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MAYRA SOARES PROCOPIO REFLEXÕES SOBRE AS VANTAGENS DO ENSINO DE LIBRAS NA ESCOLARIZAÇÃO DOS ALUNOS OUVINTES Trabalho Final de Curso apresentado como requisito para a obtenção do título de especialista em Educação Inclusiva com ênfase em Libras, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Orientadora: Profa. Dra. Raquel Elizabeth Saes Quiles Benini Campo Grande/ MS 2021 MAYRA SOARES PROCOPIO REFLEXÕES SOBRE AS VANTAGENS DO ENSINO DE LIBRAS NA ESCOLARIZAÇÃO DOS ALUNOS OUVINTES Trabalho Final de Curso apresentado como requisito para a obtenção do título de especialista em Educação Inclusiva com ênfase em Libras, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Profa. Dra. Raquel Elizabeth Saes Quiles Benini Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) ______________________________________ Prof. Me. Francimar Batista Silva Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) ______________________________________ Prof. Dr. Wellington Furtado Ramos Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) 1 Reflexões sobre as vantagens do ensino de Libras na escolarização dos alunos ouvintes Reflections about the advantages of teaching Libras in the schooling of hearing students Mayra Soares Procopio RESUMO A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é uma língua que possui elementos visuais e espaciais específicos, favorecendo uma modalidade linguística particular que pode ser vislumbrada em expressões manuais e corporais arquitetadas em movimentos dinâmicos e estáticos, se diferindo dos idiomas orais. Nesse sentido, o objetivo principal desta pesquisa é identificar as vantagens do ensino da Libras na escolarização dos alunos ouvintes. Especificamente, buscou-se: difundir a importância da Libras para sujeitos ouvintes; e demonstrar as vantagens do aprendizado da Libras nos aspectos cognitivos e físicos. Trata-se de um estudo de caráter exploratório e explicativo, desenvolvido a partir de uma revisão bibliográfica, realizou-se, de forma criteriosa, o levantamento de produções acadêmicas relacionadas com o tema nas bases de dados científicos, e com dialogo nas discussões com a base teórica em todas as seções. Os dados do estudo evidenciaram que a aprendizagem de Libras nos aspectos cognitivos: amplia os conhecimentos no repertório das experiências linguísticas do educando como segunda língua; estimula como ferramenta didático-pedagógica as possibilidades de leitura, vocabulário, na alfabetização da Língua Portuguesa, na interpretações das imagens visuais, na aquisição de habilidades cognitivas e de novas conexões cerebrais; e nos aspectos físicos: potencializa o desenvolvimento da expressão corporal, corporeidade e psicomotricidade. Palavras-chave: Libras; Escolarização; Alunos ouvintes. ABSTRACT The Brazilian Sign Language (Libras) is a language that has specific visual and spatial elements, favoring a particular linguistic modality that can be glimpsed in manual and body expressions architected in dynamic and static movements, differing from oral languages. In this sense, the main objective of this research is to identify the advantages of teaching Libras in the schooling of hearing students. Specifically, it sought: to spread the importance of Libras for subject listeners, and demonstrate the advantages of learning Libras in cognitive and physical aspects. This is a study of exploratory and explanatory nature, developed from a literature review, it was performed, in a careful way, the survey of academic productions related to the theme in scientific databases, and with dialogue in the discussions with the theoretical basis in all sections. The study data showed that learning Libras in cognitive aspects: expands the knowledge in the repertoire of linguistic experiences of the student as a second language; stimulates as a didactic-pedagogical tool the possibilities of reading, vocabulary, in literacy of the Portuguese language, in the interpretation of visual images, in the acquisition of cognitive skills and new brain connections; and in physical aspects: enhances the development of body expression, corporeality and psychomotricity. Keywords: Libras; Schooling; hearing students. 2 Introdução A Libras é legitimada através da Lei nacional vigente (Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002) como língua de direito das comunidades surdas (BRASIL, 2002). Sendo, uma Língua marcada por proibições e preconceitos. Por esta razão, a minoria surda se manteve refém de uma ideologia dominante com pensamentos inflexíveis, referindo-se a tudo que é diferente do padrão social como “anormal” e antiquado, em um molde social dito como superior. (GESSER, 2009; BISOL, 2010). Isso não significa que os surdos aceitaram pacificamente essa condição. A comunidade surda, com muita resistência e persistência, seja relacionada ao campo da educação, politica ou social, têm reivindicado seus direitos linguísticos por meio de marcos legais e normativos que vêm rompendo paradigmas, como Leis que garantam uma escolarização coerente e atenta às suas singularidades. No entanto, no âmbito escolar ainda há entraves quando se refere sobre o processo de escolarização de Libras para os surdos, tornando a Libras de difícil acesso para o aluno surdo e no compartilhamento nos espaços escolares. Partindo destas prerrogativas iniciais, considera-se importante refletir sobre Libras no contexto educacional, visando o alcance de um território