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B i a n c a N a c i f f - M E D T 1 | 1 MEDICINA LEGAL Tanatologia forense TANATOLOGIA - do grego tanathos (morte) + logia (estudo). Tanatologia: é o estudo da morte e do cadáver. Estuda também o mecanismo da morte, situações que envolveram a morte e o estudo do local de morte. Necessidade do estudo na esfera jurídico social. A definição mais simples e tradicional de morte é aquela que a considerava como a cessação total e permanente das funções vitais, e assim a lei admitia, sem procurar se aprofundar em seus detalhes. Esse conceito, antes admitido, constituiu-se por muito tempo ponto pacífico, até que surgiram os modernos processos de transplantação de órgãos e tecidos, passando, daí em diante, a se rever o exato momento de considerar alguém morto. Daí surge um novo conceito: a morte encefálica. Resolução Conselho Federal de Medicina N⁰ 1480/97: Critérios para estabelecimento da morte encefálica Coma aperceptivo (ausência de respostas motora aos estímulos dolorosos). Apnéia Ausência de atividade motora supra-espinhal (ausência de atividade elétrica cerebral, metabólica cerebral e perfusão sanguínea cerebral) 5º. Os intervalos mínimos entre as duas avaliações clínicas necessárias para a caracterização da morte encefálica serão definidos por faixa etária, conforme abaixo especificado: a) de 7 dias a 2 meses incompletos - 48 horas b) de 2 meses a 1 ano incompleto - 24 horas c) de 1 ano a 2 anos incompletos - 12 horas d) acima de 2 anos - 6 horas Art. 6º Os exames complementares a serem observados para constatação de morte encefálica deverão demonstrar de forma inequívoca: a) ausência de atividade elétrica cerebral ou, b) ausência de atividade metabólica cerebral ou, c) ausência de perfusão sanguínea cerebral. O conceito de morte deve ser inserido num contexto clínico-instrumental que não deixe nenhuma dúvida. Cessação total e irreversível das funções vitais que, no entanto, não desaparecem de uma só vez. Não é um fato e sim um processo que leva ao organismo uma série de transformações em que a volta da normalidade torna-se impossível. Maranhão, 1999 Critérios atuais para um diagnóstico de morte Seria indispensável também que essa nova definição de morte, baseada no coma irreversível e identificada pela ausência de reflexos, pela falta de estímulos e COMA X MORTE ENCEFÁLICA Coma: viabilidade cerebral, fluxo sanguíneo regular Morte encefálica: definição legal de morte. Completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro. B i a n c a N a c i f f - M E D T 1 | 2 MEDICINA LEGAL respostas intensas, pela cessação da respiração natural e por um “silêncio” eletroencefalográfico por mais de 6 h (propomos um EEG isoelétrico por mais de 24 h para os casos de transplantes), não fosse confundida com uma forma apressada de retirar órgãos para transplantes. O critério de morte cerebral, entre outros, é baseado na cessação da atividade elétrica do cérebro, tanto do córtex como das estruturas mais profundas. Exame clínico e teste da apneia: 1. Reflexo pupilar: deve ser realizado com fonte luminosa de boa intensidade, observando se há resposta tanto direta quanto consensual e, se necessário, utilizar lupas em ambientes com baixa luminosidade. 2. Reflexo corneano: explorar utilizando mecha de algodão, tocando alternadamente as córneas e observando-se a presença de fechamento palpebral e/ou desvio conjugado dos olhos para cima (fenômeno de Bell). 3. Reflexo oculocefalogiro: explora-se com movimentos rápidos de rotação da cabeça no sentido horizontal e flexão e extensão do pescoço. Na resposta normal, observa-se um deslocamento ocular no sentido contrário aos movimentos realizados. Devido ao risco de lesão medular, essas manobras são proibitivas em pacientes vítimas de trauma, pelo menos até que se tenha evidência radiológica de integridade da coluna vertebral. 4. Reflexo oculovestibular: explora-se elevando a cabeça do paciente a 30° do plano horizontal; determinar previamente por otoscopia a permeabilidade do conduto auditivo e aplicar lentamente 50 ml de água a 4°C sobre a membrana timpânica, observando se há desvio ocular. Resposta normal seria desvio em direção ao estímulo. 5. Reflexos cocleopalpebral, sucção e mentoniano: são de pouco valor discriminativo. Reflexos faríngeos, de deglutição e de tosse: muitas vezes são comprometidos pelo uso de cânulas endotraqueais para ventilação, como também pelo ressecamento das mucosas. Entretanto, sem dúvida, podem ser pesquisados como os reflexos supracitados, pois, quanto mais dados disponíveis, maior será a segurança do diagnóstico de morte encefálica. 6. Teste da apneia: tem como intuito comprovar se há movimento ventilatório espontâneo pela estimulação de centros respiratórios pela hipercapnia de no mínimo 60 mmHg. O teste consiste inicialmente em observar se o paciente não realiza nenhum esforço contrário à ventilação mecânica. Após 15 min, o paciente é ventilado durante 10 a 20 min com 100% de oxigênio e colhe-se uma gasometria arterial que deve mostrar um PO2 de 100 ou mais mmHg. Na sequência, ele é desconectado do ventilador e com um cateter traqueal se administra oxigênio a 6 l/min. Por um período de 10 min, observa-se se há movimento ventilatório e colhe-se outra gasometria. O teste é dito positivo quando a PCO2 da segunda gasometria atingir um nível mínimo de 60 mmHg sem nenhum movimento ventilatório concomitante. Caso PCO2 seja menor que 60 mmHg, o teste deve ser repetido e, utilizando do aumento médio de PCO2, de 3 mmHg/min em adultos, para cálculo do período de observação. Exames complementares: 1. Eletroencefalograma: deve demonstrar ausência de atividade elétrica cerebral. Esse procedimento deverá ser realizado conforme as normas técnicas da American EEG Society. 