promover a execução judicial, sendo meramente facultativo quando se trata de cheque. Destaca-se o cheque após a devolução devido ao prazo da propositura, vez que esse é de 6 meses contados a partir da apresentação. Passado os 6 meses, o sujeito pode recorrer à ação monitória, devendo-se observar os acréscimos. O cheque ainda pode se dividir em: Cheque pró-solvendo: quando ocorrer a devolução do cheque e, assim, o beneficiário poderá desfazer o negócio. Cheque pró-soluto: nesses casos, o beneficiário não desfaz o negócio, mas recebe um direito de crédito em relação ao emissor do cheque. → REQUISITOS DO CHEQUE: Nome do banco; Nome do sacador, ou seja, titular da conta; Assinatura do sacador; Indicação do local da emissão do cheque. É possível sustar o cheque, ou seja, suspender, interromper o cheque, contanto que sejam elencados os motivos que justifique que o banco não pague, sendo necessário indicar o motivo legal, a causa relevante, como um furto ou um roubo, vez que, caso se suste por uma razão indevida, recairá sobre o beneficiário. Por fim, destaca-se o cheque administrativo, queé emitido pelo banco contra uma das suas filiais, em favor de um terceiro, ou seja, é um cheque que tem uma maior garantia, vez que o próprio banco se responsabiliza pelo pagamento. 4. Duplicata Decorre de uma compra e venda mercantil, por isso também é chamada de duplicata mercantil. Se tem, dessa forma, o vendedor, ocupando o lugar de sacador, ou seja, quem emite o título de crédito, e o comprador, que é aquele que realizará o pagamento, envolvendo, assim, a relação entre empresários e a consumerista VENDEDOR → COMPRADOR Assim, o vendedor é, ao mesmo tempo, sacador e tomador, vez que gera o título e se beneficia dele. O prazo para extratação da fatura dependerá da data de entrega da mercadoria ou do momento em que é realizado o despacho da mercadoria. A fatura é a nota de venda, que hoje se configura como nota fiscal, de modo que engloba a fatura. Na nota fiscal, deve conter as informações essenciais sobre a mercadoria, mesmo pela finalidade de alegar alguma incoerência no recebimento. Dessa forma, hoje em dia se emite a nota fiscal-fatura, vez que é fiscal para fins tributários, perante o fisco, e fatura para fins cambiários, sendo emitidos no mesmo momento. FATURA = NOTA DE VENDA = NOTA FISCAL = NOTA FISCAL-FATURA No ato de emissão da nota fiscal-fatura, que pode não ser obrigatória, o vendedor emite e saca a duplicata, de modo que a não emissão da duplicata gera a impossibilidade de se imitir qualquer outro título de crédito, assim, a emissão da duplicata torna-se uma obrigação. A compra e venda mercantil pode ser paga por meio de cheque ou nota promissória, vez que são formas de pagamento. Já a duplicata, não pode corresponder à mais de uma nota fiscal-fatura. Aluna: Flávia P. Crusoé Na duplicata, o aceite é obrigatório, de modo que o sujeito recorre ao vendedor, com a intenção de pagar depois, fazendo com que o vendedor providencie a duplicata e a envie junto com o produto, estabelecendo, assim, a operação em sua forma originária. Todavia, o vendedor, hoje em dia, trabalha com o banco, de modo que emite a nota fiscal-fatura junto com o título, ou seja, o boleto bancário, enviando ao comprador, que realiza a operação com o banco e deve retornar a duplica, o título. O comprador só poderá não aceitar se for de forma fundamentada, como por exemplo um desajuste entre o que foi acertado e o que foi entregue ou se não receber o produto. Nesses casos, o aceite pode ser ordinário, de modo que o comprador assina e devolve o título. Pode ser por comunicação, quando o comprador retém o título, mas envia uma comunicação que realizou o aceite ou, pode, ainda, ser por presunção, quando não há motivo para a recusa do aceita, de modo que, se não há recusa, a mercadoria é entregue como combinado, vez que o vendedor presumiu o aceite. Adicionalmente, na duplicata, pode-se realizar o protesto por falta de pagamento, por falta de aceite ou, ainda, por falta de devolução da duplicata, podendo ser realizado, em decorrência de qualquer das hipóteses, em até 30 dias. Caso perdido o prazo, o credor perde o direito de regresso em relação aos coobrigados, ou seja, o endossante e o avalista. O protesto por indicação poderá ocorrer caso haja a falta de devolução do título, onde o credor requere ao cartório que realize o protesto com base nas provas que tiver em mãos, sendo assim, uma exceção ao princípio da cartularidade. A triplicata é a segunda via da duplicata emitida quando a duplicata é extraviada, de modo que esta emissão deve conter os requisitos idênticos ao da figura original. TRIPLICATA = SEGUNDA VIA DA DUPLICATA EXTRAVIADA A execução judicial da duplicata é realizada por meio de uma petição com o devido acompanhamento do título de crédito. Caso seja promovida contra o sacado ou contra o avalista, dispensa-se o protesto. Contudo, se o executado for o coobrigado do endossante, é necessário que se realize o protesto. O prazo prescricional para o sacado e o avalista é de 3 anos, da mesma forma que existe uma norma, mais benéfica, dispensando o protesto. Nos casos contra o coobrigado, o prazo é de 1 ano. Cumpre destacar que a duplicata é um título de crédito casual, que só pode ser emitido nos casos previstos em lei, de modo que ainda segue um modelo designado pelo Banco Central, assim como o cheque. → REQUISITOS DA DUPLICATA: Expressão duplicata; Valor expresso; Quem é o sacador e o seu domicílio; Quem é o sacado e o seu domicílio; Data de vencimento; Número de série da nota fiscal-fatura; Assinatura. ACEITE NA DUPLICATA ORDINÁRIO: COMPRADOR ASSINA E DEVOLVE O TÍTULO POR COMUNICAÇÃO: RETÉM O TÍTULO E COMUNICA QUE ACEITOU POR PRESUNÇÃO: NÃO HÁ MOTIVO PARA RECUSA DO ACEITE Lei nº 8.934 de 18 de novembro de 1994 Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976 Lei nº 5.474 de 18 de julho de 1968: Dispõe sobre as Duplicatas, e dá outras providências.