linguístico compartilhado. Desta forma, o presente estudo consiste em uma revisão bibliográfica que tem sua gênese na seguinte problemática: o ensino de Libras possui vantagens na escolarização dos alunos ouvintes? Esta questão se coloca, na atualidade, como um problema de pesquisa por permitir reflexões sobre a educação inclusiva na perspectiva da ampliação das possibilidades de aprendizagens de Libras para alunos surdos e ouvintes. Assim, este estudo tem como objetivo geral identificar as vantagens do ensino de Libras na escolarização dos alunos ouvintes, pois a hipótese é que a Libras tem sido entendida somente como um fator de inclusão unilateral, do surdo, e que não há vantagens, para além da socialização, a aprendizagem da Libras para alunos não-surdos. Na tentativa de contribuir com as mudanças deste cenário, especificamente a pesquisa busca difundir a importância da Libras para sujeitos ouvintes; e demonstrar as vantagens da aprendizagem da Libras nos aspectos cognitivos e físicos para alunos ouvintes. 3 O interesse por este tema ocorreu por uma vontade pessoal1. A Língua de Sinais me encanta pelo fato de que, na minha concepção, o movimento traz vida, e se tornou ainda mais atrativo pelas minhas escolhas de formações acadêmicas associada ao movimento em Educação Física e Fisioterapia, no qual tenho contato com surdos, mas com muitas frustações por não conseguir me comunicar, “de igual para igual”. Assim, neste estudo tenho a oportunidade de trazer reflexões que possam impulsionar mudanças para as gerações futuras. Metodologicamente, esta pesquisa tem caráter exploratório e explicativo, sendo desenvolvida a partir de uma revisão bibliográfica, por meio de questionamentos pré-definidos. O problema e objetivos de pesquisa são tratados na abordagem metodológica qualitativa, que não poderá ser traduzida em números, pois como mencionam Marconi e Lakatos (2003, p. 104): “há casos em que a passagem para a qualidade nova é realizada através de mudanças qualitativas graduais, como ocorre com as transformações de uma língua”. O detalhamento dos procedimentos metodológicos será explicitado na próximaseção do artigo. Posteriormente, analisa-se como acontece a escolarização no âmbito educacional, apresentando a legislação e as brechas para um aprendizado da Libras para alunos ouvintes. Em seguida, apresentam-se as vantagens do aprendizado da Libras e sua importância no ensino para alunos ouvintes, destacando as habilidades possíveis no aprendizado de serem alcançadas neste processo. As considerações finais trazem reflexões pontuais sobre os principais resultados atingidos no estudo. Em busca de produções acadêmicas: procedimentos metodológicos Uma pesquisa bibliográfica pode ser realizada de diversas maneiras. Neste estudo, optou-se pela sistematização, descrição e análise de produções acadêmicas que contribuem com o assunto em debate. Assim, o desenvolvimento da pesquisa bibliográfica ocorreu da seguinte maneira: realizou-se, de forma criteriosa, o levantamento de produções acadêmicas relacionadas com o tema nas seguintes bases de dados científicos: Scielo, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e Periódicos Capes. Os descritores utilizados foram as palavras-chave do estudo, em todas as combinações possíveis. Deste modo, foi verificada uma escassez de 1 Considerando o relato pessoal da pesquisadora, este parágrafo está escrito na primeira pessoa do singular. 4 produções sobre o assunto nesta área de conhecimento. Na progressão desta fase, o critério de inclusão foi a opção por produções acadêmicas que abordam a Libras relacionando-a com a aprendizagem para alunos ouvintes. Assim, foram excluídos todos os trabalhos que não tratavam desta relação. No total foram selecionadas 23 produções. Após a leitura, na íntegra, dos textos, 07 foram escolhidos, por terem mais aproximações com o intento da pesquisa. Um quadro com as informações dessas produções e uma breve apresentação destes trabalhos serão explicitados a seguir: Quadro 01- Produções acadêmicas escolhidas para a pesquisa AUTORES TÍTULO ANO TIPO DE TRABALHO ACADÊMICO BASE DE DADOS Hivi de Castro Ruiz Marques; Sonia Mari Shima Barroco; Tânia dos Santos Alvarez da Silva O ensino da Língua Brasileira de Sinais na Educação Infantil para crianças ouvintes e surdas: considerações com base na Psicologia Histórico-Cultural. 2013 Artigo científico Scielo Revista Brasileira de Educação Especial Ana Cristina Silva Daxenberger; Bruno Ferreira Silva O Ensino de Libras em uma escola no município de Areia-PB, por meio de extensão universitária. 2018 Artigo científico Google Acadêmico Revista Educação e Emancipação (UFMA) Lídia da Silva A cognição e os princípios teóricos e metodológicos ao ensino de Libras para ouvintes: orientações a professores iniciantes. 2020 Artigo científico Periódicos CAPES Revista Linguagem em Foco Marluce Maria Werle; Grasiela Kieling Bublitz A inclusão de Libras no currículo da Educação Infantil da escola regular: uma proposta possível? 2017 Trabalho de Conclusão de Curso Google Acadêmico (Univates) Girlaine Felisberto de Caldas Aguiar Ensino de Libras para aprendizes ouvintes: a injunção e o espaço como dimensões ensináveis do gênero instrução de percurso. 