2. Potencial evocado: é um exame que poderia ser utilizado quando há alguma limitação para a realização do exame clínico ou como uma opção confirmatória extra. Pela sua praticidade, deverá ser o exame de eleição para confirmação de morte encefálica quando houver pendências legais ou necessidade de diagnóstico precoce. 3. Angiografia de quatro vasos encefálicos ou outros métodos de medição do fluxo sanguíneo cerebral, que demonstre ausência de fluxo sanguíneo cerebral. 4. Ultrassonografia: poderá fornecer informações valiosas sobre ausência de circulação sanguínea em território das artérias carótidas. Quando disponível, substitui angiografia cerebral com o charme de ser um estudo não agressivo. B i a n c a N a c i f f - M E D T 1 | 3 MEDICINA LEGAL Subdivisões da Tanatologia TANATOSEMIOLOGIA: estudo dos fenômenos cadavéricos TANATODIANÓSTICO: conjunto de sinais biológicos que atesta a morte de uma pessoa CRONOTANATOGNOSE: tempo compreendido entre a morte e o exame cadavérico NECROPSIA/TANATOSCOPIA: estudo do cadáver a fim de verificar a causa da morte TANATOCONSERVAÇÃO: técnicas empregadas para a conservação de um cadáver TANATOLEGISLAÇÃO: leis que regem a posse, direitos sobre o cadáver,transplantes de órgãos. Tipos de morte: NATURAL: decorre de alterações patológicas (morte por antecedentes patológicos) SÚBITA: de maneira inesperada por alguém que gozava de boa saúde FETAL: intrauterina MATERNA: morte ainda grávida ou 42 dias após o parto MIF: morte de mulheres entre 10 a 49 anos CATASTRÓFICA: por fenômenos naturais ou acidentes PRESUMIDA: não se tem o corpo VIOLENTA: acidente, homicídio ou suicídio Necropsias Clínicas A obrigatoriedade e a necessidade da necropsia nos casos de morte violenta estão disciplinadas no artigo 162 do Código de Processo Penal. Todavia, para as mortes naturais não há nenhuma regulamentação que possa dar ao médico um amparo ou uma orientação no que diz respeito a esta prática. Comumente, os hospitais solicitam dos familiaresou responsáveis um termo de permissão para que, nos casos de morte dos pacientes, possam realizar a necropsia clínica. A morte natural, mais bem chamada de “morte por antecedentes patológicos”, só está obrigada à necropsia quando no âmbito dos Serviços de Verificação de Óbito (SVO), nos casos de falecimento sem assistência médica. Desta forma, os hospitais necessitam de um termo de permissão dos familiares para a realização da necropsia de interesse clínico e anatomopatológico, quando da complementação diagnóstica em seus prontuários e com mais fundamento quando não dispõem de um diagnóstico certo da doença que levou o paciente à morte. Esta necessidade é maior nos hospitais universitários. Cada dia que passa, maiores são as razões para a prática da necropsia clínica pelo seu indiscutível interesse médico-sanitário e pela forma como esta prática pode favorecer a saúde pública. Sua importância, portanto, reside no fato de se poder formular um diagnóstico seguro e definitivo do óbito, obter informações epidemiológicas, estudar os processos secundários e associados da enfermidade, explicar algumas observações clínicas duvidosas, avaliar o tratamento clínico ou cirúrgico efetuado e contribuir eficazmente no processo pedagógico. Instituto Médico Legal Subordinação Mortes Necrópsia Necessidade de inquérito e investigação Serviços de Verificação de Óbitos Localização Importância Repasse Tentativa de modernização NMI Posse do cadáver A valorização do corpo humano, como reserva de tecidos e de órgãos, não deixa de suscitar certas dificuldades de ordem ética e jurídica pelo fato de que o corpo é, em princípio, inviolável e inalienável. Em primeiro lugar, o consentimento do doador é fundamental. Mas ele não será por si só suficiente para garantir a licitude dessa operação porque quem NECROPSIA SEM ASSISTÊNCIA MÉDICA: obrigatória! B i a n c a N a c i f f - M E D T 1 | 4 MEDICINA LEGAL legitima um ato não é apenas a permissão, mas a sua indiscutível e imperiosa necessidade. A delicadeza do assunto, a par de sua seriedade, não nos impede de afirmar que o cadáver já não é mais pessoa. Passa a se constituir em uma coisa. Sua natureza jurídica é um fato indiscutível: não pode ser pessoa; portanto, é coisa. Em face do Direito, tem de ser uma das duas. Porém, isso não impede o nosso respeito, nossa reverência e os nossos sentimentos, como também não o desclassificamos em considerá-lo como coisa. Pertence, em sentido estrito, à família, cabendo de início a posse ao Estado para o cumprimento de normas específicas e, definitivamente, aos parentes, embora em qualquer tempo tenha o Poder Público direitos sobre essa posse (cumprimento de normas específicas). O homem não pode dispor de seu corpo como dinheiro. Ele não é bem econômico. O direito sobre o corpo não é um direito de propriedade. O cadáver não pode ser utilizado para fins lucrativos. O corpo humano é de natureza extra-patrimonial, não podendo ser disposto a negócios. Uso para fins didáticos, clínicos e científicos: na sua natureza jurídica passa a ser coisa mais tem que ter nosso respeito.
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