2019 Dissertação de Mestrado BDTD (UFCG) Maria Cristina Iglesias Roa Libras como segunda língua para crianças ouvintes: avaliação de uma proposta educacional 2012 Dissertação de Mestrado BDTD (UFSP) Raquel Elizabeth Saes Quiles Educação de surdos em Mato Grosso do Sul: desafios da educação bilíngue e inclusiva 2015 Tese de Doutorado BDTD (UFSCar) Fonte: Produzido pela autora. Como ponto de partida para nossas reflexões, a Dissertação de Mestrado da autora Aguiar (2019) apresenta uma pesquisa que propõe o gênero textual introdutório de base para ser ensinado na disciplina de Libras que enfoca a importância da Libras na escolarização para ouvintes. Na pesquisa de Silva (2020) revela-se, nos estudos linguísticos da aquisição de uma 5 nova língua, a conectividade das sinapses neurais que propiciam um melhor processamento cognitivo. A autora explicita sobre os métodos superficiais utilizados no ensino de Libras para alunos não-surdos. Já Werle e Bublitz (2017) relatam sobre o explorar, na escola, as diversas habilidades comunicativas e retratam, em sua pesquisa, resultados com crianças ouvintes de 2 a 3 anos: o interesse, naturalidade e obtenção de um maior repertório de linguagens, em contato com a Libras. Nesta mesma direção, a Dissertação de Mestrado de Roa (2012) demostra a Libras como segunda língua para crianças ouvintes, indicando um planejamento trimestral e uma avaliação como proposta educacional para surdos. Na análise do artigo dos autores Daxenberger e Silva (2018), evidenciam-se relatos sobre o ensino de Libras para crianças ouvintes, identificando a importância de Libras para estes alunos na prática de inclusão, por meio dos repertórios de linguagens. Na abordagem da Libras na área da Psicologia, Marques, Barroco e Silva (2013) oferecem um estudo na perspectiva histórico-cultural, enfatizando a importância de valores éticos no compromisso de oferecer a Libras para um desenvolvimento integral e humanização dos surdos. A Tese de Doutorado da autora Quiles (2015), apesar de não ter foco na aprendizagem da Libras por ouvintes, proporciona a este estudo situações-problemas das escolas em relação aos surdos e o conflito dos termos educação inclusiva e educação bilíngue. Para finalizar esta seção, é importante destacar a discussão teórica de alguns temas relacionados ao objeto deste estudo, e a partir desses temas evidenciam-se discussões junto as contribuições das 07 produções acadêmicas selecionadas na revisão bibliográfica. Ou seja, não há uma seção única, para as ponderações dos autores listados no Quadro 01. Por uma expectativa na regulamentação do aprendizado da Libras para alunos ouvintes A escolarização é uma junção da organização da politica escolar com a rede de ensino, em prol de um referencial curricular teórico que atenda o ser social de maneira integra, e assertiva para cada fase do conhecimento escolar, para favorecer o desenvolvimento do saber para os educandos. Sobre este assunto, NEVES et al (2017 p.347): 6 O processo de escolarização da infância, seja na Educação Infantil ou no Ensino Fundamental, coloca os sujeitos sociais frente a práticas específicas pertinentes a essas instituições, com tempos e espaços diferenciados, posicionando-os em lugares socialmente demarcados. Assim, no caso do requisito primordial para a escolarização de alunos surdos, está na compreensão destes sujeitos com singularidade linguística, que alcance as experiências de saberes, de forma significativa, que promova o desenvolvimento de habilidades cognitivas, físicas e sociais, é/está mediado pela Libras que nem sempre é compartilhada em todos os tempos e espaços escolares. A seguir, verifica-se, segundo Soares e Baptista (2018, p. 95 e 96), a importância de alguns aspectos que não podem ser ignorados pela escola: [...] a ênfase na compreensão de que a surdez se constitui como um fenômeno de múltipla determinação, com efeitos muito diferenciados em termos do uso de recursos de comunicação, vinculada à indicação de que os espaços compartilhados entre surdos e ouvintes deveriam ser alvo de investimento, assim como o uso de variados meios envolvendo principalmente a Libras e a Língua Portuguesa. Apesar da comunidade surda ter tido muitas conquistas nas últimas décadas no âmbito político e social, por meio de Leis e Decretos2, ainda permanecem entraves para um direcionamento pedagógico especifico, de qualidade. Sobre este assunto, Daxenberger e Silva (2018, p. 205) ressaltam: [...] que diante da necessidade de maiores reflexões sobre as formas apropriadas de viabilizarum ensino de qualidade para as pessoas surdas, é importante trazer para a discussão uma visão mais crítica sobre as principais correntes metodológicas utilizadas em sala de aula, para que a inclusão realmente ocorra. Analisando, também, os desafios para a implantação de uma inclusão favorável para surdos, Quiles (2015, p. 159) explicita que: Não há duvidas de que é um desafio pensar e realizar propostas pedagógicas que contemplem a participação do conjunto de alunos – surdos e ouvintes. É interessante perceber que isso incomoda parte dos professores regentes. Talvez este seja o primeiro passo para uma transformação da realidade escolar. Até o momento da realização 2 Para exemplificar, cita-se o reconhecimento legal da Libras como meio de comunicação e expressão, descrito no art. 1° da Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002; e o estabelecimento da obrigatoriedade do ensino da Libras como componente curricular no Ensino Superior, evidenciado no Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005. E a atual conquista sancionada de Libras na Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021, que inclui a Educação Bilíngue de Surdos na Lei Brasileira de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB com a Lei 9.394, de 1996, como uma versão de modalidade de ensino emancipada em sua necessidades especificas. 7 deste estudo o que se observou é que em determinados momentos os professores regentes acabam se utilizando do improviso. Ou seja, quando um docente percebe que aquilo que planejou para realizar na sala de aula não contempla os alunos surdos há a tentativa de compensar de alguma forma essa falha. Neste sentido, há muitas controvérsias na implantação das Leis que estejam ajustadas para um aprendizado consistente para os surdos no ensino regular. Entretanto, as novas produções de pesquisas no âmbito acadêmico, focadas em Libras, “[...] têm possibilitado que os professores em formação produzam conhecimentos básicos sobre essa língua, que servirão como base para a atuação docente junto aos alunos surdos”. (CORÁ et al, 2020, p. 2). Deste modo, surge a discussão da inclusão linguística para não-surdos. Mas, isso só seria viável através da oficialização de Leis e o reconhecimento da Libras na escolarização dos alunos, pois “[...] quando pessoas ouvintes falam em Libras entre si, além de romper com estereótipos a respeito da fala silente e reafirmar sua identidade linguística, criam um espaço de sinalização e mutuamente geram estímulos à aprendizagem”. (SILVA, 2020, p. 209). Nesta tentativa da oficialização do ensino de Libras para alunos ouvintes, uma Lei na região desta pesquisa, Lei Estadual de Mato Grosso do Sul, n. 5.563, promulgada em 8 de setembro de 2020, instituindo que nas escolas da rede estadual a Libras deve ser inserida como componente extracurricular. Mas, esta inclusão é limitada, pois só contempla o ensino médio da rede estadual, ocasionando uma lacuna para o aprendizado da Libras na infância e no Ensino Fundamental, concomitante com os outros idiomas. Sobre este assunto, Werle e Bublitz (2017, p. 6) salientam que: [...] pode-se pensar em inserir esse conhecimento já na Educação Infantil, fase das descobertas e da socialização inicial. O ideal seria que esse aprendizado ocorresse de forma lúdica e natural, pois quanto mais a língua de sinais for explorada e praticada, melhor será o seu entendimento. A autora Roa (2012, p. 4) corrobora com esta discussão, enfatizando a importância de iniciar o ensino da Libras na Educação Infantil, ao afirmar que [...] seria melhor investirmos nas nossas crianças, na educação infantil, para não termos, amanhã, de falar em inclusão. Embasado no pressuposto de que a educação se inicia nos primeiros anos de vida. Marques, Barroco e Silva (2013, p.516) também indicam o ensino da Libras para ouvintes desde a Educação Infantil. Em suas palavras: Reafirmamos, ainda, a expectativa ética de que os centros de Educação Infantil assumam o compromisso de oportunizarem ao aluno surdo as condições para que se 8 dê o processo de hominização, como resultado da apropriação de conteúdos escolares em língua de sinais, e que para o aluno ouvinte se descortinem novas oportunidades de aprendizagem por meio do acesso ao maior patrimônio da comunidade surda brasileira: a língua brasileira de sinais. Entendemos que o ensino da Libras na educação infantil é uma medida que pode verdadeiramente favorecer a consolidação de uma escola inclusiva. Percebe-se, portanto, que a legislação sobre o ensino da Libras para alunos ouvintes precisa avançar para contemplar as crianças. Além disso, não deve ser complementar, mas obrigatória. A Lei n. 5.563/2020, anteriormente citada, por exemplo, gera uma oportunidade favorável, mas de modo minimalista, pois a Libras poderá ou não ser efetivada no contexto educacional, pelos fatos da necessidade de capacitação de docentes nesta área, ou implantação necessária de interpretes em Libras na escola, ou poderá acontecer o ensino de Libras com docente comprometido que proponha pelo menos um ensino superficial. Neste sentido, o aspecto principal que precisa ser considerado no ensino da Libras para não-surdos no âmbito escolar refere-se à formação de profissionais habilitados para este intento. Sobre este assunto, Aguiar (2019, p. 111) enfatiza que: Além disso, é preciso destacar a importância dos estudos sobre as abordagens metodológicas que podem ser muito novas, não só com respeito à formação docente de surdos e ouvintes para ensino da Libras como L2, mas também com relação à compreensão do processo ensino-aprendizagem como L2 para ouvintes. Mas, durante o desenvolvimento desta pesquisa é publicado uma Lei Municipal de Campo Grande n. 6.647, em 19 de julho 2021, com a perspectiva da Libras ser ensinada de forma transversal em todo ensino regular. Assim, Libras será contemplado desde a educação infantil até o ensino médio, mesmo que ainda seja proposta de maneira extracurricular, neste caso necessitando da instrução do docente habilitados e interpretes em Libras para proporcionar a oportunidade de aprendizagem deste idioma a todos. Deste modo, a importância da obrigatoriedade do ensino de Libras para alunos ouvintes tem sido apontada por alguns documentos oficiais brasileiros, como se pode perceber a seguir: As escolas inclusivas (escolas públicas que não são escolas bilíngues de surdos) devem inserir no seu Projeto Político Pedagógico o componente curricular de Libras como segunda língua, a fim de oferecer aos estudantes ouvintes ou surdos imigrantes a oportunidade de adquirir a Libras. Dessa forma, a diversidade dos estudantes matriculados na escola fica contemplada com a oportunidade de aprender essa língua. (BRASIL, 2014, p. 21). Neste contexto, a inclusão no âmbito educacional vai se desenvolvendo com avanços e retrocessos. De outro lado, não há efetivas modificações das práticas educativas, que deveriam 9 possibilitar novas relações e interações, pois como enfatizam Marques, Barroco e Silva (2013, p. 513): Desta forma, a maneira como os indivíduos surdos são percebidos e tratados é que favorece ou não o seu processo de desenvolvimento, e a educação precisa estar centrada no potencial que o ser humano possui para desenvolver-se, e não na deficiência apresentada. Assim, a insuficiência estaria na sociedade, e não na pessoa com deficiência. [...] A cegueira e a surdez como defeitos físicos permanecerão ainda por muito tempo na Terra. O cego seguirá sendo cego e o surdo, surdo; mas eles deixarão de ser pessoas com defeito, porque a deficiência é um conceito social. Portanto, permanece uma expectativa na regulamentação do aprendizado da Libras para alunos ouvintes em seu caráter íntegro de aprendizado de idiomas na esfera escolar. Apesar dos desafios prementes, observa-se que a comunidade surda continua ativa e resistente,almejando e reivindicando uma proposição educacional que, efetivamente, atenda suas necessidades e especificidades. As possíveis evidências de aprendizagem de Libras para alunos ouvintes: novas vivências, olhares e saberes A Libras é uma língua que possui especificidades e particularidades. É viso-gestual, diferente das convencionais línguas orais, que usam os canais de percepção dos sentidos orais- auditivos. Assim, esta Língua Brasileira de Sinais se compõe em uma expressividade manual e corporal, arquitetada em movimentos refinados. Como também em seus aspectos linguísticos que indicam que possui alguns parâmetros definidos: nas configuração das mãos; localização ou ponto de articulação; movimento; orientação da palma da mão; expressões faciais e corporais. (QUADROS e KARNOPP, 2004; RODRIGUES e VALENTE, 2012).. Por suas características singulares, a Libras favorece um aprendizado mais elaborado para alunos ouvintes, como ressalta Aguiar (2019, p. 95): O ouvinte, para aprender Libras, precisa de disposição, vontade de aprendizado e ajustamento do cérebro para transformação de movimentos gestuais, expressões faciais/corporais em informação linguística, configurando-se esta língua, além de L2, em modalidade 2 (M2). Como L2, a Libras obriga o aprendiz ouvinte a inteirar-se da cultura e do estilo de vida dos surdos. Como M2 para os ouvintes, ou seja, língua espaço-gestual-visual é preciso ensiná-la considerando a acomodação linguística (M2) para a informação espacial, manual e visual, pouco vivenciada entre esse público, notadamente acostumado com a modalidade oral-auditiva (M1). 10 Assim, a partir deste momento explanam-se as vantagens encontradas no ensino da Libras para alunos ouvintes. Primeiramente, analisa-se a Libras nos aspectos cognitivos. No campo da experiência da aprendizagem das linguagens na escola, são ofertadas outras línguas estrangeiras (orais), como o Inglês e Espanhol, no qual só reforçam o canal oral-auditivo que pode até gerar conflito para o estabelecimento de categorias fonológicas no aprendiz. Enquanto isso, a criança surda está presente neste espaço, sem uma efetiva interlocução. Corroborando com essa discussão, Silva (2020, p. 200) enfatiza que: [...] algumas pesquisas linguísticas e cognitivas descobriram uma série fascinante de potenciais efeitos modais que podem pertencer a uma língua (oralizada ou sinalizada) mas não a outra e que podem afetar o processo aquisional – como a fonologia, por exemplo. Concordando com a ampliação do repertório linguístico através da Libras, Sanchez (1993, p.18) apud Rodrigues e Meireles (2017, p. 167) salienta que: [...] cumprir com uma série de requisitos que todas as línguas naturais possuem – espanhol, português, alemão, inglês, polonês... a criatividade é um deles –, pode-se sempre dizer alguma coisa nova. Outro requisito é a combinação de partículas não significativas que, usadas de certa maneira, criam significação. Eu me refiro aos fonemas da língua oral e às configurações de mão na língua de sinais. Com 30, 40 configurações de mão, podem-se transmitir milhares de sinais significativos, como os fonemas da língua oral. A segunda vantagem que a Libras oferece a todo aprendiz está no exercício do raciocínio em uma modalidade que pode reforçar o aprendizado de linguagens convencionais:” […] a língua de sinais como ferramenta para reforçar a leitura de crianças ouvintes. Outros autores na literatura também encontraram resultados onde a Língua de Sinais ajudou no desenvolvimento da linguagem receptiva e expressiva em crianças ouvintes.” ( ROA,2012, p. 28). Nesta proposição, consta no ensino para surdos a didática do letramento visual como uma forma assertiva para a aprendizagem, que pode se tornar de suma importância, como um recurso didático adicional, na aprendizagem dos alunos, pois resulta na habilidade do educando em saber interpretar mensagens visuais e no reforço na alfabetização da Língua Portuguesa, como Taveira e Rosado (2016, p. 178) afirmam: [...] o conceito de visual literacy (letramento, alfabetização ou alfabetismo visual), quando levado a sério, significaria que para lermos uma imagem, deveríamos desenvolver a capacidade de desmembrá-la em partes, decodificá-la e mesmo interpretá-la, equivalente ao processo de leitura em voz alta, decifração de código e tradução. Para a autora, isso se referiria a uma atividade didática da alfabetização ou 11 do letramento visual. Ou seja, a Libras pode ajudar na acuidade visual e espacial, possibilitando maior atenção, concentração e observação, haja vista que os ouvintes estão “presos” na comunicação auditiva e sendo bombardeados pela poluição sonora do cotidiano. Assim, ao aprender uma língua sinalizada outras percepções podem ser aguçadas, como assevera Svartholm (2014, p. 08): Outra característica das línguas de sinais é que elas permitem uma produção maior de informações simultâneas em comparação com as línguas faladas. Por exemplo, uma informação linguística pode ser acrescentada a uma sequência sinalizada pela adição de movimentos específicos de boca, ou pelo movimento das sobrancelhas, em conjunto com os sinais manuais. O que é comumente percebido como ‘mímica vigorosa’ pelos não sinalizadores quando veem os usuários de língua de sinais é de fato um nível extra de informação linguística. Logo nesta Pós-graduação, foi realizado uma atividade na disciplina de letramento visual, sendo proposto um planejamento de aula na área de atuação do acadêmico. tendo a parte principal do plano de aula. Por conseguinte, nesta produção acadêmica torna-se evidente a importância do aprendizado da leitura de imagens para todo aprendiz (ANEXO 1). Sob o mesmo ponto de vista no aprimoramento da discriminação visual, está a especialidade da educação na pedagogia visual, que poderia ser exercitada no aprendiz surdos e não-surdos, estimulando esta importante percepção facilitadora por meio de tecnologia ou gráficos visuais, como na visão ampla dos mapas conceituais, dando ênfase ao aprendizado do conhecimento pela visualidade. Sobre este aspecto, Lacerda, Santos e Caetano (2011, p.106) ressaltam que: [...] recursos de uma Pedagogia Visual, trazemos para a discussão o uso de mapas conceituais. A teoria sobre mapas conceituais foi desenvolvida por Joseph Novak [...] e define o mapa conceitual como uma ferramenta para organizar e representar conhecimento, ou seja, configura-se como uma representação gráfica em duas dimensões de um conjunto de conceitos construídos de tal forma que as relações entre eles sejam evidentes.[...] já que os mapas conceituais se apoiam na organização visual dos conceitos, favorecendo a compreensão e elaboração de conhecimentos. Como a terceira vantagem do ensino da Libras para ouvintes, destaca-se a estimulação cerebral nas diversidades da aprendizagem. Isto é, de acordo com a Teoria das Inteligências Múltiplas, tem alunos que aprendem melhor utilizando a percepção auditiva, outros visualmente, ou também por meio da escrita. Enfim, há diferentes formas de recepção da informação para o aprendizado. 12 Assim, faz necessário oferecer ao educando a diversidade destes canais perceptivos- cognitivos, para melhor aproveitamento e fixação de conteúdo para ouvintes. Sobre esta teoria Natel et al (2013, p. 144) explicam que: [...] Gardner avaliou as atuações de diferentes profissionais em diversas culturas, o repertório de habilidades, e identificou inicialmente sete inteligências: linguística, lógica-matemática, espacial, musical, cinestésica, interpessoal e intrapessoal. Fatores ambientais, genéticos e neurobiológicos são determinantes para o desenvolvimento dessas inteligências, sendo que cada uma delas apresenta um grupo de componentes que formama base dos mecanismos de processamento de informação do ser humano. Nesta lógica, o processo de escolarização deve permitir ao educando vivências significativas, com melhor assimilação no processamento cognitivo. Para isso, torna-se necessário conhecer as principais habilidades cognitivas: “Entende-se por função cognitiva ou sistema funcional cognitivo as fases do processo de informação, como percepção, aprendizagem, memória, atenção, vigilância, raciocínio e solução de problemas.” (ANTUNES et al, 2006, p. 109) Para aprofundar este aspecto, das habilidades cognitivas desenvolvidas por meio do ensino da Libras, o estudo de Roa (2012) elucida sobre a atenção e a estimulação da memória. Desenvolvida na Itália, por dois anos, esta pesquisa contou com três grupos de participantes: o primeiro grupo aprendia a língua nativa; o segundo e o terceiro uma segunda língua, sendo respectivamente o Inglês e a Língua de Sinais. Os resultados evidenciam que: “ [...] o grupo que aprendia Sinais se superou em relação aos outros dois grupos, demonstrando que a língua de sinais foi um fator significante no desenvolvimento cognitivo, melhorando as habilidades de atenção das crianças, a discriminação visual e a memória espacial. (ROA, 2012, p. 30). Além disso, na análise da área neurolinguística evidencia-se que o cérebro de um surdo possui uma plasticidade neural fantástica, possibilitando uma evolução de novas conexões cerebrais pelo desafio dado ao cérebro, conquistando novos arquétipos de inteligência que poderão ser experimentados no ensino para alunos ouvintes. Sacks (2010, p. 85) releva esses aspectos ao afirmar que: Nos testes de construção espacial, as crianças surdas tiveram resultados muito melhores do que as ouvintes e, de fato, muito melhores do que o ‘normal’. Os resultados foram semelhantes nos testes de organização espacial - a capacidade de perceber um todo a partir de partes desorganizadas, a capacidade de perceber (ou conceber) um objeto. Aqui, novamente, as crianças surdas de quatro anos saíram-se extraordinariamente bem, obtendo resultados que alguns alunos ouvintes do curso secundário não seriam capazes de alcançar. Com um teste de reconhecimento facial - o teste Benton, que mede o reconhecimento facial e a transformação espacial – as crianças surdas mais uma vez 13 colocaram-se notavelmente à frente das ouvintes e muito além dos padrões cronológicos. (Grifo do autor). Já, direcionando a aprendizagem de Libras nas vantagens nos aspectos físicos para alunos ouvintes, salienta-se o campo da expressão corporal, pois inicialmente a imagem representada em mente poderá ser reproduzida corporalmente. E na Libras se expressa de maneira proficiente a gramática no corpo. Macedo e Almeida (2020, p. 85) revela nos estudos da Língua de sinais no campo da semiótica imagética, com uma análise aprofundada dos signos e suas significações: A semiótica imagética é considerada como a área de conhecimento que faz uso da língua de sinais, de signos visuais a partir do corpo, do espaço em que flui a corporeidade da língua em sua mais profunda dimensão visual, ou seja, negociar sentidos que se revelam no corpo-língua. Assim, a semiótica imagética compõe um campo da imagem, da incorporação no ensino de imagens que se configuram no corpo e fazem parte da estrutura da língua de sinais e, por conta disso, deve ser usada como forma de conhecimento linguístico. Nesta perspectiva, a corporeidade é de suma importância para o despertar criativo do imaginário, na infância. Assim, em Libras nas representações imagéticas no corpo são formadas pelas diversidades refinadas do mundo viso-gestual, trazendo esta corporeidade como definem Gonçalves-Silva et al (2016, p. 190): “Corporeidade significa caminhar na busca de uma educação que realce a afirmação de que o ser humano não aprende somente com sua inteligência, mas com seu corpo e suas vísceras, sua sensibilidade e imaginação”. Além disso, é preciso destacar que o gesto corporal foi a primeira maneira de comunicação entre os homens e com o desenvolvimento da fala foi se tornando um fator de comunicação secundário, como lembra Gonzalez (2020, p. 25): [...] canais não verbais, como os corpos, gestos e grunhidos, eram o meio de comunicação da espécie humana antes da evolução da linguagem, que possibilitou a elaboração de códigos e seu uso para a comunicação. Deste modo, a linguagem corporal é uma das comunicações não verbais que revela sentimentos e manifesta suas atitudes de maneira visualmente influenciável, pois somente: “[...] 35% do significado social de uma conversa corresponde às palavras pronunciadas, os outros 65% seriam correspondentes aos canais de comunicação não verbal”. (ROA, 2012, p. 8). Percebe-se, portanto, que a estimulação da expressão corporal desenvolve uma comunicação interpessoal mais elaborada para os ouvintes. Neste propósito, a Língua brasileira de sinais é “[...] capaz de expressar não só cada emoção, mas também cada proposição e de 14 permitir a seus usuários discutir qualquer assunto, concreto ou abstrato, de um modo tão econômico, eficaz e gramatical quanto a língua falada”. (SACKS, 2010, p. 29). Assim, ao invés de uma visão unilateral de inclusão social da Libras a escola poderia refletir para favorecer uma inclusão comunicativa, que traz por meio da Libras a reflexão de que o corpo também “fala”. Outrossim, o fato da percepção focada apenas na comunicação do canal oral-auditivo desenvolve uma única modalidade de comunicação, empobrecendo outros modos de expressão. Sobre este aspecto, Werle e Bublitz (2017), que realizaram uma pesquisa com crianças ouvintes de 2 a 3 anos, no ensino da Libras, afirmam que as crianças desenvolvem esta interação interpessoal expressiva de maneira mais espontânea e com entusiasmo. Nas palavras das autoras: Certamente, o aprendizado da língua de sinais aprimorou a criatividade, as associações com o mundo e a interação uns com os outros, fatores essenciais para o desenvolvimento infantil. Outrossim, o que era para ser uma proposta analisando a possibilidade de inserir a língua de sinais na Educação Infantil, continua a ser uma prática pedagógica do dia a dia, em razão de as crianças revelarem suas demonstrações positivas com vontade de saber mais sobre a língua. (WERLE e BUBLITZ, 2017, p. 19). Deste modo, outra vantagem de Libras é no aperfeiçoamento das capacidades psicomotoras, de interação do aprendiz em seu caráter holístico, no qual no corpo são exercitados as vivências psicológicas e das habilidades motoras, sendo uma psicomotricidade única, como ressaltam Marques, Barroco e Silva (2013, p. 515-516): Consideramos que o ensino de Libras promove o desenvolvimento psicomotor, com atividades significativas e contextualizadas, além de socialmente útil. Avaliamos que o uso dessa língua é capaz de promover o desenvolvimento das funções psicológicas superiores em sujeitos surdos e ouvintes. Como primeira língua para sujeitos surdos, a Libras é a porta de entrada para as informações do ambiente em que vivem e para apropriação de conceitos que estimulam e movimentam o desenvolvimento das funções propriamente humanas. Nesta analogia, a Libras proporciona através da datilologia o aperfeiçoamento na coordenação motora fina do dedilhar, no fortalecimento musculares para o pinçamento, e da apreensão manual; já a lateralidade da configuração manual na discriminação do lado direito e o esquerdo, com na mão dominante ativa e a mão passiva que ocorre durante a sinalização; na direcionalidade na orientação da frente, a trás ou nas diagonais. Rodrigues e Valente ( 2012, p. 60) descrevem estas habilidades: 15 [...]os movimentos que as configurações de mão adotam podem ser do tipo sinuoso, semicircular, circular, retilíneo, helicoidal e angular, sendo possível produzi-los de forma unidirecional,bidirecional ou multidirecional. Ademais, eles podem ser produzidos com diferentes tensões, velocidades e frequência. Por conta deste fatos, destacamos na Libras diferentes vantagens do seu ensino para alunos ouvintes, pois acreditamos que a Libras promove o desenvolvimento de habilidades, percepções, sensações e conhecimentos que apenas uma língua visual e espacial tem a capacidade de produzir, como relata nos autores de Daxenberger e Silva (2018, p. 210-211), a aprendizagem da Libras em escola pública, descrevem que os alunos ouvintes conseguem diferenciar a importância da Libras neste novo modo de ensino para os usuários surdos e não- surdos: [...] Os alunos participantes já compreenderam o que é LIBRAS e a importância de se aprendê-la; sabem que vai além de uma simples disciplina e também que não são apenas sinais descontextualizados. Eles já sabem a grande importância da LIBRAS não só para as pessoas surdas, mas também para a sociedade; puderam através do projeto ter a oportunidade de aprender uma nova língua, compreenderam que as aulas serviram e servirão para que levem adiante seus estudos e tenham a apreensão de que a comunicação é essencial para a vida do ser humano. Portanto, neste estudo, enfatizamos a importância da construção de novos olhares para a Libras, vislumbrando seu potencial linguístico. No qual, neste estudo buscamos a tentativa de um avanço direcionado a ambiente escolar favorável para compartilhamentos, pois proporcionam experiências significativas para todos. E por fim, ressaltamos a Libras como mediadora de diferenciadas vivências e aprendizagens significativas e potencializadoras, com os indicativos nesta seção. Apontamentos Finais Os surdos, por muitas gerações, foram taxados como deficientes, mas só nos referimos à deficiência quando falta algo. No caso dos surdos isso não acontece, não falta comunicação, haja vista que eles têm sua própria língua, constituída em uma cultura linguística particular. Assim, esta Língua se tornou obscura e repleta de preconceitos, no qual não atentaram para as vantagens que proporcionaria aos alunos ouvintes. Estamos em uma fase de aceitação, acolhimento e respeito das diferenças, promovida 16 pela proposição da educação inclusiva. Neste processo, torna-se fundamental a formulação de Leis e Decretos a respeito da Libras, que não sejam limitados a uma inclusão social do surdo e a uma proposição da Libras apenas como disciplina de forma complementar para ouvintes. Faz-se necessário refletir sobre as potencialidades da Libras para todos alunos no ensino regular. Os dados do estudo evidenciam que a aprendizagem de Libras nos aspectos cognitivos: amplia os conhecimentos no repertório das experiências linguísticas do educando como segunda língua; estimula como ferramenta didático-pedagógica as possibilidades de leitura, vocabulário, na alfabetização da Língua Portuguesa, na interpretações das imagens visuais, na aquisição de habilidades cognitivas e de novas conexões cerebrais; e nos aspectos físicos: potencializa o desenvolvimento da expressão corporal, corporeidade e na psicomotricidade. Indicamos, finalmente, a importância do aumento de produções acadêmicas e científicas sobre esta temática, pois a educação só será efetivamente inclusiva, para surdos e ouvintes, quando as diferenças linguísticas, para além de respeitadas, forem vivenciadas. Referências AGUIAR, Girlaine Felisberto de Caldas. Ensino de Libras para aprendizes ouvintes: a injunção e o espaço como dimensões ensináveis do gênero instrução de percurso. 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ANEXO 1- LETRAMENTO VISUAL: AULA DE EDUCAÇÃO FÍSICA EM LIBRAS, realizado no curso de Pós-graduação em Educação Inclusiva com ênfase em Libras, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Disciplina: Letramento Visual e Literário para surdos; Prof°. Responsável: Prof. Dr.Wellington Furtado Ramos; realizado pela acadêmica: Mayra Soares Procopio. Nesta atividade foi elaborada no letramento visual na Educação Física com figuras ilustrativa e a sinalização com aplicativo Hand Talk seguindo sua sequência de interpretação em Libras L1. Deste modo, foi descrito passo-a-passo da metodologia em Libras, com a proposta do conteúdo esporte e com o tema: esportes olímpicos e suas adaptações. tendo a parte principal do plano de aula a seguir: ●PARTE PRINCIPAL (35 min): 19 20 21 REFERÊNCIAS CONSULTADAS ARRUDA, Bruna; PORTELLA, Sandro. A importância da organização do espaço da sala de aula na promoção do ensino bilíngue para surdos. INES. Revista Fórum, Rio de Janeiro | n. 38 | Jul-Dez 2018. TAVEIRA, Cristiane Correia; ROSADO, Alexandre. O letramento visual como chave de leitura das práticas pedagógicas e da produção de artefatos no campo da surdez. Revista Pedagógica. V.18, N.39, SET./DEZ. 2016. SITES PESQUISADOS Amanda Duda, Pedagogia e Libras site: https://vidacff.blogspot.com/?m=1 Acessado: 27/07/2021 Hand Talk vídeo youtube: https://youtu.be/iiyatvAOOqg Acessado: 30/07/2021 Play Store acesso do aplicativo de Libras- Hand Talk: https://play.google.com/store/apps/details?id=br.com.handtalk Acessado: 30/07/2021. https://vidacff.blogspot.com/?m=1 https://youtu.be/iiyatvAOOqg https://play.google.com/store/apps/details?id=br.com.handtalk
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